domingo, 30 de agosto de 2020

Brasil 171: New York Times liga o ventilador

 


O New York Times joga mais um latão de lama na famiglia que manda e desmanda no Brasil. A página manchada não é coincidência. O tema da matéria? Corrupção galopante. Entre outras evidências dos nebulosos family business, o jornal faz a pergunta que ecoa no mundo: por que raios a primeira dama recebeu 89 mil bufunfas do investigado Fabrício Queiroz? Donald Trump, que tenta reagir um uma campanha eleitoral complicada e tem seu nome frequentemente associado ao Bozoroca, deve estar "feliz" por ver o "amigo" mais enrolado do que papel higiênico.

Leilão do ano: martelo vai bater sobre obras de arte que pertenceram ao Museu Manchete de Arte Moderna Brasileira. Credores trabalhistas esperam que a renda reverta para pagamento de indenizações e correção monetária.

Reprodução O Globo, 30/8/2020

O Globo de hoje, nos prestigiados coluna impressa e blog do jornalista Lauro Jardim, publica uma nota importante não só para o mercado de arte como para os ex-funcionários da Bloch. 

Finalmente, serão leiloados neste setembro pinturas esculturas que pertenciam à empresa falida e faziam parte do acervo do Museu Manchete. O leilão ainda não foi divulgado, não se sabe o motivo. A nota na coluna do Lauro é a primeira que noticia a venda das obras em hasta pública. 

A realização do leilão é positiva para os ex-funcionários porque abre a possibilidade de pagamento de parcela há anos atrasada da correção monetária devida aos credores trabalhistas e para a própria Massa Falida, que era obrigada a bancar custo mensal de altíssimo valor para guarda do acervo. 

Portanto, compartilhe e divulgue  esse post. 


Na reprodução (do livro que reúne as obras de arte do Museu Manchete), a obra Sombra Projetada (1968), de  Frans Krajcberg, a que Lauro Jardim se refere na nota do Globo. O imenso painel ilustrava uma das paredes do saguão do prédio da Manchete na Rua do Russell.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Lairton Cabral: lá-áá, lá-áá, nosso viajante-mor da Alfa Bravo... • Por Roberto Muggiati

Redação da Manchete, 6 de outubro de 1977, meus quarenta anos comemorados com champanhe francês. O tipo de mix que só a Bloch sabia reunir: Aloisio Neves, preso recentemente na Operação Quinto do Ouro; Wilson Cunha, chefe de redação e crítico de cinema; eu, editor da revista Manchete; Lairton Cabral, o factótum do império de comunicação da Bloch; e o Marechal, chefe dos contínuos e espião-mor de Adolpho Bloch, incluído nos anos 50 na lista dos dez homens mais elegantes do Rio de Janeiro do Ibrahim Sued.


Durante anos, eu ligava para o Lairton Cabral no dia 5 de outubro e lhe desejava um Feliz Aniversário. Confesso que fiquei um pouco relapso depois da falência da Bloch em 2000. Ele, não – me telefonava religiosamente todo 6 de outubro. A sucessão dos librianos na Manchete começava no dia 4 com George Gurjan, passava por Lairton, por mim e prosseguia com Vera Gertel (7), Adolpho (8), Jaquito (10), Jader Neves (13), Murilo Melo Filho (14). Alberto – nosso humorista-mor – desguiava para Escorpião em 28 de outubro e a lista fechava com Oscar Bloch Sigelmann em 1º de novembro – reparem, estes 28 dias incluíam o Círculo do Poder, que Adolpho chamava a Troika: ele, o Oscar e o Jaquito. 

Colado ao chefe, como a fiel secretária Marta, Lairton tinha, entre suas múltiplas funções, a de “tirar” passagens aéreas para deus-e-todo-mundo. A certa altura da década de 1960, a Editora Abril simplificou o problema das viagens dos funcionários criando uma agência de turismo própria: não só minimizava seus custos, como faturava com as viagens dos outros. Ao longo das décadas, Lairton continuou sendo a agência-do-eu-sozinho da Bloch e imaginem a imensidão de suas responsabilidades quando, a partir de 1983, a empresa ampliou suas atividades com a Rede Manchete de Televisão. Isso incluía megacoberturas como as Olimpíadas e as Copas do Mundo, além de outras movimentações de reportagens e dramaturgia. A novela Pantanal, recorde de audiência histórico, foi toda filmada no Mato Grosso. A novela Brida, inspirada no romance de Paulo Coelho, teve suas sequencias de abertura todas filmadas na Irlanda. E lá ficava o Lalá até a meia-noite colado ao telefone na caixa de cristal do Russell. 

