terça-feira, 29 de novembro de 2022

Fotomemória - Rede Manchete na Copa do Mundo de... 1990

 



por José Esmeraldo Gonçalves

Em 1990, a equipe da Rede Manchete escalada para a Copa da Itália posou ao lado de Adolpho Bloch na cobertura da sede na Rua do Russell. Ao fundo, o "M" que fez história. Entre os enviados Alberto Léo, Paulo Stein, Márcio Guedes, Milene Ceribelli e Falcão, aí aparece, ao lado de Adolpho, o comentarista João Saldanha. Tive a honra de participar da coletânea "Esporte e Poder", na qual ele escreveu um dos capítulos. Até pouco antes da definição da equipe, havia dúvidas tanto na Rede Manchete quando no JB em relação à ida de Saldanha, que não estava bem de saúde. O comentarista não admitia perder aquela Copa. Um dia, eu estava no elevador, ele também. Saltamos no oitavo andar. Eu fui para a redação da revista Manchete, Saldanha entrou na sala do Adolpho, ao lado. Naquela conversa, que, acho, ninguém ouviu ou registrou, Saldanha convenceu Adolpho. Não sei que argumentos usou para vencer a cautela da empresa. Mas tenho certeza de que Saldanha queria muito carimbar seu passaporte para a Itália e Adolpho entendeu seus motivos. Foi a sua última Copa. Ele não voltou, mas esteve onde queria estar.

A Rede Manchete, já com problemas, ainda cobriu com brilho duas Copas: a dos Estados Unidos e a da França. Nesta última, eu já não trabalhava na revista Manchete. Em fevereiro de 1998, o amigo e fotógrafo Luiz Alberto esteve no Rio e nós o encontramos no Bracarense. Lembro que, ao fim dos chopes, combinamos um vinho, em Paris, entre um jogo e outro.  Ele iria cobrir a seleção brasileira para a revista Manchete.  
Viajamos para a Europa, mas antes passamos alguns dias em Roma. Quando chegamos em Paris,  telefonamos para a casa dele. Só então soubemos pela Eugênia, também jornalista e mulher dele, que o caro Lulu falecera dias antes. Paris nunca nos pareceu tão triste, para mim e para Jussara. Só nos restou o vinho, sem o amigo. São as lembranças que a foto enviada pelo amigo Nilton Rechtman nos desperta nesses dias de Copa do Mundo. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

General Mourão não quer ser chamado da Paquita da Ditadura. Ele fica nervoso e bloqueia tuítes. Termo está bombando nas redes

 

Reprodução Twitter

Frase do dia: a Suíça segundo Casemiro, digo, segundo Orson Welles

 

Nesta cena, na  roda-gigante de Viena, Orson Welles falou a "frase do dia".

"A Itália, por 30 anos, sob os Bórgias, teve guerra, terror, homicídio, sangue, mas produziu Michelangelo, Leonardo da Vinci e o Renascimento. A Suíça teve amor fraterno, 500 anos de democracia e paz, e o que produziu...? O relógio-cuco!"

Fala improvisada por Orson Welles no filme O terceiro homem (1949)


domingo, 27 de novembro de 2022

80 Anos - Deixem Casablanca em Paz! Por Roberto Muggiati




Tentativas de refilmar o clássico romântico de Bogart e Bergman, que foi lançado em 26 de novembro de 1942, deixam fãs à beira de um ataque de nervos

(Matéria publicada na Gazeta do Povo quando Casablanca comemorava os 70 anos da estréia)

Não é de hoje que Hollywood tenta repetir o que deu certo  e nem sempre se dá bem. O romance O Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, publicado em 1925, já no ano seguinte ganhava uma versão no cinema ainda mudo. Refilmado em preto e branco em 1949 (com Alan Ladd), Gatsby conquistaria as plateias na versão com Robert Redford e Mia Farrow, uma visão anos 70 dos anos 20. 

No drama marítimo O Grande Motim, a versão de 1935 (com Clark Gable e Charles Laughton) ganha de longe das de 1962 (Marlon Brando e Trevor Howard) e 1984 (Mel Gibson e Anthony Hopkins). Há remakes que jamais deveriam ter sido feitos: o de O Fio da Navalha (1946, com Tyrone Power), refilmado em 1984 com Bill Murray; e A Carga da Brigada Ligeira (1936, dirigido por Michael Curtiz, de Casablanca, com Errol Flynn), refeito em 1968 com David Hemmings. O personagem mais vezes levado à tela é Sherlock Holmes, interpretado por vários atores desde a primeira versão, em 1922, com John Barrymore. O detetive Charlie Chan, que também estreou no cinema mudo, aparece em dezenas de filmes. Ironicamente, seus maiores intérpretes foram falsos chineses: o sueco Warner Oland e o americano (de origem escocesa) Sidney Toler. 

O exemplo mais bem-sucedido de sequels foi a saga O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola (1972, 74, 90). 

O charme macabro de Norman Bates gerou as sequências Psicose II e Psicose III e a prequel Psicose IV O Início, todas estreladas por Anthony Perkins, que dirigiu Psicose III. Desperdício total foi Gus Van Sant copiar em cores, em 1998, quadro por quadro, o Psicose original de Hitchcock, de 1960. Mas aguardem: vem aí Alfred Hitchcock e a filmagem de Psicose, com Scarlett Johansson fazendo a bela do chuveiro e Anthony Hopkins (não Perkins!) como o Mestre do Suspense. Hopkins, a propósito, brilhou nas sequels de O Silêncio dos Inocentes, Hannibal e O Dragão Vermelho, mas não aparece na prequel, Hannibal A Origem do Mal.

Existe coisa pior no cinema do que remakes, sequels e prequels? Existe, sim. Já imaginaram um Casablanca  The Musical? Vamos torcer para que a história de amor de Rick e Ilsa continue fechada eternamente entre as quatro paredes do encantado café marroquino.

Rick e Ilsa deixam o heroico Victor Laszlo a ver aviões e têm o seu happy end. Casam, têm filhos e se tornam mais uma família afluente numa cidade-satélite da Sociedade de Consumo. Ou então, numa virada de enredo digna do nosso tempo, Rick e o capitão Renault se aprofundam (literalmente) na sua "bela amizade" e saem pelo mundo em busca de destinos gay-friendly. Laszlo larga a política e se torna gerente de uma rede de hotéis, vivendo pra lá de Marrakesh num harém de dançarinas do ventre. Dooley Wilson, que canta "As Time Goes By" no filme, faz sucesso com um clube de jazz na rive gauche de Paris, o Sam's Café Américain.

A história de amor do século entre Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Berman) pode ser resumida num tweet: "Paris: invasão alemã separa amantes. Ela casa com herói da Resistência. Casablanca: mocinho faz amada fugir com marido por um mundo melhor."

