Mostrando postagens com marcador crise. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crise. Mostrar todas as postagens

sábado, 27 de novembro de 2021

Joseph Pulitzer bem que falou...

por José Esmeraldo Gonçalves

O jornalismo deve muito a Joseph Pulitzer. O imigrante húngaro que chegou aos Estados Unidos com apenas 17 anos, combateu os confederados na Guerra Civil, trabalhou como carregador de bagagens e garçom antes de conseguir um emprego de repórter em um jornal dirigido à comunidade alemã. 

Foi o começo de uma carreira que o levou a editor e proprietário de um rede de jornais. As primeiras matérias investigativas da imprensa estadunidense foram pautadas pelos seus veículos. Pulitzer e seus repórteres denunciaram a exploração ilegal de trabalhadores, atuação de cartéis em vários ramos de negocios, combateram a corrupção e defenderam como poucos a liberdade de imprensa. 

O editor criou uma fundação exclusivamente para oferecer bolsas de estudos para jovens jornalistas. Seu nome é mais conhecido hoje por dar nome a um importante prêmio de imprensa, mas Joseph Pulitzer deixou muitas lições.  E nos legou uma frase que mais parece uma visão premonitória. 

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica 

e corrupta formará um público tão vil como ela mesma". 

Ele morreu em 1911, há exatos 110 anos, sem conhecer TV, rádios e sites bolsonaristas. 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Cadê a garota da capa que estava aqui ? Sumiu...

 

Algumas capas de revistas estrangeiras em 2021.


No Brasil, algumas revistas sobreviventes.

por José Esmeraldo Gonçalves

O panorama de títulos de revistas no Brasil é devastador. Não é o que acontece em muitos países, onde milhares de veículos impressos sobrevivem. A propalada crise do modelo de negócios no que se refere a revistas impressas foi, no Bananão, como dizia Ivan Lessa, um tsunami. Como se as editoras fossem uma "Pompéia" soterrada de uma hora para outra e coberta de cinzas. 

O fim de muitas revistas levou embora opções de qualidade no campo das reportagens, do fotojornalismo, do comportamento, da economia, do serviço, entre outros segmentos. 

O que impressiona é que as revistas vaporizadas foram substituídas por... nada. O meio é a mensagem, lembram?, e o meio digital não tem o alcance gráfico das revistas. É outro patamar, que obviamente vai evoluir, quem sabe da 5G para a revista holográfica quando uma reportagem ilustrada será fielmente encenada na sua sala. 

Comunicólogos que estudem essa particularidade brasileira e tentem explicar porque o mercado editorial de revista foi aqui praticamente destruído, restando bravos e poucos sobreviventes. 

Nosso foco é mais embaixo, mais pop. 

Independentemente da conclusão dos futuros estudos, apontamos que a  grande vítima foi a garota da capa. Sumiu. Xuxa e Luíza Brunet serão imbatíveis para sempre. Cada uma fez mais de 100 capas, da Manchete à Playboy.  

Tudo bem, as garotas sem capa agora se viram em ensaios no Instagram, que elas mesmas produzem. Ok, atingem milhões, mas não recebem de volta o impacto estético de uma capa impressa, brilhante, que pode ser vista permanentemente, sem cliques, muito além da dimensão de uma tela de smartphone. É isso não é nostalgia, é uma abordagem técnica. Uma questão espacial, de forma, tamanho, posição. 

Tem a ver com a geometria, uma linha da matemática. Perguntem às garotas que foram capas. 

Ou, lá fora, às garotas que ainda são capas.

domingo, 3 de janeiro de 2021

Editora Abril vende prédio e fecha gráfica. Impressão das revistas que ainda resistem nas bancas será terceirizada

 

Reprodução Brasil 247

No alto do prédio da Marginal Tietê, o logo da Abril. Referência na paisagem de São Paulo vai desaparecer. Foto Reprodução Twitter



O busto do "Seu" Victor, que ficava no saguão do prédio da redação na Marginal Pinheiros. Com a crise da Abril, o fundador virou nômade. Onde andará?

por José Esmeraldo Gonçalves

A Abril cultuava dois símbolos. O famoso letreiro da árvore plantado nas capas das revistas e no alto do prédio da gráfica - durante décadas uma referência orgulhosa na paisagem de São Paulo, mais precisamente na Marginal Tietê. E o busto do fundador, Victor Civita, imponente, no saguão do  NEA (Novo Edifício Abril), na Marginal Pinheiros. 

Em uma madrugada de janeiro de 2015, o busto foi retirado. A editora resolvera entregar o prédio que ocupara sob arrendamento à Previ e o fundador foi primeiro a ser despejado, como ocorre com os líderes em tempo de mudanças. O Civita de bronze teve a sorte de não ser uma estátua, cuja queda seria mais espetacular.  Saddam, Kadafi, Lênin, Franco, Salazar que o digam. "Seu" Victor foi embora discretamente, coberto por uma manta de juta. Onde estará? 

O segundo grande símbolo da Abril, o letreiro da árvore, será podado em breve do prédio da gráfica, que voltou a abrigar também as redações. Estas, por sua vez, deverão sair da Marginal Tietê para novo endereço. 

Matéria do Brasil 247  informa hoje que a Editora Abril fechará nos próximos dias sua gráfica na marginal do Tietê. O prédio será vendido. A decisão estava tomada desde o ano passado. Os títulos que a editora ainda mantém passarão a ser impressas em gráficas terceirizadas. "As revistas sobreviventes Veja, Veja São Paulo, Exame, Claudia, 4 Rodas, Saúde, Superinteressante, Você S/A e Você RH continuarão a ter versões impressas e digitais. Outras, a exemplo de Viagem & Turismo, VIP e Placar podem ter conteúdo apenas na web, como já ocorre com títulos como Capricho e o portal MdeMulher", acrescenta o 247. 