Ao contrário da Abril, que privilegiava a “cultura do memorando”, na Bloch tudo se fazia pelo telefone. A atuação empresarial de Adolpho Bloch acontecia no reduzido espaço de poucos centímetros quadrados da mesa da secretária Marta, onde o capo apoiava o cotovelo, comandando: “Ligue pra Fulano!” “Telefone para Sicrano” “Me chama aquele cagalhão de Lucas!” 

Lairton também ganhava seu dia de lápis e papel na mão e fone colado ao ouvido durante sua longa jornada. Conhecia oralmente todos e todas as agentes e recepcionistas de companhias aéreas do país. Alguns – algumas – eram relações de anos e tinham adquirido até certa intimidade. Lalá era mestre no jargão do metiê. Sabia usar o Alfabeto Fonético como poucos. Ironicamente, ao requisitar uma passagem para o chefe – que estava geralmente por perto – baixava o volume de voz: justo o nome do desafeto aparecia duas vezes no de Adolpho. “A de Alfa, D de Delta, O de Oscar, P de Papa, H de Hotel, O de Oscar.” 

Às vezes o visitante desavisado ao gabinete do Presidente – entrava quem queria, à hora que queria – topava com uma situação insólita: Adolpho Bloch de calças arriadas recebendo no glúteo uma injeção aplicada por Lairton, que, entre outras coisas, tinha noções de paramédico.

Há dois ou três meses, Lalá me ligou, com a voz lépida e fagueira de sempre: “Muggi, estou fazendo sessenta anos... de casamento. Casei mocinho, eu tinha vinte e três anos,” Contestei a aritmética do amigo: “Peraí, Lalá! Há sessenta anos você tinha vinte e dois. Em outubro nós vamos fazer oitenta e três!” 

A tergiversação quanto à data tinha já um ar premonitório. Não vou poder mais desejar Feliz Aniversário ao Lairton no próximo cinco de outubro, Nem receber dele as felicitações no dia seguinte, Mas, de uma coisa estou certo. Recitando o Alfa-Bravo como só ele sabia, embarcou numa bela viagem de primeira classe...

sábado, 22 de agosto de 2020

Lairton Cabral: um amigo que se despede

 


Lairton Cabral 


por José Esmeraldo Gonçalves

Dez entre dez jornalistas que passaram pela Bloch viram, em algum momento, essa imagem, ao vivo. 

Lairton Cabral na sua sala do oitavo andar do prédio da Rua do Russel, ao telefone. 

Lalá, como era carinhosamente chamado nas internas da Manchete, tinha multifunções executivas junto à diretoria da empresa, mas para as redações era o eficiente "agente de turismo" que marcava as passagens aéreas das equipes de reportagem, reservava hotéis e transportes locais. Não era pouco trabalho para atender à rotina de cerca de 20 revistas. Uma publicação como a Desfile cobria as semanas da moda em Paris, Milão e Nova York e, além, disso, pelo menos uma vez por ano, levava à Europa repórteres, fotógrafos, modelos e produtoras para edições especiais de coleções de verão. A Manchete, que investia regularmente em viagens internacionais ou pelo Brasil, tinha as grandes coberturas fixas, do tipo Copas do Mundo, Olimpíadas, Copa América etc que mobilizavam comitivas numerosas, muitos deslocamentos e até roteiros imprevistos determinados pelos resultados esportivos. Problemas que  pousavam na mesa do Lairton e de lá decolavam perfeitamente resolvidos. 

Quando a Bloch instalou a Rede Manchete, Lairton assumiu, com a calma de sempre, as intensas demandas logísticas da TV. Ele chegou à empresa em julho de 1968, vindo da antiga Panair, para secretariar as redações. Com o tempo, ganhou novas funções próximas à "sala de crise", de Adolpho Bloch e Pedro Jack Kapeller, onde paravam as mais diversas situações em busca de soluções. 

