quarta-feira, 29 de julho de 2020

Há 20 anos - A Manchete que não existiu

A "edição fantasma" da Manchete jamais foi para as bancas

Quando a Bloch Editores foi à falência em 1° de agosto de 2000, há 20 anos, estava nas bancas uma edição da Manchete com Reynaldo Giannechini na capa.

Mas, para quem não sabe, houve uma edição que estava quase pronta e foi atropelada por oficiais de justiça. Essa Manchete jamais veio a público. Na capa, Rubem BarricheLlo. Com o prédio da empresa, na Rua do Russell, devidamente lacrado, a edição com o piloto não largou do grid.

Leiam o depoimento de J.A.Barros, diretor de Arte da revista.

"Na verdade, esse número da revista Manchete foi fechado na madrugada de uma terça-feira. Um caderno de 32 páginas mais a capa, que no caso era a do Rubem Barrichello. Com esse caderno, o número ficava fechado com as outras 48 páginas que já se encontravam em Lucas – onde ficava o Parque Gráfico da Bloch Editores. Se este último caderno mais a capa rodou em Lucas não sei dizer, porque na manhã de terça feira, por volta das 11 horas viemos a saber na redação da revista que a Bloch Editores tinha se declarado falida. Mas, acredito que alguém tenha em seus poder, senão a prova da revista completa impressa, a gravação em um disquete, ou mais de um, com todo o conteúdo dessa edição "fantasma" e, para mim, histórica", registra J.A.Barros.

20 anos da falência da Bloch Editores - Um drama sem fim...

O relato publicado em post anterior, de Jussara Razzé, foi escrito em 2008, oito anos após a falência da Bloch. Em um trecho, a autora foi premonitória ao escrever "já saber que teria que lutar anos na justiça para receber indenizações, salários atrasados, FGTS etc".

Massas falidas são entidades que costumam ter a lentidão de um paquiderme a caminhar em um lamaçal. Gastam anos para cumprir seus objetivos, estão sujeitas a acidentes jurídicos de percurso que atrasam processos e, enquanto isso, montam um estrutura que, para se manter, vai consumindo o patrimônio da empresa falida.

Comitiva de ex-funcionários da Bloch, liderada por José Carlos, é recebida pela Juíza Maria da Penha Nobre Mauro, que aparece na foto ao lado dos saudosos Murilo Melo Filho, José Alan Leo Caruso e Arminda de Oliveira Faria, além de Zilda Ferreira, Genilda Tuppini, do então presidente do Sindicato dos Gráficos do Rio de Janeiro, Jurandir Calixto Gomes, e de Roberto Muggiati e Jileno Dias. 

Ao longo de 20 anos, os ex-funcionários da Bloch muitas vezes se reuniram em assembleia no Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, em busca dos seis direitos. Para eles, a luta continua.

Durante quatro anos a partir da falência, muitos ex-funcionários bateram portas em busca de informações sobre seus direitos. Foi um tempo de desorientação, de empurra-empurra, de desrespeito. Um desses ex-funcionários era José Carlos de Jesus, ex-chefe de reportagem da Manchete e ex-coordenador dos Cursos Bloch de Jornalismo e de Fotografia. Diante das dificuldades e da falta de informação e preocupado por saber que bens da empresa falida já eram vendidos em leilões, ele mobilizou um grupo de colegas, conseguiu uma audiência com a Juíza Maria da Penha Nobre Mauro, da 5ª Vara Empresarial, à frente da Massa Falida da Bloch Editores, para começar a entender, como credor trabalhista, o funcionamento daquele "monstro" burocrático do qual todos dependiam para receber o que a Bloch devia aos seus ex-empregados.

Havia patrimônio suficiente  para cobrir a dívida trabalhista. Mas o histórico de muitas falências, especialmente de empresas jornalísticas, é o calote puro e simples, na cara de pau. Pense em algum extinto veículo do Rio, por exemplo, e encontrará um pilha de processos inconclusos e montanhas de dívidas trabalhistas.

