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quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Memórias da Redação - Há 30 anos, a última mensagem de Adolpho Bloch e o estranho caso da urna enterrada e esquecida na Quinta da Boa Vista. Por José Esmeraldo Gonçalves

 

A página de abertura da Manchete especial sobre a morte de Adolpho Bloch.
Clique na imagem para ampliar o texto 


No dia 20 de novembro de 1995, chegava ao fim do meu último ano na Revista Manchete, da qual me desligaria em fevereiro de 1996. Fechava-se uma etapa da minha carreira e, a revista perdia seu fundador. Foi um mix de dia agitado e de comoção diante do fechamento da edição especial sobre Adolpho Bloch. Enquanto o numero 2.277 tomava forma na redação,  oito andares abaixo, no hall do prédio da Rua do Russell, o Bloch era velado cercado pela família e centenas de amigos. Pessoalmente ou por telefone, repórteres colhiam depoimentos de personalidades, entre as quais o então presidente Fernando Henrique Cardoso, Leonel Brizola, Roberto Marinho, o primeiro-ministro de Israel, Shimon Peres, Franco Zefirelli, Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro e Barbosa Lima Sobrinho. Eu me recordo que Zevi Ghivelder me pediu para escrever o pequeno texto de abertura acima reproduzida. Quase fim do fechamento, com tantas páginas reunindo múltiplos perfis de Adolpho, confesso que eu não sabia bem o que destacar. Pensei em uma das suas mais marcantes características: o amor ao Brasil. 

Hoje, vendo certas figuras desprezíveis apelando aos Estados Unidos para bombardearem o Rio de Janeiro ou bancadas espúrias no Congresso aprovando leis em interesse próprio e seguramente inconfessáveis observo o quanto esse sentimento faz falta.

Revendo o expediente daquela edição, vejo que o tempo passsou tão rápido quando um trem-bala. Como assim, 30 anos ? Levou alguns amigos, felizmente deixou tantos outros e muitas lembranças.  


Por último, uma curiosidade sobre o recado póstumo "Sejam todos felizes neste país que tanto amei" - 

Em 1973, Adolpho foi convidado a escrever um depoimento que foi depositado em uma urna enterrada no museu da Quinta da Boa Vista. Os registros deveriam ser abertos apenas no centenário da Independência, em 2022.  Pelo que se sabe, a urna foi esquecida. Em todo caso, um trecho colhido em uma cópia resgatada pela Manchete tornou-se a mensagem final de Adolpho Bloch.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

O que Adolpho Bloch tinha a ver com Zé das Medalhas


A medalha JK65 entrou para a história que não aconteceu.
Reprodução de uma peça da memorabilia do Panis

por José Esmeraldo Gonçalves 

Zé das Medalhas era um personagem da Copacabana dos anos 1960. Uma celebridade popular ao lado de tantos escritores, cineastas, cantores e jogadores de futebol que moravam no bairro. Zé das Medalhas trabalhava em uma farmácia no Leme. Usava sempre um colete espetado com dezenas de medalhas. É possível que Adolpho Bloch, que morava em Copacabana, e costumava andar na Avenida Atlântica com o amigo Juscelino Kubitschek, tenha cruzado com o Zé em algum momento. Ou talvez não, e jamais os dois souberam que tinham algo em comum. Um carregava suas medalhas no peito, o outro costumava estampar medalhas e moedas comemorativas anexadas às edições da antiga Manchete


Uma dessas medalhas em homenagem a João Paulo II, que visitava o Brasil em 1980, foi colada nas capas de números especiais que venderam milhões de exemplares. Além disso, Adolpho recrutou voluntários para vender a medalha do papa em esquinas movimentadas do centro do Rio de Janeiro. O carisma de João Paulo II incendiou as ruas e fez tilintar moedas no cofrinho do Bloch. 


Outra insígnia lembrada, esta oferecida ao leitores da Manchete Esportiva, festejou os Jogos Olímpicos.

A marca Bloch estampou várias medalhas e moedas.  

A moeda JK 65 virou história que não aconteceu e foi atropelada pela ditadura militar de 1964. Depois de deixar a Presidência, Juscelino foi eleito senador. A ideia era permanecer na cena política enquanto trabalhava a volta ao Planalto nas eleições de 1965. A moeda era inicialmente uma peça de campanha. Mediante uma quantia, de preferência alentada, o doador ganhava o suvenir.  

JK havia sido vítima de uma tentativa de golpe militar após ser eleito em 1955, foi salvo pelo marechal Lott que desarmou a conspiração dos quartéis e garantiu sua posse. Conhecia o veneno e mesmo assim  cometeu um erro fatal: aproximou-se dos militares no período anterior à queda de João Goulart e apoiou o golpe de 1964. Acreditava que os milicos fariam um pit stop no poder e manteriam as eleições presidenciais de 1965. JK nem desconfiou da ditadura pré-instalada quando votou para presidente, no Congresso, na palhaçada eleitoral que "elegeu" Castelo Branco. Com o enterro da liberdade, o militar tomou posse com a caneta carregada para formular listas de cassações, prisões, sequestros, perseguições e os Atos Institucionais autoritários. 

JK deve ter tomado um susto: seu nome logo figurou entre os cassados e banidos. 

O resto a história conta. Foram 21 anos de trevas, torturas, assassinatos, milhares de brasileiros no exílio, censura, corrupção e concentração brutal de renda. Restou gravada na moeda JK85 a mensagem da "Pelo Brasil recomeçarias mil vezes". No verso, em torno da imagem de um trator, o registro "Contribuí para a campanha JK65", seguido da promessa "Quinquênio da agricultura"simbolizada pela imagem de um trator.  Trator ou tanque ou foi o que passou por cima da democracia          

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Seleção brasileira sob ataque midiático

Carlo Ancelotti. Foto de Rafael Ribeiro/CBF/Divulgação

por José Esmeraldo Gonçalves 

Canais de You Tube suspeitos de receberem impulsionamento financeiro, polêmicas com base em qualquer coisa ou coisa alguma, clubismo e a polarização invadindo preferências no jornalismo esportivo em torno de Neymar e Carlo Ancelotti. O período pré-Copa do Mundo não será tranquilo. 

Embora há três anos sem relevância no futebol Neymar ainda seduz um lobby que insiste em pressionar o treinador da seleção e fazer a cabeça da torcida. 

O jogo Flamengo 3 X 2 Santos continua repercutindo nas mesas-redondas. De um lado aqueles que viram no primeiro tempo momentos de "brilho" de Neymar. Não foi bem assim. Os parças das redações não estão enxergando bem; do outro, as críticas de quem, com razão, prefere não perder tempo e verbo. O jogador, como em quase todas as partidas em que atuou neste Brasileirão, demonstrava nervosismo, gesticulava irritado a cada erro dos companheiros (embora ele mesmo falhasse em dribles e passes). 

Os dois gols após a saída de Neymar foram simbólicos. Por pouco o Santos empata o jogo. Ao ser substituído o "menino Ney" reclamou com o treinador Vojvoda. Falou como se fosse dono do clube "Você vai me tirar"? E talvez, quem sabe, seja mesmo dono do time. Ao deixar o campo fez cena, chutou copo de plástico e foi direto para o vestiário. Não se sabe se viu a reação do Santos, se voltou para São Paulo com a delegação ou se mandou por meios próprios como, aliás, fez ao se apresentar direto no Maracanã, evitando viajar com os demais jogadores. Após os patéticos acontecimentos no jogo contra a Fla, cresceram os rumores sobre a "falta de clima" de Neymar no Santos. Pudera. Junto com o alto salário que recebe do combalido time paulista ele parece achar que é um CEO em campo. Manda, desmanda e dá esporros. Imaginem o foco de problemas que esse rapaz criaria se fosse incorporado ao time de Ancelotti. O vestiário se transformaria em passarela de ego?