Na coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), Lairton recordou um desses casos. 

"Adolpho era um homem de objetivos e movia mundos para alcançá-los. Certa vez, ele convocou à sua sala o diretor de teatro Flávio Rangel e lhe pediu que fosse a Santiago do Chile para assistir ao musical Pippin, em cartaz na capital chilena. 'Quero montar essa peça aqui no nosso teatro. Dizem que é uma maravilha. Quero sua opinião", falou Adolpho. Espantado, Flávio, que para o governo militar era um subversivo perigoso, respondeu que não o deixariam viajar, ainda mais para o Chile, que abrigava exilados brasileiros. Nem passaporte ele tinha naquele momento. Adolpho limitou-se a dizer que 'dava um jeito'. 'Vamos lá em casa que eu verei o que posso fazer'. E lá fomos nós, Carlos Heitor Cony, eu, Flávio e Isolda. Um parêntese: Isolda, compositora e autora de um dos maiores sucessos de Roberto Carlos, a canção Outra Vez, trabalhava na Bloch e teria um papel-chave na história. Quem imaginava que Adolpho acionaria algum contato para conseguir a liberação da viagem de Flávio estava enganado: a reunião era para encontrar um meio criativo de driblar a proibição. Na época, Isolda era amiga de um inspetor de polícia e tinha algum conhecimento na área. Ficou resolvido que eu - sobrou para mim - faria o papel do general Antônio Faustino, então secretário de Segurança do Rio de Janeiro, e ligaria para a Polícia Federal pedindo que emitissem um documento de viagem para o diretor de teatro. O próprio Flávio, imitando voz feminina, e daquelas bem melosas, ligou para a PF, identificou-se como secretária do general Faustino e pediu que o delegado do setor aguardasse. 'O secretário de Segurança quer dar uma palavrinha', disse a "secretária". Flávio me passou o telefone. Tentei fazer uma voz amistosa mas autoritária e determinei ao delegado que naquele momento eu, o "general Faustino", estava autorizando a emissão de um documento para a viagem do diretor Flávio Rangel ao Chile, tratava-se de um assunto de importância para o governo. Em tempo de regime militar, embora a PF não fosse subordinada à secretaria de Segurança, palavra de general era, naturalmente, uma ordem. Antes de desligar o telefone, o "general" informou que Cony e Flávio, acompanhados da funcionária Isolda, estavam a caminho da sede da PF, na Praça Mauá, para apanhar com urgência o referido documento. 'Perfeitamente, general, está feito. Tenha uma boa tarde', respondeu o solícito delegado. O resto da história é conhecido. Flávio viu e aprovou Pippin. Adolpho comprou os direitos e montou o musical no seu teatro, no Edifício Manchete. A peça foi um sucesso e o general Faustino jamais soube do papel  fundamental e involuntário que teve na produção de um dos maiores musicais já exibidos no Brasil."

Lairton trabalhou na Bloch até agosto de 2000, data da dramática falência da editora. Jamais deixou de manter contato com os antigos colegas e não faltava aos almoços de fim de ano. Não faz muito tempo, já com a pandemia em curso, ele telefonou para vários amigos ex-Bloch, que sabia em quarentena, para saber notícias. 

Lairton faleceu no dia 18 de agosto, após complicações decorrentes de um coágulo no cérebro. À família, o nosso abraço de pêsames. Além das saudades, ele nos deixa as boas lembranças da sua competência, do companheirismo e integridade, do respeito com que tratava a todos igualmente, sem ligar para funções descritas em crachás. Tenho certeza de que para todos os colegas da velha Bloch foi um privilégio tê-lo como amigo. 

Que o Lalá descanse em paz. 

 


terça-feira, 11 de agosto de 2020

Memória do ridículo: micos em forma de capa...


Editores de revistas estão sujeitos a equívocos. Iludidos pela suposta popularidade de certas figuras e talvez por não ter outra opção de capa, acabam viajando na maionese e se rndendo ao ridículo. Tornam-se parceiros do vexame. Muitos, sem dúvida, gostariam de apagar das suas vidas profissionais tais vacilos. São capas que falam por si. O golpista Magalhães Pinto, o milionário de lamê, um conde perdido na Copa e a flor da virgindade. O Brasil era cafona mas divertido. 

