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terça-feira, 4 de abril de 2023

Um encontro entre Kafka, Proust e Joyce, mestres do mesmo tempo

Recuperando-se de uma fratura no fêmur, Roberto Muggiati - a quem Alberto, na Manchete, apelidava de Muggi das Crises -  volta ao blog através de uma matéria publicada no Estadão no dia 18 de março de 2023. 

A mobilidade ainda comprometida não o impediu de levar a flanar em Paris Marcel Proust, James Joyce e Franz Kafka. "Gosto de elaborar encontros hipotéticos entre os três", diz Muggiati. Leia a seguir. 



Na ocasião dos centenários de suas vidas e obras, uma 
discussão sobre a relação entre grandes autores do século 20


por Roberto Muggiati (para o jornal Estado de São Paulo)


O francês Marcel Proust (1871-1922), o irlandês James

Joyce (1882-1941) e o checo Franz Kafka (1883-1924) foram

indiscutivelmente os maiores romancistas do século 20.

Morreram jovens, respectivamente aos 51, 58 e 40 anos.

Proust - filho de um médico francês, cuja mãe, Jeanne Weill,

tinha origem judaica - notabilizou-se com a saga Em Busca do

Tempo Perdido, uma das mais brilhantes investigações sobre

os mecanismos da memória afetiva. Joyce evoluiu das

primeiras obras em estilo realista para dois impressionantes

monumentos da técnica narrativa: Ulysses, com seu complexo

arcabouço estrutural, e Finnegans Wake, magistral

desconstrução da linguagem ficcional. E Kafka, judeu-checo

que escrevia em alemão (era súdito do Império Austro-

Húngaro), com suas fábulas e parábolas sombrias, cortou

fundo a fachada social para expor o absurdo do mundo.

Gosto de elaborar encontros hipotéticos entre os três.

Tecnicamente - pelo menos dois a dois -, Proust, Joyce e Kafka

poderiam ter cruzado caminhos. As hipóteses viajam da Trieste

austro-húngara de 1908 à Paris da belle époque em 1910 e à

Paris dos années folles de 1922. Em outubro de 1910, 

aos 27 anos, Kafka passou poucos dias em Paris, com os irmãos Max

e Otto Brod. Fez o que todo visitante faz: caminhou pela

cidade. Mas suas flâneries foram bruscamente interrompidas

por uma violenta crise de furunculose. Além do mais, Proust

preferia se deslocar de coche, sem se acotovelar com a

patuleia. Kafka, funcionário burocrata do ramo de seguros,

ainda não se revelara escritor, enquanto Proust juntava

dinheiro para publicar, do próprio bolso, o primeiro volume de À

la Recherche du Temps Perdu, em 1913.

Entre novembro de 1907 e julho de 1908, Kafka foi empregado

da companhia de seguros Assicurazione Generali, de Trieste.

Teria visitado pelo menos uma vez a cidade, onde James

Joyce morou de 1905 até o começo da Primeira Guerra, em

1914. Mas um encontro entre Kafka e Joyce ali não passaria de

uma fortuita proximidade anônima na rua ou num café -

existem menções de que Kafka adorava o Caffé degli Specchi -

o Café dos Espelhos, frequentado por Joyce. Depois de morar

em Zurique durante a Primeira Guerra, Joyce mudou-se com a

família para Paris, a partir de julho de 1920. Não só um

encontro com Proust era tecnicamente viável, como ocorreu e

fez história. Proust e Joyce no Hotel Majestic: um encontro

desastroso. Apoiei-me em informações selecionadas dos

livros Uma Noite no Majestic e Um por Um - 101 Encontros

Extraordinários, respectivamente dos ingleses Richard

Davenport-Hines e Craig Brown, lançados no Brasil em 2006 e

2014.

Anotou o poeta americano William Carlos Williams, que

também era médico: 

- "Joyce: 'Tive dor de cabeça o dia inteiro. Meus olhos estão terríveis';

- "Proust: 'Ai, como dói meu estômago. Está me matando. Preciso partir imediatamente'; 

- "Joyce: 'Estou na mesma situação. Alguém pode me dar o

braço?'".

