quinta-feira, 27 de julho de 2023

Mídia: quando o jornalismo usa avatares para bombar especulações


A imagem simula fontes não identificadas da Globo News, CNN, Band, Globo, Folha, Estadão etc chegando às redações para falar sobre Márcio Pochmann, Mantega, juros do BC, fêmur do Lula, viagens do Lula interferências de Janja no Planalto, Petrobras, Dilma... 

por José Esmeraldo Gonçalves

Jornalistas brasileiros - quem se considerar exceção não vista a camiseta -  abusam das "fontes não identificadas".  De certa forma isso sempre aconteceu mas, na era da internet, esse recurso recebeu altas doses de anabolizantes. 

Foi banalizado. 

No jornalismo investigativo ou não a fonte anônima deve ser secundária no desenvolvimento da apuração. É válida desde que preferencialmente ajude a balizar e orientar a investigação ou a matéria e, ainda, quando narra fatos que testemunhou. Mas fonte anônima que opina? Inusitado. 

Um exemplo célebre do uso adequado do anonimato foi o Caso Watergate (a invasão do escritório dos Democratas orquestrada por Richard Nixon e seus capangas republicanos). Os repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward usaram uma fonte secreta, à qual deram o nome de Deep Throat, que não foi a protagonista principal da série de reportagens. Mais do que isso, forneceu caminhos, nomes e locais que levaram a dupla de jornalistas a puxar fios que revelaram a malha de espionagem e manipulação do governo Nixon com fins eleitorais. 

Aqui, atualmente, a fonte não identificada calça a especulação, planta opiniões e, não raro, sustenta a pauta que o jornalista já traz pronta da redação. Um roteiro prévio que precisa apenas de um avatar: a fonte sem nome, geralmente fácil de achar e tão secreta quanto o orçamento da Câmara dos Deputados. 

No recente episódio da campanha dos principais veículos neoliberais contra a nomeação do economista Marcos Pochmann para o IBGE, uma das jornalistas envolvida nos ataques, a notória Malu Gaspar, conseguiu levantar ainda mais o sarrafo leviano da prática da "fonte não identificada". Ela encaixou um tal de "há quem diga" para encaixar uma suposta "informação". 

"Há quem diga" isso, "há que diga aquilo" é  uma introdução que aceita qualquer complemento. 

Com isso, a "fonte não identificada" acaba de escalar mais um degrau no pódio do jornalismo não confiável. 

Como exemplo, finalizo ao estilo vigente entre colunistas: uma fonte ligada ao núcleo duro do Congresso segredou que ouviu do líder de um partido da base que testemunhou uma conversa entre dois políticos próximos ao presidente uma crítica ao jornalismo. Essa pessoa, que pediu para não ser identificada, teria escutado no corredor de uma autarquia que a Abin estaria cogitando botar um caça-fantasmas de plantão em redações e estúdios.

O X do Twitter: Musk, liga para Eike Batista e ele te conta que essa consoante dá azar

 

por José Esmeraldo Gonçalves

Elon Musk demitiu o pássaro azul do cargo de símbolo do Twitter. Adotou a letra X. Musk não sabia que Eike Batista fez isso no nome das suas empresas e entrou em decadência. Uma marca de carros brasileira dos anos 70 também o usou o X no jipe Gurgel X e no Xavante XT. A marca sumiu e hoje esses veículos são peças cults. A Boeing  batizou a versão remendada do jato 737 de MaX e amargou um dos maiores prejuízos da sua história. A Xerox quase faliu, sobreviveu mas perdeu relevância e não subiu no bonde das novas tecnologias. As câmeras PentaX e RolleifleX tiveram suas fases. Passou. Qual foi a empresa dona do Titan que se desintegrou ao tentar chegar ao Titanic? Ocean EXPeditions.  Mas Musk bota fé no X, é dono da Space X, X.al, X.com, mas já enfrenta problemas com o X do Twitter.  A Mega já teria o nome registrado, um usuário do Twitter também e é esperado que outros proprietários da letra apareçam.



domingo, 23 de julho de 2023

Pesadelo...

 

Reprodução Twitter 

Faz sentido o pesadelo. Globo, Folha e Estadão parecem ter combinado o jogo. Os três jornalões se manifestaram contra o que consideram excessos nas investigação e indiciamentos de terroristas, golpistas e qualquer um da horda de 8 de janeiro ou de ataques políticos a autoridades ou cidadãos. A democracia ainda está sob ataque mas os jornalões se incomodam com a eventual punição dos envolvidos. O motivo? É muito simples. Os três grupos editoriais vêem nos aloprados possíveis aliados para 2026. Daí cortejá-los. As referidas oligarquias podiam, pelo menos, disfarçar o jogo combinado e soltar editoriais e artigos com um certo intervalo. Saiu tudo de um vez. Até parece que as famílias Marinho, Frias e Mesquita se encontraram secretamente em um lava jato qualquer da Dutra disfarçados de homens de bem e alinharam os textos que os seus entregadores de opinião  divulgaram quase ao mesmo tempo.

Mídia - Leia no Poder 360: audiência dos canais de notícia não é lá essas coisas

 



LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO PODER 360 - AQUI

Mídia dá um tragada no lobby do cigarro eletrônico

 

Anúncio reproduzido de O Globo

É forte junto ao Congfresso Nacional o lobby para liberação dos cigarros eletrônicos. Há anos é grande a pressão sobre deputados e senadores, mas agora o jogo é mais pesado.  Gigantes tradicionais e poderosos da indústria do fumo, como a British American Tobacco, aderiram aos dispositivos turbinados para consumo de nicotina e batalham com intensidade nos corredores do Congresso para conquistar legisladores. Aparentemente já recrutam jornalões como O Globo e Valor. O anúncio acima é de um "seminário" patrocinado pela BAT com apoio dos dois veículos, a pretexto de "debater" os vaporizadores de nicotina. 

Os cigarros eletrônicos são liberados nos Estados Unidos e no Reino Unido, por exemplo,  e proibidos em vários países, inclusive no Brasil. Aqui, consumidores, principalmente jovens, compram o vape através de contrabando ou em sites estrangeiros. Venda, importação e publicidade do produto são proibidas, mas um "jeitinho", como a convocação de um "seminário", pode ajudar na divulgação dos vaporizadores e dar um caráter "científico" ao lobby. Cinema, séries e o You Tube veiculam cenas que glamourizam os vape. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) possuem substâncias tóxicas além da nicotina, podem causar doenças respiratórtias, como o enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares, dermatite e câncer. Estudos mostram que os níveis de toxicidade podem ser tão prejudiciais quanto os do cigarro tradicional, já que combinam substâncias tóxicas com outras que muitas vezes apenas mascaram os efeitos danosos".  