O filme era para ser mais uma produção rotineira da Warner. Baseou-se numa peça de teatro não encenada, Everybody Meets at Rick's. O texto passou por muitas mãos e modificações. Casablanca foi rodado em apenas 71 dias, de 25 de maio a 3 de agosto de 1942. As filmagens começaram com apenas metade do roteiro pronta. Depois, as falas e marcações eram escritas na véspera por Howard Koch e pelos irmãos gêmeos Jules e Philip Epstein. Ingrid Bergman não sabia quem devia amar: Rick ou Laszlo? Há quem defenda que essa confusão toda foi uma das causas principais do sucesso de Casablanca.

Frases

O filme é o campeão das frases de efeito, de humor cortante, um tipo de cinismo gerado pelo pathos da guerra. 

Nas conversas entre o capitão Renault e Rick, por exemplo: "Que diabos o trouxeram a Casablanca?/ Minha saúde. Vim por causa das águas./ Águas, que águas? Estamos no deserto?/ Fui mal informado." 

Uma mulher pergunta a Renault que tipo de homem é Rick: "Rick é o tipo de homem que... se eu fosse uma mulher, e eu não estivesse à mão, eu me apaixonaria por Rick." 

E o fecho do filme, quando os dois, acumpliciados na vitória do Bem, se afastam em meio à neblina: "Isto poderia ser o início de uma bela amizade."

O choque de Rick ao reencontrar Ilsa no seu café: "De todos os botequins em todas as cidades do mundo, ela tem de entrar logo no meu!"

Evocando a invasão de Paris: "Lembro cada detalhe: os nazistas estavam de cinza, você de azul." 

Convencendo-a do acerto do seu sacrifício: "Ilsa, não sou bom em matéria de nobreza, mas não é muito difícil perceber que os problemas de três pessoinhas não valem coisa alguma neste mundo maluco." 

E quando Ilsa, perplexa, pergunta: "E nós?" Rick consola: "Sempre teremos Paris."

O complemento musical é perfeito: "As Time Goes By", composto em 1931 por Herman Hupfeld, pianista de uma taverna suburbana de New Jersey. A letra sublinha os sentimentos do filme: "É a mesma velha história/ A luta por amor e glória/ Um caso de vida e morte./ O mundo acolherá os amantes/ Enquanto o tempo passa..." "As Time..." sublinha o amor de Rick e Ilsa em Paris e o seu reencontro em Casablanca. O piano de Sam em Paris, que só aparece 70 segundos em cena, foi leiloado no dia 14 deste mês, por US$ 602 mil, pela Sotheby's NY.


Filmagens


O elenco era uma verdadeira "legião estrangeira": a sueca Bergman; os ingleses Claude Rains e Sidney Greenstreet; os austríacos Paul Henreid (nascido em Trieste) e Peter Lorre (celebrizou-se como O Vampiro de Düsseldorf); o alemão Conrad Veidt (atuou em O Gabinete do Dr. Caligari), fugiu dos nazistas, mas Hollywood o engessou em papéis de oficiais nazistas, como em Casablanca. E tem, é claro, o diretor Michael Curtiz, húngaro que se mudou para Hollywood ainda no cinema mudo. Durão, foi temido e odiado por todo o elenco, exceto por Ingrid, que Curtiz tratava como uma duquesa.

Bogart era cinco centímetros mais baixo do que Ingrid, o que o obrigou a pisar sobre blocos de madeira ou sentar em almofadas altas para compensar a diferença. O filme todo foi rodado num galpão da Warner em Burbank. A cena final usou um avião de compensado em miniatura, imitando um Loockheed Electra Junior, preparado para o voo por extras anões, para manter a proporção. A produção exagerou no nevoeiro, a fim de disfarçar a bizarra montagem. Havia finais alternativos A e B, até os atores principais só souberam qual deles seria usado dias antes da filmagem. Tentativas de corrigir as cenas finais se tornaram impossíveis depois que Ingrid Bergman cortou os cabelos bem curtos, para interpretar Maria em Por Quem os Sinos Dobram?. A filmagem de Casablanca foi uma comédia de erros em que tudo se encaixou à perfeição para criar uma obra-prima.

Culto

A première em Nova York em 26 de novembro de 1942 garantiu que o filme concorresse aos Oscars do ano. Com oito indicações, ganhou os prêmios de melhor filme, melhor direção e melhor roteiro. Comunicólogos e semiólogos tentaram decifrar o "Efeito Casablanca" nas últimas décadas. Umberto Eco acha o filme medíocre, uma história em quadrinhos, uma colcha de retalhos, com baixa credibilidade psicológica e descontínuo em seus efeitos dramáticos." Mas Eco admite também que "Casablanca não é apenas um filme. É muitos filmes, uma antologia. Quando todos os arquétipos explodem desavergonhadamente, atingimos profundezas homéricas. Dois clichês nos fazem rir. Uma centena de clichês nos comove, pois sentimos que os clichês estão conversando entre si e celebrando uma reunião."

Intelectualismos à parte, Casablanca é um filme que fala basicamente à emoção. Cultuado por sucessivas gerações ao longo de 70 anos, deverá continuar, por muito tempo, contando "a mesma velha história da luta por amor e glória." Por tudo isso, depois de 70 anos, tornou-se também imune a remakes e continuações — um milagre impossível de se repetir.

Na capa da Carta Capital: o jogo sujos dos coturnos

 


Meme do dia: a patota e a compota

 

Reprodução Twitter 

"Lixôdromo" ?

 



Em matéria sobre Lixômetro, O Globo inova e adota a palavra Lixôdromo, assim, com acento circunflexo. Seria uma representação do sotaque paulistano? Aguardamos sambôdromo, camelôdromo, autôdromo, hipôdromo...

Mídia - Estadão - Racismo na edição. Jornal se retrata mas considera a foto da matéria apenas " inadequada"

 

Reprodução Twitter

O Estadão fez essa barbárie jornalistica e recebeu uma tempestade de críticas mais do que merecida nas redes sociais.  André Janones, no twitter, chamou atenção para a prática de racismo estrutural. 

A escolha do editor tem conotação racista. Quis passar exatamente a mensagem nem tanto subliminar que passou. 