Leia a matéria completa, do Brasil 247, AQUI

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

A culpa é do Flamengo: "VAR" em editoria de esportes causa demissão de repórter.

Reprodução  You Tube
A Flamengo já se prepara para disputar o Mundial, mas a vitória sobre o River Plate, na Libertadores, ainda repercute nas redações. Não exatamente pelo futebol.

O repórter Adalberto Neto gravou um vídeo que registra a euforia na editoria de esportes do Globo no momento da virada no placar. Foi coisa de lôco, meu. A rapaziada pirou em gritos, correria e gente se atirando ao chão. Entre os mais vibrantes apareceria o editor Márvio dos Anjos.

O vídeo viralizou nas redes sociais e alguns torcedores viram ali uma "prova" de uma suposta falta de isenção na cobertura futebolística do jornal, outros acharam natural a festa e a explosão de alegria.

No dia 4/12, o colunista Leo Dias, do UOl, revelou a demissão de Adalberto Neto após o episódio. Ao jornalista não foi comunicado o motivo do afastamento e ele mesmo alega não poder afirmar que o vídeo foi a causa. "Realmente, não foi informado o motivo da minha demissão. Meu editor apenas disse que foi um pedido da direção pelo 'conjunto da obra', escreveu ele em carta a Leo Dias, publicada ontem. Adalberto conta que ao se despedir da redação ouviu de colegas que o motivo havia sido a divulgação do vídeo.
Na carta, o repórter, que é negro, também cita uma suposta questão racial "no conjunto da obra".

A sigla VAR (do inglês Video Assistant Referee) passou recentemente a fazer parte do vocabulário do futebol.

Ironicamente, foi uma espécie de "VAR de redação" que provocou a demissão do jornalista do Globo.

sábado, 22 de junho de 2019

Porteiro não voa mais. Cabine de avião volta a ser área vip e deixa elite feliz


Em 2012, uma colunista comentou que viajar de avião tornara-se atividade "perigosa". E não por medo de acidentes. Segundo ela escreveu, ir a Paris e Nova York perdera a graça diante do perigo de dar de cara com o porteiro do próprio prédio.

Com melhor poder aquisitivo, mais empregos, construção civil em alta, salário ainda mínimo mas corrigido acima da inflação, aposentadorias igualmente irrisórias mas reajustadas com pequena margem, e obras de infraestrutura em andamento em várias regiões com abertura de milhares de postos de trabalho, parcela expressiva da população brasileira fazia check in. Em consequência aviões e aeroportos lotados incomodaram a elite viajante.

Para os abonados, os bons tempos voltaram. Os porteiros não voam mais.

A crise e os preços cartelizados em níveis absurdos (a depender do momento da compra uma passagem da ponte-aérea Rio-São Paulo alcança tarifas intercontinentais) levam milhares de passageiros dos percursos de média e longa distância de volta aos ônibus.

O Globo de hoje publica matéria sobre o assunto, admite a crise, tenta relativizá-la com a derrocada da Avianca, comenta o preço das passagens mas obviamente evita críticas às empresas aéreas e à ausência de concorrência.

Os porteiros perderam as asas.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Sambódromo - Não vale o que está escrito - Com virada de mesa, o palco do samba se esvazia...

Foto Riotur/Divulgação

E o samba virou a mesa. Esqueça as papeletas do júri, delete o evento da Praça da Apoteose quando em rede nacional a Liesa e a Riotur anunciam os vencedores dos desfiles do Grupo Especial das Escola de Samba do Rio de Janeiro, releve os closes que a Globo dá em rostos emocionados nas mesas de cada escola no suspense da apuração. 

Não vale o que está escrito. É fake.

Reunidos na Liesa, dirigentes da São Clemente, Paraíso do Tuiuti, Estácio, Grande Rio, União da Ilha, Salgueiro, Mocidade e Unidos da Tijuca jogam o regulamento para o alto e abrem alas para o favorecimento. Rebaixada no desfile, a Imperatriz Leopoldinense foi salva no tapetão. A decisão é tão incoerente que deixa de fora a outra escola rebaixada, a Império Serrano. Não que sua inclusão justificasse o absurdo.

Mangueira, Portela, Beija-Flor e Viradouro e Vila Isabel foram votos vencidos. E o presidente da Liga, Jorge Castanheira, entregou o cargo por não concordar com a mudança das regras.

Haverá outras reações à decisão. O Ministério Público cobrará um compromisso assumido pela Liesa, no qual se inclui o respeito às regras. Fala-se que até qualquer um da plateia poderá ir á justiça para pedir a devolução do valor do ingresso, já que pagou para assistir a uma competição que foi subvertida. A própria organização dos desfiles poderá sofrer mudanças.  Com o racha nas escolas, há quem levante a hipótese de criação de outra associação reunindo as escolas dissidentes. 

O Sambódromo continua atraindo uma multidão de apaixonados pelo samba  (nas arquibancadas, porque nos camarotes a música sertaneja e os Djs são dominantes) e milhares de turistas. Já o carnaval de rua, com o fenômeno dos blocos, é hoje um concorrente no quesito digamos "participativo", para quem quer ser folião e não apenas espectador. A qualidade dos sambas, com raras exceções, está comprometida pela "indústria" de produção de composições por encomenda. Os autores das escolas, a prata de casa, já não conseguem resistir a essa à "uberização". Não por acaso, o desfile não tem produzido os novos clássicos, aquele samba que o povo consagra.

Talvez a crise impulsione mudanças que o desfile das escolas de samba parece exigir. 


sexta-feira, 22 de março de 2019

Disputa de herdeiros abala a Folha de São Paulo. Passaralho à vista...