Para as corporações tudo isso é nada, diante da possibilidade de faturar milhões com os pulmões da rapaziada.

sábado, 22 de julho de 2023

Pão de Açúcar sob ataque. E não é o supermercado: é um símbolo carioca

Tem gente que odeia o Rio. Só pode. Coisas inacreditáveis acontecem nessa cidade. Um dos gerentões da ditadura, o general Ernesto Geisel, mandou demolir um símbolo histórico da cidade, o Palácio Monroe, apenas porque acordou "naqueles dias". Uma quadrilha equipada com modernos equipamentos pesados roubou um viga da antiga Perimetral. Detalhe: a viga pesava 120 toneladas e jamais foi encontrada. O braço imobiliário do Grupo Roberto Marinho tentou comprar o Parque Lage para construir um cemitério vertical. Felizmente a insanidade não se realizou tal a indignação da vizinhança. 

Pois agora um tipo de vândalos se une para picotar o Pão e Açúcar. Meteram a picareta na pedra mais famosa do mundo, que resistiu muitos milênios desde que foi formada, mas sucumbiu aos anormais que não respeitam nada a não ser seus interesses. A obra foi embargada. Se por acaso instâncias superiores ou o governo federal através do IPHAN liberarem o crime contra o Rio de Janeiro a porteira estará aberta. O Pão de Açúcar, coitado, poderá ser decepado para receber rodas gigantes, toboáguas, motel e salão de festas do IPHAN, cujo presidente autorizou o ataque ao Pão de Açúcar. 

A propósito, leia na Piauí (link abaixo) matéria sobre o abuso que o Pão de Açúcar sofreu dos "tarados" corporativos.

 https://piaui.folha.uol.com.br/morderam-o-pao-de-acucar

MORDERAM O PÃO DE AÇÚCAR

A polêmica da construção de uma tirolesa em um bem tombado, cartão-postal do país – e que ameaça o título de patrimônio mundial concedido ao Rio de Janeiro

Roberto Kaz

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Mídia: Cadê o repórter que estava aqui? O Brasil tem mais "analistas" de notícias do que técnicos de futebol

Uma das salas vip do Aeroporto Fiumicino, em Roma: câmera é o que não falta.

por José Esmeraldo Gonçalves
A Polícia Federal deverá receber vídeos que registram cenas do ataque bolsonarista ao ministro Alexandre de Moraes em Roma. O caso ganhará então um novo capítulo na mídia. 

O que foi escrito até esse momento expõe a incapacidade dos jornalões e da TV brasileira em exercer uma função básica dos repórteres: apurar a notícia à margem das fontes oficiais e da prática declaratória preguiçosa onde cada um fala o que lhe interessa, sem questionamento ou contestação. 

Nenhum correspondente atuou no caso. Nenhum repórter tentou localizar testemunhas no Aeroporto Fiumicino, terminal europeu de alta segurança, que faz investigações próprias, além de produzir relatórios diários sobre eventuais incidentes no local. Nenhum repórter, pelo menos até ontem, falou com o adido policial brasileiro que entrou em contato com as autoridades italianas. Além disso, áreas vips costumam ter funcionários ligados a companhias aéreas. Alguém procurou fontes nesses setores? Nenhum repórter tentou contatar passsageiros do voo com destino a São Paulo e que estavam presentes no setor de embarque ou na sala vip. 

Deve ser instrução dos departamentos financeiros dos veículos preocupados em baixar custos.   

Do ponto de vista jornalístico, o ataque a Alexandre de Moraes demonstra a prioridade dos jornalões e canais de notícias: a opinião. Consiste em botar um sujeito ou dois ou três falando horas sobre um fato qualquer, geralmente divulgado por todos os veículos e, na maioria das vezes, relatados por repórteres que leem notas de assessorias e raramente têm tempo e instrução para ir além do oficial ou buscar fontes próprias e independentes. 

O Brasil é a pátria dos "técnicos" de futebol, tem milhões de torcedores entendidos em táticas, escalações e sistemas de jogo. Agora somos o país dos comentaristas e analistas de qualquer coisa. 

Nas rodas de conversa em estúdios e redações as notícias são desidratadas, levadas a um mixer e submetidas a tanta "interpretação" que, no fim, o público recebe uma massa disforme onde o fato, coitado, quase some diante da opinião do "analista". Você não recebe a notícia, mas o que alguém pensa sobre o que acha que aconteceu. Caricaturando o estilo, há coisas mais ou menos assim: "fulano, Lula vetou a pistola 9mm para uso de civis. O que isso significa?"; "sicrana, morreu o Tony Bennett, que mensagem essa morte passa?; "PF prendeu líder de invasões em 8/1. Você contextualiza pra gente?

 É tanto contexto que o texto é deixado de lado.           

Por isso, fugiu a esse padrão a velocidade com que alguns veículos logo levantaram duas "notícias" em paralelo a ataque em Roma. Uma, bastante compartilhada, dava conta de que um dos agressores havia sido candidato em chapa coligada ao PT, em 2004, pelo PL, atual partido de Bolsonaro. A notícia circulou inicialmente sem o adendo de que naquele ano, o PL era o partido de José Alencar, então vice-presidente no primeiro mandato de Lula. Essa tinha o objetivo de desvincular do bolsonarismo os autores de ataque. A   outra, também rapidamente lançada, dizia que Alexandre de Moraes  fora convidado para uma palestra em Siena, Itália, por um empresário bolsonarista acusado de divulgar fake news. As duas notas provavelmente pretendiam transformar o ministro de vítima em suspeito. 

Depois do que aconteceu na Lava Jato, quando jornalões e TVs foram pautados pelos "editores" Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, pode-se aventar que a assessoria do rico empresário e seu  advogado trabalharam bem e conquistaram mais espaço na mídia para divulgar suas defesas do que mesmo o relato da vítima sobre o que aconteceu em Roma. Um "analista" chegou a classificar de "boa" a estratégia do advogado dos agressores. Isso foi dito em uma roda de conversa em que não foi "contextualizado" o relato de Moraes. Outro considerou "desproporcional" (conceito usado pelo advogado de defesa dos agressores) a reação do PF e do Ministério da Justiça em relação ao incidente em Roma.

Não se sabe qual será o desfecho desse caso, mas nessa primeira semana após o fato, Moraes ganhou solidariedade e perdeu a primeira batalha na mídia.           

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Flanando na chuva • Por Roberto Muggiati

London Albert Bridge depois da chuva. Foto Roberto Muggiati

Ponte Vecchio, Florença/Reprodução Instagram

Não sei se é coincidência ou tendência, mas tenho visto muita coisa sobre a arte de flanar nas folhas (sim, ainda sou daqueles que lê as folhas, ou meramente as folheia...). O Estadão desta terça dedicou duas páginas ao assunto (Como vagar por cidades ao lado de escritores) e aguardo ansioso o livro que encomendei à Estante Virtual Flâneuse: mulheres que caminham pela cidade em Paris, Nova York, Tóquio, Veneza e Londres (quem sabe já estaria a caminho uma versão “transflâneuxx”?)

