Hoje adicionei na barra vertical aí à direita alguns links para blogs amigos ou sites interessantes. Um deles, o blog Pausa do Tempo, da jornalista Valéria Martins, informa sobre uma série de encontros que ela criou, em parceria com o diretor do Laborátório Estação, David França Mendes, para responder a uma estimulante questão: Como os escritores criam?
(Os encontros começam na semana que vem e as inscrições estão abertas no site: http://www.grupoestacao.com.br/laboratorio/)
Valéria diz, com razão, que "todo mundo que gosta de escrever quer saber como os escritores criam". O interessantíssimo tema dos encontros me lembra um livro lançado pela Paz e Terra em 1968, Escritores em Ação. Não sei se foi reeditado, mas guardei um exemplar. Trata-se de um série de entrevistas concedidas por grandes escritores à célebre Paris Review, um revista publicada por americanos na Europa. O coordenador da coletânea, Malcolm Cowley, imagina que há quatro fases na composição de uma história: "primeiro, vem o germe da narrativa; depois, um período de meditação mais ou menos consciente; a seguir, o primeiro rascunho e, finalmente, a revisão (...) que poderá conduzir à redação de vários rascunhos, chegando quase a constituir uma nova obra".
Os escritores, nos seus "processos criativos", são surprendentes. William Faulkner dizia que, para ele, o ambiente não tinha a menor importância. "O melhor emprego que me ofereceram foi o de dirigente de um bordel. Em minha opinião, é o meio perfeito para um artista trabalhar. (...) O lugar é quieto durante as horas matinais, o melhor momento do dia para trabalhar. Há bastante vida social à noite. (...). O único ambiente de que o artista necessita é o que lhe possa proporcionar paz, solidão e qualquer prazer que possa obter por um preço não muito elevado. Segundo minha experiência, as únicas ferramentas de que necessito para meu ofício são papel, comida e um pouco de uísque". Georges Simenon revelou que logo que tinha o começo de uma história não conseguia aguentar muito tempo. "Tomo minha lista telefônica para a escolha dos nomes, apanho meu mapa da cidade para ver exatamente onde as coisas acontecem. E, decorridos dois dias, começo a escrever. O começo será sempre o mesmo, é quase geometria; tenho tal homem, tal mulher, em determinados ambientes. Que poderá acontecer-lhes, a fim de levá-los a situações extremas? Eis aí a questão". Alberto Moravia refazia várias vezes cada livro. "Agrada-me comparar o meu método com o de pintores de há muitos séculos, trabalhando, por assim dizer, de camada em camada. O primeiro rascunho é bastante cru, longe de ser perfeito e, de algum modo, completo - embora mesmo então, mesmo nesse ponto, já tenha sua estrutura final e sua forma já seja visível". Henry Miller contou que não tinha método especial. "Geralmente ponho-me a trabalhar logo após o breakfast. Sento-me logo diante da máquina. Se vejo que não sou capaz de escrever, desisto. Mas não há, via de regra, fases preparatórias". Segundo HM, as idéias lhe surgiam em momentos tranquilos, silenciosos, quando fazia a barba ou até ao conversar com as pessoas. Dizia que Paris fazia bem à sua arte exatamente pelo convívio nas ruas, nos cafés. Aldous Huxley escrevia capítulo a capítulo, isto é, gostava de terminar um, completamente, antes de partir para a sequência. Enfim, cada um na sua, cada um criando e teclando à sua maneira. Não tenho dúvidas de que a série de encontros Como os escritores criam?, promovida pela Valéria, é indispensável a quem quer desvendar um pouco este admirável e fascinante ofício.
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Um comentário:
Muito interessante conhecer essa intimidade dos escritores. Imagino que esses encontros vão enfocar escritores brasileiros, o que será ainda mais atraente. Infelizmente, não terei a oportunidade de ir ao Rio. Li, certa vez, que Hemingway não perdia oportunidade de reescrever e reescrever seus livro. Teria reescrito Adeua às Armas por 30 vezes.
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