domingo, 14 de fevereiro de 2021

Assinado por 1004 jornalistas, manifesto histórico que denunciava manipulação da investigação do Caso Vladimir Herzog completa 45 anos.


Reproduções/Instituto Herzog

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por José Esmeraldo Gonçalves

Em fins de janeiro de 1976, um importante documento circulou nas redações do Rio, São Paulo e outras capitais. Era o manifesto "Em Nome da Verdade" que pedia esclarecimentos sobre a investigação do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, no Doi-Codi paulista, em 25 de outubro de 1975. 

A farsa estava montada. Uma portaria do II Exército se referia à apuração do "suicídio", já impondo a futura e falsa versão oficial da ditadura em proteção aos torturadores que mataram Herzog. 

Restava reagir à mentira. Um total de 1004 jornalistas assinaram o manifesto. Ler a relação é simbolicamente reencontrar nomes de uma geração de caros e combativos colegas, entre os quais muitos que deixaram saudades. O documento circulou nas redações da Bloch, no Russell, onde Pedrosa Filho, então chefe de reportagem da Fatos & Fotos, colheu assinaturas. Em toda a Bloch foram mais de 30 apoios. O manifesto foi publicado no Estadão, no dia 3 de fevereiro de 1976, há 45 anos. 

Em março de 2020, o MPF apresentou denúncia contra seis pessoas pelo assassinato e por terem forjado o suicídio de Herzog. O caso foi parar na 1ª Vara Federal Criminal de São Paulo, famosa por negar  todas as denúncias do MPF sobre os crimes da ditadura militar. Dois meses depois, a denúncia foi... rejeitada.



Reprodução

No livro "Dossiê Herzog - Prisão, tortura e morte no Brasil",. Fernando Pacheco Jordão agradece aos 1004 jornalistas que assinaram o manifesto.

O texto do manifesto "Em nome da Verdade", com a relação dos jornalistas que o assinaram (agora 1006, com dois nomes recuperados) pode ser lido AQUI

Como Trump foi derrotado e as lições que o Brasil pode tirar do autoritarismo miliciano que pôs em risco a democracia americana

 

Ler essa reportagem da Time deveria ser dever de casa da esquerda brasileira e de quem prefere viver em um país democrático. 

Sob o título "A história secreta da campanha nas sombras que salvou as eleições de 2020", a revista escaneia o movimento social que deteve Trump. Não era segredo que, havia meses, as milícias de direita estavam se preparando para a batalha, enquanto Donald Trump desacreditava o processo eleitoral. Tudo era parte de uma conspiração que, após o fechamento das urnas, se intensificou. Entre 3 de novembro de 20 de janeiro, o candidato derrotado passou a abrir processos, fazer pressão sobre autoridades estaduais e, finalmente, a convocar suas gangues de apoiadores, muitos armados, para o comício que incentivou a invasão do Capitólio.  

O golpe contra a democracia planejado por Trump, com apoio da direita radical do Partido Republicano e da massa de trumpistas e dos proud boys, entre os quais supremacistas brancos e neofascistas, foi vencido com uma união de forças difíceis de se juntarem, mas que se tornou necessária, formadas por empresários liberais (lembrando que, nos Estados Unidos, o liberalismo contemporâneo defende a justiça social, as liberdades civis, a igualdade e a economia mista. Não é a aglomeração de selvagens concentradores de renda que, no Brasil, a mídia comumente chama de "liberais") e trabalhadores. "O aperto de mão entre as empresas e os trabalhadores" - diz a Time -  "foi apenas um componente de uma vasta campanha interpartidária para proteger a eleição - um extraordinário esforço paralelo dedicado não a ganhar o voto, mas a garantir que fosse livre e justo, confiável e não corrompido. Por mais de um ano, uma coalizão de militantes vagamente organizados lutou para apoiar as instituições dos Estados Unidos à medida que estas eram atacadas simultaneamente por uma pandemia implacável e um presidente com inclinação autocrática". Juntos, segundo a revista, buscaram financiamento público e privado, se defenderam de ações judiciais de supressão de eleitores, recrutaram exércitos de voluntários eleitorais, fizeram milhões de pessoas votarem pelo correio pela primeira vez e pressionaram com sucesso as empresas de mídia social a adotar uma postura mais dura contra a desinformação.  Com um detalhe: muitos republicanos perceberam o risco que Trump representava para a democracia e participaram da campanha-cidadã.