Gostaria de contribuir aqui com uma variante sobre o tema que pratiquei em meus dias de Paris, Londres e adjacências: o contrassenso de flanar na chuva. E não o fazia por excentricidade, mas por mera necessidade. Nos três anos que morei em Londres, conheci muito pouco do Reino Unido, apenas um Natal em Bath, uma ida a Stratford para uma nova encenação de uma peça de Shakespeare e uma escapada dominical ao País de Gales. Britânico de raiz, eu passava as férias no “Continente”. E como tinha férias! Solteiro descompromissado, muitas vezes emendava um dia normal de trabalho no Serviço Brasileiro da BBC com a transmissão noturna ao vivo. Isso me rendia “comps”, compensações que eu ia somando para gozar duas ou até três férias por ano. A Itália era um dos destinos favoritos e foi assim que me encontrei no verão de 1963 em Florença, no momento em que jornais do mundo inteiro noticiavam a devastação do meu estado natal, o Paraná, por um dos maiores incêndios florestais da história. Hospedado no centro monumental de Firenze, eu já estava no meu terceiro dia sem poder sair por causa de um a chuva persistente. Alguém me avisara “Florença é o penico do mundo”  – mas não dei ouvidos. Só faltava pedir à dona da pensione que me ensinasse a fazer crochê, mas meu lado rebelde se insurgiu. Vesti minha valente capa impermeável Burberry e saí na chuva. Vocês não podem imaginar a sensação de liberdade, tendo Florença só para mim, despida das hordas turistas. Pude observar detalhadamente a placa no chão da Piazza dela Signoria, QVI FU IMPICCATO ED ARSO FRA GIROLAMO SAVONAROLA, “aqui foi enforcado e incinerado Girolamo Savonarola”, evocando o frade rebelde executado em 1498. Ou atravessar o rio Arno pela Ponte Vecchio. Ou simplesmente vagar pelas ruas de pedras seculares. Numa de minhas andanças noturnas ouvi música de piano emanando da igreja do Santo Spirito, era o concertista chileno Claudio Arrau numa apresentação gratuita, interpretando a Sonata Les Adieux de Beethoven. 

Sonata No. 26 in E-flat Major “Les Adieux”, Op. 81a: II. Abwesenheit (Andante espressivo) - YouTube 

Clique AQUI 

Em Londres continuei a saudável prática – propícia a resfriados ou a uma eventual pneumonia – no meu “quadrilátero sobre o Tâmisa”: a extensão do Embankment na margem norte e a do Battersea Park na margem sul do rio, ladeadas pelas pontes Albert e Chelsea, quatro quilômetros de percurso. Uma vez me aventurei um pouco mais longe para o sul, até Clapham Common, onde ficava o prédio de Graham Greene destruído por uma bomba na Segunda Guerra. Ele localizou ali a casa da amada em The End of the Affair /Fim de caso (1951). No romance, meu favorito de GG, a heroína morre de uma infecção pulmonar agravada por ter caminhado na chuva em Clapham Common. 


Hoje vejo flanar na chuva como uma atividade sem futuro. A temperatura amena que ela requer foi violentada pelo aquecimento global. Há violência nas ruas, balas perdidas prontamente achadas. 

E os humanos passaram a preferir capas de chuva berrantes de PVC. 

Impermeáveis da Burberry se tornaram exclusividade do pet elegante...

Mídia - Investigações sobre ataques à democracia incomodam O Globo. É o que parece

Enquanto noticiário se ocupava da agressão de bolsonaristas radicais ao presidente do STF, ministro Alexandre de Moraes, um editorial apressadinho do Globo afimava que a democracia "está fora de risco no Brasil". 

O Globo acabou de chegar de Marte e não olhou em volta. Para um grupo numeroso de parlamentares da extrema direita o 8 de janeiro não acabou. Vários deles declaram isso abertamente. Há pelo menos um terrorista foragido entre aqueles do comando bolsonarista que tentou explodir um caminhão de combustível nas proximidades do aeroporto de Brasília. Bolsonaristas fanáticos espalham fake news, ofendem, detratam, difamam, exibem armas e até ameaçam matar o presidente Lula e outras autoridades. Basta anotar que houve quem comemorasse nas redes sociais o ataque a Alexandre de Moraes e lamentasse apenas que os agressores não tivessem usado uma bala 9mm. Se o redator de editoriais do Globo acordar poderá  ler que a Abin detectou ampla rede terrorista com planos para explosões, financiamento, logística e organização de pequenas células terroristas. Há políticos,  empresários e "patriotas" ainda não atingidos pelas investigações.

Ao contrário do que O Globo prega, a lei não pode se render aos golpistas. O Globo insinua, mas não prova, que a Justiça - no caso, o STF, o TSE, o STJ e demais instituições e instâncias - poderia estar atuando fora dos preceitos legais contra participantes e financiadores dos ataques à democracia. O editorialista anda com pena dos presos pelos ataques de 8 de janeiro, o sujeito chega a dizer que a Constituição de 1988, por ter sido produzida "nos estertores do período ditadorial" (...), "talvez por isso prestigie de forma tão exacerbada a democracia e o Estado de Direito". Já  os democratas de raiz - não é o caso do Globo que já apoiou e se beneficiou de ditadura e golpes - democracia e  Estado de Direito devem ser defendidos com toda intensidade possível e impossível. 

Essas palavras, publicadas no dia 18/7, logo impactaram os comentaristas do grupo na TV. Como um jogral de coroinhas diante do vigário sedutor algumas figuras logo produzirem "análises" para dar credibilidade aos depoimentos dos acusados. Quem sabe? Pode ter sido apenas uma discussão sobre o acesso à sala vip do aeroporto de Roma. Ou talvez um desentendimento na fila para comprar um suppli, o delicioso croquete romano de arroz com tomate, muçarela e farinha de rosco.

Historicamente, O Globo gosta de se espelhar no que acontece nos Estados Unidos.  Pois lá as investigações sobre o ataque ao Capitólio estão em andamento e nenhum editorial da mídia pede refresco para os acusados.

ATUALIZAÇÃO  EM 21/7)2023 - O editorialista do Globo pode ler hoje, no seu próprio jornal, uma informação da jornalista Bela Mengale sobre bolsonaristas radicais que preparam atos para o dia 7 de Setembro.          

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Confirmado: mudança climática fede

 


Futebol com nome, sobrenome e bola murcha

Imagem reproduzida da Folha de São Paulo 

por Niko Bolontrin

Hoje, na Folha de São Paulo, Ruy Castro deu um chapéu no time do ridículo que joga atualmente nos estádios do Brasileirão. 

O cronista está cheio de razão. 

Tem jogador que gasta mais tempo descolorindo os cabelos do que treinando falta (aliás, já repararam que são cada vez mais raros os gols de falta?). Outros passam horas escolhendo pulseiras e braceletes; alguns se dedicam a ensaiar comemorações; os evangélicos treinam formas de agradecer vitórias a Jesus, ora apontam para o céu na esperança de que os milhares de satélites não atrapalhem o trânsito da mensagem rumo ao Criador, ora se lançam ao gramado em êxtase bíblico etc. 