Daqueles primeiros encontros com autoridades da Massa Falida da Bloch, surgiu a Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores. Incansável, José Carlos abriu canais de comunicação e de informação,  passou a convocar assembleias dos ex-funcionários e a acompanhar o andamento do paquiderme. A primeira vitória foi o pagamento das indenizações aos ex-funcionários então habilitados, aí por volta de 2005. Estes receberam o chamado "valor principal".  Ficou faltando a correção monetária devida. A segunda vitória foi o recebimento de uma parcela dessa correção. Nos anos seguintes, vieram mais duas parcelas. Na época, alguns advogados de renome e com vasta experiência no ramo, foram unânimes em reconhecer que sem a persistência de José Carlos e as reivindicações que encaminhava aos vários síndicos da Massa Falida, ao promotor do Ministério Publico e à juíza, tais pagamentos seriam postergados, como normalmente acontece. Aquelas vitórias foram importantes, mas infelizmente não se repetiram. Os credores trabalhistas passaram a acumular derrotas. Viram a justiça determinar que um item valioso do patrimônio da extinta Bloch - as obras de arte do Museu Manchete, que abrigava na sede da Rua do Russell a Coleção Manchete de Arte Moderna Brasileira - deveria se partilhado com os herdeiros de Adolpho Bloch, e mais, que esses herdeiros teriam o privilégio de escolher no acervo as obras mais valiosas. Os vários testemunhos que demostraram ao longo do processo que as obras de arte eram da empresa e não de pessoas físicas foram desprezados pela justiça. Outra derrota catastrófica foi a justiça desqualificar a TV Ômega como sucessora da TV Manchete. Com isso dívidas trabalhistas de ex-funcionários da Bloch que provaram trabalhar também para a TV Manchete e que haviam sido pagas inicialmente pela Õmega, compradora da TV dos Bloch, foram debitadas à Massa Falida da Bloch. E essa conta vai a milhões.

O fato é que, 20 anos depois, os ex-funcionários da Bloch ainda têm a receber. Ultimamente, José Carlos Jesus encaminhou pedidos à Massa Falida para a realização de pagamento de pelo menos mais uma parcela da correção monetária devida. Aparentemente, não foi ouvido. Isso apesar de ter até mesmo argumentado que a Covid-19 agravou a situação de muitos ex-funcionários da Bloch, o que é verdade comprovável. Uma angústia que é crescente à medida que o tempo passa e se sabe que o  patrimônio que deveria garantir tais pagamentos sofre o risco permanente de ser consumido pela burocracia e por decisões judiciais como as exemplificadas acima.

ATUALIZAÇÃO em 01~8-2020 . Em mensagem enviada ao blog, José Carlos Jesus, presidente da Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores e há quase 20 anos mobilizando os demais credores trabalhistas da extinta empresa, pede que seja registrado o justo reconhecimento pelas atuações da Juíza Maria da Penha Nobre Mauro e do ex-Promotor e hoje Desembargador Luiz Roldão de Freitas. À primeira, que permanece à frente da Massa Falida da Bloch Editores, e o segundo, que teve atuação no processo como representante do Ministério Público, Pela integridade, pela visão humana da lei, pelo respeito com que tratam e trataram os ex-empregados da Bloch, ele reitera que só tem a agradecer.

Agosto, 2000 - E a Manchete faliu - 20 anos depois, um relato de quem esteve no olho do furacão

por Jussara Razzé (*)
Às vésperas da falência da Bloch, o Departamento Jurídico era, por motivos óbvios, o centro nervoso da empresa. Tensão, decepção, preocupação quanto ao futuro de todos e de cada um eram as sensações que nos acompanhavam de dia e nos tiravam o sono à noite.

Em 1993, eu já vivera de perto uma prévia desse drama. Era, então, secretária de Adolpho Bloch durante o período de retomada da Rede Manchete após uma das vendas fracassadas. Naquela ocasião, o futuro da empresa parecia comprometido, mas nada se comparava com aqueles últimos meses de sobrevida, às vésperas de agosto de 2000. Era como se um trem, sem freio, descesse uma montanha para um descarrilamento anunciado. Cobranças se sucediam, rolavam centenas de ações na Justiça, dívidas que se acumulavam, processos trabalhistas, impostos e tributos em
atraso crônico.

Seria exagero dizer que oficiais de Justiça faziam fila na porta do Russell, mas que eram figurinhas fáceis, cotidianas e insistentes na recepção do prédio lá isso eram. Conhecíamos todos eles pelo nome, tal a freqüência das visitas. No centro do furacão, eu e meus colegas do departamento, que sabíamos da gravidade da situação muito mais do que a grande maioria dos funcionários, precisávamos de um jogo de cintura extra. Fora das salas do jurídico, todos, claro, tinham noção de que a vaca estava indo para o brejo. O que sequer imaginavam é que o brejo estava logo ali.

