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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Fotomemória da Rua do Russell


Sobre o post acima (de Celso Arnaldo compartilhado por José Carlos Jesus), confira a escalação da foto em uma tarde qualquer perdida no tempo na sede da Revista Manchete. 
Da esq. para a dir: Hélio Carneiro, d.Bella, dr. Haroldo Jacques, Adolpho Bloch, Carlos Heitor Cony, Roberto Muggiati, Janir de Holanda, Pedro Jacques Kapeller, Claudia Richer, Roberto Barreira, Lena Muggiati e Tarlis Batista. Sentados: Vera Mendonça, Marilda Varejão, Celso Arnaldo Araújo, Ateneia Feijó, José Esmeraldo Gonçalves, Lincoln Martins, Silvia Leal e Silvia de Castro. 

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Fotomemória da redação: o fotojornalista Nilton Ricardo divulga a primeira foto profissional de Xuxa e a primeira capa de revista que ela fez

Xuxa, aos 15 anos, fotografada por Nilton Ricardo.
Para ela, posar era ainda um aprendizado. 
 

Aos 16 anos, fez sua prmeira capa, também com foto de Nilton Ricardo.
É visível sua rápida evolução como modelo. 
   

por José Esmeraldo Gonçalves
A Globoplay lançou recentemente no streaming a série "Xuxa, O Documentário". Como tudo que envolve o trabalho e a vida da Rainha dos Baixinhos, o doc biográfico repercutiu na mídia, bateu recorde de público na Globoplay e motivou o fotojornalista Nilton Ricardo a resgatar uma foto do primeiro ensaio profissional da modelo e apresentadora, aos 15 anos. A rara imagem foi publicada há algumas semanas na página do fotógrafo no Facebook, seguiu-se uma matéria no canal Splash, do portal UOL

Segundo Nilton Ricardo, a estréia da Xuxa em ensaio fotográfico profissional foi para um book destinado a mostrar às principais agências de publicidade o potencial da futura modelo. 

"Depois" - ele conta - "fiz a primeira capa da Xuxa, aos 16 anos, para a Carinho". Lançada no final da década de 1970, essa revista destinava-se ao público adolescente e fez grande sucesso até os anos 1990, obtendo números expressivos de circulação. 

Nilton comandou durante muitos anos o estúdio de fotografia da Bloch onde realizou centenas de ensaios. Na opinião dos principais editores da casa, ele dominava linguagem apropriada ao estilo de cada revista. Assim, tornou-se recordista de capas: foram cerca de 800 em Manchete, Fatos&Fotos, Amiga, Carinho, Mulher de Hoje, Desfile, Tendência, entre outras. Muitas delas protagonizadas por Xuxa Meneghel. Com longa trajetória na extinta Bloch, Nilton conta que não se limitou ao estúdio e se especializou em reportagens de ação: pulou de paraquedas, voou em jatos da FAB e escalou o Pico da Neblina, entre outras matérias do tipo experiências reais.

Por mais de 20 anos, Nilton Ricardo assumiu uma tarefa gigantesca: reunir depoimentos de centenas de fotógrafos que atuaram nos meios de comunicação do Brasil de 1950 a 2000. O objetivo foi traçar um painel do fotojornalismo. "Eu quis recuperar as histórias e a História segundo quem as viu passar diante e atrás das câmeras", define ele, que cumpriu a missão. O livro está pronto e Nilton agora enfrenta um desafio igualmente árduo: encontrar uma editora que torne o livro uma realidade ou um patrocinador que viabilize o projeto e ajude a levar às novas gerações a evolução do fotojornalismo segundo seus protagonistas.

Leia a matéria publicada no Splash AQUI


quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Fotomemória da Manchete: a trajetória inconfundível da atriz Léa Garcia



Léa Garcia (à dir.) com Vinicius de Moraes e Breno Melo, em Cannes, 1959

A atriz brasileira aplaudida no Maxim's, Paris



Folha noticia a morte de
Léa Garcia com um "erramos de novo":
a foto é da atriz Jacyra Silva 
A Folha de São Paulo imagina, provavelmente, que todas as negras se parecem. Se enxergassem suas individualidades, o jornalão não teria publicado um foto da atriz Jacyra Silva, que faleceu em 1995, como se fosse a também atriz Léa Garcia, que morreu na última terça-feira.

Léa Garcia teve uma carreira de sucesso no cinema, teatro e TV. A Manchete acompanhou passo a passo a trajetória da atriz e cobriu o festival francês que a consagrou, mas ela frequentou as páginas da revista muito antes de brilhar em Cannes, em 1959, quando o filme francês Orpheu Noir ganhou a Palma de Ouro. E a brasileira ficou em segundo lugar na categoria Melhor Atriz. Simone Signoret, em Almas em Leilão (Room at The Top, no título original) foi a vencedora. No ano seguinte, Orfeu Negro venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. No filme, baseado na peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes e dirigido por Marcel Camus, Léa se destacou no papel de Serafina. Ela estreou nos palcos em 1952, em Rapsódia Negra, produção do Teatro Experimental do Negro e tornou-se conhecida do grande público na novela Escrava Isaura. Ainda na TV, fez, entre outras, as novelas Assim na Terra como no Céu, Minha Doce Namorada, Selva de Pedra, Os Ossos do Barão e Fogo Sobre Terra e Anjo Mau, todas grandes sucesso da Rede Globo. Na Rede Manchete, atuou em Dona Beija, Xica da Silva, Tocaia Grande e Helena. Na sua filmografia, além de Orfeu Negro, estão longas como As Filhas do Vento, Ganga Zumba, A Noiva da Cidade, Quilonbo, Vinicius, 2010 Mon Père (filme belga) e Boca de Ouro. 

