quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Roberto Muggiati escreve: Réquiem para Maria Schneider


Por ROBERTO MUGGIATI

Com 19 anos, a atriz Maria Schneider foi estuprada fisicamente por Marlon Brando e moralmente por Bernardo Bertolucci numa das cenas mais tórridas de O Último Tango em Paris.

Num vídeo de 2013, republicado por uma ONG espanhola em novembro, Bertolucci conta que a atriz Maria Schneider, na época com 19 anos, não sabia o que aconteceria na cena em que Paul, personagem de Brando, usa manteiga como lubrificante para sodomizar Jeanne.

A sequência é uma das mais famosas e polêmicas da história do cinema, e intensificou a censura ao longa no mundo inteiro. (No Brasil ele esperou dez anos para chegar às telas.) Maria Schneider nunca mais apareceu nua e, apesar dos muitos filmes que fez até morrer e câncer,  aos 58 anos, em 2011, só pontificou em outra obra, também de um diretor italiano: Profissão repórter (1975), em que contracena com Jack Nicholson. Drogas, tentativas de suicídio e a opção sexual por mulheres marcaram os anos conturbados que viveu depois de Tango.

A divulgação do “estupro” com manteiga revoltou a comunidade feminina do cinema, houve até quem pedisse que cópias do filme fossem recolhidas e incineradas.

Uma nota de pé de página tipicamente Panis sobre O último tango: a manequim e atriz de cinema brasileira Maria Lúcia Dahl – que foi capa da revista Manchete dezenas de vezes – foi escalada inicialmente para o maior papel de morta na história do cinema: o de Rosa, a esposa suicida de Marlon Brando. (Seu ex-marido, Gustavo Dahl, foi colega de Bertolucci no Centro Sperimentale di Cinematografia em Roma.) Mas intrigas de bastidores e política de alcova deram o cobiçado papel à atriz romena Veronica Lazăr – coincidentemente, casada com o ator Adolfo Celli, com quem teve dois filhos.

Ainda um comentário final: a trilha de O último tango seria composta por Astor Piazzolla. Na última hora, ele teve de se curvar a outro compromisso e Gato Barbieri entrou na parada, brilhantemente.

Reparem como o arcabouço da sua trilha tem a ver com a de Bernard Hermann para o filme de Hitchcock Marnie/Confissões de uma ladra. Mas de tudo isso restou uma canção de amor de Piazzolla para Brando e Schneider, Jeanne y Paul .
Ouçam
https://www.youtube.com/watch?v=Kw9zBuSZFSA

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