Twitter falou e disse

Temer: a segunda catástrofe do Líbano

Como não bastasse a tragédia que sofreu, o Líbano é vítima de uma segunda catástrofe: a chegada de Michel Temer, investigado em cinco inquéritos por corrupção desembestada. 

Um suspeito investigado, Bolsonaro, nomeia outro enrolado, o aliado Temer, para representar o Brasil em visita de solidariedade. 

Deve ser sacanagem. 

Nas ruas de Beirute, os libaneses estão justamente protestando contra a corrupção. 

No mesmo voo de Temer segue o notório Paulo Skaf, presidente da não menos notória Fiesp, que é também denunciado pelo Ministério Público por recebimento de propina. 

Melhor o Líbano mandar um camburão para receber essa comitiva ficha-suja. 

Crivella quer terceirizar as praias...

O prefeito do Rio, o "bispo" Marcelo Crivella, não administra os efeitos da Covid-19, cuida mesmo é da reeleição. Liberou ambulantes, comércio em geral, permite que o transporte público diminua a frota e superlote ônibus, entra na justiça para obrigar as crianças a voltarem às aulas e jamais conseguiu controlar efetivamente as praias e bares do Rio. 

Agora, resolveu demarcar as areias e dividi-las em currais. Os cariocas terão que acessar um aplicativo para reservar lugar. Cada quadrado só poderá sr ocupado por quatro pessoas. 

Logo aparecerão empresas para "colaborar''. Há muito tempo encontrar uma fórmula de privatizar a areia, assim como o foram os quiosques, é sonho de consumo de figuras influentes e que, não por acaso, são grandes contribuintes do caixa de campanhas eleitoras. 

Volta e meio são lançados balões de ensaio dessa privatização. Os cercados do Réveillon em Copacabana, que a cada ano se espalham mais, são um exemplo prático dessa ofensiva empresarial de braços dados com a política.

Não há muitos detalhes sobre o projeto do "bispo". Não se sabe se será cobrado algum dindin para a sacolinha do município, se o aplicativo exigirá cadastro ou se será contratado pela prefeitura, se vai rolar um atalho para quem tiver prestígio no Piranhão. Se desembargadores terão preferência ou se um  "cidadão, não, engenheiro" terá seu quadrado garantido. 

O fato é que quem não tiver celular ou for um sem-plano de internet e não puder acessar o aplicativo não desce para areia. Vai lotar o calçadão. 

Se o projeto do Crivella for adiante, não será difícil implantá-lo, são muitos os interessados na terceirização das praias. Difícil vai ser, passada a pandemia, desfazer os currais. Os empresários vão pegar o gosto da coisa. E logo a Câmara de Vereadores aprovará projeto liberando o loteamento. 

Alguém duvida? Consulte os búzios que as ondas trazem...    

sábado, 8 de agosto de 2020

Há 30 anos: carros soviéticos invadiam o Brasil....

Em 1990, com a abertura das importações de automóveis promovida por Fernando Collor, a maioria esperava que carrões americanos, italianos e franceses logo desembarcassem nos portos brasileiros. A União Soviética estava agonizando mas, mesmo assim, foi a primeira a chegar. Carros Lada e Samara e o jipe Niva não demoraram a rodar no Rio e em São Paulo. Foi há trinta anos. Desde então, o Niva, principalmente, virou objeto de colecionador. E ainda é possível ver alguns desses veículos pilotados por aficionados em passeios fora-de-estrada nos fins de semana.  A matéria que a Manchete publicou anunciado a chegada dos russo foi assinada por Fernando Calmon, um dos mais respeitados especialistas no assunto, hoje no UOL Um detalhe sobreo Lada: originalmente se chamava Jigulí. Para vendas ao mercado externo, o nome mudou porque em alguns países, como Brasil e Itália, se confundia foneticamente com "gigolô".

Na capa do Extra, hoje: tudo em famiglia...

