quarta-feira, 20 de março de 2013

No Globo: O Fenemê volta à antiga Fábrica Nacional de Motores. Um caminhão que virou lenda e foi vítima da ditadura militar

Reproduzido de O Globo
Reproduzido de O Globo
por Gonça
O Carro etc, do Globo, por sinal muito bem editado, costuma trazer,,entre matérias que noticiam e testam novos modelos, excelentes reportagens sobre carros antigos. São uma atração especial do caderno. Hoje, nas bancas, Jason Vogel publica "O bom caminhão à casa torna - Uma viagem sentimental a Xerém, onde ficava a Fábrica Nacional de Motores". O repórter acompanhou uma caravana de nove Fenemês do Paraná à antiga fábrica no Rio de Janeiro. Uma viagem no tempo. Os caminhões pertencem a colecionadores apaixonados pela marca e que sonhavam visitar o berço do lendário caminhão. A fábrica Nacional de Motores funcionou até 1977 quando foi vendida à Fiat. Por mais três anos, as linhas de montagem produziram caminhões até o fechamento definitivo. Hoje, as instalações abrigam a Ciferal-Marcopolo que produz carrocerias de ônibus. A FNM foi fundada por Getúlio Vargas originalmente para produzir motores de aviões. Janos conta que com o fim da guerra, foi feito um acordo com a italiana  Isotta Fraschini para a fabricação de caminhões. Apenas 200 foram produzidos, em 1949. A Isotta faliu e coube à Alfa Romeu que fornecer tecnologia para os primeiros modelos  FNM, a partir de 1951. Mas o caminhão que dominaria as estradas brasileiras nos anos 50/60 e parte dos 70 foi o FNM-D-11.000, o Fenemê clássico lançado em 1958. A fábrica chegou a ter 7 mil funcionários. De Xerém também saiu o carro de luxo FNM-200-JK, investimento que acabou provocando descontrole de contas da empresa.. Janos Vogel ainda revela informações que não foram publicadas na época sobre o desfecho da FNM.  "Com o golpe militar de 1964, começaram as perseguições ao movimento sindical e a empresa recebeu um interventor. Um relatório encomendado pelo novos donos do poder mostrava que a estatal poderia voltar a ser lucrativa. Mas não adiantou: em 1968, a FNM foi praticamente doada pelo Estado à Alfa Romeu. O negócio foi feito por meio de contratos secretos", revela a reportagem.
O blog acrescenta: houve tímidos protestos de deputados, na época, e protestos pela ausência de licitação, logo abafados pelo ditador que usou o Ato Institucional 4 para não dar satisfações  ao país. A FNM entrou no pacote de tons corruptos de esmagamento de empresas que não contavam com a boa vontade dos militares ou tinham ligações com governos anteriores como a Panair, a TV Excelsior e centenas de outras espalhadas pelo Brasil, que trocaram de donos em circunstâncias suspeitas. Ao lado dos assassinatos e torturas, a perseguição econômica é a banda corrupta da ditadura militar jamais vasculhada e cujos responsáveis nunca foram punidos nem responsabilizados. Uma história à espera de um pesquisador ou de um repórter investigativo. A FNM foi vítima desse golpe. Ficou o Fenemê, símbolo de um época anterior aos anos de chumbo.

LEIA MAIS NO SITE ALFA-FNM, QUE REGISTROU TODAS AS ETAPAS DA CARAVANA FENEMÊ, CLIQUE AQUI

7 comentários:

debarros disse...

É muito estranho esse horror que o brasileiro tem a tradição. A PANAIR, A VARIG, a revista O CRUZEIRO, a FNM, empresas que se tornaram tradicionais pelo que se tornaram no país, quando entraram em crise – independente de problemas políticos – foram abandonadas e deletadas pelo governo da ocasião. O caso da FNM é muito mais estranho porque era um investimento em tecnologia de fabricação de caminhões que estava dando certo e no entanto foi cancelado e a sua imagem apagada da memória do país. Detroit, estado dos EUA, conhecido por ser a capital das fábricas de carros, entrou em processo de falência, mas o governo não deixou que isso acontecesse e investiu pesadamente no Estado salvando as fábricas tradicionais norte-americanas. Aqui acontece o contrário, o governo é primeiro a ajudar a afundar empresas que se tornaram tradicionais. Fique bem claro que não estou especificando qual governo. OK?

Edvaldo P. Carvalho (familiar de ex-funcionário da Panair) disse...

Pelo menos no caso da Panair foi escandaloso. A empresa não faliu, não tinha qualquer problema de caixa, não tinha dívidas vencidas, tinha patrimônio, enorme patrimônio entre aviões e lojas no Brasil e no exterior, além de empresas como a Celma que fazia manutenção de aviões até do exterior. A Panair teve suas linhas cassadas da noite pro dia na ditadura de Castelo Branco pelo então ministro Eduardo Gomes. A manobra favoreceu a Varig que se apossou com apoio dos militares de linhas, lojas e até aviões. Foi uma ilegalidade e corrupção total. Só posteriormente, a empresa pediu falência. Até hoje na Justiça correm processos para ressarcimento. Foi um crime!

Ebert disse...

Sensacional. Que saudade do Brasil de um tempo. Me lembro muito desses durões Fenemê que abasteceram o Brasil afora.

Isabela disse...

Parabéns aos colecionadores e restauradores desses caminhões que com sua paixão ajudam a valorizar e preservar a memória história do Brasil através de um veículo que tem seu lugar na construção do país.

debarros disse...

Realmente o caso da Panair foi escandaloso e vergonhoso. Até hoje, ex-funcionários, os que sobreviveram, amargam a falência da empresa. Perderam tudo e ficaram desajustados no mercado de trabalho. Trabalhei com um desses ex-funcionários e pude sentir a sua sensação de fracasso e amargura pela perda dos anos trabalhados na Panair. O irônico é que se a Varig foi a favorecida pela falência, forçada pelo regime militar, da Panair, foi agora punida – se foi o caso – por uma falência também meio fajuda. Mas, como sempre, o grande prejudicado e punido é o empregado que para receber o que lhe é devido levará anos e brigando na Justiça. Muitas das vezes não conseguem receber nada.

Edvaldo disse...

A falência da Varig foi provocada por administração caótica. Foi bem diferente. De acordo com nova lei da falência tentaram salvá-la com venda que não deu certo.Fato que não resolveu a situação dos seus funcionários. Mas não foi empresa perseguida, ao contrário .

debarros disse...

Não acusei abertamente de que a falência da Varig fosse originada por perseguição politica ou má
fé de governantes. Disse: "se foi o caso ". Quis dizer que poderia ter sido semelhante ao da Panair. Nada afirmei.
Com a sua explicação, entendo que a incompetência de administração foi a grande causadora da falência da Varig.