1958: Brasil vence a Copa do Mundo, na
Suécia, e revela um jogador de 17 anos que viria a ser, logo depois,
considerado Rei de Futebol. Edson Arantes do Nascimento, ou melhor, Pelé, fazia
sua estreia no mundo.
por J.A. Barros
Naquele ano,1958, eu trabalhava no Departamento de Arte da revista O Cruzeiro. A seleção, na Suécia, acabava de conquistar a Copa do Mundo e, ao voltar ao Brasil, desembarcou no aeroporto do Galeão. Os campeões, a bordo de um carro de bombeiros, desfilaram pela cidade até o Palácio do Catete, onde o presidente Juscelino Kubitschek os homenageou.
Pois bem, diante desse fato, a direção de O
Cruzeiro, também resolveu receber os jogadores no salão da sua sede, projetada
por Oscar Niemeyer, na Rua do Livramento, Gamboa, no Centro do Rio de Janeiro.
No espaço nobre, no oitavo andar, decorado com 12 obras em grandes formatos assinadas
por Portinari (em cada quadro, um aspecto histórico do Brasil era contado pelo
pincel desse grande artista). No salão, montaram mesas de finos salgados,
champanhe, de batatas fritas a caviar, enfim, um bufê servido pela Confeitaria
Colombo. Mas o problema era como conseguir sequestrar a Seleção, desviando o
comboio do seu trajeto e conduzindo-o para o prédio da revista. Estava previsto
que o cortejo passaria na Av. Rodrigues Alves, nas proximidades da Livramento.
Rodolfo Brandt, que fazia parte do grupo de jornalistas da revista Cruzeiro,
pilotava uma motocicleta. Assim que a comitiva saiu do Galeão, Rodolfo se
posicionou à frente do carro dos bombeiros e passou a liderar a comitiva. O
jornalista entrou na Rodrigues Alves e, na rua onde arqueólogos descobriram antigo
cais do porto de desembarque dos escravizados, conduziu a moto em direção à sede
da revista. Atrás dele vieram os bombeiros e os craques em caminhão aberto. Daí
em diante foi fácil. Rodolfo pegou a Sacadura Cabral e, em seguida, a Rua
do Livramento. Em poucos minutos, a seleção
entrou no salão de O Cruzeiro. Em princípio, o grupo de jogadores não entendeu
muito o que estava acontecendo, mas resolveu relaxar e aproveitar o
momento. Nós, do Departamento de Arte, que estávamos trabalhando,
corremos para o salão para conhecer os campeões Garricha, Newton Santos, Vavá,
Orlando e todos os outros jogadores. Mas nos detivemos em um garoto que, um
pouco tímido, passou a conversar com a gente e contou os gols que fez na Copa e
lembrou das lindas moças de cabelos louros e olhos azuis. O garoto modesto nos
disse o seu nome. Pelé. Ora, mal sabíamos que aquele menino seria o melhor
jogador de futebol do Brasil e do Mundo. A seguir, a seleção retomou seu
roteiro, afinal, um Presidente da República estava aguardando os campeões do
mundo havia algumas horas.
O "sequestro" não resultou apenas em
comemorações: repórteres e fotógrafos da revista fizeram matérias exclusivas
com os heróis do primeiro título mundial
da seleção brasileira. Além disso, fomos os primeiros a ver de perto a Taça
Jules Rimet. Em certo momento, o goleiro Gilmar foi para a rua e posou beijando
a taça com a sede de O Cruzeiro ao fundo.