terça-feira, 30 de abril de 2019

Facebook apoia jornalismo local e dará treinamento a veículos. Um dos objetivos é alcançar os chamados "desertos de notícias"


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É isso mesmo ? Há 40 anos, Stephen King previu em livro Donald Trump, Bolsonaro e o comediante que virou presidente da Ucrânia...


por Ed Sá 

Um livro de Stephen King, lançado em 1979, é agora considerado premonitório. Um dos personagens de "A Zona Morta" é um empresário impiedoso que se torna um político antissistema. Em campanha, o radical de direita Greg Stillson é visto como um palhaço, as pessoas não o levam a sério. Mas seu discurso, que parece não fazer sentido, se encaixa nas expectativas de milhares de pessoas e o torna uma ameaça política.

"A Zona Morta" virou filme em 1983, dirigido por David Cronenberg.

A imprensa americana comenta a "previsão" de Stephen King e associa o personagem à trajetória de  Donald Trump. O site Mashable acaba de fazer um podcast ficcional sobre o tema. No Brasil, como na Ucrânia, Greg Stillson pode ser visto como um avatar, respectivamente, de Jair Bolsonaro e de Volodimir Zelenski, este o comediante que acaba de se tornar presidente ucraniano.

Entrevista - Guina Araújo Ramos - "Sem a experiência do jornal e da revista, lá dentro, você nunca será um fotojornalista":


por Guina Araújo Ramos 
Há alguns meses, em meados de 2018, tive o prazer (e a honra) de ser entrevistado sobre minha experiência como fotojornalista no Rio de Janeiro, do final da década de 1970, na Bloch Editores (Manchete, Fatos & Fotos, Amiga etc), no correr dos anos 80 (no Jornal do Brasil e sucursais de Estadão, Folha, Veja, IstoÉ, Visão), durante a década de 1990 e até após o ano 2000 (empresas, como Shell, Furnas, Petros etc),  à época, assinando as fotos como Aguinaldo Ramos.

Falei também sobre o projeto de pesquisa A Foto Histórica (e suas histórias) no Brasil,
Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia 2010. E ainda sobre os livros, baseados no meu acervo fotográfico, que publiquei por Guina&dita (A outra face das fotos, Personagem cabal, Bonecos e Pretinhas) e sobre o blog [Os] Bonecos da [minha] História [no Fotojornalismo. 

Uma das imagens comentadas pelo autor. Leonel Brizola, 1982. Foto de Guina Araújo Ramos

A entrevista foi realizada por Thais Rizzo e colegas do curso de Jornalismo da FACHA como trabalho da disciplina do professor Geraldo Mainenti,  que, não por acaso, foi meu colega repórter na Manchete Esportiva e um tanto pelas ruas do Rio. Mestre em Comunicação Social pela PUC-RJ, Geraldo Mainenti é "Professor de Redação e Edição em TV, Projetos em TV,  Práticas em Mídias, 
Legislação em Comunicação,  Antropologia do Consumo e Orientação de TCC"  na Faculdade de Comunicação Hélio Alonso. A entrevista se deu no Espaço de Exposições do Buriti Sebo Literário.

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Mídia: vale tudo em nome da reforma da Previdência

por Flávio Sépia 
Os principais veículos da grande mídia atuam como um cartel de opinião. O atraso do país, a concentração de renda, a precariedade da saúde e da educação, o elitismo na política, entre outras travas nacionais, devem muito às oligarquias que controlam a comunicação no Brasil. Ao longo da história, parceiros do poder, tais empresários conservadores promoveram golpes e sustentaram ditaduras. Sempre que lhes interessou, investiram contra os mecanismos democráticos.

Essas impressões digitais da grande mídia estão na gênese e nas ações do atual governo. O site "Manchetômetro", do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública da Universidade Do Estados do Rio de Janeiro (LEMEP-UERJ) põe uma lupa sobre a cobertura jornalística de cinco veículos veículos (Folha de São Paulo, o Jornal  Nacional, da TV Globo, Estadão e O Globo) e analisa as tendências editorais em relação aos temas mais relevantes da política e da economia.

Por exemplo: a grande mídia é radicalmente favorável à reforma da Previdência e, para tanto, compromete a ética jornalística.

Você pode ver mais detalhes estatísticos no site LEMEP. O que se segue são nossas opiniões.

O engajamento das grandes corporações de comunicação no projeto de Jair Bolsonaro é visível em editoriais, no noticiário, nas análises e entrevistas pautadas que veiculam muito mais os argumentos favoráveis, "esquecendo" de apontar os defeitos. O recado dado pelos controladores da mídia é que em nome da reforma da Previdência, um acalentado projeto do ultraliberalismo, vale relevar temas como o "talibanismo" fundamentalista na educação, a ofensiva contra o meio ambiente, as conexões milicianas, a diplomacia da "guerra fria", compra de votos para aprovação da reofmra, a ameaça às liberdades individuais, as perseguições já anotadas e vale deixar pra lá até suspeitas de corrupção.

O país se desmancha rumo ao fanatismo e autoritarismo, mas se a reforma anda, então, tudo vai bem, essa é a estratégia em curso.

