segunda-feira, 30 de novembro de 2015

E os mitos não resistem ao tempo... Fernando Pessoa, tão cultuado, por fora era um poeta, por dentro, como diria Nelson Rodrigues, era um canalha racista

Trecho reproduzido da coluna de José Eduardo Agualusa publicada no Globo de hoje
por Flávio Sépia 
O escritor angolano José Eduardo Agualusa faz uma revelação, hoje, no Globo, que vai chocar muitos admiradores de Fernando Pessoa. Depois de comentar a reedição do livro "Mein Kampf", de Hitler, em versão anotada com críticas às teses nazistas, refere-se ao racismo contido nos livros de Monteiro Lobato, Eça de Queiroz e do poeta de aparência frágil e alma dura, a julgar pelas ideias expostas acima, Fernando Pessoa. Agualusa diz que "podemos e devemos" continuar a ler Eça e Pessoa. "Podemos e devemos  ler Monteiro Lobato aos nossos filhos", escreve , "embora seja necessário por vezes acrescentar algum comentário e contextualizar".
Agualusa concluiu a sua crônica afirmando que "precisamos de  vozes novas que tenham as virtudes de Lobato, mas não o seu pensamento caduco".

Biografia de Geraldo Vandré, escrita pelo jornalista Vitor Nuzzi, será lançada em São Paulo. No dia 2 de dezembro, na Biblioteca Mário de Andrade; e no dia 11 de dezembro, na Livraria da Vila, na Vila Madalena

Após uma pesquisa minuciosa e dezenas de entrevistas, o jornalista Vitor Nuzzi concluiu a primeira biografia de Geraldo Vandré. Inicialmente, bancou uma edição, de circulação restrita. Agora, depois de consagrado o fim da censura prévia às biografias, chega a edição para o grande público. "Geraldo Vandré, uma canção interrompida" (Kuarup) será relançado em São Paulo: no próximo dia 2, na Biblioteca Mário de Andrade, e no dia 11, na Livraria da Vila, na Vila Madalena.

Celso Arnaldo Araujo, ex-chefe de reportagem da Manchete, em São Paulo, lança lívro "Dilmês, o idioma da mulher sapiens"


Deu no New York Times: Zé Ninguém, um personagem carioca, denuncia a gentrificação e ajuda a defender do assédio imobiliário moradores tradicionais do Bronx

Zé Ninguém no Bronx, Reprodução do New York Times


Alberto Serrano, o criador do Zé Ninguém. Foto: Divulgação
por Flávio Sépia
O cartunista nova-iorquino Alberto Serrano, mais conhecido como Tito, e que mora no Brasil desde 2008, foi assunto no New York Times nesse fim de semana. Tito, que nasceu em Porto Rico, conheceu o Rio através de uma namorada carioca - com que se casou e tem um filho - que o levou ao Parque Lage. Apaixonou-se pela cidade, foi ficando e matriculou-se do Escola de Artes Visuais. Passou a desenvolver no Rio sua arte de grafiteiro. E criou um personagem, o Zé Ninguém, conhecidos nos muros da cidade. Pois o Zé Ninguém está nos muros de Nova York, onde Alberto Serrano se engajou em uma campanha contra a gentrificação. Segundo o NY Times, ele escolheu como linha de frente um trecho do Bronx, onde instalou um enorme mural que denuncia ameaças de expulsão de moradores do bairro por imobiliárias que constroem torres no local. Alberto Serrano diz ao jornal americano que passou a se preocupar com o fenômeno urbano de deslocamento de moradores pela especulação imobiliária a partir do que vê no Rio. "O tema era algo que eu já estava pensando, já que no Rio eles estão fazendo a mesma coisa. Eles estão removendo um monte de casas e fazendo a renovação urbana na preparação para os Jogos Olímpicos".
Veja no NY Times, clique AQUI


Do Sunday Times: a VW nos porões da ditadura...



por Flávio Sépia
Só dá Brasil no Sunday Times. Além do juiz Moro, a Volkswagen foi assunto, A fabricante de automóveis recebe atenções da mídia mundial depois da fraude global em que se meteu ao desenvolver programas para esconder emissões de gases poluentes por veículos, driblando as leis de muitos países.
Mas o tema da matéria do Sunday Times é a associação de Volks do Brasil à ditadura militar. Diz o jornal que a fábrica apoiou financeiramente o regime e seus métodos. Na verdade, fatos já divulgados por aqui. E a Volks não estava sozinha; grandes grupos, incluindo empresas de mídia, também apoiaram o aparato de repressão e tortura de opositores da ditadura. Como muitos outros criminosos do período, todos se beneficiaram da impunidade.


Deu no Sunday Times: jornal diz que juiz Moro é "heroi nacional", é o "Elliot Ness" do Brasil, mas critica prisões sem julgamento por meses e vazamentos ilegais para a imprensa



por Fávio Sépia
O jornal inglês relata, nesse fim de semana, que Moro é "aplaudido nas ruas" mas contesta seus métodos de manter presos sem julgamento, suspeita de violação da Constituição e critica vazamento ilegal para a imprensa, antes mesmo que acusados sejam informados sobre os processos..

domingo, 29 de novembro de 2015

Time: a difícil escolha da Personalidade do Ano. O nível de candidatos já entrou no volume morto...





Não está fácil para a Time escolher a Personalidade do Ano. A própria revista fez uma enquete com os seus leitores para saber se preferiam Kim Kardashian ou Caitlyn Jenner. A revista tem recebido respostas irônicas da audiência. Já houve quem sugerisse que a eleição fosse cancelada neste estranho 2015. A Time pode estar trolando mas a crise do Person of The Year 2015 existe. Até Donald Trump foi cogitado mas está sucumbindo à rejeição dos leitores. E olha que até Hitler já foi "Homem do Ano" da Time, em 1938.  Kim, como se sabe, é a socialite que encarna o papel de "celebridade" e nada faz exceto ser a "famosa" que comparece a eventos, posa para capas ousadas, está casada com rapper Kanye West, faz "presença vip" em lançamentos de produtos e participa de um reality show ao lado de irmãs Kardashian.  Caitlyn Jenner, ex-Bruce Jenner, o ex- padastro de Kim Kardashian que ganhou fama ao mudar de sexo. A capa mais representativa pode acabar sendo a versão acima. Ou um "coletivo", como em 2001, quando "O Manifestante" (de Ocupe Wall Street e da Primavera Árabe) foi contemplado; no ano passado, a capa foi "Combatentes do Vírus Ebola".


Memórias da redação: Nelson Rodrigues, na Manchete Esportiva, identifica o canalha nacional




PERFIL DO MISERÁVEL

por Nelson Rodrigues (crônica publicada na Manchete Esportiva - em janeiro de 1956)

"Aqui mesmo, nesta coluna, já fiz justiça ao canalha. É uma figura de incalculável riqueza interior. Tem uma irisada complexidade, que falta justamente ao justo, ao virtuoso, ao honrado. E vamos e venhamos: é repousante encontrar uma dessas criaturas que encerram toda a variadíssima sordidez da condição humana. O diabo é que é difícil, dificílimo, senão impossível, descobrir um canalha. Eis a verdade, amigos: ninguém quer ser canalha, ninguém. Saiamos de porta em porta. E, por toda parte, só encontraremos sujeitos honestíssimos, senhoras que não prevaricam nem com os próprios maridos. Até hoje, jamais apareceu alguém com bastante pureza interior para anunciar:
- "Eu sou um canalha abjeto!'
E que autorizasse:
- "Cuspam-me na cara!"
Vejam vocês: o homem é tão pusilânime que não quer ser cuspido nem por decreto. E já que nenhum canalha se apresenta como tal, é quase impossível caracterizá-lo. Ele não tem nenhum odor específico, nenhum distintivo de lapela, que o individualize entre muitos, entre todos. Aqui pergunto: como saber se o nosso amigo, o nosso companheiro, o nosso sócio é um puro ou um miserável? Como vislumbrar-lhe, por detrás da face externa e suspeita, a fisionomia interior e autêntica? É um problema de sorte. Por outras palavras: o canalha só se manifesta sob o estímulo de uma circunstância favorável.
Foi o que aconteceu, há tempos, numa excursão de rapazes e moças ao Dedo de Deus. O alpinismo, no Brasil, é o esporte mais soturno que se possa imaginar: falta-lhe o principal, que é a neve. O sujeito já sabe que não vai virar picolé. De qualquer forma, justiça se lhe faça: considero aquele que escala qualquer coisa um herói de Stalinigrado. Pois bem: sem que ninguém soubesse ou pudesse imaginar infiltrou-se, no grupo, o canalha. Desde o primeiro momento, o homem atraiu simpatias furiosas. Ninguém mais cordial e, mesmo, doce. Tinha bons dentes, boas anedotas e um tubo de drops, que prodigalizou copiosamente. Já os outros excursionistas cochichavam entre si:
- "Liga pra chuchu!"
Sim, muitíssimo liga. Até que a caravana resolveu fazer alto para o banho ao ar livre. Adotou-se a medida normal: os rapazes para um lado; as moças para o outro. Todo mundo caiu n'água, que estava uma delícia completa. Súbito, um dos rapazes, justamente o noivo de uma das pequenas, pergunta:
- Quedê o Fulano?
O Fulano era o canalha. Procura daqui, dali, é nada. Então, o noivo, com essa clarividência homicida do ciúme, deu o berro:
- "Já sei, já sei!"
Imediatamente, organizou-se a partiu a expedição punitiva. E, de fato, encontraram o miserável, pendurado de um galho, engrinaldado de folhas, assistindo ao banho das moças. Era justo, era mesmo necessário ou mesmo obrigatório, que se arrancasse, dali, o Pan sem flautas e o corressem a pontapés, a bofetões e cusparadas. Mas os rapazes, que chegavam, incidiram num erro técnico: arriscaram um olhar na direção das moças. Aconteceu o seguinte: essa nudez múltipla e molhada, que a luz valorizava, subiu-lhes à cabeça. Cada um, inclusive o noivo, ocupou seu galho estratégico para o banquete visual. Por fim, as moças deixaram o rio, enxugaram-se, vestiram-se. Só então os outros se lembraram do canalha. Já sabe: deram-lhe uma surra tremenda.

