Você já deve ter visto a imagem centenas de vezes. 1950, Brasil e Uruguai decidem a Copa Jules Rimet. Ghiggia recebe a bola de Júlio Perez, corre, aproxima-se do gol, Bigode acompanha a jogada, pensa, talvez, que virá um cruzamento para a área, mas o uruguaio chuta direto a gol e vence o goleiro Barbosa. Uruguai campeão do mundo. O filme em 16mm, que a televisão tantas vezes exibe, mostra Barbosa caído. Um zagueiro leva a mão à cabeça em sinal de puro desespero. Aquele zagueiro era o titular Juvenal, que morreu ontem, aos 86 anos, na Bahia. Além da atuar na seleção, jogou no Palmeiras, Flamengo, Pelotas, Bahia, entre outros clubes. Como todos os craques daquela brilhante seleção, vice-campeã do mundo, Juvenal carregou pelo resto da vida a fama e o trauma de ser um dos protagonistas de uma derrota que entrou para a história. Sobre aquele dia de mágoa, que só agora, na última viagem, se apaga no coração de Juvenal, Carlos Heitor Cony citado na introdução do livro Anatomia de uma Derrota, de Paulo Perdigão (a propósito, dois outros craques, Cony e Perdigão, amigos que atuaram na revista Manchete), escreveu. "Deixei de acreditar em Deus no dia em que vi o Brasil perder a Copa do Mundo no Maracanã. Duzentas mil pessoas viram quando Ghiggia fez o segundo gol do Uruguai. Foi um lance claríssimo, sem qualquer confusão que pudesse suscitar dúvidas: havia apenas Ghiggia, Bigode, Juvenal e Barbosa. Pois bem: depois do jogo, não encontrei uma só pessoa que descrevesse aquele lance da mesma maneira. Então, como acreditar na versão de meia dúzia de apóstolos, os poucos que viram Cristo ressuscitar, meio na penumbra, num local ermo e obscuro?"
Se é lugar-comum, vale assim mesmo: que Juvenal, descanse em paz. A expressão é apropriada aos craques de 50, marcados e atormentados em vida pela derrota que o Brasil jamais entendeu e aceitou. Um sentimento que nem o Penta apagou. Vá entender... (nas reproduções, a cena do célebre documentário de Milton Rodrigues e a ficha de Juvenal dos arquivos da antiga CBD)
Um comentário:
Eu sou de uma gerção que não viu a derrota de 50 mas ela está presente na história do futebol. A sele ção de 50, assim como a de 82, não ganhou o tútulo mas deu exibição de futebol-arte. Deve ser respeitada.
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