O jornal tentou se retratar e acabou usando uma linguagem  dissimulada ao estilo bolsonarista. Admitiu apenas que a ilustração da matéria foi "inadequada". Inadequada é o kct, Estadão. (José Esmeraldo Gonçalves)

sábado, 26 de novembro de 2022

Na capa da IstoÉ, o meliante

 


Fotomemória: as novas "bancas" de revistas

Eva Christian, o comediante Canarinho e Francisco di Franco na novela Jerônimo,
Heroi do Sertão, na TV Tupi, nos anos 1970. Foto: Manchete/Reprodução

Muitas revistas impressas encerraram suas trajetórias nos últimos 15, 20 anos. Um grande número delas permancem ativas no Facebook, em blogs, no You Tube, no Instagram e em sites não-oficiais. Todos todos construídos por leitores. Revistas como Manchete, Manchete Esportiva, O Cruzeiro e outras têm suas coleções doigitalizadas pela Biblioteca Nacional. Os principais jornais também disponibilizam suas coleções na internet. Fotos do Correio da Manhã pode ser acessadas no Arquivo Nacional. O acervo do Última Hora é visto e lido no Arquivo Estado, do governo de São Paulo. 

Muitas publicações de várias áreas, contudo, ainda não estão catalogadas digitalmente na internet. É aí onde entram muitos leitores que valorizam a memória do jornalismo. A página Revistas Antigas, no Facebook, neste link, se dedica a postar fotos pesquisadas na própria web e a republicá-las na "banca" da esquina especializada em fotómemória do jornalismo. 
Política, esporte, meio-ambiente, crimes famosos, carreiras de grandes nomes da música, da literatura, política, as mudanças de comportamento da sociedade, todas estas rubricas estão retratadas em coleções de publicações que os leitores recuperam para as novas gerações interessadas nas páginas da história. Atualmente, portais de streaming como Globo Play, Prime e outros lançam documentários ou podcasts pesquisados, em parte, em imagens de revistas antigas, casos de Nara Leão, Leila Cravo, Daniella Perez, Tim Maia, entre ourtros.    

O face Revista Antigas (link) publicou recentemente a foto acima (o colaborador do paniscumovum, Nilton Muniz, colega na extinta Bloch, nos enviou o post de Marco Antonio Amaral) e fez um referência merecida ao jornalista, escritor e quadrinista Moysés Weltman. Em 1957, há 65 anos, Weltman lançava a publicação em quadrinho Jerônimo, Herói do Sertão, que nos anos 1970 virou novela no TV Tupi e, no anos 1980 foi exibida no SBT. Originalmente, a novela fez enorme sucesso quando foi ao nos anos dourados da poderosa Rádio Nacional, o primeiro veículo a alcançar todo o Brasil. 


Em revista,  Jerônimo era desenhado por Edmundo Rodrigues, que durante anos chefiou o departamento de histórias em quadrinhos da Bloch Editores. 

Também na Bloch, Moyses Weltman teve longa trajetória. Dirigiu a revista Amiga nos anos 1970, e fez uma passagem como editor da Fatos & Fotos. Com grande vivência em televisão, Weltman foi um dos profissionais que trabalhou ao lado de Adolpho Bloch para lançar a Rede Manchete.           

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

O voleio que virou meme

 

Reprodução Twitter

Entre as muitas repercussões do gol de Richarlison essa interpretação bomba desde ontem nas redes. 

Fotografia - O premiado fotógrafo esportivo Justin Setterfield imortalizou o gol de Richarlison. É o instante globalizado que mais viraliza desde ontem na internet


Justin Setterfield (Getty Images) fez a foto perfeita do voleio de Richalison. 

Justin Setterfield
Reprodução
por José Esmeraldo Gonçalves

O inglês Justin Setterfield fez a foto mais bonita da Copa do Mundo do Catar. A fabulosa imagem do atacante Richarlison no ar, em pleno voleio, a bola que parece pousada no pé direito no exato instante em que ele marca o segundo gol da seleção brasileira, ontem, contra a Sérvia. É uma obra de arte. 

Se Richarlison ao acordar hoje puxasse o Google para ver todos os jornais, revistas, veículos digitais, sites, todas as redes sociais de quem ama o futebol, levaria anos para acessar todas as suas fotos e todos os vídeos que eternizam o instante globalizado. A maior parte, sem o devido crédito como quase sempre acontece nos virais da rede. 

Pois Justin Setterfield também é um conhecido craque do esporte na modalidade "atrás da câmera". Justin estava no estádio Lusail, em Doha, a serviço da agência Getty Images, para a qual trabalha desde 2013. Em 2019 e 2020, ele ganhou o Sports Journalist Awards, uma espécie de "bola de ouro" para os fotógrafos especializados em esportes. Em 2016, venceu o Football Picture of the Year e o Getty Images European Photography Awards; em 2021 o Motor Sports category World Sports Photography Award




VOCÊ PODE VER MAIS IMAGENS NO INSTAGRAM DE JUSTIN SETTERFIELD

AQUI 

     

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Catar - Copa do Mundo na era do passe curto

"Matadinha" é moda.
 
por Niko Bolontrin

"Houve uma época em que trocar passes curtos na própria metade do campo era tática para gastar tempo. Muitas vezes, o time que fizesse isso era alvo de vaias. Bom, apague isso. Todas as seleções que jogaram até agora na Copa do Catar valorizam a troca de passes curtos e a consequente posse de bola. 

A posse de bola é tão glorificada que os locutores anunciam a todo momento as estatísticas do que chamam domínio de campo mesmo que não resulte em gols. 

Os mais antigos devem lembrar dos passes de 40 metros de Gerson ou Didi. Esqueçam, no futebol moderno raramente algum jogador faz isso, talvez só o goleiro ao repor a bola com um chutão e nos recorrentes cruzamentos sobre a área 

Em muitos momentos, a constante troca de passes curtos lembra o futsal e um dos fundamentos da modalidade: aquela "matadinha"  com a sola do pé antes de rolar a bola para o companheiro mais próximo. 

No futsal isso faz sentido: o espaço é restrito, a bola é pesada, a trave pequena e o time toca a bola até encontrar uma brecha para o chute a gol.  

Estou falando mal do jogo atual? Não. O futebol também tem modas e fases. 

Acima, falei de Gerson e Didi. O estilo de cada um seria útil atualmente? Pelé, por exemplo, se fosse treinado por um Guardiola teria que voltar para marcar e tentar retomar bola. Garrincha? Também teria de participar da "transição", voltar quando o time perdesse a posse de bola e trocar passes para abrir linhas de defesa de até cinco homens como é comum agora. Garrincha talvez até pudesse jogar aberto e driblar para vencer laterais e zagueiros, mas não o tempo todo porque o treinador à beira do campo passaria o jogo sinalizando para ele voltar.

É isso que temos. Se não gostar reclame do Rinus Mitchel que, em 74, mandava o craque Cruyff voltar para recuperar a bola no esquema do fabuloso carrossel holandês. Ou mande uma mensagem para Pepe Guardiola, Klopp, Tuchel, Ancelotti...

Comentario de J.A.Barros

Se o futebol evoluiu, não posso afirmar com certeza. 

