segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Fotomemória da redação: "Não esquece o Maverick".

Equipe Manchete na Copa de 1978 e o Maverick - obtido por permuta com a Ford - e que tinha espaço recomendado em matérias com direito a registro da equipe. Na foto em Mar del Plata aparecem Gil Pinheiro, Ney Bianchi, Gervásio Baptista, Tarlis Batista e Frederico Mendes.  
Nesta foto, Éldio Macedo, Gil Pinheiro, Ney Bianchi, David Klajmic, Gervásio Baptista, Frederico Mendesce Tarlis Batista e onipresente Maverick.

por Ed Sá

Com a Copa do Mundo de 1978 sediada na Argentina, bem ao lado, a Manchete enviou uma equipe mais numerosa. E com maior apoio logístico. Uma permuta comercial com a Ford garantiu carros à disposição dos jornalistas, repórteres fotográficos e diretor de publicidade.
Em meio às pautas esportivas usuais, os editores da Manchete e da Fatos & Fotos devem ter repetido várias vezes, por telefone, do Rio, uma instrução importantíssima: "Não esqueçam de fotografar o Maverick".
E assim foi feito. O Brasil perdeu a Copa, a Argentina, que vivia uma das épocas mais dramáticas da sua história - uma ditadura sanguinária - levou a taça, mas o carro que a Ford fabricou no Brasil até 1979 apareceu na revista mais do que muito jogador.

domingo, 8 de setembro de 2019

Já pensou nessa pergunta essencial? Quando o Brasil começou a não dar certo? Essa capa da Manchete pode ser uma pista


por O.V.Pochê

Os institutos de pesquisa jamais fizeram a pergunta essencial: quando o Brasil começou a não dar certo?

Quando Cabral desembarcou? Quando a família imperial chegou ao Rio de Janeiro? Quando Deodoro proclamou a República? Quando Getúlio saiu da vida para entrar na história? Quando Jânio foi eleito? Quando militares fizeram a "revolução" de 64? Quando inventaram o axé?  Ou quando a música sertaneja se tornou a trilha sonora do país que já foi da bossa nova? Quando o "bispo" Macedo escreveu sua biografia? A eleição de Bolsonaro? Essa não ajuda, é mais um complicador na escolha.

Difícil responder à pergunta. .

Melhor ficar com uma capa representativa da Manchete, em 1992: Chico Anysio e Zélia Cardoso de Mello.

Essa capa e esse encontro sentimental tão inesperado de figuras nacionais deve significar alguma coisa. O humorista e a ministra que entrou para a posteridade ao confiscar a poupança de milhões de brasileiros.

Carlos Heitor Cony contava um caso que cabe nesse post. Nos anos 60, intelectuais se reuniam em um casarão da rua das Palmeiras, em Botafogo, para discutir a "conjuntura". O Brasil estava no escuro e não havia qualquer indicação luminosa da porta de saída. O debate lançava todo tipo de ideia para a possível solução do impasse institucional. Lá pela madrugada - contava Cony - levanta-se um idoso, voz trêmula, e faz sua única e última intervenção: "Temo que não dê certo".

Essa frase deveria estar na bandeira do Brasil no lugar do insípido "ordem e progresso".

Ou, pelo menos, na chamada de capa da Manchete.

Amazônia ainda na mídia internacional e a gangue das queimadas acima da lei




A mídia internacional enviou equipes para testemunhar no próprio local a destruição da amazônio pelo fogo de fazendeiros, posseiros e garimpeiros. A mídia brasileira aos poucos reduz espaço para o assunto. Nessa semana, apenas a revista Época destaca o problema que persiste e focaliza a gangue que incendeia a mata. Segundo os ambientalistas, setembro é o mês onde tradicionalmente ocorrem mais focos de queimadas. A ver se a mídia nacional vai agir como extintora ou denuncia

Brasil de joelhos: a teocracia avança

por Flávio Sépia 
A censura avança em desafio aberto à Constituição. Episódios de restrição da liberdade começam a se tornar perigosa rotina, como a ofensiva contra a Bienal do Livro, exposições de arte, peças teatrais e obras didáticas.

A maioria dessas iniciativas autoritárias é movida pelo fundamentalismo religioso. Não se trata aqui de criticar uma denominação. A mesma Constituição que os fanáticos desrespeitam assegura a todos o direitos de exercer a fé que lhes aprouver.

Criticar censura, perseguições a cultos afro, apropriação de verbas públicas, ocupação de funções publicas e a contaminação de parte da Justiça em desafio à laicidade constitucional do Estado não têm a ver com fé. Trata-se de denunciar projeto político de dominação e opressão, de imposição de preceitos, de sufocamento das liberdades individuais em nome de uma lucrativa indústria de altos faturamentos e altamente subsidiada por favores dos governos e que mira um domínio político partidário sobre todos os brasileiros.

Nos últimos 20 anos vários partidos, tanto conservadores quanto social democratas ou de esquerda, de olho em votos fáceis, colaboraram para a ascensão desse complexo político-industrial-religioso, que espalha influências sobre todos os aspectos da vida do país, com digitais no golpe que derrubou Dilma Rousseff, na supressão de direitos dos mais carentes e no desmonte de leis de proteção dos trabalhadores, casos das reforma da Previdência e trabalhistas. O agravamento da distribuição de renda e consequente aumento da pobreza favorecem à máquina partidária da fé. O desprezo ao meio ambiente e a liberação de armas também estão entre suas bandeiras políticas.

O Brasil paga caro por ter estimulado a serpente a sair do ovo. E, mais uma vez, não se trata de religião mas de lucro, política e poder.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Janir de Hollanda: uma vida dedicada ao jornalismo

Janir de Hollanda, em 1995, em Moscou, quando fez matérias para a Manchete
sobre a Rússia e os desafios do pós-comunismo. 
Janir de Hollanda foi um dos tripulantes da "nave louca" da Rua do Russell. Em épocas diversas, revistas como Amiga, Mulher de Hoje, Conecta e Manchete levaram sua marca.