Garrincha deixava a concentração para ministrar um workshup para suecas interessadas. Não existem mais concentracões monásticas mas, se existissem, os atuais boleiros pulariam o muro sim mas só para fazer uma nova tatuagem. 

Uma das novidades nas transmissões é a nomenclatura dos jogadores: ninguém mais se chama Dé, Fio, Kaká, Zico, Vavá, Almir ou Pelé. Nem Zizinho, Jairzinho, Marinho, Zinho ou Quarentinha. 

A maioria, como observa Ruy Castro, é Raphael Veiga, Paulo Henrique Ganso, Marcos Freitas, Everton Ribeiro, Victor Hugo.

Nos anos 1940 e 1950, nomes e sobrenomes eram reservados para os fora de série. Não era qualquer um que recebia dos locutores a "razão social" completa. Só Ángel Labruna, Adolfo Pederneira, Nilton Santos, Djalma Santos, Ademir Menezes, Alfredo Di Stefano, Jair da Rosa Pinto, entre outros poucos que conquistaram a honraria. 

Hoje, qualquer Zé Mané vira "José Manuel de Souza", vai pro Catar e carimba o passaporte de volta pra casa antes da Copa acabar.


domingo, 16 de julho de 2023

Meu encontro (literal) com Jane Birkin • Por Roberto Muggiati

Jane Birkin morreu aos 76 anos. A causa da morte não foi divulgada.
 Há alguns anos a atriz e cantora sofreu um AVC. 


Com Serge Gainsburg.


Em Cannes, também com Gainsbourg.

Em 1969, ela concorreu ao Festival Internacional do Filme
do Rio de Janeirocom o longa Wonderful 

Jane Birkin chocou as plateias ao currar, com uma amiga, o fotógrafo do filme Blowup (1966), de Antonioni. De periguete anônima nessa cena de sexo explícito, a atriz londrina saltou para protagonista em Wonderwall (1968), com trilha sonora assinada pelo beatle George Harrison. Depois de um casamento-relâmpago com o compositor John Barry, Birkin iniciou um relacionamento com o ator-chansonnier  Serge Gainsbourg, quando contracenaram no filme Slogan. Em 1969, Gainsbourg e Jane gravaram o dueto  Je t'aime... moi non plus. Ele havia escrito a música para Brigitte Bardot, com quem tivera um caso antes de conhecer Jane. Je t’aime provocou um escândalo mundial: interpretada aos sussurros, a canção simulava uma relação sexual, com direito a um orgasmo, encenado (ou, segundo alguns, real) de Jane. Sua execução foi banida nas rádios da Espanha, Islândia, Itália, Iugoslávia, Polônia, Portugal, Reino Unido, Suécia e denunciada publicamente pelo Vaticano. No Brasil, a ditadura militar, rápida no gatilho, proibiu prontamente a canção.

Ouçam AQUI

Je t'aime moi non plus Legendado.Serge Gainsbourg & Jane Birkin -Original videoclip - YouTube

Apesar da imagem festiva na cama, o casamento não se segurou. Jane descreveu Serge como “um homem muito difícil, alcoólatra e violento. ”  A filha, Charlotte Gainsbourg, 51 anos, teve a sorte de herdar o melhor de cada um e se tornou uma grande atriz, com atuações marcantes em Melancholia e Ninfomaníaca. 

Por conta da disponibilidade do repórter, tive com a jovem Jane Birkin um contato físico que eu poderia descrever no mínimo de bizarro. Foi durante a cobertura do 2º Festival Internacional do Filme do Rio de Janeiro, em março de 1969, a serviço da revista Veja, da qual era editor de Artes e Espetáculos. Acompanhava os tititis crepusculares (com duplo sentido) das celebridades na pérgula do Copacabana Palace quando o eterno moleque Roman Polanski arremessou Jane Birkin na piscina famosa. A atriz passou raspando como um rojão, ainda tentou se agarrar a mim, mas felizmente não me levou no seu mergulho azul – logo eu, totalmente enfarpelado. Polanski concorria no festival com o sinistro O bebê de Rosemary, meses antes de ter a mulher Sharon Tate, com bebê na barriga, chacinada em Los Angeles pelos fanáticos do bando de Charles Manson. Jane Birkin representava o filme Wonderwall no festival carioca. O prêmio Gaivota de Ouro coube ao épico hípico argentino Martin Fierro, que nada tinha a ver com aquele mundo maluco em que vivíamos então.

Mídia: A armadilha jornalística

por José Esmeraldo Gonçalves

Matéria publicada no portal GGN, assinada por Luís Nassif, revela mais um episódio de extrema gravidade ocorrido nas sombras das ligações expúrias da Lava Jato com certos jornalistas. 

A subserviência de profissionais da mídia aos chinelos dos procuradores e do juiz que conduzia ilegalmente tanto o julgamento quanto as investigaçõese constitui uma das páginas mais vergonhosas do jornalismo brasileiro. 

Quando o Intercept publicou as mensagens trocadas nos porões de Curitiba ficou demonstrada a parceria entre repórteres e editores lavajateiros na divulgação política dos passos nebulosos da investigação. Jornais, revistas, emissoras de TV e rádio, além de sites e mídias sociais recebiam conteúdos com dia e hora marcada para publicação. Jornalistas davam assessoria aos procuradores e sugeriam modos de alcançarem seus objetivos em paralelo com a manipulação das investigações. Dezenas de reportagens "investigativas" - algumas premiadas, o que atualmente soa como piada - eram pautadas pela força-tarefa segundo os interesses do arrastão  jurídico.

Processos viciados foram anulados posteriormente, a  Lava Jato virou lama, mas no que diz respeito ao jornalismo e também à cultura, muita coisa ainda deverá vir à tona. Setores culturais embarcaram no bonde da vergonha. Documentários, filmes e livros de encomenda fizeram a linha auxiliar do golpe contra Dilma Rousseff, da prisão de Lula e do consequente impedimento fraudulento, afinal reconhecido, com o qual Sergio Moro e cúmplices, hoje desmascarados, impediram o atual presidente de concorrer nas eleições de 2018.

Desde a semana passada, as redes sociais repercutem a matéria de Luís Nassif que denuncia a participação do jornalista Andrea Sadi, da Globo News, em um episódio ligado à prisão de Lula. 

Leia a seguir um trecho da matéria do GGN e clique no link abaixo para acesso ao texto compeleto.    

Uma parceria Lava Jato-Globonews que poderia ter terminado em tragédia

Uma das grandes tacadas da Lava Jato, visando ampliar o período de prisão de Lula, ocorreu usando a repórter Andrea Sadi, da Globonews.

por Luis Nassif

jornalggn@gmail.com

Publicado em 14 de julho de 2023, 14:22

Meu artigo sobre as 4 jornalistas do impeachment despertou lembranças em outros colegas. E recebi o seguinte depoimento de colega. Uma das grandes tacadas da Lava Jato, visando ampliar o período de prisão de Lula, ocorreu usando a repórter Andrea Sadi, da Globonews.

