quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Futebol - Treinadores permanentes de seleções: a autonomia fracassada

por Niko Bolontrin

A CBF demitiu a treinadora da seleção feminina de futebol, Pia Sundhage.  Curiosament, Pia e Tite têm algo em comum. Ambos tiveram a chance de construir em anos seus retumbantes e respectivos fracassos. A mídia esportiva tem parte dessa culpa. Vários especialistas pregaram que Tite era um gênio do futebol a aplaudiram a estabilidade que o levou a disputar jogos na maioria das vezes irrelevantes. Também saudaram a estabilidade de Pia. Alguns jornalistas levantaram estatísticas às vésperas do desastre do Catar para "provar" que os números mostravam Tite como um Guardiola melhorado pela inteligência artificial. Não era. Veio a Copa e um treinador com apenas dois meses no cargo, o argentino Lionel Sacalino  ganhou o caneco que Tite em duas chances e, sei lá, uns oito anos, não foi capaz. 

Leve a questão para o mundo corporativo. Uma empresa não fica assistindo um CEO patinar durante anos sem intervir. A CBF ficou na plateia vendo Tite com seu vocabulário de autoajuda jogar com "galinhas mortas" e achar que tinha na mão o escrete húngaro de 1954 capaz de formar encantar o universo. Tanto não foi que nem soube escalar a seleção na hora do 'vâmover'. Pia, na Copa, aoesar de todo o tempo que teve, parecia desnorteada.  

A CBF, aparentemente traumatizada com os dois "permanentes" que a mídia esportiva queria, parte agora para outra "experiência": escala um treinador interino para a seleção masculina e anuncia que contará com um titular que, na verdade, nem sabe se virá.


segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Biblioteca Nacional digitaliza coleção da Revista Fatos & Fotos

 

Capa da Fatos & Fotos
número 1 (1961)
 
por José Esmeraldo Gonçalves 
A digitalização de periódicos pela Biblioteca Nacional é um projeto importantíssimo sob o ponto de vista da história e do jornalismo. Já estão digitalizadas coleções da Manchete. Manchete Esportiva, Manchete Rural e, agora, da Fatos & Fotos. Que venham Desfile (que registrou não apenas a evolução da moda no Brasil, como acompanhou as conquistas femininas nas décadas de 1970 a 2000, a Amiga, que memorizou várias gerações de atores e atrizes da TV, cinema e teatro e a Geográfica, que documentava meio ambiente, cidades e viagens.  

No caso das publicações ilustradas da Bloch a digitalização é ainda mais elogiável porque, como se sabe, o arquivo fotográfico da editora - estamos falando de cerca de 12 milhões de imagens entre cromos, negativos e ampliações  - está desaparecido desde que a justiça leiloou o grande acervo após a falência da empresa. 

Para escritores e pesquisadores essas coleções digitalizadas são um verdadeiro presente.  Para as várias gerações de jornalistas e fotógrafos que passaram pela Bloch, navegar pelas revistas é reencontrar os passos de trajetórias não como nostalgia ou apego ao passado, mas para entender épocas, visitar as bases da carreira e as circunstâncias da formação e do aprendizado que levaram tantos profissionais para outros importantes veículos. 

A Manchete, na qual trabalhei durante seis anos, do fim dos anos 1980 até meados da década de 1990, era a principal revista da Bloch, mas a Fatos & Fotos - onde, durante 11 anos e meio, desde 1975, percorri as funções de repórter, chefe de reportagem, redator, chefe de redação e editor executivo - é um capítulo especial da minha carreira. Pela redação da Fatos & Fotos, a partir daquele ano, passaram nomes como João Máximo, Ruy Castro, Otávio Name, Flávio Moreira da Costa e colaboradores como Clarice Lispector, Nelson Rodrigues e José Louzeiro. Nos seus últimos dez anos,  a FF teve como diretores Moysés Fuks, Justino Martins, Zevi Ghivelder, Moysés Weltman, Paulo Alberto Monteiro de Barros e Carlos Heitor Cony. 

Entre uma crise e outra, a FF alternou períodos de excelência e de mediocriadade, matérias de relevância e fases sensacionalistas com a revista cheia de ovnis, paranormalidades e tais futilidades frutos de uma parceria com o tabloide norte-americano National Enquirer, de quinta categoria. Já um contrato com a People, então um novo formato de revista de celebridades, foi mais proveitoso, era a fase da Fatos e Fotos Gente, que abordava personalidades de todas as áreas.  

Algumas mudanças editoriais impostas pela editora foram caóticas, como, certa vez, a ideia de transformar a FF, no fim dos anos 1970, em uma revista de "atualidades para a mulher". Não deu nem tempo para saber se fórmula daria certo:  o projeto era ruim,  improvisado, as vendas despencaram e a FF  logo voltou ao seu padrão sem distinção de gênero.       

A Manchete era o carro-chefe da empresa e, por isso, mais vigiada pela cúpula da Bloch; a Fatos & Fotos jogava na segunda divisão mas era mais dinâmica e ágil e capaz de algumas ousadias  jornalísticas para os padrões da Bloch. Não por acaso, era campeã de crises na maioria da vezes motivadas por matérias que a direção da empresa notava apenas quando a revista já estava nas bancas ou quando era notificada por reclamações externas posteriores à publicação. Quem trabalhou lá sabe disso, as pressões chegavam via Ministério da Justiça, Polícia Federal, empresários "amigos da casa" e até presidentes de clubes de futebol eventualmente descontentes com reportagens. Lembro que, certa vez, a Câmara dos Deputados se queixou diretamente a Adolpho Bloch e a Murilo Melo Filho por causa de uma charge de Claudio Paíva, já na sucessora Fatos, que mostrava o plenário da casa invadido por ratos. Em um primeiro impulso, Adolpho quis fechar a revista e até retirar a edição das bancas, mas não o fez. Tanto a Cãmara dos Deputado quanto a Fatos resistiram ao que ficou conhecido na redação como a "invasão dos ratos". De resto, muito menos agressiva do que a recente intentona bolsonarista do 8 de janeito.   

Aportei na revista em janeiro de 1975 e lá permaneci até fechar a edição de despedida da Fatos & Fotos em março de 1985. Carlos Heitor Cony, o último diretor da FF, admitiu que a fórmula da publicação estava esgotada. Como o Brasil entrava em nova era após a ditadura militar, Cony propôs a Adolpho Bloch lançar a Fatos, uma revista de informação e análise, segmento não explorado pela Bloch. Claro que não havia a pretensão de concorrer com a Veja, mas era viável ocupar um lugar naquela faixa de revistas. A partir da autorização do Adolpho, Cony, eu e J.A. Barros, diretor de arte da FF, nos reunimos para planejar a Fatos, da qual fui editor executivo. Fizemos um número zero, apresentamos a revista ao mercado em um tour por Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Salvador, Recife e Fortaleza. A Fatos foi uma bela aventura, não muito mais do que isso. A nova revista foi para as bancas em 17 de março de 1985 e teve de destacar, às pressas, José Sarney, quando tínhamos quase tudo pronto para a posse que não aconteceu: a de Tancredo Neves. 