O CANALHA N° 2

por Nelson Rodrigues (crônica publicada na Manchete Esportiva - em janeiro de 1956)

No número anterior de Manchete Esportiva escrevi sobre o canalha que, encarapitado num galho, assistia ao fluvial banho de umas dez, doze moças.
Referi o episódio e aconteceu, então, o seguinte: todo mundo invejou o canalha dependurado, que se locupletara dessa nudez múltipla, molhada e total. Direi mais: por um momento, não houve leitor que não desejasse ser também um canalha assim abjeto e assim suspenso. Eram dez ou doze moças, digamos uma dúzia. E que fossem menos: quatro, três ou mesmo uma!
Hoje retomo a linha da crônica. Explico: o canalha é uma figura tão rica, complexa, irisada, que exige mais do que uma, duas, trinta crônicas. Quem fala de um sujeito honesto, está, na verdade, falando de todos os outros sujeitos honestos. Eis a verdade: nada mais parecido com um impoluto do que outro impoluto. Mas o salafrário, não: existem entre um salafrário e qualquer colega abismos irredutíveis. Cada qual apresenta suas características pessoais, intransferíveis e inassimiláveis. E é bonito quando um ser impõe essa taxativa dessemelhança face aos outros seres. Por exemplo: na semana passada, falei do canalha n°1, ou seja, o canalha do banho. Hoje, apresento outro tipo, também de uma substância incalculável. Vou numerá-lo: canalha n°2. Era goalkeeper não sei se do América, se do Fluminense. Tinha figura, tinha estampa, um perfil de John Barrymore aos 19 anos. O talho do seu nariz era tão caprichado que as meninas, no auge do arrebatamento amoroso, pediam-lhe:
- "Fica de perfil, meu bem!, fica de perfil!"
E o homem precisava ficar de lado. De resto, usava uns paletós inenarráveis. Mesmo que não fosse um Apolo, mesmo que não tivesse esse perfil sei lá se grego, se romano, venceria pela classe do paletó. Eram ternos que só faltavam falar. E com o canalha n°2, acontecia uma coisa impressionante: ou fechava o gol ou deixava entrar tudo. De certa feita papou, contados a dedos, 12 frangos. Parece incrível, mas foi preciso essa contagem histórica para que o clube abrisse os olhos. Subitamente, o time, o técnico, a diretoria, a torcida, a imprensa e o rádio descobriram tudo: o homem estava na gaveta do adversário. No vestiário, foi cercado, acuado, o presidente, em pessoa, cuspiu-lhe no rosto. Ora, que faz um sujeito nas mesmas condições? É óbvio: trata de lavar, de enxugar a cusparada. Mas o canalha n°2 era tão abjeto que lá deixou esquecida a saliva alheia, a pender-lhe da face conspurcada. Dias depois, há outro jogo. Na hora de entrar em campo, imprensam o salafrário:
- "Olha, se tu papares algum frango, já sabe: depois do jogo te faço e aconteço!"
Era o presidente do clube quem assim falava, em nome dos outros. O canalha n°2 pergunta:
- "Vocês me dão uma surra depois do jogo? E só depois do jogo?"
Pausa, pigarreia e arrisca:
- "Não podia ser antes? Já? Agora?
A partir de então, eis o que acontecia: antes de entrar em campo, o time fazia no canalha n°2 um minucioso massacre. E os pescoções, os tapas, os cascudos o transfiguravam. Com o olho rútilo, o lábio trêmulo, um ríctus de fanático, de possesso, o salafrário ia para debaixo dos três paus e não deixava entrar nem pensamento.

sábado, 28 de novembro de 2015

Há quem diga que fazer jornalismo é destacar más notícias. Mas em um sábado ensolarado, vale reproduzir notas pouco visíveis na mídia ou restritas a sites de instituições...

Em tempo de notícias ruins, vale pescar algumas coisas menos catastróficas nos jornais e sites, hoje. Dizem que o governo - sem aprovação do ajuste fiscal, orçamento etc - pode parar. Há mais notas menos deprê por aí é só pensar, e ler, fora da caixa. Tudo indica que, no mundo real, a maioria dos brasileiros continua a fazer o que lhe cabe: trabalhar, criar, sem ficar tal qual políticos a dar voltas em torno do vácuo.
Mas como hoje é sábado: bom chope!





sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Atletas do vôlei posam para calendário de 2016



por Omelete
As jogadoras de vôlei do Racing Club de Cannes acabam de lançar o Calendário 2016. Custa 8 euros mas foram impressos apenas 2 mil exemplares que estão à venda na boutique do site do clube. Clique AQUI

Direitos Humanos: terreiro de candomblé é incendiado no Distrito Federal. Suspeita é de vandalismo religioso

por Flávio Sépia
A notícia em destaque é da Agência Brasil. "Um terreiro de candomblé foi incendiado na madrugada de hoje (27), no Núcleo Rural Córrego do Tamanduá, no Paranoá (DF). O fogo começou por volta das 5h30 e destruiu o barracão da casa. Cinco pessoas dormiam na casa, mas ninguém ficou ferido. O Corpo de Bombeiros foi acionado, apagou o fogo e está fazendo a perícia do local. Mãe Baiana – coordenadora de Comunidades de Matriz Africana de Terreiros da Fundação Cultural Palmares – informou que levantou com os estralos e quando saiu o fogo já estava tomando todo o barracão. Há suspeita de que o incêndio tenha sido motivado por intolerância religiosa. Segundo Mãe Baiana, nas últimas semanas foi visto um ômega azul rondando a casa, e na noite anterior o mesmo carro passou pelo local.
Este é o mais recente caso de ataque a terreiros na região do Distrito Federal e Entorno. Mais dois templos foram atacados, em setembro, um em Santo Antônio do Descoberto (GO), outro em Águas Lindas de Goiás. Ambos foram incendiados, sendo que o primeiro foi atacado duas vezes.
O presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira, lembrou que este é o quinto ataque registrado nos últimos anos, o terceiro com uso de fogo. A federação está trabalhando para descobrir que tipo de ataque ocorreu. Acompanhada da Fundação Palmares, do Fórum de Defesa de Liberdade Religiosa e outras instituições, a federação promoverá campanha para mostrar à sociedade o que está acontecendo".

O Brasil ainda não tem o terrorismo religioso propriamente dito. Mas, pelo jeito, no futuro, vai chegar lá. O vandalismo religioso já está emplacando. E já houve casos noticiados de agressões que deixaram feridos, incluindo uma menina praticante de religião afro, e até de assassinato de um homossexual por motivação fanática de fundamentalistas religiosos. É comum também a depredação e a destruição de santos nas igrejas católicas. O que favorece o avanço da intolerância é a impunidade. Intolerância religiosa é crime mas não há um só caso de criminoso punido. Tais quais os crimes de racismo e de maus tratos a animais, o de intolerância religiosa parece não ser levado a sério pela polícia nem pela justiça brasileiras.

