sábado, 30 de novembro de 2019

Sacha Baron Cohen que se cuide. O Bozonaro pode ganhar o papel do "General Alardeen" do filme "O Ditador"

Hollywood se agita: Sacha Baron Cohen pode perder papel para Bozonaro. 

por O.V. Pochê

Segundo o portal UOL, Leonardo DiCaprio acaba de divulgar nota negando ter financiado as ONGs acusadas, segundo obscura investigação, de suposto envolvimento em queimadas na Amazônia.
Bozonaro declarou que o ator paga organizações para botar fogo na floresta. Claro que a "denúncia" foi recebida no mundo como mais uma diarreia mental do capitão inativo. Mesmo assim, DiCaprio se deu ao trabalho de negar ter dado dinheiro às ONGs dos brigadistas de Alter do Chão, alvo da investigação. "Apesar de merecerem apoio, nós não financiamos as organizações", disse DiCaprio. O ator elogiou o povo brasileiro "que trabalha para salvar sua herança cultural e natural". Disse ainda que tem orgulho de estar ao lado de grupos que as protegem.

Com o Brasil repercutindo em Hollywood aumentam as chances do Bozonaro ser convidado para atuar na sequência do filme "O Ditador" em substituição a Sacha Baron Cohen no papel do General Alardeen, o déspota da República de Wadiya.

As redes sociais reagiram ao Bozonaro com um titanic de memes. Algumas mostram que Leonardo DiCaprio usou como lança-chamas para incendiar a floresta nada menos do que uma mamadeira de piroca, outra das invenções do elemento atualmente no poder.





Fotomemória da redação: Nova Bloch em tarde de comemoração...

Glória, 2001, Redação da Nova Bloch em dia de comemoração; José Carlos Jesus, Lincoln Martins, Roberto Antunes, Juliana Battestin, Armando Borges, Jussara Razzé, Pedro Borgeth, Fábio Abrunhosa, Orlando Abrunhosa, Cláudia Almeida Alberto Carvalho, Roberto Barreira. Foto:Arquivo Pessoal de Juliana Battestin
A Nova Bloch foi uma cooperativa de ex-funcionários formada para assumir temporariamente a edição de algumas revistas da extinta editora, até que os títulos fossem leiloados. Assim, logo após a falência da Bloch em agosto de 2000 foi montada uma redação na Glória e de lá saíram para as bancas Manchete, Desfile, EleEla e Pais & Filhos. Na época, o mercado de revistas impressas já dava sinais de esgotamento. Mesmo assim, a experiência da cooperativa, inédita após falência de publicações jornalísticas, durou mais de um ano. Além das edições semanais e mensais, a Nova Bloch produziu número especial de Carnaval, com a tradicional marca de qualidade da Manchete

Há poucos dias, Juliana Battestin, que era recepcionista da NB, postou no Facebook a foto acima que registra uma comemoração da redação.

São lembranças de bons momentos como esse que ficaram após o fim da Bloch Editores.

Infelizmente, a memória também guarda desgostos. Ano que vem, a Massa Falida completa inacreditáveis 20 anos. Na expectativa de receber com maior rapidez suas indenizações, muitos ex-funcionários fizeram acordos, a partir de 2004, concordando em reduzir suas pretensões. De fato, a maioria recebeu o valor principal da indenização. O mesmo não aconteceu com a correção monetária devida. Foram pagas algumas parcelas e pelo menos há quatro anos a Massa Falida da Bloch cessou os pagamentos. Sob a liderança de José Carlos de Jesus, presidente da Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores (CEEB), os colegas da empresa falida intensificam a mobilização para reivindicar justiça.

A lei determina que o pagamento das indenizações trabalhistas deve ser a prioridade das Massas Falidas.

Imaginem se não fosse.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Revista Veja é condenada em segunda instância por publicar reportagem falsa

A Veja perdeu mais uma causa na Justiça. Dessa vez, por plantar notícia falsa. A decisão em segunda instância é do Tribunal de Justiça de São Paulo, que condenou a revista a indenizar o ex-ministro da Saúde Alexandre Padrilha e sua mulher, Thássia Alves.
A matéria do jornalista da ultra direita Felipe Moura Brasil, foi publicada em 2015 sob o título "Farsa: Padilha turbina SUS para parto da filha! Petista dispensou plantonistas e chamou médicos de sua confiança”
Foi constatado que a reportagem era inteiramente mentirosa, fruto de invenção do repórter da Veja.
A notícia completa está na Rede Brasil Atual.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Fatos: o Brasil rebobinado...

por José Esmeraldo Gonçalves (*)

Dê uma olhada nessa edição da Fatos. Você provavelmente vai achar que lembra o filme Feitiço do Tempo, quando o dia da marmota se repete como farsa.

Na capa, o general Newton Cruz era apresentado como "o guru da nova direita". A ditadura acabara de ser enterrada, a viuvada não queria largar o osso e tentava influir na política. Conseguiram, de certa forma. Mas levaram exatos 34 anos. O guru não foi o Cruz de ontem e atende pelo nome do Bolsonaro de hoje. A matéria de Luiz Carlos Sarmento e Carlos Eduardo Beherensdorf vinha com um título premonitório; "Direita: por dentro do ovo da serpente". Um "manifesto" lançado por aquela ultra direita, reproduzido pela revista, poderia ser divulgado pelo Planalto hoje. Veja o trecho sobre a ameaça do "dragão do comunismo": "Liberais oportunistas, populistas embusteiros, assessores da desordem, minorias vociferantes, idealistas do ódio, vingativo vorazes e aliciadores das massam tentam encetar uma campanha de desmoralização das Forças Armadas".

Um assassinato também assombrava o governo. Apesar das tentativas de arquivar a investigação, o delegado Ivan Vasques insistia em ouvir agentes do SNI supostamente envolvidos no caso Alexandre von Baumgarten, ex-colaborador da ditadura. A suspeita era que sua morte tinha carimbo oficial: queima de arquivo.


De Brasília, vinha uma matéria sobre a desintegração dos partidos políticos. Não, o PSL de Bolsonaro ainda não existia. As siglas em crise eram PMDB, PFL, PDS.



Em entrevista às repórteres Lenira Alcure e Maria Luíza Silveira, Jair Menegueli, presidente da CUT, profetizava: "Trocamos a ditadura militar pela ditadura econômica". E o neoliberalismo nem era a palavra da moda.


A editoria de Cultura da Fatos publicava a crítica da peça "A Filha do Presidente", assinada por Marli Berg. Patricia Pillar fazia Paula, a filha, e Ari Leite encarnava o presidente Bermudez, descrito como "rico em  palavrões e grosserias estereotipadas". Não, o autor Hersch Basbaum nem sonhava com o atual clã que manda no país.