A capa do Extra é um competente resumo de um dos acontecimentos politico-policiais da semana. 
A comentar, a aparente falta de apetite da grande mídia para apurações exclusivas. Só na última semana, os principais jornais, que em passado recente eram tão ávidos por vazar documento em primeira mão, tomaram dois grandes furos. O primeiro, do UOL, sobre a "polícia política" montada no Ministério da Justiça para "fichar" opositores do governo. O segundo, que o Extra repercute em capa, foi apuração da revista Crusoé, que revelou com exclusividade mais um número da montanha de dinheiro que  o notório Queiroz despejava sobre o clã presidencial. 

 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Para justificar a destruição da Amazônia e as ameaças aos povos indígenas, Paulo Guedes apela até para o general Custer...

por O.V. Pochê 

Paulo Guedes ostenta diplomas mas é tão primário quanto o chefe Bozoroca. Juntos, transformaram o Brasil em um pária internacional. No momento em que não apenas ambientalistas, mas investidores e grandes corporações, sinalizam que o Brasil escalou o absurdo quanto à destruição da Amazônia, o frasista comete mais uma. Durante o recente evento virtual Aspen Security Forum, promovido pelo centro de estudos norte-americano Aspen Institute. Guedes justificou o crime ambiental e humanitário com toscos argumentos Disse aos americanos que eles também destruíram suas florestas e falou que aqui "não teve exterminações", o que é mentira, o Brasil matou milhões de índios e continua matando. O Ministro da Economia também citou o general Custer, que comandou forças-tarefas para exterminar tribos no Velho Oeste. Então tá, Guedes, na imagem ao lado, Custer chega a Manaus.

Se esse raciocínio idiota de Paulo Guedes prevalecer, o Brasil pode pedir licença para praticamente tudo. Imaginem se o "chicago boy" fosse buscar outras justificativas tão grosseiras quanto aquelas que apresentou ao Aspen Institute. Seguem alguns subsídios para o sujeito usar em outras reuniões internacionais. 

* Acabar com povos incômodos já que americanos eliminaram índios, os espanhóis exterminaram maias, incas, astecas, os australianos mataram aborígenes e colonizadores genocidas assassinaram milhões de africanos. No momento atual, pobre é chato, está sempre precisando de alguma coisa, seja saúde, educação ou respirador, assim não tem arrocho fiscal que resista.

* Europeus consumiram suas florestas como fontes de energia, porque pobre aqui teima em usar gás de cozinha caro?

* Japoneses até hoje contribuem com vigor para o extermínio de baleias. Podemos reforçar o almoço com todas espécies da Amazônia.

* Sukarno, na Indonésia dos anos 1960, eliminou o problema da oposição comunistas simplesmente abduzindo mais de 500 mil pessoas. 

* Se, irritados com o ritual democrático, os militares brasileiros fecharam o Congresso, enquadraram o STF e fizeram o que quiseram do Brasil entre 1964 e 1985, algo semelhante quebraria o galho e  resolveria um dos problemas do Guedes: ter que negociar com Câmara e Senado os pacotes econômicos empacados.

* Em vez de recomendar o isolamento social e distanciamento,  governos, antigamente, confinavam leprosos e vítimas do cólera em ilhas ou complexos que eram verdadeiras prisões. Os doentes eram largados longe, mas não atrapalhavam a economia, como no caso da Covid.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Mídia: quando uma entrevista interessar mais ao entrevistado do que ao leitor, desconfie...




