sexta-feira, 31 de maio de 2019

O guarda-chuva bombou nas redes sociais. Finalmente o ministério da Educação começou a trabalhar...

A chuva em Curitiba durante a manifestação deu simbolismo extra ao protesto. Reprodução.


Tatiana Vasconcelos e o utensílio que bombou na web. Reprodução Twitter.

por O.V. Pochê 

E Gene Kelly, coitado, entrou na crise brasileira como farsa.

O ator de "Cantando na Chuva" morreu em 1996 e foi poupado do vexame de ver a ridícula imitação que Abraham Weintraub fez da sua mais famosa coreografia.


Fico imaginando como foi a produção do clipe. O ministro da Educação acordou com Singin' in the Rain na cabeça. Acontece. A caminho do chuveiro, como se fosse coreografado por um Busby Berkeley, ensaiou os primeiros passos. Saiu-se bem nos movimentos, mas sentiu falta do poste para dar aquela rodadinha no ar. No boxe, sob o jorro d'água e apesar do espaço restrito, sentiu-se no cenário do filme e pulou pocinhas. Ouviu aplausos imaginários.  Depois do café, quando o motorista da repartição veio buscá-lo para o batente, o ministro ainda estava inebriado pelo próprio desempenho.

Avisado pela assessoria de que era apontado como culpado pelos cortes de verbas para a reconstrução do Museu Nacional, decidiu fantasiar a réplica.

Sua primeira agenda deve ter sido uma reunião com sua equipe de rede social para criar um clipe destinado a marcar época na política brasileira. Ontem mesmo, o guarda-chuva, o coadjuvante da cena, saiu da coreografia do ministro dançarino e foi para as ruas, além de viralizar na internet em centenas de memes.

Em termo de marketing, o resultado foi considerado tão bom que quem sabe serão estudadas outras produções político-hollywoodianas. Estão na fila musicais clássicos: Mary Poppins, O Mágico de Oz, Funny Girl, Agora Seremos Felizes e Cabaret. Deverão ser usados de acordo com a conjuntura política e a inspiração do Gene Kelly do governo.

Finalmente o ministério da Educação começou a trabalhar.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Rio dá o recado: não sequestrem a Educação

 Av.Rio Branco. Foto Mídia Ninja

Já viu o trailer de "Rambo - Last Blood"? O personagem volta traumatizado pela violência. Não é piada.

Reprodução

por Ed Sá

Em "Rambo - Last Blood", o personagem criado por Sylvester Stallone sofre de PSTD (Post-traumatic stress disorder, na sigla em inglês para pessoas traumatizadas por eventos violentos).

Ninguém mais do que Rambo tem motivos para o stress. Mas não pense que Stallone ficou a cabeça avariada a ponto de entrar em uma trama "psicológica", ao estilo Ingmar Bergman. Last Blood é de muita ação e sangue como sempre. O filme, o quinto da série, marca a volta do personagem Rambo e estreia nos Estados Unidos em 20 de setembro. Ainda não tem data para chegar ao Brasil.
VEJA O TRAILER, CLIQUE AQUI

Marketing digital: Globo inova e personagem Vivi Guedes, de Paolla Oliveira, ganha perfil no Instagram

Paola Oliveira como Vive Guedes da novela A Dona do Pedaço. Reprodução Instagram


por Clara S. Britto 
Para a divulgação da novela "A Dona do Pedaço", a Globo criou um perfil no Instagram (Estilo Vivi Guedes) para a personagem de Paolla Oliveira, a influencer Vivi Guedes. Na rede, ela se coloca como uma personagem real e interage com internautas. Ao longo da novela a celebridade da das redes sociais vai lançar tendências e fotos ousadas ao estilo das Kim Kardashian da vida.

Hoje cedo, Vivi somava quase 200 mil seguidores. No seu perfil da vida real, Paolla Oliveira tem cerca de 17 milhões de fãs.

Por uma dessas consequências da web, o perfil fictício de Vivi Guedes não escapou de atrair vários perfis falsos. O verdadeiro está AQUI.

A esperança... o que é o que é


Hoje cedo, na cidade de Pau Ferro, no Rio Grande do Norte. A melhor legenda são os versos de Gonzaguinha: "Eu fico com a pureza/ da resposta das crianças/É a vida/É bonita/E é bonita"
Foto de Jarlon Medeiros/Estudantes Ninja/Reprodução Twitter/PSOL50.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

A tragédia na mesa ao lado: o dia mais triste do jornalismo carioca

A primeira página da Última Hora em 29 de junho de 1984.

Narinha e Erasmo Carlos: a última matéria do repórter Ulisses Madruga,
da Rede Manchete, A foto é de Masaomi Mochizuki 

por José Esmeraldo Gonçalves

Aquela quinta-feira, 28 de junho de 1984 abalou as redações do Rio de Janeiro. Ao se chocar com um morro, em Barra de São João, um avião Bandeirantes a caminho de Campos (RJ) matou dois tripulantes, dois funcionários da Petrobras e 14 jornalistas. 

A convite da Petrobras, as equipes cobririam em uma plataforma continental a marca de 500 mil barris diários extraídos pela empresa. A notícia do acidente causou um choque em jornais, revistas e emissoras de TV. Era a tragédia na mesa ao lado, tantos os colegas que se foram. E, para cada veículo, ainda apresentou-se uma obrigatória e dramática tarefa: cobrir e editar o acidente que vitimou amigos dos repórteres, fotógrafos e cinegrafistas escalados para registrar o resgate dos corpos. 