Sou dos tempos em que via Zizinho pegar a bola no meio de campo e ir driblando o " inimigo" até ao gol. 

Sou do tempo em que via Pelé, em lances espetaculares, dar um chapéu no seu primeiro marcador, na entrada da área, dar outro chapéu no segundo marcador, dentro da área, e por mim, em frente ao goleiro, dar um terceiro chapéu nele e sozinho em frente ao gol vazio, cumprimentar com a cabeceada, o estádio e fazer o gol que marcou a sua rica e memorável historia no futebol,brasileiro. 

Sou dos tempos em que via no sagrado templo do futebol carioca, o Maracanã, Zico, na corrida, matar a bola com o lado do pé direito, continuar na corrida com a bola dominada e com o chute indefensável marcar mais um gol na sua fantástica carreira de jogador de futebol. 

No futebol de hoje, antes do jogador chegar em frente ao gol, a bola precisa correr, a começar pelo goleiro, de pé em pé, por todos os jogadores, para tentar finalizar as jogadas em frente ao gol do "inimigo ". 

Se tá certo ou não, o que vou dizer?:

 - Ah, é o futebol moderno, e o jogo fica mais corrido e é aquela corrida dos jogadores querendo bater o record dos 100 mentros rasos. 

O futebol fica mais corrido, mais bonito?. 

Francamente, não sei


Bolsonaro distribuiu verbas para amigos e a mídia escondeu

 

Reprodução Twitter 

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Memórias da redação (e da vida): Todas as Copas do Mundo, menos duas... • Por Roberto Muggiati

O cartaz da Copa de 1950

Minha mãe trocava minha fralda quando Leônidas da Silva inventou a bicicleta. Aos oito meses de idade, eu não tinha a menor ideia de que o mundo era uma bola. Artilheiro da Copa do Mundo da França, em 1938, o “Diamante negro” fez sete gols, um deles descalço, ao perder uma chuteira no aguaceiro que foi o jogo contra a Polônia. Eliminado pela Iugoslávia e Espanha nas Copas de 1930 (Uruguai) e 1934 (Itália), o Brasil poderia ter sido campeão na França, não fosse a ausência de Leônidas, contundido, na semifinal contra a Itália, que ganhou por 2x1 com um pênalti duvidoso marcado pelo juiz suíço.

A "zebra" que virou filme

V
eio a Guerra, veio o pós-Guerra e o Brasil sediou a Copa de 1950. Com meus tenros doze anos chorei lágrimas amargas ouvindo pelo rádio com meu avô cego a final contra o Uruguai. Uma compensação: minto se disser que nunca vi um jogo de Copa do Mundo, vi dois, em Curitiba, no Durival Britto e Silva, em Vila Capanema. Paraguai 2x2 Suécia e Espanha 3x1 Estados Unidos, este com o polêmico Mário Viana como referee (era como se chamava o juiz na época). Aquele bisonho time norte-americano feito de imigrantes trabalhadores braçais (o soccer era um pária nos EUA), eliminaria quatro dias depois em Belo Horizonte a Inglaterra, uma das grandes favoritas. O feito foi celebrado até num filme americano de 2005, The Game of Their Lives/Duelo de campeões, com o jogo no Estádio Independência de BH filmado no campo do Fluminense, no Rio.

Em 1954, a Copa aconteceu na Suíça. O Brasil estreou um novo uniforme, com a camisa amarela e os calções azuis – depois da derrota no Maracanã em 50 a camisa branca e o calção azul usados desde 1919 eram considerados azarados. A seleção foi eliminada nas quartas pela Hungria, que perderia a final para a Alemanha. Esta foi a primeira Copa que acompanhei já de dentro de uma redação, desde março eu trabalhava como redator na Gazeta do Povo de Curitiba. 

Em 1958, uma nova geração entrava em campo na Suécia. Guardo muito viva a lembrança de Pelé salvando a pátria contra o País de Gales com o único gol da partida, o seu primeiro numa Copa, depois de um belo “chapéu” no defensor (passa a toda hora na TV). A memória foi marcante porque eu acompanhava a partida pelo rádio numa caminhonete da reportagem a caminho do local nos arredores de São José dos Pinhais onde havia caído o Convair da Cruzeiro do Sul, causando a morte do senador Nereu Ramos, do governador de Santa Catarina Jorge Lacerda e do deputado Leoberto Leal.

Em 1961, estudando jornalismo em Paris, tive o privilégio de ver Pelé jogar pelo Santos (5x4 contra o Racing) num torneio internacional no Parc des Princes. 

Em 1962, de volta de Paris e a caminho de três anos na BBC de Londres – numa fase muito louca da minha vida que batizei de “Seis meses num DKW” – lembro do domingo da final da Copa do Chile, Brasil 3x1 Checoslováquia, eu rodando de carro com uma namorada, a certa altura subimos a serra até Vila Velha, no segundo planalto. Quando voltamos ao centro de Curitiba, bem na Cinelândia, o Brasil fazia o terceiro gol, o DKW quase levantou voo com as bombas cabeça-de-negro que estouravam debaixo da sua carroceria.

Em 1966 o país inventor do soccer foi brindado como sede da Copa. Repórter especial da Manchete em Frei Caneca, sem participar diretamente da cobertura, lembro que meu colega Muniz Sodré, que falava russo, entrevistou o goleiro soviético Lev Yashin, de passagem pelo Rio. Algumas peculiaridades: em meados de abril, a revista Time publicou uma reportagem de capa sobre London: The Swinging City, no que pareceu a muitos uma sutil matéria paga encomendada para encher a bola da Inglaterra. Houve também o episódio da taça Jules Rimet, roubada por alguns dias e encontrada por um cachorro em seu pacato passeio com o dono. Tempos depois escrevi um texto sobre a Copa da Inglaterra intitulado “O ano da Taça Roubada”, o duplo sentido aludindo à bola que bateu no travessão superior sem cair dentro da risca, mas foi marcada como gol para a Inglaterra, na final com a Alemanha.

Uma referência ao salto tecnológico nas comunicações: em 1966 só víamos os jogos no dia seguinte, quando o videoteipe chegava por malote; já em 1970, assistíamos às partidas do México ao vivo por satélite, mas em preto e branco; e na Copa da Alemanha, em 1974, vimos os jogos ao vivo e em cores.