O racha na Família Frias, com a destituição de Maria Cristina Frias pelo irmão Luiz Frias, expõe uma séria disputa de poder na Folha de São Paulo.

A morte recente de Otávio Frias Filho foi o gatilho para mudanças que afetam especialmente a edição impressa do jornal.

Luiz Frias, executivo com origem no meios digitais do Grupo Folha (UOL e Pagseguro), não teria muitas expectativas quanto ao futuro da mídia fora da internet. Nem boa vontade com papel. O clima na redação é de voo rasante de passaralhos nas próximas semanas, com redução de pessoal e muitas mudanças no corpo de colunistas e colaboradores.

Em jogo também a linha editorial e a integridade do chamado Projeto Folha, que prega jornalismo crítico frente a governos e grupos políticos.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Memória da propaganda: Em 1962, o Natal do consumo antes da crise...

O sonho de consumo. 

Os brinquedos analógicos, ainda quase artesanais. 

A anúncio da Coca-Cola apelando para Deus às vésperas de um ano de crises..

O presente de Natal da Seleções

Calça Lee nem pensar: o dólar alto deixava o sonho pra depois. O Brasil vestia Far-West.


A Varig oferecia o trenó aéreo para um White Christmas em Nova York.

Em 1962, o Brasil curtia um Natal de consumo marcado pela onda de industrialização que JK acelerou. O mineiro já não era presidente, mas os resultados da sua política repercutiam na mídia, que também se modernizava, e estavam nas páginas das revistas que passaram a receber centenas de páginas de anúncios.
Apesar do otimismo que a propaganda refletia, 1962 antecedeu uma ano de crise
econômica e política.
Pelo menos um dos anúncios - o da Coca Cola - apelava para Deus segurar a barra no Ano Novo que despontava. Não deu. A crise tornou-se aguda e acabou em golpe militar. 1963 foi último ano integralmente democrático antes da longa noite a partir de 1964 e que só começaria a clarear em 1985.

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Com Macri, Argentina passou de "Cambiemos" para "Jodemos"


Sem destaque, O Globo informa que a dívida argentina aumentou em cerca de US$100 bilhões desde dezembro de 2015, quando o neoliberal Maurício Macri entrou na Casa Rosada para impor na economia uma receita selvagem de centro-direita. Essa que candidatos brasileños querem copiar e agravar, dando sequência ao desmonte social implementado por Temer.

Os hermanos tiveram que se pendurar no FMI. O Banco Central deles já elevou os juros para 60%. A taxa de desemprego estava em pouco mais de 6% e já passou de 9%, em julho, com o ascensorista dizendo "subiiinnnndo"!

Macri se apresentou como o gestor que levaria a Argentina ao primeiro mundo. Conseguiu. Hoje, o hermano vai para a padaria levando uma maço de pesos e no caminho acessa a cotação do dólar para saber qual foi o aumento do dia do pan con mantequilla

O Mauricinho tinha tietes empolgados no Brasil, do mercado financeiro especulativo aos tiozões e tiazinhas colunistas de economia da mídia dominante. Era uma espécie de 'Justin Bieber' deles, que idolatravam o empresário como protetor de tela dos seus smartphones. Estão inconsoláveis.

Macri foi eleito por uma coligação chamada "Cambiemos'. Já mudou para nos "Jodemos".

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Grupo Abril pede recuperação judicial

O Grupo Abril, não apenas a Editora, já formaliza no sistema eletrônico da Justiça, em São Paulo, um pedido de recuperação judicial. A dívida declarada, que o grupo pretende negociar caso a medida seja aprovada, é de 1,6 bilhão de reais. Em declaração à Exame, o atual presidente, Marcos Haaland, afirma que há outras dívidas que ficam fora da Recuperação Judicial porque têm garantias específicas, com alienação fiduciária.

A lei permite que durante 180 dias a empresa não seja executada, prazo em que negocia com os credores. Desde 2013, a Abril promove sucessivas ondas de demissões de jornalistas, além de funcionários de outros setores, e encerra títulos tradicionais.

Editora Escala fecha as revistas Tititi e Minha Novela...

Há menos de três meses, a Editora Caras transferiu para a Escala as revistas Tititi e Minha Novela, ex-Abril. Durou pouco. Mais veículos impressos abatidos pela internet e menos empregos para jornalistas. A informação é do colunista Fernando Oliveira, do Zapping (Agora São Paulo).

Atualização em 15/8 - A Escala não confirmou oficialmente a medida, até o momento, e não se pronunciou sobre rumores de que outros títulos impressos seriam cancelados.

Atualização em 16/8 - A Editora Escala divulgou ontem nota oficial sobre o assunto. Segue:  

As revistas impressas, de um modo geral, atravessam seu momento mais crítico, devido à desestruturação logística e financeira do atual processo de distribuição.

Sem um novo modelo para entregas e administração, as revistas que mais sofrem são as que dependem exclusivamente das vendas em bancas, como é o caso das semanais de novelas e celebridades.

Ainda que tenham forte apelo junto ao público leitor e vendas bastante expressivas de suas edições, a Editora Escala se viu obrigada a descontinuar os títulos Tititi, Minha Novela, Conta Mais, TV Brasil e 7 Dias.

Outras seis revistas que seriam atingidas por essa deficiência do processo foram descontinuadas ou sofreram fusão de seus conteúdos com as de melhor penetração junto a assinantes.

Comunicação Escala”

sábado, 7 de julho de 2018

Professor da UNB analisa a atual crise da Abril e recorda o fim da Bloch Editores




do Facebook de Luís Felipe Miguel (*)
(Leia a seguir o texto completo)

"Uma frase de autoria incerta, que circulou pela internet, diz que a classe dominante não tem ódio. O que ela tem são interesses. O ódio ela terceiriza.