No acidente, a Rede Manchete perdeu três profissionais: o repórter Ulisses Madruga, o cinegrafista Luis Carlos Viana e o operador de VT Jorge Silva Martins.

O jovem Ulisses era o mais próximo das redações das revistas da Bloch. Iniciou sua carreira na Fatos & Fotos, em 1980. Um ano depois foi transferido para a Manchete. Quando a editora começou a montar a rede de televisão, ele demonstrou interesse em conseguir um espaço no novo veículo. Engajou-se na primeira equipe de jornalistas da Rede Manchete em 1983, mas volta e meia oferecia matérias para as revistas, geralmente desdobramentos de pautas televisivas. 

Na véspera da viagem fatídica para Campos, Ulisses soube que substituiria uma colega impossibilitada de viajar. À tarde, subiu ao oitavo andar e  perguntou às chefias de reportagem da Manchete e da Fatos & Fotos se tinham interesse na pauta. Para ambas as revistas era o tipo de assunto, uma solenidade, que renderia apenas um registro, As revistas não mandariam equipes. Antes de se despedir, ele combinou  enviar um texto. Na manhã seguinte, ao lado do cinegrafista Viana e do operador Jorge embarcou para Campos. 

O Bandeirantes também levava uma jornalista muito ligada à Fatos & Fotos: a querida repórter Maria da Ajuda Medeiros dos Santos, então na TVE. Também estavam no voo, Ivan dos Santos, Jorge Coelho e Dario Fernandes (TVE); Luis Eduardo Lobo, Dário Silva, Levi Silva e Jorge Leandro (Rede Globo); Regina Sant'ana, Geraldo Veloso e Luis Carlos de Souza (TV Bandeirantes). 

Entre as equipes escaladas para cobrir o resgate e identificação dos corpos, o repórter Samuel Wainer Filho e o cinegrafista Luiz Felipe Ruiz de Almeida, da Rede Globo trabalharam o dia inteiro no cenário do acidente. Ao voltar para o Rio, com forte chuva na estrada, a camionete em que viajavam capotou em uma curva. Samuca e Almeida tornaram-se personagens da tragédia. Ninguém acreditou, parecia um pesadelo. 

No mês que vem, 35 anos depois, esses dias de comoção reviverão em uma geração de profissionais, muitos já fora das redações mas não longe das lembranças de um dos mais tristes momentos do jornalismo carioca.         

Haroldo Jacques e Luis Alberto Py lançam dia 10 de junho o livro "A Linguagem da Saúde'


O médico Haroldo Jacques foi diretor da revista Medicina de Hoje, que circulou durante as décadas de 1970 e 1980. uma publicação da extinta Bloch Editores. Luis Alberto Py é psiquiatra e psicanalista. Ambos têm vários livros publicados.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Fotomemória da redação: Luís Carlos Sarmento e Gil Pinheiro mais rápidos do que uma bala

No Rio São Francisco...

...e nas fazendas mineiras, as aventuras de Luis Carlos Sarmento e Gil Pinheiro.  

por José Esmeraldo Gonçalves 

Em mais de 2.500 edições, Manchete formou muitas duplas de repórter e fotógrafo. Joel Silveira e Juvenil de Souza, Ney Bianchi e Sérgio de Souza, Athenéia Feijó e Carlos Humberto TDC, entre tantas outras. Mas em 1987 um par de experientes profissionais foi especialmente produtivo: Luís Carlos Sarmento e Gil Pinheiro. Eles fizeram parceria em pelo menos três momentos marcantes: uma expedição ao longo do Rio São Francisco; uma matéria sobre Fazendas Mineiras, que revelou propriedades seculares e alguns tesouros arquitetônicos até então desconhecidos; e uma reportagem sobre garimpos em Alta Floresta.

Nesta, a ideia era revelar o faroeste da corrida ao ouro na região, um mundo sem lei e sem ordem em plenos anos 1980. A dupla, que já era, digamos, sênior, foi parar até em um fogo cruzado de rifles e, felizmente, teve pernas para correr. 

Dizem que algum tipo de recorde de velocidade eles marcaram ao cruzar uma ponte em meio a balas nada perdidas. 

Por esse motivo, Sarmento e Gil deixaram de fazer a tradicional foto da dupla no cenário da reportagem, que normalmente a revista publicava no sumário da edição. 

A matéria rendeu várias páginas na Manchete, mas acabou em encrenca. As chamadas autoridades políticas, judiciais, militares e eclesiásticas da cidade não gostaram da "imagem de violência" que a reportagem passou. Diziam que a região era pacífica e ameaçaram processar a revista. 

Deu em nada. 

Prevaleceu a versão contada pelos próprios garimpeiros. 

Nas fotos, aliás, eram vistos mais rifles e revólveres do que nos melhores saloons de Tombstone e Abilene. 

domingo, 26 de maio de 2019

Nas ruas: o design da direita

É no mínimo curioso observar o design que inspira os cartazes que a direita brasileira levou às ruas durante a campanha e na convocação das manifestações de hoje e em algumas cenas das próprias passeatas.

Há um toque do realismo neofascista na "arte" das peças de chamamento. Sugerem nostalgia dos anos 1930. Veja alguns sinais e suas respectivas fontes inspiradoras.


Cartaz de convocação para manifestação da direita brasileira.

Integralismo, anos 1930: fascismo nacional.

Adoração à  pátria, desde que seja virando à direita.

Cartaz da Itália de Mussolini, anos 1930


O "heil" da direita brasileira nas atuais manifestações

E o mesmo gesto na Itália fascista.

Ocupar a Justiça brasileira: movimento que guarda semelhança
com o que aconteceu na Itália, anos 1930.

Aqui como lá, Congresso é algo incômodo para a direita que pede ditadura.

Coincidências à parte, é verdade que a direita tupiniquim mostra uma "releitura" conservadora que o fascismo italiano evitou: a escatologia. A sigla VTNC quer dizer isso mesmo "vai tomar no cu".  É o toque tropical...

Fotografia: fila para chegar ao Monte Everest...

Reprodução The Guardian - link abaixo.

A foto publicada pelo Guardian foi feita pelo ex-soldado britânico Nirmal Purja. Mostra um impressionante congestionamento de alpinistas no trecho final da escalada do Everest. Abril e maio são os meses mais favoráveis para a subida, daí o afluxo de aventureiros. A foto ganhou tons dramáticos diante da informação de que a longa fila acabou provocando mortes, principalmente na descida. Alpinistas levaram tempo maior na volta e alguns foram vítimas da exaustão.  É possível que as autoridades imponham controle mais rígido na próxima temporada.


A longa fila vista na foto de Purja contrasta com a imagem solitária de Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay, os primeiros a conquistar o Everest no dia 29 de maio de 1953.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Futebol Feminino: Copa do Mundo da França reabre polêmica sobre sexismo na modalidade...

Foto FIFA/Divulgação


por Niko Bolontrin 

A França é a sede da Copa do Mundo de Futebol Feminino 2019, que começa do dia 7 de junho. Alguns veículos reabrem a discussão sobre sexismo no esporte. Há queixas sobre as premiações de valores bem mais baixos do que para a divisão masculina, tratamento inferior às atletas em acomodações etc.

A Fifa alega limitações financeiras e argumenta que o futebol masculino tem visibilidade e receitas muito maiores de patrocinadores, bilheterias e cessão de direitos para TV.

A entidade máxima do futebol parece impaciente com o crescimento relativamente lento do futebol feminino, pelo menos em termos de rentabilidade e de globalização.  Há países onde a modalidade cresce exponencialmente, como Suécia, Alemanha e Estados Unidos, mas engatinha ou inexiste em outros, seja por motivos religiosos ou de machismo arraigado. Recentemente, um dirigente sugeriu que as mulheres jogassem com shorts mais curtos e justos. Foi criticado pelo comentário inadequado e revelador do preconceito.

Capa da Placar, 1995: "Garotas batem um bolão":
o futebol feminino era visto com "sexy".
Embora tenha sido pior, o sexismo ainda é uma sombra para as atletas. O site Dibradoras recordou há poucos dias uma capa da revista Placar, de 1995, quando garotas de chuteiras eram vistas mais como um evento sexy do que esportivo.Esse tipo de estímulo vem sendo contido, mas até há pouco tempo, na Europa, anúncios promocionais de jogos entre mulheres eram marcados pelo apelo sexual.

A Copa do Mundo da França certamente dará um impulso à modalidade e deverá ter mais espaço na mídia brasileira. Em 2015, apenas o SporTV e a TV Brasil transmitiram os jogos da seleção feminina brasileira. Anuncia-se agora que o SporTV transmitirá todos as partidas e a TV Globo cobrirá os jogos do Brasil. Essa é a oitava edição do torneio. Os Estados Unidos foram três vezes campeões, a Alemanha duas vezes, Noruega e Japão completam o pódio. A melhor colocação do Brasil foi um vice em 2007, na China, quando perdeu para a...  Alemanha por 2x0.

Pelo menos, não deram o vexame dos 7 X 1.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

João Máximo: "Ninguém merecia mais este Camões do que Chico Buarque"


Em seu blog no G1, nosso caro João Máximo, com passagem pela Manchete e Fatos & Fotos, escreve sobre Chico Buarque e o Prêmio Camões de  Literatura, que o escritor e compositor acaba de receber.

Chico foi agraciado pelo conjunto da obra, segundo a unanimidade de um júri formado por Antonio Carlos Hohlfeldt e Antonio Cicero (Brasil); Clara Rowland e Manuel Frias Martins (Portugal); Nataniel Ngomane (Moçambique); e Ana Paula Tavares (Angola).

Seus livros - A bordo de Ruy Barbosa, Fazenda Modelo, Estorvo, Benjamim, Budapeste, Leite Derramado, O Irmão Alemão -, suas peças - Calabar, Gota d'Água, Ópera do Malandro - e as incontáveis poesias que várias gerações de brasileiros se acostumaram a cantar formam uma obra de grande importância para a língua portuguesa.

Trechos do artigo de João Máximo:

*"São de 1968 esta palavras de Vinicius de Moraes: 'Não resta dúvida de que Chico Buarque é também um escritor. Não um escritor como a maioria dos que existem por aí, meros ajuntadores de palavras escritas num léxico convencional ou modernoso'".

