O Portal Imprensa publica uma matéria contundente sobre os bastidores do polêmico acordo que a Abril, agora sob o controle de investidores, fez com centenas de funcionários demitidos em redações, gráfica e áreas administrativas.
A manobra vil que prejudicou os trabalhadores começou com os irmãos Civita, herdeiros do grupo, que mandaram funcionários embora pouco antes da decretação da Recuperação Fiscal do grupo. Com isso, as verbas rescisórias passaram a fazer parte do complicado processo judicial que, de cara, deu aos então controladores da Abril prazo de 180 dias para quitar a dívida trabalhista.
Com a venda do grupo, a negociação passou a se dar com os novos donos que adquiriam a Abril por uma pequena parcela em dinheiro mais a dívida que ultrapassa 1 bilhão de reais. Assim, quanto mais jogarem duro na negociação das dívidas bancárias e trabalhistas mais os investidores lucrarão com o negócio. E foi o que se deu. As verbas rescisórias serão pagas na maioria a prestação e com enormes descontos. Era isso ou praticamente ficar na saudade. Quem topu o acordo abre mão de reivindicar direitos na Justiça. Para quem não assinou o documento, resta entrar ações judiciais e encarar longa disputa.
Leia a matéria no Portal Imprensa AQUI
Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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terça-feira, 30 de julho de 2019
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
Livro revela bastidores da Abril - Da era de ouro à implosão editorial
O jornalista Adriano Silva, que trabalhou na Exame e dirigiu as revistas Superinteressante e Mundo Estranho, lança o livro "A república dos editores" que conta a trajetória da Abril no que ele define como a década de ouro, os anos 2000. Curiosamente, a era em que a Abril viveu o auge também engloba, a partir de 2013, o período em que começou a perfilhar a decadência. Em 2001, a editora tinha quase 14 mil funcionários; pouco mais de dez anos depois esse número caiu para menos de quatro mil.
O livro de Adriano Silva é a soma das suas memórias pessoais com os êxitos, as mudanças, as indefinições e perplexidades diante da internet e dos meios digitais, as "reestruturações" e turbulências que podaram a editora da árvore verde e pulverizaram milhares de empregos.
quinta-feira, 18 de outubro de 2018
Passaralhos também levam embora a qualidade do jornalismo
A Infoglobo, que edita O Globo, Extra, Época e outros impressos do grupo, faz mais "reestruturação" do que os times do Brasileirão trocam de técnicos.
"Reestruturação ", o nome que os executivos da poltrona dão ao processo, consiste geralmente em ações que parecem não dar muito certo, tanto que são repetidas ao infinito, e apenas resultam em demissões. Também atende pelo nome de passaralho. No Globo, por exemplo, não há ganho de qualidade visível em meio a tantas e sucessivas mudanças, ao contrário.
A Editora Abril, por exemplo, passou por tantas "reestruturações" que desestruturou-se.
Confirmando os rumores da última semana, a Infoglobo demitiu cerca de 40 profissionais - diz-se que o número pode passar de 100. Entre os afastados, são maioria jornalistas experientes que, ironicamente, treinaram como supervisores o grupo de estagiários que reforça as redações, compondo equipes ao lado dos remanescentes.
"Reestruturações" acompanham a visível mudança de foco na estratégia dos veículos impressos para aumentar a expectativa de vida.
Com a queda de publicidade, muitos têm apostado na promoção de eventos. São seminários, debates, feiras, palestras sobre os mais diversos campos, da saúde à educação, da segurança ao meio ambiente. Há departamentos inteiros cuidando da porção promoter em que jornais e revistas investem. E são criativos quanto aos temas que garimpam patrocinadores, geralmente governos, estatais e órgãos do chamado Sistema S, além de leis de incentivo fiscal. Dinheiro público, na maioria. A indução de eventos que muitas vezes têm efeito apenas catártico e se esgotam no evento em si, tornou-se vital para o caixa das empresas jornalísticas, mas não deixa de atingir, de certa forma, o jornalismo. Há veículos que promovem três, quatro eventos patrocinados por semana e isso costuma implicar em retorno contratual na forma de cobertura, ocupando páginas em detrimento do noticiário. Significa faturamento, mas cobra esse preço: são tantos que os leitores e assinantes saem perdendo conteúdo.