México, Copa de 1970- A histórica foto de Orlando Abrunhosa
na capa da Fatos & Fotos

No ano do Tri eu expiava os meus pecados numa semanal maldita, a Fatos&Fotos, prima pobre da Manchete. Fazendo uma revista mais jovem e descolada, ameaçávamos o carro-chefe, e isso desagradava profundamente Adolpho Bloch. Era muito difícil lidar com o capo, mas de repente entrou em cena a doce figura do Hélio Bloch que, com toda sua diplomacia, passou a intermediar meu relacionamento com Adolpho. Foi assim que, fazendo fé na seleção de 1970, começamos a preparar uma edição especial de Fatos&Fotos. Se o Brasil não fosse campeão no México, ficaríamos com um encalhe monumental de 150 mil exemplares na Gráfica de Parada de Lucas. O Hélio assumiu a responsa e seguimos em frente. A sorte estava o nosso lado, F&F por data de fechamento recebeu as fotos do jogo de estreia do Brasil, contra a Checoslováquia, e dei na capa aquela foto fantástica do Orlandinho Abrunhosa dos Três Mosqueteiros – Pelé socando o ar ladeado por Tostão e Jairzinho – que uma semana depois saía colorizada na capa do Paris-Match. Terminada a final de domingo do 4x1 na Itália, saí de casa no Leme atrás de um táxi que me levasse à redação, no meio da multidão ensandecida. Fechamos a edição com radiofotos do jogo em p&b e terça-feira cedinho Fatos&Fotos chegava gloriosa às bancas com a primeira edição do Tri no Brasil, no mundo, “quiçá na galáxia”, como diria o saudoso JK.

Em 1974, os sonhos do tetra foram atropelados por um futebol novo e sensacional, o Carrossell Holandês, também chamado de Laranja Mecânica (pela cor das camisas e por associação com o filme irreverente de Stanley Kubrick, A Clockwork Orange.) A Holanda nos despachou e perdemos ainda o 3º lugar para a Polônia. A Alemanha venceu a final e a Laranja Mecânica tentaria de novo sua sorte na final seguinte, contra a Argentina, na Copa de 1978. Na derrota de 74 Justino Martins tirou da gaveta uma capa bizarra copiando uma ideia da revista alemã Stern: uma foto de Zagallo com a cabeça inchada em forma de bola de futebol.

 Copa esquisitíssima a de 1978! A Argentina começou perdendo para a Itália. Correu o risco de ser eliminada pelo Brasil num empate sem gols numa nervosa noite de domingo em Rosário. Para ir à final, precisava vencer o Peru por quatro gols ou mais,. E não é que, num jogo duvidoso,  goleou o time de Chumpitaz, Cubillas e Manzo por 6x0?. Na final,  ganhou sua primeira Copa derrotando a Holanda. O Brasil ficou em 3º, vencendo a Itália. Não perdeu um único jogo nessa Copa, sagrando-se o “campeão moral”. Na época eu tinha trocado de mulher, trocado de apartamento e traduzia o best seller Holocausto, uma série de repercussão mundial que passaria na TV Globo.


Copa da Espanha, 1982 - O pequeno torcedor chora a derrota do Brasil no estádio
do Sarriá, em Barcelona. A foto da capa do Jornal da Tarde, feita pelo
fotojornalista Reginaldo Manente, 
 ganhou o Prêmio Esso do ano. 

Em 1982, na Espanha, tínhamos uma de nossas melhores seleções, aquela de Zico, Sócrates e Falcão, comandada por Telê Santana, Paolo Rossi, mas fomos eliminados em Barcelona pela Itália num hat trick do infernal Paolo Rossi. Vimos o jogo de pé na TV da sala do Adolpho, a cada gol de Rossi ele me abraçava eufórico e eu dizia: “Mas, Adolpho, foi gol deles!” Se serve de consolo, Josué Montello e eu fizemos parte do júri que deu o Prêmio Esso à foto do garotinho brasileiro chorando na arquibancada do estádio Sarriá.

Em 1986, a Colômbia, endividada, desistiu de sediar a Copa, que acabou voltando para o México. O Brasil foi eliminado pela França nas quartas de final na decisão por pênaltis. Foi a Copa de Diego Maradona, coroada por aquele gol contra a Inglaterra feito pela “mano de Diós”... A Argentina venceu a Alemanha na final por 3x2.

Meio século depois, a Copa voltou à Itália,  em 1990. O Brasil do técnico Sebastião Lazzaroni foi eliminado pela Argentina ainda nas oitavas por 1x0, gol de Caniggia. O estilo da seleção foi batizado pela imprensa de Era Dunga, pela ênfase defensiva e pelo temperamento taciturno do volante, que chegaria a capitão do time do Tetra e a chefiar o escrete na Copa de 2010.

Um lance bizarro na Copa da Itália foi a tentativa frustrada do goleiro colombiano Higuita, metido a líbero, de driblar o atacante de Camarões Millá, causando a derrota da Colômbia por 2x1. A nota triste foi a morte de João Saldanha, quando fazia a cobertura da Copa para a TV Manchete – Saldanha que renunciou ao cargo de técnico da seleção em 1970 alegando interferência do ditador Emílio Garrastazu Médici na escalação do time. E um episódio doméstico muito estranho me aconteceu logo após a eliminação do Brasil pelo gol de Caniggia. Naquela tarde de domingo, não sei por que – talvez para descarregar a tensão – decidi ir ao banheiro fazer a barba. De repente, o pesado armário espelhado de metal embutido despencou sobre mim. Felizmente, esquivei-me a tempo. Foi então que fiquei sabendo da existência de cupins terríveis que corroem o concreto, eu achava que eles só comiam madeira e papelão...

Em 1994, veio o tão sonhado tetra, no embalo de Romário, Bebeto & Cia, uma conquista dedicada a Ayrton Senna, morto no circuito de Imola em 1º de maio. Manchete publicou uma edição especial, sem a repercussão esperada. Talvez ganhar uma Copa na disputa de pênaltis tenha gerado uma atmosfera anticlimática – seja como for, salve Roberto Baggio, com aquele chute estratosférico, lembrando os petardos do futebol americano sobre aquelas traves elevadas...

Em 1998, na França, foi aquela história que todos sabemos. Cony – especialista em informações de cocheira tipo “O-Tancredo-não-vai-tomar-posse” – telefonou de Paris na madrugada da final anunciando: “O Ronaldo não vai jogar!” Não jogou. E Zinedine Zidane fez a festa, no primeiro título dos franceses. Foi nossa última Copa na redação. No final de setembro, pela primeira vez em meus 33 anos de Bloch Editores, a folha de pagamento não deu o ar de sua graça. Passamos a receber “vales” aleatórios muito abaixo do nosso salário. Até o dia 1º de agosto de 2000, quando a empresa decretou falência e as portas do majestoso conjunto de prédios da Rua do Russell desenhado por Oscar Niemeyer foram lacradas para sempre.

Ronaldo Fenômeno se redimiu em 2002 na Copa do Japão e da Coreia, ao lado de Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Cafu e outras feras. Aquele gol de falta do Ronaldinho encobrindo o goleiro inglês! E o gol de bico do Fenômeno contra a Turquia! Sem falar no magistral 2x0 contra a Alemanha na final. A seleção comandada por Felipão era a primeira a chegar ao penta – e continua no topo.



