quinta-feira, 30 de junho de 2022

Vale a pena você maratonar. Metrópoles revela áudios de reuniões de Pedro Guimarães, vulgo "Pedrão". Um workshop gratuito de palavrões e assédio moral desembestado

 


A reportagem de Rodrigo Rangel, no Metrópoles, incendiou as redes sociais e chamuscou em Bolsonaro, ao revelar com exclusividade casos massivos de assédio sexual denunciados por funcionárias do banco. Agora, o site divulga gravações de reuniões onde Pedro Guimarães, indicado por Paulo Guedes e amigão do presidente - talvez por isso, agia como um "oberschütze! - demonstra acessos de fúria e dispara xingamentos, palavrões e ameaças. 

A influência da cueca samba-canção na história da República • Por Roberto Muggiati

 

Barreto Pinto em O Cruzeiro: o ato e o fato. Foto de Jean Manzon/Reprodução


Mais de 70 anos se passaram desde que aquela bisonha roupa de baixo masculina – a cueca samba-canção – protagonizou no noticiário político do país. Em 27 de maio de 1949, Edmundo Barreto Pinto (1900-72) tornou-se o primeiro deputado cassado por quebra de decoro parlamentar após ser fotografado vestido de fraque e cuecas para a revista O Cruzeiro, em 1946. As fotos foram publicadas na matéria "Barreto Pinto Sem Máscara", e o político alegou ter sido enganado pelo jornalista David Nasser, com quem havia acertado uma reportagem sobre sua pontificação na alta sociedade do Rio de Janeiro, achando que seria fotografado apenas com a parte superior do corpo.
Agora, o ex-presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, 51 anos, entre múltiplas denúncias de assédio sexual, foi acusado de convocar uma funcionária, durante uma viagem de trabalho, para levar um carregador de celular ao seu quarto de hotel, altas horas da noite, e a teria recebido vestindo apenas uma cueca samba-canção.
Vale ainda lembrar o episódio da época do Mensalão, em 2005, quando um deputado foi flagrado no aeroporto de Congonhas com 100 mil dólares escondidos num saco plástico na cueca (pela elevada quantia só podia ser uma samba-canção...)
E ainda, recentemente revistas de moda têm injetado sex-appeal em seus ensaios fotografando modelos femininas envergando cuecas samba-canção. No Bananão (apud Ivan Lessa) essa história promete continuar dando panos para manga...

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Há 40 anos uma reportagem histórica da Placar denunciava a "Máfia da Loteria Esportiva".

O jornalista Juca Kfouri dirigia a Placar quando, em 1982, a revista publicou uma reportagem explosiva assinada por Sérgio  Martins sobre a chamada "Máfia da Loteria Esportiva" no futebol brasileiro. O esquema criminoso montado por apostadores subornava jogadores para manipular resultados. Ex-jogadores eram encarregados de fazer contatos com atletas "subornáveis". A Placar jogou a nitroglicerina nos gramados, mas os demais veículos da grande mídia evitaram endossar as acusações, na verdade, deram grande destaque à defesa e aos desmentidos dos envolvidos.

Foi há 40 anos. A roda do tempo girou e o futebol está novamente diante de uma ofensiva de apostadores. Para usar uma palavra que não era comum em 1982, "compliance" é saída para preservar o esporte das novas "máfias" de apostas. Atualmente proliferam os sites de apostas, tanto os legalizados como os que operam na sombra. Alguns desses sites são os principais patrocinadores de times em todo o mundo.  A Procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Ceará (TJDF-CE) denunciou recentemente  oito pessoas envolvidas no caso de suspeita de manipulação de jogos no Campeonato Cearense. Os suspeitos são técnico, jogadores e dirigentes de um clube de Crato, no interior do estado.

Atualmente, a velocidade da tecnologia acelera o risco. A internet facilita as informações sobre jogos fora dos grandes centros e amplia o alcance dos palpites à disposição dos apostadores. Isso em todos os países. O VAR, por exemplo, é uma nova ferramenta adicionada ao universo da bola.  Em 2008, a empresa suíça Sportradar, contratada pela FIFA, detectou suspeitas sobre resultados de jogos na Europa. A entidade máxima do futebol terá que fazer muito mais para manter o jogo limpo tal a proliferação de casas de apostas digitais. 


Jornalista que Bolsonaro ofendeu ganha processo contra o boca suja

 


Rio, 1959: ouvindo Sarah Vaughan com Danuza • Por Roberto Muggiati

O último baile do Rio de Janeiro como capital da república.Na mesa principal, Danuza, Viniciu e Samuel Wainer. Assinalado pela sete, o autor dessas memórias. Foto Arquivo Pessoal 

Do Galeão Velho você  podia esperar tudo. Marlene Dietrich embarcando e Sarah Vaughan desembarcando, a ariana e a afroamericana trocando olhares cáusticos. Marlene acabara de fazer uma temporada no Golden Room do Copacabana Palace. Sarah faria sua estreia brasileira na noite de 6 de agosto de 1959 no Fred’s, a boate da moda que ficava em cima de um posto de gasolina na esquina da Avenida Atlântica com Princesa Isabel, onde depois seria construído o Hotel Méridien. Eu estava lá. 

Explico: curitibano chique passava as férias de inverno no Rio, esticava a temporada até o início de agosto para comparecer ao GP Brasil no hipódromo da Gávea. (O Jockey Club do Paraná tinha intercâmbio com o Jockey Club Brasileiro.) Depois da corrida de gala do domingo – em que os chapéus das dondocas predominavam sobre os cavalos – havia na terça-feira uma Nuit de Longchamps, com traje a rigor, foi assim que assisti ao vivo aquela beleza da Julie London na sua fase de ouro, cantando Cry Me a River.

Apesar de meus 21 anos, estava longe de ser um “foca”, trabalhava na Gazeta do Povo desde os dezesseis. Mas não tinha cacife para competir com jornalistas cariocas como Sílvio Túlio Cardoso (tido como “ghost” do livro Jazz Panorama de Jorginho Guinle), Sérgio Porto (também autor de um livro sobre jazz) e principalmente Vinicius de Moraes (parceiro de Tom Jobim, com o filme recém-lançado Orfeu Negro recheado de suas músicas). Quando cheguei finalmente à diva, no seu minúsculo camarim, numa abordagem desastrada, ela fez uma cara feia e me mandou passear. Foi o primeiro de uma série de episódios que me ensinariam muito sobre o ressentimento dos músicos negros diante do que eles consideravam a atitude “folgada” e desrespeitosa dos branquelos.

A mesa principal, com cerca de vinte assentos, era capitaneada pelo homem mais importante do Rio de Janeiro na época, Samuel Wainer, dono do jornal Última Hora. Tenho a cópia de uma foto do desaparecido arquivo da revista Manchete. Em primeiro plano, sentados, a partir da esquerda, aparecem a bela Danuza Leão, mulher de Wainer, na plenitude dos seus 25 anos; depois de um casal, Vinicius de Moraes e Samuel Wainer conversam diante de um enorme balde de gelo, o poetinha empunhando um cigarro quase na cara de Samuel. De pé, com um de seus fabulosos colares de pérolas, a socialite Josefina Jordan conversa com alguém que pode ser o Didu de Souza Campos. Casais rodam pela pista com uma orquestra ao fundo. Também no fundo, ao centro da foto, assinalado pela seta vermelha, este que vos escreve dança cheek to cheek com a namorada do amigo carioca.  Não aparecem na foto, mas estavam lá, recém-casados, João Gilberto e sua Astrud, que se tornaria cantora e cinco anos depois conquistaria o mundo com sua versão em inglês de “The Girl from Ipanema”, vendendo muito mais discos do que a lendária Sarah Vaughan. 

