sábado, 27 de fevereiro de 2021

O ministro que sofre bullying

 


Elmalan, le malin • Por Roberto Muggiati


Adolpho Bloch – mais do que apostar na prata da casa – acreditava em importar o melhor talento estrangeiro que o dinheiro podia comprar. Contratou fotógrafos americanos fabulosos quando as grandes revistas ilustradas começaram a fechar nos anos 70, Life, Look, etc. Acolheu a nata da fotografia portuguesa que se viu ao relento depois da Revolução dos Cravos (a maioria tinha o rabo preso com Salazar). No final dos anos 60, incumbiu Justino Martins – editor da Manchete de passagem por Paris depois de sua tradicional visita ao Festival de Cannes – de contratar um diagramador francês para as revistas da Bloch. Justino se deu ao sacrifício de ficar de plantão na sucursal da Manchete na Avenue Montaigne – Polanski morava no mesmo prédio e Marlene Dietrich tomava banho de sol nua na cobertura. O primeiro gato pingado que apareceu o Justino contratou. 

Era Serge Elmalan, egresso do finado jornal-revista Candide, que fechara as portas em 1967. Mudou-se de armas e bagagens – com a mulher e um mastim respeitável, um pastor belga – para um apartamento art déco na Praça do Lido. Coitado do Beau Serge, se esqueceu de tomar a principal vacina – contra a mulher brasileira. Chefe de arte da revista feminina Desfile, em sua primeira desventura amorosa, envolveu-se com uma produtora de moda de sobrenome Guerra, que numa crise de ciúmes sacou um revólver e saiu atirando.

A única bala que acertou foi pérfida, aninhou-se num ponto inalcançável da região da clavícula. Adolpho não hesitou: mandou Serge para Houston aos cuidados do Dr. Michael DeBakey, o cirurgião que revolucionou a medicina na Segunda Guerra ao levar médicos e enfermeiras para a própria zona de combate (procedimento satirizado pelo filme M*A*S*H). Nem um craque como o Dr. DeBakey conseguiu retirar a bala guerreira. O maior cirurgião cardiovascular do mundo diagnosticou: “A melhor coisa a fazer é não mexer nisso...” E o canhoto Serge teve de seguir diagramando com a asa quebrada pela vida afora. Mas a história não acaba aí. Ao voltar recuperado ao trabalho, Serge ainda sofreria novas ameaças da amante injuriada. Toda tarde, no fim do expediente, o Marechal – chefe de segurança informal do Adolpho – se esgueirava por entre as árvores defronte do prédio do Russell à procura da pistoleira. E Serge saía sempre escondido no assoalho do carro de um colega de redação.

Depois de conhecê-lo melhor, eu o apelidei de “Elmalan, le malin”, malin em francês quer dizer “sagaz”, “esperto”, o que o nosso Apelidador-Mor Alberto de Carvalho costumava chamar de “professor de astúcia”. Serge convidou-me certa noite para uma reuniãozinha en petit comité no seu apartamento do Lido. Quando adentrei a sala, me deparei com a romancista Françoise Sagan (Bonjour Tristesse), a Begum Aga Khan (viúva de um dos homens mais ricos do século e mãe do playboy Aga Kahn, ex-marido de Rita Hayworth), o cineasta Jacques Deray (dirigiu Alain Delon em Borsalino, um precursor francês de O poderoso chefão) e Gilberto Tumscitz com sua mãe (Serge adivinhou já no jovem repórter o futuro autor de telenovelas de sucesso, Gilberto Braga).

Hostilizado por Oscar Sigelmann, Serge pediu o boné, rodou ainda alguns anos pelo Rio, casou – salvo falha da minha memória – com a filha de um vice-governador da Guanabara, e acabou regressando para os seus pagos. Em 2004 lançou o romance histórico Villegagnon ou a Utopia Tropical e em 2009 voltou ao Rio em grande estilo como coordenador cultural do Ano da França no Brasil. Instalado na gigantesca cobertura rococó do prédio do cinema Odeon, na Cinelândia, convidou-me para dividirmos um almoço no Restaurante Rosas, relíquia dos velhos tempos da Capital Federal, na Rua Álvaro Alvim. (A poucos metros do Hotel Itajubá, onde em suas folgas de voo nos anos 30, Saint-Exupéry escreveu Voo noturno e esboçou O pequeno príncipe.) Trocamos livros, dei a ele um exemplar do meu romance A contorcionista mongol, éramos ambos editados da Record. E não mais soube do amigo, que, aos 80 anos – passeando de máscara pelos Champs Elysées ou de pantufas numa casinha bucólica de banlieue – deve guardar belas – e também terríveis – lembranças de sua passagem pelo Rio de Janeiro.

A história bate à porta...

 

Reprodução Twitter

Crime continuado...

 

Reprodução Twitter

Fixação...


por O.V. Pochê

Bolsonaro tem muitas semelhanças com Collor. 

Ambos foram eleitos por um partido pequeno, os dois evitavam debates (no caso do Collor, no primeiro turno),  os dois apregoaram a "honestidade" antes de se envolverem em operações suspeitas, Collor se encrencou com o cheque do Fiat Elba, o outro com o cheque do Queiroz, os dois usaram verde-amarelo na propaganda eleitoral e os dois detonaram a Cultura. 

Deu no que deu.



Nessa semana, Bolsonaro mostrou mais uma semelhança. No palanque, ao reclamar de "perseguição", gritou que era "imbroxável"; Collor, também em momento de ira, gritou que "tinha aquilo roxo". 

Segundo os jornais, Collor é o mais novo conselheiro de Bolsonaro. Deve ter dado a dica.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Quem diria...