Em 2006, a segunda Copa na Alemanha, o Brasil caiu nas quartas de final, novamente o algoz foi a França. O vilão eleito foi Roberto Carlos, que estaria distraído ajeitando o meião enquanto Thierry Henry concluiu a assistência na cobrança de falta de Zidane garantindo o 1x0 da vitória. Em nova final por pênaltis, a Itália derrotou a França, conquistando o seu tri.

Em 2010, foi a Copa das vuvuzelas na África do Sul. E a entrada de um novo país para o seleto clube de campeões, a Espanha. O Brasil de Dunga foi eliminado nas quartas pela Holanda, que se sagrou vice de uma Copa pela terceira vez.

A Copa de 2014 nos traz tristes memórias: a do apagão contra a Alemanha nos 7x1 de Belo Horizonte (nosso torcedor emérito Mick Jagger estava na arquibancada do Mineirão) e a derrota de 3x0 para a Holanda na disputa do terceiro lugar. Alemanha e Argentina fizeram uma final parelha no dia 13 de julho no Maracanã e um gol solitário de Götze na prorrogação (113’) deu o tetra à seleção dirigida por Joachim Low.

Na Copa da Rússia, em 2016, o canário que cantou mais alto foi belga. O Brasil foi eliminado nas quartas de final pela Bélgica, que terminou o torneio em terceiro. A França venceu a Croácia na final por 4x2, conquistando sua segunda Copa.

O torneio da FIFA é um clube fechado de oito países que detêm os 21 troféus: Brasil, 5; Alemanha e Itália, 4 cada; Argentina, Uruguai e França, 2 cada; Inglaterra e Espanha, 1 cada.

Agora temos um cenário totalmente inusitado: a primeira Copa no final do ano, num pais islâmico do Oriente Médio e a última com o formato de 32 equipes: a edição de 2026, no Canadá-Estados Unidos-México, será ampliada para 48 seleções.

O Brasil – único país que participou de todas as 22 edições da Copa do Mundo – é um dos grandes favoritos, com um desempenho impressionante nas eliminatórias: venceu 14 jogos, empatou três, teve o melhor ataque (40 gols) e a melhor defesa (cinco gols), com 88% de aproveitamento, seis pontos à frente da Argentina. Além de um elenco de craques com um vasto repertório de qualidades, Tite conta com uma equipe de assistentes que analisa praticamente 24 horas por dia o comportamento técnico, tático e emocional de seus comandados. Com a velha prancheta obsoleta na lixeira, sua seleção movida à base de aplicativos espertos tem tudo para dar certo. Mas no futebol, como em tudo, o subjetivo e o imponderável às vezes provocam surpresas. Vamos aguardar o último capítulo, no dia 18 de dezembro, às 12 horas, no estádio de Lusail.


segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Copa do Mundo Catar - Seleção Brasileira: autoajuda no vestiário



Imagens reproduzidas de vídeo CBF/Divulgação 

por O.V. Pochê

Tite adota o estilo "autoajuda" nas preleções aos jogadores e durante as entrevistas. Às vezes fala difícil, como se fosse um tecnocrata do futebol. Pois os vestiários do estádio  doo Al Arabi Sports Club onde a seleção brasileira faz seus treinamentos no Catar, reproduzem nas paredes as bordões. São palavras-chave de incentivo e motivação: "Coragem", "Trabalho", "Mentalmente forte", "Determinação", "Se preparar bem para merecer vencer", "Equilíbrio" , "Força "...

Como Neném Prancha diria se vivo fosse, autoajuda não ganha jogo. 

Fico pensando no genial Pelé, em 1958, e se, antes de dar um chapéu no zagueiro na pequena área, ele dizia para si mesmo: "estou cheio de determinação", "tenho coragem". 

E Garrincha? Quando entortava adversários em 1962, a Copa em que ditou o ritmo e a magia da seleção, ele usava mantras do tipo "iniciativa", " mentalização", "acreditar"? E Ronaldinho, Ronaldo, Carlos Alberto Torres, Nilton Santos, Romário, Didi, Tostão, Rivelino, Gerson, Rivaldo e tantos outros? O que pensava Ronaldinho quando fez aquele golaço contra a Alemanha em 2002? "Tenho confiança", "trabalhei e mereço vencer"? Romário quando dava um drible curtinho, medido em milímetros, antes de furar as redes vibrava com um "caraio, tô mentalizado". 

Sei não, Neymar está tão confiante que já anda com a sexta estrela do Hexa no logo da CBF, mas o Brasil vai precisar muito mais de autoajuda e do já ganhou" para não voltar cedo pra casa.

A grande dúvida do Brasil - e que vai deixar os torcedores tensos - é como o time vai se comportar diante de uma seleção competitiva européia. O time de Tite não sabe o que é isso desde que perdeu para a Bélgica em 2018. Foi pro Catar no escuro. A caixa preta só começará a ser aberta nos jogos contra Sérvia, Suíça e Camarões. Vamos encarar?



domingo, 20 de novembro de 2022

Lula registra a morte de Hebe Bonafini, uma das Mães da Plaza de Mayo

 

Reprodução Twitter 

E essa foto?

 

Reprodução Twitter 

Vejo "gorilas" (*) de farda pulando nos galhos de Brasília

 

Charge de Jaguar, junho de 1963. Reprodução Acervo Última Hora


por José Esmeraldo Gonçalves

Jaguar publicou essa charge em 1963 no jornal Última Hora. Naquele ano, uma conspiração golpista estava em andamento no Brasil. 

As forças que atacavam a democracia tinham apoiadores e motivação muito semelhantes às intenções  dos grupos que hoje pedem a intervenção militar para impedir a posse de Lula. 

Os fazendeiros e latifundiários - não se usava o termo agronegócio - clamavam contra a reforma agrária, as Forças Armadas atendiam aos interesses dos Estados Unidos que, em plena Guerra Fria, não queriam um regime de esquerda na América do Sul. Jango estava longe de ser um Fidel Castro, mas isso não importava, eles queriam o poder. O embaixador norte-americano Lincoln Gordon, como documentos revelaram décadas depois, era o pivô do golpe, reunia-se com militares e políticos golpistas com a mesma frequência com que  abria a carteira de dólares. 

Os evangélicos não eram tão atuantes, o neopentecostalismo ainda não era viral, cabia aos católicos puxarem o arrastão na Av. Paulista e na Av. Rio Branco contra o "comunismo" e os representantes do diabo que ameaçavam as famílias. As senhoras católicas não faziam motociatas, mas, a pé, marchavam com Deus e a Família pela Liberdade ameaçada pelo "comunismo". 