Esta foto é de 1982. A revista Manchete comemorava
30 anos. Janir de Hollanda, Roberto Muggiati, Lincoln Martins, Edson Pinto,
Roberto Barreira, Daisy Prétola e Gervásio Baptista. Na primeira fila: Marília Campos,
Justino Martins, Vera Gertel, José Resende Peres e Thereza Jorge.
Os anos 1990 não foram fáceis para quem dirigia publicações da Bloch. Além dos desafios crescentes do mercado, cada jornalista enfrentava a instabilidade de uma editora em crise. A incerteza passeava nos corredores da redação enquanto as equipes se debruçavam sobre exaustivos fechamentos.

Ao longo da sua carreira, Janir lançou vários produtos jornalísticos visando nichos do mercado. Era atento aos novos caminhos. Os anos difíceis não abalaram essa sua característica. Mesmo em meio àquela década criou a Conecta, revista especializada no universo digital e esteve à frente da Manchete on line, que tentou inserir a marca em um novo tempo.

Em um texto que escreveu há alguns anos, Janir analisou o impacto da internet na atividade a que tanto se dedicou. "O grande desafio para figurões e figurinhas da mídia é entender e se aproveitar da grande revolução que está em marcha. O futuro não é o de jornais e revistas de hoje embrulhados em formato digital. O que está em gestação é uma nova forma de fazer jornalismo. Uma mesma história poderá ser contada de diferentes maneiras, usando áudio, vídeo e texto, uma nova especialização para as futuras gerações de jornalistas. É possível até que esta revolução bote no lixo um dos mais importantes cânones da construção da notícia, as cinco perguntas que formam a estrutura do texto jornalístico: quem, quando, como, onde e por quê. No espaço limitado do papel ou do tempo no rádio e na tv, essas perguntas botaram ordem na casa do jornalismo. Mas na internet, na qual cada internauta é um editor em potencial e onde viceja um novo idioma, o internetês, o mínimo que se pode esperar é que uma nova pergunta seja acrescentada às cinco consagradas: pra quê?
A morte anunciada de revistas e jornais impressos, sob a avalancha da internet, beira o catastrofismo. Em todo caso, de que a coisa está feia ninguém dúvida".

Quase na reta final da Bloch, editou a Manchete na versão tradicional. O fim da editora o levou à Ediouro e, depois, às alternativas que a crise do modelo jornalístico impôs a muitos profissionais. Escreveu livros e criou revistas corporativas.

Até há poucos dias, Janir trabalhava em um novo projeto. Um infarto o atingiu ontem enquanto estava estava envolvido na seleção de fotos, edição e textos para um livro ilustrado sobre a história do Circo. Foi o ponto final da sua intensa e múltipla trajetória.

Boris Johnson, o trapalhão atrapalhado

Boris Johnson. Twitter
por Jean-Paul Lagarride

Em matéria de mundo bizarro, o Brasil não está sozinho.

O Reino Unido também vive às voltas com um trapalhão atrapalhado.

O apresentador Graham Norton, da BBC (no Brasil, seu programa de entrevistas com celebridades é exibido no canal por assinatura Film&Arts) é normalmente bem-humorado, pelo menos até o atual primeiro-ministro Boris Johnson o tirar do sério.

Se você já se perguntou o que diabos está acontecendo no Reino Unido, Norton explica. Ao comparecer ao Late Show de Stephen Colbert, ele deu uma aula de política.

À sua maneira.

Norton comparou Boris Johnson a Cabbage
Patch Kid, boneco famosos na
Inglaterra e nos Estados Unidos.
"De um modo leve, é como se o Reino Unido estivesse envergonhado pelos Estados Unidos se sentirem sozinhos no cenário mundial e encontrado seu próprio Cabbage Patch Kid bravo e o tornou líder", disse Norton.

"Eu não confiaria que ele regasse minhas plantas quando estivesse fora, mas de alguma forma ele é o primeiro-ministro", finalizou.

A notícia está no Mashable.

Além da comparação inevitável com Bolsonaro, o contexto do Reino Unido em guinada para a direita mostra outra semelhança com o Brasil: o movimento de apresentadores de TV rumo à política. Boris Johnson era um animador televisivo caricato e histriônico. João Dória e Luciano Huck, egressos da TV, estão aí para não deixar Trump, Boris, Beppe Grillo (comediante da Itália, deputado e fundador do  Movimento 5 Estrelas) e Volodymyr Zelenskiy (humorista que se tornou presidente da Ucrânia) mentirem.               

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

"Vou de preto" - Manifestação em defesa da Amazônia, contra cortes de verbas de educação e pesquisa


Encurralado por acusações de corrupção, um Collor de Mello descontrolado convocou os brasileiros para irem às ruas no dia 16 de agosto de 1992 vestidos de verde e amarelo. Naquele momento, sob o argumento de que "a minoria atrapalha, a maioria trabalha", ele imaginou ser apoiado por multidões.

Deu ruim.

O povo foi às ruas, mas vestindo preto e pedindo 'fora Collor".

Na semana passada, Bolsonaro pediu que a população vista verde e amarelo no próximo sábado, 7 de setembro. "É para mostrar ao mundo que aqui é o Brasil. Que a Amazônia é nossa". Em baixa nas pesquisas, batendo recordes de desaprovação em comparação com vários outros presidentes no mesmo tempo de governo, o inquilino do Planalto cria "inimigos". Nenhum país está dizendo que "aqui não é Brasil", muito menos as potências estão a beira de mandar tropas ocupar a Amazônia. Ao contrário, quem está botando fogo na Amazônia são brasileiros incentivados pela política governamental exposta em declarações públicas do próprio Bolsonaro e dos seus ministros.


Em resposta, a UNE convoca manifestação para o mesmo sábado e pede aos estudantes e à população que se vistam de preto e pintem os rostos de verde e amarelo para protestar contra corte de verba de educação e pesquisa e pela defesa do meio ambiente.