"Lula já estava com a prisão decretada, acampado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Na frente, uma multidão solidária a Lula.

A caminho de São Bernardo, um carro com uma jornalista e o advogado Marco Aurélio de Carvalho, quando a jornalista Andrea Sadi deu a notícia de que Lula resistiria à prisão. 

Não era verdade. Lula já tinha acertado com seus advogados que se entregaria. Mas a notícia tinha dois desdobramentos terríveis. O primeiro, a possibilidade de se ordenar a invasão da sede do Sindicato pela Polícia Federal. A segunda, do juiz Sérgio Moro ordenar uma condução humilhante de Lula.

Imediatamente, entraram em contato com Sadi, para que desmentisse a notícia, mas ela se recusou.

Liguei para Marco Aurélio para saber o desfecho da história. Quem evitou o desastre foi a jornalista Natuza Nery. Marco ligou para ela que, imediatamente, desmentiu a notícia, desmanchando a trama".

Leia a matéria completa AQUI


Mídia - Justiça de Brasiíla atropela a Constituição e censura a Revista Piauí

imprensa & justiça


JUIZ CENSURA TRECHO DE REPORTAGEM DA PIAUÍ

Na prática, a decisão implica o recolhimento da revista nas bancas|14 jul 2023_13h11
No dia 20 de junho, Hilmar Castelo Branco Raposo Filho, juiz da 21ª Vara Cível do Distrito Federal, deu uma liminar determinando a remoção de um trecho da reportagem O cupinzeiro, do repórter Breno Pires, publicada na edição 201 da piauí de junho deste ano. A reportagem mostra como o governo Bolsonaro desidratou o programa Mais Médicos e colocou no lugar uma agência que se transformou num ninho de falcatruas, com casos de nepotismo, irregularidades administrativas, denúncias de assédio moral e mau uso de verba pública.

Em um parágrafo, o texto da reportagem faz referência à denúncia de 95 páginas, entregue ao Ministério da Saúde, na qual se apontava que, entre os contratados para a nova agência, havia uma lista de amigos de ex e atuais dirigentes do órgão, inclusive casais, com o marido e a mulher assumindo bons cargos. A reportagem dava três exemplos. Em uma única frase, mencionava, sem emitir juízo de valor, os nomes do casal L. W. (contratado para a gerência de formação, ensino e pesquisa) e de sua mulher D. O. M. (que assumiu como assessora da diretoria técnica). Era uma menção sumária ao caso dos dois, que, no relatório preliminar da investigação interna aberta para apurar as denúncias, ocupa cinco páginas.
Alegando que a matéria noticia “fato inverídico”, o casal recorreu à Justiça e pediu a remoção da reportagem do site da piauí e a retirada de circulação da edição impressa da revista. Também pedia que, dali em diante, a piauí fosse proibida de fazer menção aos seus nomes em futuras matérias sobre o caso.

O juiz Raposo Filho entendeu que o pedido de censura prévia era excessivo, mas ordenou que a piauí suprimisse a menção a L.W. e D.O.M. tanto dos “textos publicados na rede mundial de computadores”, quanto dos “exemplares da revista piauí edição 201”. Como a edição já havia sido distribuída no início do mês de junho, e o juiz estava informado disso, a consequência inevitável de sua decisão era o recolhimento da edição das bancas – dado que seria impraticável contratar um exército de pessoas que, munidas de canetas, saíssem riscando os nomes do casal de cada um dos exemplares distribuídos a mais de 5 mil pontos de venda no país.
No dia 11 de julho, a piauí recorreu da decisão junto ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Numa peça de 22 páginas, sustenta que “o conteúdo da matéria é estritamente narrativo, baseado em documentos oficiais e fontes fidedignas” e mostra que a existência de indícios de irregularidades e troca de favores é tão incontroversa que a própria agência instaurou investigação interna sobre o assunto – e afastou toda a diretoria. Ao ressaltar que o assunto é de interesse público, a defesa diz que é “dever da imprensa noticiar fatos […] que envolvem suspeitas de contratação irregular de agentes públicos”
O recurso da revista ainda sustenta, com fundamento na decisão de 2014 tomada pela ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, que o dever do jornalista é “buscar fontes fidedignas”, e o exercício de sua profissão não pode ser engessado pelo rigor dos procedimentos judiciais de investigação. Em outras palavras, o jornalismo não tem poder de polícia, não quebra sigilo bancário, fiscal, não faz escuta telefônica, não manda prender, nem promove operações de busca e apreensão. Segundo Andrighi, os instrumentos à disposição dos jornalistas são limitados aos de sua profissão, razão pela qual, por óbvio, uma reportagem jornalística não é um inquérito policial nem uma sentença judicial.

Do Portal dos Jornalistas: ChatGPT é exterminador de empregos?

 Associated Press une-se à criadora do ChatGTP para o uso de IA em notícias

Por Hellen Souza -14 DE JULHO DE 2023 - Portal dos Jornalistas

A Associated Press (AP) e a Open Ai anunciaram em 13/7 uma parceria visando a explorar o uso de inteligência artificial generativa em notícias. Pelo acordo, a AP licenciou parte de seu arquivo de reportagens para a criadora do ChatGTP.

Segundo a Agência Reuters, o banco de notícias da AP será capaz de fornecer grandes quantidades dos dados necessários para treinar sistemas de IA, como o ChatGTP. A empresa já utiliza IA para automatizar relatórios de resultados corporativos, resumir eventos esportivos e transcrever alguns eventos ao vivo.

"A inteligência artificial generativa é um campo em rápida evolução, com implicações tremendas na indústria de notícias”, disse Kristin Heitmann, vice-presidente sênior e diretora de receitas da Associated Press. “As organizações jornalísticas devem ter um lugar à mesa para que redações grandes e pequenas possam aproveitar essa tecnologia em benefício do jornalismo”.

O acordo prevê que a agência de notícias terá acesso à tecnologia e à expertise de produtos da OpenAI. Os detalhes financeiros não foram divulgados.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Messi com o boi na sombra

 

Messi invade a área... do supermercado. Foto: Reprodução Instagram 

por José Esmeraldo Gonçalves

A foto foi tirada por um fã e viralizou em redes sociais. Messi vai ao supermercado tranquilamente, carrinho cheio de junk food. 

Quando optou por jogar em um time desconhecido em Miami, o recém- fundado International, Messi não escondeu que queria descansar. Ele  não é de balada, quer curtir a família. 

Miami é mesmo o local ideal para o relax de um jogador que já fez história. Futebol nos Estados Unidos ainda é  work in progress, nem nome tem, é um troço chamado soccer, voltado para hispânicos e imigrantes, em maioria. Se a imigração der uma batida nas arquibancadas durante uma partida qualquer de soccer vai retirar tantos ilegais que metade da plateia será conduzida aos costumes.  