O treinador italiano foi vítima, a propósito, de uma grosseiria em evento da Federação Brasileira de Treinadores. A entidade promoveu um encontro de técnicos com as presenças de, entre outros, Leão e Oswaldo Oliveira. A dupla resolveu desabafar diante de Ancelotti, que prestigiou o encontro. A coisa virou palco para o ressentimento de Leão e Oswaldo que criticaram a contratação de um estrangeiro para dirigir a seleção brasileira. Já a torcida, nós, sonhamos com algo mais importante: o hexa que não vem há 23 anos com a seleção comandada por técnicos brasileiros que fracassaram. Um deles, Tite, ficou 8 anos no cargo e não passou das quartas-de-final.  

Voltando a Neymar. A mídia esportiva não tem informações sobre o destino do jogador ao fim do contrato com o Santos. Já os canais "amigos" lançam constantemente fake news sobre propostas ou sondagens supostamente recebidas por Neymar. Nenhuma se confirmou nos últimos anos, com óbvia exceção da ida para o Santos. Na semana passada um desses canais especulou que ele poderia ir para o Fluminense. O clube carioca apressou-se em negar qualquer contato com o staff de jogador. 

Deve ser cansativo para Carlos Ancelotti repetir a cada coletiva que em março de 2026 fará a convocação conclusiva para a Copa.. Após essa data só imprevistos vão interferir na lista. E aí ele ouve a pergunta de um centavo de dólar. "E Neymar"? Ele responde pela enésima vez que o jogador que estiver física e tecnicamente em forma, com sequência de boas atuações e que cumpra a proposta coletiva de jogo que a seleção precisa será observado. Amanhã o Brasil joga contra o Senegal. 

Depois da derrota para o Japão, Ancelotti queimou um pouco do seu crédito diante da mídia esportiva. Não importa se o seu trabalho está no início, uma derrota dará gás aos seus críticos e ao lobby de Neymar.

Atualização - 16/11/2025 - No jogo Brasil 2x0 Senegal, a seleção brasileira mostrou evolução sólida especialmente no primeiro tempo. Há pontos a aprimorar, certamente já identificados por Carlo Ancelotti. Pelo menos dois "torcedores" talvez estivessem com bandeirinha do Senegal à mão. Para Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira, um resultado negativo provavelmente reforçaria o objetivo dos dois de ter de volta à seleção um treinador brasileiro, msmo que fosse descendente de estrangeiro, como milhões de nacionais. No futuro, quem sabe, será possível reivindicar até um bravo indígena para o cargo. Muito justo, os povos originários, sem ironia, também merecem. Ontem, o Palmeiras perdeu para o Santos por 1x0. Neymar jogou durante os 90 minutos, arriscou duas finalizações, acertou dois dribles, teve pouquíssima participação na defesa. O treinador Vojvoda, do Santos, elogiou a dedicação de Neymar. O resultado, além de abrir uma esperança de luta contra o rebaixamento. Outra consequência será estimular a campanha "volta, Neymar" à seleção. Aí é outra história. Ancelotti não fechou as portas para Neymar, mas o jogador, caso permaneça no Santo ou vá para outro time, terá que mostrar condições físicas, técnicas e, principalmente, consistência e continuitade.   

domingo, 9 de novembro de 2025

Vaticano - o papa assina "ato institucional" que, na prática, rebaixa Nossa Senhora.

Pietá, de Michelangelo, atualmente instalada na Basílica de São Pedro 

por José Esmeraldo Gonçalves 

Não daria certo. Um papa estadunidense logo mostraria seu DNA elitista e prepotente, avesso à fenômenos católicos de inspiração popular. Matéria do jornalista Edison Veiga publicada na BBC Brasil mostra que o papa cowboy saca suas armas. As primeiras vítimas estão nas denominações de Nossa Senhora. Do seu bunker no Vaticano, Leão 14 emitiu um documento que desmerece a devoção a Maria. O papa gringo dá uma canetada impiedosa na veneração dos católicos. É quase um cancelamento. Por tabela Nossa Senhora Aparecida seria uma das vítimas? O Círio de Nazaré correria risco? O culto a Fátima, em Portugal - e também muito expressivo no Brasil e no mundo - seria, alvejado?

O  ato institucional de Leão 14 considera que há "abusos"  na devoção àquela que a própria Igreja Católica apresenta como mãe de Jesus. Para o Leão estadunidense, o foco deveria ser a Santíssima Trindade (Deus, o pai; Jesus, o filho; e o Espírito Santo. Maria, assim, ficaria relegada a um patamar inferior. 

A mídia em geral ainda não analisou a extensão do documento papal. A coisa toda pode ser vista como uma "neopentecostalização" do catolicismo. Tradicionalmente, com ênfase nas últimas décadas, evangélicos radicais, incluindo pastores extremistas, invadem igrejas católicas para destruir imagens da santa. 

Leão 13 pode até ter intenção dogmática, mas acaba enviando um míssil que atinge Nossa Senhora. E o Vaticano não tem uma Lei MARIA da Penha. Uma pergunta deve estar nas mentes dos católicos e dos não religiosos criados no catolicismo, como é  o caso de milhões de brasileiros:  o mister papa vai censurar a Ave Maria, uma das mais populares orações católicas?

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Aos leitores - Roberto Muggiati - : Em breve o Panis Cum Ovum retomará a publicação de novos capítulos do folhetim "Mistério na Glicério"

Visita ao mestre. José Esmeraldo Gonçalves e Roberto Muggiati.
Foto de Jussara Razzé.

O jornalista e escritor Roberto Muggiati fez uma pausa para cuidar da saúde. Após a conclusão de uma série de sessões de fisioterapia, ele deverá enviar para este Panis Cum Ovum, até meados de outubro, novos episódios do folhetim noir "Mistério na Glicério" . Em visita que fizemos ao amigo, ele comfirmou a mim e a Jussara Razzé, que também retomará a finalização do livro "Humor na Manchete" e começará a trabalhar em um próximo projeto: a produção da sua fotobiografia. (José Esmeraldo Gonçalves).  


domingo, 31 de agosto de 2025

Luís Fernando Verissimo (1936-2025) - Ele psicanalisou o Brasil. Botou deitado no sofá esplêndido o país do coqueiro que dá coco




por José Esmeraldo Gonçalves

Érico Verissimo e Luís Fernando Verissimo foram próximos à Manchete, de certa forma. Érico era cunhado de Justino Martins, diretor da revista do final dos anos 1950 até 1983, quando faleceu. Talvez Verissimo, o filho, tenha herdado essa afinidade. Costumava atender os repórteres da Manchete, para a qual escreveu vários depoimentos e pelo menos duas grandes matérias: uma intitulada "Os Gaúchos", outra, "Minha Vida com Papai". 