Na capa do Cahiers du Cinéma, o bangue-bangue social do filme "Bacurau"


Cahiers du Cinéma Bacurau vem com a capa de "Bacurau", filme que ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, de Melhor Filme e Melhor Diretor no Festival de Munique e já está em exibição nos cinemas brasileiros desde a semana passada. A revista francesa publica uma entrevista com o diretor Kleber Mendonça Filho (Júlio Dornelles codirigiu o filme). O contexto da fictícia cidade de Bacurau remete à violência, aos abusos e à desigualdade  dos dias atuais. Por lançar na cara do freguês uma dura realidade, a mesma que está à sua volta, não é filme que agrade a todos. A crítica brasileira, em sua maioria, reconheceu a qualidade do filme e seu hipertexto do difícil momento atual, embora uma ou outra dissonante tenha ironizado roteiro e personagens. A propósito, a Cahiers du Cinema também faz uma análise dos polos eletrificados do cinema brasileiro no "Brasil de Bolsonaro". 

R.I.P - Governo coveiro vai enterrar obra de estação de metrô. Arqueólogos do futuro agradecem

por Flávio Sépia
O arrocho fiscal imposto pelo neoliberalismo - política econômica já em revisão em muitos países - deixa o Brasil em coma e os especuladores financeiros no paraíso. Com o Estado paralisado pelo rentismo, só se ouve falar em desmonte, desativação, fechamento de fábricas, abandono de obras e, agora, enterro de canteiros.

A "nova era" inventou a tecnocracia do coveiro.

O Globo de hoje noticia que o governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, vai mandar soterrar a enorme escavação feita na Gávea para o que seria a estação de metrô do bairro. O Rio está quebrado, alega o político. O fato exemplifica bem o que é a privataria de obras prontas. Nenhum grupo privado se apresenta para concluir a estação e explorar a linha depois, nem mesmo os fundos controladores do metrô carioca. Este sim seria um investimento, tal como se faz em muitos países. Aqui, empresários preferem esperar que o Estado faça as obras e banque seus custos e só então se coçam para descolar uma concessão amiga.

Ser capitalista assim é moleza. Nessa hora, os espertos esquecem o dogma do "estado mínimo".
Se não embolsarem o máximo, essa obra, apesar das reivindicações dos cariocas - Jardim Botânico, Jockey e Gávea são bairros campeões de engarrafamentos - jamais ficará pronta.

Além do prejuízo que é soterrar todo o canteiro de obra da Praça Santos Dumont, o governo do Rio de Janeiro ainda banca o aluguel do tatuzão utilizado para escavar a linha, que está enterrado no subsolo da imediações da Rua Igarapava, no Leblon, e custa, parado, milhões em manutenção.

Casos como esse, de obras paradas que geram prejuízos bilionários, se multiplicam pelo país.

Procura-se um capitalista que abra mão de mamar no Estado e assuma esses investimentos.

No Brasil do fanatismo neoliberal e de uma política econômica de corretagem especulativa, enterrar canteiros de obra é o único "investimento" em infraestrutura. Os arqueólogos do futuro agradecem.

Protesto carioca leva governo pro poste! Em Botafogo, Rio

Reproduzido do Twitter

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Na capa da Piauí: o Brasil veste cinza...

Capa da Revista Piauí. Edição de setembro/2019

Ministro da "Educassão" pode virar acadêmico. Por que não?

Foto: Reprodução O Globo/04/7/2019


Elio Gaspari conta hoje na sua coluna do Globo um caso pouco conhecido. O general Aurélio de Lira Tavares, um dos integrantes da junta ditatorial que mandou no Brasil entre 31 de agosto e e 30 de outubro de 1969, escrevia preciosidades como "acessoramento", "encorage" e "distenção".

A revelação pode ser um alento para o atual ministro da Educação Abraham Weintraub, que também tem embates perdidos com o idioma e problemas graves pelo menos com a letra "s", como em "paralização" e "suspenção.

O general Lira Tavares, apesar da falta de estrelas ao manusear o vernáculo, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 23 de abril de 1970. Segundo o site da ABL, ele é autor de 16 livros, a maioria sobre temas da caserna, além de poesias que escrevia sob o pseudônimo de "Adelita".

Tudo isso está registrado na biografia do general que votou a favor do AI-5 pontuando que não acreditava na Constituição para salvar a nação.

Restou apenas um mistério para a história: quem era o revisor de Lira Tavares.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Mídia: atestado de bons antecedentes para acesso de repórteres a coletiva de ministro? Bizarro. Se a mesma exigência for feita a autoridades as coletivas serão praticamente extintas...



O credenciamento para uma entrevista coletiva do ministro Paulo Guedes, marcada  para a próxima quinta-feira, 4, em Fortaleza, fez uma exigência bizarra. Se quisessem ouvir o que o "Posto Ipiranga" de Bolsonaro tem a dizer, repórteres e fotógrafos eram obrigados a apresentar atestado policial de antecedentes criminais.

Ora, se a mesma exigência fosse feita às autoridades de todos os níveis que os jornalistas são obrigados a entrevistar em todo o país, praticamente seriam extintas as coletivas.

O  Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiaram imediatamente a exigência. "Uma obrigatoriedade completamente inédita e absurda. Como reportou nesta tarde o jornal O Povo, uma cobrança “nunca antes apresentada para o acompanhamento de autoridades durante suas passagens pelo Ceará”, diz trecho da nota das entidades de classe.

Após a repercussão negativa da exigência descabida, o tal atestado deixou de ser condição para acesso à coletiva. A empresa AD2M Engenharia de Comunicação, responsável pela assessoria de imprensa de evento com o Ministro Paulo Guedes, afirmou que tudo não passou de um "equívoco".

Deve ter sobrado para o estagiário.

