sábado, 31 de dezembro de 2016

TODA A VERDADE (QUE NUNCA FOI DITA) SOBRE O DESTEMIDO (E TEMÍVEL) VIDENTE ALLAN RICHARD WAY

Por ROBERTO MUGGIATI


O vidente segundo uma
 das clássicas representações
 clicadas por Cony.
Foi no início dos anos 70, o Justino Martins, além de grande jornalista, tinha um espírito brincalhão e resolveu inventar um vidente para acabar com todos os videntes. Como “segundo” dele na edição da revista Manchete vi tudo com estes olhos que a terra há de comer, ou melhor, que a fornalha irá queimar.

Allan Richard Way foi uma criação coletiva. O primeiro redator incumbido dele foi o Caio de Freitas, um senhor de ternos elegantes (e alma elegante) que tinha morado na Inglaterra (trabalhou na BBC) e inventou uma história em tom sherloquiano.

Havia um Dr. Watson – o jornalista inglês Robert McPherson – que era acionado em Londres pelo Célio Lyra, o homem da Manchete encarregado das relações com as sucursais. Cada início de dezembro, McPherson se dirigia para uma casa em estilo Tudor num subúrbio distante de Londres onde morava o grande astrólogo Alan Richard Way e recolhia do sábio homem suas previsões para o novo ano.

Depois, a tarefa de escrever as previsões de Allan Richard Way caiu nas mãos de Carlos Heitor Cony, que logo tratou de botar mais molho na história e no personagem.

De saída, ele cegou o vidente.

Inicialmente, a foto de Way publicada junto a suas previsões era a de um cientista qualquer de terno e gravata – uma foto de agência – que Justino puxou de uma gaveta. Depois, quando já era eu o editor de Manchete (a partir de 1975), Cony decidiu mudar o visual do professor. Numa de suas viagens pelo mundo, fotografou no aeroporto de Heathrow, em Londres, um indiano com a indumentária típica dos sikhs, incluindo barba e turbante. Este passou a ser o novo Allan Richard Way.

As previsões de Allan Richard Way rendiam chamada de capa
na edição da Manchete que abria o Ano Novo, como em 1988.
Para dar maior respaldo científico às previsões do vidente cego, o final da matéria trazia uma interpretação astrológica do ano vindouro, feita pelo Professor Arcturus – na verdade, nosso companheiro de redação Cláudio Hazan, que começara a estudar seriamente o universo astral.

Certo ano, o Allan Richard Cony previu que haveria um grave problema com as colunas centrais da Ponte Rio-Niterói. Na época, nosso chefe de reportagem Sérgio Ross havia se tornado assessor de comunicação do Ministro dos Transportes e sugeriu que fosse feita uma investigação. Não deu outra: as pilastras exibiam certas estrias de rachaduras cuja gravidade teria de ser avaliada.

Djuna, a célebre
vidente do
Kremlin.
Reprodução FB
Allan Richard Way começou a ganhar peso e notoriedade. Houve até uma ocasião, durante uma crise mundial, em que inventei uma edição extra: o encontro de Allan Richard Way com a lendária vidente do Kremlin, Djuna Davitashvili. O pior é que o Cony, que sempre foi a alma do texto, teve de abrir um espaço em suas férias no Mediterrâneo para escrever a matéria.

O nosso vidente cego quase provocou a demissão de uma prestigiosa jornalista de televisão da Globo. O Fantástico queria a todo custo uma entrevista exclusiva com nosso astrólogo. Sandra Passarinho, correspondente da Globo em Londres nunca conseguiu e chegou até a ser ameaçada de demissão.

De Nostradamus a Allan Richard Way, os videntes de hoje – se é que ainda existem – já não podem mais competir com o mundo real. Quem seria capaz de prever a explosão das Torres Gêmeas em 2001?

O negócio é ficar quietinho no seu canto e esperar as coisas mais absurdas deste planeta em choque consigo mesmo. Mas sempre achando um tempinho para curtir uma transgressão saudável à Justino ou à Cony. . .

Capa: a revista Veja aposta tudo na Nefertiti brasileira

A capa da Veja 


A imagem de Nefertiti, a "Esposa do Grande Rei" do antigo Egito.

por bqvMANCHETE

Nefertiti era mulher de Amenófis IV, o faraó que não devia ter sido.

Amen era carta descartada e só assumiu o poder porque o irmão mais velho, herdeiro legítimo, bateu as botas, melhor dizendo, as sandálias egípcias.

Nefertiti ganhou vários títulos, "Senhora de todas as mulheres", "Doce do Amor" e "Esposa do Grande Rei".

Deve ser por tudo isso que a Veja colocou na capa a senhora Temer em pose que sugere a antiga rainha do Vale do Nilo.

Já Amenófis era conhecido como "Touro Poderoso", "O  Que Leva As Coroas" e "Divino Regente".

Tensão da redação da Veja. Acima, o momento em que os jornalistas decidem
a importante e histórica capa da última edição de 2016. 
Por sua afinidade pública com o atual ocupante do topo da pirâmide política brasileira, Veja não deve tê-lo como o bovino destemido nem como o mero carregador de joias, mas deve achar que "divino regente" combina bem com o titular da dinastia que a revista espera prosperar no Planalto Central.

Não garanto, mas é possível, que o diretor de Arte da Veja divagasse em voo sobre as férteis margens do velho Nilo, como se fosse um drone dos sonhos, quando lhe veio à mente de artista a clássica imagem de Nefertiti.

Reparem na coincidência das linhas dos narizes, dos lábios, do suave maxilar e das sobrancelhas visíveis em Marcetiti e Neferla, perdão, entre a Marcela e Nefertiti.

Não há dúvida: essa edição de Veja deveria ter sido impressa em papiro.

Ou mumificada nos armários da ABI para consulta das futuras gerações.

É peça histórica que diz muito sobre a velha mídia, hoje.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Obama expulsa diplomatas russos e Rússia inova ao responder através de meme que mostra presidente americano como "pato manco"


por Jean-Paul Lagarride

Logo depois que Barack Obama anunciou a expulsão de 35 diplomatas russos, a embaixada da Rússia, em Londres, comentou a decisão através de meme.

Um "lame duck" ilustra a postagem.

O "pato manco" é uma referência nada sutil ao presidente em fim de mandato. Dizem os políticos que na fase pré-porta da rua é visível a perda de prestígio: o cafezinho já vem frio, a assistente já não abre a porta do carro, o paletó vem mal passado da tinturaria, o bacon do café da manhã é servido duro e ressecado, o ovo esparramado, o suco de laranja é de ontem, os conselheiros já pedem para ir pra casa mais cedo...

Com Obama já pedindo a saideira, a menos de um mês de voltar à planície, os russos minimizaram o episódio que seria uma retaliação a uma suposta intervenção de Moscou nas eleições presidenciais americanas através de hackers, assunto visto por eles igualmente como uma piada.

Do caso extrai-se uma conclusão: é cada vez mais comum o uso das redes sociais e até da sua linguagem descontraída e irreverente para assuntos de Estado. Donald Trump mostrou desde a campanha que sua rede social será fonte de notícias importantes da sua administração.

Não apenas políticos, mas celebridades, personalidades e dirigentes de várias áreas tendem a eliminar o "intermediário" quando querem divulgar algo. Aparentemente, a "fonte" que antes ligava para um jornalista amigo para tentar emplacar uma informação agora aciona o smartphone e lança a "exclusiva" na sua própria página.

Daí, jornalistas são obrigados e virar "seguidores". O que só resolve em parte o problema: têm acesso à informação, como todo mundo, mas perdem a "exclusiva" e ganham uma enorme ralação para, diante da "concorrência", obter um fato ou uma declaração realmente inéditos.