ATUALIZAÇÃO - O governador do DF, Rodrigo Rollemberg, determinou a criação de uma Delegacia especializada em crimes de racismo e intolerância religiosa. Uma boa iniciativa. Ontem, ele visitou o terreiro de candomblé Axé Oyá Bagan, no Paranoá. O galpão da instituição foi destruído por um incêndio na sexta-feira (27). A polícia está apurando o fato e os indícios de crime.
O governados Rodrigo Rollemberg, do DF, visita o terreiro Axé Oyá Bagan. Foto Toninho Tavares/Agência Brasília. 

"Ter lúpus é bem bizarro": a frase é uma pérola do pensamento "axé" de Claudia Leitte no The Voice Brazil

por Clara S. Britto
O programa The Voice Brasil é o atual palco de bizarrices nacionais. Bate "A Fazenda", deixa longe o "Big Brother". A última mancada, por coincidência, deu-se com a palavra "bizarra". A cantora Claudia Leitte falou, no ar: "Ter lúpus é bem bizarro". A reprodução acima é do site Holofote, que mostrou as reações na rede social. A cantora de axé não foi perdoada. E não é para menos.

Donald Trump imita e debocha de repórter que sofre de doença que afeta movimentos. O atual astro da direita americana tem tietes no Brasil...



Donald Trump, um dos pré-candidatos da direita americana à Casa Branca, tem tido frequentes chiliques fascistas. É caricato, mas não se deve desprezar sua candidatura já que os grotões americanos não são confiáveis.  Ela já ofendeu imigrantes, mulheres, Obama, homossexuais e, agora, debochou de um repórter do New York Times, Serge Kovaleski, que sofre de artrogripose, doença que interfere nas articulações e dificulta movimentos. Trump - que tem uma antiga rixa com o jornalista por este ter provado que o empresário mentira ao afirmar que viu "milhares de muçulmanos comemorando em New Jersey, em 2001, a queda das Torres Gêmeas", evento que ninguém mais testemunhou - ridiculariza e imita a aparência de Kovaleski. O NYT emitiu nota criticando Trump. 

Reprodução
Na atual ascensão da direita radical brasileira, Trump tem tietes no Brasil. Um deles, segundo o Globo, hoje, é o neto do ditador (que o Globo obviamente chama de "presidente") João Figueiredo, que seria sócio do americano em empreendimentos no Rio. Segundo a matéria, o neto do ditador vive ainda na Guerra Fria, fala em ação da KGB no Brasil, diz que a grande mídia é de "esquerda", chama Dilma de "jumenta", fala que Aécio é "bunda-mole", condena o aborto, defende a liberação de armas, ataca os "gayzistas" e as "feminazis". Diz, ainda, que os movimentos de "minorias precisam ser massacrados". 
O neto do ditador tem na parede uma foto do Trump emoldurada. Tudo a ver. 
VEJA O VÍDEO DE DONALD TRUMP IMITANDO O REPÓRTER QUE SOFRE DE ARTROGRIPOSE, CLIQUE AQUI

Black Friday à americana: FBI diz que será batido nos Estados Unidos o recorde de venda de armas pessoais com descontos...

Black Friday de armas nos Estados Unidos. Uma das pistolas,
fabricada pela empresa brasileira Taurus, sai por módicos 199,90 dólares.
Perdeu, playboy. Segundo o FBI quem vai se dar bem na Black Friday nos Estados Unidos são os vendedores de armas pessoais. As lojas esperam receber, em 24 horas, cerca de 200 mil compradores de armas - entre pistolas e fuzis. Como é comum o mesmo "John Wayne" levar para casa mais de uma arma, é só fazer as contas. Segundo reportagem publicada na revista italiana Panorama - a mídia americana é mais "cautelosa" com o tema já que os fabricantes de armas e as lojas têm peso como anunciantes, especialmente fora de Nova York e Los Angeles - os dados recolhidos pelo FBI, através do sistema Nics, são considerados os mais confiáveis. Mas contam apenas as armas que são registradas ou que têm seus registros renovados. Calcula-se em 40% do total o volume de armas não legalizadas. As 190 mil armas do Black Friday se somarão às mais de 300 milhões que estão em mãos de civis no país. Os Estados Unidos têm, disparado, o maior índice de mortes por armas de fogo entre os países desenvolvidos. Um arsenal à disposição dos futuros autores de chacinas em escolas e universidades, uma prática frequente por aquelas bandas.
Já aqui no Brasil, deputados da chamada "bancada da bala" tentam demolir a legislação que limita venda e porte de armas. Devem achar que os índices de mortes por armas de fogo, no Brasil - que ocupa o 11° lugar nesse trágico ranking - ainda é pouco pro gosto deles. À frente do Brasil, estão Venezuela, Ilhas Virgens, Guatemala, Colômbia e Iraque, entre outros países em desenvolvimento. Os Estados Unidos estão frente de França, Alemanha, Cuba, Reino Unido e Japão, com um índice mais de cinco vezes superior aos "concorrentes" do primeiro mundo.
ATUALIZAÇÃO: Este texto foi escrito ontem, pouco antes de meio-dia. À tarde, mais um episódio de tiroteio no Estados Unidos foi divulgado pela CNN. Atirador, ou atiradores, investiram contra uma instituição pública de planejamento familiar. O atentado deixou mortos e feridos. Ativistas, na verdade, terroristas contra aborto já fizeram outros ataques do gênero. São grupos de inspiração religiosa que estão escalando ao poucos mais um degrau da violência. Armas, como se vê pelo recorde do Black Friday, não lhes faltam.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores (Ceebe) convida para assembleia amanhã, 27/11, sexta-feira, às 11h, no Sindicato dos Jornalistas. E alerta que há questões graves a discutir



Os ex-funcionários da Bloch Editores realizam assembléia, a partir das 11 horas desta sexta-feira (27/11), amanhã, no auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (Rua Evaristo da Veiga, 16/17. Cinelândia). Os profissionais que trabalharam na extinta empresa vão atualizar informações sobre a situação da Massa Falida. A Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores (Ceebe) conta com o comparecimento de todos e alerta que há questões graves e urgentes a discutir e atitudes a tomar diante de obstáculos que se apresentam à frente de reivindicações encaminhadas. Nesse momento, o comparecimento é ainda mais importante por demonstrar a união dos trabalhadores da extinta Bloch na luta pelos seus direitos.

Cerveró bomba na rede

Reprodução Internet
Reprodução Internet

por Omelete
Ao lado do espantoso diálogo do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), a fita gravada por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, um dos implicados na Lava Jato, tem momentos de inacreditável e involuntário humor. É quando trata de um eventual plano de fuga a ser oferecido ao acusado. Pelo tom de voz, o grupo fala sério. São várias opções, cada uma mais desastrada do que a outra. Um fala em um veleiro (???)  que seria emprestado por um amigo para cruzar os mares até Espanha e atracar em uma praia, sem passar pela imigração. Bom, é mais ou menos o que a onda de imigrantes faz. Melhor Cerveró ler jornal para descobrir que muitos desse imigrantes morrem afogados. E olha que eles saem dali de perto. O veleiro de Cerveró iria atravessar o Atlântico. Outro indica a fronteira da Venezuela, mas não diz como o fugitivo chegaria até lá. Um acha mais fácil o Paraguai. Mas ninguém pensa em como o Cerveró faria o trajeto, qualquer que fosse, sem ser reconhecido, já que ele tem uma característica, digamos, meio complicada para dissimular. Vai se disfarçar de muambeiro? Usar uma burca? Vai rolar um passaporte falso? Mas e a foto não seria percebida mesmo que o nome no documento fosse Zé do Petróleo? Um sujeito diz lá em algum momento que é melhor um jatinho. Beleza. Mas como vão tirar o Cerveró da cela. Vão apenas pedir para ele sair rapidinho pra fazer um check-in?
Mas nem o cinema, em filmes do Gordo e Magro ou de Groucho Marx, planejou fugas com tantos elementos para dar errado. As redes sociais, claro, deitam e rolam no assunto. Algumas das perguntas que os internautas fazem: como Nestor Cerveró pensava em se disfarçar? Usaria uma peruca? Fingiria que não estava vendo o guichê de controle de passaporte, daria uma olhadinha pro lado e passaria batido?
A sugestão mais viável parece mesmo fazer o homem fingir que é um quadro do Picasso...
O fato é que a roda de muy amigos tentando planejar o pinote não apenas tornou o Cerveró motivo de gozação. Pergunta se com a fuga planejada o juiz Moro vai liberar o cara para prisão domiciliar?
Difícil. E se o veleiro já estiver pronto para zarpar?