Ainda há espaço para articulistas convidados e independentes que chamam atenção para os avanços da direita radical, do anti-ambientalismo, das propostas de inspiração fascista e da teocracia, mas até esses parecem ameaçados. Veja no post abaixo as sombras que rondam a Folha de São Paulo, praticamente o único grande veículo que, até aqui, em quatro meses do novo regime, foi capaz de fazer matérias investigativas e trazer a público graves denúncias sobre "nova era".

Mídia: deu "lagarta" na Folha




por Luis Nassif (do GGN)

O impeachment foi o fator de coesão de grupos dos mais diversos, que tinham em comum o antilulismo. Completado o golpe, com a eleição do inacreditável Jair Bolsonaro, há uma perda de rumo total dos diversos grupos de oposição.

O momento seria de fortalecimento de um centro democrático, tendo como bandeira unificadora a volta da democracia. Em vez disso, cada grupo tratar de juntar forças em torno dele próprio, cada qual apostando em um pós-Bolsonaro e sem conseguir curar as feridas das batalhas anteriores.

É por aí que se entende as movimentações da Folha de S.Paulo, agora sob o comando de Luiz Frias.

O fim da coluna de André Singer, da coluna de 5ª feira de Jânio de Freitas e, ao mesmo tempo, o convite para que Hélio Beltrão Filho e Armínio Fraga sejam colunistas do jornal, é uma volta atrás na ideia de um jornalismo mais plural, como o dos anos 80 e 90. Demonstra o alinhamento total com o ultraliberalismo reunido em torno do Instituto Millenium e da Casa das Garças.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO GGN, AQUI

sábado, 27 de abril de 2019

Na Carta Capital: uma guerra nada secreta...


Mídia - a repercussão da entrevista de Lula, quem fez jornalismo e quem ficou emburrado e fingiu que não viu...

A hastag #FalaLula chegou aos trending topics mundiais do Twitter. Foi imediata a repercussão das entrevistas exclusivas que o presidente concedeu à Folha de São Paulo e ao El Pais.
Do ponto de vista da mídia brasileira, houve particularidades. O Jornal Nacional ignorou o maior acontecimento político do dia. O Globo de hoje, idem. O Estadão passou ao largo.
Pela transcendência do fato, que foi abordado pelas mídias internacionais, não vale o argumento de que o assunto era da concorrência. O Dia não escondeu. Alguns jornais regionais, como Estado de Minas e Correio do Povo registraram a entrevista nas primeiras páginas, discretos, mas registraram. O Globo preferiu destacar o caso da propaganda da Petrobras e uma matéria sobre os milhões de brasileiros que apenas ganham para sobreviver.  O Estadão bateu o bumbo da reforma da Previdência e deu maior espaço para os patinetes elétricos da polícia paulistana. Não repercutiram, não criticaram, não elogiaram e sequer foram saber a opinião de Bolsonaro e do governo sobre o assunto. Apenas, simbolicamente, acomodaram os glúteos sobre a notícia. Esses veículos deliberadamente abriram mão do jornalismo. Se essa decisão editorial caipira fizesse algum sentido, os jornais americanos teriam ignorado o Caso Watergate, que resultou de uma investigação exclusiva do Washington Post. 











Livro: a madame do Cartel conta como era a vida ao lado de Pablo Escobar

por José Bálsamo 
Para quem viu "Narcos", na Netflix, é uma boa dica conhecer Pablo Escobar segundo a mulher com que o chefão dividia a cama.
Escrito por Victoria Eugenia Henao, com quem ele se casou aos 26 anos, ela tinha apenas 15, "Sra. Escobar - Minha vida com Pablo" (Planeta), que será lançado no mês que vem, não traz revelações sobre o cartel já exaustivamente investigado. Victoria não participava da atividade do marido como "CEO" do tráfico. Mas vivia as tensões, as consequências, as fugas, sofria com as incontáveis amantes do marido e desfrutava de alguns prazeres. Um deles, colecionar obras de arte. As paredes das mansões do casal ostentavam Salvador Dali, Rodin e Botero, entre outros grandes artistas.
O livro expõe o cotidiano peculiar da família. Durante muito tempo, Victoria imaginou que o marido fosse apenas contrabandista. Até que, um dia, descobriu que ele era o chefe de uma multinacional do tráfico de drogas, organização extremamente violenta, responsável por centenas, talvez milhares, de mortes. Em um trecho do livro ela explica porque, apesar disso, não o abandonou. "Tudo por amor. É evidente que houve muitos momentos que me fizeram questionar se devia continuar ou não; porém, não fui capaz de deixá-lo, não só por amor, mas também por medo, impotência e pela incerteza, por não saber o que seria de minha vida e de meus filhos sem ele"

Personalidade do Ano está sem teto. Novaiorquinos não querem deixar Bolsonaro acordar na cidade que nunca dorme...