Coisas dos novos modelos de comunicação.

Azedaram o Réveillon de uns e outros: Segundo o site do Consultor Jurídico, anexos da Lava Jato trarão denúncias contra jornalistas e integrantes do Judiciário.



Reproduções acima: Blog do Conjur

por bqvMANCHETE

É bomba armada para 2017. O site do Consultor Jurídico revela que as denúncias da Odebrecht resultaram em 800 anexos ao processo.

Até aqui o foco das delações premiadas alcançou principalmente políticos, empresários, ex-dirigentes de estatais, agregados dos acusados (parentes, parceiros, amigos etc).

Determinadas acusações foram adiante, outras ganharam poeira.

A novidade agora, segundo a nota do Conjur, é o alcance do longo braço da delação: jornalistas e membros do Judiciários cairão na rede.

Uma notícia que vai fazer tremer o brinde de Réveillon de muita gente, azedar a mesa de frutas vermelhas, deixar queijos e antepastos passados e mofar o pernil confitado.

Jornalistas e veículos ameaçados pela mordaça judicial

Reprodução Comunique-se

por Tacila Rubbo (para o portal Comunique-se)

A censura contra a imprensa brasileira foi tema constante de reportagens no Portal Comunique-se durante o ano de 2016. Casos absurdos surgiram por todo o país, mostrando a ação da Justiça contra a atividade jornalística e seus profissionais. Pensando nisso, a reportagem do site organizou levantamento sobre casos de veículos e jornalistas que sofreram com a chamada censura judicial no período.

O balanço anual apresenta 18 casos em que profissionais da comunicação tiveram suas atividades cerceadas por processos. O número reacende o debate acerca da liberdade de imprensa.

Mordaça constitucional
Jornal curitibano, a Gazeta do Povo foi um dos alvos de arbitrariedade jurídica. Cinco repórteres e o veículo foram vítimas de 48 processos movidos por magistrados do Paraná. Os motivos eram reportagens publicadas em fevereiro de 2016, que abordaram o conceito de “teto constitucional” e remuneração que ultrapassa tal limite, ainda que dentro da legalidade. O conteúdo era baseado em informações públicas disponibilizadas no Portal da Transparência.

(Imagem: Antônio More/Gazeta do Povo)
Os processos foram abertos em diferentes cidades no Juizado Especial, que aceita causas de pequeno valor (até 40 salários mínimos). As ações indenizatórias contra os jornalistas foram ajuizadas mesmo após o veículo publicar o direito de resposta solicitado pela Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar) e Associação Paranaense do Ministério Público (APMP).

A situação prejudicou o trabalho do impresso e dos profissionais, que foram obrigados a deixar a redação para comparecer às audiências, sob pena de serem condenados à revelia. As audiências eram marcadas para datas próximas ou mesmo coincidentes em locais distintos no Paraná.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO PORTAL COMUNIQUE-SE, CLIQUE AQUI

Da revista Zum, por Jake Romm: "Por que a capa da “Time” sobre Trump é uma obra subversiva de arte política"


por Jake Room 

(Artigo reproduzido da revista Zum, originalmente publicado em inglês no site Forward.com em 8/12/2016 e traduzido com permissão).

Ano após ano, o anúncio da “Personalidade do Ano” da revista Time é grosseiramente mal interpretado. A Time é clara quanto a seu único critério de seleção: “a pessoa que exerceu mais influência, para o bem ou para o mal, sobre os acontecimentos do ano”. Mesmo assim, uma simples busca no Twitter revela um sem-número de pessoas que parecem acreditar que a escolha da “Personalidade do Ano” equivale a um endosso. Entre os vencedores até aqui estão Joseph Stalin (1939, 1942), o aiatolá Khomeini (1979), Adolf Hitler (1938) e outras personalidades que acredito poder afirmar com segurança que não contam com o endosso da equipe da Time.

Este ano, não deveria causar nenhuma surpresa o fato de o presidente eleito Donald Trump ser escolhido para agraciar a capa da edição anual da Time (retratado pelo fotógrafo judeu Nadav Kander). “Para o bem ou para o mal”, Trump, durante sua campanha e agora, depois de eleito, sem dúvida foi uma das pessoas que mais influenciaram os acontecimentos do ano. Podemos encontrar algumas pistas sobre as impressões da Time sobre o assunto – “para o bem ou para o mal?” – analisando a imagem escolhida para capa da edição. As determinações da Time com respeito à maneira de fotografar Trump revelam um campo de referências nuançado, com diversas camadas, que fazem da imagem, na opinião deste cronista, uma das grandes capas da revista.

Para desconstruir a imagem, focalizemos três elementos-chave (deixando de lado o posicionamento do “M” de “Time”, que dá a impressão de que Trump tem chifres vermelhos): a cor, a pose e a cadeira.

 A cor

Observem como as cores estão ligeiramente lavadas, ligeiramente silenciadas, suaves. A paleta cria o que poderíamos chamar de efeito vintage. A nitidez e o detalhamento da imagem revelam a contemporaneidade da foto, mas a cor sugere um tipo mais antigo de filme, no caso o Kodachrome. O Kodachrome, filme produzido pela Kodak desde o início da década de 1900 e que teve recentemente sua produção descontinuada, tinha a função de operar a reprodução acurada das cores. Alcançou imensa popularidade entre o fim da década de 1930 e a década de 1970, e seu aspecto peculiar define nosso conceito visual comum de nostalgia.

Ao reproduzir uma paleta de cores Kodachrome, a capa da Time nos leva a reimaginar a capa como se ela fosse uma imagem da era em que o Kodachrome era muito popular. (Você é que sabe para onde vai sua mente quando pensa nos líderes da era da Segunda Guerra Mundial, da segregação e da Guerra Fria.) Esse deslocamento visual-temporal espelha, em certo sentido, uma série de tendências que impulsionaram a ascensão de Trump. A campanha de Trump se baseou em políticas e atitudes regressivas – antiproteção do meio ambiente, antiaborto, pró-carbono etc. Foi uma eleição voltada não apenas para políticas regressivas, como também para valores tradicionais (definidos basicamente pela direita cristã), para a nostalgia pela grandeza e pela segurança do país, para a nostalgia por um mundo pré-globalizado.

 A pose

A pose de Trump pode ser percebida como uma intervenção subversiva em uma pose tradicional em retratos de poderosos (para outra versão esplendidamente subversiva da pose, veja-se o retrato feito por Delaroche de um Napoleão vencido – embora o tom desse retrato seja elegíaco, por oposição a maquinador).

As pinturas de monarcas sentados podem ser vistas como imbuídas de duas funções estéticas – operar a associação entre o personagem sentado e o trono, dando, desse modo, solidez à metonímia, e reforçar o sentimento de servidão no observador. O observador é forçado a aproximar-se do monarca; o monarca não se levanta com a chegada do observador.

Em nossos tempos pós-monárquicos, o poder do trono está praticamente extinto, mas o poder de um personagem sentado permanece. A cadeira em si é desimportante, o que importa é o ato de sentar. Quando incluímos um retrato nessa tradição, a cadeira assume o papel de trono e o personagem sentado o papel de rei (ou rainha) – o efeito visual é o mesmo.

Considerem esta imagem do Lincoln Memorial (para mais referências, ver imagens de Vladimir Putin e LL Cool J). Assim como as outras duas imagens, ela é uma versão exagerada da pose tradicional. Vemos nosso personagem de frente, porém, o que é mais importante, vemos o personagem de baixo. O ângulo nos obriga a olhar para cima para o personagem, o que, por sua vez, cria a impressão de que o personagem está olhando para baixo ao olhar para nós. Essa pose e ângulo, com o observador aparentemente (e literalmente, no caso do Lincoln Memorial) aos pés do retratado, fazem o personagem parecer dominador, poderoso, julgador.