Dilma Rousseff e o Congresso "vendem" no "Black Friday" parte da segurança da Olimpíada 2016

por Flávio Sépia 
O governo brasileiro está vendendo tudo. E com desconto. "Fazemos qualquer negócio" e o mote para injetar alguns trocados no caixa da União. A mais recente mercadoria a chegar ao balcão de negócios é a da segurança dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Dilma sancionou lei aprovada pelo Congresso que dispensa exigência de visto para estrangeiros durante quatro meses, de julho a setembro do ano que vem. Os autores do projeto são os deputados Alexa Manente, do PPS, de São Paulo, e Carlos Eduardo Cadoca, do PCdoB, de Pernambuco. 
A aprovação no Congresso foi do tipo simbólica. Aquele jeitão de "votação" em que um sujeito engravatado fala para outros idem que estão espalhados pelo plenário, às vezes sem nem prestar atenção: "se concordarem fiquem como estão", "aprovado"... e o engravatado vai em frente lendo outros projetos. 
O vacilo legislativo deve atender ao interesse de empresários da área turística que defendem um liberou geral que leve mais alguns dólares para suas contas. 
Diz-se que a área militar do governo foi contra, queria que Dilma vetasse o tal projeto. Mas a presidente, do alto do seu conhecimento em matéria de segurança internacional, entendeu que a liberação do visto não afeta a paz dos Jogos. 
Uma aposta complicada diante de um evento que trará delegações e chefes de Estado de vários países que estão na mira do Estado Islâmico. 
Especialistas contestam a medida e dizem que o país, para atender empresários, abre mão de uma importante etapa de controle de entrada de estrangeiros. A lei dos deputados significa, também e na prática, um abre as pernas diplomático. O Ministério das Relações Exteriores defende a regra da reciprocidade, ou seja, visto exigido para país que exige visto. Também não foi ouvido. Como a lei é autorizativa, espera-se que o Ministério das Relações Exteriores e da Justiça  estudem melhor o tema e não editem a portaria que vai oficializar a porteira aberta.
Curiosamente, o Congresso aprovou essa lei dos sem-visto mas tem segurado a Lei Antiterrorismo, que enquadra os crimes do gênero e é considerada importantíssima para dar respaldo às ações de prevenção durante as Olimpíadas. 
O Brasil não tipifica em lei os crimes de terrorismo. Duvida? Pois saiba que se o elemento fundamentalista detonar uma bomba por aqui vai ser enquadrado, no máximo, por homicídio doloso, cumprirá um sexto da pena, se for condenado, e logo vai passear com o cinto-bomba. Pode até ser enquadrado apenas por "porte de arma", pagar fiança e seguir a vida. Se for menor de idade, será "inimputável" e voltará às ruas pronto para retomar o ofício.   
Dispensar vistos durante a Rio 2016 e não aprovar, até agora, a lei antiterror são contribuições do Brasil ao mundo após a ação assassina dos terroristas islâmico em Paris. 

Grazi na GQ...

Grazi Massafera foi escolhida a Mulher do Ano pela edição brasileira da revista GQ. Veja o vídeo, clique AQUI

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Calendário Campari 2016 vem com Kate Hudson...



por Clara S. Britto
A atriz Kate Hudson, 36, e tema do Calendário Campari 2016. É a 17° versão da peça promocional que sempre captura estrelas de Hollywood para a folhinha. Em anos anteriores, Jessica Alba, Eva Grenn e Penelope Cruz ilustraram o calendário. O ensaio foi fotografado por Michelangelo di Battista e Kate veste Versace e calça Louboutins.

Uma cápsula salva-vidas contra desastres aéreos... E não é invenção do professor Pardal...


por Omelete
O engenheiro aeronáutico Vladimir Tatarenko desenvolveu um projeto que, se realizado, pode salvar vidas na aviação civil. A ideia é transformar o interior dos jatos em uma grande cápsula de salvamento. Em caso de problema em vôo, bastaria apertar um botão, a cápsula seria ejetada pela traseira do avião, com a cabine de passageiros inteira. Paraquedas e retrofoguetes tornariam suave a queda. Em caso de lançamento ao mar, flutuadores infláveis seriam acionados. O próprio inventor acredita que seu projeto será mais viável em aviões pequenos ou de porte médio. Um vídeo no You Tube mostra como seria a cápsula salva-vidas que, por ser ejetada pela traseira das aeronaves, só poderia funcionar em aviões de cauda alta, o que não é o caso, por exemplo, dos Boeing e Airbus.
VEJA COMO FUNCIONARIA A CÁPSULA, CLIQUE AQUI 


Como fazer dinheiro sem cansar a beleza...

Reprodução

por Omelete
Modelo, empresária (tem uma linha de roupas, incluindo moda praia, e se prepara para explorar sua marca em outros produtos), uma das angels da Victoria Secret,  e até com uma participação especial em uma filme do 007 (Cassino Royale), a brasileira Alessandra Ambrosio está na capa da revista Maxim. O ensaio foi feito pelo fotógrafo Gilles Bensimon.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Armazenar o vento: Tecnologias para serem levadas a sério

(do Site Inovação Tecnológica)
Embora um discurso infeliz possa transformar qualquer coisa em motivo de piada, o armazenamento de energia eólica - assim como o armazenamento de energia solar - é um assunto que está sendo levado a sério por engenheiros e cientistas de todo o mundo.
Não sendo possível armazenar ou dosar o vento ou a luz do Sol - ainda que o ar líquido não seja nenhum absurdo -, é possível armazenar a energia gerada por eles, para que essa energia possa ser usada mais tarde ou em um fluxo constante.
LEIA MAIS NO SITE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, CLIQUE AQUI

Fotomemória: no tempo em que inauguração de cabine policial merecia solenidade com direito a discurso...

Foto/Arquivo Pessoal/Santos
A foto é dos arquivos do Santos, segurança gente boa que trabalhou na Manchete durante anos. Mostra um flash curioso nos jardins em frente às redações do Russell. Houve uma época em que cabines policiais foram implantadas em vários bairros, no Rio. Na maioria, eram equipamentos doados à PM por empresários e até associações de moradores. O prédio da Manchete, como se sabe, ficava de frente para o Aterro. Era frequente, como até hoje, pivetes assaltarem pedestres e correrem para os jardins do Parque. Perto dessa cabine havia dois pontos de ônibus muito utilizados por funcionários, outros estacionavam seus carros nas proximidades. Não foram poucas as vítimas de assaltos na região. Daí, a cabine foi festejada. Na foto, a inauguração solene, com a presença de Adolpho Bloch e comandantes da PM. À direita, Murilo Mello Filho confere o texto que oficializava a entrega da cabine com as devidas palavras de agradecimento. Um breve instante do passado. A cabine, o tempo levou e já não se encontra no local. mas ficou a foto-memória.

Editora Escala "terceiriza" seis revistas e demite as respectivas redações

Segundo o Portal Imprensa, a Editora Escala anunciou nesta segunda-feira (23/11) a "terceirização" de seis títulos — Dieta Já, Meu Pet, Casa & Construção, Decora Baby e Construir Mais por Menos. Com a medida, foram demitidos todos os jornalistas e demais profissionais das redações. Ainda segundo o site, a Escala não deu maiores explicações aos funcionários.

As melhores capas de 2015, segundo a ANER, em um ano em que o personagem principal das revistas foi um ser invisível: ele, o passaralho...