Os passaralhos levam não apenas profissionais experientes, mas boa parte da capacidade das redações na produção de matérias relevantes, exclusivas, que vão além dos press releases, das versões oficiais e do material fornecido por assessorias.
Antigamente dava-se o nome de gillete press às matérias colhidas de fontes secundárias não apuradas diretamente e não creditadas a agências ou material adquirido de outro veículo. Pode ser apenas coincidência, mas o Globo, hoje, tem quatro grandes reportagens da editoria internacional das quais se sabe apenas a origem geográfica mas não a fonte. Não estão creditadas a agências, nem a veículos, nem a correspondentes.
Seria internet press?
"Reestruturação ", o nome que os executivos da poltrona dão ao processo, consiste geralmente em ações que parecem não dar muito certo, tanto que são repetidas ao infinito, e apenas resultam em demissões. Também atende pelo nome de passaralho. No Globo, por exemplo, não há ganho de qualidade visível em meio a tantas e sucessivas mudanças, ao contrário.
A Editora Abril, por exemplo, passou por tantas "reestruturações" que desestruturou-se.
Confirmando os rumores da última semana, a Infoglobo demitiu cerca de 40 profissionais - diz-se que o número pode passar de 100. Entre os afastados, são maioria jornalistas experientes que, ironicamente, treinaram como supervisores o grupo de estagiários que reforça as redações, compondo equipes ao lado dos remanescentes.
"Reestruturações" acompanham a visível mudança de foco na estratégia dos veículos impressos para aumentar a expectativa de vida.
Com a queda de publicidade, muitos têm apostado na promoção de eventos. São seminários, debates, feiras, palestras sobre os mais diversos campos, da saúde à educação, da segurança ao meio ambiente. Há departamentos inteiros cuidando da porção promoter em que jornais e revistas investem. E são criativos quanto aos temas que garimpam patrocinadores, geralmente governos, estatais e órgãos do chamado Sistema S, além de leis de incentivo fiscal. Dinheiro público, na maioria. A indução de eventos que muitas vezes têm efeito apenas catártico e se esgotam no evento em si, tornou-se vital para o caixa das empresas jornalísticas, mas não deixa de atingir, de certa forma, o jornalismo. Há veículos que promovem três, quatro eventos patrocinados por semana e isso costuma implicar em retorno contratual na forma de cobertura, ocupando páginas em detrimento do noticiário. Significa faturamento, mas cobra esse preço: são tantos que os leitores e assinantes saem perdendo conteúdo.
Os passaralhos levam não apenas profissionais experientes, mas boa parte da capacidade das redações na produção de matérias relevantes, exclusivas, que vão além dos press releases, das versões oficiais e do material fornecido por assessorias.
Antigamente dava-se o nome de gillete press às matérias colhidas de fontes secundárias não apuradas diretamente e não creditadas a agências ou material adquirido de outro veículo. Pode ser apenas coincidência, mas o Globo, hoje, tem quatro grandes reportagens da editoria internacional das quais se sabe apenas a origem geográfica mas não a fonte. Não estão creditadas a agências, nem a veículos, nem a correspondentes.
Seria internet press?
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terça-feira, 21 de agosto de 2018
Grupo Abril demite jornalistas e não paga...
Como todas as grandes empresas jornalísticas, a Abril defendeu a reforma trabalhista como um talibã se agarra ao seu Corão. Achou até pouco, a abdução de direitos sociais soa como música zen para os princípios neoliberais da casa.