O show, irretocável, culminou com “Misty”, a canção de Erroll Garner que “Sassy” (Atrevida) adotou como sua assinatura musical. Um jornalista que cobriu a noitada a chamou de “último baile da Ilha Fiscal da República”. Era o derradeiro inverno do Rio de Janeiro como capital da república, em abril de 1960 Brasília assumiria o facho.  O Rio se tornaria o minúsculo Estado da Guanabara. Mas, com irreverência e humor típicos, o carioca deu o troco. Brasília fixou conhecida pelo nome da empreiteira que a construiu, a Novacap. O Rio adotou então o nome imbatível de Belacap, o que continua sendo até hoje.

Fotomemória dos arquivos de J.A.Barros: flashes de lembranças do O Cruzeiro

J.A. Barros no Cruzeiro no anos 50: equipamento moderno para visualização de fotos coloridas.
Foto Arquivo Pessoal

J.A. Barros, diretor de Arte que trabalhou no Cruzeiro e na Manchete, abre os seus arquivos. Na foto acima, ele aparece na sala de Ed Keffel, fotógrafo alemão da revista dos Diários Associados. Era o tempo em que jornalistas trabalhavam becados: paletó, gravata, calça com bainha dobrada. Keffel tinha na mesa ummoderníssimo visor de fotos coloridas também usado na diagramação das reportagens.  

OVNI na Barra da Tijuca. Matéria polêmica do Cruzeiro.
Reprodução O Cruzeiro
 
Barros recorda que Ed Keffel, ao lado do repórter João Martins, foi responsável por uma das fotos mais polêmicas da imprensa brasileira. Em 1952, o repórter se deparou com um andarilho na Barra da Tijuca, região então deserta. A "figura estranha" chamou atenção da dupla, Na época, jornalistas brasileiros e argentinos tinham uma fixação: encontrar Adolf Hitler, que estaria vivo e dava pinta na América do Sul. João Martins, que anos depois transferiu-se para a Manchete, achou o sujeito muito parecido com o "führer". Como Keffel falava alemão, o repórter sugeriu que fossem checar e fotografar o andarilho. Deu em nada: o rapaz eraapenas um pesquisador holandês de botânica. 

Ao retornarem para a redação, Keffel e Martins viram no céu sem nuvens, acima da Pedra da Gávea, um objeto de formato estranho, grande, circular, deslocando-se em silêncio. Keffel fez uma sequência do voo. O Cruzeiro publicou os flagrantes do que seria um disco voador. Para o ovnistas foi a comprovação das presença de naves extraterrestres no Brasil; para muitos outros leitores, era uma fraude. Para os Diários Associados foi uma festa: o Cruzeiro esgotou-se na bancas. 

Página dupla de uma das matérias da série que Ed Keffel fez com exclusividade no Vaticano.
Reprodução O Cruzeiro


Ed Keffel em ação no Vaticano, Reprodução o Cruzeiro

Ed Keffel foi também o autor de fotos incontestáveis. Foi o primeiro fotógrafo a registrar em cores para uma série de reportagens no Cruzeiro, em 1956, todas as obras de arte do Vaticano. Barros ouviu de Keffel que para fotografar telas de oito a dez metros teve de montar enormes andaimes, não podia tocar nos quadros nem utilizar muita luz e a equipe responsável pelo Museu do Vaticano observava cada movimento seu e não tirava o olho das obras. 

Frase do Dia: opacidade

 “A espuma dos dias está ficando cada vez mais suja.”

Roberto Muggiati parafraseando Boris Vian (1920-39)

Dúvida...

 


Mídia: comentaristas em ascensão, repórteres em extinção?

Pedro Guimarães e Bolsonaro: amigos, irmãos, camaradas. Reprodução

Alguém botou velocidade 5 no ritmo dos fatos.  Uma série de escândalos revela o estômago voraz das equipes de Bolsonaro - como no caso da roubalheira dos pastores infiltrados no governo em busca do bezerro de ouro das verbas públicas - e expõe os intestinos da administração que já não consegue processar tantas denúncias.  

Do ponto de vista da mídia, que atualmente se divide entre veículos que investem menos em reportagens exclusivas e jogam todas as fichas em um time de comentaristas e outros que ainda têm como prioridade buscar a notícia original, a investigação jornalística raiz, é interessante comparar estilos editoriais.

O site Metrópoles recebeu muitas e justas críticas nos últimos dias por publicar detalhes de um drama pessoal da atriz Klara Castanho, tão doloroso que estava protegido pela Justiça. Na caça aos cliques, o Metrópoles errou feio. 

Enquanto esse caso rumoroso repercutia, assim como os pedidos de desculpas do site, o repórter Rodrigo Rangel, do mesmo Metrópoles,  trabalhava havia semanas em um míssil que cai no núcleo íntimo de Bolsonaro: as acusações de assédio sexual massivo cometido pelo presidente da Caixa Econômica Federal. 

Pedro Guimarães é o nome do indivíduo assediador que deve ter entendido mal o slogan "patria amada". É bolsonarista ultra radical - se a redundância é possível. Está com Bolsonaro para o que der e vier. É figurante nas lives sórdidas que o presidente impõe à mídia, obrigada a cobrir bobagens e grosserias mentiras ali veiculadas.

Jornais, sites e canais de TV obrigatoriamente estão hoje pautados pela matéria investigativa de Rodrigo Rangel. E correm atrás quaisquer "aspas" para não perder o bonde. Não demora muito vão ouvir o Mourão, o comentador geral do país - geralmente fala irrelevâncias -  acionado pelos veículos em nove entre cada dez assuntos. 

A Globo News, o canal de noticias por assinatura de maior audiencia, não tem mais a investigação jornalística ou a exclusiva como prioridade, opta na maior parte da grade por comentaristas próprios, analistas convidados e tedioso jornalismo declaratório. 

Os concorrentes da Globo News, como CBN Brasil, Band News, Record Notícias e JP News também não investem em reportagens relevantes exclusivas. As últimas matérias de grande repercussão nesses canais tiveram origem no Estadão e Folha de São Paulo, nestes com maior frequência; no Globo, no Intercept e no próprio Metrópoles. Aos canais de notícias coube colher declarações. A Rede Globo mantém o foco na notícia e o Fantástico tradicionalmente investe em exclusivas.

Se essa estratégia de alguns veículos de não gastar sapato e dinheiro no jornalismo investigativo, mas pegar carona na repercussão e na análise repetida do fato é jornalísticamente correta, só os canais podem avaliar.

Vai ver estão certos, embora "furos" como o do Metrópoles aparentemente mostrem que não.

Atualização às 11 horas - O general Mourão, a figura preferida da mídia para a Editoria Óbvio Ululante acaba de declarar à CNN do B que o assédio sexual massivo de Pedro Guimarães é "assunto delicado".

terça-feira, 28 de junho de 2022

Bolsa Bala do governo Bolsonaro

Fonte Anuário de Segurança Pública 

Em menos de  quatro anos, política da bala faz explodir no Brasil número de caçadores, atiradores e colecionadores de armas.  Ontem polícia apreendeu armas legalizadas que estavam em poder de bandidos de facção criminosa. Pergunta lógica: uma coisa tem a ver com a outra?