 A galera de camisa amarela que foi para as ruas, com a ajuda da mídia de direita, e apoiou o golpe contra Dilma Rousseff, presidente eleita democraticamente, pode comemorar, hoje, a PEC da Impunidade. A instituição do regime do vale tudo. O AI-5 Legislativo.

É possível saber como um golpe começa, mas não é previsível saber como termina nem quando termina.

O Brasil paga, mais uma vez, o preço cobrado pelas elites que investem no atraso em proveito próprio.

Brasil, laboratório biológico da pandemia. Virou estudo mundial pela desgraça exemplar

Preta Gil e Maria Rita em guerra de posts sobre Karol Koncá

 


A cantora Preta Gil, assim como quem não quer nada, fez um comentário fofo sobre a polêmica Karol Conká. Nada de mais, afinal, quase que o Brasil inteiro se manifestou nas redes sociais sobre a participantes mais tóxica do BBB, que acabou eliminada na última terça-feira. Só que o post de Preta Gil, como se vê nas hastags que a própria adicionou ao comentário, era patrocinado pela Amstell. Ou seja, a cantora faturou algum com o comentário.


Sem citar Preta Gil, a cantora Maria Rita criticou quem negocia publi para dar opinião sobre "questões éticas". "Estão colocando preço em empatia? Eu não canso de me chocar, real, real, real"

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Mídia - Vale tudo por dinheiro? Até fake news de bolsomédicos? Jornais recebem críticas por veicular matéria paga mentirosa sobre "tratamento precoce" contra a Covid-19.


por José Esmeraldo Gonçalves

O Brasil assistiu ontem a um derrame de fake news, provavelmente um dos maiores já registrados na grande mídia. A mentira foi levada aos leitores em forma de matéria paga. Os jornais O Globo, Folha de São Paulo, O Povo, Jornal do Commércio (PE), Estado de Minas, Correio Braziliense, Correio (BA), e Zero Hora (RS) publicaram o anúncio assinado por bolsomédicos de Pernambuco, que provavelmente seguem os ensinamentos do "Dr. Bolsonaro", representados por uma certa "Associação Médicos Pela Vida", pregando o uso de remédios como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina no combate à Covid-19. 

A ineficácia desses medicamentos para o combate à Covid-19 está exaustiva e cientificamente comprovada por cientistas e institutos de pesquisa em níveis nacional e mundial, além da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). 

O estranho anúncio tem muito de ideologia e nada de ciência.  

A publicação do material comprovadamente mentiroso levantou uma questão; se os jornais apregoam "código de conduta" para o conteúdo jornalístico, como não exigir ética e honestidade das matérias pagas? Basta pagar que o jornal veicula? 

A repercussão foi péssima e hoje alguns jornais, como a Folha e O Globo, caíram na real é publicam matérias demonstrando a falsidade das alegações dos bolsomédicos. Melhor que essa contestação tivesse sido publicada na mesma edição da fake news paga. O material circulou por 24 horas e certamente ajudou a disseminar perigosas "informações" sobre a pandemia. 

De qualquer, forma, mesmo tardia, desmascara a informação falsa. Agências de checagem também desmentiram o tosco e suspeito "manifesto".


ATUALIZAÇÃO EM 25/02/2021 - O Centro Knight de Jornalismo, ligado à Universidade do Texas, fez matéria em português e nas versões internacionais do site sobre a repercussão da polêmica matéria paga publicada em jornais brasileiros. A reportagem é assinada por Julio Lubianco, Leia a seguir: 


"Pelo menos oito jornais brasileiros publicaram na terça-feira, dia 23, um informe publicitário em que uma obscura associação de médicos defende a adoção do chamado ‘tratamento precoce’ da COVID-19, cujo benefício não é cientificamente comprovado. A decisão das empresas jornalísticas de abrir espaço, ainda que publicitário, para a veiculação de informações falsas sobre a pandemia gerou críticas.

“Folha de S. Paulo e O Globo erraram feio em aceitar anúncio de tratamento precoce no caderno principal. Não dá para criticar as mídias sociais por difundirem desinformação e fazerem igual num meio com controle editorial. Às vezes os princípios precisam valer mais do que o dinheiro,” escreveu Pablo Ortellado, coordenador do laboratório interdisciplinar Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo (USP), no Twitter.

Além de Folha e Globo, os dois maiores do Brasil, outros seis jornais estamparam o informe publicitário: Jornal do Commercio, Estado de Minas, Correio Braziliense, Correio, O Povo e Zero Hora. A organização que assina o anúncio é a Associação de Médicos pela Vida, cujo site esteve indisponível ao longo de terça e em parte de quarta-feira. "

A matéria completa está no link AQUI

Lideranças indígenas pedem apoio para abertura de processo contra Bolsonaro na Corte de Haia


Em janeiro último, o Cacique Raoni, aos 90 anos e na luta, denunciou Bolsonaro ao Tribunal Penal Internacional por  Crime Contra a Humanidade. O líder indígena quer, com isso, fazer com que a comunidade internacional se posicione contra a devastação da floresta amazônica e as ameaças aos povos originais. O documento pede investigação por atos que levam à devastação da floresta amazônica, a assassinatos, transferência forçada e perseguição contra povos indígenas. A representação também denuncia o desmantelamento de agências governamentais, como o Ibama e o ICMBio e pleiteia o reconhecimento do ecocídio — destruição do meio ambiente em nível que compromete a vida humana — como um crime passível de análise pelo TPI.  O advogado francês William Bourdon, que representa Raoni junto ao tribunal afirma que dispõe de documentação exaustiva que prova a destruição da Amazônia e o cancelamento de políticas históricas de proteção dos povos indígenas. 

