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sábado, 14 de março de 2020

Da Itália: o Covid-19 não é mais forte do que a união e a solidariedade

A MENSAGEM ABAIXO VIRALIZA NAS REDES SOCIAIS. 
É O EMOCIONANTE  DEPOIMENTO DE UMA BRASILEIRA 
QUE RESIDE EM ROMA. 

Do Whatsapp (via Cacá Fonseca)

"Caros amigos,
Essa é nossa segunda semana de quarentena coletiva em Roma. Primeiro foram as escolas e muita gente passou a trabalhar em casa, deixar as crianças com os avós não é uma opção. Fomos orientados a não sair e evitar lugares fechados e aglomerados. 

Até que essa semana o governo “fechou” a Itália. 

Agora somos autorizados a sair apenas para trabalhar (os que ainda saem para trabalhar), fazer compras ou ir para o hospital. Nada mais. 

A natação e a capoeira das crianças estão fechadas, o dentista desmarcou a consulta do meu filho e sábado não vai ter o jogo do campeonato de futebol dele, a cia aérea cancelou minha passagem para Madrid, também não vai ter o show da Gal, a faculdade avisou que tampouco tem data para a próxima prova. As escolas já trabalham com a possibilidade de seguirem fechadas até maio. 

O país inteiro fechou. 

Nós também nos fechamos nesse novo arranjo doméstico porque eu ainda tenho que estudar, Gui ainda tem que trabalhar e Gael tem o cronograma da escola para cumprir. A professora tem nos orientado remotamente sobre o conteúdo de cada dia e nos vemos professores dos nossos filhos, ás voltas com o neolítico e os verbos auxiliares. Não sei o que seria de nós sem o Google. 

Anita se encarrega de dar o toque de fim de mundo colocando a casa abaixo enquanto eu mando ela deixar Gael terminar o compiti de italiano. 

Passamos o dia de pijama. Vi uma vizinha receber o correio de luvas, ninguém mais pega o mesmo elevador, sobe um vizinho de cada vez, é o protocolo. 

Ontem fui ao mercado. Na rua, as poucas pessoas usavam luvas cirúrgicas e, na falta de máscara, lenço ou cachecol cobrindo o nariz. Fila na porta, todos respeitando a orientação de manter distância uns dos outros, a entrada contingenciada, mais gente fora do que dentro do mercado. Cinco de cada vez. 

Ninguém reclama. 

Pela primeira vez em 6 anos não sou a única com carrinho lá dentro, os italianos, em geral, só compram o que podem carregar, mas agora estão fazendo dispensa e já faltam alguns produtos nas prateleiras. Um corredor para cada pessoa, ninguém se esbarra, o alto-falante fica repetindo para respeitarmos a distância mínima. Na volta pra casa, reparo o comércio fechado, os poucos cafés abertos espaçaram as mesas mas estão desertos. Estamos todos isolados em casa.

Ontem, depois do anúncio da OMS decretando a pandemia, outros países começaram a adotar as mesmas medidas para deter o avanço do vírus que, por menos letal que seja, contamina tanto que mata muito. Na maioria dos casos, idosos e pessoas com imunidade baixa e doenças pregressas. Mas não só elas. 

A flor no asfalto é a solidariedade. Não vejo, entre as pessoas de meu convívio, pânico de ficar doente ou medo pelas nossas crianças que, ao que parece, não são páreo para o coronavírus. Mas estamos todos cuidando de quem não tem defesas suficientes para ele. Eu cuido do morador de rua que dorme no frio, embaixo da marquise do meu prédio, das senhorinhas que cumprimento no mercado, do senhor da loja de molduras. E, aqui em Roma, essas pessoas viraram a prioridade de todos. Pensamos coletivamente numa onda de cuidado com o outro, esse desconhecido, que eu nunca tinha vivido antes. As crianças aprenderam a “tossir nos cotovelos” e o fazem até em casa. Foram ensinadas que são estratégicas para conter a ameaça. 

É triste, mas também é bonito, sabem? 

Como escreveu por aqui meu amigo Francesco, não há saída que não passe pela reconstrução paciente de uma resposta coletiva aos desafios. Talvez seja didático estarmos vivendo, todos, ao mesmo tempo, essa crise. Fica evidente que o engajamento de cada um de nós, pessoa a pessoa, é a melhor, se não a única, defesa diante a pandemia. Ninguém pode dar-se ao luxo de ser negligente. Acho que ficaremos com um aprendizado importante depois que tudo isso passar. 