Verissimo parecia sempre manso e discreto, mas era capaz de se multiplicar em tantas e intensas versões. Uma divisão celular talvez tenha criado os Verissimos escritor, cartunista, humorista, tradutor, roteirista, dramaturgo, publicitário e saxofonista. Não é exagero dizer que Verissimo psicanalisou o Brasil deitado no sofá esplêndido.  

Não era homem de buscar conflitos. A ironia que os alvos mal percebiam era a sua arma mais poderosa. Um diálogo das Cobras de Verissimo, nos anos 1970, talvez tivesse um poder de fogo maior do que todos os artigos do irado Paulo Francis. As cobras eram um alter ego divertido e venenoso do escritor. Verissimo fará falta, aliás faz falta desde que um AVC o afastou da escrita. 

Neste registro, recordamos alguns textos de Verissimo na antiga revista Manchete

Você pode acessá-los nos links abaixo.

Um Gaúcho em Manhattan

https://memoria.bn.gov.br/DocReader/docreader.aspx?bib=004120&pesq=Lu%C3%ADs%20Fernando%20Ver%C3%ADssimo&pagfis=196651



Os Gaúchos

https://memoria.bn.gov.br/DocReader/docreader.aspx?bib=004120&pesq=Lu%C3%ADs%20Fernando%20Ver%C3%ADssimo&pagfis=225908




Luís Fernando Verissimo - Minha Vida com Papai

https://memoria.bn.gov.br/DocReader/docreader.aspx?bib=004120&pesq=Lu%C3%ADs%20Fernando%20Ver%C3%ADssimo&pagfis=227058

 

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Netanyahu acaba de alcançar um recorde: é o líder cujas bombas já mataram mais jornalistas do que a Primeira e Segunda Guerras e o conflito do Vietnã




por José Esmeraldo Gonçalves

Benjamin Netanyahu já está na galeria dos mais brutais criminosos de guerra desde que as Convenções de Genebra tentaram ordenar os excessos nos campos de batalha. Em 1929, chocados com as atrocidades cometidas na Primeira Guerra Mundial, os líderes ocidentais assinaram compromissos e normas para a defesa de prisioneiros de guerras, feridos, doentes e civis. Aos primeiros documentos seguiram-se vários acordos adicionais para proteger não combatentes, náufragos e proibir o uso de gases venenosos. Ao longo de décadas, a evolução tecnológica das máquinas de guerra foi objeto de outros protocolos. 

A guerra em Gaza praticamente rasga essas posturas. 

A reação aos atentados realizados pelo grupo terrorista Hamas foi legítima na origem, mas ultrapassa todos os limites e provoca reação mundial. A guerra também é alvo de protestos de muitos israelenses e condenada por judeus em vários países. O poderoso governo de extrema direita que comanda Israel ignora essas reações. Uma consequência dos ataques à população civil de Gaza (estima-se em mais de 60 mil o número de mortos) são os lamentáveis episódios de antisemitismo que ocorrem principalmente nas cidades da Europa. 

Netanyahu e seus comparsas viram na ação terrrorista do Hamas uma oportunidade para varrer a Palestina no mapa. Um símbolo cruel da estratégia rumo a esse objetivo são as cenas que mostram soldados israelenses metralhando multidões famintas que disputam os alimentos que eventualmente chegam a Gaza.  Essas imagens atravessam o cinturão militar e chegam ao mundo graças a repórteres, fotojornalistas e cinegrafistas que registram a barbárie. Esses profissionais são alvo da ira de Netanyahu que se incomoda com a divulgação das atrocidades. Os números em escalada mostram que 194 jornalistas foram mortos em Gaza desde 2023 (o Sindicato de Jornalistas Palestinos estima em 246 os profissionais da mídia assassinados em menos de dois anos e  a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) estima que  mais de 200 profissionais de imprensa que foram mortos desde o início da guerra entre Israel e o Hamas). São cifras que ultrapassam os da Primeira e Segunda Guerras somados (69 vítimas) mais os jornalistas mortos na guerra do Vietnã (71). Na guerra da Ucrânia, até agora, 19 profissionais foram assassinados.

O último ataque de Israel ao hospital onde estavam os jornalistas emula uma terrível tática aplicada durante a Segunda Guerra Mundial e replicada nas décadas seguintes por grupos terroristas. Trata-se do ataque da "segunda bomba". A primeira devasta o alvo, deixa mortos e feridos; a segunda visa arrasar os sobreviventes e, principalmente, as brigadas e voluntários que socorrem os feridos. Foi essa segunda bomba que ampliou o rio de sangue no hospital bombardeado. Os ataques teria sido efetuados por drones cujas câmeras visualizam e confirmam detalhes do alvo, o que reduz a hipótese de erro 

Netanyahu sempre justifica as mortes com o argumento de que terroristas do Hamas estão infiltrados entre os correspondentes de guerra da AFP, Reuters, Al Jazeera, New York Times. O ataque ao hospital visava, segundo ele, um repórter que supostamente foi ligado ao Hamas. Provas? Netanyahu nunca precisa de provas para lançar bombas onde quer que seja sobre não combatentes, incluindo crianças.                        

sábado, 2 de agosto de 2025

Ano 2000 - Há 25 anos: o bug da Bloch e o último réveillon da Manchete

2000 - O último Réveillon da Manchete


Primeiro de Agosto de 2000: Justiça lacra a Bloch - A edição pronta que nunca foi para as bancas


por José Esmeraldo Gonçalves
Semanas antes da virada para o ano 2000 a mídia estava obcecada pelo bug do milênio. Especialistas lançavam no ar um certo pânico. Havia quem guardasse comida, remédios e dinheiro. Os mais crédulos, especialmente uma cantora da MPB, acreditava em abdução de pessoas. Neopentecostais arrumavam as malas e juntavam dízimos para viajar de primeira classe rumo ao resort celestial. 

Em Copacabana, trabalhando no réveillon para a Caras, apenas concluí: se o bug seria mesmo tão terrível, não havia o que fazer. Nada aconteceu. À meia noite verifiquei o celular e relógio estava lá, certinho. O novo milênio apareceu, o bug, não. 

No Forte de Copacabana, encontrei a repórter da Manchete Aiula Eisfeld. Cobríamos o Réveilon de FHC. Seria o Baile da Ilha Fiscal se o bug tivesse derrubado a festança da elite. Como o apocalipse digital não veio, foi apenas uma noite brega. Não sabíamos, mas o que estava a caminho era o Dia B do Bug inevitável da Bloch Editores. Não sabíamos, mas aquela "festa pobre", como cantava Cazuza, seria a última registrada pela Manchete. Sete meses depois, no dia 1 de agosto, a empresa iria à falência. Manchete encerrava um ciclo de 42 anos de circulação regular (ainda seriam publicadas, nos anos seguintes, edições produzidas por uma cooperativa de ex-funcionários e revistas especiais de carnaval). Manchete saía de fininho e começava uma dramática etapa de vida para milhares de colegas. Eu havia deixado a Bloch em fevereiro de 1996 após 17 anos de trabalho em duas etapas; 11 anos na Fatos& Fotos e seis anos na Manchete

Acompanhei à distância a luta dos ex-funcionários então levados a credores da Massa Falida da Bloch Editores. Ontem, a batalha para reaver direitos, liderada por José Carlos Jesus na Comissão de Ex-Empregados da Bloch Editores, completou 25 anos. A maioria - entre os mais de 2 mil trabalhadores que foram habilitados inicialmente, recebeu o que os advogados chamam de "indenização principal".  A MFBloch ainda lhes deve parcelas de correção monetária (foram pagas apenas três cotas, apesar de parte dos credores trabalhistas terem feitos acordos com o objetivo de obter quitação total mais rápida). Um grupo de habilitados posteriormente ainda aguarda a indenização principal, segundo ex-funcionários. 

