sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Rapazes poderosos - ...E a Lava Jata pautava o "jornalismo investigativo"

A charge de Jaguar
reproduzida
da Edição Comemorativa
dos 40 anos do Pasquim/2008
Os mais recentes chats da VazaJato materializam o que era suspeita: a parceria abjeta entre alguns veículos e o esquema montado pela facção de procuradores para "vazamentos seletivos" da Lava Jato.

A força-tarefa sempre negou a ilegalidade que agora é desmascarada.

A charge de Jaguar reproduzida ao lado foi publicada em 2008 na edição comemorativa dos 40 anos do Pasquim. É premonitória.

Parte do jornalismo investigativo brasileiro, ou, pelo menos a forma como a mídia conservadora o vê, sai queimado a partir da revelação dos diálogos da Lava Jato. Pelo que foi revelado até agora - a mídia ainda terá mais participações especiais em futuros chats - várias matérias apresentadas como fruto da apuração de repórteres investigativos tinha nada de "investigação", eram apenas repasses de informações manobradas pelos procuradores. A mídia aparece como uma alegre marionete de interesses dos porões curitibanos, certamente coincidentes com as próprias intenções políticas e empresariais dos veículos que atendiam à estratégia do putsch do MPF.

Reproduções The Intercpt Brasil 

A força-tarefa de Curitiba é a pauteira e o jornalista contatado  (no caso acima, teve a identidade preservada) aparenta subserviência e parece vibrar de emoção ao receber o "presente".

Tristes sintomas da deterioração ética da mídia conservadora.

A falta de um zíper ameaça ritual de boa sorte dos cosmonautas russos

Reprodução Daily Mail
Desde Gagarin, os cosmonautas soviéticos e atualmente russos mantiveram a tradição de antes de embarcar nas cápsulas fazer um xixi rápido no pneu do ônibus que os levava plataforma de lançamento em Baikonur.

O gesto, na verdade uma superstição, está em risco. A Rússia lançará uma nova estação espacial - a Federação - para substituir as naves Soyuz em uso desde os anos 1960.

Veículo novo, traje novo. E assim os novo macacões espacias apresentados ontem em Moscou tornarão impossível o acesso ao elemento essencial para o ritual.

Os cosmonautas se articulam para pedir ao designer que altere o traje e permitir o xixi da boa sorte.

Em tempo: nada mudará para as  mulheres astronautas que nunca puderam seguir o ritual de Gagarin que, em 1961, desceu do ônibus para fazer xixi antes de subir na Vostok 1. A notícia está no Daily Mail.


Veja fotografou Queiroz. Fica faltando agora uma nova hashtag: "Fala Queiroz!". Mas o caso não tem prazo para sair do freezer


Veja fez paparazzo do Fabrício Queiroz. Ele está em São Paulo, segundo a revista, vai regularmente ao Hospital Albert Einstein, onde faria tratamento contra um câncer no intestino. Embora a pergunta "Cadê  Queiroz" tenha se popularizado, o pivô de movimentação financeira suspeita - o escândalo da "rachadinha", que viveu 15 minutos de fama e foi esquecido - que envolve figuras do clã Bolsonaro não é procurado pela PF e muito menos pelo MP. A matéria é de observação, não há declaração do suspeito e o texto reconta o caso atualmente congelado em muitos graus abaixo de zero. Embora convocados, Queiroz, mulher, filhas e Flávio Bolsonaro não compareceram ao MP que, apesar disso, não denunciou o grupo pela recusa em depor.
De qualquer forma, Veja responde: aí está Queiroz. Falta agora viralizar uma nova hashtag: "Fala Queiroz!"

Hidroaviões do G7 começam a apagar queimadas na Amazônia. Menos no Brasil. Bolsonaro ainda não autorizou voos

Hidroaviões financiados pelo G7 já estão em ação contra queimadas decolando do Paraguai. Outras aeronaves partirão nos próximos dias em operação coordenada pelo Chile.
O Brasil, por enquanto, está fora da rota dos hidroaviões.
Bolsonaro ainda não autorizou voos bancados pela ajuda do G7 sobre a Amazônia brasileira, precisamente a maior parte e a mais atingida pela devastação das queimadas. A notícia está no site da Rádio França Internacional.

CNN/Reprodução
Ontem, a CNN, em reportagem especial, mostrou que  brigadas de incêndio brasileiras trabalham sem equipamentos adequados. Em uma das cenas, homens tentam conter as chamas batendo com vassouras na periferia da mata.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

É moratória! Parte da mídia brasileira fez malabarismos para não usar essa palavrinha na cobertura das trapalhadas econômicas de Maurício Macri

O Globo fez ginástica rítmica editorial para evitar a palavra moratória e buscou múltiplas opções:
"Renegociar", "revisão de prazos", "reescalonamento dos vencimentos" etc.

A Folha não é peronista mas foi honesta. Definiu a extensão de prazo para pagamento
com a palavra exata: moratória. 

O Diário de Pernambuco evitou sofismas, a palavrinha de origem grega que não
combina nem um pouco com jornalismo sério. É moratória.

O Valor, embora especializado em economia, não deu tanto destaque à crise argentina
na primeira página e também chama a suspensão de pagamentos apenas de "renegociação". 

O Estadão reconhece que a Argentina não vai pagar a dívida de curto prazo e analisa
que o pagamento ficará para o próximo presidente. Mas também poupa Macri do rótulo
 de autor da moratória. Estadão chama calote de "deixa de pagar".

Segundo o Houaiss, a definição de moratória é:
- Dilação do prazo de quitação de uma dívida, concedida pelo credor ao devedor para que este possa cumprir a obrigação além do dia do vencimento, disposição legal que prevê a suspensão dos pagamentos devidos a credores internacionais, quando um país se encontra em circunstâncias excepcionais, como guerra, grande calamidade, grave crise econômica etc.

Que fique claro que moratória não é só dar calote.

A Argentina tomou a decisão unilateral de adiar pagamentos ao FMI e a credores privados. A Argentina anunciou moratória.

O jornalismo criativo, por parte dos grupos editoriais neoliberais que saudaram a política econômica de Maurício Macri, dirigente alinhado com as exigências do mercado financeiro, fez todas as ginásticas vocabulares possíveis para evitar a palavra moratória. Às vésperas das eleições na Argentina, com as pesquisas dando o adversário de Macri, Alberto Fernandez, na frente, os apoiadores do atual presidente estão nervosos. A própria oposição argentina espera jogo sujo nas semanas que restam para as urnas, a exemplo do que aconteceu no Brasil desde o golpe que derrubou Dilma Rousseff. Sinais não faltam. O FMI, adepto da sustentação de Macri, concedeu-lhe o maior financiamento que a organização já liberou na história. O governo brasileiro já declarou que ajudará no que puder. Trump idem. A direita continental fará qualquer coisa para reeleger Macri.

Mas, no caso do anúncio da moratória,  os credores com dólares no fogo não quiseram saber da versão com o botóx político de parte da mídia brasileira: Wall Street, mais realista, vê os títulos argentinos derretendo no mercado.

ATUALIZAÇÃO EM 30/7/2019

Trecho do editorial do Globo em 30/7/2019: 48 horas para perceber
que a Argentina está em moratória.

Em editorial publicado nesta data O Globo cedeu ao óbvio e finalmente usou a palavra moratória relacionada à crise argentina. Aparentemente, o autor do editorial não leu o jornal do dia anterior. Se o tivesse feito veria que entre os "burocratas" citados acima (trecho do editorial) estava o próprio jornal que gastou palavras para fugir do fato: Argentina entrou em moratória. Também hoje, a agência de risco S&P informa que rebaixou a nota da Argentina de Mauricio Macri para "calote seletivo". Globo inaugura uma nova forma de ver moratórias: "é questão semântica". Eu, hein?