Léa Garcia, morreu em Gramado, no Rio Grande do Sul, onde participava do 51º Festival de Cinema. Ela seria homenageada com o Troféu Oscarito. A atriz também participaria de uma das próximas novelas da Globo: o remake de Renascer. Um infarto a levou em plena atividade, aos 90 anos. Léa Garcia será velada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no sábado, 19.


terça-feira, 29 de novembro de 2022

Fotomemória - Rede Manchete na Copa do Mundo de... 1990

 



por José Esmeraldo Gonçalves

Em 1990, a equipe da Rede Manchete escalada para a Copa da Itália posou ao lado de Adolpho Bloch na cobertura da sede na Rua do Russell. Ao fundo, o "M" que fez história. Entre os enviados Alberto Léo, Paulo Stein, Márcio Guedes, Milene Ceribelli e Falcão, aí aparece, ao lado de Adolpho, o comentarista João Saldanha. Tive a honra de participar da coletânea "Esporte e Poder", na qual ele escreveu um dos capítulos. Até pouco antes da definição da equipe, havia dúvidas tanto na Rede Manchete quando no JB em relação à ida de Saldanha, que não estava bem de saúde. O comentarista não admitia perder aquela Copa. Um dia, eu estava no elevador, ele também. Saltamos no oitavo andar. Eu fui para a redação da revista Manchete, Saldanha entrou na sala do Adolpho, ao lado. Naquela conversa, que, acho, ninguém ouviu ou registrou, Saldanha convenceu Adolpho. Não sei que argumentos usou para vencer a cautela da empresa. Mas tenho certeza de que Saldanha queria muito carimbar seu passaporte para a Itália e Adolpho entendeu seus motivos. Foi a sua última Copa. Ele não voltou, mas esteve onde queria estar.

A Rede Manchete, já com problemas, ainda cobriu com brilho duas Copas: a dos Estados Unidos e a da França. Nesta última, eu já não trabalhava na revista Manchete. Em fevereiro de 1998, o amigo e fotógrafo Luiz Alberto esteve no Rio e nós o encontramos no Bracarense. Lembro que, ao fim dos chopes, combinamos um vinho, em Paris, entre um jogo e outro.  Ele iria cobrir a seleção brasileira para a revista Manchete.  
Viajamos para a Europa, mas antes passamos alguns dias em Roma. Quando chegamos em Paris,  telefonamos para a casa dele. Só então soubemos pela Eugênia, também jornalista e mulher dele, que o caro Lulu falecera dias antes. Paris nunca nos pareceu tão triste, para mim e para Jussara. Só nos restou o vinho, sem o amigo. São as lembranças que a foto enviada pelo amigo Nilton Rechtman nos desperta nesses dias de Copa do Mundo. 

sábado, 26 de novembro de 2022

Fotomemória: as novas "bancas" de revistas

Eva Christian, o comediante Canarinho e Francisco di Franco na novela Jerônimo,
Heroi do Sertão, na TV Tupi, nos anos 1970. Foto: Manchete/Reprodução

Muitas revistas impressas encerraram suas trajetórias nos últimos 15, 20 anos. Um grande número delas permancem ativas no Facebook, em blogs, no You Tube, no Instagram e em sites não-oficiais. Todos todos construídos por leitores. Revistas como Manchete, Manchete Esportiva, O Cruzeiro e outras têm suas coleções doigitalizadas pela Biblioteca Nacional. Os principais jornais também disponibilizam suas coleções na internet. Fotos do Correio da Manhã pode ser acessadas no Arquivo Nacional. O acervo do Última Hora é visto e lido no Arquivo Estado, do governo de São Paulo. 

Muitas publicações de várias áreas, contudo, ainda não estão catalogadas digitalmente na internet. É aí onde entram muitos leitores que valorizam a memória do jornalismo. A página Revistas Antigas, no Facebook, neste link, se dedica a postar fotos pesquisadas na própria web e a republicá-las na "banca" da esquina especializada em fotómemória do jornalismo. 
Política, esporte, meio-ambiente, crimes famosos, carreiras de grandes nomes da música, da literatura, política, as mudanças de comportamento da sociedade, todas estas rubricas estão retratadas em coleções de publicações que os leitores recuperam para as novas gerações interessadas nas páginas da história. Atualmente, portais de streaming como Globo Play, Prime e outros lançam documentários ou podcasts pesquisados, em parte, em imagens de revistas antigas, casos de Nara Leão, Leila Cravo, Daniella Perez, Tim Maia, entre ourtros.    

O face Revista Antigas (link) publicou recentemente a foto acima (o colaborador do paniscumovum, Nilton Muniz, colega na extinta Bloch, nos enviou o post de Marco Antonio Amaral) e fez um referência merecida ao jornalista, escritor e quadrinista Moysés Weltman. Em 1957, há 65 anos, Weltman lançava a publicação em quadrinho Jerônimo, Herói do Sertão, que nos anos 1970 virou novela no TV Tupi e, no anos 1980 foi exibida no SBT. Originalmente, a novela fez enorme sucesso quando foi ao nos anos dourados da poderosa Rádio Nacional, o primeiro veículo a alcançar todo o Brasil. 


Em revista,  Jerônimo era desenhado por Edmundo Rodrigues, que durante anos chefiou o departamento de histórias em quadrinhos da Bloch Editores. 

Também na Bloch, Moyses Weltman teve longa trajetória. Dirigiu a revista Amiga nos anos 1970, e fez uma passagem como editor da Fatos & Fotos. Com grande vivência em televisão, Weltman foi um dos profissionais que trabalhou ao lado de Adolpho Bloch para lançar a Rede Manchete.           