O último dia da Bloch foi tão dramático, de certa forma tão cruel, quanto a longa  espera por justiça. Os funcionários foram obrigados a deixar às pressas o conjunto de prédios da Rua do Russell, com poucos minutos para recolher objetos pessoais. Assim expulsos, deixaram para trás o hall de editora lacrada e caíram em tempos de incertezas. 



Cinco anos após a falência da Bloch, ex-funcionários começamos a escrever o livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou (Desiderata), esgotado mas ainda disponível em sebos na internet. O objetivo alcançado era deixar registradas a vida e as vidas naquela aldeia plantada na Rua do Russell. Abaixo reproduzo um dos textos que escrevi para a coletânea,  o de apresentação, e uma crônica de Carlos Heitor Cony publicada na Folha de São Paulo sobre o dia para não esquecer. 



Texto de apresentação do livro Aconteceu na Manchete,
as histórias que ninguém contou.

A crônica de Carlos Heitor Cony publicada na Folha de São Paulo e reproduzida neste blog. 
Clique nas imagens para ampliá-las.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Regime Trump ameaça a liberdade de expressão. Por temer reação do presidente, galeria do Smithsonian Institute agiu para impedir exibição de obra de arte


Transforming Liberty: pintura vetada
para não irritar Trump. Reprodução Instagram 


A polêmica chegou ao New York Times

por José Esmeraldo Gonçalves 
A pintora Amy Sherald retirou sua exposição do Smithsonian Institute. O problema foi a atitude inusitada da galeria da instituição que, temendo a reação de Donald Trump, levou à artista uma "sugestão" para repensar a exibição do quadro Transforming Liberty, representação da Estátua da Liberdade em versão transgênero. 

Este é um dos múltiplos efeitos perniciosos do Regime Trump no país. Em maio, segundo o New York Times, o presidente já  havia ameaçado demitir a então diretora do Smithsonian por enxergar nela uma apoiadora da diversidade e da inclusão. Ela pediu demissão antes da canetada do oligarca.  
 
Vale lembrar que essa prática censória era comum na Alemanha nazista. Tanto que os curadores de Hitler não apenas retiravam certas  obras dos museus como organizaram um grande exposição só de "arte suja" para ensinar ao povo o tipo de expressão artística a condenar. 

A mostra American Sublime, de Amy Sherald, ainda está em cartaz no  museu privado Whitney, em Nova York, pelo menos até o dia 10 de agosto, incluindo a obra que assustou o Smithsonian. Quem quiser ver corra que Trump vem aí.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Em 1970 Manchete publicou um dicionário de gírias da República de Ipanema. Embarque nesse expresso do tempo e da linguagem



Gírias entregam idades, certo? Mas algumas vencem o tempo e impregnam as falas de várias gerações. Em 1970 Manchete publicou o Pequeno Dicionário Ipanemense da Língua Brasileira. Muitas entre as expressões então reunidas pelo repórter Creston Portilho ainda são adotadas pelas gerações atuais, assim como a turma da bossa nova, do cinema novo, do pier de Ipanema também assimilou locuções de décadas anteriores. O bairro era uma antena repetidora que transmitia comportamentos e falas. (José Esmeraldo Gonçalves)

Eram outras paradas e outras eras.

Hoje, muitas gírias absorvidas nas praias e baladas surgem do linguajar do tráfico. Isso mesmo. Fazer o que? Algo como “tô na pista”, “papo reto”, “brotar”, “tá ligado” (esta importada de São Paulo)...

Mas vamos ao dicionário. Claro que usar hoje certas expressões datadas pode levar um jovem interlocutor a buscar significados no Google ou levar a questão para os avós.

De qualquer forma, faça essa viagem, entre nesse expresso da linguagem.     


Amarelo Vestibular – Cor de quem se preparava para o vestibular e não ia à praia.

Babado -geralmente uma fofoca

Babilaque – também se usava a forma abreviada – babê – significava estar com os documentos.

Bacana – rico

Becado – roupa – estar com becado legal – terno.

Beijar Cristina – fumar maconha.

Bicão – penetra, aquele que aparecia no embalo sem ser convidado.

Bicicleta – óculos, luneta.

Bizu – informação importante, botar alguém a par do que se passava.

Bode – ressaca, estar com sono, variação bodear (dormir)

Bolacha – cartão que acompanha o chope.

Bolha – bobo, chato.

Branco escritório – cor de quem trabalha muito, vai de casa para o escritório e vice-versa, não vê sol.

Branquinha – mulher

Cabrita - mulher- tem cabrita nova no pedaço, mulher diferente na festinha.

Cacau – dinheiro

Cafona – dizia-se de indivíduo de extremo mau-gosto no vestir, no agir e no falar.

Camaradinha – amigo, chapa

Candonga – intriga, fofoca.

Capim – dinheiro, grana

Careta – sóbrio, que não bebeu ou usou droga, moralista.

Cascata – mentira, conversa fantasiosa.

Chinfra – sujeito que tira onda de rico, de bacana.

Chocar – namorar.

Chofer de fogão, cozinheira.cozinheiro.

Chongas – nada, coisa alguma, bulhufas.

Chué – esquisito, diz-se de quem está doente.

Cobra – o bom, indivíduo competente em alguma coisa.

Coisa – maconha ou outro “aditivo”. Você tem coisa aí? 

Corujão – sujeito que observa tudo, em princípio, todo corujão é um chato.

Criar – namorar meninas muito jovens.

Crocodilo – aquele que age de má fé, não tem caráter, falso, também funcionava como sinônimo de dedo-duro. 

Curiboca -otário, bolha, panaca.

Dar um lance – tomar um atitude, dar um lance na menina, dar uma cantada.

Dar uma de – agir como, dar uma de herói.

Deixar o maçarico cair – bronzear-se, expor-se ao sol forte.

Desligado -individuo que não repara em nada que acontece em volta,  aquele que está sob efeito de bebida.

Devagar – antônimo de quente, muito usada na expressão, devagar quase parando.

Dica – mesmo que bizu. Dica, ainda hoje em uso, surgiu no Pasquim. Era o tílulo resumido da seção Indica, que sugeria filmes, espetáculos, livros etc

Doidão – sob efeito de maconha ou outro tóxico, amalucado, viajando.

Durango Kid – sem dinheiro, duro, durango.

Embalo – festinha com muita bebida, drogas e cabritas.

Encaracolado – de difícil entendimento, indivíduo que não explica as coisas com clareza.

Escovão – bigode grande.

Esmeril – indivíduo que bota pra quebrar ao volante.

Esquer- quadrado, retrógrado, que não pensa de acordo com o grupo, a conversa está chata, esquer.

Estar a fim -  topar, estar disposto a fazer alguma coisa.

Estar a perigo – estar sem dinheiro, duro, está na pior.

Estar na de alguém – concordar com alguém, agir como determinada pessoa, estar sob efeito de droga, estar gostando de alguém.

Faturar – ter sucesso, usava-se especialmente no sentido de ser bem-sucedido com mulheres.