"Abril demite e não paga"
"Posição oficial dos jornalistas dispensados pela Editora Abril"
"Na manhã de 6 de agosto, os funcionários da Editora Abril foram surpreendidos pelo fechamento de revistas do grupo e pela dispensa em massa de jornalistas, gráficos e administrativos. Nos dias seguintes, os números estavam em torno de 800 profissionais. Ao todo, 11 títulos foram encerrados. Na vida particular dos empregados da Abril, as medidas têm sido devastadoras. A empresa desligou de forma injusta, sem negociação com as entidades de representação trabalhista e sem prestar esclarecimentos oficiais.
Em 15 de agosto, nove dias após o início das demissões, a Abril entrou com pedido de recuperação judicial (acatado pela Justiça) incluindo nesse processo todas as verbas rescisórias dos dispensados e também a multa de 40% sobre o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Ou seja, um dia antes do prazo final para indenizar integralmente os ex-funcionários, a empresa realizou a manobra, fazendo crer que as duas ações (demissão em massa e pedido de recuperação judicial) foram arquitetadas em conjunto, tendo como um dos seus objetivos não pagar os empregados.
Além disso, suspendeu a prestação de contas (antiga homologação), não liberou a chave para o saque do FGTS e as guias do seguro-desemprego, deixando os demitidos sem nenhuma cobertura financeira. Quando tentam contatar o RH, recebem informações contraditórias – portanto, os demitidos permanecem no escuro.
A Editora Abril há muito vem descumprindo outros compromissos com as mulheres e os homens que se doaram e participaram bravamente de um esforço cotidiano para que a empresa se recuperasse da crise pela qual enveredou. Um exemplo: os profissionais desligados em 2017 e no começo deste ano viram suas indenizações sendo pagas em parcelas, algo considerado ilegal. Com a recuperação judicial, eles tiveram as parcelas finais congeladas. Assim, pessoas que não mantêm vínculo com a empresa há pelo menos sete meses se encontram listadas como credoras e impedidas de receber o que resta. Foram também atingidos fotógrafos, colaboradores de texto, revisão e arte, que, igualmente, não verão o seu dinheiro.
Deixemos clara nossa profunda indignação com o fato de a família proprietária da Editora Abril – que durante décadas acumulou com a empresa, e com o nosso trabalho, uma fortuna na casa dos bilhões de reais – tentar agora preservar seu patrimônio e não querer usar uma pequena parte dele para cumprir a obrigação legal de nos pagar o que é devido.
Por fim, é preciso considerar o prejuízo cultural da medida. Com o encerramento dos títulos Cosmopolitan, Elle, Boa Forma, Viagem e Turismo, Mundo Estranho, Guia do Estudante, Casa Claudia, Arquitetura&Construção, Minha Casa, Veja Rio e Bebe.com, milhares de leitoras e leitores ficaram abandonados. Para a democracia brasileira e para a cultura nacional, a drástica medida representa um enorme empobrecimento. Morrem títulos que, ao longo de décadas, promoveram a educação, a saúde, a ciência e o entretenimento; colaboraram para a tomada de consciência sobre problemas da sociedade; formaram cidadãos e contribuíram para a autonomia e o desenvolvimento pessoal de todos os que liam e compartilhavam a caudalosa quantidade de conteúdos produzidos pelas revistas impressas, suas versões digitais ou redes sociais. Nada foi colocado no lugar desses veículos, abrindo enorme lacuna na história da comunicação no nosso país.
Parte da crise, sabe-se, é global e impactou a imprensa do mundo inteiro. Outra parte deve-se ao fato de a Abril ter perdido o contato com a pluralidade de opiniões e se afastado da diversidade que caracteriza a população brasileira. Uma gestão sem interesse no editorial sucateou as redações, não soube investir em produtos digitais e comprometeu a qualidade de suas publicações sob o pretexto de “cortar custos”. Além disso, deu ouvidos apenas a executivos e consultorias, sem levar em consideração os profissionais da reportagem e o público.
Neste momento difícil para toda a nação, com o desemprego se alargando, nós, jornalistas demitidos, estamos organizados e contando com o apoio do Sindicado dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP). Também estamos unidos às demais categorias – gráficos e funcionários administrativos. É uma demonstração de tenacidade na defesa da integralidade dos nossos direitos e um sinal de prontidão para enfrentar as necessárias lutas que virão. Não pedimos nada além do que o nosso trabalho, por lei, garantiu.