A partir de então, durante horas, os dois discutem suas

várias doenças. A noite termina com Proust convidando os

Schiff para o seu apartamento e Joyce se esgueirando no táxi

também. O irlandês começa a fumar e abre a janela, causando

um chilique em Proust, um asmático que detesta o ar fresco.

Na breve corrida, Proust fala sem parar, mas não se dirige a

Joyce. Quando os quatro descem a Rua Hamelin, Joyce tenta

juntar-se ao grupo, mas Proust faz de tudo para se livrar dele:

- Deixe meu táxi levá-lo para casa!", insiste, e desaparece com

Violet Schiff, delegando a Sydney a missão de enfiar Joyce no

táxi. Finalmente livres da companhia de Joyce, Proust e os

Schiff bebem champanhe e conversam alegremente até o dia

raiar"

Estas e outras especulações sobre a vida pessoal dos três

escritores vêm rolando por algum tempo, do centenário do

lançamento de Ulysses (fevereiro de 2022), ao centenário da

morte de Proust (novembro do ano passado), passando pelos

140 anos de nascimento de Kafka em julho de 2023, e pelo

centenário da sua morte em 2024; pelos 110 anos de Em

Busca do Tempo Perdido, e ainda - haja comemoração! - pelos

120 anos do Bloomsday, em 16 de junho de 2024.

terça-feira, 3 de maio de 2022

O primeiro muguet de maio • Por Roberto Muggiati

Vendedoras de muguet de 1° de maio. Paris, virada dos anos 1950/1960. Place Victor Basch. Foto de Izis, fotógrafo francês (1911-1980). Divulgação/ArtNet


São coisas que a gente só aprende em Paris. No dia 1º de maio é costume usar na lapela um buquezinho de muguet (lírio-do-vale). Em 1961, o feriado caiu numa segunda-feira, no começo da tarde eu caminhava pelos Champs Élysées abarrotados com minha primeira namorada francesa, Jacqueline, uma gracinha, Vários quiosques e ambulantes vendiam a florzinha, Jacqueline comprou uma e espetou na minha lapela. Conheci a moça uma semana antes, no lançamento do romance American Express do poeta beat americano Gregory Corso. O editor Maurice Girodias, da Olympia Press – o homem que publicou Lolita do Nabokov – levou os remanescentes do fim de festa em dois táxis para cearem no La Coupole, em Montparnasse. Jaqueline e eu saímos de lá de mãos dadas. Foi uma noite de lançamento de romance duplo...

No 1º de maio, eu subia o Champs com a amada na mão e uma ideia na cabeça. Perto da Étoile ficava o palacete de Paulo Berredo Carneiro, embaixador do Brasil na Unesco. Sua mulher se recusava a deixar o Brasil, Paulo se dava bem na sua solteirice em Paris. Seu sobrinho, Octávio Carneiro Lins, meu melhor amigo, morava com ele. Eu tinha livre acesso à mansão do 19 rue Auguste Vacquerie, sempre com a porta literalmente aberta, nem chave tinha. Aquele salon era para mim o Du Côté de chez Carneirô. Adentrei o palacete com Jacqueline – a francesinha ficou impressionada – não havia ninguém por lá, logo nos pusemos à vontade, deitamos e rolamos nos sofás do salão neorrococó. 

Conhecedor profundo da alma humana, Paulo sabia muito bem os usos galantes que sua entourage fazia de sua casa, até mesmo os estimulava.  Por isso – elegante como só ele – costumava chegar sempre assobiando bem alto para alertar os eventuais transgressores. Foi o tempo justo para que Jacqueline e eu nos recompuséssemos e cumprimentássemos o embaixador, que apenas sorriu de leve. A minha “primeira vez”, em Curitiba, dez anos antes, fora marcada pelo cheiro acre dos maços de arruda que a polaca tosca tinha na sua mesinha de cabeceira. Agora, em Paris, Veni, vidi, vici: da minha primeira vez com uma francesa, ficou para sempre o suave aroma do muguet. 