Trabalhamos com liberdade durante um ano e meio até que a Fatos foi abatida por uma soma de problemas editoriais: custos, falta de engajamento da publicidade e uma lamentável campanha de bastidores empreendida por alguns jornalistas de ultra direita incomodados com a linha progressista da nova revista. Era um grupo de cretinos influentes. Tais "dinos", saudosos da ditadura, rotularam a revista de "comunista" em ofensiva que incluiu "denúncias" através de telegramas falsos postados em Copacabana e endereçados a Adolpho -  que ele mesmo nos mostrou - e um boicote da publicidade revelado depois por um antigo integrante do setor.  A revista tinha um espaço para grandes entrevistas e, nos primeiros meses, dedicamos as capas a personalidades que a ditadura havia vetado durante anos, entre outros D. Helder Câmara, Luis Carlos Prestes e o capitão Sérgio Carvalho, o Sérgio Macaco, que denunciou e assim impediu um atentado preparado pela linha dura militar que previa a explosão do Gasômetro, no Rio, à qual, conforme o plano abortado, se seguiriam perseguições e assassinatos de opositores da ditadura. Cobrimos o chamado Caso Baumgarten que expunha os intestinos da ditadura. A Fatos também investigou a operação queima de arquivos empreendida pela ditadura apodrecida e a Casa da Morte em Petrópolis.

Essas primeiras matérias de capa teriam caracterizado, na visão de um jornalista da direita, já falecido e conhecido nas redações como dedo-duro, a "perigosa" infiltração "subversiva" na Fatos. O desgaste interno - na verdade efeito do macartismo da Rua do Russell - levou a empresa a desacelerar o investimento e em pouco tempo encerrar a publicação em julho de 1986. 

Abatida a Fatos, a Fatos & Fotos voltou às bancas apenas em especiais de Carnaval, Eu já não estava lá, fui para O Globo a convite de Humberto Vasconcelos, então editor do Segundo Caderno. Não fiquei muito tempo no meio jornal e retornei para a Bloch, dessa vez para a redação da Manchete, quando os anos 1990 já apontavam na esquina. Em 1996 deixei a empresa rumo à Editora Caras, a convite do diretor da sucursal carioca da revista, Sérgio Zalis. Em 2004, fui demitido da Caras após um conflito de opiniões editoriais com o diretor geral, em São Paulo e, no dia seguinte, fui convidado por Edson Rossi para o cargo de editor Rio da Contigo, da Editora Abril, onde fiquei até 2014. 

Tudo isso para dizer que essa carreira de "revisteiro" começou na Fatos & Fotos, agora digitalizada e à disposição da curiosidade das novas gerações e dos arqueólogos do jornalismo impresso.

Para acessar a coleção da Fatos & Fotos, vá à aba Hemeroteca Digital , 

no portal da Biblioteca Nacional AQUI,             

sábado, 26 de agosto de 2023

Memória - O que a canção "Lygia" teve a ver com uma entrevista de Tom Jobim para a Manchete


LYGIA, A MUSA DO TOM (*)

Lygia Marina de Moraes, a mulher que inspirou Tom Jobim a escrever a canção com o seu nome, conta a estranha relação entre os dois. 

A história é bonita. Ela é essa da foto e contou assim:

"Conheci o Tom em uma tarde chuvosa. O bar Veloso estava vazio, era junho e fazia frio. Eu e uma amiga, Cecília, nos sentamos na varanda e vimos o Tom conversando com Paulo Góes [fotógrafo]. Os dois acabaram se sentando na nossa mesa. Quando contei ao Tom que era professora da sua filha Beth, ele teve um ataque de riso e disse: 'É a primeira vez que paquera vira reunião de pais e mestres!'. E eu babando: imagine, em 68, Tom era um dos homens mais lindos do Brasil.

Ele tinha que dar uma entrevista a Clarice Lispector para a 'Manchete', e convidou a mim e a Cecília para ir com ele. Fomos no fusquinha azul-claro do Tom. Eu usava uma saia de lã e um suéter de cashmere. Ao abrir a porta, Clarice fez cara de mau humor. Tom, abraçado comigo e com Cecília, disse: 'Trouxe minhas amigas'. Ela ficou mais furiosa quando pediu a Tom que fizesse um poema para ela, como Vinícius [de Moraes] teria feito em entrevista anterior, e ele disse: 'Não sou poeta, se tivesse um violão...'.

Mas aí pegou um bloco de papel-jornal e escreveu um poema para mim, que guardo até hoje: 'Teus olhos verdes são maiores que o mar/ Se um dia eu fosse tão forte quanto você/ Eu te desprezaria e viveria no espaço/ Ou talvez então eu te amasse/ Ai que saudades me dá/ Da vida que eu nunca tive', e assinou: A.C.J.

Saindo de lá, Tom me levou em casa. Nos despedimos no carro, com um beijinho no rosto. Fiquei nervosíssima, mas parou ali. Tom era casado... Aquela carona foi nosso único encontro a sós. A música fala de tudo o que não aconteceu: o cinema, o passeio na praia... Depois nos encontramos muitas vezes, mas sempre em grupo. Logo me casei com o cineasta Fernando Amaral e entrei para a turma. Vivi o auge de Ipanema.

Após quatro anos de casada e um filho, me separei. Depois me casei com o escritor Fernando Sabino. Em 1973, acho que Tom não sabia que eu estava casada com ele, e ligou para o Fernando pedindo meu telefone. Meu marido fez uma sacanagem: deu um número errado. Em seguida, ligou para o telefone que tinha dado e avisou: 'O Tom Jobim vai ligar aí procurando uma Lígia, mas o telefone é tal', e deu outro número errado. Os amigos ficaram sabendo dessa história, inclusive o Tom. Talvez daí tenha surgido a frase na música que fala do telefonema que foi engano.

Estava sozinha em casa quando ouvi no rádio o Chico cantando 'Lígia', pela primeira vez. Fui correndo comprar o disco. Na hora, me vi na letra. Ser homenageada já é maravilhoso, ainda mais pelo Tom, com uma música linda e sofisticada... É uma glória. Claro que a música rendeu comentários e Fernando ficou uma fera. Durante os 19 anos em que fui casada, Tom evitou o tema. Estivemos juntos em vários lugares, tipo réveillon na casa de Jorge Amado, eu com Fernando e Tom com Ana, sua segunda mulher. Mas ninguém falava nisso.

Um dia, Tom me encontrou por acaso na Cobal [sacolão e ponto de encontro] e falou: 'Está chegando minha musa!'. Foi a primeira vez que admitiu para mim. Até hoje, em cada boteco que entro tocam 'Lígia'. Faz parte do meu show. Fiquei imortal. Tenho quase todas as gravações de 'Lígia'. Existe até uma versão do João Gilberto em que, ao contrário da oficial, o romance acontece e Tom até se casa comigo. As pessoas me cobram o fato de nunca ter acontecido nada entre a gente. Mas será que não foi melhor ter ficado essa fantasia? Talvez tivesse de ser essa a história: eu virar musa, entrar em um restaurante e me lembrar do Tom, cheio de charme."

Lígia

Eu nunca sonhei com você/ Nunca fui ao cinema/Não gosto de samba/ Não vou a Ipanema/Não gosto de chuva/ Não gosto de sol/E quando eu lhe telefonei/ Desliguei/Foi engano/ O seu nome eu não sei/Esqueci no piano/ As bobagens de amor/Que eu iria dizer/ Não, Lígia, Lígia...

Tom Jobim

(*) Relato transcrito do Blog do Cardosinho (https://cardosinho.blog.br/musica/tom-jobim-e-roberto-carlos-ligia/ que, por sua vez, o recolheu do Facebook, onde o texto acima viralizou em várias páginas, como a Bossa Nova Club e Amigos do Leblon). Foi envado ao paniscumovum pelo colaborador Nilton Muniz de Oliveira, ex-Manchete.

