sexta-feira, 26 de julho de 2024

A primeira grande foto de Paris 2024 mostra uma brasileira guerreira






Observem que a capa do Estadão captou a plasticidade e o dado jornalístico da foto. O Globo dançou. Partiu para uma técnica da primeira metade do século passado: recortou a melhor foto que o jornal teria para aquele dia. A goleira do time brasileiro de handebol, Gabi Moreschi, defende uma bola na ponta do pé. Ângulos perfeitos, enquadramento ágil. O fotógrafo da AFP, Antonin Thuillier, autor da imagem, não viu o "crime" do Globo ou se suicidaria no Sena e deixaria uma mensagem indignada para o editor da primeira página.


Rosa Magalhães (1947-2024), a marquesa da Sapucaí - Em dois momentos, a mesma paixão

A comemoração do primeiro título em 1982,
em parceria com Lícia Lacerda . Foto Manchete

Em 2000, com a faixa de campeã pela Imperatriz. Foto: Manchete

* Na imagem em p&b (*), Rosa Magalhães comemora na quadra da Imperatriz seu primeiro título no carnaval. Ao seu lado, Lícia Lacerda, parceira no desenvolvimento do enredo da escola. Naquele ano, a Imperatriz venceu com o histórico Bum Bum Praticumbum Progurundum, de Beto Sem Braço e Aluísio Machado. Rosa costumava dizer que carnaval era uma cachaça. "Mas daquela bem boa, lá de Paraty", completava, Ela ajudou a Imperatriz a conquistar cinco dos oito titulos da escola carioca de Ramos. 

* Na segunda foto (**), o orgulho ao posar com a faixa de campeã, em 2000, também pela Imperatriz. 

Seu último título aconteceu em 2013, quando levou a Vila Isabel a brilhar na avenida. No carnaval de 2023, sua derradeira participação. assinou o desfile da Paraíso de Tuiuti. Rosa Magalhães sofreu um infarto, hoje, aos 77 anos, no seu apartamento em Copacabana. 

A marquesa da Sapucaí deixa um legado nobre para as escolas: o respeito à cultura popular e o talento para contar a História. Assim, com H maiúsculo. 

(*) (**) -  Infelizmente não foi possível registrar a autoria das fotos, que a Manchete costuvava creditar à equipe escalada para a cobertura geral do carnaval.  

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Memórias Pré-Manchete • O SENA É UMA FESTA: A temporada que vivi às margens nada plácidas do rio parisiense • Por Roberto Muggiati

           

Foto de Cartier-Bresson na capa do LP de Bill Evans  [Reprodução]

A escolha original e ousada de abrir as Olimpíadas fora de um estádio, em barcaças sobre as águas do Sena, me trouxe de volta as memórias do ano vibrante que vivi nas proximidades do célebre rio. Cheguei a Paris uma semana depois de completar vinte e três anos. Contraparodiando a frase célebre de Paul Nizan, “não deixarei ninguém dizer que não é a idade mais bela da vida”. Desembarquei às oito horas da manhã da sexta-feira 14 de outubro de 1960 na Gare d’Austerlitz depois de vinte horas no trem de Madri. Com minhas duas malas de Curitiba sentei-me no café de calçada da estação, debruçada sobre as águas do Sena. Devorei um croissant com uma tigela de café-com-leite folheando Le Figaro. Naquela tarde haveria um concerto com o trio do pianista Bud Powell e o quarteto do saxofonista Lucky Thompson em memória do contrabaixista Oscar Pettiford, morto recentemente. Peguei um táxi para a Casa do Brasil, na Cité Universitaire. Joguei as malas sobre a cama e me mandei para o Théâtre des Champs Élysées. Não quis arriscar o metrô, um táxi era mais seguro – comecei a desfolhar precocemente o talão de travelers cheques, mas valia a pena. O teatro, que em 1913 fora o palco da tumultuada estreia do modernismo (A Sagração da Primavera pelos Ballets Russes de Nijinsky e Diaghilev), estava metade cheio, ou metade vazio, o que garantia o silêncio necessário para fruir as delicadas filigranas do piano de Bud Powell, que eu veria outras vezes em sua “residência” no Blue Note.

Lembro bem as águas do Sena quando – estudando jornalismo com uma bolsa do governo francês – tive a sorte rara de morar no pequeno City Hôtel, na Île de la Cité, ou seja, no centro da foto perfeita de Henri Cartier-Bresson, o mestre do clic zen, daqueles flagrantes roubados em pleno movimento, numa pirueta visual de que só sua cabeça, seu olho e seus dedos eram capazes. Em 1951, excepcionalmente, ele fez uma foto em que o ser humano era completamente anulado pela paisagem: uma vista da Île de la Cité, tomada do Pont des Arts, uma passarela para pedestres, de notoriedade recente –ficou ameaçada de cair por causa do peso dos cadeados de namorados atrelados em suas muretas. A foto é uma obra-prima da composição, céu e rio cortados horizontalmente pelo Pont Neuf e, no centro exato, a ponta da ilha se projeta como a proa de um navio. A riqueza de tonalidades cinzentas é fabulosa. Cartier-Bresson fez cópias da imagem como se fossem tiragens de uma gravura, emoldurando-as com um fio e assinando cada uma. Segundo ele, as cópias foram feitas em “couleur de Loire”, um tom que foi rebatizado “cinza Cartier-Bresson”. Concentrando-se na paisagem e omitindo daquele universo seus costumeiros personagens vivos e saltitantes, Bresson reduz o ser humano a pequenos pontos negros perdidos naquela massa geométrica cinzenta, um comentário sutil sobre a total inutilidade do indivíduo. A foto ilustrou a capa de um álbum do pianista Bill Evans gravado em Paris, a capital mundial afetiva do jazz.

Amarrando o sapato debaixo do chorão na ponta da ilha,
o Pont Neuf ao fundo [Arquivo pessoal]

Lembro as águas do Sena quando atravessava toda noite o Pont Neuf para me refugiar no aconchego do hotelzinho na Place Dauphine, de formato triangular, que um jornalista irreverente chamou de “a Vagina de Paris”. Na Place de La Concorde, “o Umbigo de Paris”, os aristocratas eram guilhotinados pela Revolução Francesa. E o romancista Émile Zola batizou “o Ventre de Paris” o mercado de Les Halles. De fevereiro a julho de 1961 eu deixava toda noite o 29 place Dauphine e caminhava até o 29 rue du Louvre – onde ficava o Centre de Formation des Journalistes – atravessando a imensidão dos Halles, com seus pavilhões de ferro abarrotados de frutas, legumes, hortaliças, carnes e peixes, orgia visual de uma cornucópia gargantuesca. Uma noite passava pela alameda das carcaças de bois sanguinolentas que pendiam de ganchos; outra, flanava pelos jardins de alfaces de todas as formas e cores; na seguinte me esgueirava pelos quiosques acres e úmidos de frutos do mar, peixes de todas as texturas, buquês de polvos com suas ventosas, ostras, mexilhões e vieiras aninhados em suas conchas. E ali se servia também nas madrugadas a melhor sopa de cebola do mundo, a do Pied de Cochon.


Trecho do romance Nadja que fala do City Hôtel e foto da praça [Reprodução]

O hotel ficava no gargalo da praça, que desembocava no Pont Neuf, na ponta da ilha, onde as águas do rio se bifurcavam. Só anos depois, ao ler Nadja, o romance revolucionário de 1928 do surrealista André Breton – que entremeia páginas de texto com páginas de fotos – fiquei sabendo da ligação de Breton com o City Hôtel:

“Esta Place Dauphine é um dos lugares mais profundamente retirados que conheço, um dos piores terrenos baldios que existem em Paris. Toda vez que estive lá, senti abandonar-me pouco a pouco o desejo de ir para outro lugar, precisei argumentar comigo mesmo para me livrar de certas amarras muito doces, agradáveis, insistentes e, no fundo, destruidoras. Além do mais, morei algum tempo num hotel nesta praça, “City Hôtel”, onde as idas e vindas a toda hora, para quem não se satisfaz com soluções simplistas, são suspeitas.”