Para que o processo avance é necessário demonstrar o apoio da sociedade à petição em poder do TPI. Em reforço a Raoni, o Cacique Raoni Metuktiré, chefe do povo Kayapo-Mebengokré colhe assinaturas para sensibilizar o tribunal, solicitando a urgente abertura das investigações. 

 O abaixo-assinado está no site Change.org. 

A rivederlo, paesano • Por Roberto Muggiati

Foto Twitter City Lights Books

Se Jack Keroauc, Allen Ginsberg e William Burroughs são os Três Mosqueteiros da geração beat, Lawrence Ferlinghetti é o seu D’Artagnan. Nascido há 101 anos em Yonkers, Nova York, filho de imigrantes ítalo-portugueses, Ferlinghetti mudou-se em 1955 para São Francisco, onde morreu ontem, atraído pela atmosfera vibrante da cidade, que foi a capital cultural dos beats. Lá ele fundou com Peter D. Martin em 1953 a primeira livraria só de paperbacks, iniciando um movimento de democratização da cultura. 

Ferlinghetti  concebia a livraria como um “ponto de encontro literário”, onde escritores e leitores se congregassem para trocar ideias sobre poesia, ficção, política e arte. Dois anos depois, ele iniciou a editora City Lights Publishers, com o objetivo de provocar uma “fermentação dissidente internacional”. 

Seu lançamento inaugural foi o primeiro volume da série City Lights Pocket Poets, que abriu novos caminhos para a poesia norte-american. Em 1956, publicou o revolucionário Howl, de Allen Ginsberg, que foi confiscado pelas autoridades americanas, dando início a uma histórica campanha de resistência que acabaria derrubando a censura.  Autor de um dos livros de poesia mais vendidos de todos os tempos, A Coney Island of the Mind/Um parque de diversões da cabeça, Ferlinghetti – como outros poetas beats – criou uma forma híbrida e inovadora de arte, em que os poemas eram recitados ao acompanhamento de música de jazz, e muitas vezes improvisados, como ela.


Foto Reprodução Wikipedia

PS
• Quando eu morava em Paris no início dos anos 60, tive a felicidade de comprar quase tudo da City Lights numa pequena livraria da rive gauche, defronte à Notre Dame, Le Mistral, que correspondia à imagem de livraria concebida por Ferlinghetti. No andar de cima, George Whitman – que a fundara em 1951 – hospedava de graça viajantes, a maioria mochileiros, com uma condição: todo hóspede pagaria a estadia com a leitura de um livro. George gabava-se de que, ao longo dos anos, 40 mil pessoas teriam dormido nos treze leitos de Le Mistral, que ele chamava de "uma aventura socialista disfarçada de livraria”. Em 1964, George mudou o nome de Le Mistral  para Shakespeare and Company, em homenagem à livraria da americana Sylvia Beach, que publicou o romance Ulysses de James Joyce. Na verdade, Sylvia Beach, que fechou sua livraria quando os nazistas invadiram Paris em 1940, havia doado o nome a George Whitman. Ele morreu em 2011, aos 98 anos, mas sua filha, Sylvia Beach Whitman, segue a tradição, tocando uma das livrarias mais queridas de Paris. Onde o leitor pode ter a certeza de encontrar o catálogo completo da City Lights Books. Em tempo: Ferlinghetti conheceu a incipiente livraria de George Whitman em Paris no início dos anos 50 e foi ela que o inspirou a abrir a City Lights Books em São Francisco. 

O POETA

Lawrence Ferlinghetti

Correndo risco constante

de absurdo e morte

toda vez que atua em cima

das cabeças da audiência

o poeta sobe pela rima

como um acrobata

para a corda elevada que ele inventa

e equilibrado nos olhares acesos

sobre um mar de rostos

abre em seus passos uma via

para o outro lado do dia

fazendo além de entrechats

truques variados com os pés

e gestos teatrais da pesada

tudo sem jamais tomar uma

coisa qualquer

pelo que ela possa não ser

Pois ele é o superrealista

que tem de forçosamente notar

a verdade tensa

antes de ensaiar um passo ou postura

no seu avanço pressuposto

para o poleiro ainda mais alto

onde com gravidade a Beleza

espera para dar

seu salto mortal


E ele um pequeno

homem chapliniano

que poderá ou não pegar

aquela forma eterna e bela

projetada no ar

vazio da existência 

(Tradução: Leonardo Fróes)


terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Cancelamento: cada caso é um caso

por Pedro Juan Bettencourt

Cancelamento é uma atitude coletiva em voga nas redes sociais. Tem provocado polêmicas. As reações mais ruidosas contra pessoas, empresas e instituições geralmente são disparadas a partir de vídeos e áudios que comprometem os protagonistas. Quase sempre são cenas ou conteúdos indesculpáveis. Projetam racismo, humilhação, prepotência, machismo, bullying, violência, agressões domésticas, intolerância religiosa, preconceito de gênero, discriminação, assédios moral e sexual etc. 

Vale o bom senso. A turba digital também pode expor pessoas inocentes. Já aconteceu. Acusações falsas e montagens de fotos e vídeos podem ser desmascaradas, mas a onda de cancelamentos se forma em cliques rápidos e sempre faz um estrago. Então, que cada um pense antes do clique relâmpago. Que procure identificar o alvo. Os escrotos costumam ter antecedentes e o Google facilmente rastreia os elementos. Veja os vídeos, cheque, verifique comentários, não é difícil. Muitas denúncias são acompanhadas de testemunhos. A mulher racista flagrada na padaria está sendo verdadeira e sincera com as suas podres convicções. Uma rápida pesquisa mostrou outros casos de intolerância ligados à figura. O juiz folgado e filmado que humilha o servidor na praia é, naquele momento, mais verdadeiro do que provavelmente nunca o foi. Vídeo, áudio e testemunhas comprovam. Não tenha receio de cancelar essas figuras.