Começou mal a primeira apresentação de Paulo Guedes no Nordeste após oito meses de governo.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Fotomemória da redação: Cony e o carrasco nazista Franz Wagner

Em 1978, Carlos Heitor Cony entrevistou com exclusividade para Manchete o carrasco nazista Franz Wagner. Oficial austríaco da SS, ele era o segundo em comando no campo de concentração Sobibor. Com o fim da guerra, fugiu para o Brasil onde viveu durante anos até localizado por Simon Wiesenthal, caçador de nazistas e sobrevivente do Holocausto, com o auxílio do jornalista brasileiro Mário Chimanovitch. Foi preso em maio de 1978.
Com o Brasil em plena ditadura, o STF negou sucessivos pedidos de extradição de Franz Wagner para Áustria, Polônia, Alemanha Ocidental e Israel.
Cony perguntou ao nazista se ele ainda fazia planos de vida. "Continuar vivendo. Isto é um plano. Sou um homem simples, me basto com pouco. Se tiver que ser preso, prefiro ficar na Alemanha. Foi por ela que lutei durante a guerra. Foi por ela que estou nessa situação, sendo acusado de besta humana, de fera nazista", disse ele, sem dar sinais de arrependimento.
Dois anos depois, o nazista foi encontrado morto em uma cela em São Paulo, com uma faca cravada no peito. Houve suspeita de assassinato, mas oficialmente foi declarado o suicídio.

Dados de milhões de brasileiros estão ameaçados - Privatização do Dataprev e Serpro pode gerar a maior invasão de privacidade já vista no mundo...




A mídia neoliberal brasileira sequer discute o assunto. Na verdade, omitiu dos brasileiros essa perigosa consequência ao noticiar o recente e açodado pacote de privatizações anunciado pelo governo federal.

O site de tecnologia ZDNet destacou o tema na sua edição americana, com artigo da jornalista Angélica Mari, e foi direto ao ponto. Dados pessoais e profissionais de cidadãos brasileiros estão ameaçados pela privatização de duas grandes empresas públicas; o Dataprev e o Serpro. O primeiro cuida de todas as informações para o sistema de assistência e seguridade social do Brasil. O segundo é responsável pelas informações fiscais, pelo controle da receita e gastos públicos, dados do imposto de renda, entre outros, além de demais aspectos das relações dos cidadãos com o governo. Se a anunciada privatização se consumar, dados confidenciais de milhões de brasileiros poderão ser manipulados pela empresa privada que comprar toda a movimentação das operações de cada cidadão. 

Um manifesto divulgado pelos funcionários do Dataprev alerta para essa enorme apropriação de informações pessoais. O documento foi encaminhado à Câmara dos Deputados, onde os funcionários levantam a importante questão e argumentam, também, que o Dataprev é lucrativo e não depende de fundos federais.

O que está sendo gestado é a mais gigantesca invasão de privacidade já implementada por um governo.

PARA LER A MATÉRIA DO ZDNET, CLIQUE AQUI

Jornalista e professora brasileira é indicada para o Press Freedom Award 2019

A organização Repórteres sem Fronteiras RSF anunciou os indicados para o Press Freedom Awards 2019. Jornalistas de 12 países foram selecionados para três prêmios cujo resultado final será divulgado no próximo dia 12 deste mês, em Berlim.
"Muitos dos indicados enfrentam ameaças constantes ou foram presos várias vezes por seu trabalho - mas esses jornalistas se recusaram a ser silenciados e continuam a levantar a voz contra o abuso de poder, corrupção e outros crimes. Em vez de nos desanimar, as situações difíceis que esses jornalistas enfrentam nos inspiram com a vontade de conseguir mudanças. A coragem na busca de ideais jornalísticas é uma força motivadora formidável para todos aqueles que desejam enfrentar os desafios mais importantes da humanidade ". diz Christophe Deloire, secretário-geral do Repórteres Sem Fronteiras.
Entre os nomeados para o Press Freedom está a jornalista naturalizada brasileira Lola Aronovich, nascida em Buenos Aires, professora da Universidade Federal do Ceará, e que se tornou conhecida por lutar pelos direitos das mulheres. Entre suas conquistas está a chamada "Lei Lola", que possibilita à Polícia Federal assumir qualquer investigação sobre crimes online de natureza misógina.
Lola Aronovich, que mantém o blog Escreva Lola Escreva e está presente no Twitter e no You Tube, é repetidamente atacada pelas milícias digitais e recebe frequentes ameaças de morte.
VISITE O BLOG DE LOLA ARONOVICH, AQUI

Lembra? O escândalo Panama Papers, que envolveu brasileiros, deu em nada mas agora virou filme

Meryl Streep em "A Lavanderia"
por Ed Sá

Um escândalo internacional brilha nas telas do Festival de Veneza. O filme "The Laundromat" ("A Lavanderia"), da Netflix, é baseado no escândalo internacional gerado pelo vazamento de movimentações bancárias da vasta elite internacional que manobra dinheiro em paraísos fiscais para fugir dos impostos.

Para recordar: em 2016 documentos do escritório de advocacia Mossack & Fonseca - muito frequentado por oligarcas brasileiros do mercado financeiro, da indústria, do agronegócio e da comunicação, revelaram o esquema de evasão fiscal e lavagem de dinheiro com o qual super-ricos de vários países escondiam seus bilhões de dólares através de empresas de fachada.

Em apenas um endereço havia 250 mil "pessoas jurídicas" registradas. Se todos os donos daquelas firmas "laranjas" resolvessem ir ao trabalho no mesmo dia nem um estádio de futebol seria suficiente para recebê-los.

Gary Oldman e Antonio Banderas estão em "A Lavanderia". 
Apesar do tema dramático, o diretor Steven Sordenberg optou por contar a história através de um filme com tons de uma comédia "ácida". A figura central da trama é uma viúva enganada por um golpe financeiro. À RFI, Maryl Streep que faz o papel da viúva, declarou: "Este filme é divertido e engraçado, mas é realmente importante. Essa é uma maneira engraçada de contar uma piada de mau gosto, uma piada que riu de todos nós". Streep contracena com os atores Gary Oldman, Antonio Banderas e Sharon Stone

Os Panama Papers, um pacote de mais de 10 milhões de documentos, foram enviados por uma fonte anônima para o jornal alemão Süddeutsche Zeitung. Diante do enorme volume de provas, um grupo de jornalistas investigativos organizou a publicação em centenas de veículos de vários países. No Brasil, Estadão, UOL e Rede TV participaram do pool que publicou reportagens exclusiva sobre o assunto. Em geral, a mídia conservadora brasileira minimizou o escândalo sob o argumento de que abrir empresas em paraísos fiscais não é crime. De fato, não é ilegal, em princípio. Mas os documentos apontavam para evasão fiscal, lavagem de dinheiro e até movimentação financeira para para traficantes de drogas através de empresas de fachada.