Organizações como Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e Ipes (Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais) utilizavam o dinheiro enviado por Washington e os montantes arrecadados com empresários e "patriotas" para recrutar jornalistas, escritores, editoras, meios de comunicação e formadores de opinião em geral. A frota de caminhões no Brasil era composta de velhos GMC e Ford. O modelo mais novo era o Fenemê. As estradas eram ruins, muita vezes as "barreiras"eram naturalmente  formadas por atoleiros nada ideológicos.  A camisa da seleção da CBD era só isso: camisa da seleção.

O neoliberalismo ainda não era prática de governo e o "mercado" financeiro não transitava nos centros de poder com a desenvoltura atual, mas os líderes das "classes produtivas" também abriam os cofres para patrocinar o golpe.  

A resistência democrática usava o termo "gorila" para definir os generais golpistas.  Essa expressão ficou no passado. O papel que aqueles militares exerciam, não. Vários deles conspiram a céu aberto e pulam em galhos obscuros hoje em Brasília. 

Não sei se admiro a percepção do grande Jaguar e a permanência da sua charge, como se fosse hoje, ou se lamento o Brasil, que de tempos em tempos dá um redial para o passado,  abre a tampa da máquina criogênica e descongela os "gorilas" de farda.

(*) O termo "gorila" como apelido de  generais golpistas e ditadores militares teria surgido nos grupos de esquerda da América do Sul. Gorila, o animal, teria duas características: brutalidade e burrice. Daí...


sexta-feira, 18 de novembro de 2022

A Copa triste

Com a Copa do Catar, a FIFA pensou muito mais nos dólares dos sheiks do que no futebol e criou o desastre perfeito. 

O Catar é um Estado fundamentalista e autoritário. Uma ditadura que desrespeita direitos humanos e oprime muitos dos seus habitantes, principalmente as mulheres. Cada estádio construído para a Copa, assim como cada um dos suntuosos edifícios de Doha e de outras localidades têm as marcas do sangue derramado por imigrantes que os construíram em condições de trabalho escravo. O país já foi denunciado por isso em instâncias internacionais inúmeras vezes. Calcula-se que centenas desses morreram nos últimos anos.  O clima festivo em torno da Copa ficará restrito praticamente aos torcedores estrangeiros e, mesmo assim, contidos pelas rigorosas leis islâmicas.  Fora das quatro linhas, tudo parece falso nessa Copa feita como se fosse um reality show a ser visto pela TV e  gerado em um estúdio. 

Claro que, no gramado, quando a bola rolar, o fascínio do futebol vai prevalecer. Brasil, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Inglaterra e outras potências do futebol vão garantir o espetáculo. A Copa terá uma identidade triste apesar da alegria que os craques vão proporcionar. A FIFA merece cartão vermelho e nem precisa chamar o VAR. (José Esmeraldo Gonçalves).



quinta-feira, 17 de novembro de 2022

A mídia não faz essa conta...

 

A matéria é da BBC Brasil. Folha, Globo e Estadão evitam fazer essa conta. Os jornalistas de mercado (a mídia brasileira não tem mais jornalistas de economia) não fazem essa soma. Bolsonaro e Paulo Guedes estupraram o teto de gasto, a divindade desses jornais e jornalistas, mas o mercado só sente a dor da gonorréia financeira quando Lula propõe um gasto planejado para atender ao drama e à fome de milhões de brasileiros. O nome disso é canalhice. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Oito bilhões, chegamos lá!... E a coisa continua feia... • Por Roberto Muggiati

Ontem, 15 de novembro de 2022, a Terra atingiu a cota populacional de 8 bilhões de habitantes. Em 14 de julho passado, escrevi aqui algumas considerações a respeito do que batizei de “poluição demográfica”.

Blogque virou manchete - Panis Cum Ovum: Poluição demográfica: “Eu sou um de oitobilhões! ” • Por Roberto Muggiati

As discussões da COP27 no Egito só confirmam que as nações do mundo não estão conseguindo reverter o cenário de catástrofe gerados pelo aquecimento global. Seremos cada vez mais longevos até o belo dia em que pudermos afirmar: “Somos todos dinossauros...” – ou, corrigindo o tempo verbal: “Fomos todos dinossauros...”


LAMENTO NO TWITTER

Reprodução Twitter



terça-feira, 15 de novembro de 2022

Frase do Dia: Barroso humilha fascista

 "PERDEU, MANÉ, NÃO AMOLA"

(Ministro Luis Roberto Barroso, do STF, em resposta a um bolsofascista fanático que enchia o seu saco em Nova York, ontem)

Desmemória da escória

Imagem ilustrativa
por José Esmeraldo Gonçalves 

Em junho de 1985 Carlos Heitor Cony, então diretor da revista Fatos, me pediu para fazer um box para uma matéria do repórter Luiz Carlos Sarmento sobre o rumoroso Caso Baumgarten. Cony recebera informações sobre uma operação do SNI destinada a apagar determinados arquivos e registros nos órgãos de segurança. A tarefa era gigantesca. Havia anotações que a ditadura considerava "comprometedoras" não apenas no SNI, mas nas Assessorias de Segurança e Informação dos ministérios, nos Dops estaduais e nos terríveis "centros de segurança" das Forças Armadas. Através de um contato que o próprio Cony me passou, além de um nome indicado por Sarmento, obtive a confirmação de que a limpeza dos porões estava em curso desde que a Nova República se anunciara. 

Em 2012, Cony me lembrou em telefonema que um livro recém-lançado, "Memórias de um Guerra Suja", do ex-delegado do DOPS Claudio Guerra, confirmava a reportagem de Sarmento, 25 anos depois. Fiz então um registro no blog. (https://paniscumovum.blogspot.com/search?q=Claudio+Guerra

Nos últimos dias, lembrei-me dessa operação de queima de arquivos ao ler no Metrópoles, em matéria do jornalista Rodrigo Rangel, que o Palácio do Planalto havia formatado todos os seus computadores. "Formatar", no caso, igual a apagar inteiramente os conteúdos das máquinas. O processo exclui o sistema operacional dos computadores, o que significa que deverá ser reinstalado do "zero". Não restando nem backup. O Planalto, cuja credibilidade também é zero, afirmou que um "vírus" havia atacado a rede de dados da Presidência. 

Em 1985, um militar definiu a operação 'abafa' dos remanescentes da ditadura, em 1985, como "frenética". 

Imagino como deve estar vertiginosa nas sombras do Planalto a "higienização" do governo Bolsonaro, uma espécie de "solução final" para mensagens, vídeos, documentos, recadinhos, gravações, anotações de conversa de fim de tarde, boletos, memórias de celulares, sites pesquisados, históricos, Google Maps, agendas e registros não republicanos acumulados nos últimos quatro anos. Por enquanto, não há informação se, como o seu mentor Donald Trump, Bolsonaro levará pilhas de documentos secretos para o seu condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.              