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Afogados do Sena: o massacre de 17 de outubro de 1961 • Por Roberto Muggiati

1961: manifestantes argelinos presos em Paris. Foto de Fernando Parizot/AFP
que você pode ver neste link


"Aqui afogamos os argelinos". Foto L'Humanite/Keystone que você pode ver neste link

Hemingway disse: “Se você teve a sorte de morar em Paris quando jovem, aonde quer que vá, a cidade o acompanhará pelo resto da vida.” Tinha razão: a memória do ano e meio que vivi em Paris, há sessenta anos, ainda dorme toda noite e acorda todo dia comigo. 

Paris guardava cicatrizes de muitas lutas de muitas épocas em seus mais diversos quartiers. Da Revolução, da Comuna, da Ocupação nazista. Quando ia toda noite a pé do metrô de Luxembourg até a Cinémathèque na rue d’Ulm, me deparava com uma cabeça enfiada na ponta de lança de uma grade de ferro – uma cópia em argila da cabeça original, humana, decepada pela guilhotina na época da Bastilha. Prédios e paredes na rive gauche ostentavam furos de balas dos tiroteios da Segunda Guerra, quando os alemães foram rechaçados de Paris, episódio descrito no filme Paris está em chamas? Em abril de 1961, morando na Île de la Cité, vivi na pele o malogrado putsch dos generais da Argélia, quando quatro cinco estrelas de pijama ameaçaram não só tomar conta do poder na colônia – onde os gaullistas já negociavam a libertação da Argélia – mas invadir aeroportos estratégicos da França com paraquedistas, ameaça que foi detectada pelo serviço de inteligência do primeiro ministro Debré. Em 22 de abril, todos os voos e decolagens foram proibidos em aeroportos parisienses e o exército foi mobilizado para resistir ao golpe. No dia seguinte, o presidente Charles De Gaulle fez um famoso discurso na televisão, vestindo seu uniforme vintage de general dos anos 1940, conclamando o povo francês a apoiá-lo. Na noite de 24 de abril, voltando para meu hotel do lançamento do livro American Express, do poeta beat Gregory Corso, encontrei todas as pontes que levavam à ilha bloqueadas por fileiras de velhos ônibus e centenas de gendarmes – com suas casquettes e pélerines –fazendo a triagem de cada passante: “Vos papiers, s’il vous plaît?”

Felizmente, naqueles tempos difíceis, eu andava sempre com o passaporte e a Carte de Séjour de bolsista. O putsch dos generais fracassou, mas a conspiração da direita seguiu firme (lembram o filme O dia do chacal, que mostra a tentativa de assassinato de De Gaulle?).  O episódio mais chocante de toda aquela época foi a morte de 200 argelinos na mais violenta repressão de uma manifestação pacífica depois da Segunda Guerra. Operários argelinos vieram desarmados em marcha da periferia para o centro de Paris protestar contra o toque de recolher, que só atingia os “franceses muçulmanos da Argélia”. O ataque violento dos policiais foi ordenado pelo Préfet de Police Maurice Papon, responsável pela deportação dos judeus de Bordeaux durante a guerra. Pelo menos duas centenas de argelinos morreram e muitos corpos foram jogados no rio Sena. Numa das pontes os assassinos ainda rabiscaram acintosamente: “ICI ON NOIE LES ARGELIENS”, “aqui afogamos os argelinos”.

O massacre praticamente não foi noticiado pela imprensa, foi totalmente censurado, os arquivos oficiais trancados para os historiadores. Naquele dia eu estava a quase mil quilômetros de Paris, paquerando uma italianinha que tinha saído de um curso de inglês diante do túmulo de Dante Alighieri em Ravena, o grande poeta morreu no exílio longe da sua amada Florença. Só fiquei sabendo do episódio sangrento muito tempo depois.

De volta a Paris em novembro, depois do meu Grand Tour de dois meses pela Itália, encontrei a cidade visivelmente mais tensa. Até o fim do ano, houve uma escalada de explosões por Paris inteira, mas o movimento anticolonialista, liderado pela Frente de Libertação Nacional (FLN) seguiu em frente e a independência da Argélia foi assinada entre o governo francês e o governo provisório da República Argelina nos Acordos de Évian, em 18 de março de 1962. A esta altura, eu estava de volta a Curitiba, não posso dizer seguro e tranquilo, o horizonte brasileiro já estava carregado com as nuvens negras do golpe militar iminente. Apesar de tudo, consegui fazer de Paris uma festa só para mim, mas jamais esqueci os momentos sombrios da cidade aterrorizada de 1961.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Franceses protestam contra o bárbaro assassinato do professor Samuel Paty. Liberdade de expressão acima de tudo...

