por Flávio Sépia
O arrocho fiscal imposto pelo neoliberalismo - política econômica já em revisão em muitos países - deixa o Brasil em coma e os especuladores financeiros no paraíso. Com o Estado paralisado pelo rentismo, só se ouve falar em desmonte, desativação, fechamento de fábricas, abandono de obras e, agora, enterro de canteiros.
A "nova era" inventou a tecnocracia do coveiro.
O Globo de hoje noticia que o governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, vai mandar soterrar a enorme escavação feita na Gávea para o que seria a estação de metrô do bairro. O Rio está quebrado, alega o político. O fato exemplifica bem o que é a privataria de obras prontas. Nenhum grupo privado se apresenta para concluir a estação e explorar a linha depois, nem mesmo os fundos controladores do metrô carioca. Este sim seria um investimento, tal como se faz em muitos países. Aqui, empresários preferem esperar que o Estado faça as obras e banque seus custos e só então se coçam para descolar uma concessão amiga.
Ser capitalista assim é moleza. Nessa hora, os espertos esquecem o dogma do "estado mínimo".
Se não embolsarem o máximo, essa obra, apesar das reivindicações dos cariocas - Jardim Botânico, Jockey e Gávea são bairros campeões de engarrafamentos - jamais ficará pronta.
Além do prejuízo que é soterrar todo o canteiro de obra da Praça Santos Dumont, o governo do Rio de Janeiro ainda banca o aluguel do tatuzão utilizado para escavar a linha, que está enterrado no subsolo da imediações da Rua Igarapava, no Leblon, e custa, parado, milhões em manutenção.
Casos como esse, de obras paradas que geram prejuízos bilionários, se multiplicam pelo país.
Procura-se um capitalista que abra mão de mamar no Estado e assuma esses investimentos.
No Brasil do fanatismo neoliberal e de uma política econômica de corretagem especulativa, enterrar canteiros de obra é o único "investimento" em infraestrutura. Os arqueólogos do futuro agradecem.
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quinta-feira, 5 de setembro de 2019
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