Documentos resgatados e disponibilizados no You Tuibe - 1975: Murilo Melo Filho, da Manchete, entrevista JK e, em 1976, a homenagem final da ex-primeira-dama Sarah Kubitschek ao ex-presidente

Dois documento áudiovisuais que fazem parte da hustória do Brasil. Um ano antes de morrer em um acidente na Via Dutra, nunca totalmente esclarecido, JK foi entrevistado por Murilo Melo Filho (foto), da Revista Manchete, entre outros jornalistas políticos. Entrevistas de JK, durante a ditadura eram raras. Praticamente apenas a Manchete, por decisão de Adolpho Bloch, fiel amigo do ex-presidente, lhe abria espaço na revista e na própria sede da Bloch Editores, na Rua do Russell, onde JK montou seu gabinete enquanto proscrito da vida política pelo militares. E, em 1976, após a morte do ex-presidente em 26 de agosto, Sarah Kubitschek, com o apoio da Bloch Editores e o empenho pessoal de Adolpho Bloch dá início à campanha para a construção do Memorial JK, em Brasília, inaugurado em 12 de setembro de 1981, há 42 anos.

 


JK em uma das suas últimas entrevistas. Veja AQUI





O depoimento de Dona Sarak. Veja AQUI


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Trump: o primeiro presidente na Galeria da Lama • Por Roberto Muggiati

 







Mug shots célebres: Sinatra, Elvis, Johnny Cash, Jimi Hendrix, Jim Morrison, David Bowie, Mick Jagger, Janis Joplin, Prince, Justin Bieber, Lindasay Lohan, Paris Hilton, Charlies Sheen, Mel Gibson, Robert Downey Jr, Matthew Broderick, James Brown, entre outros. Fotos: Reproduções de arquivos policiais norte-americanos.

Na democracia norte-americana acontece nas melhores famílias e todo mundo tem direito à sua foto oficial feita pelas implacáveis câmeras da lei: o “boneco” fichado pela polícia. Nem um santo como o pastor Martin Luther King, Jr. escapou do “mug shot” oficial. Agora, Donald Trump faz história, ao se tornar o Primeiro Presidente da República a ingressar no chamado “Hall of Shame”. Aqui algumas celebridades – incluindo até estrangeiras – eternizadas pelas lentes da Lei.

J.A.Barros nos trilhos da memória

Hertz Aquino e J.A.Barros em Belo Horizonte, 1949
Foto: Arquivo Pessoal. 

Estação Ferroviaária de Belo Horizonte. Reprodução

por J.A. Barros
 

Niterói, 1949. Pela manhã, ainda de ressaca da noite anterior, eu descia a calçada que margeava o canal do riacho que passava pela avenida até encontrar o mar na Baia da Guanabara. De repente, na minha frente, surge o meu amigo Hertz Lemos de Aquino que, em vez do bom dia, me soltou de cara: 

- Quer dar uma volta em Belo Horizonte? 

Surpreso com a pergunta e achando que o Hertz tava de sacanagem, entrei na gozação. 

- Claro. Quando viajamos?, eu quis saber. 

Hertz foi rápido. 

- Depois de amanhã pegamos o trem na Central do Brasil e estaremos em Belo ao anoitecer. Topas?  

- Se não tá  de sacanagem, vou correndo para casa arrumar a mala e arranjar grana pra  gastar em Belô.

E foi assim que em setembro de 1949 eu e Hertz embarcamos em um trem que me lembrava os filmes do far west americano.

Qual o motivo daquela viagem? Sabia apenas que Hertz tinha um amigo, Newton, um rapaz muito inteligente, primeiro aluno nas escolas pelas quais passou, que era membro  de uma instituição mineira que tinha como propósito combater as formigas que vinham assolando os campos agrícolas e causando estragos formidáveis. Tal praga reduzia sensivemente o ganho financeiro dos  fazendeiros. 

O slogan da campanha era: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”. 

No século 19, o autor das frase, o naturalista francês Yves Saint-Hilaire, percorrera o Brasil e já alertara para o problema. Com saúva ou sem saúva, eu estava em um trem, viajando para Minas Gerais. Não sei até hoje quanto quilômetros me separavam de Belo Horizonte, assim como não sabia quantos vagões o trem carregava. Sentado em um banco de madeira, nervoso e até assustado, me perguntava que impulso me levou àquele trem, às 7 horas da manhã. Hertz, ao meu lado, fumava tranquio um cigarro, indiferente, ao que me pareceu. Ele, pelo menos sabia a razão daquele viagem. Deixei pra lá, até porque nada iria mudar se viesse a saber de alguma coisa.  Presente dos deuses, imaginei, mas na verdade presente do Hertz Lemos de Aquino. Obrigado, Hertz. 

Era minha primeira viagem de trem. Se vocês nunca viajaram de trem - e não falo dos trens urbanos - não sabem o que é viajar. Anos mais tarde embarquei em um avião da ponte-aérea para São Paulo e, em outra ocasião, fui de ônibus para o mesmo destino. Confesso  que detestei. 

Gente, uma viagem de trem é uma experiência inesquecível. Nos vagões havia espaço à volta,  podia-se percorrer os corredores, ir de um vagão a outro; acomodar-se em uma das mesas do vagão-restaurante, pedir uma  cerveja bem gelada. Pela janela, passavam os campos de pastagens com manadas de garrotes engordando para o corte, vacas holandesas malhadas de preto e branco preguiçosamente ruminando a grama verde e suculenta que lhes daria o leite para os seus bezerrinhos e para nós bezerrões que crescemos e envelhecemos bebendo o sagrado leite. Cavalos lindos, como também pangarés, pastando sob a brisa que soprava e agitava suas crinas. Era um mundo que eu não conhecia. Maravihoso, espetacular,fantástico, extraordinário. 

Tudo poderia acontecer em uma viagem de trem naquela época. Lembro que, no ano seguinte, 1950, Getúlio Vargas seria eleito presidente do Brasil. Aquele trem, também identificado popularmrnte como “Maria Fumaça“, era o modelo que percorria as ferrovias do Brasil, de ponta a ponta. Durante o longo trajeto Rio-BH passei por sensações estranhas. O percurso despertava a imaginação. Em um momento, sonolento, senti que o trem era assaltado pelo bando de Jesse James e seu  irmão Frank James. O trem era mesmo uma cópia fiel das composições que atravessavam as planices do oeste americano onde Jesse James executava seus assaltos. 

A Maria-Fumaça mineira. Reprodução

O trem parava em estações de pequenas cidades do interior. Éramos recebidos nas gares por lindas moças que nos ofereciam flores ou bombons de chocolates. Era uma festa. Claro que trocávamos pequenos “torpedos“ com nossos nomes e telefones. Era uma brincadeira, quase uma fantasia pois, depois daquelas paradas e da confraternização com o povo do interior, sabíamos que nunca mais iríamos nos ver, mas aquelas lembranças ficariam para sempre. Não era um trem moderno. Como disse antes, era um modelo a vapor semelhante aos dos primórdios das ferrovias.  Uma locomotiva toda de ferro, uma chaminé enorme que soltava rolos de fumaça, assim seguia o trem "levando a vida a rodar, como dizia a canção. Devo lembrar que a fumaceira às vezes invadia os vagões e nos fazia tossir, mas a aventura da viagem, a espectativa  de conhecer Belo Horizonte, uma cidade planejada, construída e traçada nas mesas dos engenheiros de Minas, me enchia de curiosidade. Uma viagem emocionante. O trem criava essa interação com o ambiente que atravessávamos e nos dava um conhecimento do Brasil que ignorávamos. A paisagem verde dos campos, as montanhas que atravessávamos e que nos levava, à saída a descortirnar lindos vales e a atravessar pequenos e grandes rios que se alternavam com  "desertos" desmatados, desolados e quentes. Ao anoitecer, enxergamos ao longe a silhueta de Belô, a cidade encantada que nos iria oferecer momentos muito felizes.