Mas basta girar a imagem para que de repente tenhamos um conjunto totalmente novo de conotações. Na capa da Time, em vez de ver a cabeça de Trump de frente e de baixo, nós o vemos sentado, de trás e praticamente à altura do olhar. A relação de poder se apresenta de forma inteiramente diferente.

O giro de Trump em direção à câmera cria um tom mais conspiratório que julgador. Há duas imagens em jogo aqui – a imagem de poder imaginada, tomada de frente, e a imagem real, na qual Trump parece dirigir uma piscadela cúmplice ao observador, como se dissesse: olhem só como nós tapeamos aqueles idiotas que estão lá na frente (tanto Trump como o observador olham de cima para baixo para os que estão lá na frente). Ao subverter a dinâmica típica de poder, a Time, em certo sentido, envolve o observador na eleição de Trump, antes de mais nada no fato de ele aparecer na capa da revista.



PARA LER O ARTIGO COMPLETO VÁ AO SITE DA REVISTA ZUM, CLIQUE AQUI

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

"Hooooooaaaaaarrrrrr!" - O mico do ano: Jorge Pontual, na Globo News, vira piada e causa reações nas redes sociais e na mídia internacional


Reprodução







por O.V.Pochê

De humorista Jorge Pontual, da Globo News, não tem sequer uma nanocélula mesmo que seja do Chapolin Colorado. Mesmo assim, o jornalista tentou fazer uma piada tosca com efeito sonoro original ao noticiar a morte de Carrie Fisher, a princesa Leia, de Guerra nas Estrelas.

Deu ruim. Acontece. E como aquele tio que resolve animar a noite de Natal contando a última do papagaio ou da sogra, esquece o final da piada e improvisa. Só resta à família disfarçar, sair de fininho e antecipar o jantar.

Pontual narrou o que seria uma "declaração" do Chewbacca, o personagem peludo do filme, imitando um berro gutural do personagem.

Dá para notar a perplexidade e o silêncio inicial do âncora do programa e das colegas de bancada em modo "vergonha alheia". A performance não funcionou, mas o restante da equipe amiga acaba rindo corporativamente para dar uma força. Foi pior. Pontual murmura um tímido "muito triste" para fechar seu bizarro comentário, a rede social explode em indignação, por parte dos fãs da atriz, e em um tsunami de gozações dos milhares de internautas que nem acreditaram no que viam.

Até a mídia internacional detona o estilo jornalístico Chapolim do brasileiro. Um jornal analisa que ele deve se achar um wookie. Outro atribuiu ao Pontual a "palma de ouro" do mau gosto.

A cena entra para os anais como um dos maiores micos jornalísticos do ano. E olha que em 2016, a apresentadora Glória Maria (reprodução ao lado) fumou maconha, ao vivo, na Jamaica, e protagonizou o que pareceu um momento chapanews em rede nacional.

No dia seguinte à morte de Carrie Fisher, faleceu Debbie Reynolds, mãe da atriz e quase um símbolo do estrelato da Hollywood dos anos 1950 e 1960. Até este momento não se sabe se Jorge Pontual está preparando uma nova performance temática para ilustrar a notícia na Globo News. A loura Debbie atuou, por exemplo, em "Cantando na Chuva", quando dançou ao lado de Gene Kelly e Fred Astaire. Seria esse número uma inspiração para um "Cantando no Estúdio"?

VEJA O VÍDEO DE JORGE "CHEWBACCA" PONTUAL. GUARDE A CENA PARA MOSTRAR AOS SEUS NETOS E BISNETOS. CLIQUE AQUI

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Americana reproduz no corpo as mal traçadas frases de Donald Trump

Pílulas do dr. Trump: "Agarrem elas pela buceta"

"Você tem que tratar elas como merda"

"Deve ser uma linda cena você de joelhos"

"Jovem e bonito pedaço de bunda"
Fotos Reprodução Tumblir 
Trump não fala bem das mulheres. Na campanha produziu cenas sexistas, machistas e foi acusado de assédio. A estudante americana Ana Watson resolveu gravar seu protesto, literalmente, no corpo. Ela reproduziu algumas frases do sem noção Trump. O ensaio-manifesto está no Tumblir, hastag  #SignedByTrump   (Clara S. Britto)

Mídia: um jogo para você aprender a ler a pós-verdade...

por O.V. Pochê

Essa tal de pós-verdade - dizem que é a palavra do ano - sugere um joguinho que pode ser praticado clandestinamente, ao fim dos fechamentos, na planície jornalística.

Só representantes da tropa de rua participariam. Editores, por motivos óbvios não seriam admitidos.

Conscientes de que a pós-verdade foi infiltrada no meio digital e na mídia tradicional, os"rebeldes" brincariam de inverter palavras em títulos de jornais e sites.

Na maioria das vezes, isso faz sumir a pós-verdade e algo bem mais próximo da realidade vem à luz das madrugadas por trás das frases. O jogo naturalmente é informal, ilegal, não engorda e pode ser descrito conforme alguns exemplos abaixo. Experimente fazer isso: na maioria das vezes você vai encontrar a notícia escondida.

Na primeira linha, o título original pós-verdadeiro publicado na velha mídia. Segue-se a realidade invertida ou o popular leia-se:

-  "Neymar diz que não tem obsessão por Bola de Ouro"
    Bola de Ouro diz que não tem obsessão por Neymar.

- "TCEs aprovaram contas de estados quebrados"
  Estados aprovaram contas quebradas do TCEs.

- "Base aliada teme futuro de governo"
   Futuro teme base aliada de governo.

- "Temer dá sinais de retrocesso na área ambiental"
    Retrocesso dá sinais na área ambiental de Temer.

- "Governo dá um mês para juros dos cartões caírem"
  Juros dão um mês para cartões do governo caírem.

- "Temer evita polemizar com PSDB e tenta se aproximar de Alkmin"
    Alkmin tenta polemizar com PSDB e evita se aproximar de Temer

- "Janot: Justiça pode suspender mandato"
    Mandato: Justiça pode suspender Janot.

- "Transparência frágil: punição próxima do zero"
  Tranparência zero: punição próxima do frágil.

- "Troca de informações: Receita terá maior controle sobre contas no exterior"
    Exterior terá maior controle de informações sobre troca de contas da Receita

- "O ano em que a Lava Jato mandou na política"
    O ano em que a política mandou na Lava Jato. 

- "O ano em que o Supremo exibiu os músculos"
 O ano em que os músculos exibiram o Supremo.

- "Abandonar Temer agora seria equívoco grave, afirma Aécio"
    Temer afirma: grave equívoco seria abandonar Aécio agora.

- "Glória Maria diz que retrospectiva de 2016 foi a mais complicada que já fez"
   Mais complicada: 2016 diz que fez retrospectiva de Glória Maria"

- "Renan ensina que toda regra legal também tem exceção"
     Toda exceção também tem regra legal, ensina Renan.

- "STF analisará em 2017 delações da Odebrecht e validade do aborto"
    Aborto da Odebrecht em 2017: STF analisará validade das delações 

-  “Imprensa tem papel importante na democracia”
    Democracia tem papel importante na imprensa

- "Doria confirma aumento da velocidade nas marginais"
   Marginais da velocidade: Doria confirma aumento.