São Paulo, 20 de agosto de 2018
Comitê dos Jornalistas Demitidos da Abril"
Agora está explicado: a Abril agia em causa própria.
O Comitê dos Jornalistas Demitidos da Abril, reunido no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, divulgou ontem um comunicado oficial no qual denuncia um golpe da editora sobre centenas de profissionais demitidos. A empresa, na prática, liga o foda-se: congela o pagamento de indenizações e vincula todas as verbas rescisórias ao longo processo de recuperação fiscal que se inicia.
Leia o comunicado dos ex-funcionários:
"Abril demite e não paga"
"Posição oficial dos jornalistas dispensados pela Editora Abril"
"Na manhã de 6 de agosto, os funcionários da Editora Abril foram surpreendidos pelo fechamento de revistas do grupo e pela dispensa em massa de jornalistas, gráficos e administrativos. Nos dias seguintes, os números estavam em torno de 800 profissionais. Ao todo, 11 títulos foram encerrados. Na vida particular dos empregados da Abril, as medidas têm sido devastadoras. A empresa desligou de forma injusta, sem negociação com as entidades de representação trabalhista e sem prestar esclarecimentos oficiais.
Em 15 de agosto, nove dias após o início das demissões, a Abril entrou com pedido de recuperação judicial (acatado pela Justiça) incluindo nesse processo todas as verbas rescisórias dos dispensados e também a multa de 40% sobre o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Ou seja, um dia antes do prazo final para indenizar integralmente os ex-funcionários, a empresa realizou a manobra, fazendo crer que as duas ações (demissão em massa e pedido de recuperação judicial) foram arquitetadas em conjunto, tendo como um dos seus objetivos não pagar os empregados.
Além disso, suspendeu a prestação de contas (antiga homologação), não liberou a chave para o saque do FGTS e as guias do seguro-desemprego, deixando os demitidos sem nenhuma cobertura financeira. Quando tentam contatar o RH, recebem informações contraditórias – portanto, os demitidos permanecem no escuro.
A Editora Abril há muito vem descumprindo outros compromissos com as mulheres e os homens que se doaram e participaram bravamente de um esforço cotidiano para que a empresa se recuperasse da crise pela qual enveredou. Um exemplo: os profissionais desligados em 2017 e no começo deste ano viram suas indenizações sendo pagas em parcelas, algo considerado ilegal. Com a recuperação judicial, eles tiveram as parcelas finais congeladas. Assim, pessoas que não mantêm vínculo com a empresa há pelo menos sete meses se encontram listadas como credoras e impedidas de receber o que resta. Foram também atingidos fotógrafos, colaboradores de texto, revisão e arte, que, igualmente, não verão o seu dinheiro.
Deixemos clara nossa profunda indignação com o fato de a família proprietária da Editora Abril – que durante décadas acumulou com a empresa, e com o nosso trabalho, uma fortuna na casa dos bilhões de reais – tentar agora preservar seu patrimônio e não querer usar uma pequena parte dele para cumprir a obrigação legal de nos pagar o que é devido.
Por fim, é preciso considerar o prejuízo cultural da medida. Com o encerramento dos títulos Cosmopolitan, Elle, Boa Forma, Viagem e Turismo, Mundo Estranho, Guia do Estudante, Casa Claudia, Arquitetura&Construção, Minha Casa, Veja Rio e Bebe.com, milhares de leitoras e leitores ficaram abandonados. Para a democracia brasileira e para a cultura nacional, a drástica medida representa um enorme empobrecimento. Morrem títulos que, ao longo de décadas, promoveram a educação, a saúde, a ciência e o entretenimento; colaboraram para a tomada de consciência sobre problemas da sociedade; formaram cidadãos e contribuíram para a autonomia e o desenvolvimento pessoal de todos os que liam e compartilhavam a caudalosa quantidade de conteúdos produzidos pelas revistas impressas, suas versões digitais ou redes sociais. Nada foi colocado no lugar desses veículos, abrindo enorme lacuna na história da comunicação no nosso país.