Manifestação na Place de la République., Paris Foto: Reprodução TV France 2

Os franceses foram às ruas homenagear Samuel Paty. O professor foi degolado por um fanático religioso. O motivo do ato bárbaro: durante uma aula em que falava sobre liberdade de expressão, ele exibiu caricaturas de Maomé. Era uma referência ao mesmo motivo pelos quais terroristas islâmicos, incentivados por líderes religiosos radicais, assassinaram dezenas de pessoas na redação do jornal Charlie Hebdo e em atentados em vários locais de Paris. 

O Brasil parece distante dessa problemática. Mas nem tanto, guardada, por enquanto, as proporções, o alvo, a liberdade de expressão, é o mesmo. Por motivos religiosos, terroristas atacaram a bomba a sede da produtora Porta dos Fundos. Por fanatismo, evangélicos intolerantes ameaçam e depredam com frequência terreiros de candomblé e umbanda. Por não tolerar a liberdade de expressão, uma associação católica processa o mesmo grupo de humoristas e pede uma grana preta na Justiça, alegando que ironizaram a bíblia. E pastores da igreja Universal deflagram centenas de processos contra o escritor J.P. Cuenca. 

O professor francês foi assassinado por levar aos seus alunos um pilar constitucional da França: a liberdade de expressão, o mesmo direito que está gravado na Constituição brasileira. Direito que ora juízes, ora radicais e ora terroristas assumidos tentam torpedear na frágil democracia brasileira. Aqui, a maré da intolerância sobe sem obstáculos. Na França, o povo protesta contra o assassinato de Paty e o governo anuncia providências: a expulsão do país de religiosos radicais que incitam seguidores a usarem o livro "sagrado", sem dispensar facas, fuzis e bombas. O presidente Emmanuel Macron, que pretende expandir uma frente de combate ao terrorismo, recebeu a família do professor e lideranças islâmicas que se opõem aos radicais. 

Parodiando a frase do poeta inglês John Donne imortalizada por Ernest Hemingway no livro "Por quem os sinos dobram": não pergunte por quem os franceses protestam. Eles protestam por ti.

terça-feira, 17 de março de 2020

1960, na Paris do Acossado • Por Roberto Muggiati

Exclusivo para o Panis Cum Ovum 

Eu estava lá. Tinha 23 anos, quatro a menos que Michel Poiccard, um a mais que Patricia Franchini. Cheguei a Paris numa sexta-feira de outubro de 1960, as árvores queimando em tons amarelo, laranja, vermelho, ferrugem. Joguei as malas na Maison du Brésil e fui correndo a um concerto de jazz com Bud Powell.

No Acossado, Godard não faz um comentário político ou social sequer – coisa que faria obsessivamente nos filmes seguintes. Apenas uma piadinha cínica: quando quer levar Patricia para a cama, Michel alega que seria em nome da maior aproximação franco-americana, Naquele momento o Presidente Eisenhower visita Paris e Godard sacaneia o espectador com cenas do desfile captadas por entre as arvores: justo quando o carro presidencial embica na tela. uma árvore oculta a visão de Eisenhower e De Gaulle...

Na primavera de 61, outro presidente americano desfilava pelos Champs Élysées, os franceses se orgulhavam da ascendência de Jacqueline Bouvier Kennedy. Mas, um mês antes, JFK sujara sua biografia com a desastrada invasão da Baía dos Porcos em Cuba. Num café de calçada em Saint Germain, lembro a indignação do amigo Gregory Corso, o poeta beat.