Mon cher André, ficar sabendo que, 33 anos depois, morei no quartinho da mansarda do City Hôtel, com vista para o Louvre, dormindo as poucas horas que dormia no mesmo colchão em que você dormiu, me traz uma sensação muito forte de pertencer, de uma forma física, ao que de melhor a cultura do século 20 ofereceu. Só me resta arrematar com a frase final e definitiva de Nadja:

La beauté sera CONVULSIVE ou ne sera pas. (A beleza será CONVULSIVA ou não será nada.)

Lembro as águas do Sena – antes sequer de sonhar em morar na ilha – em minha primeira incursão, com amigos da Cité Universitaire, numa noite fria de janeiro na calçada que margeia o rio – Gene Kelly dançou ali com Leslie Caron em Sinfonia de Paris – e de repente uma cena bizarra nos arranca do nosso enlevo: uma mulher com vestido da belle époque se atira no rio do alto da ponte ao lado da catedral de Notre Dame. Só um ano depois, num cinema de São Paulo, fiquei sabendo que era uma dublê de Jeanne Moreau na filmagem de Jules e Jim.


Com Helena Costa nos buquinistas do Sena [Arquivo pessoal]

Lembro do Sena nos primeiros dias de fevereiro, morando já no City Hôtel, flanando pelos cais e vasculhando os buquinistas com Helena Costa, minha colega da Maison du Brésil, “máquina de morar” projetada por seu pai, Lúcio Costa, em parceria com Le Corbusier – Helena elegante e severa com sua capa de grife cinzenta. Parecia que o Brasil tinha se mudado para Paris, eu via sempre as meninas Kubitschek, Márcia e Maria Estela, nos concertos de jazz do Olympia. O país já desgovernado a partir de Brasília, depois do tresloucado gesto de Jânio, marcharia inexoravelmente para o desastre.

No início de fevereiro, de temperaturas historicamente amenas, parisienses acorriam para nadar nas águas do rio.

Lembro do Sena no início da primavera lambendo os galhos dos salgueiros chorões no Square du Vert-Galant, onde eu sentava num banco de madeira para ler os novos lançamentos dos autores beat da City Lights Bookshop de San Francisco, comprados ali perto, também às margens do Sena, diante da majestosa rosácea da Notre Dame, na livraria Le Mistral , hoje Shakespeare and Company . (É no Vert Galant que se passa o conto de Júlio Cortázar Las babas del diablo, inspiração do filme Blow-Up, que Antonioni ambientou na Swinging London. Bolsista em Paris em 1951, Cortázar rompeu com a ditadura argentina e ficou na França até morrer, em 1984.)

Lembro as águas do Sena, os beats estavam em Paris, num hotel decrépito na viela medieval Gît-le-Coeur, a poucos passos do rio. A viúva Rachou não tinha sequer um nome para sua espelunca, que virou Beat Hotel, sugestão do poeta Gregory Corso. William Burroughs ficava no quarto, afagando o gato e se drogando. Allen Ginsberg morava com o companheiro Peter Orlovsky, eu o abordei um dia – todo de preto, a gola da camiseta branca sobressalente lhe dava um ar de clérigo – esquivou-se e sumiu correndo.

Bombom Campos Malle no seu apartamento em Paris, anos 70 [Arquivo pessoal]

Lembro as águas do Sena naquele abril, eu tinha ouvido Thelonious Monk no Olympia com Bombom, Maria de Lourdes Campos. Lenda viva da côterie brasileira em Paris, Bombom é retratada por Danuza Leão na sua autobiografia Quase tudo: “Muito inteligente, Bombom entendeu logo que, sendo brasileira e baiana, para ser chique em Paris devia se vestir como uma inglesa e assim fez, até o fim da vida. E tinha os seios lindos, tão lindos que volta e meia, num restaurante, numa loja ou numa boate, sempre tinha alguém que dizia: ‘Bombom, mostra os peitos’. Com a maior tranquilidade ela levantava o suéter, mostrava, e a conversa continuava como se nada tivesse havido. Nesse período ela já namorava Bernard Malle, irmão de Louis. O namoro não ia nem para a frente nem para trás e uma noite eles brigaram feio. Bombom pegou todos os livros de Bernard – que era colecionador de livros antigos – jogou na rua e fez uma fogueira (e dizem que dançou nua em volta dela, em pleno inverno). No dia seguinte marcaram a data do casamento e ficaram juntos por mais de trinta anos.” 

A verdade do affaire Bombom-Bernard eu conheci bem mais de perto, na carne: Bombom decidiu ter um caso comigo só para enciumar o amante. Podres de rico, os Malle eram fornecedores de açúcar de beterraba do Imperador desde os tempos de Napoleão. Bombom deu o cheque-mate numa noitada comigo no New Jimmy’s, a discoteca da Régine. Bebemos o melhor champanhe e Bombom pendurou a despesa na conta de Bernard. Nunca mexa com o bolso de um francês. O plano de Bombom deu certo e ela já estava de casamento marcado com Bernard naquela tarde em que ouvimos de mãos dadas Monk tocar ao piano April in Paris, um solo genial de um minuto e quinze segundos, cada nota e cada silêncio perfeitos, a gravação sempre me reconduz àquele momento mágico. Bombom me abandonou como um traste velho sem deixar um traço, nem mesmo um pentimento do seu Chanel N° 5, e partiu para a Índia, onde o irmão trabalhava na embaixada do Brasil. Viciado naquela doce vida de sexo, vinho e jazz, vi meu mundo desabar. Bebi o dia inteiro e naquela noite caminhei até o Sena no local onde existia a Torre de Nesle, do alto da qual as devassas princesas de Borgonha – as irmãs Blanche, Marguerite e Jeanne de Navarra – mandavam jogar seus jovens amantes depois de uma noite de orgia. Desci os degraus até o rio e fiquei a mirar o reflexo do meu rosto nas águas poluídas. Fui arrancado do meu torpor pelo som de um saxofone acariciando a mais bela melodia do jazz, Round Midnight. Era Barney Wilen, meu vizinho, com as janelas abertas na noite abafada. Hipnotizado pela canção, dei meia-volta, marchei rumo ao boulevard Saint-Germain e fui repensar a vida. Sentei-me num restaurante de calçada diante de uma travessa de ostras frescas e uma taça de vinho branco gelado. O francês é sábio: não há chagrin d’amour que resista ao instinto do bon goûter e da joie de vivre. Meu projeto de suicídio foi adiado sine die com relativo sucesso. 

Lembro as águas do Sena na noite de 24 de abril, os generais de direita da Argélia articulavam um putsch para invadir Paris e tomar o poder. Voltando do lançamento do livro American Express, de Gregory Corso, encontrei todas as pontes que levavam à Île de la Cité bloqueadas por fileiras de ônibus, sucata dos anos pré-guerra, e centenas de gendarmes – com suas casquettes e pélerines antiquadas – fazendo a triagem de cada passante: “Vos papiers, s’il vous plaît?” Felizmente, naqueles tempos conturbados, eu andava sempre com o passaporte e a Carte de Séjour de bolsista, e pude dormir o sono dos justos no meu quartinho do City Hôtel.

Na noite de autógrafos do Gregory Corso conheci uma francesa de vinte anos, Jacqueline. No dia 1º de maio, passeávamos de mãos dadas pelos Champs Elysées, o feriado era conhecido também como o dia do Muguet de Mai. Era costume a namorada colocar na lapela do seu jules um buquezinho de muguet (lírio-do-vale). Jaqueline comprou um num dos quiosques que se alinhavam pela avenida e espetou na lapela da jaqueta de camurça do meu figurino existencialista. Com feromônios e testosterona a mil, seguimos em direção do palacete do embaixador Paulo Carneiro, que tinha as portas literalmente sempre abertas. Logo Jacqueline e eu nos pusemos à vontade e deitamos e rolamos nos sofás do salão rococó. 