A revista destaca um personagem especial e decisivo: Mike Podhorzer, um experiente conselheiro político da maior confederação sindical do país. Em fins de 2019, ele se convenceu de que as eleição sob Trump seria um desastre e decidiu protegê-la. Ao sair em campo, descobriu que não era o único a pensar nesses termos. Conversou com centenas de lideranças em vários setores. "O que ele queria saber" - escreve a Time - "não era como a democracia americana estava morrendo, mas como poderia ser mantida viva". 

Se você perceber na longa reportagem da Time muitos pontos de contato entre o assalto ao poder planejado por Trump - um protótipo de ditador que conseguiu chegar à Casa Branca -, e as ações organizadas de Jair Bolsonaro à frente dos seus militares, milicianos, magistrados e políticos adquiridos no balcão do Congresso, não será mera coincidência. 

Mas há uma diferença crucial: Bolsonaro chegará às eleições de 2022 com maior sustentação do que Trump teve para tentar impor um segundo mandato do seu regime autoritário. 

Leia a reportagem da Time, AQUI 

Deputado recarregável...

sábado, 13 de fevereiro de 2021

O jurídico tá no divã. "Essa peça de acusação é um tesão' (???)

 

Imagem reproduzida do DCM


por O.V. Pochê 

Em uma das conversas dos procuradores da Lava Jato, no Telegram, Deltan Dallagnol refere-se à preparação de uma das peças da acusação contra Lula e confessa: 

- "Será um tesão escrever isso".

Diria que a coisa está saindo do controle. Mudando o foco, aparentemente, e entrando em um terreno psicologicamente pantanoso. Nesse ritmo de confissões jurídicas, a defesa do ex-presidente vai ter que buscar jurisprudência na Viena, de Freud, na Suíça de Jung e seus arquétipos. 

Um Godzilla digital apavora jornalistas que foram parças da Lava Jato...


Imagem ilustrativa iStock
Godzilla digital assusta alguns jornalistas que atuaram como apêndices da Lava Jato. Os terabytes das conversas de Moro, Dallagnol, procuradores, "capi" da mídia conservadora e repórteres vêm à luz aos poucos e lançam certos e conhecidos profissionais nas trevas de pesadelos monumentais. 

Ao publicar os vazamentos sites jornalísticos independentes passam tarja preta nos nomes dos repórteres que cumpriam apenas a obrigação de falar com fontes da Lava Jato sem entregar aos procuradores a dignidade e a correção, mas expõem veículos e repórteres que arranharam a ética e foram além dos princípios do jornalismo. 

Aberta a caixa de terabytes O Globo, TV Globo, Folha, Estadão, O Antagonista, cardeais como João Roberto Marinho, jornalistas como Vladimir Neto e Diogo Mainardi surgem como os parças que recebiam informações, geralmente vazadas pela força-tarefa, e davam uma espécie de "consultoria de comunicação" à facção curitibana. Vê-se, hoje, que a maioria das reportagens "investigativas"  eram, na verdade, pautas passadas por Curitiba segundo estratégia abertamente política de condenar na mídia e na opinião pública, antes de julgamentos e da conclusão de investigações, personagens-alvo da conspiração jurídica encabeçada por Moro e Deltan Dallagnol. 

A mais recente revelação saiu no site Conjur (Consultor Jurídico). Em conversas com Dallagnol, o repórter Thiago Prado, então na Veja, sugeria ao procurador prisão de pessoas, mandava e-mails que supostamente incriminariam suspeitos, documentos, extratos bancários e até pedia quebras de sigilo. A "colaboração" era tanta que, segundo o Conjur, Dallagnol brinca que o repórter "já pode entrar para o Ministério Público". 