Comprovada a veracidade do vídeo, da foto ou do áudio em questão, é compreensível a reação de tantos internautas que condenam tais crimes O fenômeno não é local, é universal. Há milhares de registros de pessoas que perderam emprego por postarem conteúdos inaceitáveis e criminosos. E daí? Assumiram o risco. Há igual número de empresas que foram expostas nas redes sociais por adotarem políticas odiosas, como trabalho escravo. Bem feito. Denunciadas e canceladas acabam tomando uma atitude após a justa exposição. 

Expor racistas, por exemplo, é autodefesa da sociedade. Expor fascistas, misóginos, geradores de fake news ou autores de crimes, como pastores radicais que atacam centros de religiões afro e imagens da igreja católica, também. Autores de ataques antissemitas ou antislâmicos  devem ser expostos. Milicianos não devem ganhar flores. Autoridades que humilham cidadãos devem ir para o pelourinho digital, sim. São tão poderosos, a justiça raramente os alcança, na maioria das vezes o único dissabor que terão é o vexame que a internet lhes proporciona.

A mídia cancela pessoas. Instituições cancelam pessoas. O esporte cancela pessoas. A arte cancela pessoas. Pessoas cancelam pessoas. Governos cancelam pessoas. Não entendo a surpresa Vizinhos cancelavam vizinho ao vivo. Por que a internet não cancelaria?  Se cancelamentos se tornam agressões físicas ou morais, aí entra o Código Penal. Se não, significa apenas que você não gosta da atitude do candidato a cancelamento e não o quer na sua timeline.

Sem biquíni não tem jogo...

por Niko Bolontrin

A dupla alemã de vôlei de praia, Karla Borger e Julia Sude, resolveu boicotar  o Circuito Mundial de Vôlei de Praia em Doha, Catar, no mês que vem. Motivo: as rígidas leis islâmicas que proíbem o biquíni e obrigam as atletas a jogarem de camisa e calça comprida. 

A Federação Alemã de Vôlei apoiou decisão das jogadoras. Em entrevista, Borger lamentou: "É realmente o único país e o único torneio em que um governo nos diz como temos que fazer nosso trabalho, e isso nós criticamos". 

Duplas brasileiras que vão participar do torneio no país islâmico ainda não se manifestaram sobre o assunto. O mais provável é que se submetam sem reclamar às regras abusivas recusadas pelas alemãs. 

Episódios como esse levantam uma questão entre os esportistas: países tão rígidos têm condições para receber eventos esportivos internacionais? O Catar sediará a Copa do Mundo de futebol de 2022. Haverá regras de vestimenta o observar, as turistas deverão usar roupas discretas (quem for viajar para lá deve se informar sobre o que o país entende por "discretas"). 

ATUALIZAÇÃO EM 26/2/2021 - O protesto da dupla alemã valeu. A Federação Internacional do Vôlei de Praia e a Associação do Vôlei do Catar liberaram ontem o uso de biquínis em etapa do Circuito Mundial. O torneio começará no dia 8 de março. Como acontece na Olimpíada, atletas poderão vestir calças e camisetas se o desejarem ou alegarem motivos religiosos. Melhor assim.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Sem vergonha: Repórteres Sem Fronteira deixa Bolsonaro nu

 



Do RSF

"Enquanto a Covid-19 provoca estragos no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro contribui para aumentar o número de mentiras em circulação e segue atacando a imprensa - numa tentativa de esconder sua incapacidade de administrar a crise sanitária. “A verdade nua”, campanha produzida pela agência BETC Paris em parceria com a Repórteres sem Fronteiras (RSF), reitera a importância crucial do jornalismo para garantir o acesso a informações confiáveis sobre a pandemia.

A nova campanha da RSF no Brasil, lançada em 22 de fevereiro de 2021, defende que se mostre “a verdade nua", a crua realidade dos fatos, para além de alegações fantasiosas ou manipuladoras. Uma fotomontagem mostra o chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, sem roupa*, coberto apenas por uma placa que informa o número de mortes causadas pela Covid-19 e o número de casos confirmados da doença no país**. 

Uma forma simbólica de confrontar o presidente Bolsonaro com a realidade nua e crua dos fatos, enquanto ele acusa a imprensa pelo caos instalado no país para desviar a atenção de sua desastrosa gestão da crise sanitária. O Brasil é hoje o terceiro país mais afetado no planeta pela Covid-19 e a campanha reforça a importância de conhecer os fatos para compreender a pandemia e poder agir sobre ela. Fatos aos quais a população brasileira não teria acesso sem o trabalho dos jornalistas. 

"Essa campanha propositalmente chocante visa despertar as consciências a reagirem aos ataques permanentes do sistema Bolsonaro contra a imprensa, afirmou Christophe Deloire, Secretário-Geral da RSF. Os ataques não são apenas moralmente intoleráveis, mas também perigosos para a população brasileira que se vê privada de informações vitais sobre a pandemia. O trabalho dos jornalistas é fundamental para relatar os fatos e informar as pessoas sobre a realidade da crise sanitária. Mais do que nunca, o direito à informação, intimamente ligado ao direito à saúde, deve ser defendido no Brasil.”  