O repórter Rodolfo de Bonis visitou prisões do Rio de Janeiro. a matéria é dramática. Superlotação, falta de assistência jurídica, violência etc. E abordava um tema que os diretores dos presídios evitavam admitir: a separação de presos. Falange Vermelha de um lado Falange Jacaré de outro e celas para protestantes, gays, "faxinas" e "alienígenas", como a direção classificava os estrangeiros. Um preso também deu uma declaração premonitória ao se referir a um tipo de criminoso que, segundo ele, deveria estar na cadeia e não está: "São os bacanas das contas na Suíça".


Na editoria de Economia, o destaque era uma matéria de Rosângela Fernandes sobre as "moedas" que os abonados usavam para escapar da inflação enquanto o populacho sofria com o cruzeiro debilitado e corroendo salários. Eram "moedas" que não faziam parte do dia a dia das pessoas, mas compravam apartamentos, carros, terrenos e passagens para Miami. ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional), UPC ( Unidade Padrão de Capital) só frequentavam bolsos de fino trato. O dólar no câmbio paralelo também era o seguro contra a inflação adotado da classe média alta pra cima e longe do alcance da geral do Maracanã. Esta tinha que se virar com o cruzeiro desvalorizado diariamente. Um dos entrevistados para a matéria foi Paulo Guedes. Ele mesmo, o atual ministro da Economia, então vice-presidente do Ibmec (Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais). Ontem, Paulo Guedes impulsou a alta do dólar - extremamente lucrativa para os especuladores - ao sonhar com o AI-5 e declarar que não se preocupa com o câmbio que, não por acaso, está fazendo Brasil queimar reservas. Quem sabe, além do ato institucional ditadura, Guedes queira o Brasil, mais adiante, de volta ao controle do FMI.


A última página da Fatos era da seção Hip Hop, de Cláudio Paiva, que fazia uma bem-humorada crítica dos acontecimentos. O Congresso estava polarizado, então, em torno da discussão sobre a adoção ou não do segundo turno para as eleições. Entre as fotocharges, uma era sobre o clima de briga no plenário; a outra sobre a entrada a la Patton do general Newton Cruz na política. Era piada. Mas o dia das armas como argumentos estava para chegar.

Não parece que é hoje?

(*) Fui editor-executivo da Fatos e atesto que todas as referências acima foram colhidas de uma mesma edição da revista, a de número 12, que foi para as bancas em 10 de junho de 1995. 


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Abril despedaçada. Revista Exame vai a leilão

Empresa em recuperação judicial, a Abril realizará no dia 5 de dezembro o leilão da marca Exame.
O lance mínimo é de R$ 72,374 milhões. A Exame foi fundada em 1967, como encarte experimental em publicações da Abril e, em 1971, ganhou o status de revista. Em um mercado que se esfacelou, mantém a edição impressa, além do site de economia e negócios mais acessado do país, segundo a comScore.

Por boas causas, calendários analógicos resistem à era digital

Australianas alunas de veterinária da Universidade de Sidney posam para calendário beneficente 2020. O objetivos é ajudar
animais vítimas de maus tratos. Fotos: Black Dog Institute

por O.V.Pochê
O mundo é digital, mas os calendários analógicos resistem. Pelo menos enquanto houver borracharia. Antes, as modelos eram a atração. Agora, pessoas comuns tiram as roupas por boas causas. Defesa dos animais, ajuda a clubes de futebol, preservação do meio ambiente e ações de ajuda a portadores de doenças incapacitantes estão entre os motivos para ilustrar folhinhas sensuais. O jornal Extra, hoje, publica uma matéria sobre calendários para 2020, com destaque para aposentados britânicos que posaram pelados para ajudar instituição que cuida de idosos.
No Brasil conservador a onda não pegou, embora alguns pioneiros, como um grupo de atletas, tenham ousado fazer esse tipo de calendário há alguns anos. Boas causas não faltam.

domingo, 24 de novembro de 2019

Dinheiro sujo: música sertaneja lava mais branco?

Nota reproduzida do Globo, 24-11-2019

O pessoal que lava dinheiro é criativo.

Traficantes, sonegadores, milicianos, corruptos em geral, contrabandistas de armas, agiotas, o crime organizado, a turma de políticos da rachadinha etc, todos exploram as mais diversas maneiras de "legalizar" fortunas. Houve um tempo em que a máfia italiana dava preferência a lavar dinheiro montando redes de restaurantes. Hoje são mais sofisticados: investem em construtoras e empresas de coleta de lixo.
O Brasil já registrou alguns flagrantes em algumas dessas modalidades. Mas o chamado leque de opções é vasto. Já houve igreja evangélica denunciada como lavanderia, facilitada pelo fato de dízimo não pagar imposto e a contabilidade nessa área ser ficção. Abrir e fechar lojas também serve para maquiar grana suspeita. Os mais sofisticados usam paraísos fiscais, contas secretas no exterior e empresas de fachada. Adquirir obras de arte é prática adotada no mundo da lavagem mais branca. Comprar do sorteado, por um valor mais alto do que o prêmio, bilhetes de loteria ou talões da megassena e assim "legalizar" dinheiro sujo é jeitinho que já foi aplicado no Brasil.

Novidade é o que está na coluna de Lauro Jardim, no Globo, hoje. A nova estratégia do crime é  "investir" em duplas sertanejas.

A música pode não ser grande coisa, mas a máquina de lavar não tem nada de caipira.

Passaralho: jornais demitem jornalistas experientes. Assinantes e leitores deveriam reclamar no Procon... .

O megapassaralho que atacou no Globo e no Extra abalou os jornalistas cariocas. Nas redes sociais, foram muitas as mensagens em solidariedade aos profissionais atingidos por mais uma "reformulação" corporativa idealizada por tecnocratas e que têm um ponto em comum: abrem mão principalmente dos mais competentes e experientes.
Os cortes foram tão amplos que nesse ritmo os dois jornais em breve terão matérias do estagiário tal "supervisionada" pelo estagiário tal.
Os assinantes deviam protestar no Procon. Trata-se de um caso típico de perda de qualidade e de dano ao consumidor.

Mídia: livro "Eu Sou Boechat" revela histórias de bastidores da carreira do jornalista


A Panda Books lança em São Paulo, no dia 9 de dezembro, na Livraria da Vila, e no Rio, no dia 11, na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, "Eu Sou Ricardo Boechat".  Escrito por Eduardo Barão e Pablo Fernandez, o livro reúne 100 histórias inéditas do jornalista, que morreu em um desastre de helicóptero em fevereiro passado. Os dois autores trabalharam com Boechat e testemunharam muitos desses "causos".

"Eu Sou Ricardo Boechat" é o segundo livro sobre Boechat. Em sua longa carreira ele passou pelo Diário de Notícias, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo , O Dia, redes Globo, SBT e Band e conviveu com centenas de profissionais, incluindo o colunista Ibrahim Sued, de que foi assistente por 14 anos, em vários veículos.