Parte da crise, sabe-se, é global e impactou a imprensa do mundo inteiro. Outra parte deve-se ao fato de a Abril ter perdido o contato com a pluralidade de opiniões e se afastado da diversidade que caracteriza a população brasileira. Uma gestão sem interesse no editorial sucateou as redações, não soube investir em produtos digitais e comprometeu a qualidade de suas publicações sob o pretexto de “cortar custos”. Além disso, deu ouvidos apenas a executivos e consultorias, sem levar em consideração os profissionais da reportagem e o público.
Neste momento difícil para toda a nação, com o desemprego se alargando, nós, jornalistas demitidos, estamos organizados e contando com o apoio do Sindicado dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP). Também estamos unidos às demais categorias – gráficos e funcionários administrativos. É uma demonstração de tenacidade na defesa da integralidade dos nossos direitos e um sinal de prontidão para enfrentar as necessárias lutas que virão. Não pedimos nada além do que o nosso trabalho, por lei, garantiu.
São Paulo, 20 de agosto de 2018
Comitê dos Jornalistas Demitidos da Abril"
sábado, 7 de julho de 2018
Professor da UNB analisa a atual crise da Abril e recorda o fim da Bloch Editores
do Facebook de Luís Felipe Miguel (*)
(Leia a seguir o texto completo)
"Uma frase de autoria incerta, que circulou pela internet, diz que a classe dominante não tem ódio. O que ela tem são interesses. O ódio ela terceiriza.
A frase é interessante. Mas talvez ela superestime a racionalidade da classe dominante. Por vezes, seu ódio supera seus interesses.
Penso num caso. Meu pai trabalhou por muitos anos em Bloch Editores. Na época, Bloch contava com uma publicação de grande sucesso – a revista Manchete, que ocupara o espaço que antes fora da mítica revista O Cruzeiro. Mas era um formato, a revista ilustrada, que estava em irremediável curva descendente, devido a fatores como a difusão da televisão em cores.
A grande editora do Brasil não era Bloch. Era Abril. Em quase todos os segmentos, Abril liderava e Bloch ficava atrás. Jornalismo econômico: Tendência (Bloch) atrás de Exame (Abril). Revista “feminina”: Desfile (Bloch) atrás de Cláudia (Abril). Revista de mulher pelada: Ele Ela (Bloch) atrás de Revista do Homem, depois Playboy (Abril). Revista infantil: Bloquinho e Recreio. Revista de fofocas: Amiga e Contigo. Fotonovelas: Sétimo Céu e Capricho. Etcétera.
Tá certo, Bloch tinha uma revista sólida de puericultura, Pais & Filhos. Mas a Abril corria sozinha no jornalismo esportivo, com a Placar. Tinha os gibis (Disney e Turma da Mônica), verdadeiras minas de ouro.
E tinha a joia da coroa, a revista Veja. Bloch nunca conseguiu firmar uma revista semanal de informação geral. Tentou, durante um curto período de tempo, transformando a Fatos & Fotos (uma espécie de Manchete mais magrinha) na revista Fatos, mas não pegou.
Bloch decaiu no final do século passado e acabou falindo, em grande medida pelo investimento desastrado na TV Manchete. Abril ia de vento em popa. Veja tirava mais de um milhão de exemplares por semana. O boom do mercado de revistas fez com que seus títulos se multiplicassem. O espaço que era de Manchete nos consultórios dentários e salões de beleza foi ocupado pela Caras, que no início era da Abril.
E hoje Abril é uma pálida sombra do que foi. Fechou ou vendeu a maior parte dos seus títulos. Anuncia mais uma retração para breve. Seu próximo passo, ninguém duvida, é a falência.
Muitos fatores contribuem para esta débâcle, a começar pelas dificuldades vividas pelos meios impressos no novo mundo digital. Mas um deles, acredito, é o ódio. O ódio de classe que fez com que a editora recusasse qualquer coisa parecida com jornalismo e transformasse seu principal veículo no arauto de uma seita, desprovido de credibilidade e desinteressado de obtê-la. Uma das maiores revistas de informação do mundo, que (mesmo sem nunca ter sido isenta ou confiável) era leitura obrigatória no Brasil, transformou-se num pasquim risível e irrelevante, sem que a direção da empresa esboçasse qualquer reação; pelo contrário, sempre preferiu aprofundar sua opção pelo apostolado antipetista.
Agora Abril morre e ninguém chora por ela."
(*) Luís Felipe Miguel é professor de Ciência Politica na Universidade de Brasília e filho de um ex-funcionário da Bloch Editores.
sexta-feira, 13 de maio de 2016
Deu no DCM: jornalista é demitido depois de criticar post da mulher do presidente da Abril sobre o Nordeste
por Kiko Nogueira (para o Diário do Centro do Mundo)
Conheci Gil Felisberto na Viagem e Turismo, revista que dirigi. Talentoso, bem humorado, competente, Gil estava trabalhando na revista Exame.
Um dia depois de criticar, em seu Facebook, a postura racista da mulher do presidente de Abril, Cristina Partel, Gil foi demitido.
Cristina, caso você não saiba, escreveu o seguinte a uma amiga: “O Nordeste colocou Dilma no Planalto, agora um nordestino não quer deixa-la sair. Depois dizem que somos preconceituosos, será mesmo?”
Gilvan fez o comentário abaixo.
Eis a carta aberta de Gil, dirigida a Walter Longo.
Caro Walter Longo,
Venho por meio desta carta aberta informar que hoje (12/05/2016) eu, Gilvan Felisberto da Silva Filho, nordestino e filho de nordestinos, fui demitido da editora Abril. Lá ocupava o cargo de editor de arte I do núcleo digital da revista Exame. Mas na verdade meu trabalho era de designer mesmo, pois fazia de tudo, layouts de matéria da revista impressa, dos especiais e suas versões para tablets e smartphones.
Sempre respeitei a postura política da empresa. Embora afirmem que esta seja imparcial, quem está lá dentro sabe de fato como as coisas funcionam.
Voltando ao assunto da minha demissão. Um dia após publicar um questionamento a um post no Facebook no qual sua esposa criticava a postura de um nordestino em relação à manutenção da presidenta Dilma Vana Rousseff em seu cargo, me pediram para chegar mais cedo. E assim fui informado da demissão. O pretexto foi reestruturação.
O que me causou extrema estranheza foi estarmos prestes a começar a maior edição de um título da Exame, o Maiores e Melhores, que tem cerca de 400 páginas (em média), com uma equipe extremamente reduzida. Fora isso, ainda tínhamos de cuidar da edição periódica da revista Exame. Estavam sendo procurados freelancers para ajudar nesta demanda.
Aceito qualquer que tenha sido o motivo real da minha demissão, honestamente. O que não posso aceitar é que uma pessoa, esposa de um presidente de uma empresa como a editora Abril, use sua rede social para denegrir e/ou ofender um povo que sempre lutou pelo país.
Uma pessoa que casa com um presidente de uma empresa como a editora Abril não pode ignorar, nem deve (até porque ela deve ter estudado história na escola), que o Nordeste carregou o Brasil por séculos nas costas. Mas tudo bem, digamos que ninguém seja obrigado a saber disso. Mesmo assim ela, volto a repetir, esposa do presidente de uma empresa como a editora Abril, tem que saber que o povo nordestino é quem também garante o salário do seu marido.
Até me sinto um pouco envergonhado por eu — um mero designer, que não tem nada no meu nome, nenhum imóvel, carro — precisar dizer que cada ser humano que existe no nosso planeta tem o direito de ser respeitado, independentemente de raça, credo, cor, origem e por aí vai.