O trabalho da imprensa brasileira tornou-se particularmente complexo desde que Jair Bolsonaro assumiu o poder em 2018. Insultos, difamação, estigmatização e humilhação de jornalistas passaram a ser a marca registrada do presidente do país. Sempre que informações contrárias aos seus interesses ou aos de sua administração se tornam públicas, ele não hesita em atacá-los com violência. No final de janeiro, por exemplo, Jair Bolsonaro mandou os jornalistas para "a puta que o pariu" e afirmou que a lata de leite condensado era para "enfiar no rabo [...] da imprensa". Essa declaração delirante faz parte de uma estratégia bem azeitada de ataques contra a imprensa coordenados pelo presidente e seus familiares que ocupam cargos eletivos, conforme apresentado pelo relatório da RSF que lista nada menos que 580 ataques apenas em 2020. 

“A verdade nua” se alinha com as fortes e irreverentes campanhas de comunicação divulgadas pela RSF para promover a sensibilização do público em geral e da comunidade internacional com relação às violações da liberdade de informar. Produzida com o apoio da agência BETC Paris, a campanha está disponível em quatro idiomas (francês, inglês, espanhol, português).   

O Brasil ocupa a 107ª posição entre os 180 países incluídos no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, publicado pela RSF."

O Teste Guilaroff de Cinefilia • Por Roberto Muggiati

Sydney Guilaroff e Marilyn Monroe

O primeiro cabelereiro a ter nome nos créditos


Guilaroff, o primeiro à esquerda, no enterro da amiga MM

Amantes do cinema se reconhecem pelo apego ao detalhe. No caso, aqueles créditos de produção que, nos anos 40 e 50 rolavam sempre no começo da “fita”. Dos atores principais ao diretor, passando por cenário, fotografia, música, orquestrações, figurinos e ... cabelos. De tanto ir ao cinema, ficávamos – os mais curiosos – com aqueles nomes gravados na memória. Foi assim que nosso diagramador João Américo Barros me surpreendeu uma tarde na redação ao perguntar a um crítico da
Manchete, à queima roupa, se ele conhecia Sydney Guilaroff. O crítico não era um crítico qualquer, mas um daqueles Moniz Vianna’s boys que galopavam com os cavalarianos de John Wayne no Monument Valley e davam relutantes duas ou três estrelas aos filmes em cartaz no famoso quadro de cotações do Correio da Manhã. Sem nenhum pudor ou culpa o crítico respondeu: “Sidinêi quem?” Vibrei com o Barros, Sydney Guilaroff foi um nome que, desde que o vi na tela pela primeira vez, eu carregaria na cabeça para o resto da vida, mesmo sem conhecer ainda sua incrível história. E saquei na hora também que o Barros tinha criado o teste definitivo de cinefilia. Se o cara ignorava Sydney Guilaroff, não merecia ser considerado cinéfilo, mesmo assinando todas as críticas do mundo. 

Joan Crawford

Filho de um casal russo, Sydney Guilaroff nasceu em Londres em 1907 e ganhou fama em Hollywood. Cabeleireiro principal da Metro Goldwyn Mayer, atuou em mais de 2000 filmes, shows de televisão e apresentações públicas. Tornou-se o primeiro cabeleireiro a ter o seu nome nos créditos de um filme. Em 1930, Guilaroff foi responsável pelo icônico penteado (“capacete”) de Louise Brooks, a maior estrela do cinema mudo. Mas foi Joan Crawford quem mudou sua vida: depois que Sydney penteou seus cabelos nunca mais quis abrir mão dos seus serviços. Durante três anos, a cada novo filme, ela atravessava a América de Hollywood a Nova York para que Sydney criasse um estilo de cabelos para cada papel. Irritado com aquilo, o chefão da MGM Louis B. Mayer resolveu o problema contratando Guilaroff para dirigir o departamento de cabelos do estúdio. Guilaroff trabalhou para a MGM de 1935 a 1970. Correu até a anedota de que, antes de filmarem o leão rugindo para o logo da MGM, Guilaroff penteou suas jubas. Veja aqui

https://www.youtube.com/watch?v=DhNMHcRSNdo

Vivien Leigh

Embora exclusivo da MGM, foi Guilaroff quem fez os penteados de Scarlett O’Hara em ...E o vento levou. Insatisfeita com os profissionais do estúdio de David O. Selznick, Vivien Leigh contratou Guilaroff para criar os penteados que ela desfila ao longo de um dos maiores filmes de todos os tempos. 

Claudette Colbert

Judy Garland

Lucille Ball

Greta Garbo em versão cacheada

E a Garbo como Ninotchka

Ingrid Bergman com o cabelo que virou moda
e foi capa da Time



Marlene Dietrich

Entre outras criações, Sydney assinou a franjinha de Claudette Colbert que ela adotaria para o resto da vida), as tranças de Judy Garland em O mágico de Oz, transformou Lucille Ball numa ruiva, fez os cabelos da turma de Cantando na chuva; modelou duas Garbos radicalmente opostas, em A dama das camélias e Ninotchka. Quando Ingrid Bergman ia estrelar em Por quem os sinos dobram – baseado no romance de Hemingway sobre a Guerra Civil da Espanha – o produtor David Selznick pediu a Guilaroff um corte despojado que o papel exigia. Os cabelos curtos e cacheados da heroína Maria viraram moda e foram adotados por mulheres no mundo inteiro. Já o estilo elaborado que Sydney criou para Marlene Dietrich em Kismet foi algo espetacular e também ousada e diferente a peruca que criou para Marlene em A marca da maldade, de Orson Welles. 

Jean Harlow

Fez ainda perucas para Jean Harlow, a Vênus Platinada, que estava ficando calva de tanto oxigenar os cabelos e morreu precocemente aos 26 anos. E como Esther Williams mantinha os cabelos em ordem sem sair das piscinas? Guilaroff encontrou uma solução simples: um toque de vaselina. 

