por Niko Bolontrin
Se você estiver vendo os jogos das Eliminatórias da Eurocopa e, ao mesmo tempo, conferindo os amistosos entre seleções sul-americanas, terá muito a observar e comparar.
Conforme-se, um antigo trio de excelência do futebol - Brasil, Argentina e Uruguai - caiu para a Segundona mundial, ao lado das demais seleções do continente.
O futebol sul-americano ainda produz craques, mas os envia cedo para a Europa. Os times europeus se valorizaram tremendamente, principalmente nas duas últimas décadas, e construíram uma potência financeira. E os milhões de euros resultaram em poder político. A UEFA, hoje, desafia a Fifa. Com o apoio da entidade, redesenhou o calendário. As chamadas "datas Fifa", que eram a oportunidade para os sul-americanos enfrentarem em amistosos as melhores seleções da Europa foram ocupadas por torneios fechados do Velho Continente. Atualmente, além dos jogos classificatórios e da Eurocopa em si, foi criada a Liga das Nações, que preenche as datas que sobraram. Em consequência, uma seleção com a do Brasil tem que se contentar em enfrentar adversários menos qualificados. O mesmo vale para Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia etc.
Seleções europeias ganharam as últimas quatro Copas do Mundo, uma sequência que jamais aconteceu desde o primeiro mundial em 1930. Aliás, apenas uma vez eles ganharam duas Copas seguidas. Foi com a Itália em 34 e 38. Depois disso, Uruguai, Brasil e Argentina sempre interromperam o domínio, até 2002, ultimo ano em que uma seleção sul-americana venceu um mundial. No caso, o Brasil.
A transferência para a Europa de craques formados e, cada vez mais, promessas de craques, também afeta a qualidade do futebol sul-americano, especialmente nas suas características individuais, o drible, o improviso, a criatividade. Ao trabalhar com os jovens que recebem nos times, como Vinicius, Jesus, Paquetá e outros, os treinadores europeus costumam falar que a primeira etapa, antes que garantam vagas de titulares, é a "adaptação". Essa reciclagem nada mais é do que encaixá-los no atual padrão do futebol dominante, que reduz, ou inibe, as opções por jogadas individuais. Isso fica claro no estilo dos nossos "estrangeiros" quando atuam na seleção brasileira. Quer um simples exemplo? Jogador em condição de finalizar prefere, não raro, transformar a última bola em mais um passe, às vezes para um companheiro em posição menos favorável para um chute a gol. Aconteceu mais de uma vez no recente Brasil 2X2 Colômbia. Passes laterais e em profundidade, tempo de posse de bola e marcação alta são fundamentos do novo futebol em detrimento da maioria das iniciativas individuais. Um Maradona que hoje pegasse a bola e corresse por 55 metros driblando adversários em fila irritaria treinadores. Pelo menos, até que se surpreendessem com a bola dentro do gol.
As seleções sul-americanas estão aos poucos abrindo mão dos seus estilos sem, ao contrário do que os teóricos do futebol esperavam, assimilar o jogo europeu, até por, evidente, falta de tempo para treinar.
Um tempo que, segundo os poderes da Fifa e da UEFA e as restriçoes do novo calendário, não mais terão.
Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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terça-feira, 10 de setembro de 2019
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
Livro revela bastidores da Abril - Da era de ouro à implosão editorial
O jornalista Adriano Silva, que trabalhou na Exame e dirigiu as revistas Superinteressante e Mundo Estranho, lança o livro "A república dos editores" que conta a trajetória da Abril no que ele define como a década de ouro, os anos 2000. Curiosamente, a era em que a Abril viveu o auge também engloba, a partir de 2013, o período em que começou a perfilhar a decadência. Em 2001, a editora tinha quase 14 mil funcionários; pouco mais de dez anos depois esse número caiu para menos de quatro mil.
O livro de Adriano Silva é a soma das suas memórias pessoais com os êxitos, as mudanças, as indefinições e perplexidades diante da internet e dos meios digitais, as "reestruturações" e turbulências que podaram a editora da árvore verde e pulverizaram milhares de empregos.
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
E o futebol voltou pra casa...
por Niko Bolontrin
2018 é ano pra esquecer. O futebol brasileiro mais uma vez deu vexame em uma Copa do Mundo. E, antes da virada para 2019, Palmeiras e Grêmio desabam diante do Boca e do River.