* "A entrega da medalha, diploma e 100 mil euros a Chico buarque está prevista para setembro, em  Lisboa. Integrantes da comissão que coroou seu nome garantem não ter havido qualquer injunção política naescolha. E não houve mesmo. Até porque o cidadão que sempre esteve do outro lado daquele governo parece contar cada vez mais com o apoio dos que já estiveram do lado do atual".

LEIA O TEXTO COMPLETO NO BLOG DO JOÃO MÁXIMO, NO G1. AQUI

Sharon Stone: instinto menos selvagem mas ainda na capa...

Na capa da Vogue Portugal. Foto: Reprodução Instagram

1992: a famosa cena de "Instinto Selvagem"

por Ed Sá

É o interrogatório mais inesquecível da história policial. A cena de Sharon Stone depondo no distrito viralizou no mundo em uma época em que nem existiam redes sociais. Foi em 1992, no filme "Instinto Selvagem". Ao cruzar as pernas ela exibiu o corpo de delito e hipnotizou os homens da lei.

Reprodução Instagram
Quase trinta anos depois, aos 61 anos, a Stone descruza as pernas com exclusividade para a Vogue Portugal, edição de maio. Nas fotos, preferiu não revelar tudo o que Catherine Tramell, sua personagem, não escondeu naquela épocas, mas os megatons de sensualidade continuam carregados.

Na entrevista, além de reconhecer o óbvio - "Eu sei que ainda sou sexy" - ela fala da carreira e do assédio que sofreu nos sets. A atriz revela que era comum produtores avaliarem quem entre as pretendentes ao elenco era fuckable, o popular comível. E essa qualificação às vezes decidia mesmo a vencedora da concorrência. Em outra entrevista recente à Madame Figaro Sharon Stone recordou que ao trocar a carreira de modelo pela de atriz aos 20 anos - "com o físico que tinha vi de tudo" - encontrou um ambiente de trabalho onde o sexismo praticamente fazia parte do set, como a claquete, a câmera e os refletores.

Quem deve bater o pênalti da reforma da Previdência? E se Bolsonaro, em vez de Guedes, for explicar o projeto, didaticamente, aos parlamentares?

por O.V.Pochê

Neném Prancha dizia que pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube. Impossível contestar a lógica certeira do frasista, roupeiro, massagista e treinador que João Saldanha e Sandro Moreira tornaram filósofo do futebol.

O jogo mais enrolado no Brasil, no momento, é o da reforma da Previdência.

O Brasil espera que Bolsonaro, em vez de terceirizar as explicações ao Paulo Guedes, vá pessoalmente às Comissões da Câmara e do Senado defender seu projeto. Se a reforma vai forrar os cofres público em 1 trilhão de reais, como garantem, é algo tão importante que esse pênalti deve ser batido pelo Presidente da República.

Vai agradar todo mundo. Os políticos conversarão com o presidente sem intermediários, os eleitores de Bolsonaro não duvidam da competência do "mito" e certamente aplaudirão seu desempenho. Bolsonaro vai tirar quaisquer dúvidas sobre limites de idade, mostrará como capitalização vai funcionar mesmo consumindo 30% do salário do futuro aposentado, quais exatamente os privilégios que serão extintos e repassará didaticamente as complicadas contas que os parlamentares às vezes não entendem. Poderá provar com desenvoltura e através de power points que, ao contrário do que os maldosos insinuam, não são os pobres, os idosos e a classe média baixa que vão se ferrar mas a galera que tem apê em Miami, mansão em Angra, helicóptero com isenção fiscal, auxílios aluguel, paletó e gasolina.

Se nada disso deixar claro que a reforma da Previdência é o New Deal+Plano Marshall que vão lançar o Brasil no Primeiro Mundo Plus, ainda assim valerá a pena. A transmissão ao vivo da aula magna vai bater recordes de audiência.

Na pior das hipóteses, será uma tarde cômica.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Juntos, shallow now: "Lady Gaga" responde a Paula Fernandes

por O.V.Pochê

Nasce um mico.

Com Shallow Now, Lady Gaga ganhou o Oscar de Melhor Canção pelo filme "Nasce uma Estrela".

Ao lançar versão sertaneja da mesma música, a brasileira Paula Fernandes venceu o troféu de gozação da semana e emplacou centenas de memes nas redes sociais.

Em uma dessas paródias, "Lady Gaga" desabafa: "tanto esforço para ganhar um Oscar e 'cagam' minha música lá no Brasil, no fim do mundo"...

VEJA O DESABAFO DE LADY GAGA, CLIQUE AQUI

Comunicação: Bolsonaro se inspira no Inspetor Clouseau e manipula a grande mídia...

por Flávio Sépia

Até aqui, com sua inusitada estratégia de comunicação, Bolsonaro está dando uma volta na imprensa. E não é apenas pela mobilidade que demonstra nas redes sociais, mas pela capacidade de usar os principais jornais, os veículos digitais e a TV.

É verdade que essa estratégia encontrou na campanha e nos primeiros dias do governo, por parte das oligarquias da mídia, uma visível acolhida. Afinal, muitos editores e colunistas foram parceiros desde o golpe na construção da atual conjuntura. O tipo de relação que Bolsonaro estabelece com a mídia também se explica pela aprovação dos veículos à sua agenda econômica, ao confisco da Previdência, à corrida do ouro da privatização etc. Hoje mesmo, O Globo é explicito em título de editorial: "Apoio à reforma no Congresso compensa falhas".