Também pela primeira vez testamos uma nova organização do trabalho. Ao mesmo tempo pessoas do mundo todo estão trabalhando de casa, empresas e repartições com carga horária e staff reduzidos. Talvez esteja sendo estabelecido um novo paradigma. Ainda não sabemos qual será o saldo, a história nos ensina que evolução nem sempre é progresso. Mas eu, que não posso evitar a esperança, acredito que tiraremos proveito desses dias de isolamento, quando não podemos sequer nos abraçar, tocar e beijar. E, apesar disso, acredito que esse vírus também possa desencubar a humanidade em nós. 

Mas faremos esse balanço depois. 

Por hora, lavem as mãos, ensinem as crianças, cuidem dos idosos e, se puderem, amigos, fiquem em casa. E mandem seus funcionários para casa. Não viajem. É preciso identificar e curar os que contraíram a doença antes que ela se espalhe. O vírus já está aí, no nosso Brasil, não o subestimem. Cobrem das autoridades, não acreditem em quem diz que “é só uma gripe”, - eu já fui essa pessoa - não é! Não paguem para ver porque o preço é a vida dos mais frágeis entre nós. As teorias conspiratórias só distraem até que os médicos comecem a escolher quem, entre os necessitados, irão entubar. Até que morra a avó de um amiguinho dos nossos filhos. Até que o colega de trabalho safenado fique entre a vida e a morte numa UTI. 

O momento não é de pânico, mas de cuidado e responsabilidade. E união e solidariedade. 

Essa mensagem é também um agradecimento pela preocupação e carinho que tenho recebido nos últimos dias. Muito obrigada, aqueceu meu coração nesse inverno que ainda persiste por aqui. Mas estamos todos diante o mesmo desafio, meus caros, é preciso assumir esse compromisso. 

Há um mês a China era longe, há três semanas a Lombardia também era. Quando começou a quarentena eu também me revezava, junto com outras mães e pais, nos grupos de WhatsApp, entre o desespero de ter que encaixar as crianças, de repente, nos compromissos dos dias úteis e os memes - como nós, os italianos também reagem com bom humor às adversidades. Hoje, em Roma, já não podemos ignorar que o mundo diminuiu e que hoje somos todos vizinhos. 

Desejo que meus conterrâneos não deem chance para a doença no calor de nossa terra. 
Cuidem-se. Uns dos outros. Fiquem firmes. Sairemos melhores dessa."

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Jogos de Tóquio 2020 - Política sem barreiras bane atletas e põe à prova o espírito olímpico

por Niko Bolontrin

Desde janeiro de 2019, o governo americano pressionava a Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) para punir a Rússia por um suposto esquema de massiva aplicação de estimulantes em atletas. Travis Tygart, chefe da Agência Anti-Doping dos Estados Unidos, criticou a leniência da instituição mundial e pediu sanções contra a Rússia.

Antes da virada do ano, veio a punição: exclusão do país de Olimpíadas e Mundiais durante quatro anos. Vale dizer, Jogos de Tóquio 2020 e de Inverno de Pequim 2022 e Copa do Catar 2022 e outros torneios oficiais de caráter mundial.

A Rússia pode recorrer, mas dificilmente conseguirá reverter uma decisão que parece conter altas suspeitas de componente político.

A FIFA ainda tenta resistir à decisão. A Rússia participará da Eurocopa 2020 (São Petersburgo é uma das sedes) porque a restrição não atinge torneios continentais e sim os mundiais. Mas, além disso, a entidade que rege o futebol pediu que a Wada esclareça e justifique a surpreendente inclusão da Copa do Catar no pacote de punição.

Os atletas russos que forem testados negativos em exames antidoping poderão competir sob bandeira neutra. Essa decisão evidencia o gatilho político da operação, que mais parece a vertente esportiva das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos. Para o primeiro-ministro Dmitry Medvedev, que não nega problemas localizados de doping na Rússia, a medida da Wada é "uma histeria crônica anti-Rússia".

Se persistir o afastamento, como tudo indica, Tóquio poderá ver alguns dos melhores atletas do ano competindo sem pátria, se estes optarem por essa condição. Apenas nos mundiais de atletismo e natação, por exemplo, russos ganharam neste ano oito ouros com a nova geração de atletas.

Punição genérica, alcançando milhares de competidores de um país - a imensa maioria jamais envolvida em doping -  era algo inédito até 2016 quando a mesma Rússia foi punida. A ato atual é um desdobramento requentado daquele. Normalmente, e isso já aconteceu com atletas dos Estados Unidos, China, Jamaica, Brasil e muitas outras nações, a condenação é individual. Apenas os competidores comprovadamente flagrados no uso de substâncias ilegais são afastados.