A facção brasileira do escândalo envolveu vários políticos e seus parentes, empresários e instituições financeiras e grupos de comunicação. Pra variar, deu em nada.

Durante uma entrevista coletiva em Veneza, Meryl Streep lembrou que "pessoas morreram por causa disso". A atriz se referia à jornalista Daphe Anne Caruana Galizia, assassinada em ataque a bomba em 2017, em Malta, quando participava da investigação dos Panama Papers. Galizia denunciava grupos organizados para lavagem de dinheiro em vários jornais e mantinha o blog "Running Commentary, um dos mais lidos no seu país, um ativo paraíso fiscal.

"The Laundromat" estréia na Netflix no dia 18 de outubro.

domingo, 1 de setembro de 2019

O que o "Museu Temer" esqueceu de contar...

Fotot- Reprodução o Globo

por O. V. Pochê

Matéria no Globo, hoje, mostra o Centro de Memória Presidente Michel Temer, na Faculdade de Direito, em Itu (SP). O local contém acervos do ilegítimo que ocupou o Planalto após conspirar para o golpe que derrubou Dilma Rousseff. A reportagem informa que o tal centro está fechado. Apesar de ter ocupado valioso espaço do pátio da faculdade, certamente mais importante em metros quadrados e bem mais útil do que o notório Michel, o Centro de Memória não é uma má ideia. Precisa, talvez, de alguns ajustes. Uma sala especial sobre o Porto de Santos, por exemplo, que seria rendoso latifúndio político do golpista. Uma estátua em tamanho real do Coronel Lima, o amigo de Temer apontado como intermediário de propinas, uma espécie de "avião" que decolava para recolher malas de dinheiro. Uma sala multimídia onde os visitantes poderão assistir ao vivo a conversa de Temer com Joesley Batista e diálogos na madrugada com Moreira Franco, outro acusado por corrupção. E, para relaxar ou sair correndo, dependendo do gosto do freguês, uma sala com as poesias escritas por Temer. O único problema é que assim repaginado o memorial será proibido para menores.

Leitura Dinâmica: Neymar, Vereza, Oscar...

* Amanhã fecha-se a janela de transferência que possibilitaria a negociação de Neymar para o Barcelona. Dificilmente haverá uma reviravolta. O jogado deverá voltar ao elenco do clube francês mesmo a contragosto. Neymar acumula recordes: foi protagonista da transferência mais cara do futebol - 222 milhões de euros para sair do mesmo Barcelona -, da mais fracassada (seu rendimento no PSG com os vários afastamentos por contusões que o levaram a não participar de jogos decisivos, não justificou a transação), sofreu bullying em rede mundial de TV  (quando Mbappé tentou impedir o brasileiro de entrar na foto com os demais jogadores do PSG para a pose com o Troféu dos Campões) e passou pelo vexame de oferecer 20 milhões de euros do próprio bolso para reforçar a última proposta do Barcelona ao PSG. Neymar, na verdade, sabe que se tiver que permanecer no PSG terá a difícil tarefa de reconquistar a torcida e o próprio ambiente no time.

* Carlos Vereza, cheerleader do bolsonarismo, reclama da "patrulha". Coitado. Daqui a 50 anos alguém vai fazer um filme sobre ele corrigindo perseguição "injusta". Vide Simonal. Regina Duarte também bolsonarista e também "patrulhada" deverá render outro filme-reabilitação bancado pela direita futurista.

* A Academia Brasileira de Cinema anunciou o filme "Vida Invisível", de Karim Ainouz como representante do Brasil para concorrer a uma das cinco vagas de produções internacionais que disputarão o Oscar de Melhor Filme Internacional (antes chamado "Melhor Filme em Língua Estrangeira). O filme de Karim Ainouz recebeu cinco votos enquanto "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho, foi indicado por quatro jurados. Os perdedores tentaram indicar um filme que passasse uma mensagem política mais forte. Os vencedores da disputa preferiram eleger um filme que, na visão deles, está mais próximo do gosto dos eleitores do Oscar. Nos últimos anos tem sido assim: jurados condicionam a escolha a uma espécie de loteria para acertar o "estilo" preferido de Hollywood. Não tem dado certo. A última vez que o Brasil ficou entre os cinco concorrentes foi há 20 anos, com "Central do Brasil".

* A nova cirurgia de Bolsonaro, supostamente marcada para a semana que vem, desperta rumores nas redes sociais. o sujeito deverá ficar dez dias afastado. A dúvida é se a cirurgia justificará sua ausência na abertura solene de novo período de trabalhos da ONU. Tradicionalmente, presidentes brasileiros discursam durante a sessão inaugural. Com o tema das queimadas na Amazônia será abordado pela ONU, as redes sociais desconfiam que Bolsonaro vai dar no pé. Uma novela a acompanhar nos próximos dias.

* O evangélico Bolsonaro foi ao "Templo do Salomão", em São Paulo, receber benção do "bispo" Macedo. Até aí, "saravá mi si fio". O problema é que sobrou para a imprensa. O oligarca dono da Record, que tem sido privilegiada no quesito verbas publicitárias do governo federal, chamou de "inferno da mídia" o tipo de cobertura que é feita sobre o governo. Macedo ainda declarou que falava com autoridade porque não era ele quem estava ali, mas o próprio Espírito Santo. Enquanto isso, bispos católicos que criticam a destruição da Amazônia são ameaçados como "inimigos da pátria".

Na capa da Carta Capital - Agronegócio queima seu "latifúndio" e tragédia amazônica atinge Brasília


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Rapazes poderosos - ...E a Lava Jata pautava o "jornalismo investigativo"

A charge de Jaguar
reproduzida
da Edição Comemorativa
dos 40 anos do Pasquim/2008
Os mais recentes chats da VazaJato materializam o que era suspeita: a parceria abjeta entre alguns veículos e o esquema montado pela facção de procuradores para "vazamentos seletivos" da Lava Jato.

A força-tarefa sempre negou a ilegalidade que agora é desmascarada.