As críticas ao governo são predominantes nas questões comportamentais, morais, religiosas, na liberação das armas, na política ambiental, entre outras, uma pauta que o candidato jamais escondeu na campanha. Quando criticado na condução do governo, geralmente é por ações ou declarações que "atrapalham" as reformas e a agenda rentista e neoliberal.

É esse ambiente favorável que torna fácil para Bolsonaro usar a mídia.

Uma marca visível da nova administração está nos verbos voltar, reconsiderar, rever e até desmentir a própria fala. Será intencional? E se esse vai-e-volta fizer parte da mensagem que manipula os meios? O presidente faz uma declaração qualquer, como essa de que "o problema do Brasil são os políticos", a mensagem viraliza nas redes sociais, robôs multiplicam a fala, seus eleitores vibram. O recado está dado. Em seguida, políticos reagem, a mídia comenta, analistas abordam o assunto. Ou o capitão inativo compartilha um manifesto contra os poderes Legislativo e Judiciário. Ou, ainda, divulga no twitter uma convocação para uma manifestação contra os mesmos poderes. Pipocam reações e aí Bolsonaro, invariavelmente, entra com a segunda etapa da sua estratégia: desmente, diz que não é bem assim e colhe elogios na grande mídia pela capacidade de reconhecer o "erro" ou o "exagero". "Ainda bem que, apesar de ter publicado em sua rede social uma convocação para a manifestação, avalizando, portanto, seus objetivos, desistiu de participar, como chegou a ser aventado", escreveu um colunista.

Em suma: o presidente dispara um discurso para seus apoiadores e, logo depois, alivia a barra na grande mídia que a maioria dos seus apoiadores abomina e  confessadamente não lê. E assim vai o Messias, agora ungido, ocupando todos os espaços.

Em um dos filmes mais recentes da série Pantera Cor de Rosa, o Inspetor Clouseau, no caso vivido pelo ator Steve Martin, interroga um suspeito. Para obter a confissão, ele recorre ao clássico método do "policial bom" e do "policial mau". Só que Clouseau inova: ele mesmo interpreta os dois personagens. Assim, o Clouseau mau é agressivo, ameaça bater e usar um aparelho de choques elétricos. Quando este deixa a sala, entra em cena o Clouseau bom, de fala mansa e cordato, que oferece cigarros ao suspeito, água, pede desculpas pelo colega torturador, mostra-se amável etc.

Bolsonaro viu esse filme. Sua estratégia de comunicação - o presidente mau e o presidente bom - é tosca mas inspirada no Inspetor Clouseau. Blake Edwards, o criador do inspetor atrapalhado, pode cobrar direitos autorais.
 

Fotomemória da redação: Fórmula 1 no Rio e um pit stop na Manchete

Manchete na Fórmula 1, no Autódromo Nelson Piquet, em Jacarepaguá, em 1982. Na foto, vê-se Gervásio Baptista, Suzana Tebet, Gil Pinheiro, Ney Bianchi, Ernani d'Almeida e Luis Palma.

O Rio se movimenta para voltar a sediar provas da Fórmula 1. A prefeitura anuncia a construção de uma pista, um compromisso das autoridades desde que o Autódromo Nélson Piquet, em Jacarepaguá, foi demolido para obras do Parque Olímpico da Rio 2016.  Mas há polêmicas. O novo autódromo a ser erguido no bairro de Marechal Deodoro implicará na destruição de área da Mata Atlântica, o último trecho floresta em região plana do Rio.

Com razão, o Ministério Público pede a suspensão do projeto até que a Prefeitura apresente uma avaliação ambiental. O novo autódromo pode ser um ganho para a cidade sem resultar obrigatoriamente em uma grave perda, inadmissível atualmente. Caso a prefeitura insista em destruir a mata, é possível até que haja uma reação internacional que impeça provas internacionais em um local que ficará marcado pela falta de consciência ambiental.

O GP de Fórmula 1 estreou no Rio em 1978. Voltou em 1981 até se despedir em 1989, com vitória de Ayrton Senna. Entre 1972 e 1977, em 1980 e a partir de 1990, a corrida foi em Interlagos, São Paulo. A Manchete mobilizava muitas equipes para a cobertura desde os treinos até a prova, passando pela badalação noturna dos pilotos e seus passeios na cidade.

Em 1982, Ney Bianchi, Gervásio Baptista, Gil Pinheiro, Luis Palma, José Lago, Suzana Tebet, Tarlis Batista, Antonio Rudge, Raimundo Costa, Paulo Scheuenstuhl e Ernani d'Almeida, entre outros, formaram a equipe que mostrou bastidores, camarotes, movimentação do paddock, dos boxes, a corrida, o pódio e a comemoração na noite carioca.

O Rio merece a Fórmula 1 de volta. Mas sem que Ferrari, Mercedes, Renault e outras marcas atropelem a Mata Atlântica.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Leitura Dinâmica: Huawei, Brasil depressão, Cristina Kirchner, Niki Lauda...