Em junho último, a editora Máquina de Livros lançou "Toca o barco", coletânea com depoimentos de 32 jornalistas que trabalharam com Boechat e também contam histórias de bastidores. A maioria bem-humoradas, típicas de redações e da irreverência do saudoso jornalista.


sábado, 23 de novembro de 2019

Henry Sobel (1944-2019): o rabino que desafiou a ditadura

O rabino Henry Sobel no culto ecumênico para Vladimir Herzog, ao lado do reverendo
James Wright e de D. Paulo Evaristo Arns. Foto de Vic Parisi/Reprodução Manchete

A cerimônia reuniu milhares de pessoas na Sé Catedral de São Paulo. Foto; Vic Parisi

por José Esmeraldo Gonçalves

O rabino Henry Sobel era um líder religioso que não negava sua voz às questões seculares.

Talvez por isso os jornalistas o procurassem tanto, desde os anos 1970, para opinar sobre temas que iam do divórcio à pena de morte - tópicos discutidos no Brasil daquela época -, e do ecumenismo aos direitos humanos, da violência urbana à educação e a busca pela paz mundial. Com extraordinária cordialidade, atendia a todos os veículos.

Mas os jornalistas também não esquecerão Sobel pela coragem com que se manifestou, em palavras e atitudes, quando a ditadura militar torturou e assassinou Vladimir Herzog, em outubro de 1975, em São Paulo. Ao lado de D. Paulo Evaristo Arns, ele desafiou não apenas o regime autoritário, mas setores da sua própria comunidade. Em versão tosca e construída, os militares alegavam que Herzog havia se suicidado na prisão. Diante disso, e de acordo com os preceitos judaicos, o jornalista deveria ser sepultado em ala separada, na parte externa do cemitério. Henry Sobel recusou-se a assim proceder e venceu as pressões. Herzog repousa na parte interna do Cemitério Israelita do Butantã. A recusa do rabino simbolizou o veemente protesto que denunciou o assassinato do jornalista. Dias depois, ao lado de Paulo Evaristo Arns e do reverendo James Wright, Sobel participou de uma histórica cerimônia ecumênica que reuniu milhares de pessoas na Sé Catedral de São Paulo. Um ato religioso para Herzog, um ato político pela liberdade no Brasil.

A dura luta pela verdade prosseguiu nos anos seguintes. Em 1977, Manchete cobriu mais uma cerimônia ecumênica que lembrava os dois anos do crime e pedia justiça. Mais cedo ou tarde, as verdadeiras circunstâncias da morte de Herzog seriam reveladas, dizia-se no púlpito. O que acabou acontecendo.

A propósito de Henry Sobel, que morreu ontem, aos 75 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso postou no twitter uma declaração que retrata bem a participação do rabino na história que ajudou a escrever.

"Foi um bravo na hora difícil", definiu FHC. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Fotografia: a capa do Gugu... e outros cliques • Por Roberto Muggiati

Gugu na capa da Manchete e...


...um ano depois na Amiga. Fotos de Lena Muggiati


Augusto Ruschi e o beijo do beija-flor. Foto de Ricardo Azoury

Gabeira na árvore. Foto de Gil Pìnheiro
O editor de uma revista ilustrada compete sempre com seus fotógrafos, talvez por sofrer do complexo de não saber fotografar. Mas nunca faltaram aos editores da Manchete ideias para fotos, algumas até mirabolantes. Quando Ricardo Azoury foi retratar Augusto Ruschi na sua reserva ecológica do Espírito Santo, exigi que fizesse uma página dupla com o ambientalista beijando... um beija-flor. Sorte que o repórter era o Marcelo Auler, mais tirânico que o editor, e exigiu que Ruschi sustentasse entre os lábios um dedal com água açucarada até que surgisse um colibri disposto a entrar na brincadeira. A foto fez o maior sucesso, reproduzida até em pôsteres, outdoors e campanhas publicitárias.
Gil Pinheiro foi incumbido de fazer a primeira foto de Fernando Gabeira na sua transição ideológica do vermelho para o verde. Como de praxe, procurou-me na redação para saber que tipo de foto eu queria. “O cara não é líder dos verdes? Bota ele em cima de uma árvore!” Gil era um cumpridor de ordens exemplar. Com surdez avançada, não conseguia controlar o volume da voz e soltou o berro para cima do Gabeira: “Companheiro, sobe nessa árvore aí.” O retratado obedeceu prontamente e Gil voltou para a redação com uma foto maravilhosa do líder ambientalista de camisa e calça vermelhas contra o fundo verdejante de uma exuberante figueira.
O furor criativo do editor muitas vezes contagiava o fotógrafo. Foi o caso de Lena Muggiati, escalada em 1995 para fazer em São Paulo uma matéria com Gugu Liberato, que pleiteava um canal de TV.  Lena - na época sofrendo agudamente da doença do pânico - aventurou-se a atravessar o Viaduto do Chá até a Praça do Patriarca, o local da megalópole com mais transeuntes por metro quadrado. Sabia o que queria e encontrou no camelódromo da praça: um apontador de lápis no formato de um aparelho de TV. O simpático apresentador, líder absoluto do Ibope na época, mostrou-se muito acessível e se dispôs a posar com o brinquedinho. A foto deu capa. Um ano depois outro clique da série foi capa da Amiga, onde o Rei do Domingo estreava uma coluna. Carregava ainda um comentário irônico sobre a audácia do jovem de 36 anos que brigava por um canal próprio de TV, para competir com magnatas como Roberto Marinho e Silvio Santos. 

Descanse em paz, Gugu.

Fotomemória: Alcione, a boneca Marrom. Por Guina Araújo Ramos

Filha de maestro, Alcione é cantora e instrumentista. Acima, performance no trompete, em 1978.
Foto de Guina Araújo Ramos. 

por Guina Araújo Ramos 

De repente, fico sabendo que hoje (ontem), 21/11, é dia do aniversário, 72 anos, de Alcione, a Marrom, cantora e compositora de muito sucesso, em todo o Brasil, há décadas.
Bom motivo para trazê-la aos Bonecos da História!
Tive apenas duas oportunidades de fotografar a Marrom.
A primeira, em 23/10/1979, em show bastante elaborado que suponho ter acontecido no Canecão, e o fiz para a Bloch Editores, quase certamente (porque em preto e branco) para a revista Amiga.
Por algum motivo estranho (porque não era comum) restaram nos meus arquivos vários negativos do show, praticamente a cobertura completa, com Alcione usando vários vestidos e em várias performances, incluindo o momento em que toca trompete, o que nunca vi alguma outra cantora brasileira fazer.
Alcione na Mangueira do Futuro - Rio, 1992 - Foto Guina Araújo Ramos

Volto a encontrá-la somente em 1992 e em condições muito distintas. À época, eu trabalhava para Notícias Shell, veículo corporativo da multinacional, que patrocinava um projeto esportivo na Vila Olímpica da Mangueira, justamente a escola de samba do coração de Alcione. Do evento, em que apoiava a causa e também era homenageada, me restaram dois slides sem muita expressão (e coloco aqui o melhor deles).