Racismo - Piquet chama Hamilton de "neguinho" e ganha repúdio mundial. Mercedes e F1 condenam atitude do ex-piloto




A equipe Mercedes repudia o ex-piloto e bolsonarista Nelson Piquet por fazer comentário racista sobre Lewis Hamilton durante entrevista ao canal Motorsport Talk.  A Fórmula 1 apoiou o protesto da Mercedes. O racista não será bem-vindo no paddock. Conhecido por fazer pit stop no colo de Bolsonaro, ele usou um termo odioso para se referir a Hamilton ao falar sobre um acidente que envolveu o inglês e Vestappen. Piquet, que é sogro do Vestappen, Piquet chamou Hamilton de "neguinho" e o acusou de provocar acidente para tirar o holandês da pista em Silverstone 2021.  A ofensa racista está repercutindo mundialmente.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Mídia: Diretora de redação do site Metrópoles arma barraco após críticas por expor o drama pessoal da atriz Klara Castanho

 

Print extraído do Twitter

Irritada com críticas no twitter a diretora de redação do site Metrópoles, Lilian Tahan, baixou o nível. A divulgação irresponsável do drama pessoal vivido pela atriz Klara Castanho, que estava sob sigilo protegido pela lei, colocou o Metrópoles no alvo da indignação das redes sociais. Chama atenção a falta de educação da jornalista ao responder ao leitor. O mau cheiro exalado pelo estilo lembra muito as falas grosseiras de Bolsonaro no cercadinho. Parece fã do mito. Ao mesmo tempo, o post é revelador e sinaliza a falta de empatia da diretora: tá explicado porque o Metrópoles foi tão cruel no caso Klara Castanho.

Gilberto Gil, 80 anos, fala sobre a ditadura e "Domingão" muda de assunto.

Ontem, no Domingão, no bloco em que o programa homenageava os 80 anos de Gilberto Gil, tudo ia bem até o cantor e compositor falar sobre o período em que foi preso pela ditadura militar. Após Gil narrar o episódio, Huck fez uma comparação algo forçada e atribuiu a prisão e exílio  do baiano por "pensar diferente do outro". Alô, Huck, o "outro" era um regime militar que prendeu, torturou, perseguiu, censurou e matou brasileiros, não era uma simples questão de opinião mas de poder absoluto e autoritário. Logo depois, quando Gil acrescentou que mesmo hoje há que defenda a volta da ditadura, Huck cortou o assunto. Como a homenagem era ilustrada com a exibição de cômodos da casa de infância de Gil, que o programa recriou, o apresentador  mandou essa: 

- "Agora é o seguinte, vamos volta à vida de Gilberto Gil, vocês querem ver como a cozinha ficouuuuuuuu???"

As redes sociais criticam a "censura" do apresentador neoliberal que ensaia, recua e ensaia de novo entrar para a ala direita da política, ou centro-direita, ou terceira via, sei lá.

domingo, 26 de junho de 2022

Mídia: a Justiça vai decidir, na verdade, se canalhice é ou não condição acima da lei

Bolsonaro ofendeu Patrícia Campos e Mello após a repórter desmascarar seu esquema de financiamento da máquina de fake news  por empresas aliadas. Reprodução Twitter


Pasquim: o gigante dos nanicos • Por Roberto Muggiati


CAPA DA TURMA - A arte do autodeboche: em sentido anti-horário, Fortuna, Sérgio Cabral, Luiz Carlos Maciel, Ziraldo, Haroldo Zager, Jaguar, José Grossi, Flávio Rangel, Paulo Francis.


CARTUM DE JAGUAR -O cartunista devorou o livro.

Há 53 anos, em 26 de junho de 1969, uma quinta-feira, chegava às bancas o primeiro número de uma nova publicação semanal em formato de tabloide que, apesar do nome escrachado – ou por causa dele – mudaria a história do jornalismo brasileiro. Esta ousada aventura cultural, empreendida apenas meio ano depois do AI-5, que calou a boca da mídia, é muito bem contada no livro recém-lançado do jornalista gaúcho Márcio Pinheiro Rato de redação/Sig e a história do Pasquim (Matrix, 190 páginas). 

LANÇAMENTO DO LIVRO - Márcio Pinheiro autografando na Argumento do Rio com Reinaldo Figueiredo e Roberto Muggiati.

“O sonho de todo jornalista é ter um jornal. Viver sem patrão, sem imposições ou censuras, sem compromissos com questões comerciais e/ou industriais. Sem limite de espaço para emitir suas opiniões e expressar a sua verdade como ela é vista”. 

Depois desse pontapé inicial, Márcio prende a bola. “Isso é utopia.” No entanto, no meio daquele ano emblemático, um punhado de bravos rapazes da imprensa – todos riquíssimos em talento e paupérrimos em dinheiro – ganhou de bandeja uma oportunidade de ouro, nascida de uma pequena tragédia:  a morte prematura, aos 45 anos, de Sérgio Porto, em 30 de setembro de 1968. Jornalista brilhante, mais conhecido por seu codinome alter ego Stanislaw Ponte Preta, Sérgio tinha, entre suas incontáveis atividades, um jornal de humor todo seu, financiado pela Distribuidora Imprensa, A Carapuça, que ele batizou de “semanário hepático-filosófico” – escrito, na verdade, por seu clone estilístico, Alberto Eça. Com a morte de Sérgio Porto, a Distribuidora Imprensa convidou o jornalista gaúcho Tarso de Castro, então com 27 anos, para ser o editor da Carapuça. Conta Márcio Pinheiro: “Tarso não concordou, mas fez uma contraproposta: aceitaria o comando do jornal, mas mudaria o nome e, mais ainda, a orientação editorial”. Tarso chamou para assessorá-lo dois colegas da Última Hora: Sérgio Cabral, editor de política, e Jaguar, o cartunista principal. Outros começaram a subir no barco: Luiz Carlos Maciel, ligado em contracultura; Paulo Francis, um crítico cáustico de tudo e de todos; os cartunistas Millôr Fernandes e Fortuna, que se juntariam a Claudius, do quinteto inicial; os colunistas Sérgio Augusto e Ivan Lessa.

A maior dificuldade inicial foi encontrar um nome para o semanário. Conta Márcio Pinheiro: “O nome do jornal muito provavelmente foi inventado por Jaguar, como uma maneira de se proteger de uma possível esculhambação externa. ‘Já que vão nos chamar de pasquim, vamos antes usar o nome. Terão de inventar outros nomes para nos xingar.’”

A quarta capa do livro faz uma síntese do Pasquim em estilo futebolístico: “Luiz Carlos Maciel, Millôr Fernandes, Ivan Lessa, Henfil e Paulo Francis, Sérgio Cabral, Ziraldo, Jaguar e Martha Alencar, Sérgio Augusto e Miguel Paiva. Esse timaço, fora outros nomes não menos importantes, fizeram história no Pasquim. O primeiro técnico responsável pela estratégia de ataque foi o jornalista gaúcho Tarso de Castro.

O jornal nasce em junho de 1969 sob o signo do deboche, indo contra todas as formalidades linguísticas e visuais dos demais periódicos brasileiros. E, claro, pegando pela frente aquela famosa ditadura que não só dava botinada na imprensa, como distribuía cartões amarelos e vermelhos a rodo.

Nos primeiros seis meses o semanário marcou goleadas editoriais, com entrevistas fora dos padrões da mídia e abordagens de temas nada palatáveis aos milicos, saindo de uma tiragem de 28 mil exemplares para se tornar um dos maiores fenômenos editoriais do setor e alcançar, em algumas edições, vendas de mais de 250 mil exemplares. Sem assinaturas. Apenas em pontos de venda e bancas de jornal.

Os altos e baixos do jornal, a repressão, os dribles na censura, as grandes sacadas, o fim da carreira em 1991 e muitas curiosidades são contadas neste livro, pelos olhos de um outro jornalista e fã dessa criação que tinha o ratinho Sig como sua mascote. E que foi campeã de inteligência, genialidade e muito humor.”