Place Dauphine
Troquei a periférica Cité Universitaire pelo centro histórico de Paris, a Île de la Cité. Morava no 29, Place Dauphine – que o jornalista Jacques Lanzmann chamou “A Vagina de Paris” – numa mansarda do City Hôtel, onde o “Pai do Surrealismo” André Breton se acoitou nos anos 1920. Estudava no Centre de Formation des Journalistes, no 29, rue du Louvre, ia a pé, atravessava toda noite o fabuloso mercado Les Halles, que Zola chamou “O Ventre de Paris” (completando as metáforas fisiológicas da cidade: a Place de la Concorde, exaltada por Michel Poiccard em Acossado, é “O Umbigo de Paris”, lá o cutelo da guilhotina teve seu dia de glória na Revolução Francesa. Toda vez que passava pelos Champs Élysées, comprava o New York Herald Tribune, na esperança vã de que a vendeuse fosse Patricia Franchini, sem sutiã debaixo da camiseta amarela – Michel Poiccard aponta isso, com um dedo lascivo,  no Acossado.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Paris 2024: os Jogos Olímpicos apresentam seu símbolo


O Comitê Organizador dos Jogos Olimpicos e Paralímpicos de 2024, em Paris, apresentou sua marca-símbolo. O design oferece várias leituras: a chama, o ouro da medalha, e o rosto de uma mulher, Marianne, que representa a República e os valores franceses de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
O logotipo incorpora mais uma homenagem: a tipologia utilizada remete às placas de estações de metrô, como a Abesses, em Montmartre, em estilo art nouveau, que viveu seu auge entre 1905 e 1911. Trata-se de uma referência às estações que estavam em funcionamento durante a última Olimpiada de Verão que Paris sediou, a de 1924.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Parque suspenso homenageará Marielle Franco em Paris

Simulação do Jardim Marielle Franco em Paris. Reprodução RFI (link abaixo)

A notícia está no br.rfi (site da Rádio França Internacional). Um jardim público no topo de um hotel em construção ao lado da Gare de l'Est será a homenagem que a prefeitura de Paris fará a Marielle Franco, a vereadora assassinada pela milícia no Rio de Janeiro.

O espaço deverá ser inaugurado ainda este ano e fica na região central da cidade. Marielle Franco foi morta junto com o motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018.

Quanto ao governo do do Estado do Rio de Janeiro, a prefeitura da cidade ou mesmo o governo federal brasileiro, não há qualquer previsão de homenagem semelhante em espaço público.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Em Paris: exposição "Povos da Floresta" reúne fotos de J.L.Bulcão



(do Facebook de J.L.Bulcão)

"Chico Mendes e Frans Krajcberg já não estão mais entre nós. Porém suas idéias pelo direito dos povos da Amazônia e preservação da natureza resistem e são temas cotidianos. Assim sendo, convido a todos que estiverem em Paris a visitarem a minha exposição "POVOS DA FLORESTA" em lembrança dos 30 anos do assassinato de Chico Mendes. O lugar da exposição não poderia ser mais significativo, visto que o Espace Krajcberg é um centro cultural de resistência ecológica. CONFERÊNCIAS + PROJEÇÕES + ATELIERS são organizados pelo Centre Culturel du Brésil, com apoio do Espace Krajcberg e contando ainda com a parceria dos amigos da GUAYAPI, NOSSA!, AUTRES BRÉSILS, MULHERES DO BRASIL e FORNO DE MINAS ! 
Conto com a presença de todos! Compartilhem entre seus amigos!
Vernissage dia 29 de Novembro de 2018 entre 18 e 22hs"

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Hoje no Netflix: estréia de documentário sobre atentados em Paris

O Netflix lança hoje documentário em três episódios "13 de Novembro - Terror em Paris".
São histórias pessoais em torno dos ataques de terroristas islâmicos ao Bataclan, Stade de France e outros locais da  capital francesa em 2015.

domingo, 16 de julho de 2017

CINEMA: “Sempre teremos Paris”


"Perdidos em Paris": Emanuelle Riva na Torre Eiffel entre os atores-diretores Dominique Abel e Fiona Gordon.

por Roberto Muggiati

Uma curiosa coincidência – ou nem chega a ser tanta coincidência assim: estão no momento em cartaz no Rio três filmes com Paris no nome: Perdidos em Paris, Paris pode esperar e Amor, Paris e cinema. (A cidade aparece ainda em Frantz, À sombra de duas mulheres e Monsieur & Madame Adelman.)