MAIS FOTOS NO BLOG BONECOS DA HISTÓRIA, CLIQUE AQUI


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

O Kiss no Rio e o triste fim de Justino Martins • Por Roberto Muggiati

Na mesa de edição da Manchete, sentido horário; Célio Lyra, Roberto Muggiati, Justino Martins e Alberto Carvalho

Kiss: noite de hard rock no Rio

O Kiss vem aí de novo, desta vez para se despedir. A escabrosa banda de hard rock já iniciou sua turnê End of the Road/Fim da Estrada e se apresenta no Brasil em maio de 2020, em Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Ribeirão Preto, Uberlândia e Brasília. O Rio de Janeiro ficou de fora, talvez até para não misturar o momento melancólico do adeus com a lembrança do principal triunfo do grupo, que juntou o maior público da sua carreira no memorável show no Maracanã em 1983. Eu estava lá e guardo uma lembrança aguda da ocasião: foi quando vi o começo da morte de Justino Martins, o homem que criou a revista Manchete no seu formato histórico.

Iniciada em 1952, a semanal ilustrada ficou famosa pela impressão impecável em cores, mas levou anos para encontrar um diretor de redação à altura do seu potencial gráfico. Henrique Pongetti, o primeiro editor, era um cronista, sem nenhum cacoete de “revisteiro”.  Veio então Hélio Fernandes, que deu um toque jornalístico à Manchete, mas proibiu a entrada na redação dos irmãos Bloch: Arnaldo, Boris e Adolpho. Acabou demitido. Otto Lara Resende – cronista sem vivência de jornal – ficou um ano na direção, em conflito diário com o que chamou “os Irmãos Karamabloch” (nascidos  na Ucrânia, sua alma era mais russa do que judaica). Certa vez, um dos irmãos comprou a bom preço uma batelada de máquinas de escrever. Os outros dois, desconfiados do negócio, se puseram a destroçar as Remingtons no chão da redação.

Arnaldo e Boris morreram em 1957 e 1959 e Adolpho ficou livre para reinar supremo sobre a Manchete. Mas a revista continuava à deriva sem um timoneiro, editada por um triunvirato, fórmula que só diluía as responsabilidades. Adolpho convocou então, para dirigir a Manchete o brilhante correspondente em Paris, o gaúcho Justino Martins. O casamento deu certo, mas a relação seria marcada por amor e ódio – e muita inveja.

Justino Martins
Adolpho tentou tirar Justino da direção da revista na virada dos anos 60/70, mas a manobra não funcionou. Chamou-o de volta. Justino fez charme, disse que tinha um convite para ser RP da grife de Madame Grès, estilista e perfumista de Paris. Era uma armação combinada com a Madame, sua velha namorada, que confirmou a história ao Adolpho pelo telefone. Assim, além de um belo salário, Justino voltou à direção com um bônus de mil dólares, que um funcionário da tesouraria todo fim de mês botava na sua mão em cash, diante de toda a redação.

Mas tirar o “Índio” da direção da Manchete era uma obsessão do Adolpho e ele voltou à carga em 1975. Dispensou o Justino, disse que precisava dele para criar uma revista de decoração (que nunca saiu), e o homenageou com uma grande feijoada para centenas de pessoas no restaurante da Rua do Russell. Involuntariamente, servi de instrumento para esta jogada maquiavélica do Adolpho. Desde 1972 eu editava a revista em maio, quando Justino tirava férias e ia ao Festival de Cannes. Seguro de que eu poderia assumir o posto, Adolpho me empurrou para a direção da revista, onde fiquei até 1980, quando uma crise de saudosismo levou o Justino de volta à Manchete e eu fiquei como seu vice.

Em junho de 1983, ia ao ar a Rede Manchete de Televisão. Sabiamente, Justino profetizou que a TV viera para sepultar a editora. Uma morte ao mesmo tempo real e simbólica marcou essa transição. Em 10 de agosto de 1983, dois meses depois da estreia da TV, Justino Martins chegou à redação uma terça-feira, lá pelas dez da manhã, era o dia mais calmo, depois do fechamento na segunda e antes da saída da revista nas bancas na quarta. Com sua clássica sacola da Air France a tiracolo, falou comigo, que era o seu “segundo”: “Toma conta das coisas, tchê, que vou fazer um exame no Hospital dos Servidores.” O Servidores era uma referência, o Presidente Figueiredo internou-se lá quando teve sua crise cardíaca, e o diretor, Raymundo Carneiro, era um grande amigo do Adolpho. As notícias não foram nada boas. Justino tinha um câncer de pâncreas fulminante. Duas semanas depois, foi transferido para a Clínica Sorocaba, em Botafogo,

Visitei-o uma vez no Servidores e outra num triste sábado na Clínica Sorocaba. A um punhado de amigos que cercava seu leito, Justino confidenciou: “Estou me sentindo como um soldado diante de um pelotão de fuzilamento.” Morreu no dia seguinte, domingo 28 de agosto. Passados 36 anos, sua fama só fez crescer. Como definiu o livro A Revista no Brasil (Editora Abril, 2000): “Foi o editor que desenvolveu definitivamente a fórmula do que chamou de ‘beleza estética na informação.’” Uma beleza flagrantemente ausente nas revistas de hoje. Mesmo tendo sido o jornalista que mais tempo durou na direção da Manchete, eu sempre julguei e admiti que Justino Martins foi a verdadeira alma da revista.


Senti que o Justino estava morrendo na noite de 18 de junho de 1983, quando fomos assistir ao megashow da banda Kiss no Maracanã, diante do maior público na história do grupo. O espetáculo fazia parte da turnê Creatures of the Night, que promovia o disco do mesmo nome, iniciada seis meses antes nos Estados Unidos e encerrada no Brasil, com shows no Rio, em Belo Horizonte (Mineirão) e em São Paulo (Morumbi).

O carro da Bloch nos apanhou no Leblon (Lena faria as fotos para a cobertura da Manchete) e dali pegamos o Justino e sua filha Valéria, de dezesseis anos, motivo principal da ida ao Maracanã. Valéria era filha do segundo casamento de Justino, com Martha de Garcia, a primeira Miss Brasília. Ironicamente, Adolpho Bloch também casou com uma Miss, a gaúcha Lucy Mendes, Miss Rio Grande.

No portão de sua bela casa da Joatinga, encontrei um Justino soturno e ainda visivelmente abalado com a quase tragédia ocorrida naquela tarde de sábado. Dois pintores que trabalhavam ali quase foram estraçalhados pelos cães de guarda que Justinho mantinha para a segurança da casa. Uma ambulância levou os homens ao hospital Miguel Couto, onde se confirmou a gravidade dos ferimentos. Seguimos praticamente calados no trânsito engarrafado até o Maracanã.

Adentramos o gramado do maior do mundo, onde tínhamos ingressos VIP. Lena postou-se bem à frente do palco, armado no lado do campo conhecido como “a trave do Barbosa”, alusão à derrota para o Uruguai na final da Copa de 50. Fiquei do seu lado para protegê-la da turba ensandecida. O vocalista Gene Simmons, com sua maquiagem grotesca, vomitava uma geleca verde de aparência asquerosa sobre a plateia, fomos contemplados com alguns chuviscos também. Valéria assistia de perto com um grupo de amigas.