A frase é interessante. Mas talvez ela superestime a racionalidade da classe dominante. Por vezes, seu ódio supera seus interesses.

Penso num caso. Meu pai trabalhou por muitos anos em Bloch Editores. Na época, Bloch contava com uma publicação de grande sucesso – a revista Manchete, que ocupara o espaço que antes fora da mítica revista O Cruzeiro. Mas era um formato, a revista ilustrada, que estava em irremediável curva descendente, devido a fatores como a difusão da televisão em cores.

A grande editora do Brasil não era Bloch. Era Abril. Em quase todos os segmentos, Abril liderava e Bloch ficava atrás. Jornalismo econômico: Tendência (Bloch) atrás de Exame (Abril). Revista “feminina”: Desfile (Bloch) atrás de Cláudia (Abril). Revista de mulher pelada: Ele Ela (Bloch) atrás de Revista do Homem, depois Playboy (Abril). Revista infantil: Bloquinho e Recreio. Revista de fofocas: Amiga e Contigo. Fotonovelas: Sétimo Céu e Capricho. Etcétera.

Tá certo, Bloch tinha uma revista sólida de puericultura, Pais & Filhos. Mas a Abril corria sozinha no jornalismo esportivo, com a Placar. Tinha os gibis (Disney e Turma da Mônica), verdadeiras minas de ouro.

E tinha a joia da coroa, a revista Veja. Bloch nunca conseguiu firmar uma revista semanal de informação geral. Tentou, durante um curto período de tempo, transformando a Fatos & Fotos (uma espécie de Manchete mais magrinha) na revista Fatos, mas não pegou.

Bloch decaiu no final do século passado e acabou falindo, em grande medida pelo investimento desastrado na TV Manchete. Abril ia de vento em popa. Veja tirava mais de um milhão de exemplares por semana. O boom do mercado de revistas fez com que seus títulos se multiplicassem. O espaço que era de Manchete nos consultórios dentários e salões de beleza foi ocupado pela Caras, que no início era da Abril.

E hoje Abril é uma pálida sombra do que foi. Fechou ou vendeu a maior parte dos seus títulos. Anuncia mais uma retração para breve. Seu próximo passo, ninguém duvida, é a falência.

Muitos fatores contribuem para esta débâcle, a começar pelas dificuldades vividas pelos meios impressos no novo mundo digital. Mas um deles, acredito, é o ódio. O ódio de classe que fez com que a editora recusasse qualquer coisa parecida com jornalismo e transformasse seu principal veículo no arauto de uma seita, desprovido de credibilidade e desinteressado de obtê-la. Uma das maiores revistas de informação do mundo, que (mesmo sem nunca ter sido isenta ou confiável) era leitura obrigatória no Brasil, transformou-se num pasquim risível e irrelevante, sem que a direção da empresa esboçasse qualquer reação; pelo contrário, sempre preferiu aprofundar sua opção pelo apostolado antipetista.
Agora Abril morre e ninguém chora por ela."

(*) Luís Felipe Miguel é professor de Ciência Politica na Universidade de Brasília e filho de um ex-funcionário da Bloch Editores.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Lembra do computador HAL, do filme "2001 - Uma odisseia no espaço"? Descendentes dele são acusados de ter derrubado o mercado financeiro global na última segunda-feira

Como o computador HAL 9000, do filme "2001-Uma odisseia no espaço", que assumiu o controle da nave
Discovery, programas de inteligência artificial começam a mandar em Wall Street.  

por Flávio Sépia

Confira no noticiário: a palavra da semana é... "volatilidade". Foi usada à exaustão nas últimas semanas em matérias sobre bitcoins. A bitcoin é, você sabe, uma das manifestações "anarquistas" da internet. Criou, virtualmente, através de algoritmos, um sistema financeiro paralelo e global.

As instituições financeiras tradicionais, bancos e bolsas de valores, reagem, sentem-se ameaçadas, e acusam as moedas virtuais de montarem um esquema de "pirâmide". Não são confiáveis, e não passam de uma bolha - dizem. De fato, a bitcoin e outras criptomoedas tiveram suas cotações disparadas e, agora, entraram em queda brutal. Muita gente perdeu dinheiro. São "voláteis", são ameaças ao sistema financeiro mundial, repercute a mídia, que pede intervenção das autoridades.

Com a violenta queda da Bolsa de Valores de Nova York, na segunda-feira, a "volatilidade" ganhou mais força ainda nos cadernos de economia, além de ter dado prejuízo a muitos investidores. Só que atingiu o mercado tradicional. E há também algoritmos nessa sombra. No ano passado, o Wall Street Journal alertou que os "robôs de investimento", que fazem transações autônomas em milésimos de segundo, começam a prevalecer na Bolsa de Valores de Nova York. São algoritmos que determinam a compra e venda papéis em uma velocidade que deixa operadores humanos a anos-luz de distância. Mesmo pré-progamados, eles agem tão rápido que operadores não conseguem reverter suas decisões, a não ser depois de efetivadas e, às vezes, com consequências catastróficas.

A inteligência artificial que faz transações financeiras tem sido comparada ao computador HAL, do filme 2001- Uma odisseia no espaço. Já se "empoderou" como registra outra expressão em moda.

"A venda atual do mercado global foi impulsionada por computadores e não pelos receios dos comerciantes em relação aos indicadores de mercado", disse à NBC, ontem, um estrategista da consultoria Lombard Odier.

A mídia americana acusa esses robôs de investimento de terem provocado a recente queda da bolsa em mais de 800 pontos em cerca de cinco minutos.

Se a bitcoin é movido a algoritmos, e, agora, os mercados financeiros tradicionais tem os "robôs investidores", haja "volatilidade" em um mesmo dia.

Na criptomoeda ou nas bolsas, economistas indicam que quem corre risco de se "volatilizar" é o investidor comum.