* O grande pirata -  Estados Unidos relativizam o livre mercado. Intervenção em empresas privadas para retaliar a companhia chinesa Huawei expõe a insegurança jurídica que ameaça corporações americanas e estrangeiras na terra do Tio Trump. Às sanções e ao risco que correm recursos estrangeiros depositados no país e que podem ser bloqueados a qualquer momento soma-se agora o terrorismo comercial como tática nas relações com o mundo. É a diplomacia "Barba Negra".

* Brasil depressão - Ao visitar a home page do G1, hoje, é recomendável uma dose de Rivotril ou chá de tília contra ansiedade. A barra está pesada.. Vejam alguns tópicos deprê: "Floresta Nacional do Tapajós vive pressão do agronegócio no entorno"; "Talude de mina da Vale em MG se movimenta entre 6 e 10 cm por dia.Variação indica que 'paredão' vai ruir e pode causar o rompimento de barragem"; "Governo federal aprova mais 31 agrotóxicos; já são 169 no ano"; "Desigualdade de renda no país sobe e bate recorde, diz FGV"; "Dificuldade com reformas deve fazer Brasil crescer menos que média mundial, diz OCDE". E por aí vai. Ler o o noticiário é para os fortes.

* Copia e cola - Julgamento de Cristina Kirchner começa hoje na Argentina. A ex-presidente é pré-candidata a vice nas eleições de outubro. Parece estar em curso tática semelhante à aplicada contra Lula que foi afastado da disputa no último pleito no Brasil.

* Bolsochet ou Pinonaro? - Os último sinais são preocupantes. Primeiro, Bolsonaro curte e compartilha um tosco manifesto que anuncia a "ingovernabilidade" e sugere que é melhor vender ('sell') o país. Na sequência, insinua que cada vez mais recorrerá a decretos e não a projetos a ser enviados ao Congresso e diz que a classe política é 'grande problema' do Brasil. Abusar dos  tais decretos seriam a versão nutella dos atos institucionais da ditadura? No Globo, hoje, Bernardo Mello Branco comenta essa "aposta na radicalização". Vale a leitura. E políticos do governo e as milícias digitais aliadas convocam manifestação contra o Congresso e o STF.

* Desculpa aí - A radicalização de Bolsonaro parece provocar fenômenos de consciência. A notória deputada Janaína Paschoal começa a desconfiar do seu caro "mito". E Fernando Gabeira, que há meses escreveu artigos fofos no Globo sobre Bolsonaro, tenta lustrar a biografia e oscila para neutro ou ligeiramente crítico. Nas redes sociais também tem bolsominions pedindo anistia. Já é alguma coisa.

 - * O austríaco voador Niki Lauda virou lenda não apenas pela extraordinária habilidade ao volante, mas pela coragem. Os três títulos mundiais em uma época em que as corridas se decidiam"no braço"' e não nos pneus já o elevariam ao hall da fama da Fórmula 1, a coragem demonstrada nas pistas se afirmou ainda mais após o grave acidente em Nürburgring, quando perdeu os sentidos no carro em chamas. No ano passado, Lauda, como supervisor da Mercedes, era visto nos boxes da equipe. Afastou-se por algumas semanas para fazer um transplante de pulmão. Esse ano, problemas de saúde o impediram de acompanhou as corridas, Lauda morreu ontem. 

domingo, 19 de maio de 2019

The Big Bang Theory: @kaleycuoco faz a 'cobertura' da despedida dos nerds.

Selfie de despedida. Reprodução Instagram

Emocionados, elenco e equipe técnica assistem ao último capítulo, logo após a gravação. Reprodução Instagram



No bom sentido, de quatro para mídia. Reprodução Instagram

O elenco se despede do sofá que foi set de muitas cenas. Reprodução Instagram


por Clara S. Britto 

O último episódio de The Big Bang Theory irá ao ar, no Brasil, no dia 2 de junho, às 22h, no Warner Channel. Será um capítulo especial, com uma hora de duração.

Nos Estados Unidos, a despedida da série recordista de permanência no ar - 12 anos - aconteceu na última quinta-feira.

A atriz Kaley Cuoco, a Penny, publicou no Instagram (www.instagram.com/kaleycuoco/) uma série de fotos dos bastidores das gravações do último capítulo. Abraços e lágrimas marcaram o clima de adeus do elenco principal - Jim Parsons, Johnny Galecki, Kaley Cuoco, Mayim Bialik, Melissa Rauch, Kunal Nayyar e Simon Helber, dos atores convidados, do criador da série, Chuck Lorre, e da equipe técnica.

A revista Entertainment Weekly lançou uma edição especial sobre a série e os bastidores da última semana do elenco.

sábado, 18 de maio de 2019

Na capa da Veja: como uma onda no mar...


Fiasco na visita cenográfica a Dallas, parentada e parceiros na mira da lei, protestos nas ruas, Congresso assumindo protagonismo, Educação em coma e economia em queda livre...

O Dia e Extra: unanimidade no título



Plantão Etimológico do Panis: governo corrompe palavras

Uma das definições do verbete Palavra no Houaiss é, no mínimo, curiosa. Trata-se da "unidade da língua escrita, situada entre dois espaços em branco, ou entre espaço em branco e sinal de pontuação".

Os caracteres colocados "entre dois espaços em branco", como diz o Houaiss, são uma arma com porte liberado para todos: os mocinhos e os bandidos.