Quem trabalhava naquela “sala da crise”, tal como o cinema conta que existe na Casa Branca, vivia uma situação desagradável. Era natural que mantivéssemos sigilo em torno de uma rotina que envolvia procedimentos legais, mas ao mesmo tempo ficávamos embaraçados diante das perguntas dos colegas. No meu caso, se já estava aflita com a perspectiva próxima de perder o emprego e de já saber que teria que lutar anos na justiça para receber indenizações,salários atrasados, FGTS etc, a angústia aumentava ao ver nos olhos dos funcionários que pediam informações certo desejo de ouvir uma notícia boa em meio àquele caos. Algo que lhes desse um mínimo de esperança. No fundo, eu sabia que não era esperança o que almejavam, e sim um milagre.

Quando o desastre já parecia mais próximo, até o bate-papo depois do expediente no bar do seu Manoel, que anos antes ganhou o apelido de Color Bar - em alusão às barras cromáticas que orientam ajustes de cores no início das transmissões de TV- mesmo regado a chope, já não era tão animado quanto antes. Lá, normalmente, jogava-se conversa fora. Na reta final, cada um de nós, em função dos problemas dos últimos meses quando fora instituído o precário pagamento através de vales, já com aperto financeiro, começava a fazer planos e contatos para dar a partida na difícil tarefa de tentar procurar emprego em um mercado a cada dia mais restrito.

Nas últimas semanas, quando cruzava os corredores da Bloch ainda movimentados e com a agitação característica das revistas, como se fosse um Titanic onde a orquestra tocava a poucos metros do iceberg, eu não podia deixar de pensar que a qualquer momento luzes se apagariam, elevadores seriam desligados, mesas e corações esvaziados. Ao solicitar a autofalência, a empresa alegou textualmente em correspondência enviada à Justiça que as dificuldades surgiram no início dos anos 1990 “quando começaram a repercutir no meio empresarial brasileiro os graves problemas advindos de cinco planos econômicos, cinco moedas diferentes e de uma inflação que chegou a 89% mensais”. (...) “Com o alto custo das operações, o universo empresarial brasileiro precisou recorrer ao sistema bancário, uns mais outros menos, dentro da normalidade tradicional do mercado. Assim, em 1991, a Rede Manchete de Televisão Ltda. obtivera um empréstimo de 3 milhões de dólares no Banco do
Brasil. Por exigência da diretoria do banco, a transação teve Bloch Editores S.A. como avalista” (...). “Foi o início do perverso processo que levaria a empresa a enfrentar a situação em que agora se encontra. Não se tratava de uma dificuldade de Bloch Editores S.A., mas da TV Manchete Ltda., o que levou Adolpho Bloch a vendê-la no ano seguinte”, sugere o documento, que aponta, mais adiante, outras dificuldades extremas como conseqüência de uma das tentativas de venda da Rede Manchete, transação que acabou cancelada pela justiça levando a TV a ser devolvida à Bloch com novas dívidas e compromissos não cumpridos, e da explosão dos juros sobre os empréstimos e dívidas como mais um subproduto das mal-sucedidas operações de transferência dos ativos e passivos da TV. A tempestade que atingiu a TV finalmente arrastou a Bloch. A carta enviada à Justiça referia-se, ainda, às duas mil famílias vinculadas à editora. De resto, as grandes vítimas de todo esse imbróglio.

No Departamento Fotográfico,
os sinais do naufrágio da Bloch. 
No último dia, caminhando em direção ao elevador, pela derradeira vez, em meio a colegas que se apressavam em retirar objetos pessoais antes que o lacre da lei nas portas tornasse a falência uma cruel realidade, pensei na vida que passei lá dentro. Foram dezesseis anos na editora, em vários setores. Meu primeiro contato com a Bloch Editores deu-se em 1983, quando trabalhava no Departamento Pessoal do Ilha Porchat Club, em São Vicente, São Paulo. O clube era um dos vários locais no país que, em parceria com uma das publicações da editora, a revista Carinho, promovia todo ano o Concurso Garota Carinho, destinado a escolher jovens aspirantes a modelo, interessadas em sair na capa da revista que já tinha lançado para a fama ninguém menos do que Xuxa.

Além desse evento, o clube realizava, entre outros, um baile pré-carnavalesco, chamado Uma Noite Nos Mares do Sul, que recebia das revistas Manchete e Fatos&Fotos uma ampla cobertura. Por conta dessa parceria tradicional o presidente do clube, Odárcio Ducci tinha ótima relação com alguns diretores da Bloch, entre os quais o jornalista José Rodolpho Câmara. Quando pedi demissão e informei que iria morar no Rio, Odárcio imediatamente me recomendou, por meio de uma caprichadíssima carta de referência, à diretora da revista Carinho, Marília Campos. Assim teve início, em maio de 1984, minha relação com a empresa onde trabalhei durante dezesseis anos: até o seu final, com a decretação da falência em agosto de 2000, e mais dois anos trabalhando para a massa falida, junto com um grupo de jornalistas que conseguiu, com autorização judicial, continuar editando algumas das revistas do grupo, como Manchete, Pais&Filhos, Ele&Ela e outras.