Logo após a morte de Justina Martins, esta placa que foi colocada na redação da Manchete em homenagem
ao diretor que criou a revista no seu formato histórico. Uma semana depois, foi retirada.

Depois de algum tempo, procurei o Justino. Custei a encontra-lo, no seu elegante blazer que nada tinha a ver com tudo aquilo. Recostado junto às grades que cercavam o gramado, pasmem – o Justino dormia. De pé. Um cansaço descomunal parecia ter tomado conta do seu corpo, já àquela altura minado pelo câncer, que o levaria dois meses depois.


terça-feira, 19 de novembro de 2019

O primeiro Zumbi a gente nunca esquece • Por Roberto Muggiati

Monumento a Zumbi dos Palmares, na Praça Onze, Centro do Rio. Reduto dos negros, berço do samba e
o bairro que recebeu imigrantes judeus a partir do final do Século  19. Foto: Prefeitura do Rio de Janeiro
Não há como esquecer. O Dia da Consciência Negra, na data do aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, foi comemorado pela primeira vez no Rio de Janeiro em 20 de novembro de 1995.  O feriado municipal, decretado pelo prefeito Cesar Maia, foi cercado de controvérsias, mas acabou respeitado naquela segunda-feira chuvosa em que a Manchete em peso compareceu ao enterro de Adolpho Bloch no Cemitério Israelita de Vila Rosali, em São João de Meriti.

Internado num hospital de São Paulo, Adolpho morreu nas primeiras horas do domingo, 19 de novembro de 1995, Dia da Bandeira. “O Rei morreu”, era o pensamento na cabeça dos jornalistas que foram aguardar o corpo para o velório no saguão de entrada do prédio da Bloch no 804 da Rua do Russell. O clichê imemorial não foi completado com o “Viva o Rei!” Adolpho não deixava herdeiro à sua altura. O mais afoito candidato, Oscar Bloch Sigelmann, morrera na véspera do Carnaval daquele ano. Num ano ruim para os Bloch, em agosto, foi a vez da irmã de Adolpho, dona Bela, mãe do Jaquito.

Naquele domingo, fui convocado para dar depoimentos à TV sobre Adolpho, principalmente na Rede Manchete. Ainda ficamos um tempo na redação, esboçando o fechamento da revista naquela segunda-feira – seria quase uma edição especial sobre Adolpho.

Chovia torrencialmente. Fizemos a longa viagem de trinta quilômetros até Vila Rosali – Lena e eu – no carro do casal Norma e Murilo Melo Filho, com direito a motorista particular. A presença de Xuxa (que ganhara fama e acesso à TV Globo graças à Manchete), Angélica, Cristiana Oliveira da novela Pantanal e outras celebridades atraiu a tietagem local, mesmo debaixo do aguaceiro. Para conseguir uma visão melhor, havia gente sentada até no muro do cemitério. Uma pequena multidão de fieis se acotovelava junto ao túmulo de Adolpho Bloch na hora do enterro.

Procurando um ângulo melhor, o fotógrafo Nilton Ricardo subiu num túmulo vizinho e Jeová o fulminou no ato pelo sacrilégio com um tombo quase fatal – Nilton se safou agarrando-se a uma lápide, que cedeu, levando consigo na queda uma meia dúzia de outros fotógrafos.

Do meu lado, Arnaldo Bloch, sobrinho-neto de Adolpho, me explicava o simbolismo da linha férrea que margeia o cemitério. Quando um corpo acaba de ser enterrado passa sempre um trem. Não deu outra: mal os despojos de Adolpho Bloch eram cobertos pela tampa da sepultura, um trem se deslocou lentamente no horizonte como uma longa cobra.

Voltamos de carona com o Mauro Costa, chefe de reportagem da televisão. Ainda chovia forte.

Às dezenove horas começamos o fechamento da revista, que varou a noite. Na capa, um belo retrato de Sérgio Zalis do homem que havia criado a Manchete havia 43 anos.

Os cariocas mais afortunados gozavam as últimas horas de lazer que lhes foram conferidas, pela primeira vez, por Zumbi dos Palmares.



FOTOMEMÓRIA DA REDAÇÃO
Hall do prédio do Russell, manhã de 20 de novembro de 1995. Já com a missão de fechar o número especial da Manchete em homenagem ao seu fundador, parte da redação fez uma pausa para receber o corpo de Adolpho Bloch, transladado de São Paulo. Na foto, João Silva, Regina, Orlandinho, Alberto, José Carlos, Muggiati, Cesar, Ney Bianchi, Esmeraldo, Paulinho e Pinto.

"Operação Condor": livro de Anna Lee e Carlos Heitor Cony será lançado no dia 28, na Livraria da Travessa, Ipanema


Leitura Dinâmica:: prisão na primeira instância, privatização black friday, os "desalentados", censura e príncipe papa-anjo

* Solução final - Relatório da ONU denuncia: mais de 100 mil crianças estão detidas em campos de concentração de imigrantes instalados pelo Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos inaugura a prisão em primeira instância: a do maternal.

* Privatização gostosa: O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, vende por 1 real empresa de energia que Aécio Neves comprou para o estado por R$ 360 milhões. Zema antecipou a black friday. A informação está no Viomundo.

* Vivendo de bico -  Segundo o IBGE, a queda milimétrica do desemprego no Brasil, no terceiro trimestre foi puxada pelos "informais", os trabalhadores que pegam um serviço aqui e outro ali e não têm qualquer registro. O IBGE não revela como contata esses brasileiros que se viram para sobreviver. Vai ver perguntam para os porteiros: "Sabe quem conserta geladeira?". Os pesquisadores também não contam como identificam e entrevistam os "desalentados" de que tanto falam os jornalistas de mercado. Qual a pergunta dos pesquisadores? "Você tá desanimado amigo, desistiu de procurar emprego...?".

* Que fase ! - Por falar em desalento, em entrevista à TPM a apresentadora Sabrina Sato abre o jogo do 0 x 0. "Quem faz sexo depois de ser mãe? Não dá vontade nem de bater uma punheta para o marido. É difícil, a vontade não vem. Quando você vira mãe, tudo muda. Atualmente, eu amo o Duda como se fosse meu irmão". O marido, o ator Duda Nagle, não comentou a abstinência.

* Sexit - A atual campanha eleitoral britânica ganhou um tema que vem ofuscando o Brexit. Os jornais agora se ocupam do escândalo sexual que envolve o príncipe Andrew. O filho de Elizabeth é acusado de participar das festinhas promovidas pelo milionário Jeffrey Epstein, que cometeu suicídio quando estava preso e aguardando julgamento por tráfico sexual de menores e pedofilia. morto em agosto. Andrew teria dado uma de lobo e capturado uma adolescente. sua defesa foi considerada débil. Em entrevista ao programa Newsnight, da BBC, o príncipe respondeu à acusação de Virginie Giufre, que era a menor na tal badalação, com um vago "não me lembro de ter conhecido essa senhora, nenhuma lembrança". Isso apesar dos, segundo a acusadora,três encontros que teve com a então ninfeta, em Londrfe, Nova York e em uma ilha do Caribe.