-  "Estadão abre inscrições para estágio de jornalismo".
   Estágio de jornalismo abre inscrição para Estadão.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Gui Gui e eu • Cobrindo o Baile das Bonecas para a Manchete

Guilherme Guimaráes em foto de Hélio Santos para a Manchete
Por ROBERTO MUGGIATI

Minha primeira mulher era feminista.

Tinha sido também a grande anfitriã do soçaite-esquerda-festiva carioca antes do golpe militar. Quando a conheci, em Paris, era casada com um judeu doleiro podre de rico, era amante de um arquiteto francês que dirigia uma Porsche pelos Champs Elysées – e não é que escolheu a mim para juntar os trapos?

De volta ao Rio, depois de uma temporada de três anos na BBC de Londres, o destino não podia me reservar outra coisa: um emprego de repórter na revista Manchete. No Carnaval de 1966, fui escalado para cobrir o Baile das Bonecas, no Automóvel Clube, no Passeio Público. Nosso traje obrigatório era o smoking, lembro os primos Ricardo Gontijo e Lucas Mendes em suas roupas de pinguim no apartamento que dividiam no Bar Vinte.

Anúncio dos bailes do Automóvel Club, no Rio de Janeiro, em1966. Reprodução

Como boa feminista, ela não admitia ficar de fora da festa. A mulher devia acompanhar o homem em tudo. Tinha porque tinha de me acompanhar ao Baile das Bonecas. Mas como se emperiquitar? Meu salário não dava para nada. Ela lembrou que, nos tempos de dondoca, se vestia chez Guilherme Guimarães (*), era até amiga do estilista, que morava com os avós. Lá fomos nós – Guilherme tinha então 26 anos.

Magnânimo, em retribuição aos guarda-roupas que minha primeira mulher havia comprado dele, Gui Gui escolheu uma peça de tecido tailandês, ou indonésio, sei lá, e com dois ou três toques sutis envolveu Fulana naquele pano da maneira mais elegante que só um gênio da moda seria capaz de criar.

Sonia Dutra na capa
da Manchete, Carnaval 1966.
Lá fomos nós, eu e ela, para o Automóvel Club cobrir a folia gay animada pelo cantor Blecaute que, obviamente, se apresentava fantasiado de General da Banda. Revista de Carnaval era catálogo de fotografia. Aumentava o michê das garotas publicadas e diminuía o saldo dos maridos infiéis apanhados em flagrante.

Do meu texto só deve ter sido publicada a palavra Blecaute, que talvez eu tenha escrito errado, Blackout. O resto é história, está lá nas páginas mofadas da revista que chegou a ser, em certa época, o registro mais fiel da alma brasileira.


(*) Guilherme Guimarães, um dos grandes nome da moda brasileira, morreu ontem, no Rio, aos 76 anos.

Obra de arte perdida: a árvore de Natal é uma atração no Rockfeller Center. O que os visitantes não sabem é a história de um mural de Diego Rivera que o dono do complexo de prédios, o milionário Nelson Rockfeller, mandou destruir a golpes de picareta.

O mural de Diego Rivera que Rockfeller mandou destruir. O artista mexicano dividiu o painel em dois mundos: o capitalismo e o comunismo. No lado "comunista", havia um retrato de Lênin.
O painel foi destruído mas Rivera o recriou, em formato menor, no México. Foto: Reprodução

Tradicionalmente, a árvore de Natal do Rockfeller Center é o emblema da festa em Nova York.

O site Daily Beast escolheu essa época para relembrar uma história pouco conhecida sobre o conjunto erguido pela família Rockfeller. Os prédios do complexo - são 19 edifícios - começaram a ser construídos nos anos 30, logo após o fim da depressão econômica que se seguiu ao crack da Bolsa de Valores. O capitalismo estava em crise - tal como atualmente, em meio aos golpes dos mercados financeiros especulativos e de tráfico de valores que afetam economias, implodem direitos sociais e prejudicam países - e Rockfeller decidiu responder com uma grande iniciativa.

Curiosamente, quando o conjunto ficou pronto, o empresário encomendou um mural ao pintor Diego Rivera. O milionário ignorava a trajetória política do mexicano. Marxista, Rivera não negou a ideologia e criou um afresco gigantesco sobre o futuro do homem e sua inteligência criativa.

O muralista achava que o homem, como a América ainda sob o efeitos da crise, estava em uma encruzilhada. Assim, criou uma alegoria em que o capitalismo ocupava um lado do painel em oposição ao comunismo. No lado "comunista" havia a figura de Lênin.

Foi o que bastou para que os Rockfeller fossem alertados. Rivera, que só aceitara o trabalho com a condição de liberdade artística total, disse que Lênin não sairia mas que Abraham Lincoln seria retratado no campo "capitalista" do mural. Nelson Rockfeller rejeitou a solução e, durante uma madrugada, mandou destruir o mural.

Com base em fotografias feitas durante a realização da obra, Diego Rivera recriou o painel em formato reduzido para o Palácio das Belas Artes, na Cidade do México.

Avedon, que moda é essa? Ou a alvorada do merchandising

Por ROBERTO MUGGIATI

Cinquenta foi a década do bom gosto, da coisa cool e enxuta.

Um dos highlights desta trend foi o disco Jazz Red Hot and Cool, com o Dave Brubeck Quartet. Foi o mais ouvido pelo sophisticated people nas festas daquele fim de ano.

A capa mostrava a manequim-sensação da época, Suzy Parker, num deslumbrante vestido vermelho, entre Dave Brubeck ao piano e o saxofone alto Paul Desmond, aquele que queria soar como um very dry Martini – e soava.

As notas de capa do supercrítico George Avakiam admitiam candidamente que “a capa e o título deste LP fazem parte de uma promoção conjunta da Helena Rubinstein e da Columbia do novo baton da HR", do mesmo tom de vermelho do vestido da jovem.

Tudo isso prova que, se alguém aparece com uma ideia nova e brilhante, é inteiramente possível fazer negócios e ajudar um grupo de músicos de jazz ao mesmo tempo.


O autor da foto foi Richard Avedon (à direita), o fotógrafo de nove entre dez das estrelas da moda na época. Avedon se redimiu esteticamente, décadas depois, ao fazer uma série de retratos de um realismo dramático, em preto e branco sem nenhum retoque, inclusive seu próprio autorretrato.

E vamos ouvir uma faixa do disco, que resume tudo, Lover, de Richard Rodgers e Lorenz Hart.


https://www.youtube.com/watch?v=9jSrqA-JCAI

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Mídia: a notícia e a não-notícia

por Flávio Sépia 

Editar jornais, revistas, telejornais, noticiários de rádio, sites etc é fazer escolhas no mar de notícias. Para isso, jornalistas usam os filtros ideológicos, comerciais ou idiossincráticos dos veículos, os crivos declarados e os subentendidos.

Nas últimas semanas do ano, um fato político - a desobediência do presidente do Senado, Renan Calheiros, a uma decisão de um ministro do STF - deixou bem isso claro.

O país ficou estarrecido com a demonstração de poder do político alagoano. Durante dias, a mídia bateu na tecla da surpreendente desobediência institucional. O assuntou só deixou as primeiras páginas quando ficou claro que a carta na manga de Renan, aquela que sustentou o seu "dia do fico", era um ás de ouro: seria o compromisso de colocar em votação projetos de interesse dos grupos que levaram Michel Temer ao Planalto. Uma moeda de troca poderosa. A rebeldia de Renan, o homem que "desmoralizou" o STF, foi sumindo do noticiário, sumiu..., a essa altura deve estar em férias na sua Alagoas. Ficou a indignação de muitos brasileiros com a força do sujeito.

Pois Renan não foi o primeiro a não estar nem aí para o STF.