Amazônia: a política do fogo

Nove entre dez matérias sobre as queimadas na Amazônia destacam que "os incêndios sempre existiram".
É verdade, mas isso não os legitima, claro.
Esquecem de dizer que jamais houve queimadas na intensidade atual e com poder tão grande de devastação. Entre outros motivos está o fato de que até uma década atrás parte expressiva das queimadas era realizada por pequenos ou médios agricultores ou pecuaristas em menores áreas. Atualmente, a maioria dos incêndios é corporativa, por trás estão grandes empresas do agronegócio detentoras de latifúndios em expansão em áreas de florestas nativas. Da mesma forma, embora passivos, nenhum governo ou autoridade teve antes ousadia de apoiar em declarações, medidas e estímulo, a destruição da Amazônia. Bolsonaro, sim. E não está sozinho. Como se viu: governadores do Norte estão fechado com o incendiário na devastação da floresta, consideram o fogo algo sazonal, querem mineração sem restrições e garimpos adoidados, mesmo sabendo que não conseguem combater nem mesmo a mercurização mortal dos rios amazônicos. .

Mídia: ofensiva para liberação do cigarro eletrônico...

Publicado em O Globo, 28/8/2019
Enquanto a Amazônia queima outro "incêndio", este em forma de lobby assola a mídia conservadora. Está em curso uma forte campanha das multinacionais para obter, no Brasil, a liberação dos chamados cigarros eletrônicos, que estão proibidos aqui desde 2009. Matérias, promoção de "seminários" destinados a "debater" os tais cigarros pipocam no Brasil, "coincidentemente" patrocinados pela indústria interessada.
Nos Estados Unidos, onde é epidemia, o gadget de nicotina viciante já registra mortes e é proibido ou alvo de restrições em vários estados.
Em uma década, o número de brasileiros fumantes de cigarros comuns caiu em 40%. Os cigarros eletrônicos e vaporizadores ameaçam exatamente essa campanha exitosa. A indústria parece apostar que o atual governo é mais leniente em relação às pressões. O ministro da Justiça Sergio Moro já defendeu aliviar impostos sobre cigarros com o exótico argumento de assim enfrentar melhor contrabando que vem do Paraguai. Ora, contrabando se combate, não se premia uma das partes envolvidas. A Anvisa promove audiências públicas para debater a liberação ou a manutenção da proibição. Além de acenar com "investimentos", o lobby usa um argumento cínico: se o mercado ilegal já existe, melhor liberar.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Prêmio Vladimir Herzog homenageará Glenn Greenwald e Patrícia Campos Mello, jornalistas ameaçados pelas milícias da ultra direita


Patrícia Campos Mello (em foto de Felipe Campos Mello/Divulgação) e Glenn Greenwald (Foto: de David Santos/My NewsDesk/Divulgação)
Durante a entrega do 41º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, no dia 24 de outubro de 2019, no Tucarena (SP), os repórteres Glenn Greenwald e Patrícia Campos Mello
receberão o Homenagem Especial.

Patrícia Campos Mello é repórter especial e colunista da Folha de S. Paulo e recentemente recebeu ameaças das milícias bolsonaristas ao denunciar crimes eleitorais ocorridos durante a campanha do candidato à presidência. Glenn Greenwald atua à frente do Intercept Brasil, que vem divulgando mensagens estarrecedoras trocadas por uma facção de procuradores da Lava Jato. Greenwald também vem sendo ameaçado por elementos da ultra direita.

A 41ª edição do Prêmio Vladimir Herzog destará Fotografia, Produção jornalística em texto, Produção jornalística em vídeo, Produção jornalística em áudio e Produção jornalística em multimídia, ilustrações, charges, cartuns, caricaturas e quadrinhos. A divulgação dos finalistas acontecerá no dia  27 de setembro.
Mais Informações no site do Prêmio Vladimir Herzog AQUI

Fotomemória da redação: Marina Wodtke e Juvenil de Souza no Rio Guaíba


Em 1981, a repórter Marina Wodtke, da sucursal de Porto Alegre, e o fotógrafo Juvenil de Souza percorreram o Guaíba e suas margens e desvendaram para a Manchete a vida em torno do rio - que é, para muitos, um lago - um símbolo gaúcho. Quase 40 anos depois, o Guaíba sofre como os demais rios brasileiros. A região metropolitana capta a água para beber no mesmo lugar onde lança seus dejetos. Com no caso da Baía da Guanabara e do Tietê, projetos para despoluição adormecem em gavetas enquanto o Guaíba se esvaí. A reportagem de Marina e Juvenil é hoje documento de uma época.

domingo, 25 de agosto de 2019

Fotografia: Cartier-Bresson e Robert Capa registram a libertação de Paris. Foi no dia de hoje, há 75 anos

Barricadas na Rue de Castiglione/ Foto de Henri Cartier-Bresson (link abaixo) 

Partisans em combate. Foto de Robert Capa - International Center of Photography/Magnum Photos (link abaixo)

No dia 25 de agosto de 1944, há 75 anos, Paris foi libertada dos nazistas. Seis dias antes, a Resistência Francesa criara focos de combate às guarnições alemãs em vários bairros da capital. E no dia 24, os partisans receberam apoio das forças regulares  - os espanhóis remanescentes das forças republicanas que haviam lutado na Guerra Civil Espanhola incorporados à Companhia Nueve do Regimento do Chade foram os primeiros a entrar na capital francesa - seguidos do Exército da França Livre e da 4ª Divisão de Infantaria americana.

Os aliados estavam às portas de Paris mas seus comandantes lidavam com problemas de logística e ainda relutavam em tomar a cidade naquela semana. A ação dos partisans precipitou a invasão final. De Gaulle só entrou em Paris quando os parisienses já lutavam havia seis dias nas ruas e parques. No total, na chamada Batalha de Paris, morreram cerca de mil partisans e 600 civis, além de 130 soldados regulares e 3 mil soldados alemães. A cidade estava sob os coturnos nazistas desde junho de 1940.

Enquanto Paris lutava pelo menos dois grandes fotógrafos testemunhavam os combates: Cartier-Bresson e  Robert Capa.

Capa, que entrou na capital de carona em um tanque da Companhia Nueve, recordou no seu livro de memórias "Ligeiramente fora de foco":

“O caminho para Paris estava aberto, e todo parisiense estava na rua para tocar o primeiro tanque, beijar o primeiro homem, cantar e chorar. Nunca houve tantos que eram tão felizes tão cedo ”, escreveu ele. Senti que essa entrada em Paris havia sido feita especialmente para mim. Em um tanque feito por americanos que me aceitaram, cavalgando com os republicanos espanhóis com quem eu havia lutado contra o fascismo há muitos anos, eu estava retornando a Paris - a bela cidade onde aprendi a comer, a beber, a amar ... ”

Para celebrar os 75 anos da libertação de Paris, o site da Agência Magnum editou um álbum com fotos dos dois profissionais que marcaram a história do fotojornalismo.

VEJA NA MAGNUM, AQUI

Fotomemória da redação: o único repórter na história da Manchete que se tornou milionário...

Foto/Reprodução

Em 1978, Manchete fez uma matéria sobre a despoluição do Tâmisa. O rio que corta Londres estava contaminado por esgoto, lixo e dejetos industriais. Ecologistas brincavam que o material dragado daria para construir uma bomba atômica de tão variado que era quimicamente. Governantes de São Paulo imaginavam fazer a mesma coisa no Tietê que até hoje é uma cloaca.