Thiago Prado já se envolveu em outra polêmica, anos atrás. Ele foi um dos que assinaram uma matéria na Veja que revelava que o senador Romário mantinha uma conta não declarada na Suíça com o equivalente a mais de 7 milhões de reais. Uma das "provas" era um extrato do BSI. Romário, indignado, viajou para a Suíça e foi direto ao banco para comprovar que não era dono do dinheiro. Conclusão, de acordo com o BSI, o "extrato" apresentado pela revista era falso. Romário passou a ironizar a Veja nas redes sociais pedindo que revelasse quem era o atravessador do documento falsificado. 

Thiago Prado atualmente é um dos editores do Globo.

Tudo indica que Godzilla ainda tem muito fogo para cuspir à medida em que a tampa dos terabytes vai soltando mau cheiro.    

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Fotomemória da redação: "reunião de pauta" no Arab da Lagoa

A coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" nasceu em mesa de bar. Da esq. para a dir., alguns dos autores: Jussara Razzé, José Rodolpho Câmara, Renato Sérgio, Maria Alice Mariano, José Esmeraldo Gonçalves, João Américo Barros e Roberto Muggiati.

Uma foto, um tempo, 15 anos atrás. A ideia de fazer um livro sobre a vivência de cada um no mundo indecifrável da Manchete surgiu em um bar, o do Hotel Novo Mundo. A coletânea "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" talvez tenha sido a única do gênero que ganhou corpo e alma em muitas "reuniões de pauta" quase festivas. Novo Mundo, Degrau, Barril 1500... A foto acima, de 2006, no Arab, da Lagoa, mostra alguns dos autores. Por incrível que pareça, o livro não ficou só em "conversa de bar". Saiu das mesas para a editora, a Desiderata, e foi lançado em 2008. 

Neymar é criticado pela imprensa francesa por se lesionar com muita frequência.


por Niko Bolontrin
Na última quarta-feira, durante jogo da Copa da França contra o Caen, Neymar se machucou mais uma vez. Agora, foi problema muscular não relacionado com ação do adversário. Exames revelaram lesão do adutor esquerdo. Ele não joga contra o Nice, pela Ligue 1, nem contra o Barcelona, ​​na próxima terça, pela Champions League. Para o jogo de volta contra o Barça, no Parc des Princes, na quarta-feira, 10 de março, permanece como dúvida. 

A mídia esportiva indaga os motivos de tantas lesões. 

Sem descartar a agressividade aplicada por adversários para tomar a bola do habilidoso Neymar ou as reações iradas diante de dribles "humilhantes" (a origem da maioria dos problemas), o estilo de vida do brasileiro, dado a festas e comemorações, horas de sono dedicadas às redes sociais, é apontado como um dos fatores suspeitos. Para muitos, ele fixa a imagem de quem não se cuida. 

A habilidade e o talento de Neymar, a sua capacidade de decidir jogos, são reconhecidos. 

A questão é saber se ele é um atleta. No passado, o futebol brasileiro teve muitos supercraques extraordinários que não cabiam no figurino padrão atleta, como Garrincha, Gerson, Sócrates... A dedicação ao físico era até relativa. Brito, o lendário zagueiro do Vasco, não era um monge, mas foi eleito o jogador mais bem preparado da Copa de 1970. A lista dos não-atletas seria longa. Apesar disso, os citados e muitos outros fizeram história, muita história. 

Hoje, é mais difícil até aqui na periferia. O futebol mudou. Um Garrincha talvez não se divertisse jogando sob os tais técnicos atuais, do tic-tac e do jogo de posição etc. No exigente e competitivo futebol europeu, nem se fala. 

Enfim, são tempos, cada um no seu. Neymar, com o seu fantástico talento, talvez tenha chegado atrasado. 

É um artista. Treinadores e adversários abominam seus improvisos e seu interminável repertório de dribles. O futebol parece fazer Neymar feliz apenas quando está em campo, com a bola. Todo o pacote que vem junto parece entediar o brasileiro.