Leia essa rápida historinha: em dezembro de 2014, o ministro Ricardo Lewandovski suspendeu a divulgação da lista de trabalho escravo, uma relação de empregadores flagrados em exploração degradante de trabalhadores. A divulgação da relação dos "capitães-do-mato" modernos é determinação de lei brasileira que, diga-se, é elogiada em muitos países e tida como exemplar.

Em maio de 2016, a ministra Carmen Lúcia revogou a suspensão da divulgação da lista. Até hoje, o Ministério do Trabalho não cumpre a decisão do STF.

Viu? Não é só Renan que tem bala na agulha.

Segundo a BBC Brasil, o Ministério Público do Trabalho, cansado de esperar, acaba de entrar com uma ação judicial para obrigar o ministro do Trabalho a divulgar imediatamente a lista de empresas e pessoas físicas que foram flagradas usando mão de obra escrava.

Entre os grupos que detestam a publicação da lista e que têm ficha suja no quesito estão importantes construtoras - algumas encalacradas na Lava Jato - e ruralistas que integram a poderosa bancada do mesmo nome.

Essa desobediência ao STF, que já dura mais cerca de seis meses, não tocou corações e mentes do pessoal da velha mídia. Não foi notícia selecionada. Ficou esquecida no mesão dos editores.

Assédio veloz e furioso: youtuber brasileira mal consegue entrevistar o ator Vin Diesel. O cara estava carente e a perigo...









por Ed Sá

Apresentadora do canal Warner, onde mostra um bom trabalho, com naturalidade e objetividade em matérias sobre bastidores de filmes e estúdios, além de ser uma youtuber de sucesso, Carol Moreira viveu uma situação desconfortável ao entrevistar Vin Diesel, na Comi Con Experience, em São Paulo.

O vídeo da entrevista e uma explicação sobre o constrangimento que o ator impôs ao interromper várias vezes a conversa para cantar a jornalista, "muito sexy", segundo disse, e chamá-la para sair, viralizam na internet. 

"Eu não sabia o que fazer, eu só ria. Só ria porque eu estava numa situação delicada, mas a verdade é que eu não gostei disso. Na hora eu não soube reagir, mas vocês vão ver que eu estava desconfortável. Ele interrompeu meu trabalho", disse Carol, no vídeo. 

A entrevista agora divulgada aconteceu há duas semanas. Vin Diesel veio ao Brasil para promover o filme "Triple X". Por insistência da entrevistadora, ele respondia às peguntas, mas não sem antes cortar a conversa, como se dissesse "esquece isso, vamos sair, você é muito bonita".  E, na verdade, disse ("Vamos sair daqui para almoçar").

A jornalista recebeu muito apoio em comentários na rede e o caso repercutiu nos Estados Unidos.. 

Mas também foi criticada. Um site (//www.ilisp.org/noticias/farsa-do-assedio-carol-moreira-e-seu-aproveitamento-pelas-feministas/) colocou no ar um vídeo onde Carol Moreira, no mesmo evento, senta no colo de um entrevistado: o ator Jason Mornoa.

O mesmo site pergunta se Carol ficou mesmo incomodada já que postou fotos com Vin Diesel nas redes sociais.

Polêmicas à parte, mesmo sem surtos "feministas" ou reações "politicamente corretas", basta ver o vídeo para perceber que Vin Diesel demonstrou uma falta de educação veloz e furiosa. E a jovem youtuber, que, na hora, não esconde seu desconforto com a situação, talvez tenha sido vítima da sua inexperiência. Os haters da internet estão, como sempre, pegando pesado.


PARA VER CAROL MOREIRA EXPLICANDO O "CLIMÃO" 
E ENTREVISTANDO
 VIN DIESEL, CLIQUE AQUI

ATUALIZAÇÃO EM 25/12 - Por meio da sua página no Facebook, o ator Vin Diesel pediu desculpas a youtuber Carol Moreira. “Como todos sabem, tento manter as minhas entrevistas mais brincalhonas e divertidas, especialmente quando estou na zona Xander (/Vin Diesel se refere ao personagem que interpreta no filme Triplo X Reativado) mas, se ofendi alguém, peço desculpas pois nunca foi minha intenção". 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

A mulher que faria Leonardo Da Vinci dispensar a Mona Lisa. Saiba porque...

por Omelete 

A Universidade do Texas reservou um dia todos os bytes dos seus supercomputadores e horas de reflexão dos seus doutores para determinar as medidas perfeitas de um mulher.

E não pelos cânones das passarelas ou das editoras de moda, mas a partir das linhas e curvas dos esboços femininos de Leonardo Da Vinci.

Essa combinação de arte e tecnologia chegou a uma sequência ideal: 99 centímetros de busto, 63 de cintura e 91 de quadril. Seria a perfeição que as vestes renascentistas guardavam.

Tais medidas certamente se aplicam a alguns milhões de mulheres de todas as etnias, mas o board de mestres da universidade escolheu para representá-las a modelo e atriz inglesa Kelly Brook.

Além do reconhecimento acadêmico, a Brook leva sua boa forma doutoral muito além dos muros dos centros de saber. T

Todo ano, ela lança um calendário que é um verdadeira tese florentina compartilhada com o mundo..

Da Revista Brasileiros 2017: A morte anunciada do jornalismo


(Da Revista Brasileiros)

Em momento marcado pela perda da credibilidade e pelo surgimento de novas plataformas, persistir no jornalismo de qualidade é fundamental para a defesa intransigente da democracia


por Daniela Arbex (para a Revista Brasileiros)

Este texto faz parte do especial 2017 x 24 – visões, previsões, medos e esperanças da edição número 113 da Revista Brasileiros, onde articulistas e colaboradores foram convidados a pensarem sobre o que e o quanto podemos esperar – se é que podemos – para nosso País no próximo ano.

A primeira vez que pisei em uma redação foi há 22 anos. Sempre digo que, das focas, eu era a mais otimista, porque acreditava que, através da reportagem, conseguiria mudar o mundo ou, quem sabe, em escala menos superlativa, a minha aldeia. Durante todos esses anos, experimentei – no melhor estilo Gabriel García Márquez – a paixão insaciável pelo jornalismo.

“Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte”, afirmou Gabo, na mais precisa descrição que conheço sobre este ofício.

Por ser o jornalismo uma escolha que mobiliza o nosso desejo como poucas, é difícil digerir a crise que se abateu nas redações do País. Como diria Laurentino Gomes, nunca a morte de uma carreira foi tão anunciada quanto a nossa. Os pessimistas de plantão se apressariam em dizer que estamos com os dias contados, principalmente diante do esvaziamento do noticiário e das redações, da perda de credibilidade e da mudança de modelo de negócios fomentada pelo meio digital. Na prática, ainda não se sabe quem vai pagar a conta das transformações impostas pelas novas tecnologias.

A boa notícia é que os novos formatos da notícia não dispensam o conteúdo de qualidade. Significa dizer que a velha e boa apuração continua em alta, bem como o necessário compromisso com a coletividade, o confrontamento de informações, o ideal permanente de contar histórias e de transformar escuta em escrita.

Há muito deixei de ser foca, mas jamais abandonei a crença que alimentava desde os tempos de faculdade sobre a importância deste ofício. Independentemente das mudanças que ainda estão por vir, o jornalismo de qualidade é a ferramenta fundamental para a defesa intransigente da democracia.

Aliás, neste momento de crise, o investimento em conteúdo torna-se essencial para que se consiga dar voz aos socialmente mudos e para ajudar a construir a memória de um Brasil desconhecido pelos próprios brasileiros. É uma questão de fundo, pois fazer bom jornalismo, em qualquer plataforma, exige tempo, recursos, checagem exaustiva dos dados e, por que não dizer?, o resgate da credibilidade da nossa função.