O fotógrafo escalado foi Chico Nascimento e o repórter era Paulo Coelho, o escritor que só lançaria seu primeiro best-seller dez anos depois, em 1988. "O Alquimista", extraordinário sucesso mundial até hoje na lista dos mais vendidos em alguns países lançou o escritor para a fama e fortuna. A história registra que Paulo Coelho é o único repórter da Manchete que se tornou milionário. Mas aí foi mérito pessoal do mago, óbvio, não do caixa da Bloch.

Em 1998, os caminhos do escritor se cruzaram novamente com a Bloch. A Rede Manchete então agonizante lançou a novela Brida, baseada no romance homônimo. Não deu sorte, ficou no ar por apenas dois meses e foi a última novela da Rede Manchete antes de desligar os tubos em 1999.

sábado, 24 de agosto de 2019

Mídia - O fogo amazônico demorou a chegar à mesa dos editores...

O jornal Folha do Progresso noticiou a decisão dos fazendeiros de botar fogo na Amazônia.
O "Dia do Fogo", em 10 de agosto, foi o gatilho da devastação. A floresta já queimava havia mais de uma semana quando o Brasil e o mundo despertaram para o crime ambiental que corria solto. 

No dia 10 de agosto, fazendeiros celebraram no sudoeste do Pará o "Dia do Fogo". Foi o gatilho para milhares de focos da maior queimada que a Amazônia já sofreu. Cinco dias antes, o jornal paraense Folha do Progresso noticiou que fazendeiros organizavam a "comemoração". O jornal afirmava que o grupo se sentia "estimulado" pelo discurso de Bolsonaro. As queimadas efetivamente começaram em intensidade inédita e a Amazônia queimou quase em silêncio por mais de uma semana.  No dia 19 de agosto, São Paulo escureceu, fotos da cena apocalíptica foram publicadas em jornais de vários países, e a mídia conservadora brasileira despertou. O gravíssimo crime ambiental saiu do campo de decisão dos editores e se espalhou pelo mundo.

A Época estacionou no sequestro na Ponte Rio-Niterói,
bem longe da Amazônia. Mas a versão digital está cobrindo bem
as consequências das queimadas.


A Veja ainda procura nexo em Bolsonaro, quando lógica é tudo o que o
representante da ultra direita demonstra. Tem, por exemplo, um claro projeto ambiental,
destruidor, mas bem coordenado e articulado há mais de seis meses. 

A Istoé especula sobre uma "rebelião" na tropa bolsonariana. Não há novidade nesse front,
outros ensaios de dissidência aconteceram sem abalar os rumos de ultra direita da nave palaciana.
Amazônia não foi capa da versão impressa e, na digital, a revista tentou provar que os incêndios "estão na média dos últimos 15 anos". Para isso, incluiu Mato Grosso e Pará, onde os focos teriam diminuído e "compensado" aumento expressivo
no Estado do Amazonas, onde fica a porção maior da floresta.

Curiosamente, as versões impressas das três revistas semanais brasileiras ainda parecem inebriadas pela fumaça. Veja, Época e Istoé não escalaram o assunto para capa. Alegar prazos de fechamento é inútil. Cada uma delas teve mais de 48 horas, geralmente o prazo estipulado pelas gráficas para imprimir as edições (em casos de fatos relevantes esse limite pode até ser encurtado). Não dimensionar adequadamente um acontecimento mundial foi decisão editorial. Veja, Época e Istoé impressas saem do episódio com algumas queimaduras.

Jornalismo alucinógeno - A Veja está devendo mais uma matéria com o "ecoterrorista" Anhangá. E se o líder da "Sociedade Secreta Silvestre for o responsável pelas queimadas na Amazônia?

O mundo espera ansiosamente mais uma matéria exclusiva da Veja com o "ecoterrorista" Anhangá, que recentemente foi capa da revista em uma das mais alucinógenas proezas do "jornalismo investigativo" da publicação.

O perigoso vilão de história em quadrinhos localizado na deep web pela Veja - e por mais ninguém - pertenceria a uma organização chamada "Sociedade Secreta Silvestre" e deve saber quem espalha fogo na Amazônia. Isso se não for ele próprio, até porque o "ecoterrorista" assumiu haver incendiado carros no Ibama na região.

Segundo a Veja, o meliante atua no braço brasileiro da ITT (Indivíduos que Tendem ao Selvagem). E sabemos que quem "tende ao selvagem" é capaz de tudo.

Corre, Veja, está perdendo o Prêmio Pulitzer do ano!

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Das cinzas da Amazônia...

* O mundo quer saber como os brasileiros foram capazes de eleger anomalias boçais para governar o país. É preciso explicar aos gringos que Bolsonaro teve cerca de 57,8 milhões de votos, Haddad recebeu 47.038.963 milhões.  Acontece que 21,3% se abstiveram, 5,8% anularam o voto e 1,7% teclaram em branco. Bolsonaro foi eleito por uma minoria de desorientados: teve exatos 57.797.466 contra um total de 89.508.828 de votos em Haddad, brancos, nulos e abstenções. Ou seja, Europa, não generalize, por favor. A maioria dos brasileiros está igualmente indignada com a destruição da Amazônia.

* A coluna de Merval Pereira no Globo, hoje, sobre o fogo na Amazônia, poderia perfeitamente ser assinada por Jair Bolsonaro. Merval cita Pequim e Tóquio como exemplos de cidades poluídas com "chuva negra", o que é uma forma de banalizar os efeitos da devastação da Amazônia. Tática aliás, muito usada por Bolsonaro, quando alega que a Europa também destruiu suas florestas. São argumentos do tipo "lá fora também é assim". Merval afirma que Bolsonaro está certo ao dizer que uma reunião do G7 para tratar das queimadas "evoca mentalidade colonialista". Merval faz acrobacias com estatísticas para afirmar que as queimadas estão próximas da média dos últimos 15 anos. Diz que embora no Amazonas e Rondônia os incêndios tenham aumentado, diminuíram no Mato Grosso e Pará. Esquece de dizer que o estado do Amazonas é o maior do país em extensão territorial e é todo ocupado pela floresta amazônica. Merval diz que "o governo brasileiro não se mostra tão avesso à proteção ambiental. O jornalista ignora o desmonte da fiscalização, coisa que nem o governo esconde, o corte de verbas e a ameaça às reservas e a rejeição a verbas internacionais para conservação da floresta. Nada disso é "retórica". Para não passar vergonha total, o colunista encaixa algumas críticas sob aspectos inegáveis do desastre. Mas se até Bolsonaro está apontando fazendeiros como "culpados" e agora chama as queimadas de "criminosas" não é nada demais. O saldo geral do artigo é governista. Carlos Bolsonaro também deve ter gostado.

* Possibilidades de sanções e boicote comercial ao Brasil estão na mesa há vários meses. O governo Bolsonaro criou essa ameaça. Só agora deu medinho nos ruralistas. Pode ser tarde. Supermercados europeus começam a rejeitar produtos brasileiros, a Finlândia estuda proibir importação de carne brasileira. O divulgação dramática do fogo sobre a Amazônia terá grande impacto entre os consumidores.  Se a crise persistir, resistirão os produtos com selos que atestem que sua produção não implicou em destruição de florestas.

* Mas a crise se agravará se a reação do Brasil for apenas chamar líderes de outros países de "idiotas".