No mercado financeiro brasileiro, pelo que se sabe, há uma empresa que usa robô apenas como consultor, ainda não como operador direto.

A Bolsa de Valores de São Paulo sofreu as consequências da atuação dos robôs investidores de Wall Street e nem anotou a placa do caminhão que a atropelou.

A partir de agora, quando você ouvir ou ler colunistas engravatados ou de terninhos interpretando tendências do mercado financeiro e agências de risco fazendo previsões, pergunte se o distinto ou a distinta conversou com os robôs.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Abril planeja mais demissões. Dessa vez, a empresa pretende pagar verbas indenizatórias "na parcela"

A Árvore balança?

O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo tem se reunido com funcionários da Abril para discutir um possível voo do passaralho, mais um, nas redações da editora paulista.

Desse vez, as dispensas podem embutir um grave questão: com o caixa baixo, os patrões pretenderiam parcelar em até dez vezes o pagamento das verbas rescisórias.

Caso se confirmem, as demissões em um editora que já foi uma das maiores empregadoras do setor são mais uma péssima notícia em um mercado profissional em acelerada mudança.

O jornalismo não vai acabar, ao contrário, a tendência é que se torne cada vez mais importante, diversificado e aberto nos meios digitais, mas um cenário se confirma a cada crise nas grandes corporações de comunicação: os novos modelos oferecem um número significativamente menor de postos de trabalho.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Fatos & Fotos: Brasília com a corda esticada

A manifestação: indignação contra o desgoverno Temer e as reformas trabalhista e previdenciária

A resposta do poder

Discussões: a Câmara, onde Temer montou um rolo compressor para aprovar medidas que cancelam direitos, vira caldeirão.   

A "cavalaria aérea"

O grito do povo

À sombra da repressão

Ofensiva aérea e terrestre

A revolta

Temer chama o Exército.

FOTOS AGÊNCIA BRASIL

O "Rambo" de Brasília: policial dispara tiros de pistola contra os manifestantes. (Reprodução You Tube)


VEJA O VÍDEO DO "RAMBO DE BRASÍLIA, CLIQUE AQUI

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Leitura Dinâmica: Entenda porque suruba que se preza é mais organizada do que o Brasil de hoje...

A ilustração acima, reprodução de uma série chamada Les Bigarrures, é de 1799, tempos do Diretório (Revolução Francesa).  Tem a ver: o Diretório marca o fim da participação popular no processo revolucionário e a ascensão da burguesia após um golpe de Estado patrocinado por financistas, algo como o mercado de época. 

por O.V.Pochê

Dizem que a palavra suruba vem do tupi. Originalmente, significava madeira, pau, tronco desgastado pelo uso. Faz sentido.

Como as surubas podem facilmente entrar em modo desordenado, o povão também usa a expressão para nomear confusões ou algo fora do controle. O Brasil pós-golpe, por exemplo. A diferença é que, dizem os experientes no ramo, mesmo nas surubas, quando a zorra se descontrola e compromete a produtividade e a harmonia do momento, é preciso que alguém bote alguma ordem na coisa: "vamos organizar essa suruba", dirá uma voz de comando.

Uma leitura mais atenta dos jornais mostra que a suruba do governo está fora de controle. Confira alguns sintomas, abaixo:

1) Um deputado (Rocha Laures, do PMDB) apontado como operador de Temer recebe uma mala com 500 mil reais de propina e devolve à PF apenas 465 mil. Se ficar comprovado, o sujeito desmoraliza os cânones da corrupção ao deduzir uma propina da propina. É a esculhambação da esculhambação.

2) Um senador (Aécio Neves, do PSDB), teria pedido propina para pagar um advogado que o defenderia de acusações de receber... propina.

3) Um delator (Joesley Batista, da JBS), prevendo que o mercado logo repercutiria sua denúncia envolvendo um presidente, teria investido em dólares e ações com base nesse informação privilegiadíssima. Com essa jogada, teria faturado mais do que o valor da multa que aceitou pagar no acordo de delação.

Reprodução/O Globo

4) Se o presidente Michel Temer (PMDB) cair, será substituído pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), por 90 dias. Curiosamente, a lei não impede que esse mesmo político dirija o processo e concorra ao cargo em eleição indireta. Embora esteja citado em delações como suspeito de corrupção, isso não seria impedimento para Maia. Imperdoável - e provavelmente ele será vetado por isso - é ter usado uma bermuda roxa para ir à residência oficial de outro suspeito, o próprio presidente Temer. A bermuda roxa, no caso, significaria "desleixo com a liturgia do cargo".  Na suruba, entre os participantes que não estão com a boca ocupada, corre o comentário de que o tal cargo não tem mais liturgia faz é tempo. Outra coisa: bermuda roxa em suruba não entra, é brochante em qualquer ménage múltipla que se dê ao respeito.

5) Ouviu-se na suruba outro comentário, esse mais apimentado, de que tem um movimento social em alta gritando "Dentro Temer". É organizado pelos presos da Penitenciária da Papuda.

6) Até a suruba reconhece que o governo está combatendo o desemprego e criando postos de trabalho. No Palácio do Planalto. Já são vários os assessores do presidentes que abrem mão do emprego por justa causa: a PF batendo nas suas portas. Há vagas nos gabinetes das assessorias presidenciais.