E olha que o futebol argentino também está em crise e fez ridícula participação em Moscou.
Difícil ver o fim do túnel. Assim como favorece a transferência de recursos dos países pobres ou em desenvolvimento para as potências desenvolvidas, a globalização transformou os antigos centros do futebol - Brasil, Uruguai e Argentina são os exemplos mais evidentes - em meros fornecedores de mão de obra para a Europa, Inglaterra e, agora, China. Três obstáculos são praticamente intransponíveis: a moeda forte, que faz com que os clubes da América do Sul não possam segurar seus jovens valores, a hegemonia da Europa nas decisões da Fifa e o crescente influência da UEFA. Como exemplo, a decisão de promover a Liga das Nações, um torneio que ocupa as chamadas datas Fifa de amistosos e praticamente impede o confronto de seleções europeias com as sul-americanas. O resultado é, como se viu nessa temporada pós-Copa, o baixo nível dos adversários de Brasil e Argentina na retomada da preparação das suas seleções. Só conseguiram, com exceção do jogo entre si, amistosos pé-rapado enquanto as seleções europeias marcaram disputas de alto nível. E eles ainda dispõem da Eurocopa, que já rivaliza em importância - e até supera em nível técnico - com a própria Copa do Mundo.
O império romano espalhou em três continentes arenas para torneios de gladiadores. Era o "esporte" de massa da época. A grandes maioria dos lutadores era recrutada entre a população das regiões dominadas por Roma. Escravos, prisioneiros e soldados inimigos que demonstravam habilidades marciais eram importados dos territórios onde hoje estão a Turquia, Espanha, Alemanha, França, Romênia, Hungria, Síria, Marrocos etc e incorporados aos "times" formados por "empresários" para distrair multidões e movimentar um rico mercado de apostas.
Com as óbvias adaptações civilizatórias, o êxodo dos boleiros não é compulsório, mas digamos que o euro substituiu as correntes como o apelo irresistível para a garotada sul-americana.
João Saldanha dizia que o fim dos campos de pelada de subúrbios e várzeas, dizimados pela urbanização, e a decadência do futebol de praia inibiam a formação de futuros craques de futebol. Hoje, empresários de olho na revenda financiam as "escolinhas" independentes ou vinculadas às divisões de base dos clubes. Mas o claro objetivo dessa estrutura não é levar qualidade aos clubes brasileiros, mas apenas preparar o produto para exportação. Só que transformar o futebol brasileiro e sul-americano em entreposto comercial pode levar ao desinteresse e, em médio prazo, talvez nem tantos jovens procurem as escolinhas.
Craques sul-americanos ainda são importantes para o futebol europeu, mas não tão absolutos. Basta dizer que na última Copa, onde Messi, Neymar e companhia não brilharam, o mundo vibrou com Mbappé, Modric, Griezmann, Lukaku, Pickford, Cheryshev... Além disso, o futebol que privilegia a posse de bola "tecnocrática" e a infindável troca de passes depende bem menos dos dribles geniais, da imprevisibilidade e da irreverência. Imagine alguém com o DNA de um Garrincha chegando hoje para fazer um teste em um clube europeu. Pense em um jogador que se planta diante do seu marcador e passa alguns segundos balançando o corpo e se divertindo com um adversário que se transforma em pêndulo antes de ser ultrapassado pela direita. Sou capaz de apostar que o teste acaba ali.
Tudo isso junto explica porque o Brasil e a Argentina estão hoje na segundona ou terceirona do futebol mundial.
Em 1996, quando sediou a Eurocopa, a Inglaterra, que inventou o jogo, criou um slogan genial: "o futebol está voltando pra casa"
Vinte e dois anos depois, a frase virou profecia.
2018 é ano pra esquecer. O futebol brasileiro mais uma vez deu vexame em uma Copa do Mundo. E, antes da virada para 2019, Palmeiras e Grêmio desabam diante do Boca e do River.
E olha que o futebol argentino também está em crise e fez ridícula participação em Moscou.