* Retórica também não vai ajudar. O mundo exige medidas efetivas contra os criminosos incendiários. O jogo foi jogado.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Fotomemória da redação: Júlio Bartolo e Vic Parisi em Barretos

A foto é de 1980. Júlio Bartolo, à esquerda, e o fotógrafo Vic Parisi, na ponta direita, cobriam para Manchete a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos. Antes que alguém pergunte: o objeto que Bartolo carrega no cinto não é um celular, coisa que estava então a anos-luz de chegar ao Brasil. É provavelmente uma simples carteira que protegia as modestíssimas diárias de viagem que a equipe para forrar o estômago.. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A dona da imagem



por Ed Sá

Nunca as celebridades foram tão donas da própria imagem. As revistas que resistem ou sites de celebridades praticamente se limitam a capturar no Instagram as fotos que em passado recente tinham que produzir com "exclusividade".

Uma frase irreverente da modelo Aline Riscado, a musa das campanhas da cerveja Itaipava, define o empoderamento, para usar uma palavra que está saindo de moda, que as redes sociais atribuem.

Ela postou a foto acima acompanhada de um declaração de princípios que não deixa dúvida.

BNDES Airways: a esquadrilha da alegria... Executivos voam alto mas quem aperta o cinto éo contribuinte...

Reprodução/Embraer
O populacho não sabia que o BNDES fez privilegiados decolarem com dinheiro público.

Cada vez que figuras como Luciano Huck, João Dória ou executivos das Lojas Americanas, da MRV, Eurofarma, Lojas  Riachuelo, John Deere Brasil, JBS, Confederação Nacional dos Trasportes, Fiat e dezenas de empresários ocultos sobre siglas de pessoas jurídicas entram nos seus jatinhos o contribuinte ajuda a acionar as turbinas da fantástica frota da alegria.

Curiosamente, a maioria dos jatinhos comprados a juros amigos e subsidiados pela "viúva" é tripulada por neoliberais que defendem o "Estado mínimo" ou "Estado nenhum". Outro curiosamente: essa linha de financiamento, chamada BNDES/Finame, foi criada no governo Lula, do qual os principais agraciados são ferrenhos adversários, com o objetivo de favorecer a indústria nacional na compra de bens, máquinas e equipamentos produzidos no Brasil, como instrumento para reduzir os efeitos da crise global. No caso, eram jatinhos fabricados pela Embraer, hoje absorvida pela Boeing, especialmente o cobiçado  Phenom.

Deu nisso.

O BNDES divulgou a lista dos agraciados com financiamento a juros subsidiados para compra de aviões de luxo. São 134 contratos voadores no valor de R$ 1,921 bilhão. O custo em subsídios, vale dizer, a contribuição do povo brasileiro para a esquadrilha, vai a R$ 693 milhões. Vai ver que é por isso que um dos beneficiados usa a marca "Vida Boa". Os nomes acima vazaram da lista, embora a relação do BNDES cite a razão jurídica de empresas. Falta saber o que os CNPJ escondem: "bispos", jogadores de futebol, cantores e cantoras sertanejos, magnatas da mídia, "reis" do varejo, políticos abonados? Ainda tem muita cerração sobre os hangares dos jatinhos.

E Charles Bukowski virou personagem de sequestro no Rio de Janeiro...


No alto da capa do Dia, a mais impactante dos impressos, a sequência de fotos
do repórter fotográfico Ricardo Cassiano mostra o desfecho do sequestro: pouco antes dos tiros,
o gesto desafiador da William Silva na primeira imagem da esquerda para a direita. 


As tragédias cariocas moram nos detalhes e sempre surpreendem.

Pouco antes de ser fuzilado por um atirador de elite, durante o sequestro de um ônibus lotado na Ponte Rio-Niterói, William Augusto da Silva jogou uma mochila na direção dos policias que cercavam o veículo.

Verificou-se que além de uma faca, um teaser, uma arma de brinquedo e a garrafa pet com gasolina com que ameaçou os passageiros, o sequestrador portava uma 'arma" literária de alto impacto: o livro "O capitão saiu para o almoço e os marinheiro tomaram conta do navio", de Charles Bukowski.

A obra é póstuma, foi lançada em 1998 e reúne anotações do diário do escritor. Em meio à narrativa de encontros com outsiders desesperançados, Bukowski reflete sobre a miséria humana e  lamenta ter de conviver com "essa espécie insípida e tediosa". Ele mesmo provou dessa miséria, sofreu abusos do pai autoritário, foi expulso de casa, bebeu em excesso enquanto sobrevivia como faxineiro, carteiro, motorista de caminhão e o que mais o tirasse da fila de desempregados.

O último livro de Bukowski foi recebido pelos resenhadores como o seu "último canto desesperado". O escritor carregou seu drama por 79 anos. William se consumiu em apenas 20 anos. Não por acaso, se de fato foi lido, Bukowski pontuou o desespero final do sequestrador.

No decorrer das negociações com a polícia, William se expôs tanto ao aparecer fora do ônibus que parecia se oferecer como alvo. Despediu-se com um gesto obsceno e desafiador. O que remete a uma frase do escritor: "o horror é uma gentileza".

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Viralizou: dancinha na redação

A performance flagrada da apresentadora
Maria Beltrão, no canto direito da imagem,
enquanto a colega Leila Sterenberg
apresentava Edição das 16, na Globo News.
A TV americana foi pioneira em incluir as redações dos telejornais em segundo plano das bancadas dos âncoras como parte do cenário. 

No Brasil, o Jornal Nacional adotou esse tipo de set ainda no ano 2000. 

A Globo News usa a mesma decoração em alguns dos seus jornalísticos. É um formato que, às vezes, se a notícia for entediante, distrai a audiência que passa a observar a movimentação dos editores ao fundo. Daí, micos são flagrados pelos telespectadores atentos. 

Ontem, a apresentadora Maria Beltrão foi a atração no backstage. A colega Leila Sterenberg, que conduzia a Edição das 16 na bancada, virou figurante para a dancinha da Beltrão que rodopiava no canto direito da imagem.

A internet vibrou, mas ficou sem saber o motivo da dança aparentemente comemorativa.

Veja no link: https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2019/08/19/maria-beltrao-e-flagrada-rebolando-na-globonews-durante-telejornal-ao-vivo.htm

Folha de São Paulo: a foto e o fato


Na primeira página da Folha de São Paulo, hoje, dois destaques: a foto impressionante que ilustra matéria sobre a desigualdade social recorde do Brasil - a mais dramática concentração de renda entre os países democráticos. A imagem mostra uma panorâmica da Favela Paraisópolis, em São Paulo, em contraste com  a quadra de tênis na cobertura de um condomínio de classe média alta; e uma denúncia (em chamada na metade inferior da página, à esquerda) sobre a Lava Jato. Em plena ano eleitoral de 2018, a controvertida força tarefa omitiu o nome de Paulo Guedes, que viria a ser o "Posto Ipiranga" de Bolsonaro, em apuração sobre esquema de lavagem de dinheiro para pagamento de propinas a agentes públicos do governo do Paraná.

Segundo a Folha, empresa da qual o atual funcionário de Bolsonaro era sócio repassou R$560,8 mil  para outra empresa operada por um assessor do governador Beto Richa (PSDB).

Na época, Guedes já atuava na pré-campanha de Bolsonaro. Apesar da Lava Jato abrir processo contra outros 18 integrantes do esquema, o atual ministro foi poupado na denúncia, que apontava benefícios a grupo do qual Guedes era acionista em concessão de rodovias. A reportagem está AQUI

Der Spiegel: revista alemã pede sanções econômicas contra o Brasil. Motivo: a destruição da Amazônia, que ontem virou fumaça nos céus de São Paulo...