A mulher de Paulo não quis morar em Paris quando ele foi nomeado embaixador do Brasil junto à Unesco. Vivendo assim em confortável solteirice, Paulo sabia muito bem os usos galantes que sua entourage fazia de sua casa, por isso – um perfeito gentleman – costumava chegar sempre assobiando alto para alertar os eventuais transgressores. Jacqueline e eu nos recompusemos a tempo e saudamos o dono da casa, que apenas sorriu de leve. 

Maria Lúcia Dahl [Arquivo pessoal]

Marília Carneiro [Arquivo pessoal]

Na Páscoa, os saraus du côté de chez Carneiro foram abrilhantados pela chegada das irmãs Pinto, Maria Lúcia (depois Dahl) e Marília (depois Carneiro), 20 e 23 anos. Maria Lúcia era a garota mais bonita do Rio de Janeiro e me apaixonei de cara por ela. Tinha um concorrente sério, o cineasta Joaquim Pedro de Andrade. Um trunfo a meu favor era convidar Maria Lúcia para concertos de jazz, graças a meu mágico talão de travelers. Depois de um show de Cannonbal Adderley no Olympia, Maria Lúcia e eu nos juntamos a uma turma dos saraus do embaixador no Harry’s New York Paris Bar, entre elas a Neusa Azambuja, que trabalhava na Unesco. Depois de muitas doses, tramamos uma travessura de repercussão internacional: sequestrar o monumento mais famoso de Bruxelas, o Manneken Piss, aquele anjinho que urina numa fonte. Entre umas e outras, discutíamos a estratégia da operação e as ferramentas necessárias. Neusa Azambuja tinha um carro, de Paris a Bruxelas eram três horas de estrada. Já raiava o dia quando o grupo se desfez depois que Neusa disse: “Mas eu não falei que meu carro estava na oficina?”

Caminhamos de mãos dadas às primeiras luzes daquele dia de primavera pelo Jardin des Tuileries, Joaquim Pedro e Maria Lúcia, eu e Marília, que casaria em breve com o filho do embaixador, Mário Carneiro, mas se sentia desculpada pelo noivo no outro hemisfério. 

Os três amigos no boulevard Saint-Germain: Olli Heikkinen,
Peter Jay Solomon e Roberto Muggiati [Arquivo pessoal]

Lembro as águas do Sena quando atravessava a ponte com meus amigos do City Hôtel, o finlandês e o nova-iorquino. Olli Heikkinen era filho de um operário numa fábrica de vidros nas lonjuras do Golfo da Finlândia, perto da fronteira soviética. Foi tentar a vida em Paris, mas não deu em nada, apenas esporádicas e suadas noites como carregador nos Halles. Era sustentado por uma mulher mais velha que morava no City, me levaram uma noite para ouvir o saxofonista Jackie McLean na boate Au Chat-Qui-Pêche. Peter Jay Solomon pertencia à notória família de banqueiros de Manhattan e estagiava num banco americano em Paris. Havia ainda uma Milady agregada a estes improváveis Três Mosqueteiros, uma sueca robusta e coxuda que tinha sido dançarina do Folies Bergères, Inger Margaretha Wegge. Lembro de uma tarde no hipódromo de Longchamps, deitados na grama, minha cabeça fazendo a barriga generosa da Inger de travesseiro. E uma noite memorável no estádio do Parc des Princes vendo o Santos de Pelé arrebatar o Torneio de Paris diante de 40 mil pessoas ao vencer o Racing por 5x4.

Foto com o jornal sobre a morte de Hemingway [Arquivo pessoal]

Lembro as águas tépidas do Sena naquele domingo de verão, 2 de julho. Sentado na amurada de pedra ao lado do Pont Neuf eu fumava uma erva tibetana com Ruth Fleming, ex-amante de Olli, que tinha voltado para a Finlândia. Na casa dos trinta, negra, professora primária em Nova York, cultora dos beats, Ruth era abusada. Não hesitou em abordar o ator Farley Granger no intervalo de uma peça e assim conversei com um de meus atores favoritos, o mocinho do Pacto Sinistro de Hitchcock. Só Ruth para descolar um baseado ungido por um lama do Tibet. Com a mente esvaziada, tudo zen, contemplávamos o sol que mergulhava em câmera lenta no rio. Só muito tempo depois nos demos conta de que estávamos imersos na mais absoluta escuridão. Compartilhamos sonhos tibetanos no hotel de Ruth, o Scandinavia, com sua temática medieval de elmos, armaduras, paredes caiadas e vigas expostas. De manhã, ao pisar na calçada, fui agredido pelas manchetes dos jornais: HEMINGWAY DEAD. Enquanto fumávamos nosso cigarro exótico às margens do Sena, na distante Ketchum, em Idaho, estourava os miolos com uma espingarda de cano duplo o escritor que mais amara e cantara a cidade de Paris. Busquei de alguma forma registrar o momento. Com um exemplar do Daily Mail improvisei uma pré-selfie na cabine automática de fotos de identidade.  As imagens mostram exatamente o que eu sentia naquela manhã da primeira segunda-feira de julho de 1961. 

Em meus seis meses de City Hôtel, por contingências monetárias, ocupei vários quartos. O melhor foi uma mansarda no quinto andar com vista para o Sena e o Museu do Louvre. Na última etapa, acabei relegado a um cubículo de 4×4 metros, sem janelas, com um piso de lajotas de argila hexagonais. (Ironicamente, a França é conhecida como Hexágono, pela forma do seu mapa.) Numa tarde de verão, dublê de cinéfilo e jazzófilo, decidi ir a um cineminha do Boul’Mich’ assistir ao filme do fotógrafo da revista Life Bert Stern, Jazz on a Summer’s Day, a mãe de todos os rockumentários sobre os festivais do final dos anos 60, como Monterey Pop, Woodstock e Altamont. Filmado durante o Festival de Jazz de Newport de 1958, entrelaçava as apresentações musicais com detalhes pitorescos da plateia e cenas do cotidiano da pacata ilha, que protagonizava nos dias do grande evento. Antes de sair do quarto, dei os últimos repasses na pia, onde lavava meias e cuecas com sabão em pó – uma operação de rotina que batizei de “a espuma dos dias” – mil perdões, Boris Vian, pelo uso tão banal do título de seu belo romance.

Apesar de sua sordidez, o City Hôtel mantinha no térreo um simpático Salon de Thé Le Rigaudon, no lugar do que deveria ser a portaria. Era cuidado por três vieilles dames, assistidas por Monsieur Marcel, seu pau-para-toda-obra, em todos os sentidos.  Acolheram-me com chacotas. Tinha acontecido o pior: eu deixara a torneira da pia aberta. O chão do meu pequeno bunker alagou e a água infiltrou para o quarto inferior, caindo nas malas de uma turista sobre um armário. O estrago só não foi pior porque a inquilina estava no quarto.

Alors, mon jeune homme, on fabrique du papier mâché dans sa chambre? – perguntou uma das garces num tom de deboche. A alusão era à pilha de jornais entulhados num canto do quartinho e que ficaram totalmente encharcados. Explico: meu pai, apesar do orgulho de ter um filho bolsista em Paris, receava que eu perdesse as “raízes” curitibanas, e me abastecia regularmente pelo correio com exemplares da Gazeta do Povo, o jornal onde eu trabalhara durante seis anos, antes de embarcar para Paris. Aqueles tentáculos bairristas me perseguiriam nos dois anos de residência na França e nos três anos seguintes em que trabalhei no Serviço Brasileiro da BBC de Londres.