A moribunda edição brasileira da  Playboy, que deixa de circular em dezembro, ganhou, na categoria popular, o Concurso de Capas da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner). O povão gostou de ver a funkeira Tati Zaqui como estrela nua.
Já o voto do júri do concurso foi para a capa da revista Nova Escola. Obviamente, o voto popular impressionou-se com a sensualidade da funkeira em si e não com a capa normalzinha gráfica e conceitualmente. Vamos combinar que também na arte a Playboy já viveu dias melhores. Confira você mesmo, nas reproduções,. Já a Nova Escola, com uma capa graficamente bem resolvida, teve a seu favor a força do tema focalizado. Saiu-se bem e optou por não ousar. Foi cautelosa e não apelou ao tratar um tema polêmico e suficientemente quente.
No mais, não se pode dizer que foi um ano brilhante para revistas que vivem uma crise dupla: a do momento da economia e a da identidade perdida diante do avanço dos meios digitais. Com queda de circulação, qualidade editorial em curto-circuito, redações desfalcadas, sobrecarregadas, com menos gente e acúmulo de funções, e ainda com veículos abrindo mão de profissionais experientes, o clima é de sobrevivência e não de criatividade.
Talvez desanimados com a crise do setor e assolados por essa onda de demissões, os designers ficaram no feijão-com-arroz.
Aliás, vários dos editores e artistas concorrentes estão entre os profissionais que perderam o emprego. Não dá para culpá-los pela falta de pique. Muitos criaram as capas com, literalmente, um passaralho pousado ao lado. O que, convenhamos, não é exatamente um estímulo.
Uma curiosidade: entre as finalistas não havia nenhuma das revistas que levaram para as bancas sucessivas capas de "escândalo".
Não há o que comemorar. O dado mais triste para o setor é mesmo a estatística que fecha o ano com centenas de jornalista demitidos. Incluindo jornais, o número ultrapassa 4 mil demissões nos últimos dois anos e meio.
Um tema que não rendeu capa.
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Direito de Resposta-2

por Luís Nassif (do GGN) 
Dizem os porta-vozes da mídia que a implementação da Lei de Direito de Resposta inviabilizará a liberdade de imprensa.
Seria o mesmo que a indústria automobilística afirmar que a obrigatoriedade do air bag e do extintor de incêndio inviabilizariam a produção de veículos. Ou os fabricantes de geladeiras sustentarem que a obrigatoriedade de certificados de eficiência energética inviabilizaria a produção de geladeiras. Ou ainda os laboratórios farmacêuticos exigirem o fim dos certificados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a comercialização de remédios.
Houve a mesma grita quando o Código de Defesa do Consumidor foi implementado no Brasil. Era o país antigo, de economia fechada e sem direitos do consumidor, reagindo contra os ventos da modernidade. Alegava-se que cuidados adicionais encareceriam os produtos a ponto de afastar os consumidores; os custos seriam excessivos etc.
O que ocorreu de lá para cá foi o aumento gradativo da qualidade dos produtos, empurrados pelas exigências do consumidor, devidamente amparadas por lei.
É assim que as modernas economias de mercado se aprimoram. Criam condições de defesa do consumidor - impedindo concentração de poderes e dando armas de defesa. Estes passam a recorrer aos novos instrumentos. Como consequência, as empresas se adaptam às novas exigências, tornando-se melhores.
O pior produto: a informação
Hoje em dia o produto de consumo de pior qualidade do mercado são as notícias dos grandes veículos. Se houvesse uma Lei de Defesa do Consumidor de notícias, em vez de vítimas de ataques pleiteando direito de resposta, haveria milhares de leitores reclamando contra manchetes e capas vendendo conteúdos que não se confirmam. Seria um recall permanente.
A Lei de Direito de Resposta não impõe multas, não inviabiliza financeiramente os veículos. Apenas os obriga a serem criteriosos na divulgação dos fatos e cautelosos nos ataques a pessoas. Ou seja, obriga-os a fazer jornalismo sério. A punição consiste em publicar a versão do atingido.
Os resultados já podem ser avaliados nas últimas semanas. Reduziu-se drasticamente o esgoto vindo dos jornais, a adjetivação sem sentido, os ataques não-fundamentados. Os editores provavelmente estão exigindo dos repórteres mais dados para confirmar informações delicadas; provavelmente matérias críticas voltam a ser submetidas ao Departamento Jurídico.
É esse cuidado – básico em qualquer jornalismo sério – que, em seu libelo contra a lei, Mirian Leitão taxa de “autocensura”. Sua opinião é a mesma do vendedor, que critica a área de qualidade  por exigir aprimoramentos no produto final, visando resguardar a empresa de processos propostos por órgãos de defesa do consumidor. Seu negócio é vender qualquer coisa.
Construção da lei 
De qualquer forma, há um longo caminho na formação da jurisprudência. E ela será formada a partir de decisões de centenas de juízes de primeira instância. Posteriormente, caberá ao STF (Supremo Tribunal Federal) definir normas e limites, mas a partir da análise concreta de sentenças proferidas.
A jurisprudência se forma na análise de casos. E o Judiciário, a partir de agora, deverá se aprofundar nas características da notícia jornalística.
No início, os julgamentos deverão se concentrar nas ofensas diretas e mentiras divulgadas.
Mas há diversas maneiras de contar uma mentira meramente não contando a verdade toda. Uma delas é a escandalização de fatos irrelevantes. Exemplo maior é o “escândalo” com a compra de tapioca com cartão corporativo. Contou-se rigorosamente a “verdade”: Orlando Silva comprou uma tapioca com um cartão corporativo. A partir daí montou-se uma campanha de difamação que deixou para a opinião pública a imagem de um servidor público desonesto.
Ou seja, a manipulação das ênfases é uma das formas mais empregadas de crime de imprensa.
Outro golpe frequente é somar valores recebidos em longos períodos e divulgar como se fosse um grande escândalo.
Outro atentado à boa informação é a combinação com a fonte – em geral ligada às investigações. A fonte “desconfia” de determinado fato e transmite a desconfiança ao repórter. O jornal publica a “desconfiança”, mesmo que não tenha nenhuma evidência maior a respeito. E como a Constituição garante o sigilo de fonte, fica-se nesse papai-mamãe que estupra a objetividade jornalística.
Esse estratagema tem sido utilizado abundantemente nas grandes investigações policiais.
Os méritos da regulação
Nem se pense que esse céu de brigadeiro da notícia nos últimos dias permanecerá por muito tempo. Não se recupera a qualidade jornalística em um piscar de olhos. O esgoto jornalístico é um vício, assim como o exercício da pornografia ou o uso do crack. Mas, ao contrário dos programas de redução de danos das pessoas físicas, no caso das jurídicas o único caminho de desintoxicação é a regulação.
No final dos anos 90, diversos artigos que escrevi na Folha sobre o bom e o mau jornalismo foram encaminhados aos editores por donos de empresas das mais diversas – do Ruy Mesquita no Estadão ao Roberto Civita da Abril. Por trás desses cuidados, pairava um projeto de lei visando enquadrar a mídia. Foi só o projeto de lei ser abandonado para a mídia brasileira ingressar na era da infâmia.
Sugere-se aos Ministros do STF - que em breve apreciarão a matéria - que pesquisem a reação dos grupos de mídia contra a mera indicaçãoeu  etária para os programas, lá pelos idos de 2003. A Globo colocou na linha de frente diversos colunistas bradando que seria o fim da liberdade de expressão.
Cada tentativa de regulação, por mais tímida que seja, provoca gritos, invocando princípios constitucionais de liberdade de expressão que não se aplicam de maneira restrita à imprensa. É sempre a falsa ameaça de que regular significará comprometer a liberdade de expressão, valendo-se, para tanto, do parco conhecimento do Judiciário em relação ao ofício da imprensa.
Com essa limitação ao seu poder de difamar, manipular ou mentir, certamente restará aos grupos de mídia se restringir ao seu ofício nobre: informar e argumentar de forma civilizada.
Se praticarem corretamente essa “autocensura” é até possível que os grandes veículos nacionais consigam atingir níveis de qualidade similares aos dos grandes veículos das economias modernas.
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Direito de Resposta-1