O grosso do dinheiro da Distribuidora Imprensa vinha da venda avulsa da revista Manchete, que esgotava rapidamente nas bancas toda semana. Altair de Souza, um capitalista com alma de comunista, comprou meia dúzia de caminhões e sem nenhum risco, concentrando as vendas no miolo urbano de Rio e São Paulo, arrecadava montanhas de dinheiro. A tal ponto que o gráfico proprietário da Manchete, Adolpho Bloch, que vivia às turras com seus “papagaios” bancários, apelava sempre para o Altair quando precisava de grana viva para pagar seus elevados custos com instalações industriais, jornalísticas e administrativas, máquinas de impressão, encargos trabalhistas e mil e uma outras despesas.

É irônico, portanto, saber que o revolucionário Pasquim foi lançado com o dinheiro da Manchete, bíblia da classe média conservadora. Não só isso, como sua redação – sem nenhuma despesa com aluguel, luz, gás e água – ficava nas instalações da própria Distribuidora Imprensa.

Tudo isso ruiria da noite para o dia por conta de uma desastrosa entrevista do compositor Juca Chaves, de origem judaica (seu sobrenome era Czaczkes), que se queixou da revista Manchete  e sentenciou: “Acho que o Adolpho Bloch é antissemita.” Judeus de origem ucraniana, os Bloch tinham justamente vindo para o Brasil a fim de escapar dos incontáveis pogroms antissemitas praticados no Império Russo. Solidário com Adolpho (e não querendo perder a galinha dos ovos de ouro), o dono da Distribuidora Imprensa comunicou que não só deixaria de distribuir o Pasquim, como a redação deveria deixar suas dependências. O primeiro problema foi prontamente resolvido: o tabloide passaria a ser distribuído pela Abril. Já o de reinstalar a redação levaria o Pasquim a arcar com os custos de um novo endereço, à rua Clarisse Índio do Brasil, em Botafogo. A entrevista saiu no número 26, em 18 de dezembro de 1969. Conta Márcio: “Somados a esses problemas, começavam também os primeiros movimentos do racha interno. (...) 

Porém, apesar do clima pesado, a ameaça mais concreta e assustadora ocorreria em março. Uma bomba havia sido colocada na sede do jornal e só não explodiu por incompetência e inabilidade de quem a colocara lá, muito provavelmente gente ligada aos órgãos de repressão. ”

A censura também começava a apertar: “Quem estreou no papel na redação foi Dona Marina, uma senhora cordial, civilizada, que se aproximaria da patota e, claro, logo perderia o emprego. ” Foi substituída por um general que, por acaso, era o pai de Helô Pinheiro, a garota de Ipanema inspiradora de Tom e Vinícius. O general exercia o seu metiê numa barraca de praia debaixo de um guarda-sol. Admitia que “não entendia nada do que estava nos textos do Paulo Francis. Depois, de calção e toalha, ia ele próprio devolver o material já devidamente rabiscado na redação do jornal. Tamanha displicência se transformaria em problema e o general também seria afastado. Em uma dessas idas e vindas à praia, ele deixou passar a entrevista de uma antropóloga americana que garantia haver racismo no Brasil. (...) Depois da falha do pai da garota de Ipanema, o Pasquim passou a ser censurado em Brasília no Centro de Informações do Exército, onde as chances mínimas de camaradagem e de negociação eram quase nulas. Uma situação que se estenderia até 1975.”

Veio então o episódio da prisão, em setembro de 1970. O motivo foi uma reprodução da tela famosa do Grito do Ipiranga, de Pedro Américo, em que, no balão rabiscado por Jaguar, D. Pedro I, ao invés do “Independência ou Morte!”, bradava “Eu quero mocotó”, o irreverente bordão da canção de Jorge Ben no V FIC que valeu ao seu intérprete no Maracanãzinho, o maestro Erlon Chaves, a prisão e muito aborrecimento. “Seriam presos pelo Doi-Codi Tarso de Castro, Luiz Carlos Maciel, Ziraldo, Jaguar, Sérgio Cabral, Paulo Francis, Flávio Rangel, Fortuna, o fotógrafo Paulo Garcez, José Grossi, o diretor de publicidade, e o funcionário Haroldo Zagler. Caberia aos que não foram detidos – Martha Alencar, Millôr Fernandes, Henfil e Miguel Paiva – a responsabilidade de se envolver com a edição do jornal e a missão de manter o Pasquim vivo nas bancas.” A ausência dos principais redatores sequer podia ser noticiada – eles teriam sido derrubados por uma misteriosa epidemia de gripe...

Com a abertura política e a volta dos exilados em 1979, o Pasquim se politizou e adotou Fernando Gabeira como seu porta-voz. Mas a distensão também levou – por uma questão de sobrevivência – a grande mídia a se “pasquinizar”. Havia ainda a luta pelo poder dentro do tabloide, um vertiginoso carrossel de egos inflados rumo ao tiroteio mortal no Curral OK – tudo isso acabaria levando o gigante da imprensa nanica a se volatilizar num processo de autofagia em 1991. Mas vale dizer, parafraseando Vinicius, que, em seus 22 anos de vida, o Pasquim “foi eterno enquanto durou.”

Encerro com uma observação sobre o estilo. “Estilo” nas mãos de um jornalista? Sim, o grande talento aflora na ponta do iceberg do jornalismo cultural brasileiro; os restantes 1/7 da sua massa submersa não passam de um indigente arremedo de press-release. E aqui outra observação que fiz ao próprio Márcio, surpreendendo-o: jornalistas da área musical como ele, Tárik de Souza, Antônio Carlos Miguel e o cartunista ex-Casseta e contrabaixista Reinaldo Figueiredo, que assina o prefácio de Rato de redação, têm sua prosa modelada, ainda que inconscientemente, por todo aquele jazz que ouviram a vida inteira.


Flamengo quer se apropriar do Parque Olímpico, área pública do Rio de Janeiro? Pode isso, Eduardo Paes?

A Flamengo costumava ser o mais querido dos governos autoritários. E muitas vezes levou vantagem nessas ligações espúrias. Durante a ditadura de Getúlio Vargas, o clube ganhou do Estado Novo um imóvel no Morro da Viúva, uma das áreas mais valorizadas do Rio. Na ditadura militar, o Flamengo convidado para partcipar das inaugurações festivas de estádios e jogou o Torneio Garrastazu Médici. O ditador era torcedor do time da Gávea. 

De um modo geral, os clubes eram premiados por se manteram à margem da política. Exceções foram o movimento Democracia Corinthiana, nos anos 1980,  e manifestações individuais de jogadores como Afonsinho, no Botafogo, e Reinaldo, no Atlético Mineiro, na década de 1970. 

O bônus da relação entre fubeol e política também vinha, muitas vezes, em forma de perdão de dívidas e doação de terrenos públicos para construção de estádios ou centros de treinamento, um tipo de vício que, diga-se, que persistiu mesmo após o fim da ditadura. 

O Flamengo, de novo, é o clube mais próximo de Bolsonaro. Tem dirigentes que apoiam publicamente o sociopata do Planalto.  A partir dessa ligação, o "Mais Querido", foi bem-sucedido no lobby para mudanças na legislação que lhes foram favoráveis. Não apenas na instância federal o Flamengo se dá bem. Com o governo do Estado do Rio de Janeiro, o clube virou "dono" do Maracanã  (o Fluminense é coadjuvante, mas a Gávea dá as cartas na parceria) após a saída da Odebrecht como concessionária do estádio. Como concessionário, o Flamengo tem impedido o Vasco de jogar no Maracanã, um estádio público concedido. É como se o clube fosse concessionário do Metrô e só permitisse o embarque dos seus torcedores, por exemplo. Com a cessão do estádio é atualmente precária, haverá nova licitação em breve. O Vasco tem interesse em participar, mas nos bastidores a ação política do Flamengo tenta barrar essa possibilidade. 

Ao mesmo tempo, jornais noticiam que o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, empresário que foi sócio de Eike Batista, se reunirá com o Eduardo Paes. O objetivo seria pedir que  o prefeito libere o Parque Olímpico, a área pública na Barra da Tijuca, para a construção de um estádio para o Flamengo. Seria uma inaceitável doação, mas a história mostra que interesses políticos constumam abrir caminho para absurdos e favorecimentos como esse. Eduardo Paes ainda não se manifestou publicamernte sobre a jogada rubro-negra.

A propósito, com a chegada das SAF (Sociedades Anônimas do Futebol), times como Vasco, Botafogo e Cruzeiro se transformam em empresas. Os contratos com os compradores são geralmente sigilosos, não são conhecidas todas as suas cláusulas. Não se sabe, por exemplo, se terrenos públicos cedidos por prefeituras, casos da maioria dos CTs, podem ser legalmente propriedades repassados a empresários que podem fazer o que quiserem com a área, inclusive vender ou se o uso esportivo é obrigatório segundo os contratos de cessão. O terreno da Toca da Raposa, do Cruzeiro SAF, hoje pertencente ao ex-jogador Ronaldo, foi doado pelo prefeito Américo Gianetti. O mesmo Cruzeiro pode ser beneficiado pela Prefeitura de Betim com nada menos de um estádio na cidade, sem custos para Ronaldo, o proprietário do time,  O terreno do CT do Vasco, em fase final de se transformar em SAF foi doado pelo prefeito Marcelo Crivella. A prefeitura carioca também doou terreno para o CT do Fluminense. O modelo é replicado por outras prefeituras em todo o Brasil. 

Se a fórmula de favorecimento permanecer no casos das SAF, o buraco será mais embaixo.  Prefeitos não podem nem devem presentear empresas privadas. 

Outra coisa: desde os tempos de criação da Loteria Esportiva, clubes se beneficiam dos jogos federais, como Timemania e Lotogol. A Timemania foi criada supostamente para sanear as dívidas tributárias dos clubes brasileiros. Com as SAFs esse tipo de "bondade" se transformará em subvenção contestável, a não ser que claramente se limitem ao pagamento por uso das marcas dos times. 

De resto, o poder público só deveria manter apoio aos esportes olímpicos e paralímpicos.  

De resto, não é por acaso que o Maracanã e seu "dono" proíbam faixas em defesa de  respeito, igualdade e inclusão.

Sinhá Tebet da Casa Grande

por Flávio Sépia

No Brasil, reescrever o passado foi prática da ditadura militar em paralelo com a censura. Livros, disciplinas escolares como a execrável "Moral e Cívica" e até filmes oficiais como Independência ou Morte ou os programas de TV contratados ao notório Amaral Neto propagavam versões convenientes ao regime militar.

Pois uma candidata a presidente, a Madame Tebet, rica senhora da Casa Grande, acionou uma assessora para, na surdina, maquiar seu passado com direito a uma mão de botox. A funcionária entrou no perfil da chefe na Wikipedia e apagou trechos do currículo da sinhá tentando cobrir as vergonhas, no caso, os votos e as decisões da pessoa em cargos públicos. Em tempos de internet, isso é bem mais difícil. Como os marqueteiros da Madame Tebet tentam torná-la mais conhecida dos brasileiros, as redes sociais estão ajudando e mostrando coisas como essas que a assessora tentou apagar. A madame votou na reforma trabalhista selvagem, aquela que libera até grávida para trabalhar em ambiente insalubre (como fazendeira, defende o agro contra indígenas, no caso combate a demarcação de terras e pede até indenização a fazendeiros, votou na reforma previdenciária que prejudicou os milhões de brasileiros mais pobres, participou do golpe contra Dilma Rousseff, defendeu o mandato de Aécio Neves acusado de corrupção, votou em Bolsonaro e foi da base governista referendando o maior desastre administrativo, econômico, social e ambiental da história do Brasil. Come fazem as redes, ajuae a tornar Tebet conhecida dos brasileiros.

A Wikipédia bloqueou a assessora que manipulava dados na página da senadora Sinhá Tebet.


sábado, 25 de junho de 2022

Na capa da Carta Capital: o patrão da Câmara dos Deputados

 


Pressentimentos de Bolsonaro

Imagem reproduzida do Twitter 

por O.V.Pochê

O pastor Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, envolvido em trambicagens pastorais, entregou Bolsonaro em telefonema para a filha. Contou que Bolsonaro legal avisou que teve um "pressentimento" de que a PF faria uma operação de busca nas tralhas de Milton Ribeiro. Na prática era uma dica para o pastor fazer uma seletiva em apartamentos e cafofos. Passar esse bizú é crime de obstrução de investigação e já está em apuração. As redes sociais estão repercutindo os poderes sensitivos de Bolsonaro. Um deles diz que Bolsonaro já pode montar uma tenda para consultas de futurologia com base nos seus pressentimentos. Ele foi capaz, por exemplo, de trazer de volta a fome a a miséria em pouco mais de três anos. Nessa linha paranormal é possível que Bolsonaro tenha praticado "pressentimentos" em muitos casos ao longo do mandato. Rememore:

* Pressentiu que a rachadinha ia virar escândalo.

* Teve uma visão de que Michele receberia um cheque suspeito.

* Anteviu que um filho compraria uma mansão milionária e a mídia ia cair em cima.

* Recebeu um sinal de que sua base na Câmara ia deitar e rolar no orçamento secreto e na derrama e desvio de emendas bilionárias.

* Recebeu um "livramento" durante um culto que o seu cartão corporativo ia estourar e teria que pedir dinheiro emprestado a Queiroz.

* Pressentiu que Bruno e Dom iam "se aventurar na área dos seus apoiadores queridos garimpeiros, pescadores e invasores de terra indígenas.

* Sonhou que haveria superfaturamento em compras de vacinas 

* Uma alma perdida alertou que as Forças Armadas comprariam caminhões de Viagra e não lhe mandariam nem uma amostra grátis.

* Tratoraço (compra de máquinas superfaturadas), negociatas em aquisição de caminhões de lixo acima do preço, escândalo Covaxin, desvios no ministério de Turismo, pedidos de propina em gabinete paralelo... Tudo isso o vidente pressentiu.

*  Hoje o cartomante do Planalto acordou com uma pressão no peito e a sensação de que pode ser preso.  Mas pressente que a PGR e os seus dois ministros pessoais no STF não lhe faltarão.


Cadê o crédito da foto, jornalista!

 


Fotógrafos pedem mais atenção dos veículos digitais para os devidos créditos aos seus trabalhos. Tem sido comum blogs oficiais de colunistas de jornais  esquecerem de registrar o nome do autor da foto, embora este conste da versão impressa e da edição digital em formato diagramado. Um desses casos está na Veja (acima). O fotógrafo Sérgio Fonseca reagiu com bom humor, mas deu o recado, quando a sua foto, uma das últimas do compositor Elton Medeiros, foi creditada apenas como Instagram/Reprodução.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

O novo fake que a mídia de direita impulsiona

 


Se essa capa não te choca, você está pronto para... ganhar crachá do "gado"


 

"Para além" é o cacete! (*)

 

(*) Provavelmente é uma dublagem tosca, meio Disneyworld, do "far beyond". E onde se lê cópia, segundo o corretor imbecil, leia-se copia 

Estadão: Dalton Trevisan segundo Roberto Muggiati

 


Mídia: PVC rasga dinheiro ao vivo


O comentarista do SporTV, Paulo Vinícius Coelho, o PVC, criticou o Flamengo, ontem, por desperdiçar dinheiro ao pagar rescisão a quatro técnicos em apenas 18 meses. Para ilustrar a crítica ele rasgou uma nota de 20 reais. A cena surpreendeu os colegas de bancada.  Cédulas são classificadas como patrimônio da União e danificá-las é crime previsto no Código Penal. PVC pediu desculpas depois e mostrou a nota "restaurada" com fita adesiva ou cola. Veja o vídeo:

 https://youtube.com/shorts/ba_l4drDmlY?feature=share

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Mídia - Vai um sigilo de 100 anos aí? Cala boca institucional agride liberdade de imprensa

Que o governo Bolsonaro tem muito a esconder, é verdade que está às claras.  