Esqueci rápido meu vexame, cooptando a frase majestática de Luís 15, “Après moi le déluge!” (“Depois de mim o dilúvio!”). Eu tinha pela frente as férias de verão, o Grand Tour nórdico, Holanda, Escandinávia e Finlândia do sol-da-meia-noite (onde vivi um domingo inesquecível na ilha de Kaunisaari) e o Grand Tour mediterrâneo, o sul da França e a Itália de cabo a rabo, incluindo a Sicília. 

Grafito numa ponte do Sena: “Aqui afogamos os argelinos” [Reprodução]

Lembro das águas do Sena ensanguentadas pelo Massacre de 17 de Outubro de 1961, quando mais de 200 operários argelinos morreram afogados. Desarmados, eles marchavam da periferia para o centro de Paris em protesto contra o toque de recolher que só atingia “franceses muçulmanos da Argélia”. Os policiais surraram os manifestantes e os jogaram agonizantes nas águas gélidas do rio. Numa das pontes os assassinos rabiscaram acintosamente ICI ON NOIE LES ALGÉRIENS. Naquele dia eu estava a quase mil quilômetros de Paris, namorando uma italianinha na saída de um curso de inglês diante do túmulo de Dante Alighieri em Ravena, o poeta morreu e foi enterrado no exílio. Só fiquei sabendo da chacina dos argelinos quando voltei a Paris em novembro. O terrorismo de direita prosseguia com violência, mas não conseguiu impedir a independência da Argélia, proclamada em 5 de julho de 1962. 

Meu último momento mágico em Paris foi em 19 de novembro de 1961, um sábado, quando assisti ao quarteto de John Coltrane, acrescido do saxofonista, clarinetista e flautista Eric Dolphy, na sua primeira turnê europeia. Era a nova fase de Coltrane, experimentando a sonoridade diferente do sax soprano e improvisando por mais de meia hora sobre o tema My Favorite Things, do musical da Broadway The Sound of Music. 

Tive a sorte naquela noite de presenciar um espetáculo extramusical no intervalo dos shows. Numa épicerie ao lado do Olympia, num smoking bem cortado, Coltrane exercitava os dedos e os dentes num ovo duro. Do lado de fora, uma pequena multidão se comprimia para assistir ao espetáculo – os fãs mais açodados com o nariz colado à vitrina. Flagrar o ídolo numa atividade banal é um privilégio raro. Guardo com carinho a lembrança daquela noite, principalmente porque os dois gênios se foram cedo: Dolphy em 1964, aos 36 anos; Coltrane em 1967, aos 40.

Ao voltar, encontrei o horizonte brasileiro sobrecarregado com as nuvens do golpe militar iminente. Ainda guardava, intensas em mim, as memórias de Paris e daqueles tempos tumultuados, mas felizes, em que as águas do Sena assistiam a tudo impassíveis e soberanas. Ninguém descreveu o rio lendário melhor do que o poeta Jacques Prévert, nascido em Neuilly-sur-Seine: “La Seine n’a pas de soucis/Elle se la coule douce/Le jour comme la nuit/Et s’en va vers le Havre/Et s’en va vers la mer/En passant comme un rêve/Au milieu des mystères/Des misères de Paris". Em tradução literal: “O Sena não tem apreensões/ Ele corre docemente/De dia e de noite/E segue rumo ao Havre/E segue rumo ao mar/Passando como um sonho/Em meio aos mistérios/Às misérias de Paris.”


quarta-feira, 24 de julho de 2024

Orelha de Donald Trump vira fetiche para seu eleitores e peça de marketing da campanha.

Trump com novo
modelo de curativo.
Reprodução CNN
por José Esmeraldo Gonçalves 

Donald Trump é o candidato mais velho a concorrer a presidente dos Estados Unidos. É, também, o primeiro condenado pela justiça a tentar a Casa Branca. E poderá ser o primeiro a usar um esparadrapo na orelha durante mais tempo. Ferido de raspão por um lunático tipo um "Adélio gringo" (a polícia americana ainda não encontrou motivação política no atentado), ele tem caprichado na visibilidade do  esparadrapo sempre branco e que virou peça de marketing de campanha.  O "gado" (cattle) trumpista passou a usar curativos em solidariedade ao magnata.

Trump parece tão apegado ao esparadrapo que estreou um novo modelito de formato quadrado, como a CNN mostrou. Seu staff não anuncia uma data para a orelha subir no palanque sem o curativo. 

Os republicanos andam insatisfeitos porque o atentado já não é destaque na mídia e foi superado pela desistência de Biden e indicação de Kamala Harris. Se depender dos eleitores Trump usará o acessório até novembro e irá votar portando a peça que lembra o tiro. Definitivamente, a orelha tornou-se uma entidade política. 

A crise dos uniformes. A Olimpíada não começou mas o COB já ganhou medalha de lata

por Pedro Juan Bettencourt

Uma Olimpíada não acontece de surpresa. Certo? Para o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) parece que só receberam o aviso sobre os jogos de Paris ontem. No momento em que deviam estar concentrados apenas nos treinos e na adaptação aos locais de competição, clima, fuso horário e na alimentação adequada os atletas estao às voltas com kit insuficiente de uniformes. Os fabricantes jogam a responsabilidade para o COB. E o COB bota a culpa nas federações de cada modalidade. Trata-se incompetência dos dirigentes e uma tremenda falta de respeito do COB (afinal, a entidade brasileira máxima e privada encarregada de supervisionar toda a preparação, acima das federações) com os atletas. A irresponsabilidade se soma ao escândalo estético que é o estilo dos uniformes criados pela grife bolsonarista Riachuelo para o desfile inaugural da Olimpíada. De extremo mau gosto, ultrapassados, parecem desenhados por um fundamentalista fanático. O troço não combina coisa com coisa. Um das versões incorpora algo como um babador triangular gigante. Outro é um estranho conjunto de saia da vovó e jaqueta de guardador de carro, sem ofensa. O ápice é calçar os atletas com sandálias Havaianas. 

As meninas do vôlei não vão participar do desfile de aberto no Sena. Alegam que pode ser cansativo, passarão muito tempo em pé e nesse momento toda energia é necessária. Sorte delas: não viverão o vexame de vestir o uniforme mais grotesco, para dizer o mínimo, entre todas as delegações. Para poupar os leitores não mostro fotos das esquisitices. Este blog mesmo já mostrou e as imagens estão nas redes sociais recebendo uma montanha de crítica. 

terça-feira, 23 de julho de 2024

Paris 2024 - É fake que a Vila Olímpica tem camas antissexo. A modalidade mais antiga da humanidade está liberada

Reprodução Instagram 

Reprodução Instagram 

por Ed Sá 
Segundo os atletas, o que acontece na Vila Olímpica fica na Vila Olímpica. São muitas as histórias que os limites da Vila guardam desde a antiga Grécia. No Brasil, em 2016 aconteceram dois casos que vieram a público. Uma espécie de pacto olímpico decreta sigilo dos nomes de que eventualmente sobem nesse pódio íntimo. Foi esse retrospecto que fez circular um boato de que as camas da Vila, feitas de papelão e colchão de polietileno, seriam intencionalmente frágeis e teriam a função de inibir atividades não esportivas. Preocupados, quem sabe, alguns atletas resolveram submeter as camas a teste de força, trepidação, efeitos sonoro se estabilidade. Todos respiraram aliviados: as camas são sustentáveis, no sentido ecológico e resistem a qualquer tipo de clima, microclima,  onda de calor ou movimentação. Tanto que o COI está distribuindo mais de 300 mil camisinhas. 

Fotografia: a era dos paparazzi chegou ao fim? Sabia que a Manchete flagrou Sartre e Simone de Beauvoir flanando em Copacabana?