Não vou me meter a fazer um catálogo sobre a presença de Paris no cinema. Lembro, apenas, que os primeiros filmes do inventor da – vá lá... – “sétima arte”, os documentários de Louis Lumière, foram rodados em Paris.

E cito poucos outros punti luminosi, para usar uma expressão grata ao nosso Carlos Heitor Cony: o flashback romântico regado a champanhe e ao som de As Time Goes By em Casablanca; o maravilhoso musical Sinfonia em Paris; o melodrama da MGM A última vez que vi Paris; o hino da Nouvelle Vague Paris Nous Appartient; o emblemático-problemático O último tango em Paris; e o mais recente “queridinho” Meia-Noite em Paris, de Woody Allen, que já homenageou a cidade em outros filmes.

E não vai parar por aí, podem ter certeza.

Sempre teremos Paris – em nossas telas, pelo menos.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Um domingo em Paris com o irmão da Isadora


por Roberto Muggiati

Aproveito o espaço amigo do Panis para continuar meu projeto de memórias em retalhos (ou aos borbotões), enquanto não baixa a amnésia ou não chega o temível Alemão.

Remexendo em velhos papéis, encontrei um ingresso de uma versão teatral de Don Quixote que assisti em Paris no final de 1961. Foi na Akademia Raymond Duncan, na rue de Seine, e o irmão de Isadora fez todos os papeis, até o de Rocinante. Paris então era uma aldeia e Raymond, aos 87 anos – com as vestes da Grécia clássica que passou a usar a partir dos vinte anos – era uma figura folclórica nas ruas de Saint-Germain.

Um pouco da sua história: nasceu em San Francisco em 1874, filho de um banqueiro e da filha de um senador, o terceiro de quatro irmãos. Isadora era a caçula, já bailarina notável na adolescência. Embora ambos fossem voltados para a natureza, Raymond se fixou no passado helênico, enquanto Isadora injetou a modernidade no mundo da dança. Sua morte trágica, aos 50 anos, estrangulada pela écharpe que ficou presa a uma roda do carro conversível em que viajava, ajudou a ampliar a lenda.

Raymond Duncan na Akademia

Raymond casou com uma grega, Penélope Sikelianos, e passou a viver em pleno estilo da Grécia clássica: além das togas e sandálias, sua casa nos arredores de Atenas vivia num ar de antiguidade. Ele mesmo a mobiliou, com suas habilidades de carpinteiro, ceramista e tecelão.

Duncan com Penélope e Menalkas.
Foto Akademia
Raymond voltou brevemente aos Estados Unidos no começo do século com Penélope; os dois passaram uma temporada no noroeste do Pacífico com os índios da tribo Klamath. Quando visitavam Nova York, em 1910, seu filho Menalkas, vestindo roupas gregas, foi detido na rua e recolhido pelo juizado de menores. No ano seguinte, o casal voltou a Paris e fundou uma escola, a Akademia, no 31 rue de Seine, oferecendo aulas grátis baseadas na ideia da academia platônica – “uma casa aberta para cada novo esforço no teatro, na literatura, na música e nas artes plásticas”. O objetivo maior de Raymond Duncan era “uma completa técnica do viver”. Na Akademia ele mantinha também uma gráfica, onde imprimia seus livros e jornais, numa tipologia criada por ele mesmo. Esta gráfica foi focalizada em 1955, num documentário de Orson Welles, A volta ao mundo com Orson Welles: Saint-Germain-des-Près. 

Raymond Duncan morreria em 1966 em Cavalaire-sur-Mer, na França, aos 91 anos. A Akademia continuou ativa até os anos 1970, graças ao trabalho da sua segunda mulher.

Fui à sua performance quixotesca numa tarde gélida de domingo, início de dezembro, com minha amiga Elizabeth Gallotti, que estudava teatro em Paris. Moderninhos, levamos a excentricidade de Raymond Duncan na chacota e rimos ao longo de todo o espetáculo.