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Fotomemória: a Escadaria do Convento antes de ser do Salerón

 

A Escadaria do Convento, em 1958. Foto de Gil Pinheiro/Manchete.


Hoje, o local chama-se Escadaria Salerón e se transformou em atração turística.
Foto de Tania Rego/Agência Brasil 

Gil Pìnheiro, fotógrafo da Manchete, fez a foto do alto dessa página em 1958. Na época, o local era conhecida como Escadaria do Convento de Santa Teresa, construído em 1750. Assim como a expansão no bairro tem a ver com a instalação do convento, a escadaria foi construída para acesso à congregação e às missas abertas à população. Com o tempo, transformou-se na Rua Manoel.  Alguns sites atribuem ao artista plástico Jorge Salerón a construção da escadaria. Errado. Salerón fez um trabalho admirável de restauração dos degraus, que decorou com azulejos pintados. O local virou atração turística e ganhou um novo nome: Escadaria Salerón.   

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Fotomemória dos arquivos de J.A.Barros: flashes de lembranças do O Cruzeiro

J.A. Barros no Cruzeiro no anos 50: equipamento moderno para visualização de fotos coloridas.
Foto Arquivo Pessoal

J.A. Barros, diretor de Arte que trabalhou no Cruzeiro e na Manchete, abre os seus arquivos. Na foto acima, ele aparece na sala de Ed Keffel, fotógrafo alemão da revista dos Diários Associados. Era o tempo em que jornalistas trabalhavam becados: paletó, gravata, calça com bainha dobrada. Keffel tinha na mesa ummoderníssimo visor de fotos coloridas também usado na diagramação das reportagens.  

OVNI na Barra da Tijuca. Matéria polêmica do Cruzeiro.
Reprodução O Cruzeiro
 
Barros recorda que Ed Keffel, ao lado do repórter João Martins, foi responsável por uma das fotos mais polêmicas da imprensa brasileira. Em 1952, o repórter se deparou com um andarilho na Barra da Tijuca, região então deserta. A "figura estranha" chamou atenção da dupla, Na época, jornalistas brasileiros e argentinos tinham uma fixação: encontrar Adolf Hitler, que estaria vivo e dava pinta na América do Sul. João Martins, que anos depois transferiu-se para a Manchete, achou o sujeito muito parecido com o "führer". Como Keffel falava alemão, o repórter sugeriu que fossem checar e fotografar o andarilho. Deu em nada: o rapaz eraapenas um pesquisador holandês de botânica. 

Ao retornarem para a redação, Keffel e Martins viram no céu sem nuvens, acima da Pedra da Gávea, um objeto de formato estranho, grande, circular, deslocando-se em silêncio. Keffel fez uma sequência do voo. O Cruzeiro publicou os flagrantes do que seria um disco voador. Para o ovnistas foi a comprovação das presença de naves extraterrestres no Brasil; para muitos outros leitores, era uma fraude. Para os Diários Associados foi uma festa: o Cruzeiro esgotou-se na bancas. 

Página dupla de uma das matérias da série que Ed Keffel fez com exclusividade no Vaticano.
Reprodução O Cruzeiro


Ed Keffel em ação no Vaticano, Reprodução o Cruzeiro

Ed Keffel foi também o autor de fotos incontestáveis. Foi o primeiro fotógrafo a registrar em cores para uma série de reportagens no Cruzeiro, em 1956, todas as obras de arte do Vaticano. Barros ouviu de Keffel que para fotografar telas de oito a dez metros teve de montar enormes andaimes, não podia tocar nos quadros nem utilizar muita luz e a equipe responsável pelo Museu do Vaticano observava cada movimento seu e não tirava o olho das obras. 

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Fotomemória de O Cruzeiro - Veja o time de diagramadores e auxiliares da revista dos Diários Associados nos anos 1950. Três deles, inclusive J.A.Barros, foram depois contratados pela Manchete

J.A.Barros à frente da equipe de diagramação do Cruzeiro. A foto foi feita na redação
 da revista na Rua do Livramento, no Rio de Janeiro. Arquivo Pessoal

por José Esmeraldo Gonçalves
A foto está reticulada mas vale muito como memória. Aí estão profissionais da diagramação de O Cruzeiro nos áureos tempos da revista nos anos 1950. No centro da imagem  - onde a maioria está engravatada - aparece J.A.Barros. À esquerda, sentado na mesa, Pedro Guimarães, o Pedrão; Nelson Gonçalves, em pé, ao lado de Barros. Os três foram depois contratados pela Manchete e assim tiveram a oportunidade de trabalhar nas duas maiores revistas ilustradas do Brasil. Nesse segmento O Cruzeiro não só fez história como foi a líder absoluta durante décadas. Só na virada dos anos 1960, reformada e modernizada pelo diretor Justino Martins, a Manchete se impõs e gradativamente passou a dominar o mercado. Em meados da década tornou-se a revista de maior circulação do país. 

Barros, com quem trabalhei nas revistas Fatos & Fotos, Fatos e Manchete aponta diferenças nos métodos de diagramação entre O Cruzeiro e a publicação da Bloch.

 "Na Manchete, projetávamos as fotos coloridas nos layouts e esboçavamos a lápis cada imagem, para marcar o corte. Nas fotos em preto e branco usávamos ampliações onde assinalávamos os cortes. Em O Cruzeiro marcávamos no layout apenas o espaço das fotos e mandávamos para o laboratório. Lá as fotos escolhidas eram ampliadas ou reduzidas de acordo com esse espaço pré-determinado e, em seguida, eram copiadas em papel. Nós colávamos as fotos no layout. As fotos coloridas eram colocadas sobre a mesa de luz e tinham os cortes de diagramação marcados com fita vermelha. Também eram copiadfas em papel. Assim, todas as páginas eram completamente montadas e podíamos avaliar o impacto visual da edição final, com texto, títulos, legendas e fotos. Era muito trabalhoso, caro e improdutivo. E levava mais tempo. Ganhei muito dinheiro em hora extra em função desse sistema (O Cruzeiro pagava em dobro as viradas de noite)".  

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Fotomemória: Roberto e Erasmo by night

 

Roberto e Erasmo Carlos, 1966. Foto Manchete/Zigmunt Haar


“Roberto Carlos e Erasmo Carlos sempre rodeados de belas garotas”. É o que destaca a Revista Manchete de 22 de janeiro de 1966.
Naquele ano Roberto Carlos lançou um disco com grandes hits como “Eu te darei o céu”, “Esqueça”, “Nossa Canção”, “Namoradinha de um amigo meu” e “Negro gato."
A foto e as informações acima foram garimpadas pelo site História. O Panis Complementa: a foto foi publicada pela Manchete como parte de uma matéria maior com o cantor - "Roberto Carlos - um fenômeno entre fenômenos" - assinada por Odacir Soares, com fotos de Zigmunt Haar. A legenda não identifica as acompanhantes de Roberto, que acaba de comemorar 81 anos, e Erasmo supostamente na noite paulista. Uma curiosidade:  o grupo comportado parecia dividir uma Coca-Cola. Ou a mesa foi reformatada antes da foto em nome da imagem certinha dos ídolos da Jovem Guarda. Sobrou apenas uma taça (esquecida?) à frente de  Erasmo.


sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Dia da Consciência Negra é todo dia!

Clementina de Jesus, 1978.
Foto Guina Araújo Ramos



por Guina Araújo Ramos 

Todo dia... Em todo dia é necessário que os brasileiros reforcem (ou adquiram) consciência da história e das condições de vida da população negra, a maior do país.

Todo dia é dia de luta contra o racismo, contra a segregação social, contra o preconceito de classe, de cor etc, e ainda contra as várias versões de escravidão de que é vítima a população negra, enfim, todas estas violências que atingem os grupos sociais subalternizados e explorados historicamente pela “elite” colonialista brasileira.

E todo dia é dia de celebrar as grandes figuras negras do Brasil. Hoje, por exemplo, uma das nossas maiores vozes: Clementina de Jesus!

É evidente que, dada a desproporção da presença das pessoas negras nos espaços de prestígio e poder da sociedade brasileira, até que não me surpreendi ao perceber que, na minha carreira de fotojornalista, fotografei muito menos negros...

E isto pode ser demonstrado em rápido balanço dos Bonecos da História que publiquei até agora: a presença de pessoas negras não chega a 25%... Pouco, não por escolha minha, mas por indicação profissional alheia, uma evidência do racismo estrutural vigente, porém todos da maior qualidade!

São eles (nas respectivas postagens): Carmen Costa, Lula, D. Ivone Lara, Marielle Franco, Beto Sem Braço e Aluísio Machado, Jorge Ben Jor, Aracy de Almeida, Júnior, Zezé Mota, Caetano Veloso (com Betânia e Gal), Luisinho do America, Jackson do Pandeiro, "Boca de Anjo", Carlinhos Pandeiro de Ouro, Tia Doca da Portela, Cartola, Apoena Meirelles (e Zé Bel), Milton Nascimento, Alcione, Conceição Evaristo, Baden Powell, Paulinho da Viola, Agnaldo Timóteo, Gilberto Gil e Monarco, se deixei de citar alguém...

E, não por acaso, são também negros os protagonistas da série "Foto Monumento": Trabalhador Desvalorizado, Trabalhador Semiescravizado e Torcedor Desanimado.

Clementina de Jesus, 1978. Foto Guina Araújo Ramos

Creio que só fotografei Clementina de Jesus uma única vez, e é uma pena, para a revista Manchete (ou Amiga?), em um show, e já não sei mais qual... E daí são apenas duas as imagens de Clementina de Jesus as que tenho para apresentar n’[Os] Bonecos da [minha] História [no Fotojornalismo]. Outras fotos, aí só mesmo se alguém conseguir descobrir o paradeiro do sumido arquivo fotográfico da Bloch Editores...

Pena que eu não tenha mais do que estas duas fotos, dois “slides” (diapositivos, transparências...), um deles, aliás, muito ruim de foco... 

Lamento, mas as fotografias, além da perda de detalhes do próprio escaneamento, pela ação do tempo (as fotos são de 1978), estão cobertas de manchas, com tendência ao lilás.Uma escassez que me obrigou a considerável esforço de recuperação digital da imagem principal, o que, infelizmente, nunca dá resultado perfeito... Para que se tenha noção, deixei a foto sem foco na condição atual.É pena, mas, no que nos traz Clementina, vale a pena!

https://bonecosepretinhas.blogspot.com.br/


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Fotomemória: Sartre, JK e Simone de Beauvoir - No tempo em que o presidente do Brasil não contava piadas de tiozão para visita estrangeira

 

Observado por Simone de Beauvoir, Sartre quis saber de JK a posição exata de Brasília
no mapa do Brasil.  Foto Manchete


por José Esmeraldo Gonçalves

Em 1960 Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir visitaram o Brasil. O casal passou aqui um mês entre agosto e setembro daquele ano. Na agenda, encontro com escritores no MAM, conferência na Faculdade de Filosofia e almoço nas instalações gráficas da Manchete em Parada de Lucas. Em Salvador, Sartre e Simone, ciceroneados por Jorge Amado, foram a museus, igrejas barrocas e terreiros de candomblé. Em Recife, se deslumbraram com os rios Beberibe e Capibaribe, "de fazer inveja a Paris" - disse.  

Um encontro especial foi o do escritor com Juscelino Kubitschek. Na conversa entre os dois um tema predominou: Brasília. Era inevitável, a nova capital era motivo de curiosidade mundial, assim como a escalada desenvolvimentista do Brasil. Vivia-se um então raro interregno da democracia brasileira entre golpes militares. Sartre não sabia, mas o Brasil começava a se despedir da liberdade. Mais uma quarterlada, que resultaria em uma ditadura sangrenta, de 21 anos, já estava no forno. Logo ali na próxima esquina, em 1964. 

De qualquer forma, o Brasil que Sartre via estava bem distante do mau cheiro atual que emana de Brasília, onde também se fala em golpe. O país estava no noticiário internacional impulsionado pela bossa nova, cinema novo, arquitetura, conquistas esportivas, teatro e literatura. Tempos de adensamento cultural. Dias de Guimarães Rosa, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, Oscar  Niemeyer, Lúcio Costa, Paulo Freire, Celson Furtado, Darcy Ribeiro, Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lígia Pape, Iberê Camargo, Sérgio Camargo, Alfredo Volpi e Mira Schendel. 

Na conversa com JK Sartre mostrou-se entusiasmado com a efervecência cultural do Brasil.  

Agora, por instantes, imagine um pesadelo. Se, por efeitos de uma janela cósmica ou armadilha de um buraco negro no espaço-tempo, Sartre fosse recebido por Bolsonaro, o atual presidente. 

Na  melhor das hipóteses, o francês teria que ouvir do brasileiro as piadas estilo tiozão do pavê ou nível quinta série, como aconteceu com o presidente de Portugal, Marcelo Rabelo de Souza, que sofreu constrangimento indigesto durante almoço no Planalto. 

Ao fundo da foto acima, como testemunha ilustre e sileciosa do encontro de Sartre e JK, aparece uma estante de livros. Pois é. A biblioteca, atualmente, coitada, serve de cenário para os perdigotos odiosos e as repulsivas lives do elemento infame que os desavisados e "gado" colocaram em Brasília.  

sábado, 8 de maio de 2021

Fotomemória: quando os cariocas descobriram o Recreio dos Banderiantes. E Jacinto de Thormes registrou para a Manchete

 


Os frequentadores pioneiros do Recreio dos Bandeirantes. Foto Manchete

O Hotel Recreio era um "balneário" para férias de famílias e fins de semana. Ao perceber que a praia havia sido "descoberta", equipou-se com mesas, cerveja gelada e drinques da moda: Ponche de Champagne,  Moscow Mule (com vodka), Gin Daisy, Banana Daiquiri (rum) e o mix de bebidas  Grasshopper 

Em 1960, o Arpoador era a praia mais badalada do Rio de Janeiro. Significava dizer que atraía muita aglomeração - essa palavrinha hoje contaminada pela Covid-19. O repórter Jacinto de Thormes, da Manchete, foi a campo, ou melhor, à praia, descobrir para onde o pessoal estava indo. 

Thormes foi parar no Recreio, quase deserto, com raras construções ou casas de veraneio e um hotel que ainda era considerado "balneário". Chegar lá não era pra qualquer linha de ônibus. Era preciso ter carro ou Lambretta, veículo que, depois da onda dos transviados - os playboys que aprontavam em duas rodas - foi adotado por "rapazes de família". Os carros nacionais ainda não eram maioria nas ruas e a orla exibia os importados Buick, Cadillac Eldorado, Bel Air, Mercury... 

A região era tão desconectada da cidade que era chamada se "sertão carioca".  Hoje está perfeitamente integrada à cidade, tem até BRT e milícia.

 O que Jacinto de Thormes e a Manchete mostraram em oito páginas foi uma caravana de alegres desbravadores. Mereciam uma placa. Ou apenas o sertanista Cândido Rondon merece ser lembrado nos anais do ramo?

P.S - Quem não foi injustamente esquecido nos créditos da reportagem foi o fotógrafo que acompanhou Jacinto de Thormes. O editor "marcou touca", como se dizia na época.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Fotomemória: paisagens removidas de um Rio que não se emendou...

 

Rio, 1964: Favela do Pasmado. Foto de Domingos Cavalcanti/Manchete

O Túnel do Pasmado no mesmo ano. Foto: Domingos Cavalcanti/Manchete

por José Esmeraldo Gonçalves 
Os veteranos vão reconhecer. Para as novas gerações que passam nesses sítios todos os dias, o visual pode surpreender. Na foto do alto, os dois garotos sentados sobre escombros da Favela do Pasmado observam pela última vez a paisagem deslumbrante - a enseada de Botafogo - antes de deixarem o lugar onde nasceram. Todos os moradores foram em seguida transferidos para Vila Aliança e Vila Kennedy, na distante Zona Oeste do Rio de Janeiro. 

Nos anos 1960, Manchete fez inúmeras reportagens sobre o polêmico programa de remoção de favelas desenvolvido pelo governador Carlos Lacerda. A segunda foto mostra a entrada do Túnel do Pasmado, que leva à Urca e Copacabana. A Favela do Pasmado começou a crescer ainda no começo da década de 1950. Assim como as autoridades de hoje, a então Prefeitura do Distrito Federal nada fez para resolver o problema de moradia das famílias. Em pouco mais de dez anos o povo ocupou todo o morro. 


Favela da Catacumba, na Lagoa, em 1968. Foto Manchete


1959: a brincadeira emblemática das crianças e, ao fundo, a Av. Epitácio Pessoa. Foto Alberto Jacob/Manchete

Sem grandes aparatos, sem coletes nem Caveirão, a polícia detém três suspeitos. O cortejo se dá
na hoje elegante Epitácio Pessoa.

Foto Manchete


A Lagoa Rodrigo de Freitas é um dos mais belos cenários do Rio. E também um dos CEPs mais valorizados pelo mercado imobiliário. Nem sempre foi assim. Até a década de 1960, um colar de favelas que ia da Rua Sacopã passando pela encosta da Curva do Calombo até o Morro das Catacumba emoldurava o visual. À altura da Av. Borges de Medeiros, próximo à Hípica, barracos ocupavam as margens. As grades do clube elegante eram o varal das roupas comuns dependuradas. A maior favela da região era a da Praia do Pinto. Ocupava a área onde hoje está o condomínio Selva de Pedra, emparedava o estádio do Flamengo e alcançava o Jardim de Alá. Os moradores da Praia do Pinto foram apoiados por um projeto social de D.Helder Câmara e, após removidos, se transferiram para o conjunto de prédios da Cruzada São Sebastião, no próprio Leblon, não se afastando dos seus empregos.  A última favela a deixar a Lagoa foi a da Catacumba. Depois de dois incêndios (em 1967 e 1968) foi incluída no plano de "desfavelização" já então executado por Negrão de Lima, governador do Estado da Guanabara.  Em 1969, os moradores foram transferidos para Cidade de Deus, Nova Holanda e Vila Aliança. Na época, o trecho da pista em frente à Catacumba era tido como um local perigoso, mas nada comparado ao nível de violência das comunidades agora dominadas pelo tráfico ou pelas milícias. 

A política de remoção teve graves consequências sociais. De uma hora para outra, milhares de pessoas foram deslocados dos seus locais de trabalho. Sem meios de transporte adequados, a maioria não conseguiu se manter nos empregos. A remoção não resolveu o problema da falta de habitação e prefeitos e governadores jamais se preocuparam em conter a expansão posterior das favelas. Simplesmente, deixaram que voltassem a crescer exponencialmente.

Pouco mais de 50 anos depois, um ponto da Lagoa, o alto da Rua Sacopã, volta a ser de risco, agora por parte de traficantes do Morro dos Cabritos, entre Copacabana e Lagoa. Moradores denunciam tiroteios no local. 

Outra fronteira à vista da Lagoa, essa mais distante, a da Gávea com a Rocinha, também já não é tão tranquila. A "maior favela do mundo", que não para de crescer, já se derrama para a Gávea e também haveria indícios de construção dos primeiros barracos na direção do Morro Dois Irmãos. 

Quanto ao Pasmado, hoje abriga o Monumento em Memória às Vítimas do Holocausto. 

Quanto à Catacumba, é agora o Parque Natural Municipal.

Quanto ao Rio, como não resistir?

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Fotomemória: José-Itamar de Freitas (1934-2020) na redação da Fatos & Fotos, na Frei Caneca...

Aos 85 anos, o jornalista José-Itamar de Freitas, que dirigiu o Fantástico durante 16 anos, foi mais uma vítima da Covid-19. Zé Itamar fez história como diretor da Fatos & Fotos. Foi na semanal da Bloch que ele conquistou um Prêmio Esso, em 1965, com a série de reportagens "os Filhos Proibidos".
Aqui homenageamos o colega em forma de fotomemória; duas raras imagens feitas quando a Bloch ainda estava na rua FreiCaneca, ao lado de um timaço de jornalistas.


Na redação: Cordeiro de Oliveira, Nilo Martins, Orlandinho Abruonhosa, Nelio Horta, Laerte Morais Gomes, Leo Schlafman, Paulo Henrique Amorim, Hedyl Valle, Robertinho (barbeiro). Na mesa: José-Itamar de Freitas e Ney Bianchi. Foto: Arquivo Pessoal Nélio Horta

Leo Schlafman, Jaquito, Arnaldo Niskeir, Nilo Martins, Pilha, Claudio Mello e Souza, Macedo Miranda, José-Itamar de Freitas, Evaldo, Ney Bianchi , Ezio Speranza e Laerte Gomes. Foto: Arquivo Pessoal Nélio Horta

sábado, 9 de maio de 2020

Fotomemória - Little Richard no Galeão: "Cadê a limusine do contrato?"

Little Richard chega ao Rio em 1993. Foto de Orlando Abrunhosa/Manchete
Em 1993, aconteceu o Free Jazz. Pela oitava vez desde 1985. Só falhou um ano, em 1990, por causa de Collor, o pai de todas as desgraças culturais antes de Bolsonaro e Regina Duarte. Foram sete dias de música no Rio (Hotel Nacional) e em São Paulo (Palace).

Roberto Muggiati escreveu então que havia uma certa e falsa polêmica provocada pela invasão da "praia jazzeira" por Little Richard e Chuck Berry. Se souberam ou não da esnobada dos puristas, o fato é que os dois aprontaram. Berry escondeu o horário da chegada e forneceu informações desencontradas sobre sua agenda; não queria fotos. A repórter Ana Gaio e o fotógrafo Orlando Abrunhosa, da Manchete,  foram ao Galeão registrar a chegada de Little Richard. E ele já chegou soltando a franga. Paletó com estampa de pele de onça, botas amarelas e uma bíblia na mão, o astro do rock teve um ataque ao ver o carro que a produção escalou para levá-lo ao hotel: um modesto Opala. "Cadê a limousine? Está no contrato. Não vou".