Pode ser o momento, a oportunidade, o contato, o interesse ou qualquer outra circunstância, até simples coincidência. Quando uma figura envolvida em escândalo de corrupção resolve que é hora de falar, "algo há", como dizia Brizola. 
Flávio Bolsonaro já deu várias entrevistas antes dessa exclusiva do Globo, publicada hoje. Todas foram concedidas em ambiente controlado e a canais, veículos ou jornalistas publicamente identificados com o governo. A novidade é ter o vulgo Zero tal concedido exclusiva ao Globo na hora em que decidiu concedê-la, e imagino depois negar numerosos pedidos. O Zero tal achou que devia falar coincidentemente no momento em que o STF retoma pautas incômodas - inclusive envolvendo o notório Queiroz -, e três dias depois de vazar no mesmo jornal um depoimento do mesmo Queiroz assumindo a culpa no caso das rachadinhas e tentando livrar a cara do amigo Zero tal. 
O jornal fez as devidas perguntas sobre os pontos polêmicos do escândalo das rachadinhas. Flávio responde obviamente inocentando-se. E a pergunta seguinte, na sequência da conversa (o Globo não informa se a entrevista foi presencial, por áudio ou whatsapp), parte para outra questão, sem contestar com evidências ou apurações as respostas do Zero tal. Não é um bom sinal. Essa técnica faz a entrevista correr o risco de se confundir com bola levantada.
Flávio falou e disse o que lhe interessou e o jornal compartilhou o conteúdo com os seus leitores.  Infelizmente, o saldo, tal qual a grana que Queiroz depositava da conta do Zero tal, parece favorável à indigitada figura.   

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Vírus X Sexo: a verdadeira sacanagem...

Na capa da Vogue Portugal, o beijo em tempo de coronavírus. 

por Clara S. Britto  

A galera que defende a castidade ganhou mais um argumento: a Covid-19. Quando surgiu a Aids, também foi registrado um aumento da turma que resolveu fechar a loja. 
Acho que esses vírus são moralistas e seria bom investigar se não são bolsões religiosos antissexo que estão fabricando o bicho em laboratório nos porões das igrejas. 
O HIV levou ao sexo com camisinha; o coronavírus obriga o beijo com máscara. 
Acabou a brincadeira? Vai sobrar só a videochamada? 
A capa da Vogue, foto de Branislav Simoncik, é bonita, mas triste. 

Juan Carlos: o "Queiroz" espanhol

por José Bálsamo
"Vou ali e já volto". O ex-rei da Espanha deu um perdido na justiça. Virou uma espécie de Queiroz galego. Especula-se que está na República Dominicana, mas esse não é seu destino final. Deve ir para Portugal. 
O pinote do ex-rei deve-se à acusação de ter recebido um mega propina em transações com a Arábia Saudita. Os jornais o chamam de "rei emérito".  Emérito o cacete. Um dos significados da palavra é "prestigiado", o que não é o caso do sujeito no momento. Rei Demérito deverá ser o apelido com o qual entrará para a história diante de tantas evidências do jabaculê real.

A família real da Espanha, que tem outros integrantes enrolados com a lei, foi retrofitada pelo ditador fascista Francisco Franco. É uma das heranças da sua cruel e longa temporada no comando do país.

 Juan Carlos I foge de graves denúncias de corrupção. Em 2014, ele renunciou ao trono já por conta de transações suspeitas. Recentemente, foram descobertas em contas secretas na Suíça, coisa de quase 70 milhões de euros vindos das Arábias.  

O Queiroz espanhol em versão euros dificilmente irá em cana. Só se os investigadores encontrarem crime cometido após a renúncia. Um dispositivo primitivo, que chega a ser até uma ofensa aos cidadãos honestos e não monarquistas, deu imunidade ao rei enquanto no trono, quando as tramoias aconteceram..  

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Elon Musk, da Space X, privatizou os voos espaciais. Mas o Dr. No chegou antes



Dr. No, o primeiro empresário do espaço

Em "Com 007 Só Se vive duas Vezes", de 1967, o sequestro de uma nave espacial. 

por Ed Sá 
Ontem, uma nave privada, a SpaceX Crew Dragon, que havia decolado para a Estação Espacial Internacional em 30 de maio, concluiu sua missão e trouxe de volta à Terra os astronautas Doug Hurley e Bob Behnken. Em 2018, uma nave também privada, da Virgin Galatic, realizou um curto voo espacial tripulado, mas sem a complexidade da tarefa da Dragon que transportou pela primeira vez astronautas da Nasa. 

O feito foi saudado como a efetiva privatização da atividade espacial. OK, mas o polêmico Elon Musk, o dono da Tesla e da Dragon, não é primeiro empresário espacial. 

O cinema chegou antes. 