Greenpeace, 50 anos: documentário conta como uma organização fundada por jornalistas despertou o mundo para a defesa do meio ambiente

 


Greenpeace: a primeira missão. Foto/Divulgação 

por Ed Sá 
O canal por assinatura Curta exibe hoje o documentário "A História do Greanpeace". A mais antiga organização ecológica do mundo comemora 50 anos. Em 1971, a agenda ambiental não estava em pauta nos meios de comunicação e muito menos na opinião pública. Os jornalistas Rex Weyler, hoje com 73 anos, e Bob Hunter, o primeiro presidente da ONG, falecido há 15 anos, participavam do movimento pacifista contra a Guerra do Vietnã. Em uma das reuniões, inspirados pelos hippies, eles acrescentaram à bandeira do grupo, Peace, o Green que lhe dava uma nova identidade ambiental. 

Em meio século foram muitas - e arriscadas - as missões do Greenpeace no mundo desde a primeira ação, quando um grupo de 12 ativistas partiu de Vancouver rumo ao Alasca decidido a impedir a realização de testes nucleares em uma remota ilha. 

O documentário é dirigido pelo francês Thierry de Lestrade, conta com muitas imagens de arquivo e entrevistas de ativistas. Será exibido hoje nos canais 556 da NET / Claro TV, 75 da Oi TV e 664 da Vivo Fibra, além de em operadoras associadas à NeoTV.

Recentemente, o Greenpaace realizou a operação Asas da Emergência, um rede de solidariedade que  levou oxigênio para Manaus e cidades mais distantes da capital. 

A política do extermínio em massa

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A eterna espada sobre a democracia brasileira

No livro "General Villas Bôas: conversa com o comandante", lançado pela Fundação Getúlio Vargas, o ex-comandante do Exército confessa que os posts que escreveu no Twitter às vésperas do julgamento de um habeas-corpus apresentado pela defesa de Lula foram publicados com o aval do Alto Comando. Os tais posts pressionavam diretamente o STF, em tom pouco velado de ameaça. Caso fosse aprovado, Lula não iria para a prisão após condenação em segunda instância. Por seis votos a cinco, a sentença foi mantida e o general se acalmou e desceu dos coturnos.

Villas Boas também garante que Fernando Haddad assumiria 'normalmente' se tivesse vencido Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.

Isso só mostra que a democracia brasileira é uma concessão frágil. Pode ser revogada a qualquer momento, como já o foi várias vezes ao longo da história. Basta que o país saia do script conservador e anacrônico desenhado pelas elites políticas e financeiras. 

O Brasil controlado por um modelo selvagem concentrador de renda e distribuidor de privilégios e que fabrica pobres e desempregados aos milhões não incomoda a espada. Muito ao contrário. Ela permanece lá, pendurada, para lembrar que defende o sistema que mantém o país em crônico atraso.

  

Jornalista entra em surto e promete se atirar do décimo quinto andar. Ouça três músicas que podem ser a trilha sonora do tresloucado gesto

 por José Esmeraldo Gonçalves 

O programa Manhattan Connection foi uma  trincheira da Lava-Jato.   

Agora que o uso político da investigação está sob o cerco de um novo lote de conversas dos integrantes da força-tarefa, jornalistas que em algum momento prestaram serviço a Sergio Moro tendem a ficar nervosos. 

Circulam nas redes sociais trechos de conversas do Diogo Mainardi, um dos integrantes do MC, com o notório Deltan Dallagnol. São diálogos que vão além da relação entre repórter-fonte e envolvem um tipo de "consultoria" informal de comunicação como parte dos objetivos políticos da investigação.

O MC, agora hospedado na TV Cultura, entrevistou ontem o ex-prefeito da capital, ex-ministro da Educação e presidenciável Fernando Haddad. Apesar de repetidamente ofendido por Mainardi, que se comportou como um "hater" em surto ou acometido de algum distúrbio, Haddad não desceu ao nível proposto pelo entrevistador. Manteve a educação. A certa altura, classificou Mainardi como "problemático". 

Sobre a eleição de 2022, Mainardi chegou a prometer que vai se atirar do décimo quinto andar caso os candidatos sejam Bolsonaro X Lula. Haddad disse esperar que ele se equilibre até lá.

Antigamente, os problemáticos surtados eram chamados de neurastênicos. A palavra rendeu até uma canção de sucesso do grupo Os Cariocas. "Mas que nervoso estou/Sou neurastênico/Preciso me tratar, senão/Eu vou pra Jacarepaguá...

Já a palavra problemático não parece muito musical. Mas o MC Neguinho do Kaxeta conseguiu incluí-la na letra de um funk.  "Olha os problemáticos, ladrões de cena/As vezes sarcástico, ficou pra trás? Que pena!/Sabichão, postura e pras louca nós dá problema"...

E Kid Vinil gravou "É que eu fiquei com tic tic nervoso/Tic tic nervoso, tic tic nervoso"...

OUÇA "NEURASTÊNICO" AQUI

OUÇA PROBLEMÁTICO AQUI

OUÇA TIC TICA NERVOSO AQUI

Jornalismo delivery

Reprodução Twitter

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Viva a Limonada Siciliana! • Por Roberto Muggiati

 

Não tendo nada melhor a fazer – lenta é a espuma dos dias na pandemia – inventei a Limonada Siciliana. Pelo menos a minha versão, uma variante da Limonada Suíça, que é feita com limão Taití. (A Limonada Suíça era o grande hit do Color Bar, o botequim do Russell, colado à Manchete.) Se preço reflete qualidade, é brutal a diferença entre os dois cítricos: 15 reais o quilo do siciliano contra 5 reais o do Taití. (A propósito, em inglês lime é limão Taití e lemon o siciliano.) Vamos à receita: coloque o suco de meio limão siciliano num copo alto, raspas de casca deste limão, raspas de gengibre, açúcar demerara orgânico e complete com água. Limonada numa hora destas? Isso é coisa de maricas! – diria aquele... vocês sabem quem. Replico então com uma caipivodca de limão siciliano, usando a mesma mistura. Batizo-a de Patrícia, em homenagem a minha sobrinha e afilhada, que fez anos em 9 de fevereiro. Ela – e milhares de outras Patrícias mundo afora – foram batizadas pelo chachachá de Perez Prado que toca na trilha sonora de La Dolce Vita. Ouçam esta joia, degustando uma Limonada Siciliana – ou uma Caipivodca Patrícia.

https://www.youtube.com/watch?v=uvD9_o88nOo

Lembra do Caco Antibes, do Sai de Baixo? Era comédia virou realidade...

 O colunista do UOL, Matheus Pichonelli mandou bem em seu artigo hoje. Ele revisita o personagem Caco Antibes, de Miguel Falabella, exibido no "Sai de Baixo" (Rede Glono) entre 1996 e 2002, e encontra "o protótipo do brasileiro médio e decadente, tomado de ódio e preconceito de classe". "Eu tenho horror a pobre" era seu bordão de Caco Antibes. Veja porque milhões de Caco Antibes saíram do armário nacional nos últimos anos.  

Leia o artigo no UOL, AQUI

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Nara Leão e Elis Regina: rivais em alta tensão no estúdio da Manchete

 

Nara Leão, mão no queixo, à direita, ouve João Gilberto no Arpoador, em 1959,
em foto de uma sequência que Carlos Kerr fez para a Manchete, edição 398. Reprodução.

por José Esmeraldo Gonçalves

A Manchete tem sido uma boa fonte de pesquisa para escritores, documentaristas e autores de teses universitárias. Faz todo o  sentido. Sem abrir mão do jornalismo ilustrado, e até por isso, a revista cobria uma larga variedade temas. Movimentos como MPB, Tropicalismo, Cinema Novo e Bossa Nova, por exemplo, tiveram suas trajetórias amplamente registradas em centenas de entrevistas e fotos. 

A foto da capa é de
Frederico Mendes.
Um exemplo mais recente da revista como repositório da memória cultural é o livro "Ninguém Pode com Nara Leão", biografia escrita por Tom Cardoso para a editora Planeta. Em obras anteriores - "O Marechal da Vitória", sobre Paulo Machado de Carvalho, "75KG de músculos e fúria", biografia de Tarso de Castro), "Se Não Fosse o Cabral", sobre Sérgio Cabral, e Sócrates, sobre o craque do futebol - ele provou que é um pesquisador incansável e atento. 