7) Um jornalista (Reynaldo Azevedo) telefona para fonte (Andréa Neves, irmã de Aécio Neves) em busca de novas informações enquanto o país está pegando fogo. Na conversa que foi grampeada e divulgada não vazou notícia que mereça esse nome. O que vai entrar para a história é um momento meigo: o jornalista cita um poema de Cláudio Manoel da Costa. “É um poema lindíssimo que ele fala justamente de uma coisa que eu constatei quando fui a Belo Horizonte. A cidade cercada de montanhas. E aí ele diz assim: essas montanhas poderiam ter endurecido o coração. Mas não, tiveram efeito contrário", fala Reynaldo. Andréa Neves, que seria presa após a delação de Joesley, declama de volta um trecho do poema: "Bárbara bela, do Norte estrela, que o meu destino sabes guiar, de ti ausente, triste, somente as horas passo a suspirar". Na suruba, o comentário era de que esse foi o melhor delírio literário da crise.

8) Teve propinófilo recebendo dinheiro em caixa de sapato, em mochila, na calçada, em restaurante, em escritório etc. Provavelmente querendo dar uma variada na entrega, um delator da JBS encarregado da logística da grana sugeriu disfarçar uma das remessas no fundo de uma caixa de isopor cheia de picanhas. Prático: o deputado subornado rechearia o bolso e ainda garantiria a carne do churrasco.

9) O esquema da JBS também inaugurou a propina a prazo. Uma espécie de crediário, digamos uma versão bandida de um baú da felicidade. Em um dos casos, segundo a delação, o prazo de pagamento se estendia por 25 anos. O delator Ricardo Saud, da JBS, afirmou ao Ministério Público que discutiu com o deputado Rodrigo Loures um pagamento semanal para ele e Temer pelas próximas duas décadas e meia. São otimistas. O deputado tem 75 anos, Temer tem 76. Significa que têm certeza de que vão chegar aos 100 anos muito vivos e recebendo a suposta mesada. Ambos negam ter pedido ou recebido dinheiro.

10) Como a suruba, a corrupção tem regras não escritas e sua própria compliance,  "Isso não pode", "pera lá", "aí, não", "ôpa" são alertas comuns às duas atividades. Veríssimo cita, hoje, na sua crônica, a revelação de um dos delatores da JBS, que considerou falta de elegância do Temer confiscar um milhão de reais no meio da bolada que estava passando à sua frente. Veríssimo escreveu: "notava-se uma certa decepção na voz do delator ao contar que Temer revindicara uma beirada do propinato em trânsito para o seu bolso". E, mais adiante, conta Veríssimo: "O corruptor lamentava o ocorrido. Uma certa etiqueta fora rompida". Não se pode confiar nem na corrupção à brasileira.

11) O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o da bermuda lilás, é acusada de engavetar pedido de impeachment de Temer. Sem muita justificativa, provavelmente doido para traçar um cheeseburger, decreta que "impeachment não é drive thru". Caberá ao STF, onde dúvidas constitucionais são esclarecidas, dizer se é ou não é. O McDonald's vai testemunhar.

12) Pode ser coincidência, mas essa atual bomba política estourou quando Mick Jagger voltava a visitar o Brasil, discretamente, em São Paulo, quase três anos depois da sua presença mais marcante aqui na terrinha, quando torceu pelo Brasil contra a Alemanha, na Copa de 2014. Isso mesmo, nos 7x1, em Belo Horizonte. Ele também veio ao Brasil em turnê, em março de 2016, mas não pode ser responsabilizado pela queda de Dilma: ela caiu um mês depois. Aliás, Aécio Neves também estava na platéia do desastre da seleção brasileira.

13) Correspondentes estrangeiros estavam confusos ontem diante das fotos que as agências divulgavam. Os computadores de edição despejavam simultaneamente imagens que retratavam conflitos na Cracolândia e na Esplanada dos Ministérios. Os estagiários estavam tensos com medo de misturar umas e outras. Dá pra entender.

14) Segundo o jornal Extra, o delator Joesley usou um gravador mequetrefe para registrar Temer, mas em matéria de brinquedinhos eróticos ele prefere a sofisticação. O empresário foi fotografado em Nova York, ao lado da mulher, a jornalista Ticiana Villas-Boas, comprando um vibrador com Wi-Fi, que pode ser comandado à distância por celular. O jornal não comenta se esse celular foi grampeado.

15) Dizem que Temer vai ser julgado no TSE no dia 6/6. Se marcarem a sessão para as 6 horas, vai acabar o quórum da suruba: 666 é o número da Besta. Aí não terá mais jeito, vai ser a hora da Queda da Bostilha.


sábado, 20 de maio de 2017

"Toma que o filho é teu": Demorou, mas a grande mídia aderiu ao "Fora Temer"...

Editorial do Globo 


Mídia aderiu ao "Fora Temer" mas
não às "Diretas Já". Reprodução
A mãe de todas as bombas, a JBS, provocou uma tremenda saia justa na moçada da mídia dominante.

Antes de o gravador de Joesley disparar novos "segredos" - mesmo após o vazamento da denúncia da Odebrecht que incriminou o ilegítimo - Temer era algo como a encarnação da suprema ética, o "nosso guia", alguém imbuído da missão divina de fazer as reformas a qualquer custo. Editoriais, colunistas e o noticiário exaltavam a pérola preciosa resgatada do lamaçal do Tietê, digo, do PMDB. Até que o raio paralisante da JBS caiu na redações. Nas primeiras entradas ao vivo, a perplexidade estava exposta em closes. Falar de Lula e Dilma seria mais voltagem do mesmo choque dos últimos anos. A notícia tinha ingredientes viçosos. Um típico caso jornalístico em que o homem (Joesley) mordeu os cachorros (Temer e Aécio). Não dava mais pra segurar, explode coração.

Nos primeiros minutos, ainda no susto e na velocidade dos acontecimentos, havia tensa cautela cada vez que Temer tinha que ser encaixado no texto. As análises eram timidamente superficiais, com um "se comprovadas as denúncias" exaustivamente encaixado entre centenas de vírgulas.



