quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Álbum de redação: Katherine Graham na Manchete

Por Roberto Muggiati

Em 1986, com Adolpho Bloch e Katherine Graham, no 10° andar do prédio da Manchete. Foto Acervo RM

Com seu jornalismo combativo, The Washington Post se celebrizou em 1974 ao provocar a renúncia do Presidente Richard Nixon na megacobertura do Caso Watergate, que durou dois anos. O episódio valeu o superfilme Todos os homens do Presidente (1976), em que os repórteres-estrelas Bob Woodward e Carl Bernstein foram interpretados por Robert Redford e Dustin Hoffman, e Jason Robards ganhou o Oscar de Ator Coadjuvante no papel do editor Ben Bradlee.

Tom Hanks (Ben Bradley) e Meryl Streep (Katherine Graham)  em cena do filme The Post: a guerra secreta.
Foto Divulgação


Uma foto histórica. Em abril de 1973, 15 meses antes da renúncia de Richard Nixon e com o jornal sob alta pressão da Casa Branca, Katherine Graham e os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein conversam com os editores
Howard Simon e Ben Bradley. Foto Mark Goffrey/Reprodução Pinterest

No filme, dirigido por Alan J. Pakula, a dona do jornal, Katherine Graham, não aparece. Agora, no novo filme de Steven Spielberg, The Post: a Guerra Secreta ela tem um papel-chave, interpretada por Meryl Streep. O conflito da história gira em torno da dona do Washington Post e do editor Ben Bradlee, interpretado por Tom Hanks, o ator-fetiche de Spielberg. Trata dos danos que poderia causar ao jornal a publicação de documentos confidenciais sobre a Guerra do Vietnã, os famosos “Pentagon papers”.

Em 1986, editor da revista Manchete, ajudei Adolpho Bloch a receber a dona do Washington Post, que visitava o Brasil. Ms. Katherine Graham se mostrou dócil e simpática, mas senti uma firmeza formidável por trás daquela aparência (enganosa) de avozinha do Meio-Oeste americano. O encontro foi na espaçosa sala de visitas do décimo andar do 804, com sucos e biscoitos – era verão e fazia muito calor no Rio, um chá seria totalmente fora de questão. Katherine Graham (1917-2001) tinha 69 anos. Conversamos generalidades, o mundo tinha mudado muito. Era o segundo mandato de Ronald Reagan, a Guerra Fria vivia seus estertores, Gorbachev preparava o fim do Império Soviético com a Glasnost e a Grã-Bretanha era comandada por um Reagan de saias, Margaret Thatcher (outro papel de Meryl Streep). Em Pindorama, reinava Sarney, iniciando o segundo ano do seu desastroso governo.

Voltando à Manchete: para nosso vexame supremo – era fim de tarde de uma sexta-feira – o bairro do Flamengo sofreu um apagão geral. Foi uma experiência insólita: à luz de velas, prontamente providenciadas por Dona Arminda e seu batalhão de serviçais, – Adolpho a dois anos de completar seus “quatre-vingt ans” – e a dona do Washington Post robusta, mas à beira dos setenta anos, tivemos de descer os dez andares até o majestoso saguão abençoado pela escultura gigantesca do Krajcberg.

Agora, trinta e dois anos depois, só me resta rever Ms. Graham encenada por Meryl Streep, no filme de Spielberg.

4 comentários:

J.A.Barros disse...

Na opinião de Adolpho Bloch: "robusto" era bebê Jonhson.

Heitor disse...

Filme oportuno que retorna ao caso do Washington Post. Jornais americanos estão sob ataque do ditadorzinho de TV Trump.

Corrêa disse...

Na imprensa daqui uma reunião dessa só acontece se for pra pedir dinheiro ao governo kkkkkkkkkk

Rick disse...

Aqui nem acontecia de denunciar Watergate, umas verbas já calava as bocas da midia