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sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Deu no Post: Quem precisa de realidade? O mercado tem vida própria...


Reprodução Washington Post

por Flávio Sépia 

A edição do Washington Post, hoje, aborda um fenômeno dos novos tempos. O mercado de ações dos EUA encerrou 2020 em níveis históricos de retorno de investimento, apesar de uma pandemia que matou mais de 340.000 americanos, deixou 20 milhões sem empregos e uma parcela da população faminta e derrubou o PIB da maioria dos países. 

O índice de ações S&P 500, o indicador mais confiável, terminou 2020 com alta de mais de 16%. Dow Jones e o Nasdaq indicaram ganhos de 7,25% e 43,6%, apesar da devastação sanitária. Hospitais lotados, funerárias idem, nada disso impactou o mercado financeiro. As maiores empresas cresceram durante a pandemia ao mesmo tempo em que colocavam milhares de trabalhadores no olho da rua. 

Entrevistado pelo Washington Post, Michael Farr, presidente da Farr, Miller & Washington, empresa de gestão de dinheiro, definiu:   “2020 foi impressionante. Que uma paralisação econômica induzida por uma pandemia de proporções épicas tenha sido digerida com ações encerrando o ano 15 por cento mais altas é alucinante". Guardadas as proporções, com o Brasil pegando de volta o selo de país subdesenvolvido, a B3, a bolsa de valores brasileira, também pouco espelhou a devastação de empregos e as crises dos setores industrial e de serviços: o mercado registrou ganho anual de 3%. Economistas com visão social, os poucos que ainda existem, certamente vão se debruçar sobre esse fenômeno. Tentar entender porque uma fábrica de parafusos passou oito meses sem vender uma só unidade e teve suas ações valorizadas no período. O exemplo é hipotético, mas aconteceu algo semelhante com várias corporações. Uma tese é que o mercado usa os fatos apenas como gatilhos para a especulação diária, o sobe e desce que faz vencedores ou perdedores, mas, como 2020 mostrou, não é afetado pela realidade em torno. 

Pandemia, desemprego, fome, países em lockdown, quem liga? 

Em abril/maio do ano passado, jornalistas de mercado chegaram a falar em "momentos de pânico" nas bolsas preocupadas com a desaceleração do consumo. Se isso foi verdade, não só passou rápido como, diz o Washington Post, se transformou em euforia no mercado financeiro mais poderoso do mundo.


domingo, 1 de março de 2020

Coronavírus Ltda: ô lelê, ô lalá...vamos faturar...

O mercado impõe sua lei a qualquer custo. A pandemia de coronavírus causa prejuízos e pode levar a economia global para a UTI.  Mas há setores que estão faturando. Fabricantes de gel e de máscaras cirúrgicas, por exemplo, e a industria farmacêutica.
Na Amazon, o preço da máscara, embalagem com 100 peças, quadruplicou nas últimas semanas. A informação é do Mashable.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Vale a pena ler de novo: saiba porque o mercado quer se apropriar do voto popular

O professor de Economia da Unicamp, Eduardo Fagnani, publicou na Carta Capital, em 29/7/2017, o artigo "Capitalismo" brasileiro: todo poder emana do mercado". Na sua análise, mostrou o "fosso profundo entre os anseios da população e os desígnios dos detentores da riqueza financeira". 

É oportuna a releitura agora, na boca da urna.

As linhas gerais dos programas de Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Marina Silva, Henrique Meirelles e João Amoêdo soam, com uma ou outra variação de tom, como música de harpa do paraíso aos fones do mercado.

Colunistas de política e economia da mídia dominante vão aos poucos relevando as questões morais, sociais, de comportamento etc, pregadas pelo capitão inativo à medida em que seu futuro ministro detalha sua certidão de casamento com comunhão de bens com o poderoso mercado financeiro.

Daqui a quatro dias começa a propaganda eleitoral na TV e no rádio, vista como a última chance para um candidato conservador, Alckmin, por exemplo, se viabilizar como opção a Bolsonaro. Caso isso não ocorra, a mídia porta-voz do mercado vai vestir de vez suas gandolas táticas e cravar apoio à trifeta mercado-capitão-general. Nessa ordem unida.    

Pouco mais de um ano depois da publicação do artigo de Fagnani, torna-se claro, quanto mais se  desenvolvem as campanhas eleitorais, que a maioria dos candidatos se apresenta mais sob a identidade de operador financeiro de faixa presidencial à disposição do mercado do que como um representante do povo. Para estes, o povo, esse obsoleto, é um mero ativo social desvalorizado a importunar o sistema com reivindicações recorrentes como emprego, saúde, educação, qualidade de vida, enfim, essas "irrelevâncias" que enchem o saco do mercado.