Um dos salões para recepções do Marriot Marquis:
hotel é pressionado para  não receber Bolsonaro.
Foto Divulgação
por Ed Sá 
Depois do Museu Americano de História Natural se recusar a dar um crachá para Jair Bolsonaro adentrar suas dependências, o Hotel Marriott Marquis está sob pressão para não sediar a cerimônia de entrega do título de Personalidade do Ano da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos ao presidente do Brasil.

O senador estadual democrata Brad Holyman, cuja área de atuação é Manhattan e, entre outras regiões centrais, a Times Square - onde fica o hotel, na West 46th Street com a Broadway - enviou carta ao presidente do grupo denunciando o inquilino do Planalto como "homofóbico perigoso e violento, que não merece uma plataforma pública de reconhecimento em nossa cidade".

Para Nova York, a organização privada Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos não tem tanta  importância, mas a diversidade que a metrópole se orgulha de praticar, sim. Daí a rejeição ao que Bolsonaro representa.

Os organizadores estão bobeando. Precisamente pelo seu multiculturalismo, Nova York tem points e tribos afins ao ideário de qualquer visitante. Não é difícil Bolsonaro acordar na cidade que nunca dorme e arrumar lugar para o regabofe, que está marcado para o dia 14 de maio. Basta ir ao Google. Há uma infinidade de organizações conservadores e de direita como White Nationalist, Atlah World Missionary Church, Anti-LGTB New York, Blood and Honor Social Club, Racist Skinhead, Radical Traditional Catholicsm, Pround Boys etc.

Talvez Bolsonaro nem se sinta à vontade no Marriot Marquis: o hotel tem uma política de inclusão e apoio à comunidade LGTB, que está devidamente representada entre seus funcionários.

Em último caso, pode descolar um apê no Airbnb.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Na capa da Veja: o homem que tira o sono do clã...


Revolução dos Cravos, 45 anos: Manchete viu Portugal renascer, com texto e fotos de Irineu Guimarães e Gervásio Baptista



Reprodução da revista Manchete. Edição 1171. 

No dia 25 de abril de 1974, a Revolução dos Cravos libertou Portugal de uma ditadura que remontava ao Estado Novo, dos anos 1930, comandado por Salazar.  O regime autoritário tinha inspiração fascista e sua polícia política, responsável, durante décadas, por milhares de prisões, torturas e assassinatos, foi treinada pela Gestapo.

O povo ainda comemorava nas ruas, em confraternização com as tropas de Otelo Saraiva e jovens capitães, quando a Manchete enviou a Lisboa a dupla Irineu Guimarães e Gervásio Baptista.  Como descreve o repórter, Lisboa, cidade considerada uma das mais mais tristes e cinza do mundo, despertou para a festa. Em cinco páginas, eles mostraram o dia seguinte da queda do regime e contaram a história, enquanto ela ainda se desenrolava, que o povo português contava nas ruas sobre o seu país que renascia.

Bolsonaro ficou irritado com esse anúncio? Então vamos compartilhar...


por Flávio Sépia 

Fintechs são empresas de que prestam serviços financeiros. Smartphones e computadores são suas "agências", apps são seus "gerentes", esses novos "bancos" usam tecnologia de ponta e empréstimos, investimentos, movimentação de cartões de crédito etc, e tudo é resolvido de forma prática e rápida. 

É um mercado que cresce exponencialmente, principalmente entre os jovens.

O Banco do Brasil, que está entrando nesse nicho promissor, encomendou à WMcCann uma campanha dirigida ao seu público-alvo. O comercial é estrelado por atores e atrizes com visual moderninho, tem negros e negras, jovens tatuados, cabeludos etc. Ou seja diversidade demais para as estranhas cabeças do atual inquilino do Planalto e suas facções. Bolsonaro teve um piti, seu staff de aiatolás ficou nervoso e a ordem foi tirar do ar a peça que já estava há duas semanas rolando na TV e redes sociais. 

O resultado da censura é que o anúncio ganhou enorme repercussão, virou case nacional.

VEJA O ANÚNCIO "CAPRICHE NA SELFIE" DO BANCO DO BRASIL, AQUI

terça-feira, 23 de abril de 2019

Botando ordem no pub: americano só entra acompanhado de um adulto





por Jean-Paul Lagarride 

Essa placa faz sucesso em Londres. Quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, um pub em Clerkenwell achou melhor condicionar a presença de americanos à companhia de alguém mais responsável. Afinal, quem foi capaz de votar no magnata precisa de supervisão permanente., além de acompanhamento médico.

Já no governo, Trump não parou de dar motivos para a tutela e a placa nunca mais foi retirada. Virou atração para fotos e selfies dos turistas.

O pub ainda não foi avisado que deve barrar certos brasileiros...

Cinema Brasileiro se destaca na seleção oficial do Festival de Cannes 2019. No Brasil, sofre ataque do governo

por José Bálsamo 

Com o país praticamente estagnado e rendido à obsessão pela reforma da Previdência, o governo Bolsonaro, a exemplo do que fez Fernando Collor em 1990, paralisa a indústria do cinema brasileiro e a produção de séries que geram milhares de empregos.

A Ancine acaba de suspender todos os repasses para o setor de audiovisual.

Pôster oficial do Festival de Cinema de Cannes homenageia a cineasta Agnès Varda, que morreu em março, aos 90 anos. 