Roberto Muggiati, Paris, novembro de 1961. Foto: Arquivo Pessoal
Estudante de jornalismo em Paris, eu me tornaria editor de revistas como Manchete, Fatos&Fotos e Veja. Elizabeth casou com um diplomata, se tornou a embaixatriz Vieira de Mello e depois foi Chefe do Cerimonial do governador Leonel Brizola, que chique, não? (Foi ela quem organizou a inesquecível cerimônia de posse de Murilo Melo Filho no PEN Club.).

Duncan, já idoso, e a sua segunda mulher: margem do Sena, Paris. 

Hoje, pensando melhor, não vejo nenhum ridículo em Raymond Duncan. Foi um homem excepcionalmente íntegro, um corajoso defensor de suas ideias, seguindo sua vida sem se importar com o mundo preconceituoso e repressor em que ainda vivemos.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Charlie Hebdo lança edição especial para lembrar atentado de janeiro de 2015.



A revista satírica Charlie Hebdo postou no Facebook a capa da edição especial que marca os dois anos do atentado, em Paris, que matou onze profissionais da redação, entre chargistas e jornalistas.

Foi no dia 7 de janeiro de 2015. Dois terroristas islâmicos invadiram a redação, gritaram que "vingavam o profeta" e fuzilaram a equipe. A Al-Qaeda, no Iémen, assumiu a autoria da chacina. Os dois terroristas foram mortos em operação policial e o cérebro do atentado foi morto no Iraque depois de deixar a A-Qaeda e ingressar no Daesh (o autodenominado Estado Islâmico).

A capa especial do Charlie Hebdo foi desenhada por Foolz, um dos chargistas da nova geração. A edição está nas bancas, a partir de hoje, em Paris. Na chamada:"2017, por fim, o fim do túnel".

Em editorial, a revista lança uma pergunta: "Dois anos mais tarde, como falar de 7 de janeiro de 2015? Ou melhor, como falar "de novo" de 7 de janeiro?".  O CH lembra que depois do ataque à redação outros atos terroristas fizeram a França e Europa sangrarem. A revista destaca que é longa a lista de crimes e quer evitar a impressão de que dá um tratamento especial ao atentado que sofreu. O trágico 7 de janeiro deixou lembranças dolorosas que se renovam cruelmente na sequência de atos terroristas, como o mais recente, em Istambul.

A equipe do Charlie Hebdo fazia uma reunião de pauta quando foi fuzilada.

A revista lembrou, ontem, que nessa semana fez a sua 1276ª reunião. Espera continuar. E bem.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Nos estádios de todo o mundo: Força Chape!







Em treinos, jogos, estádios e arquibancadas, o futebol presta homenagem à Chapecoense. As cenas comoventes se repetem em todos os países onde rola uma bola.
As imagens acima foram colhidas agora, no Parc des Prince, em Paris, antes do jogo ainda em andamento Paris Saint Germain X Angers.
Os times fizeram um minuto de silêncio enquanto os torcedores exibiam faixas e bandeiras solidárias. O Anger colou no uniforme o escudo da Chape.
O mundo do futebol pintou-se de verde.

domingo, 9 de outubro de 2016

Bike power em Paris: poder feminino sobre duas rodas.









Fotos J.Esmeraldo Gonçalves

Nas cidades brasileiras, desafiar o trânsito sobre bikes é prova de coragem. Tanto que, especialmente nas grandes capitais, bicicletas são usadas menos como meio de transporte do que como veículo de lazer na segurança das ciclovias.
Nesse item, a mudança de mentalidade enfrenta reações conservadoras daqueles que defendem o eterno privilégio para carros ou exercitam a patologia da má educação ou da incivilidade.
São Paulo é um exemplo: o prefeito eleito já demonstra publicamente incompreensão pela função das ciclovias. E já é conhecido, pois viralizou na internet, o vídeo em que coxinhas motorizados da Pauliceia agridem um ciclista, que lá são por eles considerados "indivíduos de alta periculosidade" social.
Em Paris, cidade que é dotada de um sistema metroviário de amplo alcance, mas, apesar disso, registra alguns engarramentos em várias e importantes avenidas, condutores de carros, ônibus e caminhões são bem mais amigáveis com ciclistas (e pedestres). Tanto que a bicicleta é um meio de transporte natural para muitas mulheres.
As fotos acima (com mais informação do que propriamente foco)  foram feitas em ruas e avenidas sem ciclovias.
As ciclistas disputavam espaço com carros, ônibus, máquinas e caminhões.
Nem por isso foram alvo de manobras agressivas ou viraram estatística de acidentes.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Madrugada com Odete Lara em Paris