Mas o mood assumido de Messi é descansar longe das pressões de uma Champions. É justo. Se lhe derem um pijama como uniforme ele vai achar do cacete. Tem sombra, água fresca, alto salário, Mickey está ali perto. Melhor enfrentar a turma de Walt Disney do que os zagueiros do Bayern e do Liverpool. E ainda fatura milhões para bater uma bolinha de vez em quando. Futebol na terra do beisebol e do "football" jogado com as mãos tem um calendário amigável e é o sonho de muitos jogadores. Antes de Messi, Pelé e Beckenbauer, no Cosmos jurássico dos anos 1970, viveram um brilhareco de dois anos e pouco em outro surto fracassado. O soccer dos gringos parece se mobilizar assim, digamos, em "eventos". Houve o Cosmos, os investimentos do L.A. Galaxy, uma certa badalação na Copa de 1994 e provavelmente haverá outra empolgação no Mundial de 2026. Beckham curtiu Los Angeles por uns tempos e, mais recentemente, Ronaldo Fenômeno, Pato e Adriano Imperador bem que tentaram desfrutar da aposentadoria na moleza da Flórida. Não emplacaram, mas mostraram um caminho que Neymar já declarou que gostaria de experimentar. 

Se bem que descanso é o que não falta ao jogador do PSG. 

Só um meteoro para salvar Santa Catarina

 

        Reprodução Twitter



Quem detonou a Bastilha? O Marquês de Sade, ora... • Por Roberto Muggiati

 

O povo unido contra a Bastilha 

Sade ajudou a insuflar os parisienses 

Peça de Peter Weiss: A perseguição e assassinato de Jean-Paul Marat

Mais um 14 Juillet, não chega a ser uma data redonda, 234 anos desde que cidadãos parisisenses revoltados pegaram em armas e destruíram a prisão-símbolo do autoritarismo e da opressão. Aproveito para contar uma história que só mais recentemente os historiadores trouxeram à tona. Uma pessoa de dentro da Bastilha exerceu um papel determinante para a invasão e derrubada do presídio: o Marquês de Sade, que ocupava lá uma pequena cela. Em 2 de julho de 1789, a turba enfurecida já rondava o prédio e as autoridades reforçaram a segurança. Transformando em megafone um funil de metal usado para despejar o esgoto de sua privada, Sade foi à janela e começou a berrar para o populacho por entre as grades que os carcereiros assassinos estavam torturando e degolando os prisioneiros, a maioria deles gente de bem que se opunha politicamente à monarquia. Em represália, o comandante da Bastilha o despachou, “nu como um verme”, para o asilo de loucos de Charenton, lacrando a cela com seus pertences, pelos quais Sade chorou “lágrimas de sangue”: “Mais de 100 luíses de móveis, algumas obras e – o irreparável – quinze volumes de meus manuscritos.”

O diretor do asilo de Charenton, Monsieur de Coulmier, considera o teatro uma excelente forma de terapia e constrói um palco com uma arquibancada de 40 lugares. Sade encontra aí uma oportunidade para exercer seu talento de escritor. Parisienses chiques disputam os lugares destinados aos pacientes. O episódio inspiraria, em 1963, a peça de Peter Weiss A perseguição e assassinato de Jean-Paul Marat encenado pelos internos do Hospício de Charenton sob direção do Senhor de Sade, abreviado para Marat/Sade, que eu tive o privilégio de ver em sua estreia em 1964 na Royal Shakespeare Company em Londres, com Patrick Magee no papel de Sade e a estreante Glenda Jackson como Charlotte Corday. Shakespeare, que fazia 400 anos, adorou..

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terça-feira, 11 de julho de 2023

O Glorioso, de Biriba a Tiquinho • Por Roberto Muggiati

 

Biriba entra em campo.


A pose ao lado do time formado


Carlito Rocha e Biriba. Fotos Manchete Esportiva e Arquivo Botafogo 

Tiquinho. Foto Victor Silva/Botafogo

A Estrela brilha de novo. A conquista do campeonato carioca de 1948 foi marcada – e segundo alguns devida ao cachorro Biriba. O vira-lata, que pertencia ao zagueiro reserva Macaé, invadiu o gramado no 10x2 dos aspirantes do Botafogo sobre o Madureira, como se comemorasse a vitória. O carismático Carlito Rocha, presidente do clube, adotou o cachorro de pelagem alvinegra como mascote do time. Biriba passou a comparecer a toda partida. Quando o Botafogo estava atrás no placar, Carlito o soltava no campo para interromper o jogo. Nas vezes em que isso aconteceu, o Botafogo acabou virando a partida.

Passados 75 anos, os dias de glória estão de volta. O herói desta vez é um craque também com dois “i”s no nome, Tiquinho Soares. Artilheiro do Brasileirão, ele comanda a impressionante arrancada do Botafogo, dez pontos à frente do segundo colocado, com um aproveitamento de 85% em 14 jogos, com 12 vitórias e duas derrotas. Nem a saída do técnico português Luís Castro abalou o time, que vem de uma vitória fora de casa sobre o Grêmio, seu principal concorrente. Aos 32 anos, o paraibano Francisco de Chagas Soares dos Santos rodou o mundo antes de surgir, aparentemente do nada, no Botafogo. De times do Nordeste passou pelo Pelotas, jogou em clubes de Portugal, no Tianjin Teda da China e no Olympiacos da Grécia. Chegou ao Glorioso como um estranho no ninho, trazido pelo treinador Luís Castro, que o conhecia do futebol português.

Em torno de Tiquinho, outras estrelas iluminam a equipe em que tudo parece dar certo: o goleiraço Lucas Perri, que botou Gatito no banco; o megazagueiro Adryelson, Tchê Tchê, Di Placido, Luís Henrique, Carlos Alberto, Eduardo e o dançarino Segovinha. Vai ser difícil um time desbancar este Botafogo encantado. O segredo? Mais é menos, o lema do minimalismo. Na contramão da chatíssima posse de bola espanhola, o Botafogo investe apenas no golpe certeiro, com uma eficácia fatal.  Como nos dez gols do artilheiro de 1m87, Tiquinho, que joga um montão.


Deu no G1: esqueleto volta a ameaçar Floresta da Tijuca

 

Matéria do G1 mostra prédio abandonado na Floresta da Tijuca. Em 1954, empreendedores conseguiram licença do então Distrito Federal para invadir um santuário verde do Rio de Janeiro. Não havia consciência ecológica aqui no Bananão, embora em certas regiões da Europa e nos Estados Unidos parques florestais já fossem instituições protegidas. 
O grupo que construía o edificio, que originalmente seria o Gávea Tourists Hotel, faliu, deu calote em investidores e abandonou o projeto. 
O G1 romantiza o esqueleto e informa que empresários adquiriram as ruínas e concluirão os apartamentos. A matéria diz ainda que, assim como autorizaram intervenção desastrada no Morro da Urca e Pão de Açúcar para a contrução de uma estrutura para uma tirolesa (no momento embargada pela justiça), IPHAN, órgão federal e instância municipal autorizaram a nova obra em plena Floresta da Tijuca. ICMbio, governo do Estado do Rio de Janeiro e Ibama não são citados na matéria. 
Não sabemos dos argumentos convincentes dos novos empreendedores, mas as instituições e o Rio de Janeiro perdem um oportunidade de respeitar os novos tempos, demonstrar consciência ecológica e impedir um verdadeiro  crime contra a Floresta da Tijuca e seu entorno, que já sofrem muitas ameaças. 
Infelizmente a reportagem do G1 não ouviu ambientalistas independentes para opinarem sobre mais essa agressão à natureza carioca. 
A melhor solução para a cidade é a demolição do monstrengo e a restauração da área florestal.

