Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Da Revista Brasileiros 2017: A morte anunciada do jornalismo
(Da Revista Brasileiros)
Em momento marcado pela perda da credibilidade e pelo surgimento de novas plataformas, persistir no jornalismo de qualidade é fundamental para a defesa intransigente da democracia
por Daniela Arbex (para a Revista Brasileiros)
Este texto faz parte do especial 2017 x 24 – visões, previsões, medos e esperanças da edição número 113 da Revista Brasileiros, onde articulistas e colaboradores foram convidados a pensarem sobre o que e o quanto podemos esperar – se é que podemos – para nosso País no próximo ano.
A primeira vez que pisei em uma redação foi há 22 anos. Sempre digo que, das focas, eu era a mais otimista, porque acreditava que, através da reportagem, conseguiria mudar o mundo ou, quem sabe, em escala menos superlativa, a minha aldeia. Durante todos esses anos, experimentei – no melhor estilo Gabriel García Márquez – a paixão insaciável pelo jornalismo.
“Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte”, afirmou Gabo, na mais precisa descrição que conheço sobre este ofício.
Por ser o jornalismo uma escolha que mobiliza o nosso desejo como poucas, é difícil digerir a crise que se abateu nas redações do País. Como diria Laurentino Gomes, nunca a morte de uma carreira foi tão anunciada quanto a nossa. Os pessimistas de plantão se apressariam em dizer que estamos com os dias contados, principalmente diante do esvaziamento do noticiário e das redações, da perda de credibilidade e da mudança de modelo de negócios fomentada pelo meio digital. Na prática, ainda não se sabe quem vai pagar a conta das transformações impostas pelas novas tecnologias.
A boa notícia é que os novos formatos da notícia não dispensam o conteúdo de qualidade. Significa dizer que a velha e boa apuração continua em alta, bem como o necessário compromisso com a coletividade, o confrontamento de informações, o ideal permanente de contar histórias e de transformar escuta em escrita.
Há muito deixei de ser foca, mas jamais abandonei a crença que alimentava desde os tempos de faculdade sobre a importância deste ofício. Independentemente das mudanças que ainda estão por vir, o jornalismo de qualidade é a ferramenta fundamental para a defesa intransigente da democracia.
Aliás, neste momento de crise, o investimento em conteúdo torna-se essencial para que se consiga dar voz aos socialmente mudos e para ajudar a construir a memória de um Brasil desconhecido pelos próprios brasileiros. É uma questão de fundo, pois fazer bom jornalismo, em qualquer plataforma, exige tempo, recursos, checagem exaustiva dos dados e, por que não dizer?, o resgate da credibilidade da nossa função.
Precisamos repensar o papel da profissão diante da nova ordem social e dos equívocos cometidos por uma imprensa partidária e ineficiente. A busca por novos formatos para a produção de conteúdo de qualidade me faz pensar que, apesar de tudo, há vida longa para o jornalismo.
*Daniela Arbex é jornalista, autora do livro Cova 312, melhor livro-reportagem no Jabuti 2016, e de Holocausto Brasileiro, melhor livro-reportagem pela APCA em 2013. É também diretora do recém-lançado documentário Holocausto Brasileiro
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