Isso no momento em que o Brasil tem presença destacada no Festival de Cinema de Cannes, que será realizado de 14 a 25 de maio: "Bacurau" de Juliano Dornelles e Kleber Mendonça disputa a Palma de Ouro; O cearense Karim Aïnouz concorre na mostra "Um certo olhar", com “A vida invisível de Eurídice Gusmão”; "O Traidor", coprodução brasileira dirigida pelo italiano Marco Bellocchio, também concorre à Palma de Ouro; “Sem seu sangue”, da carioca Alice Furtado, está na Quinzena dos Realizadores; e o brasileiro Rodrigo Teixeira é o produtor “The lighthouse”, do americano Robert Eggers, também escalado para a Quinzena dos Realizadores. .

"Brasileiro de coração", o ator Vincent Cassel anuncia o nascimento da filha Amazonie





O casal na Bahia. Reprodução Instagram
por Clara S. Britto

Vincent Cassel, que já morou no Rio, além de ter participado de vários filmes realizados aqui, anunciou no fim de semana o nascimento, em Paris, de sua filha com a modelo Tina Kunakey.

O casal deu à menina o nome de Amazonie.

Uma bela homenagem, no momento em que o governo brasileiro coloca a Amazônia em risco.

Cassel tem mais duas filhas, Deva, 14 anos, e Léonie, 8, do seu casamento com a atriz Monica Bellucci.

Vincent Cassel se considera "brasileiro de coração", frequenta Búzio e o Rio e tem casa em Trancoso.

Escultura em Berlim mostra políticos ainda discutindo a aquecimento global... quando o tempo já passou

Escultura em Berlim, de Issac Cordal, mostra políticos ainda discutindo o aquecimento global. Reprodução Twitter

por Jean-Paul Lagarride 

O Acordo de Paris sobre mudanças climáticas foi assinado em dezembro de 2015. Na ocasião, quase 200 países se comprometeram a reduzir emissões de gases que provocam o Efeito Estufa que impacta o clima no planeta.

Apesar de estudos apontarem que é mais vantajoso e barato cumprir o acordo do que não fazer nada e ter que remediar futuramente a um preço de US$ 20 trilhões, muitos políticos desdenham do aquecimento global.

A ascensão da direita radical em muitos países tem prejudicado o engajamento antipoluição. Os Estados Unidos, o maior poluidor do mundo, por exemplo, se retiraram do Acordo de Paris. O Brasil ameaça fazer o mesmo formalmente. Na prática, recentes medidas administrativas internas que desprezam as políticas de meio-ambiente mostram que o atual governo já se afastou do compromisso.

Relatório da ONU indica que a maioria dos países não está cumprindo as etapas previstas e vai precisar triplicar os esforços para alcanças as metas até 2030. Cada ano perdido custa vidas.  O cumprimento do tratado pode salvar cerca de um milhão de vidas por ano até 2050 (a poluição do ar mata 7 milhões de pessoas em todo o mundo, todos os anos, e custa cerca de US$ 5,11 trilhões.

A escultura acima é do artista Issac Cordal, especialista em street art miniatura, e fica em Berlim. A cena é um terrível prenúncio: governantes ainda discutem a questão do clima, em futuro não muito distante.

O tempo passou na janela...

Poster da turnê da banda Dead Kennedys saúda o "Rambozo" carioca e pede passagem...


por Ed Sá 

A banda é punk, é dos anos 1970, nasceu na Califórnia, mas os produtores da turnê brasileira do Dead Kennedys parecem antenados com o momento. O pôster promocional dos shows - eles se apresentam no Brasil em maio - sugere um resumo da "fecalidade" nacional. 

O cartaz criado pelo ilustrador Cristiano Suarez mostra uma família vestida de palhaço Bozo em um cenário carioca. Mas fique ligado nos detalhes: o clã está armado, usa a camisa da seleção, agora uniforme da direita enfurecida, no escudo levam a cruz evangélica, ao fundo aparecem explosões, favelas em chamas e os tanques rolam sobre um rio de sangue portando um sugestivo estandarte na boca dos canhões.

Ao G1, os divulgadores informaram no cartaz não há ligação com figuras políticas brasileiras e o palhaço é referência a uma das músicas do Dead Kennedys: "Rambozo, the clown".

A justificativa está dada. Mas a versão é melhor do que o fato.

domingo, 21 de abril de 2019

Mídia: o jornalismo e o "jornalismo"...



Comparar as duas primeiras páginas de dois dos principais jornais brasileiros, hoje, diz muito sobre o jornalismo ou a falta dele.

A Folha foi atrás da notícia. O Globo optou por produzir sua própria "notícia", na forma da pesquisa que encomendou a uma instituição comprometida com a reforma da Previdência, bem de acordo com o figurino que o jornal veste.

Embora defenda a reforma, a Folha de São Paulo cumpre seu papel e denuncia a decisão nada democrática do governo federal de esconder dados e pareceres que  embasam o controvertido projeto.

É revelação grave. Impedir que a sociedade conheça esses levantamentos é um estelionato moral e ético. O governo mostra que teme a transparência.