Mal sabíamos que, uma década depois, um presidente deste país acabaria com os trens e, em seu lugar, traria as grandes montadoras de automóveis, caminhões, ônibus, as estradas de rodagem que cortaram o Brasil de norte a sul. Milhares de quilômetros da imensa rede ferroviária brasileira foram destruídos, locomotivas  sucateadas. Caminhões em vez de trens passaram a transportar toda produção agrícola e industrial do país. Os trens de passageiros sumiram. É díficil entender a cabeça dos governantes. Até hoje não compreendo a prática  econômica do Brasil. Um trem com 20 vagões pode transporter 40 containeres, dois containeres em cada vagão. Um caminhão só transporta um container e, quando muito, mais um no reboque. Gostaria que alguém me explicasse essa matemática . 

Ah!, em 1880 os EUA tinham mais de 300 mil quilômetros de trilhos e o Brasil 14 mil quilometros. No século XIX, os EUA ligaram o  litoral do Atläntico com o litoral do Pacífico.

No ano de 1949, com 17 anos, viajei de trem pela primeira vez na minha vida. JK acabou com os trens mas, na minha imaginação eles ainda circulam. Guardo até hoje a simplicidade e o fascínio daqueles mometos que vivi. 


CLIQUE AQUI PARA VER E OUVIR 'TRENZINHO CAIPIRA (VILLA-LOBOS) 


Na capa da IstoÉ: você tem dinheiro para lavar? Seus problemas acabaram...

 

A edição da semana da IstoÉ destaca dois escândalos bolsonaristas: o do Cidralha e a suspeita de lavagem de dinheiro através do "dízimo' que os bolsonaristas pagaram a Jair do Pix. A revista só não ganhou o direito de pedir música no Fantástico porque o terceiro escândalo da semana, o do pimpolho Jair Renan não sechegou a tempo de pararem as máquinas. As mutretas bolsonaristas estouram com tanta velocidade que até mesmo a mídia digital e a multidão de comentaristas dos canais de notícias estão com dificuldade de acompanhar.

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Justiça comprova que as "pedaladas fiscais" que motivaram o golpe contra Dilma foram ficção política. Com isso, Michel Temer foi presidente ilegitimo

A ex-presidente Dilma Rousseff foi absolvida da acusação de prática das famosas "pedaladas fiscais". A justiça estabelece que foi ficção política o motivo construido para justificar  o impeachment. Além de derrubar uma presidente eleita democraticamente, o impeachment ilegítimo configurou um golpe de Estado que lançou o Brasil em um caminho de desmonte de conquistas previdenciárias e trabalhistas, plantou condições para a neoprivataria, para a ofensiva ao meio ambiente e, principalmente, torna Michel Temer um "presidente" ilegitimo perante a História. A queda ilegal de Dilma também resultou no desastre que viria em seguida: a eleição de Jair Bolsonaro. A golpe só foi possível porque a chamada grande imprensa investiu em calúnias e em intensa e sórdida campanha manipulou a opinião pública e recrutou consciências fracas e mentes imbecis do populacho que assmilaram a mensagem golpista.  

Uma boa análise desse triste episódio - mais um golpe que teve protagonismo da mídia controlada por oligarcas - foi feita ontem por Marco Piva para o GGN. Leia no link abaixo.

https://jornalggn.com.br/opiniao/dilma-roussef-e-a-historia-que-falta-contar-por-marco-piva/?utm_term=Autofeed&utm_medium=Social&utm_source=Twitter&s=03#Echobox=1692789686


terça-feira, 22 de agosto de 2023

Caso Neymar, Al Hilal, CBF e a mídia esportiva preguiçosa

Faltam repórteres ou sobram interesses. Jornal português Record fura todo mundo e revela que Neymar, convocado pela CBF para Eliminatórias em setembro, tem duas lesões, uma leve e outra que exige duas semanas para cura. No Brasil, parte interessada nesse contexto, só se publica, oba, oba. Quem vai apurar como Neymar sofreu duas lesões? Quando o brasileiro entrou em campo no último jogo da pré-temporada do PSG não deu sinais de problemas. Também não acusou contusão ao subir as escadas do Jumbo de luxo que o levou à Arábia Saudita. Coube a Jorge Jesus revelar a verdade por traz da festa. E aí? Alguém vai apurar como Neymar se contundiu? Ou a mídia esportiva vai esperar o próximo press release do Hilal ou da CBF? Ou vai esperar o ventilador do Jorge Jesus jogar coliformes nas redações? 

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Veja: mas leia com cautela. Mauro Cid pode estar escalado para "abraçar a bronca" ? Esse cara é ele?

 


Mauro Cid teria resolvido entregar todo o esquema de irregularidades administrativas e corrupção aberta que praticou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Indicará que cumpriu ordens do ex-presidente nos vários processos. Isso também aponta que assumirá a culpa pelas operações criminosa. Como se sabe, ele responde a  vários crimes (casos das jóias, dos certificados falsos de vacina, conspiração para golpe e uso de dinheiro público para pagamentos de contas privadas). 

E aí mora o problema. Dizer apenas que, como militar, teve que cumprir ordens não exime a culpa. Militares não são obrigados a cumprir ordens ilegais.

Cid terá que apresentar provas que tenha guardado ou torcer para que quebras de sigilo dos telefones de Bolsonaro e Michelle revelem que o ex-presidente e a primeira & dama o levaram para o caminho da bandidagem. Uma dificuldade pode ser o fato de Bolsonaro agir habitualmente sob a sombra de laranjais, do qual ele foi um militante solícito.

Fora isso, a capa da Veja pode retratar apenas o sujeito que "abraça a bronca".  

Na gíria dos criminosos é o cara que assume a culpa no lugar de outro. 

Esse cara é ele?

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Fotomemória da Manchete: a trajetória inconfundível da atriz Léa Garcia



Léa Garcia (à dir.) com Vinicius de Moraes e Breno Melo, em Cannes, 1959

A atriz brasileira aplaudida no Maxim's, Paris



Folha noticia a morte de
Léa Garcia com um "erramos de novo":
a foto é da atriz Jacyra Silva 
A Folha de São Paulo imagina, provavelmente, que todas as negras se parecem. Se enxergassem suas individualidades, o jornalão não teria publicado um foto da atriz Jacyra Silva, que faleceu em 1995, como se fosse a também atriz Léa Garcia, que morreu na última terça-feira.

Léa Garcia teve uma carreira de sucesso no cinema, teatro e TV. A Manchete acompanhou passo a passo a trajetória da atriz e cobriu o festival francês que a consagrou, mas ela frequentou as páginas da revista muito antes de brilhar em Cannes, em 1959, quando o filme francês Orpheu Noir ganhou a Palma de Ouro. E a brasileira ficou em segundo lugar na categoria Melhor Atriz. Simone Signoret, em Almas em Leilão (Room at The Top, no título original) foi a vencedora. No ano seguinte, Orfeu Negro venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. No filme, baseado na peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes e dirigido por Marcel Camus, Léa se destacou no papel de Serafina. Ela estreou nos palcos em 1952, em Rapsódia Negra, produção do Teatro Experimental do Negro e tornou-se conhecida do grande público na novela Escrava Isaura. Ainda na TV, fez, entre outras, as novelas Assim na Terra como no Céu, Minha Doce Namorada, Selva de Pedra, Os Ossos do Barão e Fogo Sobre Terra e Anjo Mau, todas grandes sucesso da Rede Globo. Na Rede Manchete, atuou em Dona Beija, Xica da Silva, Tocaia Grande e Helena. Na sua filmografia, além de Orfeu Negro, estão longas como As Filhas do Vento, Ganga Zumba, A Noiva da Cidade, Quilonbo, Vinicius, 2010 Mon Père (filme belga) e Boca de Ouro. 

Léa Garcia, morreu em Gramado, no Rio Grande do Sul, onde participava do 51º Festival de Cinema. Ela seria homenageada com o Troféu Oscarito. A atriz também participaria de uma das próximas novelas da Globo: o remake de Renascer. Um infarto a levou em plena atividade, aos 90 anos. Léa Garcia será velada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no sábado, 19.


terça-feira, 15 de agosto de 2023

Os podres poderes do caricato "parlamentarismo" brasileiro

 

Reproduzido do X (ex-Twitter)

O ministro Fernando Haddad tem dedicado grande parte do seu tempo a difíceis negociações com o Congresso. O jogo é mais duro com a Câmara dos Deputados que quer levar vantagem em tudo, o tempo todo. 

Muitos deputados parecem partir de um estranho princípio: legislar é business.

Desse o golpe que derrubou Dilma Rousseff , a democracia está sob constante ameaça.  O Legislativo, com o golpista Michel Temer e com Bolsonaro do Rolex, ganhou podres poderes, entre os quais os bilhões destinados às emendas na rubrica secreta sob frouxos controles.

Sob a chefia do notório Arthur Lira, a Câmara interfere no Executivo e estende suas garras insaciáveis sobre o orçamento da União. 

A Câmara dos Deputados, aliás, vive o melhor dos mundos: ganhou um poder que é quase um simulacro do parlamentarismo digno do Zorra Total ou da Praça  é Nossa, sem os mecanismos de controle desse regime. Exemplo: em países que adotam o parlamentarismo o Legislativo indica o primeiro-ministro, que governa de fato e de direito, mas o presidente tem o poder de dissolver o Congresso e convocar novas eleições. No atual e tosco "parlamentarismo" que a Câmara conquistou na sequência do golpe contra Dilma Rousseff, os deputados não correm esse risco, podem mandar e desmandar, bancadas chantageiam politicamente o Executivo e, se não forem atendidos, podem até paralisar o governo.

Haddad identificou o desequilíbrio entre os poderes ao dizer que a Câmara, com a força conquistada durante os erráticos governos Temer e Bolsonaro do Rolex, "não pode humilhar o Senado e o STF".  

Bastou isso para a tropa legislativa cancelar reunião sobre projeto de importância para o país. 

O que, ironicamente, só provou a exatidão da frase de Haddad.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Neymar bota a mão na grana árabe antes que o pé o traia novamente

por Niko Bolontrin

A mídia informa que Neymar já é jogador do Al Hilal, da Arábia Saudita. E as redes sociais se dividem entre apoiar o jogador e críticas à opção de aderir a um país onde o futebol é algo tão desértico quanto o ecossistema da região. 

Com os cofres cheios de petrodolares, o país está contratando jogadores de renome, a maioria na reta final da carreira, para se firmar como centro de futebol. 

Apesar dos craques que toparam ir para o deserto, o futebol praticado ali é risível. Claro que o que motivou Neymar a aceitar o chamado do Al Hilal foi o monte de euros. Do ponto de vista esportivo o brasileiro vai para o exílio bem remunerado. Afasta-se da Europa, o polo incontestável do melhor futebol. 

Há outras consequências: a Arábia Saudita é uma ditadura teocrática, mas isso não incomoda o bolsonarista Neymar que provavelmente nem sabe disso. Como também não foi informado de que álcool, sexo fora do casamento, adultério, blasfêmia etc são severamente punidos. 

Neymar já declarou que não deseja jogar futebol profissionalmente por muito mais tempo. Esse pode ser seu último grande contrato. A fragilidade física representada por frequentes contusões, especialmente lesões nos pés, também pode ter sido levada em conta pelo jogador. Melhor botar a mão nessa grana dos árabes antes que os pés o traiam novamente.


sábado, 12 de agosto de 2023

Por uma cabeça • Por Roberto Muggiati

 

Com a enfermeira Andressa, na UPA- Botafogo. Foto de Cláudia Alves 

Com a bandagem que lembrou Apollinaire quando ferido na Primey Guerra Mundial. Foto Lena Muggiati 


Como a morte não vem me buscar – esse joguinho já está até ficando chato – eu resolvi cair e me quebrar de novo no meio da noite. Desta vez cortei a cabeça no ventilador de ferro, na parte alta e traseira (da cabeça, é claro). Contive o sangue com papel toalha e voltei a pegar no sono. O chão de tacos ficou todo respingado de vermelho. Não quis incomodar a Lena que dormia o sono dos inocentes. Quando chegou nossa cuidadora, a Cláudia, deliberamos que o grau de gravidade do caso merecia uma ida a um hospital. No quesito saúde, recebo tratamento exclusivo da rede UPA d’Or, a minha unidade favorita é a de Botafogo. Minha idade provecta, 80+, foi logo abrindo todas as portas, me atenderam num tempo recorde, a enfermeira limpou o local do ferimento, a médica deu uma picada de anestesia no cocuruto e costurou-me três pontos com aquela agulha curva que parece um anzol. Para fixar o curativo, a enfermeira Andressa enlaçou minha testa com uma bandagem que me lembrou aquela foto famosa do poeta Guillaume Apollinaire. (Fiz depois uma foto-homenagem ao inventor da palavra “surrealismo”, que combateu pela França na Primeira Guerra, recebeu um estilhaço na fronte em 1916, mas só foi morrer em 9 de novembro de 1918, dez dias antes do armistício, aos 38 anos, da pandemia de antanho, a gripe espanhola.)

Pensei na data, 9 de agosto, algo especial? Sim, 78 anos da segunda bomba atômica, a de Nagasaki, só lembrei da data porque os japoneses ficaram injuriados com a dobradinha “Barbie/Oppenheimer” que, em nome das sacrossantas bilheterias, veio tingir com tons róseos de leviandade um dos episódios mais trágicos de nossa história recente, a Bomba de Hiroxima.