sábado, 8 de julho de 2023

O Trio do Rock, 53 anos depois • Por Roberto Muggiati

 

O Trio do Rock em 2023. No dia em que deram depoimentos para o
documentário Janis - Amores de Carnaval, Roberto Muggiati e João Luiz Albuquerque reencenaram foto "clássica" com Ricky Ferreira 

no lugar de Renato Sérgio (foto original, acima, o trio no Free Jazz de 1986)

Foi através de João Luiz Albuquerque conheci Ricky Ferreira, quando ele publicou na Manchete as fotos que fez de Janis Joplin no Rio logo depois do Carnaval de 1970. 

Janis Joplin, Praia da Macumba, 1970. Foto de Ricky Ferreira

Janis na Presidente Vargas, desfile das escolas de samba, 1970

Janis na coletiva pós-Carnaval na pérgola do Copacabana Palace:
de pé à sua esquerda, Ricky Ferreira; sentado, o americano David Niehaus,
que se tornaria seu namorado no Brasil

A revista deu as fotos como um insight exclusivo na ocasião da morte da cantora, em 4 de outubro de 1970. Ciceroneando Janis pelo Rio, Rick fotografou a roqueira transgressora topless na Praia da Macumba, encorajada por alguns goles de um veneno chamado Fogo Paulista. Vivíamos os Anos de Chumbo, período de total proibição da liberdade de expressão, que levou os opositores da ditadura à clandestinidade, iniciada com os espetaculares sequestros de embaixadores no Rio de Janeiro: o americano em setembro de 1969; o alemão, em junho de 1970; e o suíço, em dezembro de 1971. (Houve ainda o sequestro do cônsul japonês em São Paulo, em março de 1970.)

A maioria dos intelectuais não pegou em armas, mas agiu nas redações e universidades municiada das palavras, no movimento da contracultura, que tinha no rock uma das suas principais armas. Eu havia lançado meu primeiro livro em dezembro de 1968, uma semana antes do AI5, Mao e a China, o último livro que o capitão Lamarca leu antes de ser fuzilado no sertão baiano em setembro de 1971, morrendo com ele o breve espasmo de resistência armada contra o regime militar. 

Sem poder abordar temas políticos, comecei a escrever sobre o rock. Publiquei na Manchete o obituário de Jimi Hendrix. Carlos Heitor Cony não me conhecia, mas gostou tanto do texto que me levou para a chefia de redação da EleEla, da qual era o editor. Sobrava tempo na redação da mensal “masculina” – sem mulheres nuas, mas de biquínis largos, como exigia a censura militar. Cony aproveitou para escrever aquele que considerava seu melhor romance, Pilatos. 


Publiquei lá uma matéria sobre “sexo, drogas e roquenrol”. Ampliei o texto num tom mais ensaístico na revista Planeta, saiu em 1973 com a chamada de capa ROCK: O GRITO E O MITO. Daí para o livro foi um passo: meu colega de redação Mário Pontes dividia com Rose Marie Muraro a programação editorial da Vozes, que lançou, ainda naquele ano, Rock: o grito e o mito/A música pop como forma de comunicação e contracultura. Teria quatro edições, a 3ª e a 4ª atualizadas em 1981, após a morte de John Lennon. 

Depois da publicação das fotos da Janis na Manchete, João Luiz e Ricky passaram a frequentar meu apartamento, onde projetávamos slides recém-chegados dos festivais de rock pelo mundo e ouvíamos os últimos LPs (um must era o letárgico In a Gadda da Vida do Iron Butterfly, 17 minutos, ocupando todo um lado do vinil, 

https://www.youtube.com/results?search_query=IRON+BUTTERFLY+-+IN+A+GADDA+DA+VIDA+-+1968+(ORIGINAL+FULL+VERSION)+CD+SOUND+%26+3D+VIDEO+-+YouTubeçam AQUI

Entrei o ano de 1972 em Nova York, numa visita a Ricky e Tânia, que moravam no Village, na Christopher Street, onde ficava o pub Stonewall Inn, local da primeira confrontação entre gays e policiais, em 1969, que se tornou um ícone da cultura LGBTQ+. O tempo e nossos novos casamentos nos separaram. A Manchete acabou, meus encontros com João Luiz rarearam e também com Ricky, que partiu para Araras e se enfurnou na Serra até hoje. 

Foi Janis Joplin quem nos reuniu 53 aos depois da formação do trio. (Janis que teria hoje 80 anos, já imaginaram?) A produção do longa documental Janis: Amores de Carnaval, dirigido por Ana Isabel, programou com esses “três cavaleiros do Após-calipso” – ou quixotescos “da triste figura” – uma jornada de entrevistas na tarde morta da sexta-feira, 30 de junho, último dia da metade do ano, no Salão Assírio do Theatro Municipal, não podia haver décor mais surreal. Piadistas visuais, João Luiz e eu reencenamos uma foto feita durante o Free Jazz de 1986, com Ricky ocupando o lugar do saudoso Renato Sérgio. E vamos em frente, remando contra corrente...



Fotomemória da redação: JK em Roma, 1963, com Rosselini, De Sica e Alberto Sordi. O fotógrafo Jáder Neves, de Manchete, registrou

Rosselini era o anfitrião, mas nessa foto parece mais interessado na atriz bengali Sonali das Gupta, com quem teve um affair enquanto era casado com Ingrid Bergman 

Alberto Sordi e JK - Fotos de Jáder Neves/Manchete

Jáder Neves e Vittorio de Sica

por José Esmeraldo Gonçalves
Em 1963, sem desconfiar que tempos de chumbo estavam em adiantada gestação, Juscelino Kubitschek, então senador, visitou Roma. Jáder Neves, de Manchete o acompanhou. Vittorio De Sica - de quem o fotógrafo ouviu elogios à qualidade gráfica da revista - participou de um jantar promovido pelo diretor Roberto Rosselini em homenagem a JK. A viagem internacional era parte do palco político do lançamento da sua campanha como pré-candidato a presidente nas eleições marcadas para 1965. Em pouco mais de seis meses após essa viagem, o Brasil foi tomado por uma ditadura dos gorilas. JK, embora inicialmente tenha apoiado o general Castelo Branco, um dos lideres do planeta dos gorilas - foi cassado sob acusações forjadas de corrupção e de ser "apoiado pelos comunistas". As eleições foram canceladas. O Brasil entrou em um longo ciclo de prisões, tortura e assassinatos políticos e, adivinhe, a corrupção fardada ocupou espaços e, encoberta pelo controle dos meios de comunicação, só viria a público décadas depois com a revelação dos sucessivos escândalos financeiros do período e da participação de empresas brasileiras e multinacionais no financimento de centros de torturas e assassinatos em troca de benesses do governo. 

