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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Da Revista Brasileiros 2017: A morte anunciada do jornalismo


(Da Revista Brasileiros)

Em momento marcado pela perda da credibilidade e pelo surgimento de novas plataformas, persistir no jornalismo de qualidade é fundamental para a defesa intransigente da democracia


por Daniela Arbex (para a Revista Brasileiros)

Este texto faz parte do especial 2017 x 24 – visões, previsões, medos e esperanças da edição número 113 da Revista Brasileiros, onde articulistas e colaboradores foram convidados a pensarem sobre o que e o quanto podemos esperar – se é que podemos – para nosso País no próximo ano.

A primeira vez que pisei em uma redação foi há 22 anos. Sempre digo que, das focas, eu era a mais otimista, porque acreditava que, através da reportagem, conseguiria mudar o mundo ou, quem sabe, em escala menos superlativa, a minha aldeia. Durante todos esses anos, experimentei – no melhor estilo Gabriel García Márquez – a paixão insaciável pelo jornalismo.

“Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte”, afirmou Gabo, na mais precisa descrição que conheço sobre este ofício.

Por ser o jornalismo uma escolha que mobiliza o nosso desejo como poucas, é difícil digerir a crise que se abateu nas redações do País. Como diria Laurentino Gomes, nunca a morte de uma carreira foi tão anunciada quanto a nossa. Os pessimistas de plantão se apressariam em dizer que estamos com os dias contados, principalmente diante do esvaziamento do noticiário e das redações, da perda de credibilidade e da mudança de modelo de negócios fomentada pelo meio digital. Na prática, ainda não se sabe quem vai pagar a conta das transformações impostas pelas novas tecnologias.

A boa notícia é que os novos formatos da notícia não dispensam o conteúdo de qualidade. Significa dizer que a velha e boa apuração continua em alta, bem como o necessário compromisso com a coletividade, o confrontamento de informações, o ideal permanente de contar histórias e de transformar escuta em escrita.

Há muito deixei de ser foca, mas jamais abandonei a crença que alimentava desde os tempos de faculdade sobre a importância deste ofício. Independentemente das mudanças que ainda estão por vir, o jornalismo de qualidade é a ferramenta fundamental para a defesa intransigente da democracia.

Aliás, neste momento de crise, o investimento em conteúdo torna-se essencial para que se consiga dar voz aos socialmente mudos e para ajudar a construir a memória de um Brasil desconhecido pelos próprios brasileiros. É uma questão de fundo, pois fazer bom jornalismo, em qualquer plataforma, exige tempo, recursos, checagem exaustiva dos dados e, por que não dizer?, o resgate da credibilidade da nossa função.

Precisamos repensar o papel da profissão diante da nova ordem social e dos equívocos cometidos por uma imprensa partidária e ineficiente. A busca por novos formatos para a produção de conteúdo de qualidade me faz pensar que, apesar de tudo, há vida longa para o jornalismo.

*Daniela Arbex é jornalista, autora do livro Cova 312, melhor livro-reportagem no Jabuti 2016, e de Holocausto Brasileiro, melhor livro-reportagem pela APCA em 2013. É também diretora do recém-lançado documentário Holocausto Brasileiro


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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Livro-reportagem "Memória Leiloada, bastidores da Bloch Editores"

No começo do ano, as jornalistas paulistas Gleissieli Souza e Daniela Arbex estivem no Rio entrevistando fotógrafos e editores que trabalharam nas revistas da Bloch. O objetivo da dupla foi reunir material para um livro-reportagem intitulado "Memória Leiloada, bastidores da Bloch Editores". Missão cumprida, elas acabam de enviar a seguinte mensagem: 
"Olá! Agradecemos a ajuda que nos deram para a realização do nosso  trabalho  de conclusão de curso da faculdade (livro-reportagem). Apresentamos para a  banca e fomos aprovadas, com louvor, e esse sucesso foi fruto do apoio e paciência que vocês tiveram conosco. No momento, estamos analisando a melhor forma de imprimir novos exemplares  para entregar uma cópia a cada um de vocês. O nome do livro é "Memória Leiloada: Bastidores da Bloch Editores". Nele reunimos as histórias contadas nas entrevistas e temos como pano de fundo o sumiço do acervo. Esperamos entregá-los no primeiro semestre do ano que vem. Mais uma vez obrigada por tudo. Boas Festas".
É bom saber que novas gerações de jornalistas demonstram preocupação com o desaparecimento de cerca de 12 milhões de imagens que compunham o valioso acervo da extinta Bloch. Mas é preocupante constatar que, ao mesmo tempo, instituições públicas que deveriam cuidar da memória nacional se omitem em relação a essa grave situação. No momento, apenas um grupo de ex-empregados da Bloch, o SJPMRJ (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a ARFOC (Associação dos Repórteres Fotográficos), que movem ação judicial para tentar localizar o arquivo (ação até agora sem qualquer resultado prático), demonstram preocupação com a possível perda e deterioração de milhares de fotos de valor histórico e jornalístico. Orgãos como o Ministério da Cultura, Arquivo Nacional, Associação Brasileira de Imprensa, Museu da Imagem e do Som, Biblioteca Nacional e outras instituições receberam, em vão, apelos dos jornalistas que ajudaram, ao longo de décadas, a construir o acervo. Até agora, a burocracia assiste inerte ao desaparecimento de parte da memória nacional.