Ao decidir que a Rússia vai recorrer contra a Wada, o presidente Vladimir Putin usou o argumento da individualização injusta e caracterizou a generalização como política. Ainda lembrou que o Comitê Olímpico Russo não foi punido. "Se não há qualquer reclamação contra o comitê, então o país deve competir sob a sua própria bandeira. Isto está escrito na Carta Olímpica. Desta forma, a decisão da Wada viola a Carta. Temos todas as condições de apelar", declarou.

A Rússia vai, por enquanto, manter a preparação para os Jogos de Tóquio. Mesmo a participação sob bandeira neutra não está inteiramente garantida. Há na Wada quem seja contra essa possibilidade. Esses, ainda mais radicais, alegam que na Olimpíada de Inverno da Coréia do Sul atletas russos foram anunciados como tal na abertura e nas competições e havia centenas de bandeiras da Rússia nas arquibancadas em saudação às equipes. The Guardian lembrou que o país estava banido em Pyeongchang , em 2018, e mesmo assim mais de 100 atletas foram solenemente anunciados: “Ladies and gentlemen, the Olympic Athletes from Russia!”.

O jornal ironizou: "se anda como pato, se grasna como pato, então é pato". Ou seja, o hino não tocou, mas a Rússia estava na Coreia do Sul. E, embora sem alguns dos principais atletas, ganhou 2 ouros, 6 pratas e 9 bronzes.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Sambódromo - Não vale o que está escrito - Com virada de mesa, o palco do samba se esvazia...

Foto Riotur/Divulgação

E o samba virou a mesa. Esqueça as papeletas do júri, delete o evento da Praça da Apoteose quando em rede nacional a Liesa e a Riotur anunciam os vencedores dos desfiles do Grupo Especial das Escola de Samba do Rio de Janeiro, releve os closes que a Globo dá em rostos emocionados nas mesas de cada escola no suspense da apuração. 

Não vale o que está escrito. É fake.

Reunidos na Liesa, dirigentes da São Clemente, Paraíso do Tuiuti, Estácio, Grande Rio, União da Ilha, Salgueiro, Mocidade e Unidos da Tijuca jogam o regulamento para o alto e abrem alas para o favorecimento. Rebaixada no desfile, a Imperatriz Leopoldinense foi salva no tapetão. A decisão é tão incoerente que deixa de fora a outra escola rebaixada, a Império Serrano. Não que sua inclusão justificasse o absurdo.

Mangueira, Portela, Beija-Flor e Viradouro e Vila Isabel foram votos vencidos. E o presidente da Liga, Jorge Castanheira, entregou o cargo por não concordar com a mudança das regras.

Haverá outras reações à decisão. O Ministério Público cobrará um compromisso assumido pela Liesa, no qual se inclui o respeito às regras. Fala-se que até qualquer um da plateia poderá ir á justiça para pedir a devolução do valor do ingresso, já que pagou para assistir a uma competição que foi subvertida. A própria organização dos desfiles poderá sofrer mudanças.  Com o racha nas escolas, há quem levante a hipótese de criação de outra associação reunindo as escolas dissidentes. 

O Sambódromo continua atraindo uma multidão de apaixonados pelo samba  (nas arquibancadas, porque nos camarotes a música sertaneja e os Djs são dominantes) e milhares de turistas. Já o carnaval de rua, com o fenômeno dos blocos, é hoje um concorrente no quesito digamos "participativo", para quem quer ser folião e não apenas espectador. A qualidade dos sambas, com raras exceções, está comprometida pela "indústria" de produção de composições por encomenda. Os autores das escolas, a prata de casa, já não conseguem resistir a essa à "uberização". Não por acaso, o desfile não tem produzido os novos clássicos, aquele samba que o povo consagra.

Talvez a crise impulsione mudanças que o desfile das escolas de samba parece exigir. 


segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Repórter não gosta de ser flagrado na intimidade profissional...


Durante coletiva-relâmpago de Bolsonaro sobre Brumadinho, o repórter Nilson Klava, da Globo News foi flagrado em um "momento íntimo" profissional. Foi enquadrado na tela enquanto anotava frases no celular. Ele tenta obstruir a câmera com um gesto e tira os fones do ouvido. Não gostou, teve um pequeno surto.
A cena foi observada nas redes sociais e reproduzida no site TV e Famosos, do UOL. AQUI. 

Algumas reações da rede social que tudo vê: