quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Jornalismo investigativo - Repórteres disfarçadas se infiltram em festa beneficente onde o assédio sexual é "liberado".


Reprodução Financial Times
Até aqui, a mídia dedicou espaço e páginas às denúncias de assédio sexual. A partir delas, de Hollywood ao Rio de Janeiro, de Paris a Londres, depoimentos foram colhidos, psicólogos foram ouvidos e os RHs da empresas passaram a se preocupar com o assunto e até a criar códigos de conduta para prevenir comportamentos inadequados entre seus funcionários.

Para o Financial Times, pelo menos, essa fase passou. O jornal britânico incluiu o assédio sexual entre as pautas do seu núcleo de jornalismo investigativo.

Embora especializado em economia, uma das suas matérias mais destacadas, hoje, denuncia grandes empresários londrinos, alguns ligados à prefeitura da cidade, de promoverem um leilão beneficente black tie  - uma tradição de 33 anos -, onde o assédio sexual teria corrido solto. Isso apesar do programa impresso distribuído aos participantes pedir que não assediassem sexualmente o distinto público ou a equipe do evento. Fazia sentido. Apenas homens foram admitidos no leilão, mas a exceção era o problema: belas recepcionistas contratadas, várias delas jovens universitárias que tentavam anabolizar a renda mensal. Os lotes em leilão incluíam, entre outros, uma noite em um clube de strip tease e bônus de cirurgia plástica, com o apelo nada sutil de "Adicione tempero à sua esposa". As recepcionistas eram informadas de que os homens poderiam ser "irritantes", mas que trabalhariam em um lugar "inteligente e sexy". Elas deveria usar sapatos pretos, roupas íntimas pretas, cabelos e maquiagem impecáveis. A produção do evento forneceria os vestidos. Entre o grupo que topou o serviço  - ser alta, magra e bonita eram pré-condições  - havia advogadas em busca de contatos, executivas de marketing, dançarinas e modelos.

Agora, a polêmica jornalística: o Financial Times infiltrou duas repórteres disfarçadas entre as hostess para tentar registrar o bundalelê de assédio explícitos. Ao lado da repercussão da matéria, o método investigativo também virou motivo de discussão entre comunicólogos. Insistência em pegar nas mãos das recepcionistas, convites para uma visitinha ao quarto do hotel eram comuns na noitada chique, No clima de consumo de vodca, uísque, o passo seguinte era puxar as jovens para o colo. Uma das meninas contratadas queixou-se de abuso quando precisava ir às mesas e lhe passavam a mão na bunda e nas pernas, outra contou às repórteres que um alto executivo havia lhe mostrado o pênis. Uma das garotas defendeu os empresários e alegou que eles apenas "flertavam" sem maires consequências. Além disso, o staff feminino era incentivado a interagir com os convidados. Pelo menos uma delas, definiu a noite como "divertida", com a vantagem de poder beber no emprego. De uma hostess, as jornalistas ouviram um desabafo: "Não acredito que estou aqui de novo" - e confessou que era a quinta vez que ela participava da festa exclusivamente por precisar de dinheiro.

Um comentário:

Dênis disse...

As moças foram obrigadas a ir nessa festa? Se existe há tantos anos não sabiam do que se tratava. Acho que as mulheres têm o direito de aceitar o emprego que quiserem. Ou ir embora, caso não seja o que esperavam.