Já O Globo não nega que está engajado em intensa campanha pela aprovação da reforma da Previdência. E não se deve negar coerência ao jornal carioca. Ao longo do tempo, O Globo combateu ferozmente a instituição do salário mínimo, a aprovação do 13° salário, a CLT, de um modo geral, qualquer iniciativa de reforma agrária, o programa educacional Cieps, a Lei de Cotas, o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida etc.

A primeira página de hoje é um espelho dessa ojeriza editorial a programas de cunho social. O jornal usa pesquisa feita a seu pedido pela Confederação Nacional do Comércio, entidade patronal que faz parte do lobby empresarial também engajado pela aprovação do projeto. O conjunto da página - título+texto+foto - induz os leitores a colocarem os aposentados como os vilões do problema. A foto em destaque na primeira página mostra um alegre grupo de supostos inativos em doce lazer. Nenhum deles é identificado, nem mesmo se são aposentados básicos do INSS, a razão da reforma. Nas páginas internas, a reportagem aborda aposentados civis de baixa renda em pequenas cidades. O jornal critica as aposentadorias precoces, mas curiosamente entrevista cidadãos e cidadãs de 67 anos, de 74 e até de 83 anos. Não localizou nenhum "marajá" de 50 anos que viva dos benefícios privados do INSS "raiz" até porque não existem.

Provavelmente O Globo e a pesquisa encomendada não se interessaram ou esqueceram de localizar e entrevistar na pequenas cidades do interior aposentados de farda, juízes, desembargadores, altos funcionários, deputados e senadores ou outros inativos de alta renda. Talvez estes estivessem passando a Semana Santa em Miami. Assim como a conta dos segurados do INSS, o custo desses inativos vai para o caixa do mesmo tesouro público. Com uma diferença: custam muito mais do que Dona Claudete, "Seu" João Francisco e Dona Alaíde, os velhinhos da matéria apontados como a causa do apocalipse das contas públicas e que não fazem parte do alegre grupo da caminhada flagrado na primeira página.   

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Parque suspenso homenageará Marielle Franco em Paris

Simulação do Jardim Marielle Franco em Paris. Reprodução RFI (link abaixo)

A notícia está no br.rfi (site da Rádio França Internacional). Um jardim público no topo de um hotel em construção ao lado da Gare de l'Est será a homenagem que a prefeitura de Paris fará a Marielle Franco, a vereadora assassinada pela milícia no Rio de Janeiro.

O espaço deverá ser inaugurado ainda este ano e fica na região central da cidade. Marielle Franco foi morta junto com o motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018.

Quanto ao governo do do Estado do Rio de Janeiro, a prefeitura da cidade ou mesmo o governo federal brasileiro, não há qualquer previsão de homenagem semelhante em espaço público.

Surpresa !

Instagram
por Clara S. Britto
A intenção foi boa. Os filhos de Victoria Beckham, a glamourosa sra. David Beckham, acordaram a ex-Spice Girl às seis horas da manhã para dar os parabéns pelos seus 45 anos.

Claro que a mama deve ter adorado, mas a primeira reação não foi de likes e kisses.

A foto da estilosa, em raro click sem maquiagem, viralizou nas redes sociais.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Airbnb: não sorria você pode estar sendo filmado...

O site da Época ensina como procurar por câmeras escondidas nos quartos do Airbnb. A matéria traduzida da Slate repercute didaticamente notícia sobre um hóspede da Nova Zelândia que encontrou uma câmera escondida em um detector de fumaça e não mencionada pelo proprietário. São provavelmente ocorrências raras, segundo a reportagem, mas não é a primeira vez que usuários do aplicativos encontram dispositivos de gravação em apartamentos ou casas alugados. Também já houve casos de localização de dispositivos em hotéis convencionais.

Segundo as normas do Airbnb, anfitriões devem avisar aos hóspedes sobre a existência de câmeras nos ambientes. Em todo caso, uma boa prática é utilizar aplicativos que fazem varreduras na rede wifi dos imóveis alugados. Ou realizar uma busca visual, embora menos eficiente: objetos como lâmpadas, bichos de pelúcia, relógios de parede, falsos carregadores, falsas garrafas de vinho, detectores de fumaça e espelhos podem camuflar câmeras. Um método prático é lançar um foco de luz de lanterna ou do próprio celular sobre objetos suspeitos. Por mais disfarçada que seja, a lente da câmera deve estar aparente e vai emitir reflexos. 
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Mídia: liberdade em risco



(do DW)

O Brasil, a Venezuela e a Nicarágua são os países latino-americanos onde a liberdade de imprensa piorou em 2018, segundo a classificação anual divulgada nesta quinta-feira (18/04) pela ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), que também alerta para a situação ruim no México e em Cuba.

Na 105ª colocação, o Brasil caiu três posições em relação ao ano anterior e está localizado perto da "zona vermelha", assim como a Venezuela e outros países onde a situação é "difícil" para a imprensa, como Burundi, Iraque e Turquia.