Guilaroff com Liz Taylor

Grace Kelly no altar by Guilaroff. 
Fotos DP

Elizabeth Taylor, outra estrela que se tornou sua amiga, ameaçou abandonar a filmagem de Cleópatra na Inglaterra quando os sindicatos locais proibiram o ingresso de Guilaroff. Liz insistiu e conseguiu que Sydney fizesse seus cabelos todas as manhãs bem cedo, sem colocar os pés nos estúdios em Pinewood. Foi ele quem penteou Marilyn Monroe para o seu primeiro teste e ficou seu amigo e confidente pelo resto da vida. Foi o cabeleireiro do ultimo filme de MM, Os desajustados, e um dos amigos que carregaram o caixão da estrela. . "Sydney conhecia todo mundo e os segredos de cada um”, disse Debbie Reynolds, estrela da Cantando na chuva e sua amiga. “E era totalmente confiável.” Quando Grace Kelly casou com Rainier de Mônaco, Guilaroff atravessou o Atlântico em voo VIP a fim de preparar suas madeixas para a cerimônia nupcial. 

Guilaroff nunca se casou e em 1938 se tornou o primeiro solteiro nos Estados Unidos a adotar um filho (chamou-o Jon, em homenagem a Joan Crawford.) O estado da Califórnia tentou sustar a adoção, mas Guilaroff não só venceu a causa, como adotaria mais dois filhos. Em seu livro de memorias, Crowning Glories, ele alega que teve relações românticas com greta Garbo e Ava Gardner. Não só as estrelas o adoravam, Sydney era o cabeleireiro favorito de astros como Cary Grant, Clark Gable, Fred Astaire, James Stewart, Spencer Tracy, Tyrone Power, Robert Taylor e Frank Sinatra. 

Satisfeito? Agora você já pode passar no Teste de Cinefilia Sydney Guilaroff…


PS • Nem nossa Pequena Notável escapou de Sydney Guilaroff. Em 1948, o produtor Joe Pasternak convidou Carmen Miranda a fazer dois musicais em cores para a Metro Goldwyn Mayer, A Date with Judy/O Príncipe Encantado e Nancy Goes to Rio/Romance carioca (1950). Particularmente na primeira produção a MGM se esmerou para oferecer uma imagem diferente de Carmen, sem os turbantes típicos e revelando pela primeira vez seus cabelos, com penteados criados por Guilaroff e trocando os trajes de baiana por vestidos e chapéus elegantes desenhados por Helen Rose.



domingo, 21 de fevereiro de 2021

Na capa da Istoé: vida alegre na pátria da morte

 


Para alguns governantes, geralmente autoritários, o poder é uma festa. Idi Amin gostava da balada e desafiou a Rainha Elizabeth para se divertir em Uganda e conhecer um "homem de verdade"; Pinochet era abonado e gostava de gastar dólares ao lado de companhias masculinas nas praias da Espanha; parte do PIB das Filipinas era gasto em sapatos para Imelda Marcos; Saddam Hussein dividia os prazeres da riqueza com os filhos. Manter coleções de Ferraris, passar temporadas nos Alpes e fechar boates em Paris até champanhe escorrer nas calçadas era o que a família iraquiana entendia por viver. A Istoé usou na chamada de capa das doces férias do clã poderoso o título de um filme tipo "sessão da tarde". Mas, na ficção da tela, a diversão durava apenas um dia. Para esses tipos, a curtição é interminável e governar com tudo pago é só felicidade.

O filme O Enigma de Andrômeda, lançado há 50 anos, antecipou a tese atual de um cientista britânico: o vírus da Covid-19 é um E.T

Cena de O Enigma de Andrômeda. Sem vacina, microrganismo
 extraterreste contamina pequena cidade.

por Jean-Paul Lagarride 

Em agosto do ano passado, o jornal português Diário de Notícias publicou matéria com o cientista britânico Chandra Wickramasinghe, que defende uma teoria polêmica. Segundo ele, que trabalha no Centro de Astrobiologia de Buckingham, o vírus da Covid-19 chegou à Terra através de um meteorito que caiu na China em 2019, dois meses antes do aparecimento do SARS-CoV2. 

Em meio a tantas teorias da conspiração, Wickramasinghe foi levado a sério por alguns - afinal, ele tem cerca de 80 artigos publicados em revistas científicas e a própria tese "espacial" saiu na revista  Advances in Genetics -  e ironizado e ridicularizado por outros. 

A suposta ameaça de vírus extraterrestres não é uma questão nova e não apenas a ciência abordou o assunto. Em 1971, há 50 anos, Andromeda Strain (no Brasil, O Enigma de Andrômeda) impressionou muita gente.  No filme, baseado em um livro de Michael Crichton, dirigido por Robert Wise e estrelado por James Olson, Arthur Hill, David Wayne, Charles Dutton e Ruth Leavitt, um grupo de cientistas é convocado para investigar a causa das mortes em uma pequena cidade logo após a queda de um satélite na região.

Em meio à pandemia, O Enigma de Andrômeda tornou-se atual. Principalmente porque cientistas da OMS ainda não chegaram a uma conclusão sobre a origem do vírus da Covid-19. Em pesquisas que ainda se desenrolam na China, a equipe descartou a tese de "acidente em laboratório biológico"  e ainda não se convenceu da alegada origem do microrganismo em frutos do mar ou animais silvestres. 

Se a investigação científica não tem uma resposta e Wickramasinghe insiste na contaminação via meteorito, a ficção científica se apresenta e O Enigma de Andrômeda é buscado no You Tube e nos serviços de streaming. Pelo menos no cinema, o alienígena já esteve entre nós.