Veja abaixo alguns tópicos selecionados do artigo que você pode ler na íntegra AQUI

* "No passado, um prócer da ditadura sentenciou que "a economia vai bem, mas o povo vai mal". Hoje os sábios das finanças e seus porta-vozes não se cansam de repetir que a economia vai bem, apesar de o País ser governado pelo "chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil", da gravíssima crise institucional e da putrefação do sistema político e partidáriol A economia vai bem, a despeito da taxa de desemprego ter mais que dobrado em dois anos por conta das políticas de austeridade que provocaram a maior recessão da história."

* Vale tudo, desde que a equipe econômica seja preservada, pois nela se reúnem os únicos iluminados supostamente capazes de "proteger o País contra medidas populistas" e encontrar saídas para a recessão resultante das ideias desses mesmos atores, falsas saídas, as quais, por irônico que pareça, foram acolhidas pela candidata vitoriosa em 2014."

* "Sem desfaçatez e com aparente normalidade, os intérpretes do tal mercado arrogam-se o direito de falar em nome da sociedade que eles desprezam absolutamente. Se "todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição", como reza o primeiro artigo da Carta de 1988, soa como deboche a declaração do parlamentar que a preside de que e que 'a Câmara dos Deputados vai manter a defesa da agenda do mercado'."

* "Sem base científica consistente, impõem-se reformas "para o Brasil não quebrar, voltar a crescer e gerar emprego". Tanto faz se, no caso da reforma tributária e da reforma previdenciária, elas sejam rejeitadas, respectivamente, por 71% e 58% dos brasileiros. "Mas o mercado vai adorar, porque o capitalismo não é antiético, é aético."

 * "Escárnios à parte, o fato é que no Brasil todo o poder emana do mercado, que o exerce diretamente, ou por meio de representantes eleitos e porta-vozes travestidos de economistas e jornalistas. O fato é que, em ultima instância, o golpe jurídico-parlamentar é bem-vinda oportunidade para radicalizar o projeto liberal derrotado nas últimas quatro eleições. Em trinta anos, não há nada de novo no front. Parafraseando Cazuza, a conjuntura é 'um museu de velhas novidades'.

* "Essa construção inicia-se nos anos 1990s e prossegue com a "Agenda Perdida" (2002-2003), com o "Programa do Déficit Nominal Zero" (2005); após breve pausa, retorna com a "Agenda Brasil" (2015) e, de forma odiosa e antidemocrática, aí está hoje, no documento "Uma ponte para o futuro" –, que é uma negação do documento "Esperança e Mudança" (1982), escrito pelo mesmo PMDB –, agora transformado em "programa de governo" da coalizão espúria que está no poder. O mesmo projeto velho, com nova roupagem."

* "Em terceiro lugar, destruir o Estado Social de 1988, pois "as demandas sociais da democracia não cabem no orçamento". Privatizações, teto para gastos não financeiros, ampliação da desvinculação constitucional de recursos (de 20% para 30% do percentual de impostos da Desvinculação de Receitas da União), Reforma da Previdência e da Assistência Social, terceirização irrestrita, desmanche da legislação do Trabalho e Reforma Tributária a favor dos mais ricos (além dos ataques recente ao FGTS e ao programa Seguro-Desemprego), estão em curso, sob o rolo compressor do Congresso e contra a sociedade, mas afinado com 'a defesa da agenda do mercado'."

* "Os donos do Brasil jamais aceitaram os avanços sociais de 1988, fruto da longa luta pela redemocratização do país. O "capitalismo" brasileiro não aceita, sequer, conquistas mínimas da socialdemocracia europeia, aqui taxadas de 'populistas' e 'bolivarianas'. "

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Economia de mercado - Banqueiro de Wall Street investe em virgem.

A francesa Jasmine foi parar em Wall Street. Reprodução Cinderella Escort. 

por Jean-Paul Lagarride

O Mercado é, hoje, o Quinto Poder, talvez o Quarto junto com mídia. Ou já seria o Primeiro? Analistas e colunistas de economia se referem à entidade como os poetas gregos cantavam seus deuses. Ainda não fazem poemas, mas estão chegando perto. O Mercado triunfa nos mais diversos campos. Faz e derruba presidentes. Trump, Macron e Dilma que o digam. Seus poderes são épicos e não têm limites.

O Daily Mail anuncia hoje que o sexo é a nova commoditie do poderoso "mecanismo".