Nos filmes do 007, a Spectre, uma organização privada, operava foguetes de satélites sofisticados. E no primeiro filme da série, "O Satânico Dr. No", o agente da Sua Majestade impedia a interceptação de naves lançadas do Cabo Canaveral. O Dr. Julius No atuava no lado escuro da lei mas era um cientista que comandava um grande complexo espacial. Já a Spectre (sigla em inglês Special Executive for Counter-Intelligence, Terrorism, Revenge and Extortion) instigava a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética e usava tecnologia espacial, como uma rede de satélites, com o objetivo de dominar o mundo.

Cadê o repórter que estava aqui? Virou comentarista

As milícias fascistas atacam o  ativista digital Felipe Neto. Até com ameaças e ações agressivas, que mais parecem de ensaio terrorista, em frente à casa dele. 

O lado bom é que as mensagens e atitudes solidárias que ele recebe dos democratas superam em muito a atuação dos robôs da bandidagem. A mídia conservadora abriu espaço para Felipe Neto se posicionar contra a ofensiva miliciana. Em várias intervenções, como em debate no Globo News, Neto chamou a atenção para uma ameaça que vai além do caso pessoal: a democracia que está em risco. 

Ou ter o Ministério da Justiça montado uma "polícia política" que produz dossiês sobre opositores do governo não é um ataque aos valores democráticos?  Ter um Planalto um ativo gabinete do ódio que planta fake news nas redes sociais e orquestra perseguições não é uma estratégia fascista? 

Quem descobriu a farsa da "polícia política" do Ministério da Justiça foi o repórter Rubens Valente, do Portal UOL, em furo jornalístico espetacular. O jornalismo investigativo faz falta na chamada grande mídia, especialmente na Globo News. A nova CNN Brasil também é carente nesse item, mas se trata de um canal que demonstra maior alinhamento com o governo. A Globo News privilegia a informação política e econômica nesse trágico momento do país, mas também se limita a praticar um jornalismo declaratório, a cansativa e passiva fórmula de ouvir autoridades sobre as mais graves atitudes dos representantes dos governo nas mais diversas áreas sem contestá-las diretamente ou investigar os fatos em questão e em campo. A crítica quando vem vem fria, através de "análise" monocórdica de comentaristas, aliás, um monte deles. Falta gastar a sola do sapato, falta descer do salto alto, falta vencer a acomodação frente às notas oficiais, às coletivas realizadas em protocolo controlado onde só as autoridades falam. Falta investigar. Só assim nascem matérias relevantes como a do repórter do UOL

Mas o nervo exposto da Globo News e da CNN Brasil que Felipe Neto tocou foi outro. Foi a prática enganosa de ouvir o "outro lado" mesmo quando o "outro lado" é notório produtor de fake news. Essas figuras são convidadas a "debater" nesses canais. Geralmente "debatem" sem contestação. Ou seja, o "debate" serve apenas para validar posições escabrosas. Felipe Neto citou, como exemplo, a frequência com que esses canais recebem o deputado Osmar Terra, notório negacionista da Covid-19. Colocar microfone e câmera à disposição dessa figura só favorece a onda de desinformação que custa vidas no meio dessa tragédia. Há muitos outros exemplos. Até Ricardo Salles quando vai a esses canais passa a imagem de ambientalista, só falta mostrar a carteirinha do Greenpeace. E o Neto ainda ensinou que ao dar espaço aos criadores de fake news e validá-los os meios de comunicação impulsionam os algoritmos que espalham as...  fake news.

Curiosamente, talvez por força do hábito, os comentarista da Globo News também não contestaram as afirmações de Felipe Neto.   

A direita sempre teve espaço na mídia conservadora. Não se trata de ignorá-la. Lá atrás, na ditadura, Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen, Delfim Neto, ACM etc eram tão habituais na TV quanto Chacrinha e Chico Anysio. Depois da redemocratização, Sarney deixou governo mas não saiu da mídia, Moreira Franco idem, o mesmo vale para tantos outros representantes mais recentes da direita. O que a mídia favorece agora são os próceres fascistóides a pretexto de "ouvir o outro lado". Na maioria das vezes, esse "outro lado" é a lama, basta ir às redes sociais dessas figuras. Se é obrigatório dar-lhes palco que pelo menos tenham seus discursos contestados por fatos incontestáveis que os bons repórteres, e não os comentaristas, investigam. Imaginem o Washington Post apurando o caso Watergate só com fontes oficiais, sem o Deep Throat. Pois é. Nixon nem teria cancelado sua assinatura do jornal, nem mudado o endereço de entrega: o CEP da Casa Branca, mais precisamente no Salão Oval.  Ou convidem representantes de uma direita menos calhorda. Deve haver por aí.  E não vale dizer que são contra  "veto". Há muitos nomes identificados com a esquerda que não têm acesso a esses canais. 

domingo, 2 de agosto de 2020

Na Folha de São Paulo: liberdade para o vírus...

