sábado, 20 de fevereiro de 2021

Brasil, um país de "temporários" e "intermitentes"

por Flávio Sépia

O Brasil perdeu a Revolução Industrial. É, até hoje, um país agrário. Vende apenas e praticamente commodities, o que equivale a trocar bens por espelhos e colares, como faziam os nativos diante do colonizador europeu. 

Todas as tentativas de Getúlio Vargas, JK, Jango, Lula e Dilma - e mesmo da ditadura militar - de transformar o país em algo mais do que exportador de grãos e minério de ferro (e, por tabela, de empregos) foram demolidas pela elite empresarial quase sempre aliada a interesses que mantêm o país em eternos subdesenvolvimento e dependência.. 

O Brasil perde agora a Revolução 5.0, a era da inovação, a que leva trabalhadores a atuar em ambientes onde podem expandir seus conhecimentos e criar soluções e não apenas a repetir processos. 

O choque do futuro preconizado por Alvin Toffler chegou e o Brasil não fez check in. 

A cada dia, a produção é gerada menos em fábricas e mais em qualquer lugar, em casa, garagens, hotéis, salas de universidades e institutos de pesquisa. As maiores corporações da atualidade não foram construídas em linhas de montagem. 

Bem no meio dessa revolução, o Brasil faz uma reforma trabalhista que cria as exóticas categorias de trabalhadores "temporários" e "intermitentes" que tendem a excluir  do processo inovador a peça mais criativa, o colaborador da empresa. O "temporário" é o trabalhador com prazo de validade curto e com o carimbo de "vencido" sempre à vista. Seu compromisso tem data para acabar. O "intermitente"  é o que diz "bom dia" ao chegar e não sabe se estará ainda no seu posto de trabalho a tempo de dar uma "boa noite" de despedida. Esse nem tempo tem para se integrar a um processo inovador de produção. 

E a tendência é que o país se transforme em "intermitente". A modalidade que mais cresce no mercado de trabalho. Tudo a ver: uma das definições para intermitente é ""com interrupções, intervalos; sem continuidade".

Permanente só a exclusão.

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