A charge de Jaguar reproduzida ao lado foi publicada em 2008 na edição comemorativa dos 40 anos do Pasquim. É premonitória.

Parte do jornalismo investigativo brasileiro, ou, pelo menos a forma como a mídia conservadora o vê, sai queimado a partir da revelação dos diálogos da Lava Jato. Pelo que foi revelado até agora - a mídia ainda terá mais participações especiais em futuros chats - várias matérias apresentadas como fruto da apuração de repórteres investigativos tinha nada de "investigação", eram apenas repasses de informações manobradas pelos procuradores. A mídia aparece como uma alegre marionete de interesses dos porões curitibanos, certamente coincidentes com as próprias intenções políticas e empresariais dos veículos que atendiam à estratégia do putsch do MPF.

Reproduções The Intercpt Brasil 

A força-tarefa de Curitiba é a pauteira e o jornalista contatado  (no caso acima, teve a identidade preservada) aparenta subserviência e parece vibrar de emoção ao receber o "presente".

Tristes sintomas da deterioração ética da mídia conservadora.

A falta de um zíper ameaça ritual de boa sorte dos cosmonautas russos

Reprodução Daily Mail
Desde Gagarin, os cosmonautas soviéticos e atualmente russos mantiveram a tradição de antes de embarcar nas cápsulas fazer um xixi rápido no pneu do ônibus que os levava plataforma de lançamento em Baikonur.

O gesto, na verdade uma superstição, está em risco. A Rússia lançará uma nova estação espacial - a Federação - para substituir as naves Soyuz em uso desde os anos 1960.

Veículo novo, traje novo. E assim os novo macacões espacias apresentados ontem em Moscou tornarão impossível o acesso ao elemento essencial para o ritual.

Os cosmonautas se articulam para pedir ao designer que altere o traje e permitir o xixi da boa sorte.

Em tempo: nada mudará para as  mulheres astronautas que nunca puderam seguir o ritual de Gagarin que, em 1961, desceu do ônibus para fazer xixi antes de subir na Vostok 1. A notícia está no Daily Mail.


Veja fotografou Queiroz. Fica faltando agora uma nova hashtag: "Fala Queiroz!". Mas o caso não tem prazo para sair do freezer


Veja fez paparazzo do Fabrício Queiroz. Ele está em São Paulo, segundo a revista, vai regularmente ao Hospital Albert Einstein, onde faria tratamento contra um câncer no intestino. Embora a pergunta "Cadê  Queiroz" tenha se popularizado, o pivô de movimentação financeira suspeita - o escândalo da "rachadinha", que viveu 15 minutos de fama e foi esquecido - que envolve figuras do clã Bolsonaro não é procurado pela PF e muito menos pelo MP. A matéria é de observação, não há declaração do suspeito e o texto reconta o caso atualmente congelado em muitos graus abaixo de zero. Embora convocados, Queiroz, mulher, filhas e Flávio Bolsonaro não compareceram ao MP que, apesar disso, não denunciou o grupo pela recusa em depor.
De qualquer forma, Veja responde: aí está Queiroz. Falta agora viralizar uma nova hashtag: "Fala Queiroz!"

Hidroaviões do G7 começam a apagar queimadas na Amazônia. Menos no Brasil. Bolsonaro ainda não autorizou voos

Hidroaviões financiados pelo G7 já estão em ação contra queimadas decolando do Paraguai. Outras aeronaves partirão nos próximos dias em operação coordenada pelo Chile.
O Brasil, por enquanto, está fora da rota dos hidroaviões.
Bolsonaro ainda não autorizou voos bancados pela ajuda do G7 sobre a Amazônia brasileira, precisamente a maior parte e a mais atingida pela devastação das queimadas. A notícia está no site da Rádio França Internacional.

CNN/Reprodução
Ontem, a CNN, em reportagem especial, mostrou que  brigadas de incêndio brasileiras trabalham sem equipamentos adequados. Em uma das cenas, homens tentam conter as chamas batendo com vassouras na periferia da mata.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

É moratória! Parte da mídia brasileira fez malabarismos para não usar essa palavrinha na cobertura das trapalhadas econômicas de Maurício Macri

O Globo fez ginástica rítmica editorial para evitar a palavra moratória e buscou múltiplas opções:
"Renegociar", "revisão de prazos", "reescalonamento dos vencimentos" etc.

A Folha não é peronista mas foi honesta. Definiu a extensão de prazo para pagamento
com a palavra exata: moratória. 

O Diário de Pernambuco evitou sofismas, a palavrinha de origem grega que não
combina nem um pouco com jornalismo sério. É moratória.

O Valor, embora especializado em economia, não deu tanto destaque à crise argentina
na primeira página e também chama a suspensão de pagamentos apenas de "renegociação". 

O Estadão reconhece que a Argentina não vai pagar a dívida de curto prazo e analisa
que o pagamento ficará para o próximo presidente. Mas também poupa Macri do rótulo
 de autor da moratória. Estadão chama calote de "deixa de pagar".

Segundo o Houaiss, a definição de moratória é:
- Dilação do prazo de quitação de uma dívida, concedida pelo credor ao devedor para que este possa cumprir a obrigação além do dia do vencimento, disposição legal que prevê a suspensão dos pagamentos devidos a credores internacionais, quando um país se encontra em circunstâncias excepcionais, como guerra, grande calamidade, grave crise econômica etc.

Que fique claro que moratória não é só dar calote.

A Argentina tomou a decisão unilateral de adiar pagamentos ao FMI e a credores privados. A Argentina anunciou moratória.

O jornalismo criativo, por parte dos grupos editoriais neoliberais que saudaram a política econômica de Maurício Macri, dirigente alinhado com as exigências do mercado financeiro, fez todas as ginásticas vocabulares possíveis para evitar a palavra moratória. Às vésperas das eleições na Argentina, com as pesquisas dando o adversário de Macri, Alberto Fernandez, na frente, os apoiadores do atual presidente estão nervosos. A própria oposição argentina espera jogo sujo nas semanas que restam para as urnas, a exemplo do que aconteceu no Brasil desde o golpe que derrubou Dilma Rousseff. Sinais não faltam. O FMI, adepto da sustentação de Macri, concedeu-lhe o maior financiamento que a organização já liberou na história. O governo brasileiro já declarou que ajudará no que puder. Trump idem. A direita continental fará qualquer coisa para reeleger Macri.