Reproduções Twitter

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais divulgados ontem as queimadas no Brasil aumentaram em 82% em relação a 2019, entre janeiro e 18 de agosto, em comparação com o mesmo período do ano passado. O governo Bolsonaro e seus ministros abertamente desprezam a questão ambiental. São predadores assumidos que, na prática, através desse discurso incivilizado, incentivam o agronegócio a incendiar o meio ambiente. A política devastadora do governo Bolsonaro levou fazendeiros da região amazônica a promoverem o "Dia do Fogo". "Precisamos mostrar para o presidente que queremos trabalhar e único jeito é derrubando. E para formar e limpar nossas pastagens, é com fogo”, disse ao jornal paraense Folha do Progresso um integrante da facção incendiária.
Se a destruição precisava de mais um símbolo além das imagens de satélites que mostram milhares de focos de incêndio, esse logotipo dos bárbaros está à disposição do mundo desde ontem: na cidade de São Paulo o dia virou noite, às três da tarde. O assunto bombou no Twitter e ganhou repercussão mundial.

Reportagem na Der Spiegel pede sanções contra o Brasil por conta da destruição da Amazônia, que afeta o planeta:
"É hora de sanções contra o Brasil. Porque a UE não deve mais apoiar projeto de reflorestamento climático de Bolsonaro". Reprodução  
Também ontem, por coincidência, a Der Spiegel publicou uma matéria onde pede providências globais contra a dizimação da Amazônia que afeta toda a humanidade. "O desenvolvimento do clima do mundo depende da preservação da floresta tropical. Portanto, não devemos deixar a decisão sobre o futuro desse ecossistema apenas para o presidente de direita do Brasil, Jair Bolsonaro. A Europa não deve ficar de braços cruzados, pois um cético da ciência, preconceituoso e movido pelo ódio, sacrifica vastas áreas de selva para pecuaristas e plantações de soja", alerta a revista, que exige que a Alemanha siga o exemplo da França e se recuse a ratificar o acordo do Mercosul com a União Europeia enquanto a Amazônia continuar a ser derrubada."Bolsonaro não quer cooperação na Amazônia; Ele insulta e persegue todos os que contradizem sua visão reacionária do mundo", completa a Der Spiegel.

A tendência é que por pressão dos consumidores em vários países e por ação política dos ambientalistas cresça uma onda de rejeição a produtos exportados pelo Brasil e que tenha relação com a destruição de florestas. Uma futura decretação de sanções já é uma sombra no horizonte das relações internacionais do país alimentada pela estupidez do atual política, ou falta de, para o meio ambiente.

E a imagem apocalíptica de São Paulo ontem não ajuda a afastar essa hipótese.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Woodstock: visto do Brasil, o sonho que nem começou





por José Esmeraldo Gonçalves

Nos últimos dias, Woodstock cinquentão foi assunto recorrente na mídia. Para as novas gerações, rememorar o festival deve soar como um prospecção arqueológica. Como se cientistas desenterrassem um tatu pré-histórico. Nem o rock e os magistrais solos de guitarra que vibraram no palco da fazenda em Bethel, no estado de Nova York, resistiram ao tempo.

De 15 a 18 de agosto de 1969, os milhares de jovens que se reuniram na plateia que virou lamaçal histórico mandaram uma mensagem ao mundo. No Rio, a 7.884 km, e, de resto, em todo o país, o recado chegou truncado. Em Woodstock pregava-se a liberdade, artigo em falta no Brasil sob ditadura militar radicalizada com o AI-5 editado em dezembro de 1968. Eles tinham Lyndon Johnson no poder, nós tínhamos o general Costa e Silva gravemente doente.

Aqui o sonho nem começou.

Duas semanas depois de Woodstock tomou posse em Brasília, com um "golpe dentro do golpe", no dia 31 de agosto, uma Junta Militar formada por um trio de ditadores: general Aurélio de Lira Tavares, almirante Augusto Rademaker e brigadeiro Márcio de Sousa e Melo.

Pode parecer estranho a quem baixa músicas com um clique no Spotfy ou no You Tube, mas, acredite, o álbum triplo com a trilha sonora do festival foi lançado nos Estados Unidos dois ou três meses depois, tempo em que os produtores editaram 64 rolos de fitas gravadas em oito canais, cada uma com 18 horas de som. No Brasil, salvo discos que viajantes trouxeram, o álbum completo só seria ouvido no começo de 1970, quando foi lançado pela CBS.

"Woodstock, o filme", de Michael Wadleigh, chegou aos cinemas americanos em março de 1970. No Brasil foi exibido no segundo semestre do mesmo ano, com cenas cortadas pela censura, especialmente imagens de pessoas peladas.

Martin Scorsese, que editou o documentário, descreveu anos depois o clima do festival: "Havia a música. A ideia de rejeitar o resto do mundo e viver de maneira natural. Havia a cultura das drogas. A posição contra o governo, especificamente sua política para o Vietnã. E tudo se agrupou naquele momento. É interessante que chamem de Nação Woodstock porque era isso que todos queriam: estar separados, ter sua própria comunidade. E por três dias todos a tiveram. Quando olho para a segunda metade dos anos 1960, percebo que foi o único período em que ouvi falar a sério sobre o amor como uma força para combater a ambição, o ódio e a violência".

As capas dos álbuns reproduzidas acima, fazem parte de uma coleção da LPs que ainda guardo. São uma referência amarrotada, com todas as rugas e cicatrizes, em meio aos pedaços de memórias de uma época agitada.

O da esquerda, reproduzido no alto, comprei em 1970, ao ser lançado aqui. Ajudou a calibrar "pequenos Woodstocks" em torno de velhas vitrolas. Tanto foi gasto que adquiri mais do mesmo: o álbum relançado em 1976, reproduzido no alto á direita.

A imagem panorâmica é a cena central da capa tripla aberta, é de Jim Marshall. A foto de capa é de Burke Uzzle. Hoje com 70 anos, o casal retratado por Uzzle posou no mesmo local para foto de Dan Fastenberg, da Reuters (à esq.)

Nada mais distante da realidade brasileira da época do que Woodstock. Mesmo assim, a julgar por depoimentos posteriores, um penca de roqueiros brasileiros e alguns jornalistas passaram a incluir nas suas biografias um "meninos eu vi de perto Woodstock". Se foi verdade ou não, sabe-se lá. Não havia selfies. E quem iria conferir brazucas entre 400 mil jovens enlameados? Da minha parte, Woodstock foi um álbum, dois iguais, na verdade, um filme e livros lançados nos anos seguintes.

Foi assim que Janis Joplin, Santana, Joe Cocker, The Who, Ten Years After, Jimi Hendrix,  Joan Baez, Richie Havens, Crosby, Still & Nash, John Sebastian, Jefferson Airplane e outros cantaram para um Brasil oprimido três dias de liberdade em uma galáxia muito distante.

domingo, 18 de agosto de 2019

The Intercept Brasil e Folha de São Paulo: Facção da Lava Jato ignorou a lei


Pacote inédito de conversas da Vaza Jato divulgado hoje pelo Intercept Brasil e pela Folha de S. Paulo reforçam os métodos "criativos" dos procuradores da Lava Jato que contornaram a lei para obter dados sigilosos da Receita Federal sem pedir autorização judicial. Em "ação entre amigos", devassaram a vida de pessoas próximas aos investigados sem que, na maioria das vezes, esses cidadãos vítimas da espionagem houvessem cometido qualquer irregularidade.