Não sei se já ouviram falar no site Cinderella Escort. Trata-se de um aplicativo bastante popular na Alemanha, Espanha, Suíça e Áustria. Uma espécie de Uber do amor, que se anuncia como uma agência internacional de acompanhantes de alta classe, incluindo caríssimas virgens. Uma delas, que acaba de participar de um leilão, recebeu um lance vencedor equivalente a R$ 5,5 milhões.

A estudante francesa Jasmine, de 20 anos, foi conquistada em hasta pública por um banqueiro de Wall Street, segundo o Daily Mail, que não identifica o investidor gringo nem insinua que poderia até ser um "laranja" de Trump.

O banqueiro bateu um DJ de Los Angeles e um magnata do setor imobiliário de Munique. A commoditie já foi entregue e Jasmine revelou em entrevista que resolveu vender a virgindade para arrecadar dinheiro para a família e abrir seu próprio negócio. Segundo ela, deu tudo certo, o banqueiro foi educado gentil e quer encontrá-la novamente. “A maioria das pessoas trocaria mais de um milhão de euros pela primeira vez se pudessem voltar no tempo", a empreendedora  Jasmine concluiu.

E ainda há quem critique os analistas quando estes pregam que a economia de mercado é a resposta para a recuperação das finanças do Brasil e do mundo.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Manchete no Carnaval 2018: Carmelitas, Banda da Rua do Mercado, Banda da Barra, Me Esquece, Desliga da Justiça

CARMELITAS




FOTOS DE FERNANDO MAIA/RIOTUR


BANDA DA RUA DO MERCADO




FOTOS DE FERNANDO MAIA/RIOTUR

BANDA DA BARRA



FOTOS DE FERNANDO MAIA/RIOTUR

ME ESQUECE





FOTOS DE FERNANDO MAIA/RIOTUR

DESLIGA DA JUSTIÇA





FOTOS DE FERNANDO MAIA/RIOTUR


sábado, 16 de setembro de 2017

ONU pede fim da austeridade fiscal e ousadia para reequilibrar economia global

(da ONU/Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) 

Novo relatório da UNCTAD descreve uma rota política alternativa para a construção de economias globais mais inclusivas e solidárias. O documento pede um novo pacto em que as pessoas tenham prioridade frente aos lucros. Pontos cruciais de tal transformação seriam o fim da austeridade fiscal, a contenção do “rentismo” das empresas e o direcionamento das finanças para a criação de empregos, bem como para o investimento em infraestrutura.

A economia global parece travada em seu caminho para a recuperação. Um novo relatório da UNCTAD, “Trade and Development Report, 2017: Beyond Austerity — Towards a Global New Deal” (Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2017: para além da austeridade – rumo a um novo pacto global), descreve uma rota política alternativa e ambiciosa para a construção de economias mais inclusivas e solidárias.

No lançamento do relatório, o secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Mukhisa Kituyi, disse: “uma combinação de endividamento excessivo e demanda global demasiadamente baixa tem entravado a expansão sustentada da economia mundial”.

O documento pede que o século 21 traga um novo pacto, em que as pessoas tenham prioridade frente aos lucros. Pontos cruciais de tal transformação seriam o fim da austeridade fiscal, a contenção do “rentismo” (rent-seeking) das empresas e o direcionamento das finanças para a criação de empregos, bem como para o investimento em infraestrutura.

Retomada econômica ainda fraca

A UNCTAD observa que a economia global está melhorando em 2017, embora sem decolar. O crescimento deve atingir 2,6%, pouco acima do ano anterior, mas bem abaixo do patamar médio pré-crise financeira, de 3,2%. A maior parte das regiões deve registrar pequenos ganhos. A América Latina, saindo da recessão, exibe a maior variação entre os dois anos, embora deva crescer apenas 1,2%. A zona do euro deve ter a maior taxa de crescimento desde 2010 (1,8%), permanecendo atrás dos Estados Unidos.

O principal obstáculo a uma recuperação robusta das economias avançadas é a austeridade fiscal, que é ainda a opção macroeconômica padrão. De acordo com dados da UNCTAD, 13 das 14 principais economias do mundo adotaram políticas de austeridade entre 2011 e 2015.

Com uma demanda global insuficiente, o comércio permanece retraído. Espera-se uma pequena melhora neste ano, por conta da recuperação do comércio Sul-Sul liderado pela China. No entanto, há muita incerteza, especialmente em relação ao comércio de commodities, no qual uma leve recuperação dos preços esmoreceu.

Na ausência de uma expansão coordenada sob a liderança das economias avançadas, a sustentação do limitado crescimento econômico global depende de melhoras duradouras nas economias emergentes. Embora as maiores economias emergentes tenham evitado a austeridade entre 2011 e 2015 (com China e Índia mantendo taxas robustas de crescimento), elas enfrentam agora riscos significativos.