Ontem, a leitura dos jornais ou um simples zapear na TV mostravam outro clima: a opinião e a ênfase voltaram da folga e passaram a trabalhar. Um editoral do Globo foi a senha para levar Temer ao paredão do reality institucional do Planalto Central. Um dia antes, a Folha ousou dizer que os diálogos entre Temer e Joesley não eram "conclusivos". Veja e Época aderiram ao "Fora Temer". A Istoé, que vinha em uma trajetória de marcado adesismo, diluiu Temer ao lado de Dilma e Lula e tardiamente "descobriu" que a Lava Jato "não escolhe partidos". Só em Istoé.

Em outras circunstâncias históricas (1964),
o  "Basta" do Correio da Manhã.
Por coincidência, ressalvadas as circunstâncias históricas,  Veja destacou um "Basta!", na capa. Lembrou o Correio da Manhã, em 1964, quando a mesma interjeição pedia que Jango fosse derrubado.

A Época fez um capa tétrica do momento nacional inspirando-se em um bullying que Temer sofre: a conhecida referência ao seu visual de mordomo de filme de terror.

Em geral, para muitos coleguinhas não deve ter sido fácil acompanhar a brusca guinada. Mas à medida em que os veículos conservadores explicitaram posição e ligaram seus radares e GPSs políticos, diminuiu a tensão, âncoras, articulistas e colunistas dessas redações puderam relaxar e coreografar com mais precisão suas intervenções. Mesmo assim, haja equilibrista. Um deles, tido como "porta-voz informal de Temer", foi buscar ajuda no escritor Robert Stevenson, autor de "Dr. Jekyll and Mr. Hyde" para aliviar um pouco a barra e conceder a Temer pelo menos uma dupla personalidade. É preciso reconhecer a habilidade inserida na "opinião" que o dito jornalista construiu: "O presidente Michel Temer poderá ser levado a renunciar ao cargo por pressão do professor de Direito Constitucional Michel Temer, um homem tão cioso do cumprimento das normas constitucionais e dos princípios ético que regem a moral pública. O professor está envergonhado do ato praticado pelo presidente da República".

Por esse raciocínio de ficção, o Dr. Jekill Temer é inocente, a culpa foi do Mr. Hyde Temer. Se o culpado for para a Papuda, o STF vai ter que rebolar para saber o que fazer com o inocente.

Complicado vai ser se Mr. Hyde Temer fizer delação premiada e melar ainda mais a vida do Dr.
Jekill Temer. 

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Tem certeza de que o Rio está em crise? Talvez não. Em qual outro lugar do mundo você pode assistir a um sofisticado torneio de tênis e, em seguida, se quiser, degustar um baby beef sob patrocínio da renúncia fiscal? Zé Marmita também quer cantar funk ostentação...

por O.V.Pochê

A Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Estado do Rio de Janeiro é patrocinadora master do torneio de tênis Rio Open, no Jockey Club, a partir da próxima segunda-feira. A Lei do Incentivo ao Esporte e o Ministério dos Esportes também dão uma força. A renúncia fiscal costuma ser o atrativo para o apoio das marcas privadas. A Prefeitura do Rio entra como parceira oficial.

Curiosamente, até agora, matérias publicadas na mídia sobre o torneio omitem os patrocínios públicos que estão claramente explícitos no site oficial do Rio Open, na aba Patrocinadores.

Que que tá pegando? Os políticos normalmente gostam de badalar esses apoios que, afinal, angariam prestígio e  mostram ao povão que as autoridades estão trabalhando. Até bancavam anúncios custosos para dar o recado. Avisar à galera eleitora, mesmo que o povão não possa ir ao Jockey por circunstâncias sociais que independem dos promotores do torneio.

Vá lá, a omissão do patrocínio público pode ter sido um esquecimento, um lapso que será corrigido nos próximos dias, Ou, quem, sabe, alguém achou melhor não atiçar as críticas ao uso de eventuais verbas públicas para um evento de elite no momento em que o país passa perrengue, o Estado do Rio de Janeiro está revezando a cueca pelo avesso porque não tem dinheiro para mandar lavar e a prefeituras já avisou - embora não se saiba de pôs em prática-, que 2017 é ano de aperto bíblico de cinto.

O momento é difícil, até o Secretário de Transportes do município está com o nome a perigo pendurado em dívidas de impostos que deve, não nega, mas quer pagar a perder de vista.

Tudo isso vem à tona diante das espantosas denúncias de que o Rio deixa de arrecadar quase 200 bilhões de reais em função da generosa distribuição de incentivos, sem critérios visíveis, enquanto o rombo fiscal nas contas, apesar de tudo, não chega a 55 bilhões de reais. segundo números que circulam na mídia.

Talvez os políticos tenham preferido não dar tanta visibilidade, pelo menos na mídia, à participação pública porque os tempos são de carne de pescoço. Isso e o fato de outra denúncia recente ter surpreendido os cariocas: carnes nobres, como bife de chouriço, baby beef, picanha e black angus servidas nos restaurantes mais seletivos recebem um tempero de renúncia fiscal.

Não importa se o Zé Marmita não sente nem o cheiro da iguaria: mesmo assim um pouco do imposto dele vai pro prato alheio.

Falei Zé Marmita? Beleza, então, já que é Carnaval vamos ouví-lo nesse sábado ensolarado enquanto o mundo ideal não chega: um evento privado bancado por dinheiro privado, com Zé Marmita na arquibancada pagando do próprio bolso e ainda degustando um baby beef sem incentivo fiscal e cantando um funk ostentação.

VEJA E OUÇA "ZÉ MARMITA" NA VOZ DE MARLENE, CLIQUE AQUI



E VEJA O FUNK OSTENTAÇÃO "FIRMA DE LUXO", DE KONDZILLA. É TUDO O QUE O ZÉ MARMITA QUER SER AGORA. CLIQUE AQUI


sábado, 14 de janeiro de 2017

A edição número 12 da revista Fatos foi para as bancas em 10 de junho de 1985. Pelos títulos das matérias poderia circular amanhã. Confira: o Brasil e o mundo parecem estar em looping...