Ficar de Bobeira – Não fazer nada

Figura – Sujeito que chama atenção. Diferente. Estranho. Variação: figuraça.

Fossa – Estado de depressão que tanto podia ser uma angústia existencial quanto uma dor-de-corno ou de cotovelo.

Fundir  a cuca – Ir à lourura. Pirar. Ficar desnorteado com alguma explicação ou situação da qual não entendeu coisa alguma.

Furão -Indivíduo que promete mas não cumpre. Que marca encontro e não comparece. Diz-se do indivíduo que não paga ingresso em teatro e show.

Galinha -  Para todos os gêneros: pessoa muito volúvel nas relações amorosas.

Invocado – Mal humorado, aborrecido, estourado, nervoso, agressivo.

Índio – Sujeito que vem de fora, de outra cidade.

Jogar confete – Bajular, paparicar.

Lei do cão – Barra pesada, regras rigorosas ou autoritárias, código de comportamento punitivo.

Lenha – Dificuldade (ex. o vestibular foi uma lenha).

Lhufas – Forma reduzida de bulhufas, nada, nenhuma.

Ligado – Aquele que está sob efeito de drogas, baratinado (de curtindo um barato). Variação: esperto, atento, concentrado.

Limpeza – Boa praça, barra limpa, legal (fulano é limpeza).

Lixo – Muito usado para classificar filmes, livros, shows, má qualidade da droga.

Luneta – óculos.

Macaca – Mulher que pula de um namorado para outro como muda de roupas, namoradeira.

 Malandro Agulha – Sujeito que mesmo se alguém ridicularizá-lo não perde a linha. Essa parece inspirada nos malandros antigos que usavam calça de boca estreita.

Mina – Mulher, garota

Moleza – Coisa da qual se tira proveito com facilidade, vida mansa.

Morar na jogada – Compreender, entender, sacar.

Morgar – dormir na mesa do bar sob efeito de bebedeira ou droga,, sem ânimo, sem energia.

Mulha – Mulher, mina.

Muquirana – Chato, boboca, diz-se também de sujeito ruim ao volante.

Ouriçar – Agitar, tumultuar.

Panaca – Bolha, otário.

Pano – Roupa, beca, roupa bonita.

Papo furado – cascata, mentira, situação inverossímil.

Paradão – Vidrado, diz-se de quem bebeu pouco e fica deprimido.

Paquerar – Ficar de olho, equivalente hoje a azarar.

Patota – Turma, grupo de amigos unidos, patota do bar, patota da praia etc.

Pedra Noventa – Sujeito importante ou peça rara, figura diferente, metido a original. Indivíduo legal, bom caráter, boa praça. Dizia-se também do sujeito perigoso, que carregava duas pistolas 45.

Pegar nas Coisas - fumar maconha.

Pelo – Cabelo, cabelão.

 Pila – malandro

Pintar – aparecer, chegar, a mina pintou na esquina.

Pirado – Maluco, psicopata, psíco

Pirulitar – ir embora.

Piso – sapato, sandália, calçado, chinelo, pisante.

 Pla -Conversa, papo com a namorada, cantada.

Ponto – olhar de quem está te dando bola.

Pra Frente – Avançado, que se veste de acordo com o último figurino.

Preju – Forma abreviada de prejuízo…

Proleta- Proletário, pobre

Quebrar a cara – sair-se mal em qualquer tipo de tentyativa.

Sacar -   ver, perceber –

Trambique – Negócio geralmente ilícito, golpe, levar um trambique,

Trolha – rabo-de foguete, tomar uma trolha (tomar um preju)

Vivaldino – Malandro


sábado, 5 de julho de 2025

Estados Unidos de Donald Trump é a "Coreia do Norte" da extrema direita. Autoridades impedem a entrada de atletas estrangeiros no país. São esperados incidentes do tipo durante a Copa do Mundo de 2026


A temida polícia de caça aos imigrantes é ameaça potencial à entrada de atletas nos Estados Unidos.
 

por José Esmeraldo Gonçalves 

Há poucos dias uma delegação esportiva de Cuba foi impedida de entrar nos Estados Unidos. Recentemente o mesatenista brasileiro Hugo Calderano foi barrado quando estava a caminho de um torneio em Las Vegas. A razão para cancelar o visto? O passaporte do atleta indicava uma visita anterior a Cuba. Quer dizer: o fato de Calderano ter ido competir em Havana o transformou - aos olhos do U.S. Immigration and Customs Enforcement's (ICE), a "Gestapo" trumpista -  em um perigoso agente capaz de espionar, talvez, as mesas de jogo, a prostituição e a circulação de drogas na movimentada The Strip. A julgar por esse tipo de restrição à entrada de atletas será preciso cautela em relação à escalação dos Estados Unidos como sede de eventos esportivos internacionais. 

Ano que vem o país de Trump recebe a Copa do Mundo de Futebol, junto com México e Canadá. Jogadores e torcedores correrão o risco real de serem vetados pelos motivos mais aleatórios.

O Irã, por exemplo, já está classificado para a Copa de 2026. Será admitido pelo regime autoritário de Trump ou a FIFA passará pela vergonha de levar a seleção iraniana a jogar apenas no México e no Canadá? A Venezuela precisa de quase um milagre para obter classificação direta nos últimos dois jogos das Eliminatórias, mas tem chances de disputar uma repescagem.  E aí? Será admitida ou Trump enviará a seleção venezuelana para o seu novo campo de concentração de imigrantes construído nos pântanos da Flórida e cercado de jacarés e crocodilos?

A China está fora da Copa. A Rússia também não vai em função das sanções políticas. Belarus disputará as Eliminatórias. O Brasil não é bem cotado na Casa Branca. Tem relações com China, Irã, Rússia, Palestina - quarteto que irrita Trump - e faz parte dos BRICS. Além disso, elementos da seita bolsonarista homiziados nos Estados Unidos mobilizam a ultra direita republicana para incluir o Brasil na lista de cancelamentos políticos e comerciais. É impossível prever até onde vai a escalada ditatorial de Trump, que tem golpeado uma a uma as instituições democráticas dos Estados Unidos, e saber como estará a situação em junho de 2026, mas é prudente que o treinador Carlo Ancelotti escale a seleção brasileira só depois de os jogadores passarem pelo guichê policial do aeroporto.   

domingo, 29 de junho de 2025

Mundial de Clubes: o raio que não vem mas interfere no jogo


por José Esmeraldo Gonçalves 

Pessoas em campo aberto podem ser atingidas por raios. Há casos fatais. Isso todo mundo sabe. O Brasil, por exemplo, está entre os campeões de incidência de raios do mundo. Estatisticamente, somos mais fulminados do que os Estados Unidos. Perguntem aos meteorologistas.

O Mundial de Clubes em estádios do território de Trump revelou ao mundo o "protocolo" que paralisa os jogos. Está  em vigor desde 2012 quando uma pessoa que asistia a uma corrida da Nascar foi alvo de um raio fatal, mas ganhou visibilidade internacional no atual  torneio da FIFA. No ano passado, nessa mesma época, aconteceu a Copa América, da Comenbol, com jogos em alguns dos mesmos estádios de agora, sem que a protocolo fosse acionado. Supõe-se que a FIFA não impôs condições e aceitou a restrição que interompe as partidas.  

