O Globo fez ginástica rítmica editorial para evitar a palavra moratória e buscou múltiplas opções: "Renegociar", "revisão de prazos", "reescalonamento dos vencimentos" etc. |
A Folha não é peronista mas foi honesta. Definiu a extensão de prazo para pagamento com a palavra exata: moratória. |
O Diário de Pernambuco evitou sofismas, a palavrinha de origem grega que não combina nem um pouco com jornalismo sério. É moratória. |
O Valor, embora especializado em economia, não deu tanto destaque à crise argentina na primeira página e também chama a suspensão de pagamentos apenas de "renegociação". |
Segundo o Houaiss, a definição de moratória é:
- Dilação do prazo de quitação de uma dívida, concedida pelo credor ao devedor para que este possa cumprir a obrigação além do dia do vencimento, disposição legal que prevê a suspensão dos pagamentos devidos a credores internacionais, quando um país se encontra em circunstâncias excepcionais, como guerra, grande calamidade, grave crise econômica etc.
Que fique claro que moratória não é só dar calote.
O jornalismo criativo, por parte dos grupos editoriais neoliberais que saudaram a política econômica de Maurício Macri, dirigente alinhado com as exigências do mercado financeiro, fez todas as ginásticas vocabulares possíveis para evitar a palavra moratória. Às vésperas das eleições na Argentina, com as pesquisas dando o adversário de Macri, Alberto Fernandez, na frente, os apoiadores do atual presidente estão nervosos. A própria oposição argentina espera jogo sujo nas semanas que restam para as urnas, a exemplo do que aconteceu no Brasil desde o golpe que derrubou Dilma Rousseff. Sinais não faltam. O FMI, adepto da sustentação de Macri, concedeu-lhe o maior financiamento que a organização já liberou na história. O governo brasileiro já declarou que ajudará no que puder. Trump idem. A direita continental fará qualquer coisa para reeleger Macri.
Mas, no caso do anúncio da moratória, os credores com dólares no fogo não quiseram saber da versão com o botóx político de parte da mídia brasileira: Wall Street, mais realista, vê os títulos argentinos derretendo no mercado.
ATUALIZAÇÃO EM 30/7/2019
Trecho do editorial do Globo em 30/7/2019: 48 horas para perceber que a Argentina está em moratória. |
Em editorial publicado nesta data O Globo cedeu ao óbvio e finalmente usou a palavra moratória relacionada à crise argentina. Aparentemente, o autor do editorial não leu o jornal do dia anterior. Se o tivesse feito veria que entre os "burocratas" citados acima (trecho do editorial) estava o próprio jornal que gastou palavras para fugir do fato: Argentina entrou em moratória. Também hoje, a agência de risco S&P informa que rebaixou a nota da Argentina de Mauricio Macri para "calote seletivo". Globo inaugura uma nova forma de ver moratórias: "é questão semântica". Eu, hein?
2 comentários:
Jornalismo é isso: "Contar a verdade", é simples assim.
O Globo apoia a onde da direita na América Latina daí quis preservar o Macri que era o novo "herói" do mercado acima de tudo. Deu no que que e o povo argentino está sofrendo embora a elite, tal qual no Brasil, este enchendo o rabo de dinheiro com o aumento do dólar. É um modelo fracassado em todo mundo abandonado por países, como Portugal, que está em boa fase, e jamais adotado pelos escandinavos que seguem firmes e fortes.O Brasil é vítima de canalhas e da ação predatória do tal mercado.
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