Os níveis de endividamento continuam a se elevar, sem que haja sinais reais de crescimento econômico robusto; há preocupações com instabilidade política, preços de commodities em queda, taxas de juros mais altas nos Estados Unidos e dólar mais forte. Os fluxos de capital para os países em desenvolvimento permanecem negativos, ainda que menos do que nos anos recentes.

Desigualdade, endividamento e instabilidade

Nas palavras do principal autor do relatório, Richard Kozul-Wright, “duas das principais tendências socioeconômicas das últimas décadas foram a explosão do endividamento e a ascensão das ‘superelites’ — grosso modo, o 1% no topo da pirâmide”. Estas tendências, segundo o relatório, estão ligadas à desregulação dos mercados financeiros, à ampliação das desigualdades na propriedade de ativos financeiros e ao foco nos retornos de curto prazo.

Desigualdade e instabilidade estão conectadas à hiperglobalização. Decorre disso um mundo com níveis insuficientes de investimento produtivo, empregos precários e enfraquecimento da proteção social. Em um círculo vicioso, os rendimentos no topo decolam durante as trajetórias que culminam nas crises; na esteira dessas, sobrevêm a austeridade e a estagnação dos rendimentos na base.

Passada uma década da crise global que absorveu trilhões de dólares dos contribuintes em operações de salvamento, o domínio do setor financeiro, por ela responsável, praticamente não mudou. De fato, os níveis de endividamento estão mais altos do que nunca.

O relatório também examina outras fontes de ansiedade, ligadas à robotização e à discriminação de gênero, que afetam as perspectivas do emprego nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. Embora a automação e a crescente participação das mulheres devam ser consideradas bem-vindas, a coincidência com um mundo de austeridade e competição excessiva — que levam a uma corrida para o abismo nos mercados de trabalho — faz com que pareçam ameaçadoras.

Resulta uma reação popular contra um sistema que parece ter passado a privilegiar, de forma injusta, um punhado de grandes corporações, instituições financeiras e indivíduos ricos. A incapacidade de corrigir os excessos da hiperglobalização, adverte o relatório, prejudicará a coesão social; mais que isso, diminuirá a confiança tanto nos mercados como nos políticos.

Procura-se alternativa ao fundamentalismo do mercado

O relatório questiona o exagero na responsabilização do comércio e da tecnologia pelos problemas de um mundo hiperglobalizado. Cabe, em lugar disso, uma análise séria acerca do poder de mercado, do comportamento “rentista” e das regras do jogo em que vencedores levam (quase) tudo, como responsáveis por resultados excludentes.

A crescente concentração dos mercados — com consequências potencialmente corrosivas para o sistema político — é uma das questões centrais do relatório.

Enquanto os governantes continuarem a brandir a bandeira da austeridade e a avaliar o sucesso das políticas pelo preço dos ativos e pelos níveis de lucro, com setores vitais sob o domínio do grande negócio, as já significativas desigualdades poderão se agravar.

Invocando o espírito de 1947

Para passar da hiperglobalização para a construção de economias inclusivas, não basta aprimorar a operação dos mercados. É necessário um programa mais rigoroso e abrangente, que enfrente as assimetrias nacionais e internacionais em termos de conhecimento tecnológico, poder de mercado e influência política.

Com os Estados Unidos deixando de desempenhar o papel de consumidor em última instância, a reciclagem dos superávits em transações correntes torna-se um elemento essencial para reequilibrar a economia mundial. O documento aborda o caso da zona do euro (especialmente da Alemanha) que tem agora um alto superávit com o resto do mundo.

A recente proposta alemã para o G20 de um Plano Marshall para a África é bem-vinda, mas, por enquanto, ainda não tem a envergadura financeira necessária. A iniciativa chinesa de investimentos “Um Cinturão, Uma Rota” (One Belt, One Road) é muito mais ousada, a despeito da aguda queda do superávit do país nos últimos dois anos.

O relatório extrai lições de 1947, quando o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT) e as Nações Unidas uniram forças para reequilibrar a economia do pós-guerra e o Plano Marshall foi lançado. Sete décadas depois, um esforço igualmente ambicioso é necessário para combater as injustiças da hiperglobalização e construir economias inclusivas e sustentáveis.

Em resposta ao slogan político do passado — “não há alternativa” — o relatório apresenta os contornos de um novo pacto global para construir economias mais inclusivas e solidárias. O pacto deveria, com velocidade e escala suficientes, combinar recuperação econômica, reformas regulatórias e políticas de redistribuição.

