sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Da Manchete para a Lava Jato: quando o inimigo morava ao lado...

Quando ainda não era vilão e o presídio de Benfica não fazia parte do seu currículo, o ex-presidente do TCE-RJ, Aloysio Alves, o primeiro a partir da esquerda, participa de uma comemoração na Manchete ao lado de Wilson Cunha, Roberto Muggiati, Lairton Cabral e Marechal. Este, na ponta direita, apesar de mais distante do personagem que hoje é alvo
da Operação Quinto do Ouro, protege o bolso: coincidência ou premonição?   

por Flávio Sépia

No ano passado, a Polícia Federal atirou no que viu - a Operação Quinto do Ouro, desdobramento da Lava Jato que atingiu figuras do Tribunal de Contas, Assembléia do Rio de Janeiro e da Fetranspor - e acertou no que não viu: um antigo personagem da Manchete.

Como então presidente do TCE-RJ, Aloysio Neves foi conduzido ao presídio de Benfica para cumprir prisão temporária. Antes jornalista, o conselheiro agora atrapalhado passou pelo Jornal do Commercio, foi colaborador da coluna Carlos Swann no Globo e, de 1970 a 1978, trabalhou na Bloch Editores. Começou como uma espécie de relações-públicas que evoluía no foyer do Teatro Adolpho Bloch, logo passou a colaborar com as revistas Domingo Ilustrado, Fatos & Fotos e Manchete.

Neves acalentava objetivos mais altos: tornou-se Assessor Especial da Presidência do Grupo Bloch Editores e Diretor Administrativo do Teatro Adolpho Bloch. Logo depois ingressou no serviço público e nos gabinetes de secretários e governadores até chegar a consultor de Neuzinha Brizola para amenidades, assessor legislativo de Sérgio Cabral, ao TCE-RJ e, finalmente, às grades.

Aloysio Neves ao receber a Medalha do Mérito
 Legislativo da Câmara dos Deputados.
Reprodução/TCE-RJ

O currículo de Aloysio Neves registra condecorações como o Colar do Mérito Judiciário, Comendador da Ordem do Mérito do Trabalho e uma "Medalha Avante Bombeiro". A Associação Brasileira dos Colunistas de Marketing e Propaganda lhe concedeu o prestigiado Diploma do Destaque do Ano de 2009 do Prêmio Colunistas de Publicidade. Não só os pares nacionais reconheceram as "subidas honras' do atual investigado na Operação Quinto do Ouro: a Rainha Elizabeth também foi enrolada e deu ao intrépido Aloysio a Medalha da Ordem Royal Victorian. É mole? E Marcelo Caetano, ex-Primeiro Ministro de Portugal pregou na lapela do brasileiro a insígnia de Oficial da Ordem Militar de Cristo.


A revista Veja Rio colocou na capa, na primeira edição de 2018, o endereço carioca mais badalado do momento: o presídio de Benfica, que entra para a história como o "resort" compulsório e oficial de 2017 para várias ex-autoridades e empresários. A matéria feita pelo repórter Rafael Sento Sé tem momentos revista "Caras" e revela a intimidade das "celebridades" do "castelo" de Benfica. Uma dessas inconfidências envolve Aloysio Neves.


A Veja Rio relata:"um escândalo de corrupção que veio à tona em meio à Operação Asfalto Sujo 2 acabou expondo um relacionamento que não seria da conta de ninguém não fosse o teor das conversas gravadas na investigação".

Pelo jeito, as histórias secretas de operações como Quinto do Ouro, Irmandade, Cui Bono, Leviatã, Tesouro Perdido, Lava Jato, Recebedor, Gotham City, Unfair Play, Descontrole, Senhor dos Anéis, Carne Fraca, Good Vibes e Saia Justa ainda vão fazer a alegria dos cineastas que investem no filão de longas e séries sobre delatados, delatores, justiceiros, heróis e vilões do novelão brasileiro.

Um comentário:

Corrêa disse...

Como esse aí, acusados e condenados por corrupção era paparicados e exaltados.Empresários ladrões eram do society. E a festa continua para os que estão soltos e continuam mandando aí no governo.