Estados Unidos, 500 mil mortos. Na capa do New York Times, hoje, cada ponto uma vida

 




sábado, 20 de fevereiro de 2021

Brasil, um país de "temporários" e "intermitentes"

por Flávio Sépia

O Brasil perdeu a Revolução Industrial. É, até hoje, um país agrário. Vende apenas e praticamente commodities, o que equivale a trocar bens por espelhos e colares, como faziam os nativos diante do colonizador europeu. 

Todas as tentativas de Getúlio Vargas, JK, Jango, Lula e Dilma - e mesmo da ditadura militar - de transformar o país em algo mais do que exportador de grãos e minério de ferro (e, por tabela, de empregos) foram demolidas pela elite empresarial quase sempre aliada a interesses que mantêm o país em eternos subdesenvolvimento e dependência.. 

O Brasil perde agora a Revolução 5.0, a era da inovação, a que leva trabalhadores a atuar em ambientes onde podem expandir seus conhecimentos e criar soluções e não apenas a repetir processos. 

O choque do futuro preconizado por Alvin Toffler chegou e o Brasil não fez check in. 

A cada dia, a produção é gerada menos em fábricas e mais em qualquer lugar, em casa, garagens, hotéis, salas de universidades e institutos de pesquisa. As maiores corporações da atualidade não foram construídas em linhas de montagem. 

Bem no meio dessa revolução, o Brasil faz uma reforma trabalhista que cria as exóticas categorias de trabalhadores "temporários" e "intermitentes" que tendem a excluir  do processo inovador a peça mais criativa, o colaborador da empresa. O "temporário" é o trabalhador com prazo de validade curto e com o carimbo de "vencido" sempre à vista. Seu compromisso tem data para acabar. O "intermitente"  é o que diz "bom dia" ao chegar e não sabe se estará ainda no seu posto de trabalho a tempo de dar uma "boa noite" de despedida. Esse nem tempo tem para se integrar a um processo inovador de produção. 

E a tendência é que o país se transforme em "intermitente". A modalidade que mais cresce no mercado de trabalho. Tudo a ver: uma das definições para intermitente é ""com interrupções, intervalos; sem continuidade".

Permanente só a exclusão.

De ministro a ordenança

Ao nomear um general para presidir a Petrobras Bolsonaro distribui mais um boquinha. E deixa Paulo Guedes com o bibico atrás da orelha. Embora tenha estudado no Colégio Militar, em BH,
ele não é da caserna. A favor, no núcleo duro da direita radical, ele tem no currículo o fato de  trabalhado e trabalhar para os regimes de dois "líderes" sul-americanos do ramo fascista: Pìnochet e Bolsonaro. O que pode lhe ajudar a manter emprego.  

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Você conhece algum ator canadense? • Por Roberto Muggiati


A morte de Christopher Plummer, o aristocrático marido da Noviça rebelde, que eu julgava um britânico da gema, me fez acordar para o fato de que não existem atores canadenses. Ou melhor, há uma legião, mas passam por americanos ou ingleses aos olhos do grande público. Plummer, considerado o melhor intérprete shakespeariano da sua geração, era um deles, nascido em Toronto. 



Outro em plena atividade aos 85 anos: Donald Sutherland fez cerca de 200 filmes, só a comédia desvairada M*A*S*H de Robert Altman bastaria para imortaliza-lo. Sem esquecer também sua atuação como o Casanova de Fellini.  (Creditem a ele ainda seu filho Kiefer Sutherland, o Jack Bauer da série 24 horas.) 





Apesar das dezenas de filmes que fizeram, Raymond Burr e Raymond Massey se celebrizaram por um papel marcante: Burr como o esquartejador da Janela indiscreta de Hitchcock (54) e Massey como o pai de James Dean em Vidas amargas (55). Burr – notório vilão de filmes noir – fez ainda sucesso na TV como Ironside, o investigador na cadeira de rodas. A filha de Massey, Anna Massey, brilhou na cena britânica: atuou em Frenzy (75), de Hitchcock, e ao lado de Anthony Hopkins em Casa de bonecas. Uma das darlings do cinema mudo, a canadense Mary Pickford fundou a United Artists com D.W. Griffith, Charlie Chaplin e seu futuro marido Douglas Fairbanks.

Lorne Greene celebrizou-se nos anos 60 no papel do rancheiro patriarca Ben Cartwright, no seriado Bonanza, que ficou 14 anos no ar e foi considerada uma das melhores séries da TV americana. William Shatner interpretou James T. Kirk, o capitão da nave estelar USS Enterprise, na série de TV Star Trek/Jornada nas estrelas. Depois de apenas três temporadas, em 1969, o seriado foi cancelado, mas as reprises fizeram de Shatner, um astro. Leslie Nielsen atuou em mais de 100 filmes e mais de 150 programas de televisão, tendo interpretado cerca de 220 personagens. Fez o capitão do navio em O destino do Poseidon e uma série de comédias malucas como Um astronauta fora de órbita, Apertem os cintos o piloto sumiu, Uma escola muito louca e Corra que a polícia vem aí.


Com 50 anos de carreira, Dan Aykroyd, de Ottawa, além de ator é roteirista, músico, vinicultor e ufólogo. Indicado para o Oscar e vencedor do Emmy, foi um dos membros originais do lendário programa de comédia Saturday Night Live, um dos criadores dos Irmãos cara de Pau  (com John Belushi) e dos Caça-fantasmas. Atuou em Conduzindo Miss Daisy, Indiana Jones e o templo da perdição, O escorpião de jade (de Woody Allen) e fez o papel de Mack Senett em Chaplin. Um dos comediantes mais brilhantes da sua geração, John Candy coestrelou com Dan Aykroyd em As grandes férias e Os Irmãos Cara-de-pau. Em 1987, fez sucesso no despretensioso  Antes Só do que Mal Acompanhado, que acabou faturando 150 milhões de dólares. Candy morreu aos 43 anos, de um ataque do coração. Seu último filme, lançado antes de sua morte,  Jamaica abaixo de zero, com bilheteria de 154 milhões de dólares, tornou-se o filme mais rentável de sua carreira.