Com bandagem na testa e bengala de quatro pontas, resquício da fratura do fêmur, resolvi, já que estava no Baixo Botafogo, ir tomar um café no Depanneur e procurar um filme na Livraria da Travessa. (Hoje vivo isolado em Laranjeiras, do outro lado do implacável paredão do Corcovado e do Dona Marta.) Achei o que queria, A Via Láctea, do mestre Buñuel. Estou revendo os principais filmes estrelados por Delphine Seyrig – e não são poucos, ela brilha ainda mais em O charme discreto da burguesia – para escrever um perfil da atriz do recém-eleito “melhor filme de todos os tempos”, Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles. Atriz de Resnais, Truffaut, Joseph Losey, Fred Zinnemann, Jacques Demy, William Klein, Don Siegel, Marguerite Duras, entre outros, Delphine, morta em 1990, reinará suprema até 2032, dona absoluta das três horas e meia do filme de Chantal Akerman, aclamado agora pelo colegiado da Sight&Sound, quase 50 anos depois do seu lançamento, em 1975.


Em cartaz: O Grande Roubo de Jóias


 Quem disse que cinema não e arte premonitória? Esse filme - O Grande Roubo,  no título em português - é baseado em uma história real.

Na capa do Extra: o gabinete do crime

 


Estão falando alto pelos botecos...

Reprodução X (ex-Twitter)


Por O.V.Pochê

 * Bolsonaro foi visto correndo para o aeroporto

* À margem no noticiário sobre a bandidagem bolsonarista, os botecos não falam em outra coisa. Vejam a resenha:

* As Forças Armadas determinam que soldados e oficiais evitem portar relógios nas paradas de Sete de Setembro

* As mulheres dos militares também devem evitar usar jóias. Vai que...

* Bolsonaristas estão convocando  a Marcha Rolex, Pátria e Familia para que devolvam a Bolsonaro as jóias que ele afanou.

* Serão abertas investigações sobre os móveis do Alvorada, extravio de vacinas, ouro ilegal dos garimpos, venda de refinarias da Petrobras, venda da BR, venda da Eletrobras, tentativa de privatizar as praias e a Imobiliária Bolsonaro's. Suspeita é que Bolsonaro  teria considerado que tudo isso era presente pra uso pessoal dele.

* Banco Central do bolsonarista  Roberto Campos Neto vai aumentar juros em 10% em protesto  contra perseguição monetária a Bolsonaro

* Bolsonaro tentou leiloar relógio da Central.

* Dizem que Trump mandou ver ser falta alguma coisa na mansão de Mar-a-Lago: Bolsonaro passou por lá.

* Companhias aéreas registram grande aumento de procura de passagens por parte de bolsonaristas rumo a Miami e Orlando. Quem tiver parente bolsonarista avise que todos passarão pelo scanner corporal e haverá verificação de orifícios de madames e marmanjos.


A selfie do crime

Reprodução Relatório da PF

Na trama do roubo de jóias protagonizado por Bolsonaro e quadrilha há espaço para a chanchada. Um dos operadores da maracutaia, o general Cid PaiPai fez o flagra em selfie.  Em meio ao escândalo de corrupto onde os meliantes deixaram todas as pistas possíveis essa prova tem um toque de ridículo e, ao mesmo tempo, de arrogância e certeza da impunidade. Além dessa imagem com a mão na massa, o general PaiPai foi denunciado pelo próprio filho, o tenente coronel Cid Meu Garoto, que entregou em mensagem capturada que o atravessador de joia roubada estava levando a muamba para a Flórida.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Mídia: Aracy Balabanian e o fascismo patológico da Folha de São Paulo

 

Reprodução X (ex-Twitter)

Reprodução X (ex-Twitter) 


Reprodução X (ex-Twitter)

A Folha é assim. Destila ódio até em obituário. Imagina-se que ao morrer uma personalidade o jornal  despacha repórteres para levantar  - na cabeça  degradada dos prepostos - o que pode atingir a falecida. E daí que a atriz fez um aborto? E daí que não quis casar? Aracy Balabanian foi um grande atriz e uma cidadã de vida exemplar.  Em um minuto da sua vida, Aracy reuniu mais honradez, ética, dignidade e integridade do que a Folha em mais de 100 anos de existência. O julgamento do "talibã" do jornalão certamente não a atinge. 

Arqueologia em centro de tortura: não vão encontrar o meu esqueleto nos porões do DOI-Codi, mas faltou pouco... • Por Roberto Muggiati


Vladimir Herzog em foto na redação na TV Cultura. O jornalista cfoi assassinado por torturadores da ditadura militar no DOI-Codi, em São Paulo, no dia 25 de outubro de 1975.
Foto Reprodução TV Cultura

A coordenadora do projeto, Déborah Neves (à esquerda): pesquisas tentam identificar
indícios de vítimas ditadura militar torturadaas e assassinadas no DOI-Codi paulista.
Foto de Felipe Bezerra/Jornal das Unicamp 

Durante quinze anos – de 1969 a 1983, funcionou nos fundos da 36ª Delegacia
Policial de São Paulo, na Rua Tutoia, o DOI-Codi (Destacamento de Operações de
Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) – um complexo criado pela
ditadura militar para torturar e exterminar opositores do regime. De 1969 a 1983,
mais de sete mil pessoas passaram por lá e algumas não saíram, como Vladimir
Herzog, que não resistiu aos castigos corporais e teve sua morte dissimulada por um
grotesco “suicídio” nas grades da cela. Os prisioneiros chegavam encapuzados e
ficavam presos em celas diminutas, incomunicáveis e sem direito a defesa, à espera
das torturas.

Cinco universidades públicas, entre elas a USP e a Unicamp, iniciaram um
projeto de escavação no local onde ficava o DOI-Codi para fazer um levantamento
completo da extensão dos atos de violência ali praticados. Diz Andres Zarankin
professor de antropologia e arqueologia da UFMG, que também participa da
empreitada: “Dente, brinco, cabelo. Anel? Exato. Elementos pequenos que caíram e
vão nos permitir reconstruir essa história, a partir desses fragmentos. Existe toda uma
narrativa por trás desses pequenos objetos e a mesma coisa dentro do prédio”.

Segundo o Jornal da Unicampo, os arqueólogos vão examinar as paredes das celas, para verificar se encontram mensagens escritas nas camadas mais antigas de pintura. E uma investigação inédita
no país vai tentar encontrar vestígios de sangue invisíveis a olho nu, usando luzes
especiais.

O DOI-Codi paulista foi chefiado pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra e
atuou inicialmente de forma clandestina como sede da Operação Bandeirante (Oban),
a partir de 2 de julho de 1969. Cerca de 70 pessoas teriam morrido sob tortura no
local.

Adriano Diogo, militante do movimento estudantil, foi daqueles que chegaram
embuçados ao DOI-Codi. O major que lhe retirou o capuz perguntou:
– Você sabe onde está?
– Não faço a mínima ideia...
– Você está na antessala do Inferno.

Ironicamente, a Rua Tutoia fica no bairro do Paraíso.

Até o final de setembro de 1969 eu morava em São Paulo e fazia parte da
equipe de jornalistas pioneira da revista Veja. Em 9 de dezembro de 1968, numa
badalada noite de autógrafos, lancei o livro Mao e a China; na sexta-feira 13 foi
decretado o AI-5. Verdadeira declaração de amor ao comunismo chinês, último livro
lido por Carlos Lamarca antes de morrer metralhado no sertão baiano, Mao e a China
saiu das estantes das livrarias para exibição em mostras de “material subversivo”
apreendido pelo exército. Eu tinha tudo a ver com Vladimir Herzog: éramos da mesma
idade e ele ocupou minha vaga quando deixei o Serviço Brasileiro da BBC em Londres.
Vários colegas meus da Veja e da Realidade – para a qual eu também colaborava –
foram levados encapuzados para o DOI-Codi.