De Nara Leão pode-se dizer que era famosa, mas não verdadeiramente conhecida. Era até hoje uma personagem a ser desvendada. Em dezenas de depoimentos, Tom Cardoso levanta os véus que a própria cantora interpôs entre suas vidas privada e pública. 

Da Manchete, o autor recuperou  trechos de entrevistas, bastidores de reportagens e pelo menos uma foto marcante. O livro conta um explosivo encontro de Nara e Elis, que não acabou bem, para uma seção da revista chamada "As Grandes Rivalidades", criada por Justino Martins. A intenção do repórter Carlos Marques era entrevistar para a rubrica as duas juntas, lado a lado. 


A matéria as Grandes Rivalidades, por Carlos Marques

Elis e Nara se desentenderam no estúdio da Manchete.  
A foto, de 1967,  e que saiu sem crédito, é aparentemente uma montagem.. 

Ambas até toparam. Antes, estava marcada uma sessão de fotos no estúdio, quando o entrevistador aproveitou para começar a fazer perguntas e colocar lenha na fogueira, como pedira Justino. Marques não contou com um fio desencapado na relação das duas.  Mal começou, foi Elis quem jogou gasolina no fogo. Resolveu que não devia estar ali. "Vou embora", disse. "Não gosto da Nara. Ela canta mal e fala bem", completou. "Agressividade pueril", rebateu Nara na matéria. Marques conseguiu, depois, convencer as duas a darem entrevistas separadas. 

Em outros trechos do livro, há breves extratos de matérias de Carlinhos de Oliveira, para a Manchete, e de Ronaldo Bôscoli, para a Fatos & Fotos. O livro vem com um álbum de fotos pessoais de Nara Leão e um raro e exclusivo registro fotográfico da cantora com João Gilberto na Praia do Diabo, no Arpoador. A foto é 1959, de Carlos Kerr para a Manchete. 

Publicá-la é, de certa forma, recuperar documentos fotográficos que faziam parte do acervo das revistas da Bloch, hoje desaparecido.

Quanto ao livro do Tom Cardoso, é uma excelente pedida. 

Temos a TV mais educada do mundo. Veja porque...

por Ed Sá

Até meados da década de1980 foi exibida no Brasil a série The Waltons. Mostrava as aventuras rurais de uma família do Meio-Oeste dos Estados Unidos. O casal tinha sete filhos. Nas cenas de encerramento de cada capítulo, com a noite caindo sobre o casarão, invariavelmente ouvia-se a longa sequência do "boa noite" coletivo dos Waltons. 

- Good night Jason, good night Ben, good night Mary Ellen, good night John-Boy...


A CNN Brasil e a Globo News me lembram os Waltons. 

A cada chamada de comentaristas e repórteres, o âncora da vez e o jornalista ou convidado acionado trocam afetuosos boa noite. Nada contra, são educados. Se um repórter faz entradas duas ou três vezes em questão de minutos, não importa, ganha boa noite a cada vez que aparece. 

Houve uma época em uma galáxia distante que o boa noite na TV era quase uma exclusividade do Cid Moreira. Atualmente, na Globo News e CNN Brasil a regra vale para todos os jornalísticos noturnos.  Ninguém entra nem sai do ar sem um boa noite. Ainda não verifiquei se nos jornalísticos matutinos perguntam como foi a noite do colega, se dormiu bem, por exemplo. Só sei que um programa de uma hora, em uma noite boa, comporta uma boa média de 20 boas noites. Os dias atuais no Brasil não são grande coisa. Mas ainda bem que temos o boa noite da TV. "Gratidão", como se diz nas redes sociais.

- Boa noite, Gabeira, boa noite Natuza, boa noite Camarotti, boa noite Guga, boa noite Tralli, boa noite Monalisa, boa noite Marcio Gomes... 