República: como vai se chamar a nova era?





A Alegoria da República segundo o brasileiro Manoel Lopes Rodrigues.
A representação é tão caricata e feia
quanto a representada. 

A Efígie da República do Brasil: um toque romano na terra do pau-brasil


O pintor Roque Carneiro retrtatou a República portuguesa de topless.
Belos seios, pelo menos. Não por acaso, reúne uma multidão de admiradores.


A "mãe guerreira" Marianne representa a República Francesa
na visão de Delacroix na tela "A Liberdade guiando o Povo".

Em seus conturbados 133 anos de República, o Brasil tem vivido espasmos alternados de totalitarismo e democracia. A República Velha – que não foi nenhuma beleza – foi derrubada pela Revolução de 30, que abriu caminho para a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas. A redemocratização do pós-guerra não chegou a durar 20 anos e acabou atropelada pelo Golpe de 1964. Ao período de 21 anos de ditadura militar seguiu-se a Nova República, iniciada em 1985 com a eleição indireta de Tancredo Neves (e a posse de Sarney). 

Tivemos então 31 anos de altos e baixos, marcados pelo impeachment (mais que justificado) de Collor e pelo impeachment (injustificado) de Dilma, na verdade o mal dissimulado Golpe de 2016. 

A partir de 2018, o sofrido povo brasileiro foi brindado com quatro anos de negacionismo e neonazismo. 

Um novo período começa em 1º de janeiro de 2023 e está a pedir uma nova denominação. O blog Panis Cum Ovum – que já se aproxima do seu Ano XV – pede a seus leitores que contribuam com sugestões. Um veterano jornalista da revista Manchete já arriscou o seu palpite: Terceira República, inspirado pelo fato de que Luiz Inácio Lula da Silva é o único Presidente da história eleito para um terceiro mandato. 

Por enquanto, si non è vero è ben trovato...

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Mídia - "Caaaaalada! - Eliane Cantanhêde quer que Janja se manifeste apenas no quarto do casal

Janja no palanque. Foto de Ricardo Stuckert


por José Esmeraldo Gonçalves 

Ontem a Rede Globo exibiu no Fantástico uma entrevista com Rosângela da Silva, a Janja, casada com o presidente Lula e com participação destacada na campanha presidencial. 

Provavelmente, a entrevista foi gravada antes dos comentários machistas e preconceituosos que Eliane Cantanhêde lançou contra a socióloga. O protagonismo de Janja incomoda a jornalista. Autêntica, simples, sem a afetação que, aliás, a Cantanhêde transmite nas suas intervenções na TV, a entrevista de Janja foi uma resposta elegante ao ataque em estilo Século 19 que recebeu na Globo News. 

No fim quem restou exposta e obsoleta - e tem recebido milhares de críticas nas redes sociais - foi a jornalista. 

Afinal, o que a Cantanhêde quer para as mulheres brasileiras? Que vivam em "prisão domiciliar" enquanto os maridos não chegam do trabalho? Que usem uma tornozeleira afetiva?  

O humorista Chico Anysio interpretava um personagem, o Nazareno, casado com a coitada da Sofia. Cada vez que ela interferia em uma conversa, o marido disparava o bordão "caaaaalada!". 

"Ela não é presidente do PT, não é líder política”, disse a Cantanhêde. Para a jornalista, a socióloga "ocupa excesso de espaço". No mesmo comentário, ela definiu os únicos metros cúbicos nos quais Janja pode se manifestar: o quarto do casal. 

A Cantanhêde imita a famosa frase que Ciro Gomes disse sobre a função de Patricia Pilar, com quem estava casado: dormir com ele. 

Ciro se deculpou. A Cantanhede ainda não. 

Durante a campanha Janja recebeu muitas ofensas e foi vítima de fake news nas redes sociais. Ela verá, ao longo do mandato de Lula, que será um alvo de parte da mídia. Não falha. Dilma foi capa de revista por ser "nervosa", foi criticada até pelo "jeito de andar". A jovem Tereza Goulart, que fugia ao figurino conservador de "primeira-dama" (título deplorável, a propósito) era caluniada pelas "senhoras de Santana". 

Já Iolanda Costa e Silva, Scyla Médici, Lucy Geisel e Dulce Figueiredo só recebiam elogios. 

Em todo caso, democracia é melhor. Na sala, no quarto, no trabalho, nas ruas, na estrada, no morro, no asfalto...            

sábado, 12 de novembro de 2022

Dois momentos de mídia - Quando o mercado lamentou a criação do 13° salário e o fim da escravatura

 

Reproduções Twitter


A elite brasileira é a responsável histórica pelo atraso do Brasil e pela péssima distribuição de renda que o país ostenta. Isso explica o ódio contra Lula demonstrado no mercado e nos editoriais da mídia que o representa.

 A página do Globo em 1962 tem o mesmo espírito canalha da nota no Diário do Brazil em 1888, que lamentava os prejuízos que a abolição da escravatura causava no mercado.  A elite também foi contra o voto feminino e as férias remuneradas. Hoje é contra a universidade pública e pretende que a previdência seja exclusivamente privada.

Na maior parte da história, o Brasil foi governado por uma elite corrupta. A Velha República era o PCC das classes altas.  Sempre que o povo reagiu foi combatido a bala, como nos anos 1930, ou na crise fabricada contra Getúlio Vargas em 1954; no golpe de 1964, que resultou em uma sangrenta ditadura que durou 21 anos; no golpe contra Dilma Rousseff em 2016. 
A eleição de Bolsonaro foi possível graças às manobras ilegais da quadrilha da Lava Jato, que impediu a candidatura de Lula. Essa foi a mais recente manobra da elite sempre com apoio das oligarquias da mídia.

A mesma elite que sonega, que se beneficia de subsídios, que se apropria de verbas públicas, que financia deputados e senadores - as tais bancadas que defendem seus interesses- ficou histérica nos últimos dias ao levantar o estandarte do "teto de gastos" e do "equilíbrio fiscal quando Lula deixou clara suas prioridades: combater a fome, investir para criar empregos, tirar o Brasil da paralisia que não o deixa crescer mas que não abala a especulação financeira. Porque a especulação não precisa de pontes, de estradas, de casas populares, de escolas, de hospitais e postos de saúde. A especulação se alimenta dela mesma. 
 Curiosamente, essa mesma facção elitista ficou quieta quando foi "sodomizada", na boa, por Bolsonaro que estuprou o "teto" várias vezes.

O que a elite brasileira não quer é que o povo tenha uma vida digna. Quer o atraso porque o atraso lhe faz bem.