Rio, 1960: Sartre e Simone de Beauvoir.
Foto de Gil Pinheiro/Manchete



Simone de Beauvoir não gostou de ser flagrada.
Foto de Gil Pinheiro/Manchete

por José Esmeraldo Gonçalves

Em 1960 o fotógrafo Gil Pinheiro, da Manchete, foi escalado para seguir os passos de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, no Rio. Depois de algumas horas de plantão no hotel, Gil acompanhou o casal em direção à orla de Copacabana. Sartre havia visitado o parque gráfico da Bloch, em Parada de Lucas, onde foi fotografado em ambiente interior e entrevistado pelo diretor da revista, Justino Martins. Apesar disso, a Manchete precisava - para uma segunda reportagem, de Paulo Mendes Campos - de imagens  externas em um cartão postal carioca. Avessos a fotos, eles não toparam. Daí, a solução foi partir para um paparazzo, digamos, culto, dos escritores. A revista não era muito adepta do gênero, preferia fotos mais trabalhadas, em cores. Mesmo assim, se fosse preciso, adotava o recurso de fazer flagrantes, geralmente de atrizes, em visita ao Rio. Naquela década, publicou fotos de, entre outras estrelas, Mylène Demongeot, o então monumento francês, na praia. Claudia Cardinale e Brigitte Bardot também foram seguidas e retratadas, mas nunca um filósofo havia merecido a atenção de um fotógrafo ao estilo paparazzo. O fotojornalista Gil Pinheiro cumpriu a missão, clicou o casal, que saiu do hotel duas vezes, mas não conseguiu trabalhar com discrição, como a redação lhe pediu. Foi descoberto por Simone de Beauvoir. Em uma das fotos acima, vê-se que a escritora não escondeu sua irritação.           

A internet é indispensável, mas não há como negar que deixa terra arrasada em costumes, comportamentos, funções, instrumentos, empregos, equipamentos e métodos. Uma das vítimas é o paparazzo. Câmeras de rua e celulares captam milhões de imagens e, com frequência registram cenas jornalísticas. Celebridades - que eram um alvo preferencial dos paparazzi - agora fazem seus próprios "flagras" e poses íntimas que postam em seus canais nas redes sociais. 

Para os fotojornalistas sobram os fatos e a capacidade de registrá-los com talento como fez o fotógrafo Evan Vucci, da Associated Press, autor da foto icônica e histórica de Donald Trump de punho fechado, bandeira tremulando e traços de sangue no rosto logo após tomar um tiro na orelha. A foto de Vucci ilustrou praticamente todos os veículos do mundo, do New York Times ao Times, da Tribuna de Anta Gorda ao Voiz du Burundi, mas não foi obra de um paparazzo e sim uma clássica foto de oportunidade onde a agilidade e a intuição do fotojornalista, além da sensibilidade para captar a imagem tecnicamente perfeita, foram elementos decisivos. Claro que ele disparou o obturador dezenas de vezes, mas o que há de extraordinário naquela foto é o enquadramento exato de todos os elementos que passaram a mensagem essencial do atentado. 

Já o paparazzo, aquele que se especializou em fazer plantão por horas e dias à espera do seu alvo, entrou em processo de extinção. Por dois motivos principais: as mudanças radicais no mercado jornalístico, que abalam o consumo e a cotação de fotos do tipo e a mediocridade do alvos atuais que são influenciadores, modelos fitness, sobreviventes de reality show e subcelebridades em geral. 

Se Sartre e Simone de Beauvoir caminhassem no calçadão do Leblon, hoje, correriam muito mais o risco de serem assaltados do que encontrar um paparazzo que os incomodassem. 

P.S- Quer saber mais sobre a era de ouro dos paparazzi, os guerrilheiros da imagem? Leia matéria publicada neste blog. Basta clicar no link abaixo. 

 https://paniscumovum.blogspot.com/2015/04/guerrilheiros-de-imagens-nos-55-anos-do.html

  

Mídia: o Brasil inventou o meme patrocinado?

O esforço do ministro da Fazenda Fernando Haddad para tentar taxar milionários e privilegiados que não pagam impostos provocou uma onda de memes que viralizaram na internet. E é essa ação coordenada viral que levanta a suspeita de que os memes foram financiados e impulsionadas por setores acostumados a sonegar impostos ou, no mínimo, praticar a chamada "contabilidade criativa" que dribla a legislação.

Se comprovado que os memes são conteúdo publicitário e foram viraluzados por robôs contratados, o Brasil pode reivindicar o pioneirismo de utilizar uma prática das redes sociais - geralmente espontânea e bem-humorada - como conteúdo publicitário, a chamada matéria paga. 

Ministério do Esporte desmente fake news sobre uniformes olímpicos

Circulou nas redes sociais e sites a informação de que os uniformes da delegação brasileira para Paris foram fornecidos pelo Ministério do Esporte. O governo federal desmente. Leia a nota oficial.

 


"É falsa a informação que o Ministério do Esporte seja responsável por confeccionar e fornecer kits de uniforme e equipamentos para a delegação brasileira que irá competir nos Jogos Olímpicos de Paris. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) provê as roupas de viagens, desfile, cerimônia de abertura e dia a dia na Vila Olímpica para todos os atletas brasileiros. O COB também oferece os uniformes de treinos e competições das delegações de boxe, remo, levantamento de peso, tiro com arco, pentatlo moderno e canoagem. Já as vestimentas das demais modalidades ficam a cargo das confederações de cada esporte. O apoio do Mesp se dá por meio do Bolsa Atleta, um programa contínuo de apoio financeiro mensal, que nesta edição das olimpíadas, contempla 88% dos 276 atletas classificados. Somente em 2024, são mais de 9 mil esportistas beneficiados pelo Governo Federal.O Bolsa Atleta, considerado o maior programa de incentivo esportivo do mundo, acaba de completar 20 anos e neste mês, passou por reajuste de 10,86%, depois de 14 anos com valores congelados. Desde sua criação o programa já investiu mais de R$ 1,5 bilhão em mais de 37 mil atletas nacionais. As categorias partem de Atleta Base até Atleta Pódio, com bolsa de até R$ 16 mil por mês.O Ministério reitera que se mantém comprometido em apoiar e promover o desenvolvimento esportivo e a participação dos atletas brasileiros, concentrando suas principais ações em áreas diretamente ligadas ao incentivo e ao suporte ao esporte nacional."

Paris 2024 - "Manda brasa, Brasil": o marketing do passado. ""É isso aí, bicho"!

Nostálgico da Jovem Guarda, o COB ressuscita como slogan
uma gíria dos 1960.



Uma das opções do uniforme da delegação é, segundo as redes sociais, o look "evangélico". Foto: COB/Divulgação/Reprodução 


por Ed Sá

Por algum motivo, a agência WMCCANN, que criou o slogan da campanha do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), embarcaou em uma trip nostálgica. "Manda Brasa Brasil" dá a impressão de que a qualquer momento Roberto Carlos vai aparecer nas peças institucionais no palco do programa Jovem Guarda dos distantes anos 1960. A opção pelo tempo da vovó também está presente no figurino dos uniformes da delegação, especialmente no look das atletas, uma saia fashion-evangélica que, vai saber, deve homenagear os 100 anos da Olimpíada de Paris de 1924. As meninas parecem estar a caminho do culto ou voltando de um piquenique da turma da igreja. O COB não divulgou o nome de quem criou a estranho modelo. As redes sociais atribuem o look às lojas Riachuelo, empresa cujo controlador é ligado ao bolsonarismo ultra conservador . Outro detalhe: a delegação desfilará no Sena usando sandálias Havaianas. Será demostração de despojamento e humildade? Aviso: atleta humilde demais não ganha medalha.

