por Eli Halfoun
Quem trabalhou com Samuel Wainer (tive a felicidade de tê-lo como mestre) sabe que, muito mais do que um jornal revolucionário (gráfica e editorialmente), a Ultima Hora era uma verdadeira escola de jornalismo. Estive presente em um episódio que nos ainda dias de glória do jornal, revela bem que Samuel Wainer não era um patrão qualquer. Era um colega-repórter e provou isso várias vezes em sua atitudes. Boa parte do pessoal da redação ficava no jornal até o fechamento mesmo que não tivesse nada para fazer. Em uma dessas noites fui indicado para um plantãozinho e tinha que ficar atento caso houvesse necessidade de preparar um segundo clichê. Na verdade a turma ficava ali com intenção bem diferente do que a de trabalhar: descíamos para ao porão, onde se localizava o arquivo, e o transformávamos em um “cassino” onde o jogo de cartas corria solto.
Nessa noite o telefone toca e o Samuel manda me chamar e diz:
- Eli, sei que vocês estão jogando. Suspende o carteado um pouquinho, pede pro pessoal subir, colocar papel na máquina e fingir que está trabalhando.
- Por que Samuel? – tive a ousadia de perguntar e ele explicou:
- É que o Raimundo (era o diretor financeiro) está indo pra aí dar um flagrante em vocês e demitir todo mundo por justa causa.
Transmiti o recado e em dez minutos estávamos todos na redação fingindo trabalhar. Quando o Raimundo chegou ficou completamente sem graça, disfarçou e desapareceu.
Nos meus ainda inocentes 20 anos de idade fiquei curioso e no dia seguinte fui até a sala do Samuel e perguntei:
- Por que você não permitiu o flagrante? Ele ensinou:
- Sei os repórteres que tenho e se todos estão na redação fora do horário e acontecer alguma coisa espetacular o jornal terá uma grande equipe em ação.
Não foi só mais uma demonstração de bom caráter do companheiro repórter que o Samuel representava. Foi a lição de que o interesse maior pelo bom jornalismo está presente no jornalista todo o tempo. Samuel Wainer era acima de tudo um jornalista. E foi isso que ensinou para muitos profissionais. Felizmente tive a sorte e o privilégio de ter sido um de seus alunos.
Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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