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Janir de Hollanda, em 1995, em Moscou, quando fez matérias para a Manchete
sobre a Rússia e os desafios do pós-comunismo. |
Janir de Hollanda foi um dos tripulantes da "nave louca" da Rua do Russell. Em épocas diversas, revistas como
Amiga,
Mulher de Hoje,
Conecta e
Manchete levaram sua marca.
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Esta foto é de 1982. A revista Manchete comemorava
30 anos. Janir de Hollanda, Roberto Muggiati, Lincoln Martins, Edson Pinto,
Roberto Barreira, Daisy Prétola e Gervásio Baptista. Na primeira fila: Marília Campos,
Justino Martins, Vera Gertel, José Resende Peres e Thereza Jorge. |
Os anos 1990 não foram fáceis para quem dirigia publicações da Bloch. Além dos desafios crescentes do mercado, cada jornalista enfrentava a instabilidade de uma editora em crise. A incerteza passeava nos corredores da redação enquanto as equipes se debruçavam sobre exaustivos fechamentos.
Ao longo da sua carreira, Janir lançou vários produtos jornalísticos visando nichos do mercado. Era atento aos novos caminhos. Os anos difíceis não abalaram essa sua característica. Mesmo em meio àquela década criou a
Conecta, revista especializada no universo digital e esteve à frente da
Manchete on line, que tentou inserir a marca em um novo tempo.
Em um texto que escreveu há alguns anos, Janir analisou o impacto da internet na atividade a que tanto se dedicou.
"O grande desafio para figurões e figurinhas da mídia é entender e se aproveitar da grande revolução que está em marcha. O futuro não é o de jornais e revistas de hoje embrulhados em formato digital. O que está em gestação é uma nova forma de fazer jornalismo. Uma mesma história poderá ser contada de diferentes maneiras, usando áudio, vídeo e texto, uma nova especialização para as futuras gerações de jornalistas. É possível até que esta revolução bote no lixo um dos mais importantes cânones da construção da notícia, as cinco perguntas que formam a estrutura do texto jornalístico: quem, quando, como, onde e por quê. No espaço limitado do papel ou do tempo no rádio e na tv, essas perguntas botaram ordem na casa do jornalismo. Mas na internet, na qual cada internauta é um editor em potencial e onde viceja um novo idioma, o internetês, o mínimo que se pode esperar é que uma nova pergunta seja acrescentada às cinco consagradas: pra quê?
A morte anunciada de revistas e jornais impressos, sob a avalancha da internet, beira o catastrofismo. Em todo caso, de que a coisa está feia ninguém dúvida".
Quase na reta final da Bloch, editou a
Manchete na versão tradicional. O fim da editora o levou à Ediouro e, depois, às alternativas que a crise do modelo jornalístico impôs a muitos profissionais. Escreveu livros e criou revistas corporativas.
Até há poucos dias, Janir trabalhava em um novo projeto. Um infarto o atingiu ontem enquanto estava estava envolvido na seleção de fotos, edição e textos para um livro ilustrado sobre a história do Circo. Foi o ponto final da sua intensa e múltipla trajetória.
Um comentário:
Trabalhar com o Janir foi uma honra. Seu brilhantismo exigia o máximo de cada repórter, redator, fotógrafo e todos os demais envolvidos na produção. Não aceitava nada menos do que o melhor. Por isso e tão constantes eram seus brados nas redações. Ora amado, ora odiado, fato é que nunca foi uma figura comum. Imprevisível, um dia sentou-se numa lixeira, que ficava entre minha mesa e de Angelica Basthi, na redação de Amiga, para simplesmente jogar conversa fora. Fato extraordinário! Janir também foi um grande incentivador. Dizia-se fã do meu texto, o que sempre me orgulhou. Com a falência da Bloch, me incluiu em suas equipes de outras editoras. Sou muito grata por isso e por todo ensinamento que me proporcionou. Por essas e outras acho que foi mais do que um chefe pra todos nós. Pra mim também foi um amigo.
Nem vou dizer pra ele descansar em paz. Do jeito que era inquieto e empreendedor, ora dessas já deve estar em novo projeto editorial para desvendar os mistérios do além. O certo é que parte da redação já está por lá e o resto seguirá um dia para ajudar nos alucinantes fechamentos.
Cláudia Figueiredo
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