Pois, meu caro Longo, deixo aqui registrada a minha indignação. Embora não faça mais parte do quadro de funcionários da editora Abril, quero cobrar (por mim e pelo meu povo) qual a postura da empresa em relação ao comentário de sua mulher. Quero também saber até que ponto isso se reflete na política da Abril, levando-se em consideração que existem muitos nordestinos que ainda trabalham nesta empresa.
O que o senhor falaria para eles agora, depois de tudo isso?
Muito obrigado e sucesso!
Gilvan Felisberto da Silva Filho
Conheci Gil Felisberto na Viagem e Turismo, revista que dirigi. Talentoso, bem humorado, competente, Gil estava trabalhando na revista Exame.
Um dia depois de criticar, em seu Facebook, a postura racista da mulher do presidente de Abril, Cristina Partel, Gil foi demitido.
Cristina, caso você não saiba, escreveu o seguinte a uma amiga: “O Nordeste colocou Dilma no Planalto, agora um nordestino não quer deixa-la sair. Depois dizem que somos preconceituosos, será mesmo?”
Gilvan fez o comentário abaixo.
Eis a carta aberta de Gil, dirigida a Walter Longo.
Caro Walter Longo,
Venho por meio desta carta aberta informar que hoje (12/05/2016) eu, Gilvan Felisberto da Silva Filho, nordestino e filho de nordestinos, fui demitido da editora Abril. Lá ocupava o cargo de editor de arte I do núcleo digital da revista Exame. Mas na verdade meu trabalho era de designer mesmo, pois fazia de tudo, layouts de matéria da revista impressa, dos especiais e suas versões para tablets e smartphones.
Sempre respeitei a postura política da empresa. Embora afirmem que esta seja imparcial, quem está lá dentro sabe de fato como as coisas funcionam.
Voltando ao assunto da minha demissão. Um dia após publicar um questionamento a um post no Facebook no qual sua esposa criticava a postura de um nordestino em relação à manutenção da presidenta Dilma Vana Rousseff em seu cargo, me pediram para chegar mais cedo. E assim fui informado da demissão. O pretexto foi reestruturação.
O que me causou extrema estranheza foi estarmos prestes a começar a maior edição de um título da Exame, o Maiores e Melhores, que tem cerca de 400 páginas (em média), com uma equipe extremamente reduzida. Fora isso, ainda tínhamos de cuidar da edição periódica da revista Exame. Estavam sendo procurados freelancers para ajudar nesta demanda.
Gil Felisberto |
Aceito qualquer que tenha sido o motivo real da minha demissão, honestamente. O que não posso aceitar é que uma pessoa, esposa de um presidente de uma empresa como a editora Abril, use sua rede social para denegrir e/ou ofender um povo que sempre lutou pelo país.
Uma pessoa que casa com um presidente de uma empresa como a editora Abril não pode ignorar, nem deve (até porque ela deve ter estudado história na escola), que o Nordeste carregou o Brasil por séculos nas costas. Mas tudo bem, digamos que ninguém seja obrigado a saber disso. Mesmo assim ela, volto a repetir, esposa do presidente de uma empresa como a editora Abril, tem que saber que o povo nordestino é quem também garante o salário do seu marido.
Até me sinto um pouco envergonhado por eu — um mero designer, que não tem nada no meu nome, nenhum imóvel, carro — precisar dizer que cada ser humano que existe no nosso planeta tem o direito de ser respeitado, independentemente de raça, credo, cor, origem e por aí vai.
Pois, meu caro Longo, deixo aqui registrada a minha indignação. Embora não faça mais parte do quadro de funcionários da editora Abril, quero cobrar (por mim e pelo meu povo) qual a postura da empresa em relação ao comentário de sua mulher. Quero também saber até que ponto isso se reflete na política da Abril, levando-se em consideração que existem muitos nordestinos que ainda trabalham nesta empresa.
O que o senhor falaria para eles agora, depois de tudo isso?
Muito obrigado e sucesso!
Gilvan Felisberto da Silva Filho
LEIA O DCM, CLIQUE AQUI
quarta-feira, 3 de junho de 2015
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
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