Precisamos repensar o papel da profissão diante da nova ordem social e dos equívocos cometidos por uma imprensa partidária e ineficiente. A busca por novos formatos para a produção de conteúdo de qualidade me faz pensar que, apesar de tudo, há vida longa para o jornalismo.

*Daniela Arbex é jornalista, autora do livro Cova 312, melhor livro-reportagem no Jabuti 2016, e de Holocausto Brasileiro, melhor livro-reportagem pela APCA em 2013. É também diretora do recém-lançado documentário Holocausto Brasileiro


LEIA ESTA E OUTRAS MATÉRIAS NA REVISTA BRASILEIROS, 
CLIQUE AQUI



Oportunidade: curso gratuito de jornalismo de dados no Knight Center



O Knight Center está lançando um novo curso online sobre jornalismo de dados. As inscrições estão abertas e as aulas serão ministradas pelos professores Alberto Cairo e Heather Krause. Serão seis semanas de curso, de 16 de janeiro a 26 de fevereiro de 2017, onde jornalistas serão treinados a encontrar dados, como baixá-los e como analisá-los. A web não é apenas um fabuloso manancial de informações que podem enriquecer uma reportagem mas uma inestimável fonte de pautas e uma plataforma hoje indispensável ao jornalismo investigativo, com os dados digitais fornecendo os caminhos que levam aos personagens reais de uma história. O jornalismo de dados é uma das especializações em alta nas redações.
Leia mais detalhes sobre o curso, clique AQUI. 

Entenda porque a grande mídia coreografa a cobertura de economia e todo mundo tem a mesma opinião...

Jornalistas de economia da grande mídia apurando matérias. Oops! Foto errada:
é apenas uma cena de musical da Broadway. Reproduçao
por Flávio Sépia
Com mais de 40 anos de trabalho dedicado à área econômica, o jornalista José Paulo Kupfer, constata, em entrevista à revista Imprensa, a grave falta de diversidade de fontes no jornalismo especializado em política monetária, mercado financeiros, negócios, contas, enfim, que acabam pesando no bolso e na vida da população.

Você vai entender porque a cobertura de economia na lembra uma espécie de "Chorus Line" da Broadway em movimentos coordenados, pezinhos no ritmo e vozes em sintonia regidas por um maestro que seduz a grande mídia e seus colunistas: o mercado especulativo.

(A seguir, trecho da entrevista de José Paulo Kupfer)


Qual o entrave do jornalismo econômico hoje?
O problema que vejo hoje - e que não via tanto há vinte anos, talvez tivesse e eu não percebia - hoje percebo, com a minha experiência na grande imprensa, que o jornalismo é muito enviesado, desequilibrado, com uma única visão de economia. O termo eu não gosto, porque é muito resumidor, mas a visão predominante na cobertura dos temas econômicos é neoliberal. As fontes, digamos assim, contraditórias, que são ouvidas, são poucas, 80% - talvez mais - da cobertura se apoia em fontes com pensamento econômico ortodoxo. Não gosto desse rótulo, mas para poder entender. Acho que é o maior problema da cobertura econômica e isso é generalizado - falando da grande imprensa. Tem um circuito funcionando, eu já analisei isso, fiz pesquisas pessoais, é uma batalha minha, sobre a necessidade de formar novas fontes.

Não há diversidade de fontes?
Em economia, especialmente, as fontes são todas velhas. Um cara aparece num lugar, o outro busca ele, vai para a tevê, rádio. Vira um circuito. A gente sabe quem fala e qual o assunto. São sempre os mesmos. Eu tenho uma teoria. Não é o que parece. Não é apenas porque é mais confortável para os jornalistas e editores, porque coincide com a visão das casas.

Qual é a sua teoria?
Tenho um artigo publicado na revista da ESPM, cujo título é “Fontes viciadas em economia”. Em resumo, apurei e descobri que é claro que tem um conforto em cobrir o que a linha editorial acha que é o correto. Mas não é o principal. O principal é o processo de produção jornalística. As redações estão muito enxutas, os jornalistas são multitarefas, têm jornadas imensas - nem acho errado, a profissão é para isso. Tem que conduzir da reportagem ao fechamento - as folgas devem compensar essa situação. É algo do processo. Mas, de toda maneira, é complicado e estressante. Os pauteiros e os próprios jornalistas não tem muito tempo e estímulo para ir procurar fontes alternativas. Nesse período em que as redações ficaram enxutas, as assessorias se profissionalizaram, cresceram barbaramente e descobriram o espaço do debate, especialmente na área econômica.

LEIA A ENTREVISTA COMPLETA, CLIQUE AQUI

Do GGN: "A cruzada moralista e sua ideologia"


por André Araújo (para o GGN)

Os movimentos políticos através da História são lastreados ou na ideologia ou na realidade do poder. No Século XX exemplos clássicos de ações movidas por ideologia:  a luta de Leon Trotsky para implantar o comunismo na Europa em contraposição à política realista de Stalin para consolidar a Revolução dentro da Rússia pelo princípio da economia de forças.

A política de Woodrow Wilson, ao fim da Primeira Guerra, com seus 14 pontos, foi uma ação ideológica, "para abolir os pecados da velha diplomacia", ao pensar nos ideais humanitários americanos contra a tradicional viciosidade da política europeia, plantou as sementes dos desarranjos que iriam, vinte anos depois, gerar a Segunda Guerra.

Wilson tinha ótimas intenções, mas carecia de realismo. Não conseguiu vender sua política nem para o Congresso de seu País. Sua tese "cada povo um Estado" é precursora da tese que desestabilizou o Oriente Médio com um sonho irrealizável de democracia pelo voto.

Nada mais desastroso do que a ação movida pela ideologia para um ideal democrático impossível nas ações americanas no Oriente Médio, entre 1990 e 2005, para "implantar valores ocidentais" em um terreno infinitamente mais complexo do que imaginavam os simplórios do Departamento de Estado. Ao pretender tirar do poder Saddam, Kadhafi, Mubarak e Assad, os EUA desmontaram todo o delicado xadrez do Oriente Médio, numa situação  pior do que seria deixar os ditadores que, pelo menos, mantinham um mínimo de estrutura de controle na região.

A cruzada moralista de Curitiba se insere em uma ação ideológica para impor princípios que seus atores julgam válidos em nome da justiça, o que é uma ideologia. Não se desprezam suas boas intenções mas assusta o completo descaso com as consequências laterais  de suas ações sobre a governabilidade e sobre a economia.

Ao liquidar com grandes empresas e setores dinâmicos da economia nacional, tornam a recessão mais profunda e a recuperação do crescimento  mais difícil, algo que parece não os incomodar minimamente. A visão ideológica é reducionista,  reduz todos os problemas do País ao combate à corrupção, desprezando a complexidade econômica e social do País e maximizando um problema como epicentro de todos os demais desafios para o desenvolvimento. Nessa visão, uma vez acabada a corrupção, todos os demais problemas estarão resolvidos.

Por que cruzada moralista e não simples força-tarefa? Porque o conceito de cruzada é mais amplo que uma simples operação de força tarefa. O movimento de Curitiba é revolucionário porque o Ministério Público e o Juizado agem em conjunto como força única de ataque contra a corrupção, o que é contrario à regra democrática de separação de funções entre Juiz e Promotor. Mas essa ação irregular não merece nenhum reparo da hierarquia superior, provavelmente impressionada pela opinião publicada vendida como opinião pública pela mídia de apoio da força tarefa.

Todavia, o sentido maior de cruzada vem do apoio incondicional da mídia conservadora ao dispositivo de ataque e é esse apoio que transforma o movimento em força política de grande dimensão com objetivo politico maior do que um simples processo judicial.

A cruzada moralista coloca em risco dois valores, a governabilidade, qual seja a capacidade do Poder executivo de governar e o clima econômico para a tomada de decisões que exigem alguma previsibilidade no horizonte.

A governabilidade é afetada pelo risco contínuo de ações, vazamentos, prisões,  cassações e  bloqueios de bens. A operação judicial é um processo inédito no mundo porque dura mais de dois anos sem interrupção e não tem previsão de acabar.

Processos político-judiciais desse tipo existem, mas são excepcionais porque nenhum governo continua funcionando sob essa espada por tanto tempo. No Brasil, os governos perderam a vergonha e fingem governar sob contínua ameaça sem aparentemente se importar com a corrosão de seu poder.

A "corrupção das democracias parlamentares" era o grande tema dos discursos de Mussolini e Hitler na Europa dos anos 30. O alvo mais evidente era a venalidade notória da Assembleia Nacional francesa da Terceira República e o nazi-fascismo passou a usar esse pretexto para justificar a superioridade dos regimes totalitários, onde aliás a corrupção era infinitamente maior, com o agravante de ser exercida com violência e  sob férrea censura. As cruzadas moralistas são historicamente as prévias do fascismo que se justifica para "fazer uma limpeza", entendida como a punição da classe política.

Na Itália de Mussolini, o Deputado Matteotti foi a primeira vítima na guerra contra o Parlamento, movimento que prosseguiu até o expurgo completo dos "corruptos" abrindo caminho para a ditadura plena do Partido Fascista.

A cruzada moralista pretende ancoragem em "trends" globais pelos quais a transparência e a "accountability" são tendências irreversíveis por todo o mundo. Nada mais falso. Rússia, China e Índia, potências globais, não têm a transparência como meta e nelas a corrupção é parte central do projeto político. Os oligarcas russos são produtos da corrupção, Putin é o homem mais rico do mundo com US$85 bilhões de fortuna, a China é o País com maior numero de bilionários depois dos EUA, muitos deles, como na Rússia, se tornaram ricos passando para seu nome empresas estatais.

O último bastião do moralismo cruzadista são os EUA, mas com um governo Trump a tendência será revertida. Nada mais politicamente incorreto do que Trump e sua troupe, transparência e moralidade não são metas do Governo Trump. Com o que a tocha do moralismo político fica com o Brasil, único País do mundo que está desmontando sua economia em nome do combate à corrupção em um processo sem fim, algo também inédito pela sua irracionalidade.

O País não se interessa mais por construir navios, sondas, hidrogeradores. A meta hoje é produzir inquéritos e delações, a mídia tem espasmos de satisfação quando fala em 77 delatores como marca de sucesso, se fossem 110 seria melhor ainda, não há mais notícia de novas estradas, usinas, portos. A totalidade do noticiário hoje dá como notícia o fato do Juiz ter aceito a denúncia contra Lula, como se fosse possível não aceitar. Foi aberto inquérito, foram distribuídos 23 mandatos de busca e apreensão, essa é a totalidade do noticiário. A mídia se desinteressou dos temas políticos e econômicos, só trata de notícias judiciais-policiais.

O papel da mídia na construção da cruzada moralista é crucial e a aliança é paga com vazamentos que geram manchetes, escândalos e aumentam as vendas e audiências.

A mídia, por sua vez, e tenho visto isso com uma reiteração impressionante, não vê nenhum problema, por exemplo, no Estaleiro Rio Grande despedir 3.200 empregados, os últimos, quando já teve 18.000. Estaleiro esse que pertence a uma das firmas mais envolvidas pela Lava Jato. Os demais estaleiros estão fechando, assim como bom número de grandes empreiteiras, não só elas, mas seus ramos paralelos, seus fornecedores e prestadores de serviços.

Afirmações alucinadas se veem na mídia. Outro dia, no Programa Três em Um da Rádio Jovem Pan, onde um certo Madureira disse que a Odebrecht poderia fechar sem problemas. Seria até bom que fechasse, afinal quem faz as obras são os engenheiros, estes podem se reunir dois ou três e continuarem as obras. A Odebrecht já despediu 100.000 empregados e não se sabe de uma turma de "dois ou três engenheiros" se juntarem para continuar as obras.

Muita gente pensa assim, se fecham as grandes vem as menores, desconhecendo que um grande construtora não é só uma sala com engenheiros. Há uma imensa concentração de aptidões, expertise, experiência acumulada. Montar um canteiro no meio da Amazônia não é para "dois ou três engenheiros", há uma rede de alianças, conexões e parcerias que só a vivência no ramo por décadas é capaz de aglutinar com rapidez.

Um dos aríetes da mídia engajada é alegar o "apoio" irrestrito da opinião pública à cruzada moralista, apoio esse impossível de medir ao se confundir opinião publica com opinião publicada. De qualquer modo, esse apoio, no limite em que exista, não estabeleceu até hoje uma ligação entre crise econômica e ações persecutórias da operação judicial. Aqui e ali aparecem algumas conexões, mas não chegou ao cerne da opinião pública.

Tampouco causou qualquer controvérsia na mídia o fato inédito, em escala mundial, pelo qual uma força tarefa anticorrupção colaborar com uma potência estrangeira, no caso os EUA, a perseguir e processar sua estratégica indústria aeronáutica, a 3ª no ranking mundial, ao final obrigada a pagar US$208 milhões ao Tesouro americano. Tudo feito com a colaboração vinda do Brasil contra a Embraer, quer dizer, em nome da ideologia anticorrupção coloca-se em risco uma empresa de crucial importância para o País, como se isso fosse algo banal. A regra é os Estados protegerem a ferro e fogo sua empresas de tecnologia de ponta na área de defesa e nunca a entregarem a um Governo estrangeiro como presa de guerra com essa leviandade, tudo em nome da ideologia moralista.

A cruzada moralista tem entusiasmado apoio da mídia conservadora. É preciso que a população saiba de seus custos. O Brasil tem grave problema em lidar com a realidade, todos querem parecer politicamente corretos e operar em um teatro de ficção.

As operações anticorrupção, que já vão para três anos, estão no epicentro da crise política e está aprofundando a recessão, causa desemprego e impede o crescimento. É preciso não ter ilusões a esse respeito, poucos atores da política têm coragem de falar claro, todos querem parecer amigos da investigação embora saibam o desastre que a operação causa na economia.

O Brasil tem sua imagem no exterior completamente manchada, boa parte dos fundos de investimento não tocam no Brasil. Elogios às operações anticorrupção podem existir em núcleos de juristas, ativistas da transparência e colegas procuradores. Mas para por aí.

No meio empresarial dos grandes países ninguém acha graça em saber que empresários brasileiros são presos por atacado. Nomes como Odebrecht são conhecidos internacionalmente, a sua prisão por tanto tempo causa espanto.

Os empresários do exterior são colegas dos brasileiros e ninguém gosta de ver colegas presos. Essa "razia" das operações anticorrupção causa um gosto amargo lá fora e ninguém acha isso bonito. Há uma ilusão em certos círculos politicamente corretos sobre a virtuosidade dessa cruzada como valor  em si mesmo, sem análise do bom e do ruim, dos custos e consequências.

O carimbo de país corrupto ressaltou na grandeza para o Brasil, enquanto países de histórica corrupção, como México, Índia, China , Rússia, Indonésia, África do Sul e Argentina não sofrem no exterior esse desgaste de imagem que se colou nas instituições políticas brasileiras,"covil de ladrões" segundo seus detratores.