Mas, no caso do anúncio da moratória,  os credores com dólares no fogo não quiseram saber da versão com o botóx político de parte da mídia brasileira: Wall Street, mais realista, vê os títulos argentinos derretendo no mercado.

ATUALIZAÇÃO EM 30/7/2019

Trecho do editorial do Globo em 30/7/2019: 48 horas para perceber
que a Argentina está em moratória.

Em editorial publicado nesta data O Globo cedeu ao óbvio e finalmente usou a palavra moratória relacionada à crise argentina. Aparentemente, o autor do editorial não leu o jornal do dia anterior. Se o tivesse feito veria que entre os "burocratas" citados acima (trecho do editorial) estava o próprio jornal que gastou palavras para fugir do fato: Argentina entrou em moratória. Também hoje, a agência de risco S&P informa que rebaixou a nota da Argentina de Mauricio Macri para "calote seletivo". Globo inaugura uma nova forma de ver moratórias: "é questão semântica". Eu, hein?

Amazônia: a política do fogo

Nove entre dez matérias sobre as queimadas na Amazônia destacam que "os incêndios sempre existiram".
É verdade, mas isso não os legitima, claro.
Esquecem de dizer que jamais houve queimadas na intensidade atual e com poder tão grande de devastação. Entre outros motivos está o fato de que até uma década atrás parte expressiva das queimadas era realizada por pequenos ou médios agricultores ou pecuaristas em menores áreas. Atualmente, a maioria dos incêndios é corporativa, por trás estão grandes empresas do agronegócio detentoras de latifúndios em expansão em áreas de florestas nativas. Da mesma forma, embora passivos, nenhum governo ou autoridade teve antes ousadia de apoiar em declarações, medidas e estímulo, a destruição da Amazônia. Bolsonaro, sim. E não está sozinho. Como se viu: governadores do Norte estão fechado com o incendiário na devastação da floresta, consideram o fogo algo sazonal, querem mineração sem restrições e garimpos adoidados, mesmo sabendo que não conseguem combater nem mesmo a mercurização mortal dos rios amazônicos. .

Mídia: ofensiva para liberação do cigarro eletrônico...

Publicado em O Globo, 28/8/2019
Enquanto a Amazônia queima outro "incêndio", este em forma de lobby assola a mídia conservadora. Está em curso uma forte campanha das multinacionais para obter, no Brasil, a liberação dos chamados cigarros eletrônicos, que estão proibidos aqui desde 2009. Matérias, promoção de "seminários" destinados a "debater" os tais cigarros pipocam no Brasil, "coincidentemente" patrocinados pela indústria interessada.
Nos Estados Unidos, onde é epidemia, o gadget de nicotina viciante já registra mortes e é proibido ou alvo de restrições em vários estados.
Em uma década, o número de brasileiros fumantes de cigarros comuns caiu em 40%. Os cigarros eletrônicos e vaporizadores ameaçam exatamente essa campanha exitosa. A indústria parece apostar que o atual governo é mais leniente em relação às pressões. O ministro da Justiça Sergio Moro já defendeu aliviar impostos sobre cigarros com o exótico argumento de assim enfrentar melhor contrabando que vem do Paraguai. Ora, contrabando se combate, não se premia uma das partes envolvidas. A Anvisa promove audiências públicas para debater a liberação ou a manutenção da proibição. Além de acenar com "investimentos", o lobby usa um argumento cínico: se o mercado ilegal já existe, melhor liberar.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Prêmio Vladimir Herzog homenageará Glenn Greenwald e Patrícia Campos Mello, jornalistas ameaçados pelas milícias da ultra direita


Patrícia Campos Mello (em foto de Felipe Campos Mello/Divulgação) e Glenn Greenwald (Foto: de David Santos/My NewsDesk/Divulgação)
Durante a entrega do 41º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, no dia 24 de outubro de 2019, no Tucarena (SP), os repórteres Glenn Greenwald e Patrícia Campos Mello
receberão o Homenagem Especial.

Patrícia Campos Mello é repórter especial e colunista da Folha de S. Paulo e recentemente recebeu ameaças das milícias bolsonaristas ao denunciar crimes eleitorais ocorridos durante a campanha do candidato à presidência. Glenn Greenwald atua à frente do Intercept Brasil, que vem divulgando mensagens estarrecedoras trocadas por uma facção de procuradores da Lava Jato. Greenwald também vem sendo ameaçado por elementos da ultra direita.

A 41ª edição do Prêmio Vladimir Herzog destará Fotografia, Produção jornalística em texto, Produção jornalística em vídeo, Produção jornalística em áudio e Produção jornalística em multimídia, ilustrações, charges, cartuns, caricaturas e quadrinhos. A divulgação dos finalistas acontecerá no dia  27 de setembro.
Mais Informações no site do Prêmio Vladimir Herzog AQUI

Fotomemória da redação: Marina Wodtke e Juvenil de Souza no Rio Guaíba


Em 1981, a repórter Marina Wodtke, da sucursal de Porto Alegre, e o fotógrafo Juvenil de Souza percorreram o Guaíba e suas margens e desvendaram para a Manchete a vida em torno do rio - que é, para muitos, um lago - um símbolo gaúcho. Quase 40 anos depois, o Guaíba sofre como os demais rios brasileiros. A região metropolitana capta a água para beber no mesmo lugar onde lança seus dejetos. Com no caso da Baía da Guanabara e do Tietê, projetos para despoluição adormecem em gavetas enquanto o Guaíba se esvaí. A reportagem de Marina e Juvenil é hoje documento de uma época.

domingo, 25 de agosto de 2019

Fotografia: Cartier-Bresson e Robert Capa registram a libertação de Paris. Foi no dia de hoje, há 75 anos

Barricadas na Rue de Castiglione/ Foto de Henri Cartier-Bresson (link abaixo) 

Partisans em combate. Foto de Robert Capa - International Center of Photography/Magnum Photos (link abaixo)

No dia 25 de agosto de 1944, há 75 anos, Paris foi libertada dos nazistas. Seis dias antes, a Resistência Francesa criara focos de combate às guarnições alemãs em vários bairros da capital. E no dia 24, os partisans receberam apoio das forças regulares  - os espanhóis remanescentes das forças republicanas que haviam lutado na Guerra Civil Espanhola incorporados à Companhia Nueve do Regimento do Chade foram os primeiros a entrar na capital francesa - seguidos do Exército da França Livre e da 4ª Divisão de Infantaria americana.