Curiosamente, ao lado de colegas que trabalharam na extinta editora, ainda mantive um vínculo com a revista Manchete. Em 2002, o empresário Marcos Dvoskin arrematou em leilão vários títulos de revistas da Bloch, entre os quais o da Manchete. Dvoskin resolveu lançar uma edição especial com a cobertura do carnaval, apostando em um público que durante anos se acostumou a ver na revista uma excepcional cobertura da folia. Para isso, por meio do editor Lincoln Martins, arregimentou um grupo de ex-funcionários da Bloch, entre repórteres, fotógrafos e coordenadores acostumados àquele trabalho. Entre 2002 e 2006, botamos o bloco da Manchete na avenida, tal como nos velhos tempos. Uma das compensações pelo árduo trabalho foi descobrir que a revista permanecia na memória afetiva de muita gente. Não eram poucos os que nos cumprimentavam e incentivavam. E aquelas edições especiais eram as primeiras a chegar às bancas, sempre na Quarta-Feira de Cinzas.

Uma vez por ano, Manchete voltava a brilhar, como uma alegoria do passado, em um campo onde já fora imbatível: sob o ritmo e as luzes do Sambódromo carioca.




(*) Relato publicado no livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) lançado em 2008. 
Vinte anos depois da falência, a maioria dos ex-funcionários da Bloch ainda luta junto à Massa Falida da Bloch Editores para receber a correção monetária devida nas suas indenizações, enquanto outros ainda aguardam a conclusão dos seus processos. 

domingo, 26 de julho de 2020

Nudez misteriosa nas ruas de Portland e... na Globo News

Foto de Dave Killien/The Oregon. 

por Ed Sá

Os protestos contra o racismo que agitam os Estados Unidos ganharam um motivação extra. Em meio à violência crescente da repressão ordenada por Donald Trump, que enviou tropas federais para agredir manifestantes, há um momento de calma. É quando aparece a "mulher misteriosa", como a mídia chama, que silencia as ruas, por alguns segundos, com sua nudez. Registre-se que em Portland em todo o Oregon, a nudez é uma forma de expressão protegida por lei. Daí, a polícia limita-se a observar.

Reprodução You Tube
A "mulher misteriosa" apareceu até na Globo News, sem tarjas ou recursos digitais moralistas. Mas foi sem querer.  Na última quinta-feira, a apresentadora Leila Sterenberg anunciou uma entrevista ao vivo com o diretor da Organização Mundial da Saúde, Myke Ryan, mas o que entrou no ar foi a peladona de Portland. O vacilo da Globo News também viralizou no twitter. (https://twitter.com/excentricko/status/1286407664461918210)

A foto acima, de Dave Killen, fotógrafo do The Oregonian e OregonLive, viralizou no mundo. Segundo Killien, ela apareceu de repente e adiantou-se rumo à linha de policiais. Usava apenas uma m[ascara. Fez alguns passos de balé, antes de se sentar no asfalto. A polícia parecia inicialmente surpresa, mas logo lançou gás de pimenta na direção da manifestante. Após a performance, ela sumiu. Alguém a chamou de "Naked Athena".

Veja a matéria em The Oregon, AQUI

Obra de Niemeyer, a torre da extinta TV Manchete, em Olinda, está abandonada

Criação de Oscar Niemeyer, a torre da antiga TV Manchete, em Olinda (PE). ReproduçãoYou Tube

Primeira obra do arquiteto Oscar Niemeyer em Pernambuco, a torre da Rede Manchete está abandonada, pichada e depredada, apesar de estar em curso um processo de tombamento na Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).

O terreno, que pertence à massa falida da TV Manchete, virou a Ocupação Manchete, que abriga 200 famílias. Segundo matéria no Diário de Pernambuco, são duas construções: a torre e um prédio térreo, que abrigava estúdio, redação e ambientes administrativos.

O mirante da torre. Reprodução Diário de Pernambuco

"Sem telhas ou coberturas, o prédio térreo, dividido entre várias famílias, padece com goteiras e cheiro de mofo. A situação precária se repete nas outras construções irregulares do espaço - algumas são mais estruturadas, de alvenaria, enquanto outras são de madeira e lona plástica. A torre, de 83 metros de altura, não foi mexida pelos ocupantes do terreno, que se esforçam, na medida do possível, para preservá-la. Na base do imóvel há mato e entulho acumulados. A pichação está por todos os cantos. As instalações elétricas e hidráulicas, assim como resquícios da Manchete e da RedeTV, se não estão destruídos, foram furtados por vândalos. Está intacta escadaria de acesso à cúpula, que lembra um disco voador. Mas o ambiente é escuro e nos mais de 30 lances de escada se vê de tudo jogado pelos cantos - como restos de comida e lixo", diz a matéria.

A RedeTV chegou a usar as instalações alugadas à massa falida da TV Manchete, mas em 2017, com o fim da transmissão analógica, deixou o local.

Carlos Heitor Cony escreveu... Cadaverbrás, a nova concessionária federal


Uma crônica de Carlos Heitor Cony escrita para o  Correio da Manhã nos anos 1960 circula na internet. As redes sociais, com razão, consideram-na atualíssima. Cony sequer imaginava que o Brasil, pouco mais de dois anos após seu falecimento, viveria essa tragédia política, econômica, moral, social e... mortal.

A Covid-19 atingiu o mundo inteiro, mas só aqui foi recebida pelo governo federal, a quem cabia coordenar o combate ao vírus, com cinismo, desprezo e crueldade. Somos o único país onde as autoridades maiores fizeram até campanha para combater não o vírus mas o isolamento social recomendado. O único país onde sobrou até verba no Ministério da Saúde, tão inoperante é. O único país que não deverá ter uma segunda onda da doença simplesmente porque ameaça ficar em uma interminável primeira onda. O único país que ao quinto mês da chegada no vírus ainda está em curva ascendente. O único país que criou um jargão idiotae irreal para as estatísticas de contaminação e mortes: o platô. E alguns estados até comemoram isso. Platô é o c******, é a estabilização no caos. Festejá-lo, em vez de buscar a curva descendente, é a incompetência confessada.

Nesse ritmo, o Brasil caminha acelerado para superar os Estados Unidos em todas as modalidades de estatísticas da Covid-19.

O Rio de Janeiro é um triste exemplo. A morte vai à praia. Bastou ensaiar o tal platô para a cidade entrar em liberou geral. Os resultado já aparece: a turma alegre que desfila sem máscaras conseguiu o que queria: o aumento do número de mortes nos grupos de risco.

O governo federal já pode criar a concessionária sugerida pelo Cony: a Cadaverbrás.

Não se pode mais alegar que Bolsonaro e Paulo Guedes não criam empregos. Há vagas para coveiros, marceneiros, motoristas de rabecão...

sábado, 25 de julho de 2020

Neymar e Mbappé: respeito...

Reprodução Folha de São Paulo
por Niko Bolontrin 

Ontem, pouco antes do jogo PSG X Saint Étienne, no Stade de France, Macron entrou em campo para cumprimentar os jogadores. Diante do presidente, Neymar e Mbappé repetiram uma postura comum dos jogadores quando são repreendidos pelo árbitros. Mãos para trás. Só que esse comportamento dos jogadores é defensivo e serve para evitar que o árbitro interprete algum movimento de mão como tentativa de agressão. Não era o caso, foi por força de hábito.
Macron, aliás, deu sorte a Neymar que fez o gol do título do PSG na final da Copa da França. Já Mbappé não pode dizer o mesmo: o craque francês torceu o tornozelo ao sofrer uma entrada violenta do Perrin.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Ligue sempre a câmera do celular que o Brasil é o país dos panacas

Para deixar de ser um país do Terceiro Mundo - que voltamos a ser - o Brasil teria que acabar com a prática da carteirada, entre outras excrescências elitistas.

"Cidadão, não, engenheiro", "um analfabeto aqui", "você sabe com quem está se metendo"?, é o modus operandi dos panacas quando flagrados em desafio arrogante às leis.

Arrogantes porque se julgam acima do resto da humanidade. Resto é a palavra certa. Para esses anormais, que com frequência vivem do caixa público, somos contribuintes, mas somos o resto.

Esses elementos enxergam cargos e diplomas como se fossem títulos de nobreza. São "valentes" quando estão nos seus ambientes - Leblon, orla de Santos etc- e agridem funcionários públicos.

A câmera do celular chegou para expor esses otários preconceituosos.

terça-feira, 14 de julho de 2020

A última vez que vi Sirkis (1950-2020) • Por Roberto Muggiati

Alfredo Sirkis e Cohn-Bendit, no Rio



Cronologicamente, a última vez que vi Alfredo Sirkis foi no relançamento de Os Carbonários na Livraria da Travessa do Leblon, em agosto de 2014, com a presença de Daniel Cohn-Bendit, o lendário Danny-le-Rouge de maio de 68.

Mas eu vi melhor Sirkis e conversei mais com ele em novembro de 2013, quando deu uma palestra no Centro Cultural Baukurs, em Botafogo, e autografou seu livro. Falamos sobre nossos caminhos cruzados nos Anos de Chumbo. Sirkis fez 18 anos em 8 de dezembro de 1968, No dia seguinte, uma segunda-feira, lancei em São Paulo meu primeiro livro, Mao e a China. Na sexta-feira, 13 de dezembro, foi assinado o AI-5, que acabava com a liberdade política e a liberdade de expressão no país. Sirkis partiu para a luta armada com o codinome de Felipe na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), liderada pelo guerrilheiro Carlos Lamarca. Participou do sequestro dos embaixadores da Alemanha em 1970 e da Suíça em 1971. Com o esvaziamento da guerrilha, Sirkis exilou-se no Chile, com o aval de Lamarca, que seria fuzilado em setembro daquele ano no sertão baiano. Mao e a China foi o último livro que Lamarca leu, fato revelado pelos jornais na cobertura de sua morte, com base na sua correspondência com a companheira Iara Iavelberg, ela mesma morta num “suicídio” por enforcamento forjado num cárcere baiano.

Apesar da minha participação ideológica aberta contra a ditadura, nunca vieram bater à minha porta.
Longe de mim reclamar. Restou-me escrever um autoperfil, O homem invisível dos Anos de Chumbo. Ao mesmo tempo, tenho uma profunda admiração por aqueles que foram à luta, foi uma história triste mas também bonita, nada a resume melhor do que a epígrafe de Alex Polari para Os Carbonários:
“Nossa geração teve pouco tempo
começou pelo fim
mas foi bela a nossa procura
ah! moça, como foi bela a nossa procura
mesmo com tanta ilusão perdida
quebrada,
mesmo com tanto caco de sonho
onde até hoje
a gente se corta.”

As pombas do Adolpho • Por Roberto Muggiati

"Pombas" -Desenho de Adolpho Bloch/ Arquivo Pessoal de Roberto Muggiati

Adolpho Bloch era autoritário, tirânico, perverso até. Afinal, comandava um império, tinha de se mostrar forte. Mas, em raríssimos momentos, baixava a guarda e mostrava a criança inocente que nunca deixou de ser. Colecionei alguns destes momentos na minha longa convivência de trinta anos com ele, de novembro de 1965 a novembro de 1995.

Remexendo velhos papeis nesta contingência covidiana, encontrei um desenho feito pelo Adolpho – duas pombas, como só ele sabia desenhar – com caneta Pilot naquela pequena folha em que o diretor da revista esboçava a diagramação para o chefe de arte. Jocosamente, assinou Adolpho Dias, um dos muitos cacófatos a que se prestava seu nome. (Não seria louco de deixar uma assinatura Adolpho Bloch solta pelo mundo...)

Isso deve ter acontecido naqueles poucos momentos descontraídos em que Adolpho se sentava diante da grande mesa em L da Manchete para jogar conversa fora com o editor e os redatores. Antes da entrada em cena da Rede Manchete. A televisão, o sonho dourado dos Bloch, não demorou a se transformar num grande pesadelo.

Outro momento raro em que Adolpho abriu a alma ele o fez só para mim. Já debilitado pela idade e pela doença, pediu-me que lhe desse o braço para descer aquela escadaria assassina, sem corrimão, do restaurante do 12º andar até o elevador. A TV tinha estreado com grande expectativa a novela Tocaia Grande, inspirada no romance de Jorge Amado. Não deu em nada. No meio dos degraus, Adolpho parou e disse: – Muggiati, estou fodido. Você não ia querer a minha vida, estou fodido!

Tocaia Grande estreou em 16 de outubro de 1995. Um mês depois, na madrugada de 19 de novembro, um domingo, Adolpho Bloch morria num hospital de São Paulo.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Fotomemória: José-Itamar de Freitas (1934-2020) na redação da Fatos & Fotos, na Frei Caneca...

Aos 85 anos, o jornalista José-Itamar de Freitas, que dirigiu o Fantástico durante 16 anos, foi mais uma vítima da Covid-19. Zé Itamar fez história como diretor da Fatos & Fotos. Foi na semanal da Bloch que ele conquistou um Prêmio Esso, em 1965, com a série de reportagens "os Filhos Proibidos".
Aqui homenageamos o colega em forma de fotomemória; duas raras imagens feitas quando a Bloch ainda estava na rua FreiCaneca, ao lado de um timaço de jornalistas.