O blog cria hoje o PEP (Plantão Etimológico do Panis). Por um motivo: um país em crise e tangenciando o abismo também afeta a língua e pode corromper seus verbos, substantivos, adjetivos e até frases inteiras.

* Veja o caso da palavra Contingenciamento. De repente, passou a ser foco de discussão na padaria, no boteco, no governo, na oposição, na igreja e no bunker da milícia. Afinal, o governo cortou ou contingenciou verbas da Educação? Bolsonaro garante que contingenciar não é corte. Já o site do ministério da Economia do mesmo governo diz que contingenciamento é a "inexecução" da despesa. Quer mais corte do que isso? A palavra que virou polêmica vem do latim contingentia. Para as universidades, essa discussão é estéril: contingenciada ou cortada o fato é que parte da verba não vai pingar na tesouraria. E não há palavra que negue isso.

Maria Baderna, a periguete que
deu origem ao termo.
* Bolsonaro classificou os recentes protestos estudantis como Baderna. Em algumas regiões da Itália, o termo se aplica a um cabo trançado de linho ou palha. Em português é desordem, confusão, bagunça, como sabemos. Nos últimos dias, a mídia foi atrás da etimologia da palavra. Na verdade, baderna é um tremendo elogio à beleza de uma mulher. Em 1849, a bailarina italiana Marietta Baderna, 21 aninhos, fez uma temporada no Rio e lotou o antigo Teatro São Pedro, que era o maior do Brasil e acomodava mais de mil pessoas. Marietta, que o pessoal aqui logo passou a chamar de Maria Baderna, era sensual e liberada. Carregava um amante francês pelos becos do Rio. Fora do palco, segundo Silvério Corvisieri, autor da sua biografia, ficou encantada pelo batuque africano, sem duplo sentido, e gostava de dançar o rebolativo lundum. No teatro, Baderna deixava a platéia masculina em alto grau de excitação. O entusiasmo era tamanho que uma multidão de rapazes esperava a artista na saída aos gritos e pulos. A euforia se espalhava pela ruas do centro do Rio. Foi esse primeiro fã-clube da era colonial que era chamado de "os baderneiros" e deu origem à palavra que virou xingamento na grande baderna que é cada fala de Jair Bolsonaro.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, acusa as universidades de promoverem Balbúrdia.
Essa uma palavra que gera controvérsia até na origem e divide etimologistas. Há quem diga que vem do latim balbus (gago) e sugere a confusão que é um grupo deles discutindo. Outros relacionam ao suposto vocábulo balbord do inglês arcáico ou celta equivalente a desordem. O Houaiss limita-se a registra a origem "obscura" da palavra. A melhor resposta foi dos alunos da Universidade federal do Rio Grande do Sul que organizaram um balbúrdia acadêmica (veja o cartaz).

* Já foi mais fácil discutir futebol entre um chope e outro. Alguns treinadores e a nova geração de jornalistas esportivos formada na Champions estão complicando o papo. Tite, o técnico da seleção, por exemplo, cismou de usar a palavra Performar para tudo. O verbo titeano parece se encaixar em qualquer resposta que ele dá nas coletivas. Tem origem inglesa, no substantivo performance, que significa realização, desempenho. Como verbo, não existe em inglês nem em português. Vamos esperar que Tite e sua seleção se performem bem na Copa América que vem aí.

* Onix Lorenzoni, chefe da Casa Civil, criou uma expressão para vender o confisco da Previdência. "A nova Previdência é o Portal da Prosperidade", dito assim, com ênfase maiúscula como de um pastor no púlpito. Soa místico. Era algo que Jim Jones prometia aos seus fiéis antes de ministrar o  suicídio coletivo. Um dos significados de portal é, aliás, "entrada ornamentada de uma igreja". Prosperidade é abundância, riqueza, acúmulo de bens materiais. Como Sílvio Santos e sua Porta da Esperança, Onix promete fortuna aos brasileiros. E nem fica ruborizado.

* Uma militante pelos direitos das pessoas com deficiência viu um frequentador de um shopping sofisticado do Rio de Janeiro estacionar em vaga reservada e foi "xingada" de "marxista cultural safada". Marxismo Cultural chegou ao Brasil com intensidade agora, mas é expressão que surgiu nos anos 1990 na direita radical norte-americana para rotular uma suposta conspiração comunista global planejada na Escola de Frankfurt. A expressão agora difundida pelas redes sociais é, no Brasil, usada para qualquer situação. Protestar contra racismo, recorrer á Lei Maria da Penha, perguntar quem mandou matar Marielle, ouvir Chico Buarque, ler Veríssimo, tudo virou marxismo cultural. Na Alemanha nazista, as autoridades denunciavam algo semelhante: o bolchevismo cultural. Destruir valores tradicionais é o objetivo da "conspiração", segundo o neofascismo brasileiro.

Olha só a capa do Meia Hora. Pensa que é fácil viver no Rio do Crivella?


sexta-feira, 17 de maio de 2019

O turista acidental... e o ponto alto da visita foi o encontro com Willie Nelson...

Bush pescando.
Reprodução Pinterest
por O. V. Pochê 

Desde que deixou a Casa Branca, George W. Bush transformou em residência permanente o Prairie Chapel Rancho, em Crawford, onde costumava passar os fins de semana. Andar de bicicleta, correr, pescar e cuidar da área verde são suas atividades preferidas.