Nuvens um pouco mais escuras e carregadas de energia assustam os técnicos e logo eles emitem ordens para esvaziar arquibancadas e campos, mandando jornalistas, jogadores, pessoal de serviço e torcedores em êxodo rumo aos "porões" dos estádios. Lá a turma mofa durante 30 minutos. Se as nuvens não se mandarem, a restrição é prorrogada por mais 30, e assim sucessivamente. O jogo Benfica e Chelsea, por exemplo, parou por quase duas horas. O intervalo forçado aparentemente agradou ao time inglês que parecia fisicamente menos depauperado. O Chelsea voltou revigorado e goleou os portugueses. Ou seja, o raio que não veio pode ter interferido no placar do jogo. 

Você deve se perguntar sobre um motivo à parte e não divulgado do tal "protocolo". Ao mesmo tempo em que o público era confinado, um drone que sobrevoasse as imediações dos estádios mostraria pedestres e carros circulando tranquilamente nas ruas próximas. O protocolo não está preocupado com eles, nem com os raios que eventualmente os partam. Qual a razão da coisa? Evitar que pessoas eventualmente atingidas no ambiente do jogo processem governos, seguradoras, proprietários dos estádios e promotores dos jogos, no caso a FIFA, ou espetáculos em geral. Estados Unidos é paraíso de advogados. Lá, se você é atropelado, o causídico chega antes da ambulância. Faz sentido. 

Felizmente, em todas ocorrências do tipo, os raios esperados pelos gringos meteorologistas não apareceram no pedaço e nem fulminaram jogadores e torcedores. 

Protocolo Brasileiro

Não temos vulcões nem furacões e os principais estádios têm cobertura parcial. No Mundial de Clubes foram vistas algumas arquibancadas inteiramente descobertas. Nosso protocolo esportivo para emergências é menos complexo. Cabe ao árbitro do jogo, diante de uma emergência, consultar autoridades para dimensionar o problema (quase sempre inundações provocadas por fortes chuvas, estaod do grmado, flata de iluminação etc) é, em seguida, paralisar a partida. Se o problema persistir, o árbitro tem o poder de encerrar a partida passado um tempo regulamentar de espera (30 minutos).  A complementação do jogo será marcada para outra data. A situação é resolvida no campo esportivo em contato com serviços públicos ou privados apropriados. Sem misturar as coisas, as autoridades civis acionadas cuidam da parte que lhes cabe: a segurança das pessoas. Caso a interrupção aconteça decorridos 30 minutos ou mais do segundo tempo, será validado o placar do momento da paralisação.    

O deslumbramento dos comentaristas e apresentadores brasileiros

O protocolo pegou de surpresa os jornalistas brasileiros. Os mais afeiçoados ao Tio Sam em princípio saudaram o a medida sem críticas e até, no caso de um dos narradores da Globo, certa exaltação "ridícula". Não atentaram para a Copa do Mundo de seleções, ano que vem, que terá os Estados Unidos como uma das sedes, ao lado de México e Canadá. O protocolo que pode suspender um jogo por duas horas ou mais poderá levar a Copa ao caos, caso seja acionado nas diversas partidas em território estadunidense. A sorte é que México e Canadá não têm esse protocolo restritivo e, pelo menos nas partidas que vão sediar, o caos eventualserá evitado. Melhor a FIFA levar para a Copa o Cacique Cobra Coral especializado em impedir chuvas e raios.  



sábado, 21 de junho de 2025

"Fotojornalista Arquivo" assina foto de Paulo Scheuenstuhl/Manchete no Globo. 'Pode isso, Arnaldo?'



MPB se reúne na casa de Vinícius de Moraes, 1967. Foto de Paulo Scheuenstuhl/Manchete publicada no Globo de 21/6, 2027 e aqui reproduzida em razão de interesse informativo. 



por José Esmeraldo Gonçalves 

A mídia profissional reclama, com razão, da mão leve que as corporações da internet fazem dos  conteúdos jornalísticos. Pois O Globo de ontem publicou na matéria "MPB cantada e contada" uma foto histórica feita por Paulo Scheuenstuhl - fotojornalista falecido há poucas semanas, profissional que integrou a equipe da revista Manchete- e concedeu à imagem apenas um crédito a uma entidade inanimada: "arquivo". 

Fico imaginando o "fotojornalista arquivo" embarcando na Rural Wyllis da Bloch rumo à casa de Vinícius de Moraes, no Jardim Botânico, onde a foto foi feita, e dirigindo a famosa cena, conferindo foco, luz, diafragma etc, antes do clique que registrou mais do que nomes nacionais da MPB uma época virtuosa da cultura carioca. E se o "arquivo", autor de tantas fotos creditadas na mídia, fizesse uma exposição autoral? Precisaria de um Maracanã para reunir suas "obras" de tanto que os veículos lhe atribuem trabalhos. Para quem não sabe, Paulo Scheuenstuhl tinha no seu acervo uma folha de contato com as fotos não editadas dessa mesma cena. São imagens praticamente inéditas de um encontro único e representativo. Esta foto que, segundo O Globo, foi feita pelo "arquivo" talvez seja a mais publicada do fotojornalista da antiga Manchete. E também a mais surrupiada. A imagem chegou a ilustrar em formato gigante a parede da sala de um apartamento na orla de Ipanema pertencente a um executivo da antiga Som Livre. Muitos convidados que frequentavam o espaço teriam parabenizado o anfitrião como "autor" da foto icônica. 

Era comum na imprensa do passado omitir os nomes dos autores de fotos e de textos. Os acervos dos jornais e revistas ainda guardam muitas imagens de autores desconhecidos ou produzidas pela "equipe". Mas não é o caso de uma imagem tão célebre, publicada até em livros, como essa da MPB no terraço da casa de Vinicius de Moraes. O mais incrível é que a foto feita por Paulo Scheuenstuhl inspirou até mesmo a pauta da matéria do Globo, que reuniu em formato semelhante um grupo de artistas da nova MPB. Nem isso motivou o justo crédito.  

Há, atualmente, uma luta intensa dos profissionais da indústria criativa em defesa dos direitos autorais. O objetivo é obrigar as plataformas a pagarem pelo uso dos conteúdos de terceiros que alimentam as redes agora turbinadas pelo voraz mecanismo da IA. E a reivindicação não interessa apenas aos autores, mas diz respeito ao direito à informação autêntica e apurada e à democracia. Um exemplo? O Google já produz "sites informativos", pseudo-jornalísticos, gerados inteiramente pela IA e impulsionados pelos seus próprios algoritmos. Os principais jornais do mundo estão nessa batalha. Respeitar o direito autoral legitima a difícil luta.          

sábado, 7 de junho de 2025

Musk versus Trump - Barraco na Casa Branca levanta suspeitas de corrupção e de festins sexuais com adolescentes

 

Jeffrey Epstein, que se suicidou na prisão após condenação
por promover orgias com menores para empresários convidados, e o parça Donald Trump. Reprodução Facebook 




Barraco entre os dois ex-amigos abriu caixa preta de transas e transações.
 A mídia dos Estados Unidos ganhou assunto alternativo à perseguição aos imigrantes, taxação de importações, cerco às universidades e asilo aos brancos da África do Sul "vítimas de racismo, segundo Trump.    