Futebol: em breve o Brasileirão se tornará algo próximo de um quadrangular de times milionários. Saiba porque

por Niko Bolontrin

Com exceção, no momento, da Itália, as principais forças do futebol europeu - Inglaterra, Espanha, Alemanha e França - têm uma característica em comum: apenas de dois a quatro times de cada país são atualmente reais candidatos aos títulos nacionais ou continentais, com base nas ocorrências das última décadas. São eles: Manchester City, Manchester United, Chelsea e Liverpool; Real Madrid e Barcelona; PSG e Monaco. Claro que embora cada vez mais raro um ou outro quebra a sequência, mas a supremacia dos citados é arrasadora.

A FIFA já manteve regras para evitar desequilíbrios tão grandes que, em resumo, tendem a tornar as competições menos vibrantes para os milhões de torcedores dos times desafortunados. Controles econômicos, limitação de jogadores estrangeiros, entre outras medidas, forçavam uma melhor distribuição de jogadores ranqueados. A entidade ainda exige um leve limite financeiro em volume de contratações, insuficiente para deter o poderio dos times mais ricos, mas venceu a facção que defende a lei do mercado no futebol e o salve-se quem puder.

A médio prazo essa pujança limitada a poucos afetará o lado esportivo das competições, dividindo-as entre a super elite permanente e a enorme massa de coadjuvantes.

O futebol brasileiro brasileiro vive o começo desse mesmo processo. Estima-se que em menos de década, os nossos títulos nacionais e continentais serão majoritariamente divididos entre quatro ou cinco clubes. Serão aqueles privilegiados por patrocinadores, empresários de jogadores e vendas de direitos de transmissão para TV aberta, a cabo, redes sociais e streaming. No Brasil, a concentração de favoritos foi inicialmente forçada pela TV, seguindo-se naturalmente os patrocinadores e os empresários de atletas.

O próximo passo - já evidenciado reivindicado em críticas feitas pela mídia esportiva - é o fim dos campeonatos estaduais, o que tirará de cena e cortará a visibilidade de centenas de times em todo o país. Restarão 20 ou 25 clubes candidatos ao Brasileirão, à Copa do Brasil, Sul Americana e Libertadores. Os demais se agruparão nas Segundonas, Terceironas e Série D da vida. Muitos estádios  - bem mais do que aqueles herdados da Copa do Mundo - poderá se tornar semi-fantasmas.
E o Brasileirão, admito que exagerando um pouco, se transformará na prática, como a Premier League, La Liga, Bundesliga e Ligue 1, algo próximo de um quadrangular de milionários.

sábado, 17 de agosto de 2019

Rio vive... Apesar de Crivella e Witzel

Foto bqvManchete

Na capa do Meia Hora: instintos selvagens



Governo cria reality show para atrair turistas. O prêmio é uma 'condução coercitiva' pelo Brasil com direito a conhecer uma "atração" especial: Jair Bolsonaro

por O. V. Pochê 

A Turquia, onde a história pulsa em cada esquina, era um dos principais destinos turísticos até 2016. Ao reprimir uma tentativa de golpe e promover uma caça à oposição, o governo Recep Erdogan atingiu os valores democráticos e mudou para pior a imagem internacional do país. O fluxo de turistas caiu apesar da desvalorização da moeda local frente ao dólar que tornou mais acessíveis as diárias de hotel. 

Na época do apartheid, a África do Sul era evitada por visitantes. São inúmeros casos que mostram a relação entre as atrações que um país oferece e sua imagem internacional. Ao escolher seu roteiro, o turista pesa fatores como violência, pobreza extrema, desigualdade e o clima político do país. Por tudo isso, diz-se que para receber visitantes e lhes proporcionar bons momentos um país precisa primeiro cuidar da sua população, da qualidade de vida, das suas cidades, dos seus parques, praias e reservas.  


O governo brasileiro planeja campanhas para atrair visitantes. Pelos primeiros indícios, as iniciativas parecem coisa de amadores. A marca turística já gerou polêmica. O slogan "Brazil: visit and love us" remete, segundo os críticos, ao turismo sexual, uma mancha antiga na imagem do país. Além disso, os marqueteiros do Planalto usaram sem autorização uma tipologia que tem dono e copyright. A vítima da pirataria já reclamou. 

A nova ordem brasiliense anuncia agora um "reality show" promocional. Trata-se de um concurso mundial que premiará um estrangeiro com um tour de 30 dias pelo Brasil, com tudo gravado para distribuição internacional. O negócio se chama "Rei do Rolê no Brasil" (na verdade, a gíria carioca original é rolé, rolê é a versão paulistana). O turista, segundo o governo, terá que cumprir uma série de requisitos. Um dos critérios será o número de seguidores nas redes sociais. A Embratur não revela quais serão as demais exigências. Alemães e noruegueses poderão se inscrever? Esquerdista pode vir? Negros? Índios? LGBT?  Feios? Gordos? O roteiro incluirá paisagens da Amazônia devastada? Favelas? O turista experimentará uma carona em voo de bombardeio de agrotóxicos. Irá ao SUS? Visitará um universidade sem verbas? Acompanhará um incursão policial em uma comunidade? Verá como funcionam as milícias? 

Das duas uma: ou o tour será ao estilo Coréia do Norte, produzido, vigiado e cenografado para evitar mazelas e com o turista em condução coercitiva ou, se honesto, servirá para mostrar a realidade e sugerir ao visitante em potencial que é melhor esperar melhores dias. 

Ah, sim, o turista escolhido terá direito a conhecer uma atração turística do momento: Jair Bolsonaro. Mas a Embratur também não informa se esse ápice do tour é o "paredão" do reality show. 

Na capa da Carta Capital: o escândalo que a mídia conservadora esconde...

O acordo secreto Brasil-Paraguai sobre Itaipu é um escândalo de pontas soltas. Várias delas levam ao Palácio do Planalto. Mas a mídia conservadora brasileira foge do assunto como o diabo da cruz. Carta Capital liga o alerta sobre a suspeita manobra que provocou revolta no Paraguai.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Jornalismo: o coro dos contentes

Quando empresários fazem lobby para desburocratizar atividades quase sempre direitos são suprimidos e não apenas a papelada.

A chamada Lei da Liberdade Econômica é um desses comboios que em nome de uma "boa causa" - a eliminação de entraves funcionais - resulta em compressão das liberdades individuais, especificamente aquelas que dizem respeito aos trabalhadores.

Os analistas e colunistas de economia da mídia conservadora vivem um dilema que de tão exposto até beira o ridículo. A maioria ajudou a criar as condições políticas que elegeram Bolsonaro. E, desde janeiro, cumpre a dolorosa missão patronal de exaltar as medidas econômicas de mercado e timidamente ou com alguma ênfase criticar, no máximo, as políticas ambientais, educacionais, de saúde, a pauta fundamentalista dos costumes. Acontece que o governo é indivisível e se há alguém com um projeto definido no Brasil atualmente, para todos os setores e com a marca da ultra direita, chama-se Bolsonaro. Aliás, o teclado dos funcionários da mídia conservadora parece não conseguir compor essa palavra,  "ultra direita", que é a definição exata que a imprensa internacional usa como griffe do atual governo do Brasil. A economia não é um mundo à parte da política da ultra direita. É como se um cruel assassino serial tivesse sua culpa esquecida apenas porque gosta de plantar camélias, adora animais e posta fotos nas redes sociais orando e se batizando no Jordão e isso o eximisse de pena.   

Veja-se o caso da MP da Liberdade Econômica, que recebe aplausos dos colunistas. Junto com a papelada somem coisas como um empresário falido não precisar ter mais o patrimônio pessoal à disposição da Justiça para pagamento de dívidas trabalhistas. "Somente o patrimônio social da empresa pode responder pelas dívidas", diz a lei. Se com patrimônio pessoal incluído nas garantias as falência geralmente punem ex-empregados, imagine o que acontecerá a partir da aprovação da nova lei.