Difícil ver o fim do túnel. Assim como favorece a transferência de recursos dos países pobres ou em desenvolvimento para as potências desenvolvidas, a globalização transformou os antigos centros do futebol - Brasil, Uruguai e Argentina são os exemplos mais evidentes - em meros fornecedores de mão de obra para a Europa, Inglaterra e, agora, China. Três obstáculos são praticamente intransponíveis: a moeda forte, que faz com que os clubes da América do Sul não possam segurar seus jovens valores, a hegemonia da Europa nas decisões da Fifa e o crescente influência da UEFA. Como exemplo, a decisão de promover a Liga das Nações, um torneio que ocupa as chamadas datas Fifa de amistosos e praticamente impede o confronto de seleções europeias com as sul-americanas. O resultado é, como se viu nessa temporada pós-Copa, o baixo nível dos adversários de Brasil e Argentina na retomada da preparação das suas seleções. Só conseguiram, com exceção do jogo entre si, amistosos pé-rapado enquanto as seleções europeias marcaram disputas de alto nível. E eles ainda dispõem da Eurocopa, que já rivaliza em importância - e até supera em nível técnico - com a própria Copa do Mundo.
O império romano espalhou em três continentes arenas para torneios de gladiadores. Era o "esporte" de massa da época. A grandes maioria dos lutadores era recrutada entre a população das regiões dominadas por Roma. Escravos, prisioneiros e soldados inimigos que demonstravam habilidades marciais eram importados dos territórios onde hoje estão a Turquia, Espanha, Alemanha, França, Romênia, Hungria, Síria, Marrocos etc e incorporados aos "times" formados por "empresários" para distrair multidões e movimentar um rico mercado de apostas.
Com as óbvias adaptações civilizatórias, o êxodo dos boleiros não é compulsório, mas digamos que o euro substituiu as correntes como o apelo irresistível para a garotada sul-americana.
João Saldanha dizia que o fim dos campos de pelada de subúrbios e várzeas, dizimados pela urbanização, e a decadência do futebol de praia inibiam a formação de futuros craques de futebol. Hoje, empresários de olho na revenda financiam as "escolinhas" independentes ou vinculadas às divisões de base dos clubes. Mas o claro objetivo dessa estrutura não é levar qualidade aos clubes brasileiros, mas apenas preparar o produto para exportação. Só que transformar o futebol brasileiro e sul-americano em entreposto comercial pode levar ao desinteresse e, em médio prazo, talvez nem tantos jovens procurem as escolinhas.
Craques sul-americanos ainda são importantes para o futebol europeu, mas não tão absolutos. Basta dizer que na última Copa, onde Messi, Neymar e companhia não brilharam, o mundo vibrou com Mbappé, Modric, Griezmann, Lukaku, Pickford, Cheryshev... Além disso, o futebol que privilegia a posse de bola "tecnocrática" e a infindável troca de passes depende bem menos dos dribles geniais, da imprevisibilidade e da irreverência. Imagine alguém com o DNA de um Garrincha chegando hoje para fazer um teste em um clube europeu. Pense em um jogador que se planta diante do seu marcador e passa alguns segundos balançando o corpo e se divertindo com um adversário que se transforma em pêndulo antes de ser ultrapassado pela direita. Sou capaz de apostar que o teste acaba ali.
Tudo isso junto explica porque o Brasil e a Argentina estão hoje na segundona ou terceirona do futebol mundial.
Em 1996, quando sediou a Eurocopa, a Inglaterra, que inventou o jogo, criou um slogan genial: "o futebol está voltando pra casa"
Vinte e dois anos depois, a frase virou profecia.
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
Grupo Abril pede recuperação judicial
O Grupo Abril, não apenas a Editora, já formaliza no sistema eletrônico da Justiça, em São Paulo, um pedido de recuperação judicial. A dívida declarada, que o grupo pretende negociar caso a medida seja aprovada, é de 1,6 bilhão de reais. Em declaração à Exame, o atual presidente, Marcos Haaland, afirma que há outras dívidas que ficam fora da Recuperação Judicial porque têm garantias específicas, com alienação fiduciária.
A lei permite que durante 180 dias a empresa não seja executada, prazo em que negocia com os credores. Desde 2013, a Abril promove sucessivas ondas de demissões de jornalistas, além de funcionários de outros setores, e encerra títulos tradicionais.
A lei permite que durante 180 dias a empresa não seja executada, prazo em que negocia com os credores. Desde 2013, a Abril promove sucessivas ondas de demissões de jornalistas, além de funcionários de outros setores, e encerra títulos tradicionais.
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