Reproduções de títulos da revista Fatos, junho de 1985. 

por José Esmeraldo Gonçalves

Looping, você sabe, é a configuração que faz um vídeo repetir-se ao infinito. Chega ao fim e retorna ao começo, como um incansável Sísifo digital. O Brasil parece dar voltas nesse modo replay. E o mundo, em parte, idem.

A Fatos foi uma tentativa da Bloch, ou melhor, na Bloch, de produzir uma revista semanal de informação e análise. Por desafiar, de alguma forma, a cultura e os interesses da empresa, durou apenas um ano e meio. Carlos Heitor Cony era o diretor, J.A. Barros, o diretor de Arte e eu o editor-executivo. Projetamos e enterramos a revista ao perceber, em meados de 1986, que já estava combalida por problemas políticos, pressões corporativas e, em consequência, falta de  investimento e contenção de circulação. Mas essa é outra história.

Vamos ao que interessa: aquela edição da Fatos poderia até ser digitalizada e postada hoje na web.

Em 1985, Ronald Reagan era o presidente americano. Aqui, o PMDB assumia a presidência com José Sarney. Neste 2017, a dobradinha repete a coincidência partidária e a incerteza política: o republicano Trump lá, o peemedebista Temer aqui. Reagan implantava política que ficou conhecida como Reaganomics, de redução de gastos, desregulamentação etc, algo parecido com a atual Temernomics.

O Brasil tentava deixar para trás a ditadura militar, mas a direita civil se articulava intensamente para não perder o poder. Naquela semana, a Fatos pôs nas capa "o novo guru da direita", o general Newton Cruz. Sob o título "Direita: por dentro do ovo da serpente", os repórteres Luiz Carlos Sarmento e Carlos Eduardo Behrendorf foram a campo ouvir os políticos e fizeram uma entrevista exclusiva com Newton Cruz.

Alguma semelhança com a atualidade? Viu o Bolsonaro por aí?

Ainda na rubrica Política, uma reportagem da sucursal de Brasília destacava o esfacelamento dos partidos em nome de interesses pessoais. Também da Capital Federal, o repórter Gilberto Dimenstein mostrava que o Congresso queria discutir uma Lei de Greve liberalizante mas o SNI, ainda atuante, e militares de alta patente "ponderavam" contra o projeto. Nesse contexto, as repórteres Lenira Alcure e Maria Luíza Silveira entrevistaram o presidente da CUT, Jair Meneguelli, que via ameaça aos direitos do trabalhadores e avaliava que o país trocara uma ditadura militar por uma ditadura econômica.

A repórter Sandra Costa ouvia o então ministro da Reforma Agrária e Desenvolvimento, Nelson Ribeiro, e a própria entrevista deixava claro que aquela reforma dificilmente sairia do papel.

No Rio, o repórter Rodolfo de Bonis, fora do tempo e a quilômetros do espaço das prisões de Manaus, entrava nas unidades do Instituto Penal Lemos de Brito para mostrar o inferno do sistema prisional.

Na editoria internacional, a União Soviética era acusada de utilizar detetives particulares americanos para colher informações estratégicas. Ainda não se especulava sobre os cyber espiões da Rússia e a prova encontrada era uma prosaica sacola de lixo com documentos sobre movimentação da frota americana.

No Kwait, terrorista suicida da organização Jihad Islâmica explodia uma bomba no centro da capital do país matando dois guarda-costas do alvo do atentado, que escalou ileso, o xeque Al Sabah.

O terrorismo não estava entre as preocupações da Bélgica, naquele momento, mas uma grande tragédia abalava a Europa. Em Bruxelas, durante um jogo do Liverpool, da Inglaterra, e do Juventus, da Itália, brigas de torcedores levaram pânico à multidão e o tumulto resultou em 41 vítimas fatais.

Em apenas uma edição, essa de referência, a de número 12, a Fatos analisava inflação e juros altos, como os jornais de hoje.

E tal qual hoje, o "medo" do comunismo gerava histeria. Sarney recebia comunistas no Palácio do Planalto pela primeira vez em 40 anos e era criticado pela direita e por religiosos. Alíás, a comitiva do PCB era liderada por Roberto Freire, atual ministro da Cultura de Temer. O partido levava seu apoio à primeira Nova República - há quem apelide o atual governo de segunda Nova República -  ao mesmo tempo em que lutava pela legalização.

Assim como João Dória está varrendo São Paulo, o prefeito da cidade a ser eleito em fins de 1985 era também da vassoura; Jânio Quadros. E se Dória hoje está apagando os grafites de São Paulo, em 1985, no Rio, a polêmica eram os painéis que alunos pintaram no muro do Solar Grandjean de Montigny, na PUC. O arquiteto Lúcio Costa protestou e o Patrimônio Histórico mandou apagar os murais.

Trecho de abertura do artigo de Alberto Tamer,
na Fatos, em 1985. 
A Previdência era notícia na Fatos, não ainda pela reforma mas por fraudes.

Mick Jagger, que hoje é apontado como um "símbolo" do trabalhador brasileiro do futuro, aquele que terá a obrigação de ser longevo, lançava seu disco solo - "She's the boss".

A tentativa não deu muito certo e ele permanece nos Rolling Stones até hoje, sem se aposentar como Temer gosta.

Por falar em Temer, desculpe, Tamer, isso mesmo, Alberto Tamer, jornalista de economia, escreveu naquela Fatos artigo que falava em déficit público, cortes, recessão e autoridades batendo cabeça.

Parece que foi hoje.