Reprodução Folha de São Paulo.

Sociólogo e dublê de jornalista, Demétrio Magnoli é uma espécie de Bolsonaro ilustrado. Pelo menos em matéria de Covid-19. Ainda em março, quando a epidemia começava a desembarcar no Brasil, ele levava o liberalismo ao extremo e defendia que cada cidadão fosse livre para resolver se faria o isolamento social ou não. Quando os casos explodiram e as mortes idem, tornou-se menos explícito, mas a fagulha bozoroca jamais se apagou. É o que o sociólogo deixou claro em artigo na Folha, no último dia 31. O sujeito critica "professores recalcitrantes" por não voltarem às aulas. Isso com o Brasil explodindo de coronavírus e batendo recordes macabros a cada dia. Como não há sentido na volta dos professores apenas às salas de aula, o articulista, por extensão, pretende que os alunos também marquem um encontro com o vírus no transporte coletivo, por exemplo, e o levem para as escolas e lares. O artigo repercutiu nas redes sociais. E a falta de sensibilidade não foi exatamente elogiada. Magnoli desconhece a realidade dos professores aqui fora. Deve ter plano de saúde, por exemplo.

sábado, 1 de agosto de 2020

As folhas mortas da edição da Manchete que não aconteceu: 20 anos, hoje

Os prints da edição da Manchete que jamais foi impressa. 

Matéria de Rubens Barrichello. 

Uma das reportagens da edição.
É quase ilegível, mas o print é datado. 1° de agosto de 2000. 20 anos hoje. 

por José Esmeraldo Gonçalves

Em 2007, Carlos Heitor Cony recordou na Folha de São Paulo o último dia da Manchete. "Na minha sala, antiga sala de JK e do dr. Albert Sabin, que a ocuparam durante anos, havia seguranças, o oficial de justiça me esperando. Um lampião mal dava para iluminar o hall de entrada, impossível retirar minhas coisas pessoais".

Naquele 1° de agosto de 2000, a Manchete vivia a sua versão jornalística da Operação Dínamo, o nome que Churchill deu à caótica retirada de Dunquerque.

Crônica do Cony na Manchete que não aconteceu...

Com os elevadores desligados, o oficial de justiça se dispôs a iluminar o caminho do Cony nas  escadas até o térreo. Duvido que, naquele momento, o amigo lembrasse da crônica que entregara à redação no dia anterior. Cony publicou dezenas de livros e milhares de crônicas que viram a luz das livrarias e das bancas de jornais e revistas, mas aquela última, escrita para a Manchete, na penumbra do fim, estava destinada a ficar sem destino.

J.A. Barros, o diretor de Arte que paginou aquela edição, a chamou, em post recente neste blog, de "Manchete fantasma". As páginas foram montadas e finalizadas, mas jamais impressas. Barros já especulou que a Manchete que não existiu repousa em paz no HD de um computador qualquer lacrado naquele dia e leiloado depois como um item do que se tornaria a sucata lacrada pela justiça.

Perdeu-se por aí.

Pois aquela edição, a que não existiu, se recusou a morrer: deixou os prints que aqui, 20 anos depois, são exumados.

Por algum motivo, Cony, que normalmente fazia na revista crônica dos fatos, entregou à redação, na véspera da falência, um conto sobre um sujeito que ouvia As Time Goes By em uma noite de solidão.

"No matter what the future brings/As time goes by", diz um dos versos da canção de Herman Hupfeld.

Na língua de Camões, ou de Jesus, o "ex-míster" do Flamengo, "não importa o que o futuro traga com o passar do tempo".