O Direito de Resposta e as Nove Leis de Mirian Leitão
por Luis Nassif
A jornalista que quase provocou uma crise política porque um internauta colocou em sua biografia, na Wikipedia, que ela tinha errado algumas projeções econômicas, considera mera quirera o juiz “parar o que está fazendo”, para restabelecer a imagem da vítima do ataque de imprensa. Em seminário sobre imprensa, neste final de semana em Tiradentes, Mirian acalmou os jovens estudantes quanto ao receio de não terem liberdade para praticar jornalismo nos grandes jornais:
- Em trinta anos no Globo, jamais tive uma opinião minha censurada.
Os jovens jornalistas arregalaram os olhos; os veteranos, sorriram e trocaram olhares divertidos. Só jamais teve uma matéria censurada quem jamais ousou arrostar os limites impostos pelo jornal.
Em recente almoço com João Roberto Marinho, um integrante do governo ouviu dele a seguinte declaração, a respeito de um tema polêmico:
- Vou falar para a Mirian escrever sobre esse tema.
É evidente que Mirian fala por ela, mas sempre em temas acordados aberta ou tacitamente com a casa. E também é a voz dos Marinhos, talvez a voz mais qualificada, dentre os jornalistas das Organizações Globo, mas, ainda assim, uma voz da casa.
E não se pense depreciativamente. Mirian conseguiu uma imagem forte que faz com que os Marinhos recorram a ela para temas de seu interesse que, na boca da própria Globo, se tornariam suspeitos.
Essa circunstância confere à jornalista inúmeros benefícios: visibilidade, influência, prestígio, um enorme mercado de palestras.
Mirian é uma legítima beneficiária desse pacto com o grupo. Mas se recusa a admitir a contrapartida oferecida - endosso total às teses de interesse do grupo - para deixar a impressão que conquistou o direito de ter opinião própria graças exclusivamente à sua competência e prestígio junto ao público. Tão amplo e irrestrito é seu endosso ao grupo que tomou o lugar dos editoriais de O Globo para atacar a Lei que instituiu o direito de resposta com uma gana maior que os próprios editoriais.
Resposta aos abusos
Essa Lei é a primeira reação à falta de limites da mídia, especialmente depois que liquidaram com a Lei da Imprensa através do Ministro Ayres Britto – que, mais tarde, tornou-se lobista da mídia.
Draconiana ou não, a lei responde aos abusos que ocorreram na mídia nos últimos anos, em parte devido ao fato dos decanos da imprensa, os colunistas com condições de fazer o contraponto, jamais terem tido a coragem de se insurgir contra abusos que desmoralizavam a própria profissão.
Houve raríssimas exceções nas intervenções pontuais de um Jânio de Freitas, um Boechat, nos contrapontos do Juca Kfoury. Os que, como Mirian, deveriam atuar como figuras referenciais jamais ousaram para não colocar em risco uma situação profissional cômoda.
Agora, se tem essa situação.
Jornalista da Folha, Vera Guimarães resgata princípios de direitos individuais ao alcance de quem se propõe a estudar com isenção o tema. Faz a autocrítica e critica os veículos que “vivem de apontar os defeitos e o monopólio da grande imprensa”
Diz ela:
 (...) Jornalistas erram como qualquer outro profissional, com a diferença de que seus erros, além de públicos, são magnificados na exata proporção da visibilidade dada à notícia. É essa equação que torna um erro em manchete muito mais grave.
(...)  Os meios de comunicação estão de cheios de erros e figuras menores que não merecem o mesmo cuidado.
O cenário é tanto pior quanto menor, mais distante, partidarizado ou regionalizado for o veículo. Parece não ter caído a ficha de que a correção não é uma liberalidade eventual nem pode variar de forma e tamanho ao sabor da ocasião; ela é contrapartida indissociável da responsabilidade (e do privilégio) de quem é pago para informar.
Sem essa consciência, é difícil defender sem reservas a autorregulação da mídia, ideal acalentado pelas entidades do setor. Seria apostar numa boa vontade que a maior parte de profissionais e meios não tem demonstrado, inclusive (ou principalmente) veículos que vivem de apontar os defeitos e o "monopólio da grande imprensa".
A falta dessa consciência só leva água ao moinho dos que querem enquadrar a liberdade de informação –e a nova lei do direito de resposta traz itens exemplares dessas tentativas.
A coragem da autocrítica confere-lhe legitimidade para a crítica correta inclusive contra os que emulam os vícios da mídia que se pretende combater.
A estratégia da Globo com o Direito de Resposta
Já  artigo de Mirian insere-se em uma estratégia óbvia das Organizações Globo.
Para não legislar em causa própria, recolhem as armas e mandam à arena seus colunistas – como se representassem uma opinião pública impessoal, extra-Globo-, servindo de reforço para tentativas de sensibilizar o STF (Supremo Tribunal Federal) a partir do trabalho de Gilmar Mendes e de Ayres Britto.
O resultado foi um artigo onde Mirian vale-se de todo o estoque de sofismas que marcou o a atuação da mídia nesses tempos de caça às bruxas: desde invocar ameaças bolivarianas até inverter a força dos oponentes.
Trata-se de um Manual de Como Sofismar, segundo Mirian Leitão.
Vamos extrair algumas lições de como sofismar em defesa de uma causa pouco defensável.
Primeira Lei de Mirian – em qualquer tema envolvendo prerrogativas da imprensa, a probabilidade de surgir um argumento que equipare a regulação à ditadura militar aproxima-se de 1 (100%).
É uma variante offline da Lei de Godwin, que reza o seguinte:
À medida em que cresce uma discussão online, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou o nazismo aproxima-se de 1 (100%).
Poderia ser chamada de a Primeira Lei de Mirian:
 (...) A norma sancionada pela presidente Dilma faz a Lei de Imprensa do governo militar parecer democrática. Ela estabelece ritos sumários, dá prazos fatais aos juízes, estabelece que o “ofendido" pode exigir reparação no mesmo espaço e na edição seguinte do jornal, noticiário de rádio e televisão.