Mas pior do que o reflexo no exterior é a quebra generalizada da confiança fundamental para o funcionamento da economia. Se todos delatam todos, confiar em quem? E sem confiança como fazer negócios? O ambiente das delações corrói como veneno escorrendo da boca a rede de confiabilidade em que se estruturam grande parte das transações no mais alto patamar.

A projeção dessa cruzada no exterior liquidou com a presença de empresas e empreiteiras brasileiras na África, Oriente Médio e  América Latina. Trinta anos de luta pela presença em mercados importantes como Angola, jogados fora com a pior das ações, empreiteiras brasileiras delatando personalidades de governos estrangeiros. Quando o Brasil conseguirá uma obra nova no exterior com essa fama de alcaguete?

Enquanto isso, empreiteiras chinesas, indonésias, turcas, indianas, malaias, tailandesas, operam sem qualquer problema de moral nos mercados africanos, os brasileiros "politicamente corretos", "primeiros da classe" são vistos como "queimados" nesse ambiente. Nossa cruzada teve a pretensão de "moralizar" mercados de obras públicas no exterior, só nós, "os santos", nossos concorrentes riem de nossa ingenuidade, mercados de obras públicas tem certos costumes seculares e não será o Brasil o fiscal do setor a nível mundial.

A questão das tarefas de julgamento no estilo "revenge" ou "acerto de contas" sob o pano de fundo político teve um exemplo fundamental no Tribunal Internacional de Crimes de Guerra de Nuremberg. Estabelecido o Tribunal, em outubro de 1945, decidiram as potências aliadas, sob a liderança decisiva dos EUA, limitar os réus a 24, contra opiniões contrárias dentro do próprio EUA, onde o Secretário do Tesouro Henry Morgenthau, judeu, queria processar 10.000 nazistas. Prevaleceu a força do General George Marshall, líder absoluto das forças armadas americanas,  que via como prioridade a reconstrução da Europa e para tanto era necessário acabar o mais rapidamente possível com processos criminais  contra os alemães para que as forças de ocupação se voltassem para a reconstrução.

Dos 578 generais da Whermacht, somente 2 foram réus em Nuremberg, Jodl e Keitel, ambos enforcados. Dos oficiais das SS, figurou apenas Kaltnbrunner, escapando o General Karl Wolff, segundo homem da hierarquia das Waffen SS, poupado porque fez um acordo proveitoso para os Aliados ao render um milhão de soldados no norte da  Itália.  O julgamento acabou em um ano e dentro da mais puro Realpolik. Milhares de ex-oficiais nazistas das três forças passaram a colaborar no esforço de reconstrução da Alemanha Ocidental, figuras emblemáticas como o Marechal von Manstein, passaram a trabalhar para os Aliados. Talleyrand não faria melhor. Nuremberg foi "realpolitk" no estágio mais puro. Às favas com justiça como ideologia, é precisa olhar para frente e não para trás.

A rápida resolução do julgamento de Nuremberg, considerando a extensão dos crimes submetidos à sua jurisdição, mostra a força do critério de solução racional e rápida de processos-crime visando tocar as tarefas do futuro e não ficar mastigando ao infinito a vingança pelos malfeitos, propensão que domina a visão de "expiação" algo religiosa que vem de nossa cultura ibérica vingativa. É preciso "queimar" o herege para purificá-lo, não interessa o mundo real mas sim a salvação das almas.

A operação anticorrupção pode durar 5 anos, como a Comissão McCarthy, ou até 10 anos. O processo vai levar a uma destruição inédita dos canais e redes em que se estruturam os empreendimentos de grandes consórcios de obras públicas e concessões.

Cada um dos 75 delatores da Odebrecht tem uma carreira, uma família, tudo construído em décadas. Depois de delatar vão fazer o quê? Quem os empregará? O carrinho de cachorro-quente pode ser uma saída.

É possível que a população brasileira, açulada pela mídia, prefira a continuação das operações anticorrupção por dez anos. É uma opção. Mas é preciso ficar claro que enquanto durar o ambiente de caça às bruxas com show midiático o Brasil não vai crescer, não tem como crescer. O ambiente para o crescimento exige otimismo e visão do futuro. Em um ambiente turbado, onde a única coisa que se produz são inquéritos, delações, processos, não há nenhum elemento de prosperidade e todo o centro dinâmico da economia fica paralisado. Para pegar o rato no telhado se põe a casa abaixo, esse é o programa. E o pior é que essa hecatombe se faz sobre frenético aplauso da mídia conservadora, força central da cruzada.

Qual o objetivo final da cruzada moralista? Só existe um. Como o poder politico é essencialmente corrupto e não se autocorrige deve ser extinto ou anulado. É o lema da "corrupção das democracias parlamentares" dos discursos de Mussolini.

Mas o poder político é o único instrumento para a existência da democracia. Ao se extinguir esse poder, porque é corrupto, extingue-se a democracia. A ação da cruzada moralista não tem outro desfecho, busca o fim da democracia e a implantação de um regime puro, onde não há o pecado, algo que um certo Pol Pot pretendia e quase conseguiu em um país chamado Cambodja, a custa do fuzilamento de dois milhões de corruptos em uma população de oito milhões.

O processo da cruzada moralista é uma espécie de loucura coletiva inédita na História brasileira, uma espécie de "Caso Dreyfuss". A política sempre operou com dinheiro, aqui, na França, nos EUA, na Rússia, não existe politica sem dinheiro. É possível melhorar regras, mas não é possível extinguir o pecado, algo que a cruzada pretende e, no processo de eliminar o pecado, vai acabar com a democracia e levar o País ao maior obscurantismo de sua História.
LEIA NO GGN, CLIQUE AQUI

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Mais uma... Revista TPM encerra publicação impressa mensal


Chega ao fim, depois de 15 anos, a versão impressa mensal da revista TPM. Acima, a última edição, de novembro de 2016. Uma das chamadas de capa não deixa de ser premonitória: "Que turbilhão é esse que nos aprisiona?".

Segundo a editora Trip, a revista se manterá no "on line" e em quatro edições temáticas anuais impressas.

A editora-executiva da TPM, Lia Bock, postou no Facebook a mensagem abaixo:


The Economist: a capa do fim do mundo...

por Jean-Paul Lagarride

The Economist caiu no reino da magia.

Para analisar as perspectivas do mundo em 2017, a revista preferiu apelar para o ocultismo.

Pra começar, os editores denominam a nova e imprevisível era de "Planet Trump, no qual tudo pode acontecer.

Na capa do especial "Mundo em 2017", figuras do tarô para tentam explicar o que vem por aí. Nas cartas, Trump, como Juiz, é um dos arcanjos dominantes.

Mas há outros códigos enigmáticos em The Economist. A torre rasgada ao meio por um raio sugere um atentado? A carta da morte com o cogumelo atômico ao fundo é prenúncio de guerra nuclear ou de terrorismo atômico? A roda da fortuna também sob ataque significa mais crise financeira?
Cada uma das oito cartas que The Economist escolheu para a capa, entre as 78 do tarô, aponta para um tema que a revista analisa, desde Donald Trump ao Congresso do Partido Comunista da China, eleições na França e Alemanha, a União Europeia depois do Brexit, economia, protestos etc. A edição especial "Mundo em 2017" desencadeou uma série de interpretações. A Torre, por exemplo, simbolizaria o colapso do sistema; Trump é Trump, dono do mundo; e o Eremita observa multidões protestando, sinal de que o povo em vários continentes, no limite das suas carências e necessidades, vai pra rua.

Até The Economist vê 2017 como um ano sinistro. Se segura, malandro.