Tanto que qualquer mané da administração decreta 100 anos de sigilo por qualquer coisa. 

Virou zona . Um impõe sigilo sobre a agenda. Evita que se tornem públicos encontros suspeitos. Outro não quer que vazem suas viagens de lazer a bordo de jatinhos oficiais. Um terceiro empregou um general de muitas estrelas e alto salário e o demitiu quando soube que uma revista apurava o tamanho da boquinha. O sigilo é tamanho que nem o empregador sabe o que o general fazia no trampo em questão. 

Vendeu um carro em circunstâncias duvidosas? Sigilo nele. Saiu mais cedo da repartição  pra aliviar a dor nas costas em uma casa de massagem? A assessoria jurídica recomenda um sigilozinho de 100 anos. 

Como 2022 é ano de eleição pipocam sigilos pra todo lado.  Se a mulher de um figurão quiser saber da hora em que o marido deixou o local de trabalho terá dificuldade. Até o segurança da portaria é orientado a botar sigilo na informação. Um certo alto funcionário gosta de confraternizar com rapazes na happy hour?  Bota sigilo. Tem de 200 anos? A dona patroa do fulano recebeu um cheque e não sabe que raio de grana pousou na sua conta? Faz aí um sigilo retroativo de 50 anos, rápido.

O fato é que os repórteres que cobrem Brasília estão enfrentando dificuldade extra. E não só em Brasília. O caso do homem assassinado no Rio Grande do Norte por agentes da PRF já está sob sigilo da 100 anos. Há  exemplos de sigilo decretado pelas PMs de varios estados. A Justiça também está mais pródiga em ocultar casos até banais.

A coisa se espalha. Um amigo que voltou pra casa com 10 doses de vodca acima do resto da humanidade decretou ao porteiro do prédio sigilo de 20 anos para a hora e o estado em que adentrou o elevador.  Um esperto planeja instalar um escritório de advocacia para oferecer sigilos para pessoas em geral. 

A lei da transparência virou piada para que tem cargo público. Se precisa esconder é porque boa coisa não é. 


Manchete registrou a temporada de Danuza Leão em Paris, em 1952. Veja a capa de estréia da modelo



Com fotos produzidas do Rio, reportagem da Manchete apresentou Danuza Leão
como modelo internacional após sucesso em Paris. Fotos de Oldar Froes

Danuza Leão morreu ontem, aos 88 anos, no Rio. A ex-modelo, jornalista e escritora sofria de enfisema e estava internada na Clínica São Vicente. Danuza teve uma ligação com a mídia. Antes mesmo de se tornar colunista viveu ao lado de Samuel Weiner toda a luta épica do jornal Última Hora fundado pelo marido e a perseguição que este sofreu. Décadas depois, tornou-se colunista da Folha de São Paulo. Seu currículo inclui experiências com atriz em Terra em Transe, de Glauber Rocha e participação em novela da Globo. 

Em 1952, com menos de seis meses de existência, Manchete registrou os primeira passos de Danuza rumo à fama, aos 19 anos, como mostra o post abaixo que foi publicado neste blog em 14 de dezembro de 2009 resgatando a estreia da modelo na mídia, em grande estilo. Leia o texto qe acompanhava as fotos reproduzidas acima.

4 de outubro de 1952. A revista Manchete, recém-lançada, chegava às bancas com uma modelo brasileira na capa. Sobre a moça deitada na praia, sob céu azul, a chamada "Danuza conquista Paris". Nada menos. Entre os assuntos daquela semana, quando o Rio já experimentava o calor de verão que se anunciava em plena primavera, a revista destacava a morte do cantor Francisco Alves (seria a capa da edição seguinte), a luta pela sucessão (que não aconteceria) entre Getúlio e Adhemar, e uma reportagem do jornalista Hélio Fernandes sobre a agitada vida noturna de Copacabana - eram os tempos do Vogue, Balalaika, Maxim's - mas era Danuza Leão a estrela da edição número 24 da revista que Adolpho Bloch lançava para concorrer com a poderosa O Cruzeiro. A reportagem de Carlos Moreira, com fotos de Oldar Froes começava com a frase "Danuza Leão é um dessas criaturinhas que sempre exigem um adjetivo".

AManchete contou que Danuza estava em uma festa de Jacques Fath, em um castelo em Coberville, a convite dos Diários Associados, quando o famoso costureiro encantou-se pela brasileira e ofereceu-lhe um contrato de 100 mil francos mensais. "E foi assim que a capital da moda ganhou o primeiro manequim brasileiro - Danuza - que, com 19 anos, será provavelmente o mais jovem modelo de modas do mundo", concluiu o repórter.


Por que Maria Lúcia Dahl não contracenou com Marlon Brando no Último Tango? • Por Roberto Muggiati

 

Maria Lúcia Dahl faria o papel de Rosa, a mulher de Marlon Brando

Morando em Paris em 1972, Maria Lúcia Dahl foi convidada para atuar em O Último Tango em Paris. Bernardo Bertolucci foi colega de Gustavo Dahl no Centro Sperimentale de Cinematografia em Roma e ficou amigo dela também. Prometeu-lhe o segundo papel feminino mais importante do filme, o de Rosa, a mulher de Marlon Brando, que se suicida com a navalha do amante num mar de sangue na banheira do hotelzinho mambembe, propriedade de sua mãe. O Último Tango não é só sobre Sexo, é também sobre a Morte. Antes do funeral, Rosa é velada no quarto do hotel, toda de branco cercada de rosas. Uma das cenas mais notáveis do filme é o monólogo de Marlon Brando diante da defunta, uma DR unilateral desesperada em que tenta exorcizar toda a dor da perda.

Quando Maria Lúcia me contou essa história, lembrei a ela que Kevin Costner teve seu primeiro destaque no cinema no papel de um cadáver que reúne um grupo de amigos em The Big Chill/O reencontro. Ela depois contaria em sua coluna do Jornal do Brasil em novembro de 2008 como foi duplamente passada para trás e perdeu o papel. “Respondi [a Bertolucci] que para ficar ao lado de Marlon Brando toparia ser uma morta muito viva, que o espreitaria sutilmente com o rabo do olho.”

Entra em cena a vilã da história, a figurinista do filme, que a princípio Maria Lúcia elogia: “Metka vestia a Maria Schneider com chapéus de aba larga, vestidos compridos e botas, num novo estilo hippie chique.” 

Decepção. “Mas acabaram contratando outra atriz, Veronica Lazar, para fazer a tal morta. Disseram-me que ela fez carreira na Itália e casou com o Adolfo Celi. Eu, hein, Rosa...” 

E a explicação: “De repente, no meio da conversa sobre um passado remoto lembrei-me de uma cena que tinha sepultado no meu inconsciente. Foi exatamente na época do filme que, recém-separada do meu marido exilado, fui deixar, como combinado, minha filha pequena para passar o fim de semana na casa dele. Como ninguém respondesse à campainha, vi que a porta da casa e a do quarto estavam abertas e fui entrando. Encontrei meu ex-marido dormindo nos braços da Metka. Ela abriu um olho e, assim que me viu, fechou-o novamente, como eu havia planejado fazer com a entrada em cena do Marlon Brando – e fingiu-se de morta. Reprimi tanto esse fato que a ficha deve ter ficado entalada em algum lugar do meu coração ou do cérebro, até concluir que ela, a revolucionária do figurino, deve ter feito a cabeça do Bertolucci contra mim.” 

