Reproduzido de O Globo |
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O Carro etc, do Globo, por sinal muito bem editado, costuma trazer,,entre matérias que noticiam e testam novos modelos, excelentes reportagens sobre carros antigos. São uma atração especial do caderno. Hoje, nas bancas, Jason Vogel publica "O bom caminhão à casa torna - Uma viagem sentimental a Xerém, onde ficava a Fábrica Nacional de Motores". O repórter acompanhou uma caravana de nove Fenemês do Paraná à antiga fábrica no Rio de Janeiro. Uma viagem no tempo. Os caminhões pertencem a colecionadores apaixonados pela marca e que sonhavam visitar o berço do lendário caminhão. A fábrica Nacional de Motores funcionou até 1977 quando foi vendida à Fiat. Por mais três anos, as linhas de montagem produziram caminhões até o fechamento definitivo. Hoje, as instalações abrigam a Ciferal-Marcopolo que produz carrocerias de ônibus. A FNM foi fundada por Getúlio Vargas originalmente para produzir motores de aviões. Janos conta que com o fim da guerra, foi feito um acordo com a italiana Isotta Fraschini para a fabricação de caminhões. Apenas 200 foram produzidos, em 1949. A Isotta faliu e coube à Alfa Romeu que fornecer tecnologia para os primeiros modelos FNM, a partir de 1951. Mas o caminhão que dominaria as estradas brasileiras nos anos 50/60 e parte dos 70 foi o FNM-D-11.000, o Fenemê clássico lançado em 1958. A fábrica chegou a ter 7 mil funcionários. De Xerém também saiu o carro de luxo FNM-200-JK, investimento que acabou provocando descontrole de contas da empresa.. Janos Vogel ainda revela informações que não foram publicadas na época sobre o desfecho da FNM. "Com o golpe militar de 1964, começaram as perseguições ao movimento sindical e a empresa recebeu um interventor. Um relatório encomendado pelo novos donos do poder mostrava que a estatal poderia voltar a ser lucrativa. Mas não adiantou: em 1968, a FNM foi praticamente doada pelo Estado à Alfa Romeu. O negócio foi feito por meio de contratos secretos", revela a reportagem.
O blog acrescenta: houve tímidos protestos de deputados, na época, e protestos pela ausência de licitação, logo abafados pelo ditador que usou o Ato Institucional 4 para não dar satisfações ao país. A FNM entrou no pacote de tons corruptos de esmagamento de empresas que não contavam com a boa vontade dos militares ou tinham ligações com governos anteriores como a Panair, a TV Excelsior e centenas de outras espalhadas pelo Brasil, que trocaram de donos em circunstâncias suspeitas. Ao lado dos assassinatos e torturas, a perseguição econômica é a banda corrupta da ditadura militar jamais vasculhada e cujos responsáveis nunca foram punidos nem responsabilizados. Uma história à espera de um pesquisador ou de um repórter investigativo. A FNM foi vítima desse golpe. Ficou o Fenemê, símbolo de um época anterior aos anos de chumbo.
LEIA MAIS NO SITE ALFA-FNM, QUE REGISTROU TODAS AS ETAPAS DA CARAVANA FENEMÊ, CLIQUE AQUI
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7 comentários:
É muito estranho esse horror que o brasileiro tem a tradição. A PANAIR, A VARIG, a revista O CRUZEIRO, a FNM, empresas que se tornaram tradicionais pelo que se tornaram no país, quando entraram em crise – independente de problemas políticos – foram abandonadas e deletadas pelo governo da ocasião. O caso da FNM é muito mais estranho porque era um investimento em tecnologia de fabricação de caminhões que estava dando certo e no entanto foi cancelado e a sua imagem apagada da memória do país. Detroit, estado dos EUA, conhecido por ser a capital das fábricas de carros, entrou em processo de falência, mas o governo não deixou que isso acontecesse e investiu pesadamente no Estado salvando as fábricas tradicionais norte-americanas. Aqui acontece o contrário, o governo é primeiro a ajudar a afundar empresas que se tornaram tradicionais. Fique bem claro que não estou especificando qual governo. OK?
Pelo menos no caso da Panair foi escandaloso. A empresa não faliu, não tinha qualquer problema de caixa, não tinha dívidas vencidas, tinha patrimônio, enorme patrimônio entre aviões e lojas no Brasil e no exterior, além de empresas como a Celma que fazia manutenção de aviões até do exterior. A Panair teve suas linhas cassadas da noite pro dia na ditadura de Castelo Branco pelo então ministro Eduardo Gomes. A manobra favoreceu a Varig que se apossou com apoio dos militares de linhas, lojas e até aviões. Foi uma ilegalidade e corrupção total. Só posteriormente, a empresa pediu falência. Até hoje na Justiça correm processos para ressarcimento. Foi um crime!
Sensacional. Que saudade do Brasil de um tempo. Me lembro muito desses durões Fenemê que abasteceram o Brasil afora.
Parabéns aos colecionadores e restauradores desses caminhões que com sua paixão ajudam a valorizar e preservar a memória história do Brasil através de um veículo que tem seu lugar na construção do país.
Realmente o caso da Panair foi escandaloso e vergonhoso. Até hoje, ex-funcionários, os que sobreviveram, amargam a falência da empresa. Perderam tudo e ficaram desajustados no mercado de trabalho. Trabalhei com um desses ex-funcionários e pude sentir a sua sensação de fracasso e amargura pela perda dos anos trabalhados na Panair. O irônico é que se a Varig foi a favorecida pela falência, forçada pelo regime militar, da Panair, foi agora punida – se foi o caso – por uma falência também meio fajuda. Mas, como sempre, o grande prejudicado e punido é o empregado que para receber o que lhe é devido levará anos e brigando na Justiça. Muitas das vezes não conseguem receber nada.
A falência da Varig foi provocada por administração caótica. Foi bem diferente. De acordo com nova lei da falência tentaram salvá-la com venda que não deu certo.Fato que não resolveu a situação dos seus funcionários. Mas não foi empresa perseguida, ao contrário .
Não acusei abertamente de que a falência da Varig fosse originada por perseguição politica ou má
fé de governantes. Disse: "se foi o caso ". Quis dizer que poderia ter sido semelhante ao da Panair. Nada afirmei.
Com a sua explicação, entendo que a incompetência de administração foi a grande causadora da falência da Varig.
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