A deterioração do Brasil responde a um ano "particularmente agitado", com o assassinato de quatro jornalistas e a crescente fragilidade dos profissionais independentes que cobrem temas ligados à corrupção ou ao crime organizado, afirmou a ONG.

Para a RSF, a eleição do presidente Jair Bolsonaro, após uma campanha marcada pelo discurso do ódio, desinformação e desprezo pelos direitos humanos, "marca um período sombrio para a liberdade de imprensa" no Brasil.
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Na capa da Época: tempos sombrios...


quarta-feira, 17 de abril de 2019

Notre Dame: Empresas e famílias fazem doações milionárias para reconstrução da catedral. Mas adivinhe quem pagará a maior parte dessa conta? Ele mesmo, o contribuinte francês.

Notre Dame: o dia seguinte. Foto de Christophe Belin/Prefeitura de Paris



As chamas que consumiram parte de Notre Dame ainda ardiam quando milionários franceses passaram a anunciar doações astronômicas para a reconstrução da histórica catedral. Ainda perplexo, o mundo bateu palmas. E não podia ser diferente. Notre Dame é tesouro mundial e não apenas da França.

No Brasil, logo comparamos a extrema benevolência dos ricaços parisienses e grupos corporativos com a monumental avareza dos equivalentes brasileiros no caso do incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

Passado o choque inicial, a mídia francesa começa a revelar fortes interesses fiscais na atitude dos abonados que abriram os cofres. Ocorre que até dois terços do valores anunciados vão ser pagos pelo contribuinte francês. As doações são dedutíveis em 60%, para empresas, e 66% para pessoas físicas. Apenas uma família, os Pinault, os primeiros a anunciar uma doação de 100 milhões de euros, decidiu renunciar à vantagem fiscal. E há leis locais que até ampliam em alguns casos os limites da dedução.

Antes mesmo do incêndio de Notre Dame, a filantropia como brecha fiscal já era uma polêmica na França. Algumas matérias da Forbes, Francetvinfo, Agoravoz, Sputnik News, Le Parisien, entre outros meios, perguntam se os milionários são mesmo generosos e quanto suas doações vão custar aos cofres públicos. E concluem que os bilionários fazem a boa ação com dinheiro do contribuinte.

Além do benefício fiscal, usufruem da boa publicidade gratuita, a imagem é favorecida e até os efeitos políticos das doações não são desprezíveis. Alguns grupos doadores, aponta a mídia, se habilitam a participar das lucrativas obras de reconstrução da catedral.

Então, faça o seguinte: ao ler que os grupos Bouygues, LVMH, Total, Lagardère, entre outros, doaram 100, 200, 50 milhões de euros , lembre-se do contribuinte francês comum no meio daquela multidão que assistia entristecida a destruição de Notre Dame: a maior parte dessas doações sairá do bolso dele.

Fotomemória - Serão as elites comunistas? O que Luiz Carlos Prestes diria sobre isso? Por Guina Araújo Ramos

Rio, 1980: Sozinho, Prestes deixa a sede da Polícia Federal após depoimento. Ele embarca em um Fusquinha, o táxi da época. A simplicidade da imagem contrasta com o séquito, as caravanas, os jatinhos e o exibicionismo policial em torno do depoentes atuais. Foto de Guina Araújo Ramos

por Guina Araújo Ramos (do blog Bonecos da História) 

Em vídeo que viralizou na Internet, o atual Ministro da Educação, Abraham Weintraub, surpreendeu todo o Brasil com uma declaração bombástica: ”Os comunistas estão no topo do país. Eles são o topo das organizações financeiras; eles são os donos dos jornais; eles são os donos das grandes empresas; eles são os donos dos monopólios".

Realmente, para alguém que tenha vivido (ou se informado sobre) as últimas décadas da História do Brasil, parece difícil perceber alguma verdade nesta afirmação. Logo me lembrei de histórica personagem do movimento comunista no Brasil, que batalhou por múltiplas causas políticas no correr de praticamente todo o século XX, e fiquei tentando (mas não fui capaz de) imaginar o que Luiz Carlos Prestes diria disso...

Tentando entender o momento atual, acabo de encarar a maratona de leitura da sombria trilogia “Os Subterrâneos da Liberdade”, romance memorialista de Jorge Amado, formada pelos livros “Os ásperos tempos”, “Agonia da noite” e “A luz no túnel” (e nem este título alivia o terror que foram aqueles tempos). O autor faz um balanço da ditadura do Estado Novo e descreve a situação desesperadora dos militantes comunistas, perseguidos e torturados pelas forças policiais, ao mesmo tempo que explorados como força de trabalho pelos grandes proprietários, em indústrias e latifúndios. Ao fundo das cenas, além de Getúlio Vargas, se equilibrando entre fascistas alemães (e seus apoiadores integralistas) e imperialistas americanos (e seus sócios da burguesia local), estava todo o tempo a figura de Prestes, o mais importante preso político da época.