Minha sorte foi ter trocado a Veja em São Paulo pela chefia de redação da
Fatos&Fotos, no Rio de Janeiro. A volta ao “balneário da República”

Para mais informações sobre as escavações arqueológicas no Doi-Codi de São Paulo, visite o Jornal da Unicamp AQUI

domingo, 6 de agosto de 2023

Mídia: Concordância leva cartão vermelho no GE.Volta pra escola, mano

 



REPRODUZIDO DO G1/GE

Ah, as suecas... • Por Roberto Muggiati



O cinema reforça o mito da liberalidade sexual das suecas:
Bibi Andersson e Liv Ullmann em Persona.


Vendo as meninas louras eliminarem as americanas na Copa do Mundo Feminina e revendo Acossado, um soi-disant filme de ação que passa um terço do tempo trancado num quartinho de hotel, com Belmondo de cueca samba-canção desfilando sua Weltanschauung para impressionar Jean Seberg, lembrei da minha experiência com as suecas. Belmondo deambula: “A rapaziada é mentirosa, Estocolmo, por exemplo: ‘As suecas são formidáveis, eu traçava três por dia.’ Estive lá. É uma mentira.” 

A caminho de minha bolsa de estudos em Paris em 1960, parei em Lisboa. Um casal recomendado por amigos me levou a uma casa de fados. Agregado ao casal, havia um capitão do exército, Carlos Lacerda. O nome já não inspirava muita confiança, devia ter muito QI para estar no bem bom, longe da sangrenta guerra colonial. O afável capitão, sabendo que eu viajaria pela Escandinávia, sacou um caderninho preto e copiou para mim numa folhinha de papel os telefones de dezenas de garotas suecas que conhecia e que, em linguagem bélica, eram “tiro e queda.” Quando visitei a Estocolmo no verão de 1961, telefonei, telefonei e telefonei, dias seguidos, para as Ingrids, Margids e Gretas – e não deu em nada. Fiquei literalmente na mão... 


50 anos de Fantástico: revista Manchete foi a inspiração do “Show da Vida” • Por Roberto Muggiati

José-Itamar de Freitas e Nélio Horta na redação da Enciclopédia Bloch
em Frei Caneca. Foto:Acervo Nélio Horta

Conheci José-Itamar de Freitas em Frei Caneca quando comecei a trabalhar como repórter especial da Manchete em 1965. Para complementar o magro salário, escrevia nos Cadernos de Jornalismo da Bloch – que ajudei a lançar –  e passei a colaborar na Enciclopédia Bloch, uma mensal de conhecimentos gerais que Itamar dirigia. Filho de Miracema, no noroeste fluminense, trinta anos (dois mais velho que eu), Zé-Itamar tinha a alma de editor. Infelizmente, os Bloch nunca valorizaram devidamente seu talento. Quando o intimaram a dirigir a mensal Pais e Filhos, Itamar pediu as contas e se mandou: não tinha physique du rôle nem esprit de corps para editar uma revista voltada para fraldas, soluços, papinhas, nana-nenéns e assuntos afins. 

O Fantástico fez uma homenagem especial a
Jose-Itamar de Freitas, em 2020

Foi imediatamente acolhido pela TV Globo, onde, criativo como poucos, aplicou a fórmula da revista Manchete a um programa das noites de domingo com o sugestivo título de Fantástico e subtítulo “O Show da Vida.” Sucesso instantâneo. Nos 30 anos da atração, ele disse à apresentadora Glória Maria: “Quando você passa dezesseis anos num programa, tudo te marca. Acabou sendo a minha vida. Um amor enorme, convivência, amizade, tudo. Eu olho o Fantástico como sendo da família. ”  

José-Itamar de Freitas morreu em 2020, aos 85 anos, de complicações da Covid. 

Foi-se o Criador, a Criatura segue em frente. 


Memórias da redação da Manchete: a foto e a falha

 

Matéria reproduzida de Jornalistas &Cia.
Clique na imagem para ampliar.



sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Curitibana superfogosa bomba na Ucrânia • Por Roberto Muggiati

 Ela conseguiu se fazer ouvir em meio à guerra e acima das explosões e lidera as músicas mais ouvidas na Ucrânia (e em Belarus e no Cazaquistão). A funkeira eletrônica Bibi Babydoll arrebata plateias do mundo inteiro com seu provocante Automotivo Bibi Fogosa, que está no topo da playlist global da plataforma de faixas virais (cuja audição sobe mais rapidamente).

Beatriz Alcade Santos, curitibana de 24 anos, pontificou em 2021 ao emplacar Pirigótika, que chegou a 100 mil views em menos de uma semana. Em seu site, Bibi Babydoll se define como “performer, influencer, publicitária e corporate punk rock whore” – ufa! Com todo esse gás a menina vai longe... 

Curitiba – que conta hoje 70 mil descendentes de ucranianos – retribui assim ao país que resiste bravamente à bárbara invasão russa.

Confira AQUI Bibi Babydoll e DJ Brunin XM - Automotivo Bibi Fogosa (Clipe Oficial)

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

O 'drible da vaca' na mídia esportiva

por Niko Bolontrin

Será que a mídia esportiva é mesmo capaz de avaliar o trabalho de um treinador? Há dúvidas. 

Vejam dois casos. Cansei de ouvir jornalistas sugerindo que a CBF contratasse um treinador permanente ou quase isso para a seleção brasileira. Pois bem: Tite foi chamado, treinou, treinou, falou difícil e perdeu a Copa da Rússia. Nunca um treinador recebeu tanto apoio da imprensa. Parecia o Guardiola brasileiro. Foi mantido apesar de não passar das quartas de final. Quatro anos depois, Tite chegou à Copa do Catar. Ter classificado o Brasil não conta: escândalo seria se a seleção brasileira não se classificasse tamanha a moleza. De novo, o treinador dava entrevistas rebuscadas, parecia saber o que estava dizendo. Não sabia. O Brasil passou vexame novamente e foi despachado de novo nas quartas de final. Só aí a mídia esportiva tornou-se subitamente crítica ao treinador que mais tempo teve para preparar uma seleção brasileira. 

O segundo caso. A treinadora Pia, da seleção feminina teve recursos e tempo para preparar a seleção feminina. A mídia não apontou qualquer defeito na sueca. Até que as meninas do Brasil saíram da Copa do Mundo ainda na fase de grupos. Vexame.  E só então, com a vaca no brejo, comentaristas de futebol, de ambos os sexos, passaram a apontar os erros da Pia. Assim como Tite no Catar, a sueca parecia em coma na Copa da Austrália - Nova Zelândia. Os closes da TV mostravam Pia atônita. 

Que tal a mídia esportiva mostrar que é do ramo e provar capacidade de criticar o trabalho dos treinadores antes do desastre? Isso ajudaria o futebol mais do que a exaltação bajuladora. 

A torcida agradece.

Uma coisa Tite e Pia ajudaram a provar. Treinador não deve mesmo ter estabilidade. Precisam provar a cada momento que sabem armar um time para vencer adversários qualificados e não apenas "fazer o nome' em amistosos de quinta categoria. 

A torcida agradece.

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Quase memórias da falência da Bloch Editores (há 23 anos)

Foto Gil Pinheiro 

por José Esmeraldo Gonçalves

2 de agosto de 2000. Há 23 anos, em uma quarta-feira como hoje, os funcionários da Bloch Editores foram obrigados a abandonar às pressas a sede da empresa na Glória. Um oficial de justiça concedeu-lhes apenas alguns minutos para que reunissem seus objetos pessoais e, literalmente, fossem para a rua. No caso, a do Russell. 

