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quarta-feira, 24 de maio de 2017

Leitura Dinâmica: Entenda porque suruba que se preza é mais organizada do que o Brasil de hoje...

A ilustração acima, reprodução de uma série chamada Les Bigarrures, é de 1799, tempos do Diretório (Revolução Francesa).  Tem a ver: o Diretório marca o fim da participação popular no processo revolucionário e a ascensão da burguesia após um golpe de Estado patrocinado por financistas, algo como o mercado de época. 

por O.V.Pochê

Dizem que a palavra suruba vem do tupi. Originalmente, significava madeira, pau, tronco desgastado pelo uso. Faz sentido.

Como as surubas podem facilmente entrar em modo desordenado, o povão também usa a expressão para nomear confusões ou algo fora do controle. O Brasil pós-golpe, por exemplo. A diferença é que, dizem os experientes no ramo, mesmo nas surubas, quando a zorra se descontrola e compromete a produtividade e a harmonia do momento, é preciso que alguém bote alguma ordem na coisa: "vamos organizar essa suruba", dirá uma voz de comando.

Uma leitura mais atenta dos jornais mostra que a suruba do governo está fora de controle. Confira alguns sintomas, abaixo:

1) Um deputado (Rocha Laures, do PMDB) apontado como operador de Temer recebe uma mala com 500 mil reais de propina e devolve à PF apenas 465 mil. Se ficar comprovado, o sujeito desmoraliza os cânones da corrupção ao deduzir uma propina da propina. É a esculhambação da esculhambação.

2) Um senador (Aécio Neves, do PSDB), teria pedido propina para pagar um advogado que o defenderia de acusações de receber... propina.

3) Um delator (Joesley Batista, da JBS), prevendo que o mercado logo repercutiria sua denúncia envolvendo um presidente, teria investido em dólares e ações com base nesse informação privilegiadíssima. Com essa jogada, teria faturado mais do que o valor da multa que aceitou pagar no acordo de delação.

Reprodução/O Globo

4) Se o presidente Michel Temer (PMDB) cair, será substituído pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), por 90 dias. Curiosamente, a lei não impede que esse mesmo político dirija o processo e concorra ao cargo em eleição indireta. Embora esteja citado em delações como suspeito de corrupção, isso não seria impedimento para Maia. Imperdoável - e provavelmente ele será vetado por isso - é ter usado uma bermuda roxa para ir à residência oficial de outro suspeito, o próprio presidente Temer. A bermuda roxa, no caso, significaria "desleixo com a liturgia do cargo".  Na suruba, entre os participantes que não estão com a boca ocupada, corre o comentário de que o tal cargo não tem mais liturgia faz é tempo. Outra coisa: bermuda roxa em suruba não entra, é brochante em qualquer ménage múltipla que se dê ao respeito.

5) Ouviu-se na suruba outro comentário, esse mais apimentado, de que tem um movimento social em alta gritando "Dentro Temer". É organizado pelos presos da Penitenciária da Papuda.

6) Até a suruba reconhece que o governo está combatendo o desemprego e criando postos de trabalho. No Palácio do Planalto. Já são vários os assessores do presidentes que abrem mão do emprego por justa causa: a PF batendo nas suas portas. Há vagas nos gabinetes das assessorias presidenciais.

7) Um jornalista (Reynaldo Azevedo) telefona para fonte (Andréa Neves, irmã de Aécio Neves) em busca de novas informações enquanto o país está pegando fogo. Na conversa que foi grampeada e divulgada não vazou notícia que mereça esse nome. O que vai entrar para a história é um momento meigo: o jornalista cita um poema de Cláudio Manoel da Costa. “É um poema lindíssimo que ele fala justamente de uma coisa que eu constatei quando fui a Belo Horizonte. A cidade cercada de montanhas. E aí ele diz assim: essas montanhas poderiam ter endurecido o coração. Mas não, tiveram efeito contrário", fala Reynaldo. Andréa Neves, que seria presa após a delação de Joesley, declama de volta um trecho do poema: "Bárbara bela, do Norte estrela, que o meu destino sabes guiar, de ti ausente, triste, somente as horas passo a suspirar". Na suruba, o comentário era de que esse foi o melhor delírio literário da crise.