á
Vinicius e Odete. Foto; Acervo Pessoal/Reprodução 
Por ROBERTO MUGGIATI
No dia 1º de julho de 1964, quarta-feira, um trio de amigos deixou Londres com a sacra missão de visitar Vinicius de Moraes em Paris: Fernando Sabino, adido cultural do Brasil em Londres; o jornalista Narceu de Almeida, ao volante do seu Morris Mini-Minor; e eu, radialista da BBC. Narceu e eu éramos meros coadjuvantes: o grande amigo de Vinicius era o Sabino. Num dia esplendoroso de verão, deixamos para trás a verdejante paisagem inglesa, atravessamos de ferry o Canal da Mancha e, por entre infindáveis campos de girassóis, chegamos a Paris. Não lembro como – sem celular – descobrimos o local exato onde encontrar o poetinha.
Embora já passasse das nove da noite, raios dourados de sol ainda banhavam a copa dos castanheiros. E lá estava outro trio, no La Feijoada, em seu primeiro endereço parisiense, num cais da Île de Saint Louis. Um trio bem mais carismático: Odete Lara, Baden Powell e Vinícius. Começou aí uma sucessão de quatro noites de loucas conversas regadas a uísque. Em outra ocasião, fomos beber num bar do qual Vinicius era praticamente sócio, Le Calvados. Mas a grande noite foi mesmo na sexta-feira, no apartamento do Poetinha. Um apartamento térreo num daqueles prédios típicos do seizième, nas cercanias do Champs-Elysées, quase sem decoração, embora Vinicius representasse o consulado do Brasil em Paris. Uma vez iniciados os trabalhos etílicos, sua mulher, Nelita – trinta anos mais moça, Vinicius estava com 51 – se recolheu para dormir. Ao longo da noite, toda vez que um marmanjo precisava ir ao banheiro, ele se via obrigado a passar literalmente por cima de Nelita, apagada na cama de casal que tomava todo o quarto. Muita conversa rolou – principalmente entre Vinicius e Sabino – passaram mais de duas horas discutindo Jayme Ovalle. Bebeu-se muito, também, confesso que quase nada lembro. Uma só imagem gravei fotograficamente: lá pelas cinco da manhã, com o sol já querendo se mostrar, pela janela do rez-de-chaussée aberta para a rua, entram duas fadas, Odete Lara e Mylène Demongeot. (Vinícius sempre se cercou de belas mulheres. Com Odete, aliás, gravou seu primeiro álbum como cantor, com músicas suas e de Baden. Foi o primeiro LP do selo Elenco – ouço agora a faixa Deve Ser Amor, do qual o pianista Bill Evans faria depois três versões.) Lembro ainda de Odete em 1960 com nossa musa curitibana Edla Lucy Van Steen no filme de Walter Hugo Khouri Na Garganta do Diabo, filmado espetacularmente nas Cataratas do Iguaçu.
 Naquela madrugada, Odete limitou-se a ostentar sua beleza plácida, enquanto a espevitada Mylène esbanjou meia hora de charme e sex-appeal antes de se despedir: “Bem, meus amigos, preciso andar. Na França, se a gente chega em casa depois das seis da manhã, isso significa que ela dormiu fora...” Lembro do ar extasiado com que o Poetinha sorveu a bela sonoridade da frase enunciada pelos lábios carnudos de Mylène:  “Ben, les amis, je dois partir. En France, si on arrive chez soi après six heures, ça veut dire qu’on a découché.”
OUÇA "DEVE SER AMOR". CLIQUE AQUI


OUÇA "SAMBA EM PRELÚDIO", CLIQUE AQUI