Olha só esse artigo: "fica permitido o uso de registro de ponto do trabalhador por exceção, ou seja, quando for diferente da jornada regular". E aí vem o risco embutido: "isso poderá ser definido por acordo individual escrito, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho". Um trabalhador que procura emprego há meses, com a família em dificuldade, vai deixar de assinar qualquer papel que o empregador oferecer como condicionante ao posto?

Ao analisar a MP da Liberdade Econômica, os principais colunistas revelam uma ingenuidade lapidar. Um mero exemplo: Míriam Leitão escreveu no Globo: "Mesmo sendo necessário tornar o processo de licença ambiental mais ágil, transparente e previsível, o que o governo tem feito na área é inibir os órgãos de controle e desmontar a máquina". Apesar de admitir isso, o artigo se agarra esperançoso em uma dúvida: "como há um item que determina que, se uma licença não for dada num prazo específico, ela estará dada automaticamente, há risco de que isso seja usado para eliminar na prática exigências que de fato precisam ser cumpridas por razões ambientais e de segurança". "Risco" cara pálida? O artigo está aí exatamente para que as empresas possam usufruir desse prazo e... jogo jogado. Ainda mais se a máquina está sendo desmontada, com demissões e transferências de cientistas e fiscais que teimam em atuar, é claro que a análise ambiental de projetos tende a demorar mais ou, pior, passar a ser feita nas coxas por ordens de cima ou por funcionários amedrontados.

O governo diz se preocupar com a família, mas isso parece significar apenas a submissão a questões morais e religiosas. Um artigo da MP reduz o tempo de lazer e convivência dos pais com os seus filhos. "Fica liberado o trabalho aos domingos e feriados", que será pago em dobro e compensado com folgas sendo que apenas uma delas em um domingo a cada quatro trabalhados, as demais cairão em dia útil, vale dizer em data escolar. Com pai e mãe submetidos a esse regime, reduz-se o tempo de convivência da família.

Outro absurdo: "as empresas não precisarão mais de autorização do governo para testar produtos e serviços, se houver consentimento de quem for testá-los, a menos que haja risco à segurança pública ou nacional". Isso quer dizer que risco às pessoas são admissíveis?

E essa outra? "Fica permitido às empresas e empreendedores arquivar qualquer documento em microfilme ou por meio digital e ele estará equiparado ao documento físico para todos os efeitos legais". O meio digital não pode ser ignorado, claro, mas a MP não regulariza esse arquivamento. Vai ser na nuvem? Haverá backup obrigatório? Ou o empregador e o empreendedor poderá guardá-lo na memória do celular junto com fotos de viagem? Não é preciso ser visionário para prever que muitos arquivos poderão desaparecer "por engano", por "queda dos sistema" ou por culpa dos HDs "lamentavelmente corrompidos". A reforma trabalhista de Temer já passou a dificultar ou até impedir ações judiciais por parte dos empregados. A nova lei pode inviabilizar reivindicações pelo simples fato do trabalhador não conseguir provar sua demanda com documento legal que se evaporou na nuvem.

Não faz muito tempo, o Brasil alcançou quase o pleno emprego e a valorização real das médias salariais sem precisar detonar a proteção social e a segurança do trabalhador. O objetivo dessas leis neoliberais que reduzem direitos é claro: aproveitar a crise e o desespero de milhões de desempregados para empurrar regras trabalhistas cruéis sob o argumento  - e aqui usa-se a linguagem fecal que Bolsonaro adora - de que quem está na merda não vai reclamar de receber mais um pouquinho de cocô na cabeça. 

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Infância perdida...


Desenho publicado no El País: “Não gosto do helicóptero porque ele atira para baixo e as pessoas morrem”.
Crianças do Complexo da Maré, no Rio, vivem clima de Vietnã no tempo em que os americanos metralhavam aldeias usando helicópteros UH-1 Iroquois como plataforma de fuzilamento. Em apelo desesperado, elas enviaram à Justiça 1500 cartas em que descrevem o terror provocado por operações policiais aéreas. São sinais de trauma da guerra diária contra traficantes que dominam favelas

Prof. Arnaldo Niskier lança livro "Desafios da Educação no Brasil"


A imagem fecal do Brasil lá fora

Nicolas Tabary, chargista do Charlie Hebdo/Publicado no L' hebdo de Charent-Maritime. 

por Jean-Paul Lagarride

A recomendação do Bozonaro para que os brasileiros façam cocô em dias alternados, uma espécie de rodízio intestinal, foi satirizada pelo cartunista Nicolas Tabary no jornal francês L' hebdo de Charent-Maritime.

Na charge, o presidente do Brasil faz sua obra sobre um sorvete emoldurado pela bandeira nacional. Em uma das legendas, ele se orgulha de fazer cocô dia sim dia não, sua estratégia pessoal para preservar o meio ambiente. Na outra, o cartum protesta: "Não é bom o senhor Bolsonaro fazer cocô em cima de todo mundo".

No país dos 'burronauros', o comércio de livros e revistas está em queda vertiginosa.

A receita neoliberal da economia no governo Bolsonaro está matando oa paciente. Nenhum setor escapa. Só a especulação financeira está feliz. Segundo o IBGE Notícias, o comércio de livros e revistas caiu 56% em relação a 2013. 
 O Brasil não está emburrecendo apenas nos sinais que Brasília emite, mas na essência. Vai demorar para voltar a ser civilizado.

E os valores morais e éticos?

por J. A Barros (*)

Bem, no Facebook, quando abro a página, vem logo a pergunta sobre o que estou pensando. Nesse momento estou pensando em muitas coisas, mas a que mais me insiste é a da situação moral e ética em que se encontra esse nosso brasil. Por que? Gente, tivemos um político, considerado uma explosão de gênio, no extrato político em que vivemos, fundando um partido político, o PT, se candidatando ao cargo de presidente e se elegendo, depois de três tentativas e se reelegendo por ampla maioria e indicando e elegendo o seu sucessor, no caso uma mulher, que eleita se reelegeu com boa contagem votos. Mas aí é que começa toda a razão de meus pensamentos se dedicarem a esse fenômeno político que ocorreu.
Por que esse país se enrolou em escândalos e atos de corrupção jamais vistos em toda sua história, que vem desde o seu descobrimento, sua colonização portuguesa e seu regime imperial, acabando numa República Federativa que conseguiu se manter até os dias de hoje? No seu ocorrer histórico se sucederam as crises políticas mas todas elas dentro de uma visão política normal, pode–se assim dizer, contrastando com essa última crise que se confunde com crise moral e ética, acabando ou começando com um processo de corrupção jamais visto em qualquer país do mundo, descoberto nos últimos anos, envolvendo nas suas entranhas políticos o incrível e inimaginável autor dessas crises o fenômeno político que surpreendeu o país, o senhor ex–presidente que se encontra preso numa cadeia de Curitiba. Esse ex–presidente, investigado, indiciado vai a julgamento por tribunais e julgado é condenado a prisão depois de condenado em segunda instância. em seguida sua indicação para sucede–lo eleita e reeleita para presidente, também é investigada, sofre pelo Congresso a pena de impeachment , afastada do governo tem o impeachment confirmado por um ministro do STF, que para protegê–la rasga a Constituição   – a mesma que jurou defender quando tomou posse no STF – no seu artigo 50 que reza a destituição de presidente, tirando–lhe todos os direitos de cidadão brasileiro, mas no seu ato de condenação, esse ministro concede–lhe o direito de poder ser candidata a qualquer cargo eletivo – ato esse aprovado pela maioria dos senadores – menos aos de presidente do país, num afronto direto à Constituição.
Mas, nestes dois casos inéditos, é que reside a minha perplexidade, nos meus pensamentos de todos os dias. Como recebeu a sociedade brasileira  a esses dois escândalos políticos? Na verdade nem poderia chamar de escândalos o que ocorreu, porque atingiu o absurdo da corrupção assim como a aceitação pela sociedade desses comportamentos que atingiram diretamente os valores morais e éticos, negando–lhes seu norte de vida de uma sociedade equilibrada e austera, que deveria ser toda a sociedade, que vive num país de regime – seja ela qual for – de serenidade e governo sensatos e empreendedor. E convivendo com esse absurdo moral e ético continua, essa sociedade a aceitar  governos improváveis a lhe dirigir os seus caminhos, hoje em estradas de terra mal acabadas e destruídas pelas intempéries que lhe assolam os seus destinos. Triste futuro nos promete esses desvios de conduta e dos valores morais e éticos que normalmente conduzem uma nação.
(*) Os conceitos emitidos neste post traduzem a opinião do autor e não expressam as posições políticas deste blog.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Na capa da Piauí: Embaixada do Brasil em Washington vira hamburgueria de Trump