Ainda como parte do pacote promocional da participação do Brasil no Jogos, o COB escolheu Sabrina Sato como uma das "madrinhas" da delegação. O "cargo" não existe formalmente, mas alguns comitê costumam levar atletas detentores de medalhas de ouro como recurso para aconselhar e motivar estreantes nos ciclos olímpicos. Como Sabrina não é medalhista nem pratica esporte, a motivação é comercial. Ela "concorre' na modalidade merchandising de havaianas. Talvez uma vinculação com algum patrocinador. Segundo o site Terra Sabrina embarcou com 20 malas. Resta torcer para que essa bagagem traga quilos de medalhas olímpicas.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Joe Biden não é G.I Joe


Biden não usou os canais da mídia e optou por anunciar o fim da  candidatura com uma mensagem no X. Em seguida foi fotografado ao lado de Kamala Harris, sua indicada para a tarefa de derrotar Donald Trump. Foto The White House/ Reprodução X

Joe Biden jogou a toalha. Pressionado por lideranças democratas, o presidente desistiu da candidatura à reeleição. O tiro que acertou a orelha de Donald Trump estilhaçou sua campanha já cambaleante. Biden se viu no espelho da Casa Branca e finalmente confirmou que não é um herói americano. Agora caberá à Vice-Presidente Kamala Harris, indicada por Biden, ir à convenção democrata com a expectativa de oficializar sua candidatura. Aparentemente há pouca resistência ao nome de Kamala nos bastidores do partido embora alguns nomes de peso ainda esteja de olho nas próximas pesquisas.

domingo, 21 de julho de 2024

APPLECALIPSE: a tela azul do fim do mundo cibernético.


por Flávio Sépia

Ok, a Apple foi atingida em seus Macs, mas não gerou o apagão. Em todo caso, não resisti ao apelido do caos cibernético dado pelo amigo Roberto Muggiati. Applecalipse. O mundo percebeu que está tão conectado às grandes techs que uma simples atualização de software de apenas uma empresa derrubou serviços de informática ligados ao ambiente Windows em aeroportos, hospitais, empresas, bancos, sites diversos e computadores pessoais. O Brasil sofreu pouco, tem apenas 5% dos clientes globais da empresa CrowdStrike responsável pelo apagão dos produtos que afetou cerca de 9 milhões de aparelhos em todo o mundo, segundo a Microsoft. A maior parte dos danos ocorreu nos Estados Unidos. O caos resultante da falha comprova a fragilidade dos chips e apps espalhados pelo mundo. Tudo indica que o erro pode ter sido humano. Outra interpretação indica influência de dispositivos de IA autônomos e abusados. Seja lá qual for a causa, uma coisa é certa: a humanidade começa  a perder o controle do planeta. De "motorista" vai virar "passageira". 



sexta-feira, 19 de julho de 2024

Influenciadores 171 agora têm a polícia como seguidora premium

por Ed Sá

Nas últimas semanas, essa categoria de pessoa passou de "influencer" a ser influenciada pela polícia. Vários deles ou delas adotaram o estelionato como padrão de vida. Uns e umas ajudaram a enganar incautos promovendo a peso de altos cachês o chamado jogo do tigrinho feito para morder otários. Outros vendem rifas cuja mágica é fazer o prêmio desaparecer antes de chegar ao ganhador, no caso, perdedor. Um sujeito que atende pelo nome de Nego Di abriu até uma loja para vender "promoções". O preço do produto oferecido era excepcionalmente baixo. Só que o agora réu não entregava a mercadoria. Esse caso do Nego Di tem uma particularidade. Durante as enchentes do Sul ele ganhou protagonismo criticando o governo federal e difamando pessoas em posts geralmente inundados de palavrões. Em função disso, apoiadores do réu estão tentando convencer as redes sociais de que o Di é, na verdade, um perseguido político. Ou seja, inventaram o 171 do "bem", o militante da picaretagem engajada na extrema direita. Nenhuma novidade. 

Dito isso, se o seu filho revelar que quer ser "influencer" quando crescer avise que tudo bem, mas ele ou ela poderão ser condenados (as) a influenciar colegas de cela nada influenciáveis. Problema dele ou dela.

Na capa da IstoÉ: o ladrão sem casaca

 


Na capa da Carta Capital: o "mito" trincado

 


Fotomemória - Dia Nacional do Funk inspira redes sociais a revisitar os pioneiros de um gênero musical que a ditadura perseguiu

Tony Ttornado na BR-3, em 1970. Foto Manchete
 (infelizmente a revista não deu o créditos do autor da imagem) 

Criado em dezembro de 2023, o Dia Nacional do Funk foi comemorado pela primeira vez em 12 de julho. de 2024. A data acaba deser oficializada em votação na CCJ da Câmara dos Deputados. As redes sociais festejaram a homenagem citando os primeiros bailes no Rio de Janeiro e em São Paulo e os cantores, músicos e Djs que abriram o caminho no anos 1970, como o movimento Black Rio, Gerson King Combo, Dom Filó, Sandra de Sá, Gerson King Combo, os Djs Big Boy e Luizinho, além de Tim Maia, Sandra de Sá e Tony Tornado. O colaborador do blog Nilton Muniz, ex-Manchete, enviou post com texto interessante publicado no Facwebook de José Teles, que reproduziu uma foto de Tim Maia, publicada na Manchete


   .  

quarta-feira, 17 de julho de 2024

A Revista Desfile vive! Pelo menos no logotipo de uma loja no Algarve

O logotipo da Desfile resiste. Algarve, julho de 2024. Foto de Walterson Sardenberg Sobrinho

O jornalista Walterson Sardenberg Sobrinho, ex-repórter da Manchete na sucursal de São Paulo, esteve em Portugal há poucos dias e fotografou a cena acima: no Algarve, sul do país, mais precisamente na marina de Vilamoura, uma loja adotou o nome da extinta Desfile, da Bloch Editores, dirigida pelo saudoso Roberto Barreira. 

A revista, aliás era distribuída em Lisboa, assim como a Manchete. E fazia frequentes edições especiais de moda tendo como set paisagens portuguesas. 

O repórter conta que na região há uma série de hotéis e lojas, muito concorridas - em especial no verão, claro. Americanos e britânicos estão sempre por lá. Brasileiros, em geral, são funcionários da rede hoteleira. A foto mostra uma loja que tem não apenas o nome da antiga revista feminina da Bloch - e a mais elegante delas - mas repete a clássica tipologia da Desfile.  

Seria uma delicada homenagem ou uma apropriação legítima? 

A propósito, em 2002, dois anos após a falência da editora carioca, o empresário Marcos Dvoskin arrematou em leilão títulos que pertenceram à Bloch. Atualmente, como diretor da Editora Manchete,  ele publica apenas a Pais & Filhos, sediada em São Paulo. Não foi possível confirmar se os demais títulos, embora não utilizados, permanecem com Dvoskin ou os direitos estão vencidos. 

De qualquer forma, a Desfile vive. No Algarve.

Torre Eiffel, a medalha (de ferro) da Olimpíada de Paris

 


A edição de 12 de julho do jornal Valor publica resenha que Roberto Muggiati fez do livro "A Torre Eiffell - verdades & lendas", de Françoise Vey, lançado pela L&PM. 

Entre outras revelações, Vey conta que não foi Gustave Eiffel o homem que concebeu inicialmente a torre, mas seu jovem engenheiro franco-suíço, Maurice Koechlin. E o arquiteto do monumento chamava-se Stephen Sauvestre. 

O maior símbolo de Paris vai receber eventos dos jogos à sua sombra e, em cada medalha da premiação, será incrustado um pedaço de ferro da torre, que, assim, já está no pódio da Olimpíada.   

Em setembro a seleção brasileira volta a disputar as Eliminatórias para a Copa de 2026. Mas os dois jogos que vão tirar o sono da rapaziada acontecerão em março de 2025: Colômbia e Argentina. Vai ter choro?

