por José Esmeraldo Gonçalves
Em 1991, uma dupla da Manchete - o jornalista e escritor Edilson Martins e o fotógrafo Ricardo Beliel - percorreu uma conturbada região da tríplice fronteira amazônica. É área explosiva desde sempre. Na época, as ameaças vinham através da invasão de guerrilheiros colombianos. Manchete acompanhou uma operação militar na selva em busca de invasores que mataram soldados brasileiros. Pouco mais de 30 anos depois, a área, dessa vez no Vale do Javari, está novamente na mídia. O desaparecimento do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips repercute no mundo inteiro. Os dois foram ameaçados pelo crime organizado que domina a região, mata ambientalistas e permanece impune: uma mistura de pescadores ilegais, garimpeiros idem, madeireiros criminosos, invasores de terras indígenas e o narcogarimpo, uma perigosa e lucrativa fusão de exploradores de ouro e contrabandistas de drogas e armas. Naquela época, a tropa defendia o território e a soberania do Brasil na região. Hoje, essa soberania parece em risco: o país está perdendo a região para o crime. A política do governo Bolsonaro para a Amazônia incentiva o garimpo ilegal, o desmatamento, estimula o avanço não apenas da destruição como das organizações criminosas que atuam na região, e agrava a impunidade. O desestímulo à fiscalização e o afastamento de indigenistas como o próprio Bruno, que denunciou criminosos, são, na ponta, um indutor da ocupação predatória do narcogarimpo.
A reprodução dessa matéria circula nas redes sociais. A propósito, Edilson Martins, que fez grandes e memoráveis reportagens para a Manchete, postou o texto que se segue.
TRÍPLICE FRONTEIRA - BARRIL DE PÓLVORA
"Sonhos são a noite de gala. A realidade é o luto do mundo."
Este meu texto abria uma reportagem de 8 páginas na revista Manchete. Corria o ano de 1991 e tropas do Exército brasileiro foram atacadas por 45 guerrilheiros das FARCS na região da tríplice fronteira onde agora desapareceram o jornalista inglês Dom Plillips e o indigenista Bruno Pereira da Funai. Três militares foram assassinados e 17 ficaram feridos, nas margens do rio Traíra, na fronteira com a Colômbia, parte da bacia do Solimões. Foi o único episódio, durante todo o século 20 em que o Exército brasileiro teve seus soldados abatidos por tropas de outro país. Fazia-me acompanhar do fotógrafo Ricardo Beliel, cujas fotos foram premiadas. A região é um barril de pólvora, onde os ingredientes explosivos são ouro, cocaína, cobiça de terras indígenas, madeireiros, e disputas internacionais da geopolítica da região. É uma região conflagrada, envolvendo amaldiçoadas disputas e cobiças internacionais. Vivemos dias de terror.
Um comentário:
Amazônia, uma grande história a ser contada. Acredito que a história deve ser começada partir da saga da borracha. Essa saga da borracha custou a vida de muito cearenses, maranhenses, enfim desses heróicos homens do Nordeste, que fugindo da seca dê suas terras, se enfiavam naquela selva sem fim, enfrentando onças, sucuris gigantescas, enfrentando índios selvagens, que defendiam suas ocas, seus curumins, suas mulheres da invasão dos homens brancos. Esses desbravadores, penetravam aquele matão, atravessando rios na procura da árvore mágica, a seringueira, que lhes daria o seu sangue, para em borracha alimentar o mundo com esse produto. Com a seiva da borracha, muitos se enriqueceram e até um Teatro, todo importado da Europa, se construiu na Amazônia. Enquanto muitos nordestinos anônimos morriam, na extração da seiva mágica, outros se enriqueciam comerciando esse produto que abasteceria toda indústria mundial, na produção de pneus e muitos outros produtos derivados da borracha. Amazônia, uma história a ser contada, antes de que seja destruída e se transformada no maior deserto do mundo
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