Bush costuma receber no rancho personalidades que visitam o Texas. Foi o caso de Bono Vox, que certa vez fez questão de encontrá-lo por ocasião de shows no estado. Apesar de politicamente oposto a Bush, o vocalista do U2 quis agradecer ao ex-presidente o trabalho da Pepfar, organização fundada no mandato do republicano para o combate à Aids e do Bush Center que coopera com a One Campaign, iniciativa liderada por Bono para diminuir a pobreza extrema e implantar centros de saúde em regiões com alto índice de doenças na África.

A visita foi previamente agendada e Bono foi convidado para almoçar. No cardápio, pratos típicos da culinária do sudoeste americano.

Bolsonaro e o onipresente Hélio: fast food aos pés de Willie
Nelson. Foto Flickr/Palácio do Planalto
Bolsonaro não teve essa chance. Bush não sabia da visita e, segundo seu assessor, não entendeu muito bem o motivo do encontro. O ex-presidente preferiu recebê-lo em um escritório que mantém em Dallas. Nada de almoço no rancho. Dona Laura deve ter decretado: "Não me apareça aqui com esse latino". Bush pode ter providenciado uma água e quem sabe pedido ao Uber Eats pra entregar uns tacos rapidinho, talvez nem isso.

A conversa - ou monólogos paralelos - do monoglota brasileiro com o ex-presidente americano durou pouco. Não falaram do Bush Center nem de Aids, que o brasileiro deve achar que é coisa de viado. Nem do Bono Vox, provavelmente apenas mais um roqueiro drogado na visão bolsonariana. Bolsonaro quis posar de líder da América do Sul e para agradar o anfitrião improvisado encaixou uma delação provavelmente sugerida pelo staff olaviano sobre a ameaça de uma "nova Venezuela" caso Cristina Kirchner, que lidera as pesquisas, seja eleita. Aparentemente, Bush não respondeu porra nenhuma. Tanto que após a inútil conversa Bolsonaro teve que apelar para a telepatia: "Eu não sou vidente, mas, pelo semblante, eu entendi que ele tem preocupação não só com a Venezuela, mas com a questão da Argentina", disse. Nessa hora Bush devia estar pensando no lago artificial do rancho onde passa horas pescando legalmente bluegill e sunfish de orelha vermelha. Sem ser importunado.

Mas, no fim, a visita teve um ponto alto: o "encontro" com Willie Nelson em uma lanchonete texana. Não se sabe se faltou convite para almoço, a foto mostra que o brasileiro teve que descolar um rango em um pé-sujo de Dallas. O grande destaque acabou sendo o grande cantor e compositor americano.

Ao escolher a mesa, Bolsonaro nem imaginava que estava à frente de um ativista pela liberação da maconha (que cultiva cannabis em Nevada), defensor dos direitos LGTB e neto de índia. Tudo o que o bolsonarismo detesta.

Não foi informado se a lanchonete tinha música ambiente nem se a trilha tocada era “Roll me up”, de Nelson, cujo primeiro verso celebra a cannabis: "me enrole e me fume quando eu morrer”.


quinta-feira, 16 de maio de 2019

Brasil com imagem suja lá fora. Só o esporte e a cultura limpam a barra

por Ed Sá

Durante a ditadura, a imagem do Brasil na mídia internacional refletia a sujeira institucional do país.

As notícias positivas eram geradas apenas pelo esporte (Copa de 70, Nelson Prudêncio, João do Pulo, Emerson Fittipaldi, iatistas garantindo medalhas nas Olimpíadas...) e pela cultura (Gláuber Rocha, principalmente, Melhor Diretor em Cannes com "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", e Leão de Ouro no Festival de Veneza com "A Idade da Terra"...)

Vivemos hoje muito mais semelhanças do que diferenças. O Brasil é agora visto lá fora como um neofascista aliado aos piores, é anti-ambientalista, anti-globalista, consolida-se como inferno do porte de armas, é a favor do uso indiscriminado de agrotóxicos, inimigo da educação e da saúde públicas, prepara um cruel confisco da Previdência travestido de reforma, criminaliza os movimentos sociais, troca o Estado laico pelo privilégio às facções religiosas fundamentalistas e sinaliza novas ações corruptas e até suspeitas de ligações com milicianos paramilitares.

O esporte anda meio em baixa, mas a única e boa notícia recente é histórica: a vitória da equipe de revezamento 4-100 no Mundial de Atletismo. Os brasileiros Rodrigo Nascimento, Jorge Vides, Derick Souza e Paulo André de Oliveira derrotaram os Estados Unidos na final, em Yokohama, no Japão neste domingo (12) no Estádio Internacional de Yokohama, no Japão.

O quarteto campeão mundial do revezamento 4x100. Foto de Wagner Carmo/CBAt/Divulgação



Quanto à cultura, tida pelo governo como virtual "inimiga", o destaque é o filme "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que está na competição pela Palma de Ouro em Cannes e tem no elenco Sonia Braga, Udo Kier, Bárbara Colen, Silvero Pereira, Thomas Aquino e Karine Telles. Não será fácil, mas o filme tem chances, foi bem recebido pela crítica e recebeu aplausos da plateia em sessão para convidados. "Bacurau" é visto como "um grito de resistência".