E o jantar oferecido por Roberto Rosselini deve ter sido o último momento de descontração de JK antes da tempestade autoritária. Ameaçado dee morte, ele logo seria obrigado a deixar o Brasil, refugiando-se nos Estados Unidos e, depois, em Portugal. JK voltou ao país em 1967, tentou articular um movimento de oposição - a chamada Frente ampla - e foi preso em 1968. Solto após curto período foi acolhido por Adolpho Bloch, que lhe ofereceu um escritório no prédio da editora na Rua do Russel, onde permaneceu até sua morte em acidente suspeito na Via Dutra, em 1976.             

Meu Chá das 5 na Twinings • Por Roberto Muggiati

 

• O frontão ornamentado pela estátua de um leão dourado e pelas figuras
de dois chineses lembra as origens da bebida. 

• A loja do Strand 216 continua aberta ao público, 317 anos depois.


• A loja da Twinings disponibiliza concorridos cursos
de provador de chá.

• Monsieur Hercule Poirot não abre mão da sua tisana.
Fotos: Divulgação

Entre agosto de 1962 e junho de 1965 trabalhei no Serviço Brasileiro da BBC em Londres. Ficava na Bush House, um prédio que ocupava todo um quarteirão em forma de semicírculo. A parte curva era o Aldwych, a reta era o Strand. Na sua inauguração, em 1929 foi chamado “o edifício mais caro do mundo.” No número 216 do Strand ficava a primeira casa de chá da Grã-Bretanha, a Twinings, aberta em 1706 e ainda em funcionamento. Seu fundador, Thomas Twining, já trabalhava aos nove anos como aprendiz de tecelão; depois de um período na East India Company, tornou-se comerciante de chá por conta própria. (O logotipo da firma, criado em 1787, é também o mais antigo do mundo em uso continuo.)

A proximidade da casa de chá da Twinings, uma caminhada de duzentos metros, nos ensejava uma “tea break” diária por volta das quatro horas da tarde. Era para nós, funcionários da BBC, uma rotina banal. Não nos dávamos conta de que tomávamos o melhor chá do mundo na casa de chá mais antiga do mundo, então no vigor dos seus 256 anos.

Voltando ao Brasil, fiquei mais de 50 anos sem tomar chá. Na minha recente recuperação da fratura do fêmur, descobri a série Poirot (1989-2013) da ITV britânica e virei espectador compulsivo do detetive belga de Agatha Christie, magistralmente interpretado por David Suchet, com um elenco incluindo pesos pesados como Sarah Miles, Barbara Hershey, Elizabeth McGovern, Elliot Gould, Edward Fox e Michael Fassbender. O cinema é um deflagrador de apetites e as cenas em que o chá era servido em close com bules e xícaras de porcelana mexeram com minhas papilas gustativas. Surpreendentemente, encontrei no meu plebeu (apesar do nome) Mercado Princesa uma modesta oferta de saquinhos da Twinings, comprei uma caixa no sabor Limão com Gengibre, de um gosto instigante. (Meus favoritos em Londres eram os tradicionais Earl Grey, Prince of Wales e o English Breakfast Tea).

Dos 70 episódios da série Poirot só me restam ver onze. É “adieu, Hercule, mon ami.” Talvez volte à série do Sherlock com Jeremy Brett, ou à do comissário Maigret, com Bruno Cremer. Mas o hábito retomado do chá deve continuar, pelo menos enquanto durar o inverno.


Deu no Globo: Zé Gotinha vai virar Zé Seringa


 

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Mundo corporativo: Você já colou a plaquinha "quinta série" na sua cadeira? É a nova onda nos escritórios

 


Plaquinhas "quinta série".
Reprodução Instagram
por O.V.Pochê 

As redes sociais usam um termo para classificar o humor e as brincadeiras de quem repete piadas toscas e rudimentares ou faz pegadinhas idiotas. Esses vacilões são chamados de "quinta série". Pois a onda corporativa dos coachs - atualmente tem coach para tudo, inclusive aqueles que engabam os otários - chegou aos escritórios em forma de linguagem. O portal G1 publica hoje uma matéria sobre o método que gente esquisita usa para "manter o foco" no trabalho.  É "quinta série" na veia. Consiste em colar na cadeira um cartaz com chavões típicos do coaches e mentores, aqueles sujeitos que se dão bem cobrando para "ensinar"aos  desocupados supostos caminhos para alcançar o sucesso profissional. Esse tipo de workshops muitas vezes picareta pode facilmente se confundir com um culto evangélico. Os mentores e coachs costumam berrar na sala como se estivessem possuídos ou operando milgares e "livramentos", como dizem na indústria religiosa. O G1 mostra que as frases ostentadas nos cartazes são banais. Dizeres comumente vistos em parachoques de caminhões são bem mais criativos. Se você pretende aderir à onda das plaquinhas, cuidado. Evite dizer ao chefe o que vocês está realmente pensando dele. Todo escritório tem a "bruxa do segundo andar". Não a agrida, geralmente é amiga do gerente. Nada de assédio através do cartaz. Fazer fofoca usando a plaquinha pode pegar mal para a "cultura organizacinal". Usar a sigla VTC pode, principalmente se for para colar na cadeira de quem inventou isso.           

Mídia: As musas que a Playboy perdeu...

Maiara, da seleção brasileira de vôlei e... 



...Rosamaria, também integrante do time de Zé Roberto,
estariam na mira da Playboy. Fotos Instagram  


A tenista Bia Haddad Maia, atualmente competindo em Winbledon é uma
das atletas que receberia um convite da Playboy. Foto Instagram  

por Ed Sá 

Um dia, em uma galáxia muito distante, existiu a edição brasileira do Playboy. A publicação mensal da Editora Abril costumava quebrar recordes de venda em bancas acima de um milhão de exemplares. Modelos, atrizes e até "musas" de escândalos faturavam altos cachês. Entre os alvos da Playboy estavam atletas que se destacavam pela beleza, além dos méritos esportivos.  
A internet sepultou a maioria das revistas impressas e levou junto as chamadas publicações masculinas. Pelo menos três atletas que brilham atualmente nas quadras de vôlei e tênis teriam sido, certamente, escolhidas pela Playboy em troca de contratos milionários que, em alguns casos, envolviam até participação nas vendas e em anúncios da revista. 

A Playboy é passado, mas, em ensaios comportados, as próprias musas postam no Instagram fotos reveladoras. Algumas monetizam suas páginas e faturam alguns cachês, embora nada que se compare ainda aos milhões que Playboy pagava. Para modelos fotográficas - e pelo menos uma ex-atleta de volei - a alternativa é o OnlyFans, site pago de fotos sensuais que remunera cliques da turma mais desinibida, mas sem  o charme indiscreto e a sofisticação da revistas das coelhinhas.