Os aliados estavam às portas de Paris mas seus comandantes lidavam com problemas de logística e ainda relutavam em tomar a cidade naquela semana. A ação dos partisans precipitou a invasão final. De Gaulle só entrou em Paris quando os parisienses já lutavam havia seis dias nas ruas e parques. No total, na chamada Batalha de Paris, morreram cerca de mil partisans e 600 civis, além de 130 soldados regulares e 3 mil soldados alemães. A cidade estava sob os coturnos nazistas desde junho de 1940.

Enquanto Paris lutava pelo menos dois grandes fotógrafos testemunhavam os combates: Cartier-Bresson e  Robert Capa.

Capa, que entrou na capital de carona em um tanque da Companhia Nueve, recordou no seu livro de memórias "Ligeiramente fora de foco":

“O caminho para Paris estava aberto, e todo parisiense estava na rua para tocar o primeiro tanque, beijar o primeiro homem, cantar e chorar. Nunca houve tantos que eram tão felizes tão cedo ”, escreveu ele. Senti que essa entrada em Paris havia sido feita especialmente para mim. Em um tanque feito por americanos que me aceitaram, cavalgando com os republicanos espanhóis com quem eu havia lutado contra o fascismo há muitos anos, eu estava retornando a Paris - a bela cidade onde aprendi a comer, a beber, a amar ... ”

Para celebrar os 75 anos da libertação de Paris, o site da Agência Magnum editou um álbum com fotos dos dois profissionais que marcaram a história do fotojornalismo.

VEJA NA MAGNUM, AQUI

Fotomemória da redação: o único repórter na história da Manchete que se tornou milionário...

Foto/Reprodução

Em 1978, Manchete fez uma matéria sobre a despoluição do Tâmisa. O rio que corta Londres estava contaminado por esgoto, lixo e dejetos industriais. Ecologistas brincavam que o material dragado daria para construir uma bomba atômica de tão variado que era quimicamente. Governantes de São Paulo imaginavam fazer a mesma coisa no Tietê que até hoje é uma cloaca.

O fotógrafo escalado foi Chico Nascimento e o repórter era Paulo Coelho, o escritor que só lançaria seu primeiro best-seller dez anos depois, em 1988. "O Alquimista", extraordinário sucesso mundial até hoje na lista dos mais vendidos em alguns países lançou o escritor para a fama e fortuna. A história registra que Paulo Coelho é o único repórter da Manchete que se tornou milionário. Mas aí foi mérito pessoal do mago, óbvio, não do caixa da Bloch.

Em 1998, os caminhos do escritor se cruzaram novamente com a Bloch. A Rede Manchete então agonizante lançou a novela Brida, baseada no romance homônimo. Não deu sorte, ficou no ar por apenas dois meses e foi a última novela da Rede Manchete antes de desligar os tubos em 1999.

sábado, 24 de agosto de 2019

Mídia - O fogo amazônico demorou a chegar à mesa dos editores...

O jornal Folha do Progresso noticiou a decisão dos fazendeiros de botar fogo na Amazônia.
O "Dia do Fogo", em 10 de agosto, foi o gatilho da devastação. A floresta já queimava havia mais de uma semana quando o Brasil e o mundo despertaram para o crime ambiental que corria solto. 

No dia 10 de agosto, fazendeiros celebraram no sudoeste do Pará o "Dia do Fogo". Foi o gatilho para milhares de focos da maior queimada que a Amazônia já sofreu. Cinco dias antes, o jornal paraense Folha do Progresso noticiou que fazendeiros organizavam a "comemoração". O jornal afirmava que o grupo se sentia "estimulado" pelo discurso de Bolsonaro. As queimadas efetivamente começaram em intensidade inédita e a Amazônia queimou quase em silêncio por mais de uma semana.  No dia 19 de agosto, São Paulo escureceu, fotos da cena apocalíptica foram publicadas em jornais de vários países, e a mídia conservadora brasileira despertou. O gravíssimo crime ambiental saiu do campo de decisão dos editores e se espalhou pelo mundo.

A Época estacionou no sequestro na Ponte Rio-Niterói,
bem longe da Amazônia. Mas a versão digital está cobrindo bem
as consequências das queimadas.


A Veja ainda procura nexo em Bolsonaro, quando lógica é tudo o que o
representante da ultra direita demonstra. Tem, por exemplo, um claro projeto ambiental,
destruidor, mas bem coordenado e articulado há mais de seis meses. 

A Istoé especula sobre uma "rebelião" na tropa bolsonariana. Não há novidade nesse front,
outros ensaios de dissidência aconteceram sem abalar os rumos de ultra direita da nave palaciana.
Amazônia não foi capa da versão impressa e, na digital, a revista tentou provar que os incêndios "estão na média dos últimos 15 anos". Para isso, incluiu Mato Grosso e Pará, onde os focos teriam diminuído e "compensado" aumento expressivo
no Estado do Amazonas, onde fica a porção maior da floresta.

Curiosamente, as versões impressas das três revistas semanais brasileiras ainda parecem inebriadas pela fumaça. Veja, Época e Istoé não escalaram o assunto para capa. Alegar prazos de fechamento é inútil. Cada uma delas teve mais de 48 horas, geralmente o prazo estipulado pelas gráficas para imprimir as edições (em casos de fatos relevantes esse limite pode até ser encurtado). Não dimensionar adequadamente um acontecimento mundial foi decisão editorial. Veja, Época e Istoé impressas saem do episódio com algumas queimaduras.