Segunda Lei de Mirian -  chame uma ideia defensável por um nome diferente visando conferir-lhe um significado diverso, de forma a confundir o oponente.
Também é conhecida como “manipulação semântica” e consiste, segundo Schopenhauer, em “chamar as coisas por um nome que já contenha o juízo de valor que queremos que seja aceito”.
Na prática, a Segunda Lei de Mirian tem esse tipo de utilização:
Existe a notícia errada que deve, claro, ser corrigida. Mas o texto fala que “ao ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social é assegurado o direito de resposta ou retificação gratuito e proporcional ao agravo”. O governo e o Congresso chamam isso de regulamentação, mas a lei foi feita para intimidar jornalista e trazer de volta a autocensura.
Na Inglaterra, aqui mesmo, nos idos dos anos 90, os próprios jornais apresentavam a auto-regulação como alternativa a uma regulação externa. Jamais se auto-regularam. Mirian inova e trata a auto-regulação como autocensura.
O que ela banaliza – alguém se sentir ofendido – é a caracterização penal de injúria, crime previsto no Código Penal.
Terceira Lei de Mirian – se uma Lei tem implicações sociais, procure minimizar os resultados e maximizar os custos.
Há um excelente estudo de caso nas análises do Globo sobre políticas sociais.
Mirian aplica os princípios na Lei.
Considera “espantosamente autoritários” o prazo para o juiz decidir e a aplicação da multa diária em caso da publicação não conceder direito de resposta.
A jornalista que quase provocou uma crise política porque um internauta colocou em sua biografia, na Wikipedia, que ela tinha errado algumas projeções econômicas, considera mera quirera o juiz “parar o que está fazendo”, para restabelecer a imagem da vítima do ataque de imprensa.
Reparar a reputação de alguém que foi alvo de uma tentativa de assassinato de reputação é tarefa menor? Que história é essa? A gravidade do crime de imprensa é diretamente proporcional ao tempo que demorou para se corrigir o ataque.
Diz ela:
Há trechos da lei espantosamente autoritários. Estabelece prazo exíguo para o juiz decidir, e autoridade para que ele aplique multa diária ao órgão de imprensa, mesmo que a pessoa atingida pela matéria não tenha pedido. “Recebido o pedido de resposta ou retificação, o juiz, dentro de 24 horas mandará citar o responsável pelo veículo de comunicação para que em igual prazo apresente as razões pelas quais não o divulgou, publicou ou transmitiu e no prazo de três dias ofereça contestação”. Ou seja, o juiz tem que parar o que estiver fazendo para, em 24 horas, mandar citar o órgão de imprensa, que tem apenas 24 horas para se defender e três dias para contestar. Em menos de uma semana, esse rito que a lei chama de “especial” tem que ser cumprido.
Quarta Lei de Mirian – apresente situações hipotéticas falsas para desqualificar as consequências da iniciativa que se pretende combater.
A lei fala em “ofendido" e “agravo” sem estabelecer o que seja isso. Ela torna a opinião um crime, e quem a emite, um réu. Recentemente um deputado me ligou pedindo “reparação”. Eu argumentei que ele teria que pedir reparação também aos seus colegas que fizeram, no plenário, as mesmas críticas que eu fiz no meu artigo. Era sobre a lei da repatriação que abre possibilidade de entrada de dinheiro no exterior proveniente de diversos crimes. Na vigência da lei 13.188 o que teria acontecido? Eu teria que publicar que o projeto não diz o que o projeto diz, porque o “ofendido" poderia considerar o meu texto um “agravo”?
Mirian recorreu a um dos princípios de Schopenhauer: o falso silogismo.
Consiste no seguinte:
·      O deputado ligou para pedir uma correção de erro que Mirian disse não ter cometido.
·      Se basta se sentir “ofendido” para requerer, todo mundo irá requerer o direito de resposta.
·      Se a Lei estivesse em vigor, ela teria que publicar a resposta.
Sabe porque o mediador da Lei se chama juiz? É porque ele arbitra os casos. A seu juízo define o que é ofensa e o que é agravo. Isso ocorre desde que, alguns séculos atrás, definiram o formato do Judiciário nas democracias.
O caso apresentado nada tem a ver com a Lei, porque, para não atrapalhar o argumento, Mirian esqueceu de incluir a figura do juiz para arbitrar se o deputado tem ou não razão.
Quinta Lei de Mirian – o estratagema de alternativa excludente.
Consiste em contrapor a determinada questão, um conjunto de questões legítimas, como se fossem alternativas a ela. Embora nada tenham de excludentes.
Esta legislatura está atormentando o país. Aprova com rapidez leis que ameaçam a estabilidade fiscal e deixa paradas propostas para reorganização das contas públicas. Usa a tramitação de projetos de aumentos de gastos, a tal pauta-bomba, como forma de atacar o governo, e não é o governo que está ameaçando, mas sim o país como um todo. Há uma série de iniciativas polêmicas que avançam como o Código de Mineração, que dá mais poderes aos mineradores contra a lei ambiental; a proposta de dar ao Congresso o poder de definir a demarcação de terras indígenas, a que libera o uso de armas e cerceia o direito das mulheres.
Sexta Lei de Mirian – o estratagema da desqualificação institucional.
Este é mais manjado porque frequentemente utilizado como argumento econômico.
No caso, Mirian se vale do álibi Eduardo Cunha para desqualificar a lei.
Até pouco tempo atrás Eduardo Cunha era blindado pelo grupo para quem Mirian trabalha. Enquanto serviu, foi usado. E o que isso tem a ver com a Lei de Direito de Resposta? Nada.
Seria o mesmo que afirmar: enquanto os Marinho não esclarecerem sua participação na compra de direitos esportivos da CBF, tudo o que a Mirian escrever sobre economia deve ser colocado sob suspeita.
Se fosse apenas uma legislatura conservadora já seria uma infelicidade. Mas ela é pior que isso, porque as duas casas são comandadas por pessoas que estão sob grave suspeição. O pior caso é o do presidente da Câmara que dá explicações bizarras para justificar o dinheiro em contas na Suíça que afirmara não ter.
Sétima Lei de Mirian – utilize algum personagem fraco do setor que você pretende defender, para não parecer que está do lado dos fortes.
É recurso muito utilizado para justificar juros altos – não pode baixar senão vai prejudicar o pobre do pequeno poupador.
No seu artigo, Mirian sofisma para espantar a ideia de que a Lei do Direito de Resposta garante o fraco (o cidadão) contra o forte (a imprensa).
Este Congresso, assim constituído, aprova uma lei que ameaça os jornalistas. O maior risco é dos veículos menores, ou repórteres independentes que não tenham uma estrutura jurídica grande e rápida.
As maiores ações contra veículos menores partem da própria imprensa. Das sete ações que respondo, cinco são de jornalistas bancados pela estrutura jurídico das empresas nas quais trabalham, Abril e Globo. A sexta é de um Ministro, Gilmar Mendes, aliado da Globo. E a última é de Eduardo Cunha.
Quanto à Lei, o máximo que poderá ocorrer com veículos maiores e menores será publicar a reposta do atingido.
Oitava Lei de Mirian – use as crenças do seu oponente contra ele.
É uma livre adaptação de um dos princípios de Schopenhauer.
Use as crenças do seu oponente contra ele. Se o seu oponente se recusa a aceitar as suas premissas, use as próprias premissas dele em seu favor. Por exemplo, se o seu oponente é membro de uma organização ou seita religiosa a que você não pertence, você pode empregar as opiniões declaradas desse grupo contra o oponente.
Como Mirian aplica a Oitava Lei de Mirian:
Dilma diz com frequência que prefere uma imprensa crítica a uma imprensa silenciada, mas acaba de, com atos, desdizer o que diz. Não é a primeira vez que ela fala algo e faz o oposto. Agora, a presidente está sendo coerente com leis de inspiração bolivariana que vicejam em países como Venezuela, Equador e Argentina. O que nos resta é confiar que o Supremo Tribunal Federal, que revogou a Lei de Imprensa do governo militar, derrube mais esse atentado à liberdade de imprensa.
Nona Lei de Mirian – taxe a ideia a ser combatida como bolivariana, mesmo que ela seja inspirada nas democracias europeias.
TEXTO PUBLICADO NO SITE GGN, CLIQUE AQUI








domingo, 22 de novembro de 2015

ONU condena mortes de dois comunicadores no Brasil e pede mais proteção para profissionais da mídia

Foto: ONU/Sylvain Liechti

Escritório de direitos humanos da ONU para a América do Sul (ACNUDH) condenou em nota as mortes a tiros do radialista comunitário Israel Gonçalves Silva, em Pernambuco, e do jornalista e blogueiro Ítalo Eduardo Diniz Barros, no Maranhão. “Nos últimos anos, o Brasil vem aparecendo entre os países mais inseguros da região e do mundo para o trabalho dos comunicadores sociais”, disse o representante da ONU.
“Condenamos as mortes dos dois comunicadores e chamamos as autoridades a investigar e sancionar os responsáveis por esses crimes, para que fatos como esses não fiquem impunes”, afirmou o representante para América do Sul do ACNUDH, Amerigo Incalcaterra.
Juntamente com o manifesto de solidariedade com as famílias das vítimas, Incalcaterra expressou que a violência, intimidação e represálias fazem parte do dia a dia de muitos comunicadores sociais no país por conta de seu trabalho. Ele pediu às autoridades para adotar medidas efetivas para protegê-los.
“Nos últimos anos, o Brasil vem aparecendo entre os países mais inseguros da região e do mundo para o trabalho dos comunicadores sociais”, disse o representante regional. “O Estado deve adotar medidas urgentes para proteger a vida e a integridade física desses profissionais e reverter esse triste quadro”, expressou.
Incalcaterra pediu também para implementar a recomendação feita pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Brasil sobre a criação de um Observatório da Violência contra Comunicadores.
O representante relembrou que, em resposta a essa recomendação, o Escritório do ACNUDH na América do Sul produziu um projeto para estabelecer um órgão de pesquisa, proteção e prevenção da violência contra comunicadores e defensores de direitos humanos no país, apresentado a autoridades do governo brasileiro em 2013.
“Reiteramos a disposição do ACNUDH para cooperar com o Estado, com vistas a proteger os direitos dos comunicadores e defensores de direitos humanos no país”, disse Incalcaterra.
Fonte: ONU Brasil

sábado, 21 de novembro de 2015

O roteiro dos motéis do Rio de Janeiro, em 1952, segundo crônica de Antônio Maria publicada na Manchete

Desde os primeiros números, a Manchete caracterizou-se por oferecer aos leitores o texto observador de bons cronistas. Antônio Maria foi um deles. Na crônica abaixo - da seção Pernoite - ele faz o Roteiro da Niemeyer, rumo a São Conrado, Barra, Estrada das Canôas, então quase desertos, mas com os primeiros motéis a atrair amantes. Um retrato, quase uma fotografia, de uma época.