Fotomemória de O Cruzeiro - Veja o time de diagramadores e auxiliares da revista dos Diários Associados nos anos 1950. Três deles, inclusive J.A.Barros, foram depois contratados pela Manchete

J.A.Barros à frente da equipe de diagramação do Cruzeiro. A foto foi feita na redação
 da revista na Rua do Livramento, no Rio de Janeiro. Arquivo Pessoal

por José Esmeraldo Gonçalves
A foto está reticulada mas vale muito como memória. Aí estão profissionais da diagramação de O Cruzeiro nos áureos tempos da revista nos anos 1950. No centro da imagem  - onde a maioria está engravatada - aparece J.A.Barros. À esquerda, sentado na mesa, Pedro Guimarães, o Pedrão; Nelson Gonçalves, em pé, ao lado de Barros. Os três foram depois contratados pela Manchete e assim tiveram a oportunidade de trabalhar nas duas maiores revistas ilustradas do Brasil. Nesse segmento O Cruzeiro não só fez história como foi a líder absoluta durante décadas. Só na virada dos anos 1960, reformada e modernizada pelo diretor Justino Martins, a Manchete se impõs e gradativamente passou a dominar o mercado. Em meados da década tornou-se a revista de maior circulação do país. 

Barros, com quem trabalhei nas revistas Fatos & Fotos, Fatos e Manchete aponta diferenças nos métodos de diagramação entre O Cruzeiro e a publicação da Bloch.

 "Na Manchete, projetávamos as fotos coloridas nos layouts e esboçavamos a lápis cada imagem, para marcar o corte. Nas fotos em preto e branco usávamos ampliações onde assinalávamos os cortes. Em O Cruzeiro marcávamos no layout apenas o espaço das fotos e mandávamos para o laboratório. Lá as fotos escolhidas eram ampliadas ou reduzidas de acordo com esse espaço pré-determinado e, em seguida, eram copiadas em papel. Nós colávamos as fotos no layout. As fotos coloridas eram colocadas sobre a mesa de luz e tinham os cortes de diagramação marcados com fita vermelha. Também eram copiadfas em papel. Assim, todas as páginas eram completamente montadas e podíamos avaliar o impacto visual da edição final, com texto, títulos, legendas e fotos. Era muito trabalhoso, caro e improdutivo. E levava mais tempo. Ganhei muito dinheiro em hora extra em função desse sistema (O Cruzeiro pagava em dobro as viradas de noite)".  

Frase do Dia: o visor, o sensor, o horror

"A guerra é como uma atriz, cada vez mais perigosa e cada vez menos fotogênica."

Robert Capa (1913-1954)

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Calça arriada

 

Reprodução Twitter

por O.V.Pochê

As eleições nem chegaram ainda e o bolsonarista já está levando calça arriada em público. Ontem, no SBT, as calças de Silvio Santos caíram. Quem quer cueca?

domingo, 19 de junho de 2022

Mídia - o bolsonarismo envergonhado

 Os principais veículos jornalísticos do mundo classificam Bolsonaro como de ultra direita, o que ele é.  A mídia conservadora brasileira, não.  Provavelmente porque o rótulo pode respingar nos seus editoriais radicais e no currículo. Como apoiaram todos os golpes que o Brasil sofreu ao longo da história e como referendaram e fizeram campanha para Bolsonaro em 2018, são passageiros do mesmo barco. A penúltima cartada da mídia no campo da direita será sustentar  Simone Tebet.  A última - se a madame  de raízes bolsonaristas nas últimas eleições não decolar e a disputa final for entre Lula e Bolsonaro - será pedir crachá para participar das motociatas e repetir o apoio ao Bozo e ao seu debochado Tchutchuca da economia.  Não duvidem.

Mídia - Paulo Guedes é um vírus sem vacina

Não existe imunizante contra a incompetência, os interesses e as cepas de Paulo Guedes no desastre econômico que ele injetou no Brasil. 

Só pé na bunda nas próximas eleições. 

O Globo de hoje publica matéria com dados da FGV, IBGE, Portal da Transparência e do próprio Governo Federal que demonstram que o Brasil regrediu até 30 anos em meio ambiente, bem-estar, educação, inflação e produção industrial. Fome e pobreza extrema estão de volta. 

A desculpa da pandemia não cola porque os índices já eram ruins antes da chegada do vírus e outros países evitaram os efeitos mais catastróficos. 

Agora ele se pendura na guerra da Ucrânia, já foi a estiagem, o excesso de chuvas, as marolas políticas, o STF, o TSE, a empregada doméstica que ia para a Disney, o filho do porteiro abusado que entrou pra faculdade. Ele só não reclama da gastança dos militares e do Centrão.

Curiosamente, mas não tanto, a mídia poupa o Guedes. A crítica ao seu desempenho medíocre jamais é relacionada à sua mediocridade. Colunas e matérias inteiras são escritas sem que o nome do sujeito seja citado. É como se o desastre da economia fosse coisa dos deuses.

sábado, 18 de junho de 2022

Caiu Joe Biden

 


Reprodução Twitter. Veja o vídeo.

https://twitter.com/eixopolitico/status/1538175723885711361?t=B0SkWt-hWNCYfCbiBgCynQ&s=19

Transamazônica: o marco zero da destruição da Amazônia

 

Foto Gil Pinheiro

Gil Pinheiro e Joel Silveira na Transamazônica em 1972

por José Esmeraldo Gonçalves

Há 50 anos, o repórter e escritor Joel Silveira e o fotógrafo Gil Pinheiro fizeram uma grande reportagem sobre a Transamazônica. A estrada em construção rasgava a floresta até então intocada. À medida em que as obras avançavam, a ditadura instalava "agrovilas ao longo do percurso. O projeto acelerava a migração de famílias do sul do país e do nordeste. As primeiras vítimas das "agrovilas" eram os indígenas, as árvores e os animais dizimados pela caça. Na sequência vieram os garimpeiros. A Transamazônica era o vetor da destruição. 

A reportagem da Manchete publicada em 1972 nada tinha de crítica ou de isenta. Era um desfile colorido de ufanismo, como o Brasil da época do regime militar. 

Não por acaso, a política deu voltas e voltou ao mesmo ponto. O Brasil vive hoje um regime virtualmente militar tantos são os milicos comandando o país em postos-chave. O governo Bolsonaro  retomou e deu ainda mais força à destruição da floresta agora ocupada também por organizações criminosas. 

O que indígenas, indigenistas e ecologistas conquistaram em governos menos predatórios e ignorantes - avanços significativos embora menores do que a imensidão do problema ambiental - se perde na política corrupta do favorecimento da era bolsonarista.  De militares a militares a estupidez fechou um círculo que custou centenas talvez milhares de vidas anônimas. Dom Phillips e Bruno Pereira, imolados, são o mais recente e infelizmente não o símbolo final da Amazônia que o Brasil destrói. 


sexta-feira, 17 de junho de 2022

Maria Lúcia Dahl: da sombra do Arco do Triunfo às madrugadas do Baixo-São João Baptista • Por Roberto Muggiati

Aos 20 anos, então Maria Lúcia Pinto, no palacete do embaixador Paulo Carneiro, em Paris.
Fotos: Arquivo Pessoal

Foram cinquenta anos de amizade, entrecortados por nosso Wanderlust em várias paragens mundo afora. Conheci Maria Lúcia Pinto em Paris, 1961, no palacete de Paulo Carneiro, nosso embaixador junto à Unesco, numa transversal de uma das grandes avenidas que irradiavam da Étoile do Arco do Triunfo. Tinha 19 anos e, para mim, era a mulher mais bonita e desejável do mundo. Elegante, sua griffe era Chanel, roupas e perfume.