Acabou indo. E, sim, os jazzófilos aplaudiram sua performance.

Little Richard morreu hoje, aos 87 anos. Um dos pioneiro do rock, ele influenciou gerações com sucessos como "Tutti Frutti", "Long Tall Sally", "Rip It Up" , "Lucille", "Good Golly Miss Molly", entre outros.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Fotomemória: Iwo Jima, 75 anos - A verdade sobre uma das mais famosas fotos da Segunda Guerra

Iwo Jima: a cena histórica e produzida da bandeira no Monte Surubachi. Foto de Joe Rosenthal. Domínio Público. 


No mesmo local, a foto que registra o primeiro hasteamento, o autêntico. Observe que os fuzileiros acabavam de conquistar o pico, um dos soldados ainda permanece atento ao inimigo. Foto de Louis Lowery. Domínio Público

por José Esmeraldo Gonçalves
Para quem leu "Fotomemória: a foto que simbolizou a queda de Berlim, há 75 anos", publicado ontem, este post é uma continuação.

A conquista de Iwo Jima, após luta acirrada dos fuzileiros navais americanos contra tropas japonesas, também rendeu foto icônica. Em 23 de fevereiro de 1945, dominada a resistência dos defensores da ilha do Pacífico, o fotógrafo Joe Rosenthal, trabalhando para a Associated Press, escalou o Suribachi, onde japoneses haviam instalado uma bateria de canhões, e apontou sua pesada Speed Graph para o grupo de soldados que plantava uma bandeira no topo do monte.

A "chapa", extraordinariamente plástica, entrou para a história como símbolo não apenas da vitória em Iwo Jima, mas de toda a guerra no Pacífico, Com a cobertura daquele momento inédito, Rosenthal faturou a fama devida, a honra de ser o autor de uma das imagens mais multiplicadas de todos os tempos e, de quebra, ganhou o prestigiado Prêmio Pulitzer.

Momento inédito?  Não foi bem assim...

Antes do esforçado fotógrafo chegar ao Suribachi, outro grupo de fuzileiros, ainda com as armas fumegando após ocupar o pico, havia hasteado no local uma versão menor da "stars and stripes".

Do alto do monte via-se toda a ilha. Um oficial achou então que uma bandeira pequena não seria enxergada dos pontos mais distantes. Para o moral da tropa cansada e sofrida, que perdeu no ataque mais de 5 mil companheiros, a visão da bandeira era um alento, o sinal da missão cumprida.

Dito pelo oficial e feito por seus comandados. A primeira bandeira foi retirada. A foto de Joe Rosenthal é, portanto, a segundona de Iwo Jima.

Hora e meia antes de Rosenthal, o sargento Louis Lowery, da revista Leatherneck, havia registrado a cena de colocação da primeira bandeira, o gesto triunfal de um grupo de fuzileiros, parte dos 40 homens que conquistaram a fortificação japonesa. Lowery flagrou a cena real, desarrumada, pouco épica. Já Rosenthal provavelmente teve o feeling, vislumbrou a oportunidade histórica. Mais do que posada, sua foto é coreografada.

Parecia prontinha para virar um monumento, o que de fato aconteceu.

Marine Corps War Memorial, em Arlington: a foto de Joe Rosenthal
eternizada em bronze.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Fotomemória: a história da foto que simbolizou a queda de Berlim há 75 anos

Foto de Evgueni Khaldei/Multimedia Art Museum/Moscow

por José Esmeraldo Gonçalves

Dia 2 de maio de 1945, há 75 anos: a bandeira soviética se ergue sobre o Reichstag, sede do governo de Hitler. É o fim da Batalha de Berlim, em curso desde 21 de abril, dia em que o ronco dos tanques pesados IS-2, do Exército Vermelho, foi ouvido nas ruas da cidade que deveria sediar o Reich de mil anos. As tropas nazistas que defendem o último reduto rendem-se aos soviéticos e a Segunda Guerra encaminha-se para o fim, na Europa.

Enquanto os soldados comemoravam a vitória nas ruas de uma Berlim destruída, o fotojornalista Evgueni Khaldei, que acompanhava a ofensiva como correspondente da agência Tass, pensava em como traduzir em uma imagem forte e simbólica daquele momento. Khaldei resolveu dar uma mão à história e produziu a foto que tinha na cabeça.

Repórteres e fotógrafos de revistas ilustradas, como Life, O Cruzeiro e Manchete, conheceram bem esse processo. Uma reportagem sem uma foto de página dupla de abertura ou de capa perde um pouco do seu impacto. É preciso algo que apresente ao leitor, em titulo e imagem, o que ele lerá e verá nas páginas seguintes. Não necessariamente a foto-síntese, de fácil leitura, surge ao longo do trabalho. Khaldei tinha na sua câmera cenas de ação espetaculares e dramáticas, mas nenhuma passava, ao primeiro olhar, o significado do fim de um conflito mundial.

Ele contou, anos depois, em entrevistas, que procurou nas imediações do Reichstag alguém que pudesse confeccionar uma bandeira, pediu a três soldados que o acompanhassem ao topo do prédio e se posicionou para captar a bandeira sobre os escombros de Berlim bombardeada. Há especulações em torno da foto. A fumaça ao fundo teria sido acrescentada em laboratório; um dos soldados ostentaria no pulso relógios saqueados durante a ofensiva final, delito típico dos conquistadores -  ainda mais tratando-se de soviéticos vítimas de horrores por parte dos nazistas que invadiram a Rússia -, mas o fotógrafo preferiu retocar a evidência.