O torcedor da seleção brasileira não tem paz.  Em setembro o time do técnico Dorival Junior - se a CBF não concluir a fritura dele até lá - enfrentará Equador e Paraguai. Depois vai encarar a fila de adversários na sequência das Eliminatórias. A essa altura todo jogo é difícil. O pior virá em março de 2025 quando vai jogar contra a Argentina e a Colômbia. A seleção brasileira não sabe o que é bola desde 2002. A partir do título na Copa da Coreia-Japão, o roteiro é só de fracassados, da escalação aos técnicos: entre outros, Felipão, Carlos Alberto Parreira, Dunga, Mano Menezes, Tite (esse enterrou o time em duas copas seguidas despedindo-se nas quartas de final em 2018 e 2022 ) e o meteórico Fernando Diniz. No momento, o Brasil está em sexto lugar na desesperada tentativa de carimbar o passaporte para a Copa dos Estados Unidos-México-Canadá.  

Mídia dos oligarcas reescreve dicionário político

 O Globo, Folha, Estadão, TV Globo etc passam o pano em vocábulos que consideram sensíveis aos seus interesses. Exemplos: bolsonaristas armaram tentativa de golpe, mas não são classificados como de extrema direita; a Abin oficial de Bolsonaro espionou políticos, fez ameaças de morte a um ministro do STF, atuou para travar investigações, mas a mídia chama o esquema de "Abin Paralela". É a Abin oficial, mesmo  Isso é  manipulação consciente do fato ou não sabem o que significa a palavra paralela; um meliante roubas jóias do patrimônio público, vende a um receptador e a mídia chama apenas de "desvio", como se fosse um desencontro administrativo ou uma pequena falha de um entregador que errou de endereço.

Há outros dribles na verdade já consolidados pelos editores: agrotóxico é "defensivo agrícola", driblar a lei é "flexibilização", sonegar impostos é "contabilidade criativa". Haja salto triplo carpado para maquiar a verdade.

Coimbra é uma lição... de pôr do sol...

 

Verão europeu. Fim de tarde em Coimbra.
Foto de Gilberto Cavlacanti, ex-fotógrafo da Manchete

terça-feira, 16 de julho de 2024

Fotomemória da redação: Liza Minelli na Manchete



1974: Liza Minelli na Manchete.
Reprodução de foto de Frederico Mendes publicada na revista

Em 1974, ainda no embalo do sucesso de Cabaret e do Oscar que ganhou pelo papel de Sally Bowles, Liza Minelli esteve no Rio de Janeiro em 1974. Foi sua primeira visita ao Brasil. Na agenda, shows do antigo teatro do Hotel Nacional, uma passagem pela redação da Manchete na Rua do Russell e um convite para assistir ao desfile das escolas de samba. Naquele ano, as escolas se apresentaram na Avenida Antonio Carlos. As obras do metrô haviam interditado a Presidente Vargas. Liza curtiu a temporada carioca, falou da sua admiração pelo Rio e experimentou uma feijoada. A atriz voltaria ao Brasil em várias ocasiões. Uma delas em em 2007, quando renovou o contato com o samba ao visitar a sede da Mangueira.  

Jogadores argentinos festejam a Copa América com uma canção racista

A seleção argentina vive grande fase. Campeã do mundo, campeã da Copa América. Infelizmente é cada vez mais difícil admirar o futebol do time renovado dos hermanos. No ônibus, após a vitória contra a Colômbia, os jogadores cantaram um refrão racista. Canção essa, aliás, que a torcida argentina entoou na Copa do Catar para provocar o craque Mbappé pouco antes do jogo contra a França. A cena foi postada pelo meia Enzo Fernández e, em seguida, apagada. Mas o print foi salvo e circula nas redes sociais. A federação francesa entrou com reclamação junto à Fifa pedindo a punição dos argentinos. O Chelsea, time de Fernández abriu procedimento interno e pode punir o jogador.

Refrão racista cantado pelos jogadores argentinos. Reproduzido do X


domingo, 14 de julho de 2024

Novo "marketing político": vale tiro, porrada e bomba?

 





Comentário do blog - por Ed Sá  

A capa da Time é dramática. É praticamente o registro da vitória de Donald Trump nas próximas eleições estadunidenses. Pelo figurino da extrema direita, o marketing político mudou. Atentados autênticos podem ser politica e habilmente explorados. São vistos como "oportunidade". As fake news, também. Debates, entrevistas, programas de governo etc aparentemente não ganham mais eleições? A estratégia de campanha mais eficiente e fulminante é facada ou tiro de raspão na orelha. A faca de Adélio mirou em Bolsonaro e atingiu Lula/Haddad em 2018. O balaço que raspou na orelha de Trump nem desfez o penteado do magnata, mas respingou nas urnas de novembro e abateu de vez o já trôpego Joe Biden. Em segundo lugar vêm as notícias falsas agora turbinadas com vozes e imagens trabalhadas em inteligência artificial (IA).    

Significa que as campanhas presidenciais em todo o mundo dispensarão seus marqueteiros e contratarão especialistas hollyoodianos em sequências dramáticas, dublês, figurantes, editores de imagem e gênios da inteligência artificial? As redes sociais, hoje decisivas, gostam de ação e emoção. Com exagero, pode-se supor que a realidade eleitoral passará a ser um detalhe e o importante será o efeito especial que impactará a massa? 

Curiosamente, o alvo desses atentados sobrevive politicamente mais forte para festejar a posse. O recurso pode valer também para líderes enfraquecidos. Robert Fico, o primeiro ministro da Eslováquia, por exemplo, enfrentava críticas por alegar que os benefícios para exportadores de graõs da Ucrânia prejudicavam a agricultura do seu país. Fico tomou um tiro na barriga, foi hospitalizado em estado grave, mas sobreviveu e reassumiu seu cargo agora com mais apoio. 

O risco é - sabendo-se que marqueteiros de políticos são espertos - assessores da Geraçao Z começarem a bolar situações-limite, nem sempre sangrentas, para reforçar a popularidade dos líderes. A IA poderá ser de grande ajuda em campanhas eleitorais "criativas" a qualquer custo. Algo como Giorgia Meloni, prineira-ministra da Itália, escorregar numa pizza e ganhar votos porque um imigrante da Líbia teria jogado lixo na rua? Digamos que o presidente da Polônia, Andrzej Duda, que perdeu recentemente a maioria no parlamento, sofra constipação depois de comer na rua uma zapiekanka feita por um imigrante russo. O acidente culinário poderia lhe render alguma recuperação na imagem? Em resumo: extrair emoção de qualquer situação pode ser a regra de ouro do novo marketing político onde as idéias ficam em segundo plano. A moda agora é tiro, porrada e bomba. Verdadeiros ou não. 

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Bolsonaro ganha meia- página no New York Times. Como meliante...

 


No momento em que a PF revela novos fatos sobre o roubo de jóias arquitetado pela gangue do B, o NY Times expõe o esquema e o mundo mais uma vez se curva ao modo de fazer "política" da extrema direita brasileira.

domingo, 7 de julho de 2024

França vive! Cordão sanitário isola vírus do fascismo, mas eterna vigilância é fundamental

 



Foi por pouco. Um movimento popular estendeu um cordão sanitário para conter a extrema direita francesa, a doença fatal que ainda ameaça a França. Diante do mal maior, a esquerda e parte do centro ergueram uma barricada contra o fascismo e o neonazismo que se aproveita de um momento de crise para impor políticas racistas e o radicalismo da corrupção neoliberal. A apuração não esta concluída. E etapa importante virá em seguida diante da urgência de um acordo que defina a maioria  democrática no Parlamento da França.

sábado, 6 de julho de 2024

Na capa do Libération: a França decide amanhã: é Vichy ou Résistence. Não ao fascismo e nazismo

 ã 

Na capa da IstoÉ: A democracia é refém do Biden


por Flávio Sépia

Comentário do blog - É quase impossível distinguir um democrata de um republicano nos Estados Unidos. São gêmeos univitelinos. Mas, concordo, qualquer mer#a é  melhor do que Donald Trump, um cara que além de ser racista, misógino, assediador e fraudador, é tudo isso junto: um fascista. 

O problema é que Joe Biden está fora de sintonia. Não é crime, muitos de nós temos alguém na família igualmente lutando para se agarrar às últimas lembranças. É  triste e dramático. 