* Censura - Depois da exibição de "Marighella", em Lisboa, no último domingo, Wagner Moura falou à Folha de São Paulo sobre o veto à estréia, no Brasil, disfarçado de entrave burocrático. “Não estava preparado para o filme não estrear no Brasil, quando nós já tínhamos uma data de estreia, tudo combinado (…) A censura no Brasil hoje é um fato”. 

domingo, 17 de novembro de 2019

Gol 1000, 50 anos: Pelé segundo Fernando Sabino para a Manchete

Fernando Sabino e Pelé, em Santos, dois dias depois do Gol 1000. Reprodução Manchete

Neste 19 de novembro, próxima terça-feira, completam-se 50 anos do gol 1000 de Pelé. No Maracanã, diante de um público de 70 mil pessoas, o goleiro Andrada, do Vasco, não segurou o pênalti batido pelo maior jogador da história do futebol.

Dois dias depois do gol, Manchete escalou para entrevistar Pelé ninguém menos do que Fernando Sabino. A revista juntou dois craques. O escritor registrou: "Quando Manchete me pediu que fosse a Santos para uma matéria sobre Pelé, pensei comigo: 'ôba, vou dar uma de Norman Mailer e esgotar o assunto'. Mas nem eu sou o Norman Mailer, nem Pelé é assunto que se esgote ainda mais em poucas horas. Na verdade, o trabalho me foi encomendado em termos de tamanha urgência que me fez lembrar aquela do entrevistador de televisão para o poeta Murilo Mendes: 'Que que o senhor pensa a respeito da crise do mundo moderno e dos problemas que afligem a humanidade em nossos dias?' Tem um minuto para responder.

Mon Laferte: peito aberto contra a repressão no Chile

O Grammy "Latino" é uma bobagem criada por gravadoras para fazer média com o mercado hispânico dos Estados Unidos. Como extensão foi até instituída uma "categoria" exclusiva para o Brasil levantar alguns prêmios.
Além disso, o termo "América Latina" é considerado por muitos como racista. De fato, é impreciso para definir uma região com tanta diversidade. A Guatemala, por exemplo, seria "latina" apesar de mais da metade de população descender dos maias? Ou seja: o conceito não é cultural nem geográfico, é tão somente racista.
A mídia global dá pouca ou nenhuma importância ao Grammy "Latino". A mídia americana não-hispânica, idem. Mas esse ano, em Las Vegas, pelo menos um detalhe da premiação rodou o mundo e viralizou na internet: o protesto da cantora chilena Mon Laferte. Disposta a denunciar a situação atual no Chile e sabendo da relativa repercussão do evento, ela mostrou os seios contra a brutal repressão policial do governo Sebastián Piñera. "No Chile, eles torturam, estupram e matam". Aí sim, o Grammy "Latino" virou notícia no mundo inteiro. E por uma causa justa.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Patrícia Poeta nos trend topics do Twitter. E não é para receber elogios...


Marighella: o filme sem tela pode virar série na TV

por José Esmeraldo Gonçalves 

Para Carlos Marighella, a luta continua.

Executado há 50 anos, o líder revolucionário, fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN), enfrenta, in memoriam, uma batalha para chegar às telas de cinema do Brasil.

"Marighella", de Wagner Moura, exibido no exterior e premiado em vários festivais, deveria estrear no dia 20 de novembro, a próxima quarta-feira, Dia da Consciência Negra. Em nota recente, a produtora O2 Filmes informou que o lançamento do filme, que tem no elenco, entre outros, Seu Jorge, Adriana Esteves e Humberto Carrão, foi cancelado porque a produção não conseguiu “cumprir os trâmites” exigidos pela Agência Nacional de Cinema.

E, aparentemente, não se fala mais nisso.

Assim como os golpes de Estado, a censura no Brasil agora atua travestida de inúmeros pretextos. Basta ler notas semelhantes das mais diversas instituições a propósito de apreensão de livros, de vetos a exposições, a palestras em universidades, de barreiras políticas, morais ou religiosas no acesso a financiamentos públicos e até agressões, intimidações e invasões de espaços culturais por milícias neofascistas.

A justificativa para o cancelamento da estréia de "Marighella" parece apenas uma versão construída para disfarçar o que já era esperado no atual ambiente político do Brasil. Aliás, "versão" é um recurso de dissimulação e fake news que tanto os órgãos de segurança da ditadura quanto o baronato da grande mídia, na época, usou para desconstruir os fatos na vida do guerrilheiro.

Em 2012, o fotógrafo da Manchete, Sérgio Jorge, denunciou na Istoé, a farsa montada pelo delegado Sérgio Fleury, que era uma espécie de capo executor oficial da ditadura, ao criar a versão oficial para a morte de Marighella, em São Paulo, no dia 4 de novembro de 1969.  "Eu vi os policiais colocando o corpo no banco de trás do carro", revelou o fotógrafo sobre a montagem da cena de confronto.  Segundo dois frades dominicanos que iriam encontrar o guerrilheiro, este foi executado no meio da rua, a queima-roupa. Não houver confronto. Marighella estava desarmado e foi fuzilado ao se encaminhar para o Fusca onde os policiais haviam colocado os dominicanos e onde seu corpo foi depositado em seguida. Os frades foram protagonistas involuntários da segunda farsa montada pela ditadura e divulgada pela mídia: a versão da "traição", segundo a qual os religiosos foram os responsáveis por dedurar Marighella.

A jornalista e escritora Leneide Duarte-Plon publicou semana passada na Carta Maior o artigo "50 anos da execução de Marighella e a farsa da "traição" dos dominicanos", que desmonta mais essa fake news da ditadura em parceria com os jornais. Conta a jornalista: "Logo depois da execução de Marighella, cujo corpo foi colocado dentro do carro depois de morto para compor a narrativa das fotos que a imprensa receberia, os órgãos de segurança da ditadura começaram uma sórdida campanha, bombardeando a mídia com fake news, atribuindo aos dominicanos uma suposta 'traição'. Eles teriam traído o antigo aliado, dando informações que permitiram a morte de Marighella. O que hoje chamamos de fake news sempre existiu. Os regimes totalitários desde sempre utilizaram a mentira para justificar invasões de territórios, prisões de dissidentes políticos ou mesmo para convencer a população que uma reforma traz benefícios quando, na verdade, representa perda de direitos. No Brasil de hoje, a mentira (fake news) é o combustível de toda ação governamental. Na época da ditadura não era diferente. No nosso livro "Um homem torturado, nos passos de frei Tito de Alencar", lançado em 2014, Clarisse Meireles e eu reconstituímos o episódio da prisão dos dominicanos e da mentira de Estado, que se impôs através dos órgãos de imprensa da época".