Na redação: Cordeiro de Oliveira, Nilo Martins, Orlandinho Abruonhosa, Nelio Horta, Laerte Morais Gomes, Leo Schlafman, Paulo Henrique Amorim, Hedyl Valle, Robertinho (barbeiro). Na mesa: José-Itamar de Freitas e Ney Bianchi. Foto: Arquivo Pessoal Nélio Horta

Leo Schlafman, Jaquito, Arnaldo Niskeir, Nilo Martins, Pilha, Claudio Mello e Souza, Macedo Miranda, José-Itamar de Freitas, Evaldo, Ney Bianchi , Ezio Speranza e Laerte Gomes. Foto: Arquivo Pessoal Nélio Horta

À direita, volver. Empresário bolsonarista é o novo dono do concurso Miss Brasil

Reprodução FSP

por O.V.Pochê

Concursos de miss entraram em decadência já há alguns anos. Perderam a forte repercussão em mídia que ostentavam no passado, mas resistem em alguns países. Nos Estados Unidos, focalizam o público latino. Não por acaso têm a cara brega de Miami. Também não por acaso, a marca Miss Universo já pertenceu ao igualmente cafona Donald Trump (ele vendeu os direitos em 2014). .
A Folha de hoje noticia que um empresário bolsonarista Winston Ling é o novo dono do concurso Miss Brasil. Ele quer que miss tenha "perfil empreendedor". Neoliberal, o novo patrão das misses deve impor inovações ao concurso. A matéria não entra em detalhes. Não sabe se o traje típico com a foto de Bolsonaro será adotado. Se criticar o isolamento e se rebelar contra o uso de ´mascaras será requisito.  Se defender armas para todos valerá pontos. Nem se o verde e amarelo será obrigatório.
O que está confirmado é que não haverá um grande evento, em função da pandemia, e a Miss Brasil será indicada por um júri.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Andando em má companhia: jornalismo de mercado perde mais um "idolo"

por Flávio Sépia

Você certamente já viu o painel "Impostômetro" bancado pela elite empresarial paulista e muito badalado pelos oligarcas da mídia. Só seria verdadeiro se ao lado aparecessem os números do "Sonegômetro".

Nesse tipo de crime, o Brasil está entre os primeiros no mundo. E também é o que dá mais moleza. Tem empresário que sonegou, fez acordo, e hoje paga o imposto surrupiado em módicas prestações que vão se arrastar por até 50 anos ou mais. Já o assalariado não tem acesso ao maravilhoso mundo da sonegação: seu imposto é descontado na fonte.

Os jornalistas neoliberais, que exaltam o "mercado", têm uma especie de carência por certos empresários de "sucesso". De tempos em tempos elegem um "herói" corporativo e babam na gravata do sujeito.

Há dezenas de exemplos.

Para ficar em um dos mais recentes, Eike Batista foi um notório ídolo desse pessoal. O homem era capa de revista, era paparicado por colunistas, era o C.E.O pop dos jornais e revistas.

Marcelo Odebrecht foi outro. Era o "príncipe" baiano. Deu no que deu.

O empresário Ricardo Nunes virou notícia ontem. Foi preso acusado de sonegação e lavagem de dinheiro. Basta ir ao Google para ver como o sujeito foi idolatrado. Um "gênio" dos negócios. Lendo algumas dessas matérias antigas você sai com a impressão de que com uns 20 caras como o criador da Ricardo Eletro o Brasil poria a China e os Estados Unidos de joelhos.

Pois é.

Mas não se preocupe, a mídia não sentirá muita falta do seu "idolo" caído. Em breve, outros tycoons à brasileira surgirão e farão sucesso nas editorias de economia até que seus livros contábeis virem prontuários policiais.

Que tal, pra variar, eleger como heróis os empresários honestos?

Ele existem.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Em live da Mosaico Imagem, o fotógrafo Orestes Locatel, ex-Manchete, fala sobre suas fotos e trajetória profissional

Orestes Locatel. Foto: Reprodução
da live da Mosaico Imagem/Instagram
A Mosaico Imagem, agência de fotografia de Vitória (ES), tem feito lives com fotógrafos que narram bastidores de coberturas e contam histórias por trás de fotos marcantes.
Um dos entrevistados para a série História da Foto foi o fotojornalista Orestes Locatel, com importante trajetória na revista Manchete.
A Mosaico Imagem, fundada pelos fotógrafos Tadeu Bianconi e Gabriel Lordêllo,  atende a veículos como Veja, Istó É, Época, Exame, Super Intressante, Galileu, Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, UOL, Valor Econômico e O Globo e também presta serviços aos mercados publicitário, industrial e corporativo.
Veja o depoimento de Orestes Locatel AQUI

Por um punhado de samba, o histórico encontro musical de Ennio Morricone e Chico Buarque


Um registro histórico mostra a parceria de Ennio Morricone e Chico Buarque de Hollanda.