O sucesso do New Deal dos anos 1930 nos EUA muito se deveu à sua ênfase na redistribuição do poder, dando voz a grupos sociais mais fracos, incluindo consumidores, organizações de trabalhadores, agricultores e grupos mais pobres. Isso não é menos necessário hoje em dia.

Na atual economia global integrada, o sucesso de cada país exige que os governos atuem em conjunto. A UNCTAD pede que os governos aproveitem a oportunidade oferecida pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e construam um novo pacto global para o século 21.


Medidas-chave discutidas no relatório incluem:

• Pôr fim à austeridade por meio de investimento público, maior e melhor, com uma forte dimensão assistencial, incluindo vultosos programas que aprimorem a infraestrutura e gerem emprego. Ajudar a mitigação das mudanças climáticas, bem como a adaptação a elas; promover as oportunidades tecnológicas oferecidas pelo Acordo de Paris no quadro da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). Dar maior importância às atividades assistenciais.
• Aumentar a receita governamental: um maior recurso a impostos progressivos (inclusive sobre a propriedade e outras formas de renda) pode combater a desigualdade de renda. O relatório mostra que mesmo pequenas mudanças nas taxas marginais incidentes sobre as camadas mais ricas reduziriam de forma significativa os déficits. Reduzir isenções, brechas fiscais e o abuso empresarial dos subsídios aumentaria as receitas e a equidade.
• Estabelecer um novo registro financeiro global, identificando a propriedade de ativos financeiros, como primeiro passo para a taxação equitativa.
• Dar mais voz ao trabalho (os salários precisam subir em linha com a produtividade; a insegurança no emprego precisa ser corrigida por meio de ações legislativas e medidas ativas no mercado de trabalho).
• Domar o capital financeiro: regular de forma apropriada o setor financeiro, desde o private banking até os produtos financeiros “tóxicos”.
• Melhorar a capitalização dos bancos de desenvolvimento multilaterais e regionais: as lacunas institucionais no campo da reestruturação da dívida soberana precisam ser resolvidas no plano multilateral.
• Manter o controle sobre o “rentismo” empresarial. Medidas para combater práticas comerciais restritivas devem ser tomadas conjuntamente com uma aplicação mais rigorosa de normas nacionais de divulgação de informações. Um observatório da competição global poderia monitorar as tendências e padrões da concentração de mercado mundial e reunir informação sobre as diversas diretrizes regulatórias, o que seria um primeiro passo para a criação de normas e políticas globais coordenadas de melhores práticas e políticas internacionais.

Fonte: UNCTAD Press Office/Genebra


PARA LER O RELATÓRIO COMPLETO CLIQUE AQUI

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Entenda porque a grande mídia coreografa a cobertura de economia e todo mundo tem a mesma opinião...

Jornalistas de economia da grande mídia apurando matérias. Oops! Foto errada:
é apenas uma cena de musical da Broadway. Reproduçao
por Flávio Sépia
Com mais de 40 anos de trabalho dedicado à área econômica, o jornalista José Paulo Kupfer, constata, em entrevista à revista Imprensa, a grave falta de diversidade de fontes no jornalismo especializado em política monetária, mercado financeiros, negócios, contas, enfim, que acabam pesando no bolso e na vida da população.

Você vai entender porque a cobertura de economia na lembra uma espécie de "Chorus Line" da Broadway em movimentos coordenados, pezinhos no ritmo e vozes em sintonia regidas por um maestro que seduz a grande mídia e seus colunistas: o mercado especulativo.

(A seguir, trecho da entrevista de José Paulo Kupfer)


Qual o entrave do jornalismo econômico hoje?
O problema que vejo hoje - e que não via tanto há vinte anos, talvez tivesse e eu não percebia - hoje percebo, com a minha experiência na grande imprensa, que o jornalismo é muito enviesado, desequilibrado, com uma única visão de economia. O termo eu não gosto, porque é muito resumidor, mas a visão predominante na cobertura dos temas econômicos é neoliberal. As fontes, digamos assim, contraditórias, que são ouvidas, são poucas, 80% - talvez mais - da cobertura se apoia em fontes com pensamento econômico ortodoxo. Não gosto desse rótulo, mas para poder entender. Acho que é o maior problema da cobertura econômica e isso é generalizado - falando da grande imprensa. Tem um circuito funcionando, eu já analisei isso, fiz pesquisas pessoais, é uma batalha minha, sobre a necessidade de formar novas fontes.

Não há diversidade de fontes?
Em economia, especialmente, as fontes são todas velhas. Um cara aparece num lugar, o outro busca ele, vai para a tevê, rádio. Vira um circuito. A gente sabe quem fala e qual o assunto. São sempre os mesmos. Eu tenho uma teoria. Não é o que parece. Não é apenas porque é mais confortável para os jornalistas e editores, porque coincide com a visão das casas.

Qual é a sua teoria?
Tenho um artigo publicado na revista da ESPM, cujo título é “Fontes viciadas em economia”. Em resumo, apurei e descobri que é claro que tem um conforto em cobrir o que a linha editorial acha que é o correto. Mas não é o principal. O principal é o processo de produção jornalística. As redações estão muito enxutas, os jornalistas são multitarefas, têm jornadas imensas - nem acho errado, a profissão é para isso. Tem que conduzir da reportagem ao fechamento - as folgas devem compensar essa situação. É algo do processo. Mas, de toda maneira, é complicado e estressante. Os pauteiros e os próprios jornalistas não tem muito tempo e estímulo para ir procurar fontes alternativas. Nesse período em que as redações ficaram enxutas, as assessorias se profissionalizaram, cresceram barbaramente e descobriram o espaço do debate, especialmente na área econômica.

LEIA A ENTREVISTA COMPLETA, CLIQUE AQUI

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Acha que tá fácil? Grupo editorial passa a vender energético, meias, snacks e barbeador


por Niko Bolontrin 

A notícia acima foi publicada no Meio & Mensagem. Isso mesmo, a Abril vai vender energético por assinatura.

Não só no Brasil, mas em todo o mundo, discute-se o futuro das revistas e dos jornais impressos. São muitos os caminhos e, por enquanto, pouca luz no fim do túnel. Alguns grupos partiram para a promoção de eventos patrocinados vinculados ao veículo, que fatura na vendas de ingressos de shows, feira gastronômica, debates, palestras e cursos sobre temas atuais os mais variados, exposições etc, publica a matéria sobre o acontecimento citando os apoiadores e recebe destes anúncios nas suas páginas. Grandes grupos de comunicação brasileiros estão praticando esse modelo de sobrevivência, além de buscar e receber consideráveis volumes de publicidade estatal em valores que registraram aumentos espetaculares no atual governo federal.

A venda de produtos é rota menos comum para sair do sufoco. Mas, pelo visto, está valendo tudo. É um novo modelo de negócios, como eles gostam de dizer.

Duro vai ser se, por exemplo, o Supermercado Guanabara, um "case" de sucesso em vendas no varejo, se irritar com a concorrência e resolver entrar no mercado editorial. Competência, ele já demonstraram que têm.

Há vários jornais em crise. Se essa fórmula der certo, quem sabe, outros possam seguir a tendência apontada aí pelo executivos de marketing, diversificar o ramo de negócios e vender sacolé na praia, sandália havaiana no aeroporto, camisa de time na porta do estádio, guarda-chuva em dia de temporal na saída do metrô etc. Se isso ajudar a manter os empregos, quem vai ser contra?

O GoBox também vende por assinatura meias, cervejas especiais, barbeador, cápsulas de café e snacks.

Uma perguntinha de um leigo: as pessoas compram meias por assinatura? Jura?

segunda-feira, 20 de junho de 2016

O fim do jornalismo romântico

por Francini Vergari
(para o Comunique-se)

É possível dizer que a fase para os jornalistas não é das melhores, ou que, por outro lado, nunca esteve tão boa.

Com as mudanças que aconteceram na área, sobreviveram aqueles que souberam se adaptar ao mercado. Do contrário, os mais antigos sofreram desde a tentativa de adaptação das redações até agora, em sua maioria desempregados, tentando se recolocar no mercado digital sem ter os pré-requisitos para manter-se nele — ainda insistem no jornalismo romântico. Este artigo busca trazer um panorama das principais mudanças que aconteceram no jornalismo do ponto de vista prático, de publicações, mensuração de resultados, demanda, passando pela morte dos títulos fantasia com a chegada do SEO, a agilidade que tirou da redação figuras como o pauteiro e o revisor (e, em algumas, o fechamento) e a “buzzfeedização”, que transformou reportagens em listas de apelo sentimental.

Introdução

Voltando um pouco no tempo (mas não muito) e fazendo uma breve recapitulação do que aconteceu com o jornalismo nos últimos anos (desconsiderando vários avanços tecnológicos e sociais, com o intuito de abreviar a análise, realmente), podemos começar por 2001, quando o Google lançou o que viria a ser o Google News: a seção de “últimas notícias”, alimentada com conteúdo de mais de 100 jornais on-line de língua inglesa. Surge, a partir de então, certo desconforto com relação às novas formas de produção e propagação de notícias.