Keanu Reeves, nasceu no Líbano, mas foi criado em Toronto, com nacionalidade canadense por conta do padrasto. Em 35 anos de carreira vitoriosa fez dezenas de filmes, as séries Speed e Matrix, o mocinho no Drácula de Coppola e em Ligações Perigosas de Stephen Frears e foi O pequeno Buda, de Bertolucci, Ganhou sua estrela na Calçada da Fama em Hollywood em 2005. 



Para ganhar fama e sucesso bastou a Michael J. Fox, nascido há 60 anos em Edmonton, sua irresistível interpretação de Marty McFly na trilogia De volta para o futuro, de Robert Zemeckis, um dos filmes que marcaram os anos 80. Em 40 anos de carreira, 


Jim Carrey
celebrizou-se por comédias escrachadas como Debi & Loide, O mentiroso, O pentelho, Ace Ventura, e também papeis dramáticos em filmes como O Show de Truman, Cine Majestic, O brilho eterno de uma mente sem lembranças, além de ter feito o Charada em Batman Eternamente. Outro que começou no início dos anos 80, Rick Moranis fez o seu nome Os caça-fantasmas, Querida encolhi as crianças, A pequena loja dos horrores, Os Flintstones. 


Ator, músico, produtor e diretor de cinema, Ryan Gosling, 40 anos, começou sua carreira como ator mirim no programa do canal da Disney, Clube do Mickey, e apareceu também  nas séries de terror infantil Você Tem Medo do Escuro? e Goosebumps. Depois de atuar em filmes mais sérios, Gosling foi consagrado em 2016 ao protagonizar o musical La La Land – Cantando Estações, que lhe valeu indicações para o Oscar e para o BAFTA e a premiação no Globo de Ouro. Fecha a lista o cantor, compositor e ator Justin Bieber, o darling da Geração Z.





E as meninas canadenses? Pamela Anderson ganhou o mundo como a bombshell da série sobre guarda-vidas Baywatch/SOS Malibu. Manequim de lingerie, capa da Playboy, fez ainda a série Barbwire/Bela e perigosa e hoje é ativista da causa dos direitos animais. Margot Kidder celebrizou-se no papel de Lois Lane, a namorada de Clark Kent, na série do Superman. Atuou em Irmãs diabólicas, o primeiro filme de Brian De Palma, e no drama sobrenatural The Amityville Horror. Rachel McAdams 42 anos, 20 de carreira, pontificou em filmes como Sherlock Holmes, na segunda temporada da série True Detective, que lhe valeu os elogios da crítica e vários prêmios. Por seu desempenho como a jornalista Sacha Pfeiffer em O Caso Spotlight (2015) foi indicada ao Oscar  de Melhor Atriz Coadjuvante. Segundo a revista Forbes, McAdams foi a terceira atriz mais rentável de Hollywood em 2009 (gerando às suas produtoras trinta milhões de dólares para cada milhão investido). Em 2017, foi uma das Pessoas do Ano da revista Time. Desde 2016, é uma das pessoas de maior bilheteria de todos os tempos nos Estados Unidos, com seus filmes faturando mais de 1,6 bilhão de dólares. 


Neve Campbell
ficou conhecida como a protagonista Julia Salinger, do seriado d Party of Five (no Brasil  O Quinteto), entre 1994 e 2000. Seu primeiro filme de maior lucro foi The Craft, de 1996. No mesmo ano, interpretou Sidney Prescott na quadrilogia de terror Scream, que foi um sucesso. Em 1998, foi colocada na lista das "50 Pessoas Mais Bonitas" da revista People. Voltou a brilhar em Panic (2000), ao lado do compatriota Donald Sutherland. Em 2006, estreou no teatro em Londres, em Resurrection Blues de Arthur Miller, ao lado de Matthew Modine e Maximilian Schell, dirigida por Robert Altman. A partir de 2015 entrou para a série da Netflix House of Cards. 


Rae Dawn Chong
ficou conhecida ao atuar nos filmes A Guerra do Fogo (1981), de Jean-Jacques Annaud, A Cor Púrpura (1985), A Loucura do Ritmo (1984), Comando para Matar (1985), Os Irmãos Corsos (1984) e Um Hippie nos Anos 90 (1990), em que trabalhou com seu pai, Tommy Chong, descendente de chineses, escoceses e irlandeses. Às vésperas de completar 60 anos, continua ativa no cinema e na televisão. Carrie Anne-Moss marcou seu nome na série Matrix e em Jessica Jones da Marvel. Molly Parker brilhou nas series de TV Dexter e House of Cards. 


Para terminar, a figura ambígua de Elliot Page (nascido Ellen Grace Philpotts-Page que, aos 33 anos, já protagonizou filmes como Juno e Hard Candy/Menina Má.Com, considerado pela crítica “uma das mais complexas, perturbadoras e assombrosas performances do ano”. Page recebeu ainda a chancela de qualidade Woody Allen, ao ser incluída no elenco de Para Roma com amor (2012), no qual interpreta um papel feminino e é creditado como Ellen Page.

Retomando o fio da nossa meada, quando você se interessar por algum ator/atriz que considera americano ou britânico, confira se por acaso não é canadense. Ou australiano? Ou neozelandês? Mas isso já é outra matéria...