Dois destinos revirados numa encruzilhada da vida,
duas
histórias exemplares do Brasil de hoje.
• Givaldo Alves de
Souza, 48 anos, morador de rua em Planaltina (DF), foi içado a bordo de um
automóvel para uma noite de prazer com Sandra Mara Fernandes, mulher do
personal trainer Eduardo Alves de Souza, na noite de 9 de março último.
Apanhado em flagrante, foi arrastado nu para a calçada e espancado pelo marido,
que o acusou de estupro. Givaldo disse que foi uma relação consentida, mas a
defesa da jovem alegou que ela sofrera um surto causado por “transtorno afetivo
bipolar em fase maníaca psicótica.”
A exposição na mídia foi uma autentica bonança para o ex-sem
teto. Depois de dez dias hospitalizado por conta da surra que tomou do
personal, Givaldo, nascido em Pilão
Arcado, no interior da Bahia, ganhou o mundo: retomou sua conta no Instagram,
barrada por feministas, e tornou-se um influencer, com 474 mil seguidores; uma conta no TikTok, com 762,5 mil
seguidores e outra no Youtube, recém-lançada, com pouco mais de 8 mil
inscritos. Virou também celebridade nas redes sociais, sendo convidado para
festas, eventos e desfilando com carros importados, passeando de helicóptero ou
mesmo em uma superlancha. Seu nome é um dos cotados para a próxima edição do
reality show “A Fazenda 14”, da Record TV. E tem mais: vários partidos
políticos o vêm assediando para fazer parte de sua legenda como deputado federal.
• A 1050 quilômetros de Planaltina,
numa estrada de Umbaúba, Sergipe, em 25 de maio, Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, teve a má sorte de ser
abordado numa blitz da Polícia Rodoviária Federal quando trafegava de moto sem
usar capacete, infração praticada neste país por muita gente boa. Sofrendo de
esquizofrenia, ficou nervoso porque levava cartelas de remédio no bolso, mas
não resistiu, entregou-se pacificamente. Numa reação injustificada e brutal,
três agentes da Polícia Rodoviária Federal o imobilizaram e algemaram no chão e
depois o jogaram no porta-malas da viatura com uma bomba de gás lacrimogêneo.
Vídeos feitos por transeuntes mostram a cena chocante, com as pernas de
Genivaldo se debatendo do lado de fora do porta-malas. O laudo da Secretaria de
Segurança Pública de Sergipe indicou que ele morreu de insuficiência
respiratória aguda provocada por asfixia mecânica.
Nascida e criada em Umbaúba, como o
marido, Maria Fabiana dos Santos, 35 anos, tem um vídeo em que a única reação
de Genivaldo à abordagem foi jogar os braços para trás quando atingido por
jatos de gás. Segundo ela, Genivaldo era uma pessoa tranquila, apesar do
distúrbio de que sofria há 20 anos. Com um filho do primeiro relacionamento
dela, a família vivia do benefício de um salário mínimo concedido por invalidez.
“A gente já passou por muita dificuldade.
Mas tínhamos nossa casinha, éramos felizes. Ele vivia para mim e eu vivia para
ele. Era uma pessoa linda, por centro e por fora.”
Na manhã de quarta-feira, Genivaldo disse a Fabiana que ia até a casa da irmã, que ficava a dez quilômetros a pé do outro lado da rodovia BR-101. Lá pediu à irmã a moto emprestada para dar uma volta. Não sabia que no meio do caminho havia uma pedra: a morte.
Um comentário:
Genivaldo é o retrato do brasil de hoje. Outros Genivaldos já foram sacrificados pela sanha policialesca de sede de sangue. Não sei até, onde vamos parar com essa violência, desenfreada que se alastra pelas ruas das cidades brasileiras, de bandidos, que assaltam, roubam e matam e policiais que na repressão ao crime desvairado, atacam as tocas dos criminosos disparando tiros que se não matam bandidos matam civis inocentes, feridos por b alas perdidas. A pergunta que fica sem resposta é: Como parar essa violência, como trazer de volta a paz nas ruas de muitos anos atrás?
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