Ameaçado pela ditadura militar, o brasileira refugiou-se na Itália, em 1970. Por uma virtuosa coincidência, instalou-se nos arredores de Roma e tinha como vizinho o maestro.

Do encontro nasceu o álbum Per um Pugno de Samba (Por um Punhado de Samba), com Chico cantando em italiano com arranjos de Ennio Morricone

OUÇA AQUI

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Ennio Morricone, indimenticabili

Reprodução You Tube
1 Oscar.
E mais 1 Oscar Honorário.
4 Globos de Ouro.
1 Leão de Ouro
500 trilhas sonoras.
70 milhões de discos vendidos.
Bafta, David Donatello, Grammy...

Na estante de Ennio Morricone, as tantas estatuetas aglomeradas não praticavam o distanciamento social.
O maestro, arranjador e compositor italiano é um desses personagens que o mundo não esquecerá mesmo que faça um enorme esforço. Mesmo se um dia as salas de cinema forem história, como o Paradiso, o streaming  projetará sua obra através dos tempos. Sua música será ouvida até por quem ainda não nasceu.

O diretor Quentin Tarantino fez recentemente uma revelação curiosa sobre o modo Morricone de trabalhar. Segundo ele, o maestro compôs a trilha sonora de "Os Oito Odiados", com a qual ganhou o Oscar em 2016, apenas lendo o script. "Sem indicar cenas específicas, compôs para a atmosfera do filme", admirou-se o diretor.

Morricone morreu hoje, em Roma, aos 91 anos, vítima de complicações após uma queda. Ele escreveu seu próprio obituário.

"Ennio Morricone está morto. Anuncio a todos os amigos que sempre estiveram próximos de mim e também aos que estão um pouco distantes e os saúdo com muito carinho.

Impossível nomear a todos. Mas uma lembrança especial vai para Peppuccio e Roberta, amigos fraternos muito presentes nos últimos anos de nossa vida. Há apenas uma razão que me leva a cumprimentar todos assim e a ter um funeral privado: não quero incomodá-los.

Saúdo calorosamente Inês, Laura, Sara, Enzo e Norbert por terem compartilhado grande parte da minha vida comigo e com minha família. Quero lembrar com carinho as minhas irmãs Adriana, Maria, Franca e seus entes queridos e que elas saibam o quanto eu as amava.

Uma saudação completa, intensa e profunda aos meus filhos Marco, Alessandra, Andrea, Giovanni, minha nora Monica e aos meus netos Francesca, Valentina, Francesco e Luca. Espero que eles entendam o quanto eu os amava.

Por último mas não menos importante (Maria). Renovo a você o extraordinário amor que nos uniu e que lamento abandonar. Para você, o adeus mais doloroso."

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quarta-feira, 1 de julho de 2020

Data Panis - Iza na quarentena - Essa ´é a foto que está quebrando a internet nesse momento...

Reprodução Instagram

É castigo? Ou o cramulhão está no controle?

por O.V. Pochê 

Thomas Mann, Dostoiévski, Guimarães Rosa, Oscar Wilde e, claro, o Fausto, de Goethe, que deu origem à série. A literatura é pródiga em tramas de pacto com o diabo.

A política também.

A tradição conta que fazer acordo com o tinhoso não é difícil. Mas o freguês se complica se não pagar o prometido. E político não é exatamente a espécie humana que cumpre compromissos.

Aparentemente, o Brasil tem um político no topo da burocracia que trocou o poder por um trapo de alma e não pagou a fatura ao anjo das trevas. Se pagou, foi ludibriado. Ou a pátria amada não estaria sofrendo uma sucessão de pragas desde o ano passado. A maioria resultando em mortes.
* Grandes queimadas na Amazônia, em proporção jamais vistas.
* Derramamento de óleo nas praias, também em volumes inéditos e até hoje sem origem esclarecida.
* Volta do sarampo, doença que havia sido exterminada no país.
* Rompimento da barragem de Brumadinho
* Incêndio no Ninho do Urubu
* Massacre em escola de Suzano
* Incêndio no Hospital Badim
* Edifício Andrea, em Fortaleza, vai ao chão.
* Massacre policial em Paraisópolis.
* Pandemia de Covid-19, Brasil em segundo lugar no mundo em mortes.
* Ciclone do Sul do país.
* Recessão econômica
* Desemprego recorde
* Ameaça de nuvem de gafanhotos