Testemunhos como o de Sérgio Jorge, livros como o de Leneide e Clarisse, além da obra de Mário Magalhães,  "Marighella, o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo", em que se baseou o filme,  recolocam os fatos diante da história.  O brasileiro tornou-se uma referência revolucionária em todo o mundo. Seu livro "Manual da Guerrilha Urbana" virou um tutorial famoso para muitos focos de luta popular. Que o diga Sebastião Salgado, que também trabalhou para a Manchete. Em matéria publicada na revista MIT, quando entrevistou Salgado, o jornalista Roberto Muggiati conta  como Marighella indiretamente salvou a vida do fotógrafo. Leia o recorte abaixo.


Enquanto "Marighella" permanece sem data de lançamento nos cinemas, a Rede Globo anuncia sua transformação em uma série de quatro episódios a ser exibida no ano que vem.

Caso "entraves" burocráticos não atropelem o projeto. 

PARA LER A REPORTAGEM COM SÉRGIO JORGE NA ISTOÉ, CLIQUE AQUI

PARA LER O ARTIGO DE LENEIDE DUARTE-PLON NA CARTA MAIOR, 
CLIQUE AQUI

terça-feira, 12 de novembro de 2019

O Pasquim, 50 anos. Agora com um clique você viaja no tempo. A coleção do semanário que desafiou a ditadura foi digitalizada pela Biblioteca Nacional

O Pasquim número 1, junho de 1969. 

Uma edição que faz um link entre a ditadura e o Brasil de hoje: jornalistas ameaçados pelo governo
e pelas milícias digitais. 

Ao completar 50 anos (foi lançado em junho de 1969), O Pasquim ganha um ponte digital para as novas gerações e para o futuro. A Biblioteca Nacional acaba de digitalizar as 1072 edições do histórico semanário. Textos, fotos e charges poderão ser acessado na plataforma da Seção de Periódicos da BN.

A nova plataforma será lançada no dia 19 de novembro durante a abertura da exposição "O Pasquim 50 Anos", no Sesc Ipiranga, em São Paulo.

O Pasquim digitalizado chega, coincidentemente, em uma época difícil para a liberdade de expressão. Jornalistas são perseguidos e alguns veículos "chapa-branca" demitem, a pedido do governo da direita radical, profissionais que criticam a republiqueta bolsonarista.

A nova censura afeta a cultura, com registro de exposições, filmes e peças vetados por instituições oficiais.

O Pasquim volta, pelo menos em forma de memória jornalística,  mais atual do que nunca.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

América do Sul sob alta tensão

Bolívia



Lula no New York Tines

Uma semana em que a América do Sul foi destaque na mídia mundial.

Ao libertar Lula, em respeito à Constituição, o STF lançou o nome do ex-presidente nos TTs globais e na imprensa. O STF agiu dentro da lei e a reação da direita radical já se faz sentir com as pressões para encaminhamento ao Congresso de um emenda que restabeleça a prisão antes do fim dos processos.

Chile

As manifestações no Chile estão há dias nas primeiras páginas. Os fatos têm relação com a persistente presença da direita elitista no continente. Os processos de Lula, que gravações mostraram ser plenos de irregularidades, além da ausência de provas, estão no contexto do golpe que derrubou Dilma Rousseff e impediu a candidatura do ex-presidente.

O Chile sofre as consequências de uma brutal política econômica formulada pela ditadura de Pinochet. O povo nas ruas exige vigorosamente um nova Constituição, sem as marcas da sangrenta ditadura.

Agora, um golpe abala a Bolívia e derruba Evo Morales, o presidente que implantou no país uma bem sucedida política econômica e social que permitiu a ascensão dos mais pobres, o que a elite em geral abomina.

A Argentina, que acaba de destronar o neoliberalismo predatório dos direitos sociais, que se cuide.

domingo, 10 de novembro de 2019

Chile hoje, Brasil amanhã: a crise do neoliberalismo galopante...

Imagem/Reprodução
O Globo 10 -11 - 2019
Foi sem querer querendo? O Globo de hoje fez uma matéria sobre os protestos no Chile e acabou abordando indiretamente o Brasil de hoje e do futuro próximo.
O jornal ouviu pessoas comuns. "Minha mãe paga meu tratamento com dívidas", disse uma. "O custo da faculdade expulsou minha filha" queixou-se outra. "Ou temos comida poupamos para a velhice", protestou uma chilena que teme que o pai não consiga se aposentar. "Os novos políticos encheram os bolsos", denunciou um idoso.
Já ouviu isso em algum lugar?
São falas perfeitamente reproduzíveis no Brasil onde o drama é até pior. Em comum, os dois países têm a política econômica enquadrada no neoliberalismo selvagem e um nome: Paulo Guedes.
O atual ministro bolsonariano foi assalariado da ditadura chilena e a convite do governo Pinochet deu aulas em universidade chilena nos anos 1980 como parte da política de impor ao país o liberalismo galopante às custas da pobreza e das políticas sociais. Deu nisso.

Muro de Berlim, 30 anos da queda: Manchete estava lá

Gil Pinheiro e Ney Bianchi. Berlim, 1989. Reprodução


Na noite de 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim começou a cair. Manchete logo enviou a dupla Ney Bianchi e Gil Pinheiro para testemunhar a queda da barreira que separava as Alemanhas Ocidental e Oriental.

Junto aos escombros, os repórteres registraram o day after, a euforia dos berlineses e a semente da reunificação que começava a germinar e que, finalmente, aconteceu
 em 1990.

O texto brilhante de Ney Bianchi tangenciava a política e retratava a nova rotina e a redescoberta da cidade.

De volta ao Brasil, Ney e Gil colocaram na mesa de edição da Manchete, texto, fotos e alguns souvenirs especialíssimos: pedaços do concreto do muro que os soviéticos construíram em 1961. Os pedregulhos foram atração na redação. Todos tocaram as pedras e sopesaram a história.
Ney contou que ao longo do muro, a cada 100 metros, havia camelôs vendendo o próprio. "Pedras de todos os tamanhos arrancadas a golpes de picaretas nas fronteiras da Porta de Brandenburgo, do Checkpoint Charlie, da Invalidestrasse, da Postdamer Platz - onde quer que os guardas fingissem não ver os garimpeiros da muralha - eram negociadas", escreveu. Não havia preço de mercado. O cálculo era de acordo com a cara do freguês. Para americanos era mais caro: 45 dólares o quilo. Esse era o pedaço maior, o calhau. A lasca era vendida a 20 e a pedrinha a 2 dólares.

E, naquela noite, a saideira no bar do Novo Mundo foi com as pedras do Muro de Berlim pousadas na mesa.

Brindamos à história on the rocks.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Em Portugal, vinho vira pó...



Segundo a OCDE, os portugueses estão bebendo menos. A pesquisa não esclarece se incluiu os brasileiros residentes ou clandestinos na terrinha. Outras fontes informam que aumentou o consumo de antidepressivos em Portugal assim como cresceu a apreensão de cocaína.
Se uma coisa tem a ver com a outra, só perguntando à OCDE.

Para as milícias digitais, Augusto Nunes é o "Chuck Norris" nacional

A cena lamentável que bombou na internet, ontem, foi o tapa que o bolsonarista Augusto Nunes deu no jornalista Glenn Greenwald, do Intercept.