Eu era um bolsista pobre, mas tive a sorte de encontrar um hotelzinho no local mais charmoso de Paris, na Place Dauphine, na proa da Île de la Cité, onde as águas do Sena se bifurcam debaixo do Pont Neuf. O pai do surrealismo André Breton também morou lá e menciona o City Hôtel em seu romance-chave Nadja.  Eu recebia um dinheirinho de minha família de Curitiba e o reservava para concertos de jazz no Olympia e noitadas excepcionais no Blue Note. Maria Lúcia viajava com os pais, Mário e Regina, e com a irmã Marília. Tentei seduzi-la convidando para shows de jazz. SeLembro de uma noitada com o quinteto dos irmãos Adderley, Julian “Cannonball” e Nat no Olympia, depois do show nos juntamos a amigos que nos esperavam no Harry’s New York Bar: Marília, Joaquim Pedro de Andrade, duas ou três funcionárias da coorte de Paulo Carneiro na Unesco. Uma delas, Neusa Azambuja, tinha um carro. Depois de umas e outras, nos pusemos a tramar uma incursão a Bruxelas para sequestrar a estátua do Manneken Piss – o famoso Manequinho Mijão. Os vapores etílicos acabaram dissipando a brilhante ideia. Quando saímos do Harry’s, a manhã precoce de primavera já raiava, fomos passear no Jardim das Tulherias, Maria Lúcia mais inclinada pelo Joaquim Pedro, eu com Marília, que era noiva do filho do embaixador, Mário Carneiro, grande fotógrafo do Cinema Novo, com quem casaria depois. (Marília Carneiro tornou-se figurinista da TV Globo e uma das melhores do país.)

Corte rápido do Sena para o Tâmisa, às margens do qual eu morava em  1963. Depois de uma noitada num pub à beira-rio, levei um grupo para o meu apartamento no 8 Embankment Gardens. Eu ia passar um mês de férias na Itália e o decorador Rodrigo Argollo, que fazia parte da turma, queria sublocar meu apartamento. Maria Lúcia foi junto, toda de preto. Reparei um furo no seu suéter, a região da omoplata, e enfiei o dedinho nele. Era o detalhe do fim da farra: em breve todos nós, por absoluta falta de dinheiro, voltaríamos para o Brasil, pisando pela primeira vez no Rio da ditadura militar. Casado com a Lina, que conheci em Paris, e era amiga da Maria Lúcia, fomos visita-la e ao marido Gustavo Dahl, cineasta que ela conhecera em Roma, na casa de vila que ela ganhou do pai, o engenheiro e empreiteiro Mário Pinto. Na tarde do réveillon de 66 para 67, Mário morre de mal súbito. A viúva, Regina – outro golpe brutal para Maria Lúcia – suicida-se saltando do seu apartamento no Flamengo. No réveillon seguinte, na famosa festa na casa de Heloisa Buarque de Holanda, duas dezenas de casais se separaram, inclusive a anfitriã e Maria Lúcia, depois de tomar uns sopapos do enciumado Gustavo por ter dançado de rosto colado com um galã egípcio, ou coisa parecida.

Novo corte, para 1972 em Paris. Lina e eu visitamos Maria Lúcia, que está grávida de sua única filha, Joana, com o segundo marido, o líder estudantil exilado Marcos Medeiros.

Com Malu: bom humor no lançamento
do livro Aconteceu na Manchete,
na Travessa do Leblon, em 2008.
Foto: Jussara Razzé
E então um hiato enorme, até o final de 2008, quando – um dos 16 autores do livro Aconteceu na Manchete – estou na noite de autógrafos na Travessa do Leblon. Começo a visita-la na eterna casa de vila coberta por uma mangueira na São João Baptista, 41. Toda noite de sexta-feira, compareço com um vinho tinto chileno e uma pizza gigante (sem duplo sentido). Mal me sento no sofá esfarrapado, o gato Netuno vem sentar-se no meu colo, um grafite, uma gracinha. Vemos um filme (lembro uma noite, com uma grande amiga dela, assistimos àquela obra-prima do Fritz Lang, Metropolis.) Depois ficamos horas jogando conversa fora, fofocando, lembrando os velhos tempos. Saio de madrugada e a quadra final da rua ainda está tomada por um burburinho de mesas e cadeiras que avançam até a metade da pista naquelas loucas baladas eufóricas da década que seria liquidada pela Covid-19 (de 2019). Certa noite, vamos de táxi ao lançamento de um livro de frei Leonardo Boff no Colégio Bennett. Sugiro que, para encurtar o trajeto, a gente pegue a Travessa dos Tamoyos. “Prefiro não”, diz Maria Lúcia, “minha mãe se matou nesta rua.”

Eu a chamo de Maria Lúcia Dahl-ou-desce! – incorrendo naquela piada-chavão machista. Malu também  tem humor, me contou uma história deliciosa. Idosos, com planos de saúde que nos tratam como debilóides (o meu, do Silvestre, fazia testes me obrigando a contar os dedos da mão, ou caminhar em linha reta de uma parede à outra do consultório, só faltava mandar fazer o 4...) – sua amiga Nelita Léclery, cujo primeiro casamento aos vinte anos foi com Vinícius de Moraes, foi sabatinada por um paramédico que, a certa altura, lhe perguntou, no item quesitos gerais para avaliar demência precoce: “A senhora sabe quem foi Vinícius de Moraes?” Responde Nelita: “Claro. Foi meu marido.” Só não a internaram porque era casada com o milionário francês Gérard Léclery. 

Siga em paz Maria Lúcia, daqui a pouco – quem sabe? – a gente se reencontra por aí...

Maria Lúcia Dahl (1941-2022): uma vida em cena

Foto; Divulgação
por Ed Sá 
Uma das mais belas atrizes brasileiras, Maria Lúcia Dahl morreu ontem, no Rio de Janeiro, aos 80 anos. Desde 2020 ela vivia no Retiro dos Artistas. A atriz sofria do Mal de Alzheimer e estava hospitalizada em função de complicações nos rins. 

A partir dos anos 1970, Maria Lúcia brilhou em novelas da Rede Globo. Participou de “Torre de Babel”, “Anos Rebeldes”, “Anos Dourados” e “Dancin’ Days”, "O Espigão", "Gabriela" e "Espelho Mágico" (1977). Em 2011 atuou em “Aquele Beijo”, sua última novela. 

Carioca, de família tradicional, Maria Lúcia se casou, em Roma, com  o cineasta Gustavo Dahl. Sua estreia no cinema aconteceu em "Bahia de Todos os Santos", de José Hipólito, em 1960. Vieram "Menino do Engenho", de Walter Lima Jr, "A Grande Cidade", de Cacá Diegues, "Pobre Príncipe Encantado", de Daniel Filho,  O Bravo Guerreiro" de Gustavo Dahl, "Cara a Cara", de Júlio Bressane e  "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade.

O segundo casamento de Maria Lúcia foi com o líder  estudantil Marcos Medeiros, o que a levou a se engajar na luta contra a ditadura e, em seguida, ao exílio em Paris.  De volta ao Brasil, tornou-se um dos simbolos sexuais na era da porchanchada. Dessa época são os filmes "O Gosto do Pecado" e "Mulher Objeto", mas ele não se limitou ao gênero e atuou em "Um Homem Célebre", de Miguel Faria Jr., "Guerra Conjugal", de Joaquim Pedro de Andrade, "Eu Matei Lúcio Flávio". Nos anos 1990 atuou em "Veja Esta Canção", de Cacá Diegues, "Quem Matou Pixote?", de José Joffily, e "O Gerente", de veterano Paulo César Saraceni, foi colunista do Jornal do Brasil e escreveu cinco livros, entre os quais "O Quebra Cabeças" e "A Bailarina Agradece". 

Maria Lúcia deixa uma filha, a atriz Joana Medeiros.