por José Esmeraldo Gonçalves

É um típico caso onde não precisamos escolher um lado, mas torcer pela briga. O barraco entre o homem mais poderoso do mundo contra o mais rico é útil para revelar favorecimentos em contratos que rendiam pilhas de dinheiro público manobrado pela administração Trump e, de quebra, mostrar que em meio a uma ofensiva de supostos cortes de despesas da máquina governamental comandados por Musk foram preservadas transações bilionárias que abastecem os cofres da empresa do oligarca que mantinha gabinete na Casa Branca. Só que no calor da discussão entre os dois ex-amigos Musk soltou uma bomba sexual. Denunciou que o dossiê sobre o Caso Epstein, que durante a campanha Trump prometeu liberar, permaneceu na gaveta. Na verdade, Trump abriu apenas uma parte do dossiê e escondeu os elementos inéditos. Coincidentemente, os trechos em que ele aparece como possível participante na fila do gargarejo dos festins sexuais promovidos pelo empresário Jeffrey Epstein . O Caso Epstein, para quem não lembra, revelou orgias a la carte que reuniam grandes capitalistas, personalidades do set e empreendedoras sexuais contratadas por Epstein. Ele convidava meninas, muitas delas menores de idade, a peso de dólares e viagens luxuosas, para confraternizações sem limites com amigos como o príncipe Andrew. Epstein acabou preso e se suicidou na prisão em 2019. As garotas eram transportadas em jatinhos a que os participantes davam o nome de Lolita Express. Daí Musk insinuar que o evento era sobre uma celebração da pedofilia.   

domingo, 25 de maio de 2025

"Mãe" leva bebê reborn para tomar vacina. Outra quer que o padre batize seu "filho" de silicone. E a saúde mental vai bem?

Bebê reborn anunciado na internet por 250 dólares. Reprodução


Há alternativas, digamos, mais instigantes do tipo "noiva cadáver", "serial killer baby" etc.


O Globo ouviu especialistas sobre a onda dos reborns


por José Esmeraldo Gonçalves 

As redes sociais - à parte a utilidade -  são também um lixão de inutilidades. Nas últimas semanas a internet foi contaminada por uma onda de bebês reborn. Algumas mulheres adultas tratam esses entes artificiais como se fossem reais. Tanto que "mamães" levaram seus bebês de silicone e vinil a postos de saúde pública. Algumas se revoltaram por não serem atendidas. Na Bahia, um padre se recusou a batizar um bizarro "filho" de uma genitora de reborns, mas não demora muito aposto que vão surgir religiosos que encontrarão na bíblia um motivo para sacramentar os borrachudos e faturar uma grana. 

Aliás, os bebês reborn são caros. No Mercado Livre, por exemplo, há espécimes que custam de R$3.500,00 a R$8.000,00. É coisa de gente abonada. Não se surpreenda, há quem os leve a sério. O Globo de hoje publica uma página que reúne psicanalista, psiquiatra e cientista social que debatem o fenômeno. A matéria deixa de lado as situações absurdas, como essa de levar o bebê de silicone ao posto de saúde para receber dose de vacina, e analisa supostos efeitos terapêuticos na coisa. O texto também critica haters que debocham da nova mania. A psiquiatra Roberta França, contudo, adverte, como o Globo revela: "A questão é quanto você transfere o lúdico para uma ideia de realidade". 

É o que parece acontecer diante de certas circunstâncias que os noticiários revelam. 

sábado, 17 de maio de 2025

Mujica e Manuela, o reencontro final

Mujica e Manuela

por José Esmeraldo Gonçalves

Em geral, a repercussão da morte de José Mujica, descontada, provavelmente, a reação irada dos colunistas do ódio identificados com a extrema direita brasileira, foi fiel à sua trajetória. Mas há imprecisões bem-intencionadas: a mídia se apega a chavões. Um deles, o do "presidente pobre que dirigia um fusca e rejeitou palácios". Mujica repelia a suerficialidade do rótulo. "Dizem que sou um presidente pobre. Não, eu não sou um presidente pobre", corrigiu em entrevista à BBC. "Pobres são os que querem sempre mais, que não se satisfazem com nada. Esses são pobres, porque entram em uma corrida infinita. E não terão tempo suficiente na vida." 

Os principais veículos do mundo destacaram a vida política relevante e guerrilheira de Mojica. O Panis resume, aqui, um simples aspecto do seu jeito de ser. Uma cadelinha diz muito sobre o ex-presidente do Uruguai. O mundo não apenas sentirá falta do Pepe Mujica: o mundo precisa desesperadamente de um Mujica em cada esquina. Ele vivia na periferia de Montevidéu com a esposa, Lucía Topolansky, também ex-Tupamaro, e a cadela Manuela, que o acompanhou ao longo de 22 anos. Mujica pediu para ser enterrado junto à cachorrinha de estimação, de três patas (perdeu uma delas atropelada por um trator dirigido pelo próprio Mujica). Imagine-se a sua tristeza em dobro. Manuela sobrfe viveu até 2018.

Veja este vídeo. Clique AQUI 

sábado, 10 de maio de 2025

Ok, habemus papam. Mas você sabe o que é um papa? Carlos Heitor Cony explica


Para melhor nitidez, acesse o conteúdo da matéria do Cony Manchete na Biblioteca Nacional
https://memoria.bn.gov.br/DocReader/docreader.aspx?bib=004120&pasta=ano%20198&pesq=%22Carlos%20Heitor%20Cony%22&pagfis=194941




por José Esmeraldo Gonçalves 

1980. Em dias como esses de posse de um novo papa - agora Leão XIV - só se falava nisso no mundo. Talvez para muita gente a função principal do pontífice era aparecer em uma janela do Vaticano, dar a benção ao povo reunido na Praça de São Pedro ou embarcar no jato especial da Alitália e visitar alguns países. E, sim, celebrar a missa de Natal. 

Talvez por isso, Carlos Heitor Cony usou seu espaço de crônica na antiga revista Manchete para detalhar o expediente do papa que, aliás, mora no local do emprego. 

A propósito, a antiga Manchete manteve, desde que foi criada, em 1952, uma afinidade jornalística com o Vaticano. Ligação oportuna, aliás, já que, no jargão da redação, papa é bom de venda em bancas. 

São memoráveis - com destaque para a épica cobertura da visita de João Paulo II ao Brasil, que resultou em edições que alcançaram vendas astronômicas - as matérias de capa com a linha do tempo dos pontífices. Quando o nada carismático Bento XVI veio ao Brasil, a antiga Manchete já havia virado memória; Francisco, que visitou o Rio de Janeiro e levou mais gente do que Madonna e Lady Gaga à Praia de Copacabana também nao alcançou vivas as rotativas da antiga Manchete


Vale citar, também, como um inestimável produto jornalístico, a série "A História dos Papas" que o redator Flávio de Aquino escreveu para a antiga Manchete. Procure ler. O conteúdo da revista, como sabem, está digitalizado na Biblioteca Nacional. O mecanismo de busca do canal de periódicos da BN levará você facilmente aos textos e à pesquisa gigante do jornalista Flávio de Aquino.  

Quando Carlos Heitor Cony escreveu a crônica O Que é um Papa ao cinema não interessava o Vaticano como tema de grandes produções. O Google relaciona, se não todos, os principais filmes que desvendam os mistérios do Vaticano em documentários, séries ou ficções bem documentadas, hoje bem mais frequentes nas telas ou nos canais de streaming.  

Veja algumas produções marcantes. 

* João Paulo II (2005) - A vida de Karol Wojtyla.