por Antônio Maria (*)
"Você começa a viagem no Hotel Leblon e vai indo pelo asfalto velho, cansado de tantos Circuitos da Gávea, de tantos automóveis em viagens de amor. Do lado direito, a pedra e à esquerda, o mar. Contam-se histórias de dezenas de suicídios e o caso mais comentado é aquele da moça inglesa, que caiu no mar, com automóvel e tudo, sem que alguém jamais soubesse do seu corpo ou mesmo pudesse garantir se foi suicídio ou desastre.
Uma ladeira brusca e, lá embaixo, o Colonial, lugar onde gente séria não vai, nome que senhora bem casada não ousa dizer. A faixa de asfalto é estreita e os carros que vêm em sentido oposto correm muito e não baixam os faróis. Cada curva é um susto e um risco de vida; e são dezenas de curvas fechadas, espremidas, que o guiador tem que fazer colado em sua direita, com o coração na mão, embora. de vez em quando, ponha a mão no coração da namorada.
Depois, a baixada, onde surgem, aos potes, os bares abandonados. com um garçon bem triste debruçado em cada balcão. A gente morre de pena do dono daquele lugar sem fregueses, às moscas, dia e noite. Mesas vazias, prateleiras empoeiradas e o garçon sonolento atrás do balcão, só para constar. No fundo, há um quintal enorme, cheio de automóveis e vinte ou trinta quartos, servindo a núpcias permanentes. Mesmo no auge da luta contra o amor ilegal e ambulante nunca mexeram com aqueles hotéis de fachadas comoventes. São os únicos lugares onde, sem o luxo de várias espécies de matrimônio, pode-se amar sem castigo.
E a estrada segue. Um clube de golf (jôgo de chatice histórica, disputado por quem tem boa pronúncia de inglês. Consiste em dar-se uma traulitada numa bola e sair-se, com uma porção de gente atrás, procurando onde a bola cai. Quem achar, ganha um prêmio, que varia entre jóias, relógios, bijuterias, etc...). Depois do clube, que ocupa um terreno enorme e inútil, uma igreja (e seria absurdo pensar que aquilo não seja uma igreja, uma vez que a tôrre, o sino, as portas ogivais e a cal externa são de igreja) e, defronte, mais um bar sem freguesia, porém com um terreno muito grande, no fundo, que o proprietário aproveitou para fazer pequenos apartamentos mobiliados e servir a quem esteja cansado ou quiser tirar uma pestana. Defronte, um vendedor de milho verde, assado e cozido, caldo de cana, jaca e bananas. À direita, começa a ladeira das Canôas, subida difícil, que matou um corredor francês e onde a maioria dos automóveis bate pino que é uma coisa louca.
Namorada recente é sempre convidada para ver a ponte suspensa - projetada, se não estamos enganados, por uma engenheira. Perto da ponte, param os automóveis, descem os namorados, debruçam-se na grade de ferro e dizem coisas assim: "que beleza! -  e dizer-se isto é obra do homem - as belezas naturais do Rio são incomparáveis - se eu fosse rico, faria uma casa aqui - quem olha muito pra baixo sente vertigem das alturas - você tem coragem de jogar-se daqui? - e se viesse um malfeitor? - dizem que o Drault tem uma casa lindíssima aqui perto - aquela luzinha, lá longe, é um navio - ihhhhhhhhh, eu devo estar toda despenteada e sem um pingo de baton"!
Subindo mais um pouco, acontece uma boite, a cujo proprietário a dupla Fernando Lobo e Paulinho Soledade ainda não vendeu nenhum show. Depois, o caminho segue, faz voltas de cobra e chega, subindo sempre, ao alto da Bôa Vista, lugar quieto, de longa história, a ser contada noutra oportunidade.
Você desce as Canôas e continúa, asfalto fora, em direção ao Joá, bar e restaurante de três andares, com vitrola daquelas automáticas, de bôlhas d'água, servindo tangos e boleros a pares tristes. Bebe-se whisky, cognac ou cerveja e o cheiro de fritura é muito forte, principalmente no térreo. O Joá fecha à meia-noite e não adianta a freguesia pedir para ficar mais um pouco. Desce-se, em seguida, outra ladeira cheia de curvas terríveis e surgem quatro hotéis discretíssimos. dos quais ninguém poderá pensar o menor deslize ou arranhão à moral cristã. Aí surge a ponte dos pescadores e são visto homens e mulheres de short, tomando barquinhos, ajeitando caniços, negociando camarões vivos, falando em robaletes. corvinas, bagres e lances de tarrafa. Ao lado, dois taboleiros com ostras e carangueijos. um vendedor de cachaça e outro de jaca-mole. É distinto perguntar, antes da cada ostra: 'estão frescas"? Nunca faltam duas ou três pessoas, que, sem boas ou más intenções, descrevem alguns envenenamentos provocados por esse molusco, acéfalo e hermafrodita, que vive encerrada numa concha bivalve. O vendedor não tolera a conversa e, para inocentar seu produto, conta o caso de uma moça que se curou de uma úlcera duodenal comendo três ostras por dia, em seu taboleiro.
Depois da ponte, há dois caminhos. O da direita leva ao Corsário, uma boite à base de tango argentino. O da esquerda conduz ao Dina Bar, com o mar de ondas malcriadas bem defronte. Aos sábados e domingos de tarde registram-se alguns afogamentos. Êsse restaurante, há uns tempos, foi famosos pelos seus camarões fritos. seus peixes cozidos, suas lagostas genuinamente pernambucanas e seus whisky de dose farta. Depois, construíram-se algumas dependências no quintal e os aluguéis dêsses aposentos começaram a render mais que a cozinha. Resultado: os camarões, os peixes e as lagostas não são mais aquêles.
Aí termina o roteiro Niemeyer. Há poucos lugares do mundo onde a semente do amor tenha proliferado tanto. Que Deus o conserve e abençôe os seus visitantes."

(*) Na reprodução do texto foi mantida a grafia da época

Abril fecha mais três revistas e demite jornalistas

por Clara S. Britto
A Abril sangra em praça pública, parodiando a famosa e cruel chamada de capa sobre Cazuza ("Cazuza, uma vítima da Aids agoniza em praça pública"), onde a Veja se incomodava com o fato de o cantor continuar fazendo shows apesar de sofrer os efeitos visíveis e perturbadores (para o hedonismo jornalístico dos autores da chamada e da matéria) da doença. Nessa semana, a editora anunciou o fechamento da Playboy, Men’s Health e Women’s Health. Mais jornalistas forma demitidos. A Abil já se desfez de cerca de 20 títulos, entre os que repassou para a Editora Caras ou incorporou a outros títulos e as revistas que encerrou definitivamente ou manteve no ar em versões digitais. A árvore, símbolo da Abril desde os tempos de Victor e Roberto Civita, perde - agora com os herdeiros -, suas folhas outonais.

Os tempos em que eu bebia o melhor vinho branco do mundo

Reprodução
Por ROBERTO MUGGIATI

Três prazeres entrelaçados: vinho, voo e música. Nos quatro verões consecutivos em que eu cobri para a revista Manchete o Festival de Jazz de Montreux – de 1985 a 1988 – a festa começava já na Sala VIP da Swissair no aeroporto do Galeão, Rio, código GIG (Galeão Ilha do Governador), tudo a ver com música – “gig” de “trabalho”, e Antônio Carlos Jobim, o nome do Aeroporto. Uma ironia póstuma, porque, numa de suas melhores frases de efeito, Tom dissera nos anos 60 que a saída para a música brasileira era o Aeroporto do Galeão.
Reprodução
Pois bem, Jobim ainda vivo – e em 1985 a Noite Brasileira de Montreux reuniu ele e João Gilberto, numa queda-de-braço sangrenta e memorável – viajámos eu e minha mulher, Lena: texto e fotos. Aflito, eu chegava horas antes do voo. Mas valia a pena. A espera, na Sala VIP da Swissair, era inesquecível. Ali degustei o meu primeiro “melhor vinho branco desconhecido do mundo.”
Pouca gente sabe que os vinhedos de Lavaux, nas encostas fronteiras ao lago Léman – olhando para os Alpes do outro lado do espelho d’água – foram tombados como patrimônio mundial pela Unesco. Lavaux, que foi matéria de capa do último suplemento “Paladar” do Estadão, fica bem próxima a Montreux. Ali, durante o festival de jazz, eu privilegiava os vinhos locais, saborosos e inencontráveis em qualquer outro lugar deste vasto mundo.
Minha amiga curitibana, pianista de jazz, Marília Giller, morou uns tempos em Montreux e afeiçoou-se a um certo Pinot Noir de Bex. (Acessei agora na internet, faz 14º em Bex, com pancadas leves de chuva.) Quando fui visitar Marília pela primeira vez em Curitiba, virei mundos e fundos para presenteá-la com esse tinto suíço – recorri até ao setor de importação de La Maison de Suisse, de Riô, nada feito. Tive de me contentar com um Pinot Noir argentino.
Leio agora em O Estado de S. Paulo: “Para a Unesco, a região de Lavaux tem vinhos de caráter único, além de cultura e cenários peculiares. A colheita na região de língua francesa da Suíça é ainda manual. E, mesmo hoje, os produtores fazem pausas durante o dia para, merecidamente, beber seu próprio vinho. Nenhuma máquina é autorizada a entrar nos vinhedos. A produção também repete praticamente as mesmas técnicas usadas por monges beneditinos desde o século  11. Não existe irrigação artificial e o uso de produtos químicos é limitado ao mínimo.”
Não por acaso, homens inteligentes e sensíveis como Charles Chaplin e Vladimir Nabokov escolheram viver seus últimos anos na região.  Brindemos então ao blanc das uvas Chasselas, tchin, tchin – Saúde!