Nada disso impediu que a foto de Evgueni Khaldei se tornasse um poderoso logotipo da tomada de Berlim e do fim do poder nazista. O fotojornalista experimentou uma satisfação a mais ao registrar a derrocada de Hitler: judeu, Khaldei teve os pais assassinados pelos nazistas em 1941.

Aquela era também a foto da sua vida.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Fotomemória: quando a TV era "comida, diversão e arte"

Aerton Perlingeiro e seus comensais. A foto foi publicada na Manchete, nos anos 1970.

Lolita e Airton Rodrigues e seus convidados para a boca-livre televisiva. Reprodução 

por Ed Sá 

A TV Tupi desligou as câmeras há 40 anos. Mais precisamente no dia 12 de julho de 1980. Mas o assunto aqui é "comida, diversão e arte". A antiga emissora dos Diários Associados manteve por décadas dois programas cujo forte eram os carboidratos e as proteínas. O pessoal que hoje é "de risco" diante do coronavírus deve lembrar. Para os demais, explica-se: eram atrações nas quais o prato principal era literalmente... comida.

Um desses programas era o "Almoço com as Estrelas", apresentado por Airton e Lolita Rodrigues. O outro era o "Programa Aerton Perlingeiro". Nas tardes de sábado, os âncoras reuniam celebridades em alta ou em baixa para um regabofe pontuado por entrevistas.

Os artistas adoravam. Podiam falar de peças e filmes que estreavam e, ao mesmo tempo, descolar um rango farto. O ao-mesmo-tempo aí não é força de expressão. Muitos eram surpreendidos com perguntas em meio a colheradas de feijoada ou rabadas monumentais.

Na verdade, os artistas eram muito gratos a Airton, Lolita e Aerton, especialmente este que fazia o seu programa na sede da Tupi, na Urca. Para a maioria, era chance de divulgar seus trabalhos para o grande público. E para muitos jovens artistas ainda enfrentando dificuldades para se firmar e pagar aluguel, vivendo de uma atividade absolutamente instável, o almoço na TV era a refeição mais reforçada da semana.   

sexta-feira, 20 de março de 2020

Fotomemória: Elis Regina, a voz de um cometa. Por Guina Araújo Ramos

Elis Regina no ensaio do show Transversal do Tempo - Rio, 1978 - Foto Guina Araújo Ramos

por Guina Araújo Ramos 
Neste difícil momento em que o Brasil, com a chegada ao país de uma pandemia, entra numa espiral que talvez seja mortal para muitos brasileiros, que seja também tempo de relembrar alguém que, vivendo a vida intensamente (que “viver é melhor que sonhar”), teria feito, neste 17 de março de 2020, exatos 75 anos: uma das nossas grandes vozes, Elis Regina, a “Pimentinha”, entre tantos outros epítetos elogiosos que mereceu.

Quem sou eu para “biografar” Elis Regina, uma estrela no luminoso céu da música popular brasileira... Diria apenas que, diante da rapidez e do brilho de sua trajetória, talvez seja mais preciso dizer que Elis Regina foi, para mim e para o Brasil, um verdadeiro cometa.
Conto abaixo apenas a parte que me coube do contato com esta luminosa presença musical.
Fotografei Elis Regina apenas uma vez, e não frente a frente mas à distância. Foi dos fundos da plateia vazia do Teatro Ginástico, no Centro do Rio de Janeiro, durante um ensaio do show Transversal do Tempo, que estrelou no bem muito distante ano de 1978.
O material publicado creio que se resumiu a esta curiosa foto em que Elis Regina canta quase esparramada no chão do palco do teatro, sentada à frente de uma estrutura de andaimes metálicos, usando um terno masculino, que lembra uma roupa de morador de rua.


Interessante que o crítico da Fatos & Fotos, onde foi publicada a matéria, não gostou nem um pouco do visual do show. Destacou a qualidade da intérprete e do show, “o melhor de Elis”, mas arrasou com a proposta do cenário, “o pior visual que um show poderia ousar”.

De minha parte, achei ótimo poder fazer uma imagem assim inusitada, ao menos para quem não viu o show. E conseguir pegar, por conta da espontaneidade dela, uma expressão tão vivaz de quem levou tão intensamente a vida.

Ou seja, Elis Regina (se) saiu muito bem na foto.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Fotomemória da redação: Manchete dançou lambada. Foi há 30 anos...



Em 1990, a lambada se espalhava pelo mundo. A dança era capa de revistas internacionais, como a Observateur. A repórter Marina Nery e o fotógrafo Ricardo Beliel foram ao Pará desvendar para a Manchete as raízes da lambada.

Naquele momento, há 30 anos, o ritmo ditava a imagem do Brasil que, no exterior, ainda não era confundido com neonazismo ou neofascismo, desprezo pelo meio ambiente, neuras fundamentalistas, milicias, os Queirozes da vida etc.

O clima de que o Brasil pós-Constituinte tomaria jeito durou pouco. Eleito presidente, Collor de Mello logo confiscou poupanças e adotou uma política de neoliberalismo trêfego e implantou seguidos planos econômicos fracassados. Em pouco tempo, a inflação disparou e a fantasia collorida sucumbiu em meio a um mega escândalo de corrupção.

A lambada "chorando se foi", como cantava o grupo Kaoma que, ao lado de Beto Barbosa (o cantor do "dançando lambada, dançando lambada"...) dominava as paradas musicais.

Mas a dança parece ter sido uma breve "janela" de alegria como Manchete bem registrou naquele difícil começo da década de 1990.