Em setembro, Nunes agrediu Greenwald via twitter ao insinuar que o americano e o seu marido, o deputado federal David Miranda, seriam negligentes nos cuidados das crianças que adotaram, já que um ficava em Brasília e o outro "trabalhava como receptador de mensagens roubadas".

Nunes, na nota, apelava até para as autoridades: "o Juizado de Menores devia investigar".

Dessa vez, partiu para a porrada. Convidado para participar do programa 'Pânico" da Jovem Pan, emissora assumidamente da direita fundamentalista, Greenwald relembrou o episódio e chamou Nunes de covarde por usar as crianças para atacá-lo. Foi quando Nunes surtou e deu um tapa no jornalista. A turma do deixa disso entrou em ação e mesmo quase imobilizado, Greenwald ainda tentou dar um soco no agressor, mas não acertou. O âncora do programa, Emílio Surita, fez piada machista sobre a briga - "Nem mulher briga tão feio que nem você”, disse.

A baixaria repercutiu nas redes sociais. 

A tropa de choque bolsonarista e seus robôs vibraram com a atitude do "herói" Augusto Nunes, mas agressão foi vigorosamente condenada por instituições e muitos internautas.

A atitude de Augusto Nunes, o novo Chuck Norris da direita, foi vista com um estímulo a mais às já frequentes agressões a jornalistas e aos meios de comunicação 

"Testamento" da falecida Playboy (Abril) é dívida...

A Editora Abril foi vendida, mas deixou um 'pendura". O STJ acaba de dar ganho de causa a Camila Pitanga em processo contra Playboy.  Não cabe mais recurso. Em 2012, a revista, então editada pela Abril, publicou fotos da atriz nua em cenas do filme do filme "Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios". Foram três imagens publicadas sem autorização, apesar de Camila Pitanga ter sempre se recusado a posar nua para a revista. Não foi divulgado quanto a atriz receberá de indenização. Sabe-se apenas que no começo do processo o valor requerido era de R$ 330 mil.

sábado, 2 de novembro de 2019

É rock! O que o navio Bouboulina tem a ver com Bop-A-Lena?

por Ed Sá 

O navio grego Bouboulina é apontado pelas autoridades brasileiras como o suposto responsável pela derramamento de petróleo nas praias do Nordeste. É impossível não associar o sonoro nome do superpetroleiro ao rock, a Jorge Ben Jor e a Raul Seixas.

A referência ao rock vem da associação com o rockabilly  Bop-A-Lena, o histórico hit de Ronnie Self que incendiou o verão de 1957.  Já a pronúncia abrasileirada que Ben Jor dava ao refrão da música - "Babulina" - liga o brasileiro ao Bouboulina.

Segundo a Wikipedia, Laskarina Bouboulina foi uma comandante naval e heroína da Guerra da Independência Grega em 1821. Capitã, foi postumamente nomeada para contra-almirante. Acredita-se que tenha sido a primeira mulher almirante da Marinha Imperial Russa.

Raul Seixas cantou Bop-A-Lena em 1973. Ouça AQUI

E ouça Bop-A Lena na voz do seu criador Ronnie Self, AQUI

ATUALIZAÇÃO em 05/11/2019 - O jornalista e cinéfilo Roberto Muggiati (ver comentários) acrescenta mais uma importante referência boubouliniana.
A do filme Zorba, o Grego, de 1964. Bouboulina é o apelido carinhoso que Antony Quinn (Zorba) dá à Madame Hortense (Lila Kudrova).  A atriz, aliás, ganhou o Oscar de Melhor Coadjuvante pela criação do personagem, uma ex-cortesã francesa que teve na sua cama as "Quatro Potências", os almirantes-chefes das armadas russa, inglesa, francesa e italiana no Mediterrâneo.
Mais Bouboulina: em agosto último, antes do nome do navio surgir no noticiário, foi inaugurado em São Paulo o bar-restaurante Laskarina Bouboulina. Pura premonição. Fica na Barra Funda. No cardápio, pratos que rementem à mesa da Bouboulina: mezzes de cafta crua, homus de feijão-fradinho, grão-de-bico assado, coalhada, pizza em formato de barca, escabeche de sardinha etc.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Halloween - Sabia disso? Bruxos atendiam clientes em agência bancária... Foi ontem, em Botafogo

por O. V. Pochê

O bordão "Halloween é o cacete" é da coluna do Ancelmo Góis, no Globo, a propósito do excesso de estrangeirismos de linguagem. Mas além do idioma, a invasão 'alienígena' também assedia comportamentos. O halloween, comemorado ontem, começa a ganhar ares e vassouras de festa popular.

Em pelo menos uma agência bancária do Rio, caixas atendiam os clientes vestidos de bruxas e bruxos. Aposentados que foram receber os caraminguás do fim de mês podiam pensar que já haviam sido teletransportados dessa para, espera-se, uma melhor. Para os jovens, o programa foram as centenas de festas particulares ou pagas que assombraram noites e madrugadas

Pensando bem, o Brasil já vive um ano de terror - às vezes tão ridículo que beira o terrir - liderado por duendes políticos ensandecidos.

Halloween, como se sabe, era inicialmente um festival celta que marcava o fim do verão, não tinha relação com bruxas. Essa ligação foi feita pelos católicos, a partir do Século II, para afastar os cristãos das celebrações pagãs e marcá-las como "coisa do diabo". Com o tempo, o Haloween ganhou conotação de "festa dos mortos". Foi levado pelos colonos para os Estados Unidos e, retrofitado, virou diversão.

O que não se esperava é que viesse parar em um caixa bancário de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Bom, faz sentido: com as taxas de juros que os bancos cobram dos seus clientes, ser atendido por bruxos não é fantasia: é puro terror. Trick or treat?

Mídia - Folha revela como foi feita a perícia mais rápida do Sudeste...

Depois de publicar matéria exclusiva sobre os "mistérios" do polêmico condomínio "presidencial", na Barra da Tujuca, no Rio de Janeiro, o Globo não parece demonstrar apetite para ir além dos documentos vazados. Após a reação de Bolsonaro e a velocidade inusitada com que instituições tentaram desmentir o que o JN revelou, a atitude jornalística seria pisar fundo na apuração para encontrar falhas na operação-desmonte da reportagem que surtou Bolsonaro e o levou fazer um live descontrolada e transoceânica.  O Grupo Globo limitou-se a rebater às agressões que sofreu com nota oficial quando deveria reagir com mais jornalismo. Foi o que a Folha fez ao apontar falhas na perícia do material gravado na portaria do tal condomínio feita em questão de minutos em cópia do sistema e sem acesso ao computado em questão, o equipamento que registra diálogos no interfone do tal condomínio. The Intercept também foi buscar uma revelação que mostra militância política por parte de uma promotora bolsonarista que investiga precisamente o... assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, ponto central do imbloglio que envolve os suspeitos endereços da Barra da Tijuca. Tudo indica que há muita história para contar em torno dessa pauta.