Em 2005 o diário americano The New York Times anunciou a integração das redações impressas e on-line. Em 2006, o UOL, um dos primeiros portais de conteúdo brasileiro, completou uma década de existência e tornou o modelo de portal comum no Brasil. Paralelamente, o diário inglês Daily Telegraph lançou um manual de estilo para blogs, com objetivo de capacitar repórteres para escreverem nos blogs do veículo. Podemos dizer que nesse momento foi legitimada a existência do que viria a incomodar bastante a vida de alguns jornalistas: a figura do “blogueiro”. Com isso, entrou em discussão o exercício da profissão e, em seguida, no Brasil, colocou-se em questão inclusive a obrigatoriedade do diploma para a prática do jornalismo.

Enquanto isso, o Guardian adotou o modelo “Web first”, no qual notícias de correspondentes estrangeiros e de jornalistas de negócios eram publicadas primeiro na internet. A partir de 2008 inúmeros cases de manifestações e grandes eventos transmitidos em tempo real (boa parte via Twitter) trouxeram essa necessidade à tona. No mesmo ano, o NYTimes.com anunciou que apostaria na opinião de especialistas para anexar pontos de vistas às notícias quase que instantaneamente.

A palavra “fim”, um tanto apocalíptica, foi escolhida propositalmente para este artigo porque acompanha o drama e o sentimento com que as pessoas costumam lidar com o surgimento de novos meios. Um bom exemplo sempre recorrente é o de quando falava-se em “fim do rádio” com a chegada da televisão — e, no entanto, isso demorou mais para se aproximar do fim do que imaginavam (se é que chegou a esse “fim”). A questão precisa ser vista com um olhar mais otimista de renovação, movimento e adaptação — e menos pessimista de “fim”. Novas formas de consumo e novas formas de demanda pedem por novas formas de pensar o jornalismo a cada dia.


A “buzzfeedização” do jornalismo

Criado em 2006 por Jonah Peretti, ex-Huffington Post, o BuzzFeed chamou atenção logo em seus primeiros anos por popularizar notícias em formato de listas, testes, GIFs e memes — de gatos, principalmente. Modelos esses que foram depois adaptados pelos concorrentes, mas não com o mesmo sucesso porque não adotaram como cultura de empresa o jornalismo inovador, estratégico e participativo que atende às necessidades de cada ambiente e público digital.

Ao contrário do pensamento por trás do “Se tiver sangue, é manchete”, as pessoas demonstram querer matérias mais construtivas e otimistas. Isso é sabido graças a pesquisas e observações feitas a partir de compartilhamentos de notícias na maior rede social atualmente, o Facebook. Pesquisadores[1] acompanharam a lista das matérias do New York Times mais compartilhadas por e-mail durante seis meses de 2013 e descobriram que as pessoas tinham uma tendência muito maior de compartilhar matérias que despertavam sentimentos positivos. “O que é notícia, então?” é o questionamento que paira sobre os comunicadores. Os extremos devem ser equilibrados. Nem tanto o vídeo de gatinho que é sucesso de compartilhamento; nem tanto o enfoque em violência e desastres. Nem tanto o “caça-clique” com fofocas da vida de celebridades; nem tanto o sensacionalismo em cima da morte deles. Essa linha tênue do jornalismo é que precisa ser trabalhada por todo mundo, inclusive pelos leitores.

Listas, gifs e vídeos remetem às novas formas de consumir conteúdo. Com menos tempo e mais opções e recursos tecnológicos, é raro conseguir manter uma pessoa com uma leitura longa por muito tempo na mesma aba do navegador. Multitasks, as pessoas realizam várias atividades ao mesmo tempo. Conseguir levar alguém à página é um desafio; mantê-la lá é outro. Com as listas, a reportagem fica mais rápida e objetiva, sendo possível, ainda assim, manter o nível de grandes reportagens, mudando somente a formatação da notícia, ressaltando que não é preciso cair o nível do jornalismo.

Anúncios são (boas) notícias

Os anúncios também são notícias e as marcas aprenderam a usar a internet muito bem a seu favor. Há muito tempo os publieditoriais (ou posts patrocinados) são a principal fonte de renda dos blogueiros e alvo de discussões sobre ética. Um caso emblemático é o da blogueira fitness Gabriela Pugliesi, denunciada por consumidores em 2014 porque estaria promovendo conteúdo publicitário sem anunciá-lo como tal. O Conar (Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária) abriu um processo para investigar seu blog, Tips4Life, que também tem um perfil com milhares de seguidores no Instagram e no Facebook.