Com o fim do Estado Novo, Prestes foi anistiado em 1945, eleito senador pelo Rio e deputado constituinte (assim como o próprio Jorge Amado), vivendo um momento de liberdade que durou apenas até a “redemocratização” do país cassar tanto o partido quanto seus parlamentares...
Mais uma vez perseguido pela ditadura de 1964, Prestes manteve-se na clandestinidade até 1971, conseguindo então sair do país, para se exilar na antiga URSS.

Rio, 1979. Prestes volta do exílio e desembarca no Galeão. O líder comunista fala à multidão,
que reunia delegações de vários estados. Foto de Guina Araújo Ramos.

Prestes acena e agradece a recepção. Foto de Guina Araújo Ramos. 

Apenas no retorno do exílio, em 1979, tive oportunidade, é lógico, de fotografá-lo. E logo desde a chegada, ainda no aeroporto do Galeão (o hoje Tom Jobim), como parte de uma série de coberturas de retornos de exilados (incluindo Fernando Gabeira e Miguel Arraes) para as revistas da Bloch Editores, fotografando para a Manchete, sempre a cores, ou para Fatos & Fotos, em preto-e-branco.
A chegada de Prestes foi das mais concorridas, uma verdadeira multidão encheu o saguão do desembarque e se espalhou pela pista de acesso ao aeroporto, uma verdadeira aclamação.

A partir de 1980, agora pelo Jornal do Brasil, fazendo dupla com o repórter Carlos Peixoto, voltei a registrar os passos de Luiz Carlos Prestes. A princípio, acompanhando a maratona de intimações que sofreu uma delas em outubro, obrigado a comparecer à Polícia Federal, para prestar depoimentos em diversos processos, ainda dentro do quadro da ditadura de 1964. Ficou evidente que mantinha a postura altaneira, muito bem demonstrada na chegada do exílio, mas apresentou também, talvez por fidelidade às suas causas, grande simplicidade.Basta ver que, depois de horas de depoimento, e de ser acossado pelos jornalistas por longos minutos à saída, simplesmente deu alguns passos para um pouco mais distante da Polícia Federal do Rio de Janeiro, em direção à Praça Mauá, fez sinal para um táxi e lá foi ele embora em um fusquinha...

Na sequência da década de 1980, no correr dos eventos políticos em torno do governo João Figueiredo, que levaram ao fim da ditadura, Prestes volta à luta política, agora na legalidade. E resolveu apoiar, ainda que com ressalvas, a candidatura de Leonel Brizola ao cargo de governador do estado do Rio de Janeiro. Nesta campanha, fotografei Luiz Carlos Prestes em contato direto com os operários, a categoria central da classe social cujas causas, na condição de comunista declarado, sempre defendeu. Protegido por um boné em que se lia “Brizola na cabeça”, Prestes falou aos funcionários de estaleiros navais da Ponta d’Areia, bairro operário de Niterói. Apesar do apoio a Brizola na campanha de 1982, Prestes não se integrou ao seu governo, mantendo sempre postura crítica, com presença constante nas manifestações pela mudança do regime ditatorial. Foi já no governo Sarney, em 1986, que o fotografei pela última vez (em um frila para não sei mais que revista), em um evento na ABI, à frente de uma faixa que falava, muito justamente, algo como “o povo não vai pagar esta dívida”... 

Trazendo toda esta trajetória de vida política para este preocupante momento atual, quando novas formas de autoritarismo afloram e, como se percebe das falas de ministros e de outros políticos, há uma tentativa de fazer com que tanto conceitos como a própria História do Brasil sejam forçadamente reescritos, volto, um tanto espantado, à pergunta inicial: como Luiz Carlos Prestes, em outros tempos o Cavalheiro da Esperança, hoje em dia, se estivesse entre nós, ele que deixou como herança toda uma vida de luta contra as poderosas, bem como destruidoras, elites brasileiras, encararia estas inesperadas afirmações?

Afinal, as elites brasileiras (financeiras, midiáticas, empresariais, monopolísticas) são (ou serão) comunistas?

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Fotografia: o brasileiro Uesley Marcelino é um dos vencedores do Prêmio Pulitzer 2019.

Foto de Uesley Marcelino/Pulitzer Prizes/Reuters

O migrante hondurenho protege seu filho. A imagem foi feita quando uma caravana que tentava chegar aos Estados Unidos invadiu um posto de fronteira em Ciudad Hidalgo, na fronteira Guatemala-México, em outubro de 2018. Em meio ao tumulto, o drama de pai e filho. A foto é do brasiliense Uesley Marcelino e é vencedora do Prêmio Pulitzer 2019, na categoria Breaking News Photography. Entre outros veículos, ele trabalhou no Jornal de Brasília, na Istoé Gente e colaborou coma Folha de São Paulo. Desde 2010 faz parte do staff da Reuters International.

A foto de Uesley Marcelino foi premiada junto com outras imagens selecionadas entre o material da equipe da agência Reuters que cobriu o desespero e o sofrimento de milhares de pessoas que partiram da América Central rumo à fronteira do México com os Estados Unidos.

A notícia está no Catraca Livre 
e você pode ver mais detalhes no site oficial do Pulitzer Prizes.  AQUI

terça-feira, 16 de abril de 2019

Nova York: o museu que vetou Bolsonaro acolheu Frank Sinatra, Gene Kelly e as grandes coxas de Ann Miller

Frank Sinatra, Gene Kelly e Ann Miller e o "homem primitivo" (não, não é Bolsonaro) no Museu Americano de História Natural.