A revista Piauí não conta, mas o primeiro telefonema que tocar na Embaixada brasileira em Washington em breve poderá ser de Donald Trump, em plena madrugada, pedindo um Big Mac. (O.V.Pochê)

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Amazônia sobreviverá? Provavelmente apenas nas fotos da Manchete, Realidade, Veja, O Cruzeiro...

Amazônia: o desafio perdido. 
Durante 48 anos, Manchete e Amazônia mantiveram uma intensa relação jornalística.

O interesse e o tipo de cobertura que a revista realizou da maior floresta tropical do mundo passaram por várias fases de abordagem. Nos anos 1950, a Amazônia teve menos espaço na Manchete, talvez porque lançada em 1952 não ousasse  concorrer com O Cruzeiro que fazia matérias antológicas sobre a região, os índios, os desbravadores.

Na primeira década de existência Manchete via o "planeta verde" como "exótico". Mais ou menos a visão que os colonizadores ingleses projetavam sobre a  África.

Nos anos 1960 o tom ainda era de "aventura", com um enfoque nas riquezas e no potencial econômico da região.

Na década de 1970 a cobertura foi ufanística, na maioria das vezes, no embalo dos projetos desenvolvimentistas da ditadura. Manchete aderiu com entusiasmo ao "Brasil Grande", com reportagens muitas vezes mais vexatórias do que jornalísticas.

Na década de 1980 aparecem na revista sinais de consciência ecológica. As reportagens denunciam o drama nas aldeias indígenas e se tornam mais críticas. Agrava-se a destruição provocada pela invasão "desenvolvimentista" do regime militar e pelo avanço indiscriminado do agronegócio, queimadas que consomem imensas áreas da floresta chocam o mundo. Às vésperas da Eco-92, Manchete intensifica as denúncias embutidas em reportagens fotojornalísticas, a marca da revista. O ufanismo é contido pela dura realidade da agressão à floresta. Mesmo as edições especiais geralmente patrocinadas, que ainda tendiam a passar alguma visão otimista, já não escondiam os crimes ambientais.

Na década de 1990, a última da sua existência regular, Manchete abrigou com  ênfase a defesa do meio ambiente.

Nos anos 2000, após a falência da editora, foram publicadas algumas edições sob a responsabilidade de uma cooperativa de ex-funcionários que abordavam a nova e cada vez mais dramática situação da floresta.

Toda essa trajetória foi documentada em milhares de fotos que desapareceram junto com o arquivo que pertenceu à extinta Bloch Editores. Felizmente, essas imagens preciosas, pelo menos aquelas que foram publicadas, podem ser consultadas na coleção digitalizada da Manchete por obra da Seção de Periódicos da Biblioteca Nacional.

É verdade que desde a ditadura militar, a destruição é uma espécie de projeto diabólico de Brasil executado por todos os governos. Houve avanços na era Lula, mas é inegável que o PT também cedeu ao agronegócio e à construção de hidrelétricas sem projetos ambientais efetivos. Lula fazia piadas com a biodiversidade, caso, por exemplo, de um dos argumentos que usava ao ironizar sobre pererecas que interrompiam obras em nome da preservação da espécie. O novo Código Florestal aprovado durante o governo Dilma é desastroso. Mas nesse item de debochar das políticas ambientais, Bolsonaro é imbatível. Principalmente porque, ao contrário das ironias de Lula, suas falas se transformam em ações efetivas de governo atingindo instituições de pesquisa, cientistas, fiscais, áreas de preservação e reservas indígenas. Agora, a guerra do governo contra a Amazônia é total e o mundo começa a reagir com mais força, com corte de verbas internacionais, ameaças de boicotes comerciais à vista e até os primeiros pedidos de futuras sanções reivindicados por grupos ecológicos.

Manchete já não existe para documentar o atual estágio de extinção da Amazônia. No ritmo acelerado de extermínio da sua biodiversidade, a floresta, em um futuro não muito distante, sobreviverá apenas no trabalho de dezenas de fotojornalistas da Manchete, Realidade, O Cruzeiro, Jornal do Brasil, O Globo e Veja.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Mídia: muita mutreta pra levar a situação...


A capa do Estadão, hoje, é praticamente um tutorial do Brasil atual.

* A foto principal mostra a ruína de uma universidade. Por algum motivo patológico ou interesses privados, o governo estimula um ódio às escolas públicas de ensino superior. A rejeição vai à pratica com os sucessivos cortes de verba.

* Populacho causa déficit: entrevista com secretário do Tesouro informa que mesmo com o confisco da Previdência aprovado pela Câmara, o suposto déficit crescerá 40 bilhões de reais por ano. Ele defende congelamento de salários de servidores, entre outras medidas que vão sobrar para o populacho. Benesses de juízes, desembargadores, procuradores, deputados, senadores, ministros, altas patentes, altos funcionários públicos do primeiro escalão, cobranças de dívidas de empresários com a Previdência não estão na pauta do empregado de Bolsonaro.

* Negócios turbinados: mensagens sobre o escândalo protagonizado pelo governo brasileiro e paraguaio sobre Itaipu mostram interesses e armações com empresas privadas inseridas no pacto. Se puxar o fio haverá choque elétrico em Brasília e Assunção.

* Agrodestruição: painel do Clima da ONU, esse baseado em satélites que não podem ser desligados pelo governo brasileiro, apontam 23% das emissões de gases efeito estufa no mundo vêm do desmatamento e da agropecuária.

* Na ativa: o empresário Eike Batista foi preso. Ele cumpria condenação em prisão domiciliar por corrupção e lavagem de dinheiro, mas andava bem ativo. Nas últimas semanas fazia aparentemente uma faxina na própria imagem: deu entrevistas a várias publicações onde falou de grandes projetos e voltou às notinhas em colunas de jornais amigas. Agora é suspeito de manipulação do mercado de capitais e transações fraudulentas, segundo o MPF.

* Afeto que se encerra: outra chamada de capa dá conta de abalos no núcleo do governo. Depois de tirar a toga de Sergio Moro ao nomeá-lo ministro, Bolsonaro estaria agora podando as mangas de camisa e aparando as bocas da calça do maior símbolo eleitoral da sua campanha.

* Pulou do barco: chamada para artigo de Fernando Gabeira mostra mudança de rumos na avaliação do amigo Bolsonaro, da condescendência à decepção.