A suspeita é de que ela estaria elogiando produtos e divulgando marcas que pagaram pela propaganda positiva sem explicitar a parceria. Os chamados influenciadores (pessoas que transmitem uma mensagem e que geram impacto nas práticas de outras pessoas) passaram a competir com portais e outros veículos por oferecerem a possibilidade de resultados mais assertivos, já que falam para um público alvo bastante específico e que confia na opinião do influenciador em questão. Em alguns casos, apesar de a audiência ser até menor em números, o resultado é mais fácil de ser medido. E há de se considerar que muitos vloggers já ultrapassaram, em números, circulações de grandes revistas de nicho no Brasil.

Colaboração do leitor

Não é mais preciso ter um repórter em cada bairro da cidade de plantão. Com o mais simples dos smartphones, os leitores podem colaborar enviando texto, áudio e vídeo, contribuindo em tempo real para noticiar alguma ocorrência e manter a redação informada até a chegada da equipe de reportagem no local. Isso tem sido ampliado a aplicativos de colaboração para trânsito, alagamentos e outros serviços. Os equipamentos para gravar um vídeo, por exemplo, já são mais baratos e acessíveis. Em alguns telejornais, como o SPTV, da Rede Globo, os telespectadores enviam seus vídeos, que vão ao ar durante o programa e até fazem entradas ao vivo usando aplicativos de celular.

O SEO matou o título fantasia e os sinônimos

O SEO (Search Engine Optimization) é a prática de otimização, seguindo um conjunto de estratégias e regras, para melhorar o posicionamento nos buscadores especializados em busca por palavras-chave, que ganharam muita força no final dos anos 90 com o intuito de ajudar os usuários a encontrar informações rapidamente e sem custo algum. O SEO começou a ser adotado em grandes redações no Brasil, como na Editora Abril, a partir de 2007, aproximadamente. No SEO, quem manda é a palavra-chave do texto — o que elimina os românticos e criativos títulos-fantasia, substituídos por títulos diretos e objetivos, com a palavra-chave no começo, no “olho”, na url, na meta descrição e repetida algumas vezes ao longo do texto (levando em conta vários fatores, a média de densidade da palavra-chave recomendada no texto é de, geralmente, 5%). Ou seja, também é o fim da caça por sinônimos. “Cabelos” eram “cabeleira”, “madeixas”, “fios” e agora são só “cabelos” várias vezes para fortalecer a palavra-chave. Esses minutos de brainstorm
para títulos e sinônimos foram canalizados para pesquisar a busca pelo termo em questão, concorrência, melhor termo, títulos objetivos e atrativos.

O Google e o Google News

Enquanto este artigo era escrito, o Google anunciou uma parceria com oito veículos europeus para inovar o jornalismo on-line. A DNI, Digital News Initiative, mostra que o Google tem forte interesse na indústria de notícias e tem entendido que o jornalismo melhora a experiência para os usuários. Antes disso, a empresa tinha sido acusada de não proteger os direitos dos autores e, desta vez formalmente, por concorrência desleal, chegando a ficar fora do ar na Espanha depois de pressionado a pagar direitos autorais. Essa seria, então, uma maneira de garantir o bom relacionamento com a imprensa. Sobre o assunto, Caio Túlio Costa, jornalista e executivo na área de comunicação digital, escreveu:

Os jornais, no mundo inteiro, não têm conseguido quebrar a resistência do Google quanto a pagar diretamente pelo uso de seu conteúdo, seja nos resultados da busca seja nos resultados do Google News. Aliar-se ao Google, contudo, pode ser uma solução desde que os jornais tenham seus direitos protegidos e as contas mostrem que vale a pena dar as mãos para a mais poderosa empresa de mídia do planeta. A quebra da assimetria tem de se dar pela força que as publicações conseguem ao se unirem. Pelo tamanho do inventário possível de páginas para receber publicidade em direta proporção à qualidade, e contemporaneidade, do conteúdo jornalístico oferecido (Costa, 2014).

Facebook e o “instant articles”

Simultaneamente à produção deste artigo, o Facebook também anunciou uma novidade: o Instant Articles, em português, Artigos Instantâneos — ferramenta para oferecer uma experiência mais fluida e agradável para a leitura de notícias dentro da própria rede social. Não há nenhum tempo a perder: o tempo médio entre um usuário clicar em um link de notícias e começar a ler o texto é de oito segundos e, segundo a rede social, é tempo demais. Além da velocidade, a empresa garante que alterará seu esquema publicitário, permitindo que os anunciantes mantenham a receita total dos anúncios vendidos dentro da rede e vendendo publicidade para as empresas, neste caso mantendo 30% do dinheiro recebido. O alvo são grandes sites como BuzzFeed, The New York Times e National Geographic.
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