A aglomeração no pequeno largo diante do imponente conjunto de três edifícios assinado por Oscar Niemeyer chamava atenção de quem passava de carro. Formou-se um pequeno engarrafamento, alguns indagavam se havia um incêndio. 

Não. Ninguém gritou fogo, mas a notícia da autofalência da Bloch queimava centenas de carreiras e lançava os mais idosos no desemprego. Aos mais jovens restava enfrentar o sempre difícil mercado de trabalho. No caso de jornalistas, fotógrafos, pessoal do administrativo e gráficos surgia um novo obstáculo: a mídia impressa entrava em grave crise que se agravaria ao longo da primeira década do novo milênio. O meio digital não ofereceria um número de vagas que compensasse a perda de cerca de quatro mil postos em todo o mercado de jornais e revistas do Brasil. 

A Bloch Editores agonizava desde meados dos anos 1990, abalada pela grave crise financeira e adminstrativa da Rede Manchete. Afinal, depois de várias vendas frustradas e desfeitas por falta de pagamento dos compradores, a TV foi vendida em 1999 ao grupo empresarial que fundou a RedeTV (que, na transação, atendia pelo nome fantasia de TV Ômega). 

Um reposicionamento da Revista Manchete nos últimos anos daquela década deu esperança de novo vigor ao braço editorial das revistas impressas da Bloch. Mas era tarde. Imposta pela internet, a acelerada mudança do mercado de revistas já se anuncava em 2000 e em menos de dez anos decretaria o fim de centenas de publicações impressas no Brasil e no mundo. 

A Bloch não resistiu e pediu falência.

Carlos Heitor Cony testemunhou a queda do raio que partiu de vez o futuro da empresa. Ele confessou que só sete anos depois conseguiu descrever um pouco do que sentiu ao ser enxotado naquele fatídico agosto. Seu relato foi publicado na Folha de São Paulo em 2007. Segue-se um pequeno trecho do texto do Cony, que faleceu em 2018. 

- Penso que remeti as impressões todas para a caverna mais funda da memória, mais cedo ou mais tarde conseguirei articular alguma coisa expressando meu espanto, minha tristeza. A decepção de ver um mundo colorido, alegre e despreocupado, depois de uma ruína gradual e dolorosa que já durava dois anos, fechar-se como um túmulo que sepulta fantasmas, alguns mortos (Adolpho Bloch, Justino Martins, Magalhães Jr e outros ainda vivos, nós todos). Sinto em cima de mim o gosto de terra e o cheiro de flores apodrecendo".

Em 2008, como um dos autores da coletânea "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata), lançado por um grupo de ex-funcionários da Bloch, Cony voltou ao assunto e, entreo outras revelações destacou;: 

- Foi na Manchete que fiz e conservei alguns dos amigos mais queridos. Por ocasião da falência do grupo, eu ocupava o antigo escritório de JK no décimo andar do 804, dava apenas assistência não mais às revistas, mas à diretoria, sofri com Adolpho o trauma das tentativas de venda da TV a outros grupos".

Cony certamente não imaginou que aquele trágico 2 de agosto era apenas o primeiro e sofrido capítulo de um drama que se arrasta até hoje quando a Massa Falida da Bloch Editores completa inacreditáveis 23 anos. 

Não há justiça plena enquanto uma instituição que deveria privilegiar os trabalhadores consome partrimônio, tempo e esperanças ao não restituir todos os legítimos direitos às vítimas da implosão de uma corporação. Massas falidas não pode se eternizar enquanto vidas passam. 

Registre-se que uma parcela majoritária de credores trabalhistas da Bloch recebeu seus valores chamados principais. A estes - seriam quase três mil ex-funcionários da Bloch Editores  e Gráficos Bloch -, a Massa Falida pagou depois três parcelas de juros e correção monetária, mas há quase dez anos interrompeu essa recomposição devida. Por outro lado, ainda há credores trabalhistas habilitados que não receberam seus valores principais. 

A Massa Falida da Bloch Editores foi constituída em 2000. Apesar disso, o atual administrador judicial cita uma lei de 2005 segundo a qual valores referentes a juros só poderão ser pagos após a quitação das dívidas da extinta Bloch com todos os seus credores, trabalhalistas, financeiros, comerciais, institucionais etc. Então a lei retroage? Essa é a pergunta que muitos ex-funcionários fazem. Há outras indagações. No ano passado o síndico da Massa Falida da Bloch Editores informou a procuradores do Estado do Rio de Janeiro que "o ativo da massa falida foi praticamente liquidado, encontrando-se o processo falimentar na fase de pagamento de credores para posterior encerramento". Isso indica que o caixa se esvaziará antes do pagamento dos valores históricos e de juros e correção monetária de todos os credores trabalhistas?

Um bem valioso que pertencia ao extinto Grupo Bloch era o grande prédio da sede em São Paulo. Tal patrimônio teria ido a leilão, mas, em primeira chamada,, em outubro do ano passado, não apareceram potenciais compradores. Não tenho informação se foi arrematado posteriormente. No caso, o valor arrecadado seria, segundo dizem credores trabalhistas, dividido entre as massas falidas da Bloch e da TV Manchete.  Outro item de valor são as obras de arte restantes do acervo da editora. Aparentemente continuam aguardando uma data para leilão. Enquanto isso, custam à MFBloch o aluguel de salas para guarda, seguro etc.

Trabalhei muito anos com Carlos Heitor Cony na Fatos & Fotos, na Fatos e na Manchete, mas não estive no fatídico dia do despejo do prédio da Rua do Russell, que frequentei por longos 17 anos. Saí antes do desfecho da Bloch, não tive motivos para me habilitar a qualquer indenização. Em 1996, o editor e fotógrafo Sergio Zalis, com que eu havia trabalhado na revista Fatos, me convidou para participar da equipe da Caras, no Rio. Deixei a Manchete e me mudei para a Torre do Rio Sul, onde ficava a redação carioca da então recem-lançada revista sediada em São Paulo. Foi uma ótima expriência que durou oito anos. A Caras era fruto de uma parceria da Editora Perfil, argentina, com a Abril. Em 2004, fui demitido após uma discussão com o diretor-geral da Caras. Para minha supresa, no dia seguinte, por indicação de Patricia Hargreaves e Vanessa Cabral, ambas ex-Caras, Edson Rossi, que ao lado de Claudia Giudice, também ex-Caras, planejava o reposicionamento editorial da Contigo, publicação da Editora Abri, me convidou para integrar a sua equipe. Topei e foram, novamente, bons anos, até 2014, quando meu tempo de trabalho fixo em redações se esgotou em parte pela crise, em parte pela minha idade - era veterano demais para os novos tempos.  

Em todos eesses anos distante da Manchete nunca deixei de acompanhar a luta sem fim dos antigos colegas pelos seus direitos. De certa forma, eu estava naquela dramática aglomeração na Rua do Russell. Por fim, lamento que esse post não seja otimista, tanto que vale voltar ao Cony e a uma das frases que ele gostava de repetir.   

- Insisto em ser pessimista por antecipação e cálculo. O que me sobra é lucro''.

Frase do Dia: Meninas...

 #acordecom elas

#estãodormindo até agora


(à maneira de Neném Prancha & Nélson Rodrigues)