domingo, 26 de junho de 2022

Flamengo quer se apropriar do Parque Olímpico, área pública do Rio de Janeiro? Pode isso, Eduardo Paes?

A Flamengo costumava ser o mais querido dos governos autoritários. E muitas vezes levou vantagem nessas ligações espúrias. Durante a ditadura de Getúlio Vargas, o clube ganhou do Estado Novo um imóvel no Morro da Viúva, uma das áreas mais valorizadas do Rio. Na ditadura militar, o Flamengo convidado para partcipar das inaugurações festivas de estádios e jogou o Torneio Garrastazu Médici. O ditador era torcedor do time da Gávea. 

De um modo geral, os clubes eram premiados por se manteram à margem da política. Exceções foram o movimento Democracia Corinthiana, nos anos 1980,  e manifestações individuais de jogadores como Afonsinho, no Botafogo, e Reinaldo, no Atlético Mineiro, na década de 1970. 

O bônus da relação entre fubeol e política também vinha, muitas vezes, em forma de perdão de dívidas e doação de terrenos públicos para construção de estádios ou centros de treinamento, um tipo de vício que, diga-se, que persistiu mesmo após o fim da ditadura. 

O Flamengo, de novo, é o clube mais próximo de Bolsonaro. Tem dirigentes que apoiam publicamente o sociopata do Planalto.  A partir dessa ligação, o "Mais Querido", foi bem-sucedido no lobby para mudanças na legislação que lhes foram favoráveis. Não apenas na instância federal o Flamengo se dá bem. Com o governo do Estado do Rio de Janeiro, o clube virou "dono" do Maracanã  (o Fluminense é coadjuvante, mas a Gávea dá as cartas na parceria) após a saída da Odebrecht como concessionária do estádio. Como concessionário, o Flamengo tem impedido o Vasco de jogar no Maracanã, um estádio público concedido. É como se o clube fosse concessionário do Metrô e só permitisse o embarque dos seus torcedores, por exemplo. Com a cessão do estádio é atualmente precária, haverá nova licitação em breve. O Vasco tem interesse em participar, mas nos bastidores a ação política do Flamengo tenta barrar essa possibilidade. 

Ao mesmo tempo, jornais noticiam que o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, empresário que foi sócio de Eike Batista, se reunirá com o Eduardo Paes. O objetivo seria pedir que  o prefeito libere o Parque Olímpico, a área pública na Barra da Tijuca, para a construção de um estádio para o Flamengo. Seria uma inaceitável doação, mas a história mostra que interesses políticos constumam abrir caminho para absurdos e favorecimentos como esse. Eduardo Paes ainda não se manifestou publicamernte sobre a jogada rubro-negra.

A propósito, com a chegada das SAF (Sociedades Anônimas do Futebol), times como Vasco, Botafogo e Cruzeiro se transformam em empresas. Os contratos com os compradores são geralmente sigilosos, não são conhecidas todas as suas cláusulas. Não se sabe, por exemplo, se terrenos públicos cedidos por prefeituras, casos da maioria dos CTs, podem ser legalmente propriedades repassados a empresários que podem fazer o que quiserem com a área, inclusive vender ou se o uso esportivo é obrigatório segundo os contratos de cessão. O terreno da Toca da Raposa, do Cruzeiro SAF, hoje pertencente ao ex-jogador Ronaldo, foi doado pelo prefeito Américo Gianetti. O mesmo Cruzeiro pode ser beneficiado pela Prefeitura de Betim com nada menos de um estádio na cidade, sem custos para Ronaldo, o proprietário do time,  O terreno do CT do Vasco, em fase final de se transformar em SAF foi doado pelo prefeito Marcelo Crivella. A prefeitura carioca também doou terreno para o CT do Fluminense. O modelo é replicado por outras prefeituras em todo o Brasil. 

Se a fórmula de favorecimento permanecer no casos das SAF, o buraco será mais embaixo.  Prefeitos não podem nem devem presentear empresas privadas. 

Outra coisa: desde os tempos de criação da Loteria Esportiva, clubes se beneficiam dos jogos federais, como Timemania e Lotogol. A Timemania foi criada supostamente para sanear as dívidas tributárias dos clubes brasileiros. Com as SAFs esse tipo de "bondade" se transformará em subvenção contestável, a não ser que claramente se limitem ao pagamento por uso das marcas dos times. 

De resto, o poder público só deveria manter apoio aos esportes olímpicos e paralímpicos.  

De resto, não é por acaso que o Maracanã e seu "dono" proíbam faixas em defesa de  respeito, igualdade e inclusão.

2 comentários:

Renan disse...

Mesmo sem ser saf Flamengo e privado. Chega de mamar em dinheiro público.

Jenner disse...

A concessao do Maracanã deveria ter a obrigação de ceder o estádio sem discriminacao.