* Anjos e Demônios (2009) - Do livro de Código Da Vinci, do escritor Dan Brown.

* Habemus Papam (2011) - Ambientado no clima de um conclave. 

* O Papa do Povo (2015) - Sobre a vida de Franciso antes do papado.

* The Young Pope (2016) - Série fictícia da HBO sobre um papa revolucionário.

* Dois Papas (2019) - A convivência de Franciso e o papa emérito Bento XVI.

* O Sequestro do Papa (2023) - Ficção.

* O Exorcista do Papa (2023) - Sobre acontecimentos reais em torno de um padre que era o exorcista oficial do Vaticano  

* Conclave (2024) - Sobre os bastidores políticos da escolha de um novo papa.



segunda-feira, 21 de abril de 2025

Adeus, Papa Francisco

 


Copacabana, 2013. Uma impressionante multidão reverencia Francisco. Foto L'Osservatore Romano


 por José Esmeraldo Gonçalves 

Poucas horas depois de aparecer na Praça de São Pedro como parte da celebração do Domingo de Páscoa, o Papa Francisco faleceu em seus aposentos do Vaticano, aos 88 anos. Após 12 anos de papado, deixa uma marca de renovação da Igreja Católica e principalmente da Cúria Romana. Sua partida repercute obviamente na mídia mundial. No Brasil, a Globo mostra nesse momento imagens da histórica jornada de Francisco no Rio de Janeiro. Cenas impressionantes da acolhida dos brasileiros ao papa, como a da multidão de mais de três milhões de pessoas na Praia de Copacabana, são simbólicas do impacto da visita. Foi sua primeira viagem após assumir como  líder máximo dos catolicos.

Os próximos dias serão dedicados à cerimônia fúnebre em Roma, mas nos corredores do Vaticano já se desenrolam contatos e conversas da cúpula católica em torno da sucessão. Trata-se de um intenso jogo político. 

O jornal argentino Clarín publica na edição de hoje registro do encontro do vice-presidente dos Estados Unidos, ontem, com o Papa Francisco. Reprodução 

O mundo vive uma onda de extrema direita e isso se refletirá na eleição do novo pontífice. Há sinais claro de que Donald Trump tentará influir na votação. Ontem mesmo, o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D Vance, católico recém-convertido, visitou o Vaticano. E Trump nomeou como embaixador junto à Santa Sé Brian Burch, um católico conservador que é crítico do papa. 

Francisco condenou as ações violentas de Trump contra os imigrantes, o que provocou respostas duras dos republicanos. Sua defesa das políticas ambientalistas também irritaram o negacionista estadunidense.

Quanto ao processo eleitoral que vai agitar o Vaticano, uma boa indicação é ver ou rever o filme "Conclave", na Prime.  Ali está um bom panorama das forças que cercam a eleição até que a fumaça branca sinalize a nomeação  do novo papa ao fim da votação dos cardeais na Capela Sistina.

Caberá ao substituto provisório do papa, o cardeal Kevin Joseph Farrell, um irlandês que foi bispo de Washington e de Dallas, organizar a cerimônia fúnebre e a eleição do novo Pontífice. Trump quer anexar o Vaticano?

Não duvidem.

domingo, 6 de abril de 2025

Le Parisien: o ar do Louvre, de Notre Dame e do Sacré-Coeur à venda em latas. Custa 12 euros a unidade . O fabricante não informa se vai enlatar o cheirinho do metrô de Paris na hora do rush

 

Le Parisien, edição de 6/4/2025

por José Esmeraldo Gonçalves
Turistas que forem a Paris têm nova opção de lembrancinhas. A empresa tcheca Fattrol lançou enlatados com o ar de ambientes icônicos da Cidade Luz. Segundo o jornal Le Parisien, a iniciativa é polêmica. Há quem a ache ridícula, quem a considere apelação para enganar visitantes e, obviamente, quem compre o enlatado para levar para os amigos e parentes.  No momento estão à venda por cerca de 12 euros, os ares do Louvre, da Torre Eiffel, Notre Dame, Museu  d' Orsay e Sacré-Coeur. 
Se a moda pegar, vamos esperar que não captem o ar do metrô de Paris na hora do rush ou de restaurantes franceses que servem andouillette. Vou poupá-los da descrição, apenas digo que é um tipo de salsichão cujo recheio inclui o conteúdo do cólon do porco. Maiores informações com as jornalistas Jussara Razzé e Deborah Berman que provaram o prato no interior da França e imediatamente devolveram à cozinha a iguaria mais fedida do mundo.  

Ou, se a Fattrol vier para o Brasil, que não recolha, por exemplo, o ar da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Das Comissões de ambas as casas. Se for utilizar o ar de Copacabana, evitar o cheirinho do Posto 5, nas imediações da única estação de tratamento de esgoto no mundo instalada em área turística. Passar longe das redações das Jovem Pan, de vista Oeste, do Antagonista...    

sábado, 1 de março de 2025

Marcio Ehrlich (1951-2025) - o historiador da publicidade brasileira

Marcio Ehrlich

A coluna Janela Publicitária na...


Revista Tupi, 2020

por José Esmeraldo Gonçalves 

Em 2020, em pleno isolamento social imposto pela Covid, editei um projeto interessante idealizado por David Ghivelder: uma revista para a Tupi 96.5 FM. Toda a produção, com exceção obviamente da gráfica, foi em home office. A equipe era formada por revisteiros da Manchete como Dirley Fernandes, Sidney Ferreira, Alex Ferro, David Júnior, Tânia Athayde, Roberto Muggiati, além da repórter Dani Maia, ex-Abril. Marcio Ehrlich foi o responsável pela coluna Janela Publicitária, o mesmo título do seu site e podcast. Tínhamos então, nas páginas da publicação da "rádio que vai para as bancas", o maior especialista no assunto. 

Desde os anos 1970, Marcio Ehrlich era atualidade e memória da publicidade brasileira. Foi diretor a Associação Brasileira de Publicidade (ABP). Era referência no setor. Entendia que a publicidade não apenas vendia produtos mas se connectava com a vida das pessaos. 

Sua última coluna foi sobre o Natal. Ele sentia falta das mensagens natalinas produzidas pelas agências especialmente para a época. "Todo anunciante sonhava que sua agência de publicidade trouxesse um jingle que tocado na rádio ou na TV fizesso o público sair cantarolando depois, como se fosse um hit popular", lembrou.  Ehrlich citou o antológico comercial da Varig. "Estrela brasileira no céu azul , iluminando de norte a sul, mensagem de amor e paz, nasceu Jesus, chegou Natal. Papai Noel voando a jato pelo céu trazendo um Natal de felicidade..." 

No último parágrafo da coluna ele lamentou: É uma pena. Neste momento em que muitos shoppings estão tendo que botar seus Papais Noéis atrás de uma vitrine ou de uma tela de celular, por conta do isolamento social, bem que eu gostaria de estar cantando uma nova musiquinha fofa de Natal. você não?"  

O que poucos sabiam: Ehrlich, além de jornalista e psiquiatra por formação, foi ator, trabalhou em várias novelas. Uma delas, "Pantanal", da extinta Rede Manchete. 

Marcio Ehrlich faleceu no dia 24/2/2025, aos 74 anos, vítima de choque séptico e falência de múltiplos órgãos. Era casado com a jornalista Renata Suter, deixou dois filhos e um neto.