Agora imagine tudo isso no foco de uma campanha presidencial de um dos mais poderosos países do mundo.

Quem mais torce para Biden se manter candidato é Trump. Isso diz tudo.

Paris 2024 - "Aux toilettes, citoyens! - Manifestantes contrários às Olimpíadas ameaçam poluir o Sena com um "cagalhaço"

Protesto contra Olimpíada ameaça o Rio Sena. Foto de Jussara Razzé 


Evento coletivo de defecação no Sena tem até site para orientar manifestantes

por José Esmeraldo Gonçalves

Assim como no Brasil, em 2014, quando aconteceu o protesto "Não vai ter Copa", algo parecido está rolando na França às vésperas da Olimpíada 2024. Parisienses encontraram um modo mais original de mostrar desagrado com os jogos que interferem na rotina da cidade e já consumiu mais de 1 bilhão de euros dos contribuintes. A ideia é promover um evento coletivo de defecação. 

A guerrilha do cocô estava prevista para acontecer sob planejamento detalhado. No dia 23 de junho, os parisienses seriam convocados para sentar nos respectivos vasos sanitários das suas residências e ali depositarem o maior volume possível de fezes. Supõe-se que os organizadores dão preferência a um cocô mais consistente que, ao contrário da versão mais liquefeita, terá mais visibilidade ao desembocar no Sena. Uma dieta de batatas, por exemplo, pode contribuir para massificar excrementos. Outra opção é comer um prato raiz da culinária francesa: Andouillette. É coisa para os fortes. Trata-se de um bolo de carne  feito de intestino de porco, pimenta, vinho, cebola e temperos. Embora os restaurantes garantam que a iguaria passa por controle sanitário e não oferece risco, acontece que cheira a merda e xixi.   

Os líderes do cagalhaço calculam que,  após lançado no vaso, o chamado "quilo" levará em média uma hora e meia para chegar às águas do Sena. Isso em tempo médio e a depender da distância do arrondissement. Bairros mais perto da margem do rio terão entrega praticamente expressa. O importante é que cada um se esforce para que sua contribuição fecal chegue ao rio no máximo até meio-dia. Sob a hashtag  #JeChieDansLaSeineLe23Juin (algo como "eu caguei no Sena em 23 de junho"), um site facilitaria o calculo da velocidade do pacote. 

O comitê de logística da manifestação espera muitas adesões. A alegada despoluição do rio terá custado, segundo eles, cerca 1,4 bilhão de euros, uns 9 bi de reais tropicais. O Sena será a raia da maratona aquática e da etapa de natação do triatlo e muitos atletas ameaçam não entrar na água caso, até a hora da prova,  as autoridades não comprovem índices aceitáveis de coliformes fecais. Aí está a questão: se a inundação de cocô acontecer e se realmente for massiva, haverá tempo para uma operação emergencial de despoluição até o dia 26 de julho, data da abertura oficial dos jogos de Paris?  

Atualização - O Cagalhaço de 23 de junho foi adiado. A ideia era que coincidisse com um anunciado mergulho de Anne Hidalgo e Emmanuel Macron nas águas do Sena. A prefeita e o presidente adiaram o que seria uma  jogada de marketing para provar a despoluição do rio. Ambos alegaram que irão nadar após  o segundo turno das eleições francesas marcadas para este domingo. Provavelmente evitaram ser vítimas do tsunami de fezes. A nova data deverá ser 15, 16, ou 17 de julho. O Cagalhaço também transferiu sua data e poderá acontecer tão logo as duas autoridades remarquem o mergulho no Sena. 

quarta-feira, 3 de julho de 2024

BC Private Party, traje a combinar : a festa é deles

por Pedro Juan Bettencourt

Países que adotam BC ou FED autônomos incluem regras para probidade da autonomia. 

O Congresso supervisiona o BC ou o FED. 

O presidente eleito tem o poder de demitir o presidente do BC ou do FeD assim que toma posse. Pode mantê-lo, se quiser. 

O FED é o BC americano.

No Brasil, a lei de autonomia do BC não tem regras de probidade, é desembestada. O presidente do BC pode se beneficiar das políticas que adota, sem amarras. Roberto Campos Neto, por exemplo, tem investimentos pessoais atrelados ao dólar em paraísos fiscais, pode participar de boca-livre de churrasco na intimidade de quem o nomeou. 

No momento, ele nem usa as reservas para conter o aumento do dólar. Medida que adotou várias vezes durante o mandato de Bolsonaro, mentor.

O presidente americano nomeia ou confirma o presidente do FED para quatro anos de mandato. É seu direito. No Brasil o presidente eleito ao tomar posse sofre uma espécie de cassação parcial do seu próprio mandato. Durante dois anos é obrigado a governar com a política monetária sob controle de alguém nomeado pelo seu antecessor . A lei de autonomia do BC rouba metade do mandato presidencial. 

Ou seja: a lei de autonomia do BC foi criada para reduzir os poderes do presidente eleito, qualquer que seja ele. 

Juntando a autonomia do BC, o papel das agências neoliberais, a eleição de deputados e senadores (no caso, um terço) para mandatos não coincidentes com o do Presidente da República e a farra das emendas secretas ou disfarçadad que dão um extraordinário poder financeiro ao Congresso, o eleito pelos brasileiros para o Palácio do Planalto já chega lá como "pato manco" (lame duck), a expressão usada na política dos Estados Unidos para definir o titular de um cargo cujo poder é em parte decorativo. 

A autonomia do BC brasileiro, sem efetivas regras e sem supervisão  de probidade, transferiu o poder de definição da política monetária para a especulação financeira. Foi o golpe que deu certo. Não foi necessário invadir o BC nem quebrar relógio, rasgar poltronas ou defecar em mesas de reunião. 

sábado, 29 de junho de 2024

Avisem ao Biden que, em 1986, Ulysses Guimarães sofreu de confusão mental. A mídia veiculou muitas informações falsas sobre o problema que, em seguida, foi diagnosticado: era intoxicação medicamentosa. O político superou a crise, presidiu a Constituinte e foi chamado de Sr. Impeachment por ajudar a despejar Collor de Mello do Palácio do Planalto.

por Flávio Sépia 

Observando o drama público que vive Joe Biden não pude deixar de voltar a um acontecimento parecido ocorrido na pollítica brasileira. 

Em 1986, Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara dos Deputados, deu sinais, em público, de confusão mental, alternava momentos de muita euforia e de profunda tristeza. Na verdade, como sua mulher, Mora, revelou ao jornalista Jorge Bastos Moreno, constatou-se depois que ele foi vítima de uma intoxicação medicamentosa provocada por prescrição de remédios inadequados para combater a depressão. 

Enquanto não se encontrou o motivo, Ulysses sofreu uma cruel perseguição de adversários e por parte da mídia que veiculou informações falsas geradas por politicos. Uma hora, diziam que Ulysses tinha um um tumor no cérebro ou circularam informações falsas de que, desorientado, criara confusão em um voo. Após um tratamento de desintoxicação, Ulysses retomou o protagonismo na política e, menos de um ano depois presidiu a Assenbléia Nacional Constituinte, candidatou-se a presidente em 1989 e foi chamado de Sr. Impeachement ao ajudar a despachar Collor de Mello no rastro de graves escândalos de corrupção. 

A baixa performance de Joe Biden durante debate com Trump, somada ao seu comportamento errôneo nos últimos meses, assusta os democratas. Algumas lideranças, em off, já admitem a troca do candidato do partido. Sobram avaliaçoes polúticas, mas faltam transparência e informações médicas sobre a saúde física e mental de Biden. Pode ser curável, assim como no caso de Ulysses? Pode se agravar? Sem que essas questões sejam esclarecidas aos eleitores, as piadas, as fake news e o deboche de Donald Trump até novembro (e está previsto outro debate da TV após as convenções partidárias) seguirão causando danos irreparáveis ao democrata.