8) Teve propinófilo recebendo dinheiro em caixa de sapato, em mochila, na calçada, em restaurante, em escritório etc. Provavelmente querendo dar uma variada na entrega, um delator da JBS encarregado da logística da grana sugeriu disfarçar uma das remessas no fundo de uma caixa de isopor cheia de picanhas. Prático: o deputado subornado rechearia o bolso e ainda garantiria a carne do churrasco.

9) O esquema da JBS também inaugurou a propina a prazo. Uma espécie de crediário, digamos uma versão bandida de um baú da felicidade. Em um dos casos, segundo a delação, o prazo de pagamento se estendia por 25 anos. O delator Ricardo Saud, da JBS, afirmou ao Ministério Público que discutiu com o deputado Rodrigo Loures um pagamento semanal para ele e Temer pelas próximas duas décadas e meia. São otimistas. O deputado tem 75 anos, Temer tem 76. Significa que têm certeza de que vão chegar aos 100 anos muito vivos e recebendo a suposta mesada. Ambos negam ter pedido ou recebido dinheiro.

10) Como a suruba, a corrupção tem regras não escritas e sua própria compliance,  "Isso não pode", "pera lá", "aí, não", "ôpa" são alertas comuns às duas atividades. Veríssimo cita, hoje, na sua crônica, a revelação de um dos delatores da JBS, que considerou falta de elegância do Temer confiscar um milhão de reais no meio da bolada que estava passando à sua frente. Veríssimo escreveu: "notava-se uma certa decepção na voz do delator ao contar que Temer revindicara uma beirada do propinato em trânsito para o seu bolso". E, mais adiante, conta Veríssimo: "O corruptor lamentava o ocorrido. Uma certa etiqueta fora rompida". Não se pode confiar nem na corrupção à brasileira.

11) O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o da bermuda lilás, é acusada de engavetar pedido de impeachment de Temer. Sem muita justificativa, provavelmente doido para traçar um cheeseburger, decreta que "impeachment não é drive thru". Caberá ao STF, onde dúvidas constitucionais são esclarecidas, dizer se é ou não é. O McDonald's vai testemunhar.

12) Pode ser coincidência, mas essa atual bomba política estourou quando Mick Jagger voltava a visitar o Brasil, discretamente, em São Paulo, quase três anos depois da sua presença mais marcante aqui na terrinha, quando torceu pelo Brasil contra a Alemanha, na Copa de 2014. Isso mesmo, nos 7x1, em Belo Horizonte. Ele também veio ao Brasil em turnê, em março de 2016, mas não pode ser responsabilizado pela queda de Dilma: ela caiu um mês depois. Aliás, Aécio Neves também estava na platéia do desastre da seleção brasileira.

13) Correspondentes estrangeiros estavam confusos ontem diante das fotos que as agências divulgavam. Os computadores de edição despejavam simultaneamente imagens que retratavam conflitos na Cracolândia e na Esplanada dos Ministérios. Os estagiários estavam tensos com medo de misturar umas e outras. Dá pra entender.

14) Segundo o jornal Extra, o delator Joesley usou um gravador mequetrefe para registrar Temer, mas em matéria de brinquedinhos eróticos ele prefere a sofisticação. O empresário foi fotografado em Nova York, ao lado da mulher, a jornalista Ticiana Villas-Boas, comprando um vibrador com Wi-Fi, que pode ser comandado à distância por celular. O jornal não comenta se esse celular foi grampeado.

15) Dizem que Temer vai ser julgado no TSE no dia 6/6. Se marcarem a sessão para as 6 horas, vai acabar o quórum da suruba: 666 é o número da Besta. Aí não terá mais jeito, vai ser a hora da Queda da Bostilha.