Performance de Ann Miller


por Ed Sá 

O Museu Americano de História Natural se recusou a receber Jair Bolsonaro. Não foi considerado histórico e muito menos natural que o presidente brasileiro cruzasse os portais da instituição fundada no fim do Século 19.

Cientistas , estudantes, pesquisadores e funcionários impediram a anunciada realização no local de um jantar de gala da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos em homenagem ao polêmico militar inativo escolhido "Personalidade do Ano". A rejeição baseia-se nas controvertidas posições do governo brasileiro em questões ambientais - agora oficialmente inimigo
declarado da preservação ambiental - e o discurso anti-científico do presidente. O abaixo-assinado chama Bolsonaro de "presidente fascista do Brasil", nostálgico da ditadura e que acaba de autorizar o uso, no Brasil, de 152 tipos de de pesticidas, muitos deles proibidos em vários países por provocarem câncer. Também são citadas no documento as ameaças à integridade da Amazônia e aos indígenas.

Para os signatários, a presença de tal figura seria "uma mancha na reputação do museu".

O museu que vetou Bolsonaro, por considerá-lo um predador da democracia, já recebeu militares mais amistosos. Acolheu, por exemplo, os marinheiros Gabey (Gene Kelly), Chip (Frank Sinatra) e Ozzie (Jules Munshin), além de catalogar uma preciosidade científica: as grandes coxas da atriz Ann Miller.

Lançado em 1949, o filme On the Town/Um dia em Nova York, codirigido por Gene Kelly e Stanley Donen, tem uma cena fabulosa que se passa em salões do museu.

PARA VER A CENA DE UM DIA EM NOVA YORK FILMADA NO MUSEU AMERICANO DE HISTÓRIA NATURAL, CLIQUE AQUI



Ann Miller em Kiss me Kate

PARA VER ANN MILLER EM CENA NO FILME KISS ME KATE/DÁ-ME UM BEIJO, CLIQUE AQUI

A minha Notre Dame • Por Roberto Muggiati

O fogo consome a estrutura de madeira do telhado da Notre Dame. Foto de Henri Garat/Prefeitura de Paris

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As chamas alcançam a base do pináculo construído por volta de 1250. Foto de Henri Garat/Prefeitura de Paris

A destruição dos andaimes e da torre. Foto de Henri Garat/Prefeitura de Paris

Tristeza nas margens do Sena e em todo o mundo. Foto de Henri Garat/ Prefeitura de Paris

Notre Dame, 1961. Foto de Domício Pedroso

Em 1961, morei seis meses – meio ano da minha vida – na Île de la Cité, a quinhentos metros da catedral de Notre Dame. Entrei poucas vezes na impressionante caverna gótica. Passava por ela com quem passa pela mercearia, pelo botequim da esquina. Eram os tempos de sexo, vinho tinto e jazz e eu vivia uma outra Paris.

Em novembro de 1961, o pintor curitibano Domício Pedroso, também excelente fotógrafo, fez um ensaio em que me retratou pelos locais mais boêmios de Paris: Saint Germain, o Jardin de Luxembourg, as vielas da rive gauche, o Sena dos buquinistas e, é claro, a Notre Dame. Guardo até hoje um book da minha Paris aos 24 anos que poucas pessoas possuem.

Um pequeno flash à frente: em novembro de 1962, já na BBC de Londres e voltando de uma viagem a Viena, paro em Paris para me encontrar com a namorada do ano anterior, uma atriz brasileira que morava num pequeno estúdio charmoso justamente diante da grande rosácea da Notre Dame, toda iluminada naquela noite de domingo. A jovem, uma sedutora patológica, me faz esperar enquanto toma, com ruídos sugestivos, um banho de banheira de espumas digno de Cleópatra. Com um copo de conhaque, contemplo por meia hora a rosácea sul. Saímos para jantar com o namorado da diva, um diplomata brasileiro trinta anos mais velho, e fechamos a noite com um cineminha no Champs Élysées, Uma rua chamada pecado – minha ex-namorada só faltava proclamar: “Blanche Dubois c’est moi!”

Um salto mais à frente: à meia-noite do Ano Novo de 1964/65, estamos em Paris, Lina e eu, encharcados de champanhe, diante da fachada monumental da Notre Dame, quando começam a cair os primeiros flocos de neve. Notre Dame me enganou e casei com Lina, um casamento errado que durou doze anos. Eu poderia culpar Notre Dame por esta falseta e, se fosse vingativo, exultar com a sua queda estrondosa. Velha igreja, testemunha impassível de meus fracassos amorosos. Mas sempre amei Notre Dame e sou incapaz de exprimir o que sinto agora por sua perda.

Talvez esta foto, em que apareço colado à grande catedral, diga tudo. Minha alma de pedra se foi em meio às chamas.

Sinceramente, desejava partir antes de Notre Dame. Agora terei de viver o resto da vida sem ela.