Veja o boa noite dos Waltons AQUI

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Deu jacaré

 


A deputada Alexandria Ocasio-Cortez, do Partido Democrata norte-americano, ao sair da vacinação fez piada com o presidente que em si é uma trágica gozação brasileira. Cortez mostrou a deformação que o imunizante pode causar segundo o candidato a ditador de comédia que dirige o Brasil.

"Imagine", um hino pela paz, foi lançada há 50 anos. Deu tudo errado. O sonho de Lennon não se realizou.


por Ed Sá 

O livro de poemas Grapefruit, de Yoko Ono, inspirou John Lennon a compor Imagine, lançada em 1971. Provavelmente Imagine nasceu na cama do Hotel Hilton , de Amsterdam, em1969, onde o casal passou uma semana em ato político no leito conjugal em defesa da paz universal. Foi o célebre bed in. Lennon imaginou um mundo sem fatores de conflitos como nacionalidades, convenções morais e religiosas. Lennon foi assassinado por causa de versos como os de Imagine. O assassino, Mark Chapman, era um "cristão renascido", cujo ódio tinha origem nas opiniões do ex-beatle sobre deus e religiões.  

Lennon sonhou que um dia os bens materiais não fossem um objetivo da vida, como um "santo graal" da acumulação. Se Mark Chapman tivesse errado o tiro, ele teria hoje 80 anos. Veria que meio século foi pouco para uma mudança das mentalidades. Imagine é anticapitalista. Lennon constataria que o capitalismo se revigorou e se tornou ainda mais brutal ao parir o neoliberalismo mais concentrador de renda e gerador de pobreza extrema. "Você pode dizer que eu sou um sonhador. Mas eu não sou o único. Espero que um dia você junte-se a nós. E o mundo será como um só" continua sendo uma bela carta de intenções...

OUÇA A CANÇÃO AQUI

 Imagine

Imagine there's no heaven

It's easy if you try

No hell below us

Above us only sky

Imagine all the people

Living for today

Imagine there's no countries

It isn't hard to do

Nothing to kill or die for

And no religion too


Imagine all the people

Living life in peace

You may say, I'm a dreamer

But I'm not the only one

I hope someday you'll join us

And the world will be as one

Imagine no possessions

I wonder if you can

No need for greed or hunger

A Brotherhood of man

Imagine all the people

Sharing all the world

You may say, I'm a dreamer

But I'm not the only one

I hope someday you'll join us

And the world will live as one

Um Hamleto sem vacilo • Por Roberto Muggiati

Hamleto Stamato
O nome é o mesmo do Príncipe da Dinamarca, mas nosso herói nunca foi torturado por dúvidas como as que afligiam o personagem maior de Shakespeare. Hamleto Stamato, o pianista que criou o Speed Samba Jazz, fugiu na hora certa de uma Xangai onde a pandemia do coronavirus já se alastrava no início de 2020. Na ocasião, acompanhava o trombonista Raul de Souza, outro de nossos instrumentistas de circulação internacional (Raul vive na França). Hamleto escapou da China para Amsterdam, onde mora atualmente. (Antes do confinamento ele vivia na Ponte Amsterdam-Rio.) 

Filho do saxofonista Hamleto Stamato, estrela da banda de Hermeto Pascoal nos anos 70, o jovem Hamleto acompanhou figuras da MPB como Claudia Telles, Pery Ribeiro, Tim Maia, Danillo Caymmi e Leny Andrade, antes de se lançar na carreira própria com seu trio piano + baixo + bateria.

E agora – não me perguntem como – lançou seu nono álbum, Autoral, com o trio ampliado por três sopros (trompete, trombone, saxofone) e, em das nove faixas, a participação especial das cordas da Studio Orchestra de São Petersburgo, Rússia. Vejam só como a globalização – quando voltada para o bem – pode criar belas coisas. Bodas, com o trio de Hamleto acrescido pelo fluegelhorn de Jessé Sadoc e pelos 12 violinos, 6 violas e 4 violoncelos da Studio Orchestra de São Petersburgo, regida pelo brasileiro Kleber Augusto.

OUÇA AQUI


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

007 contra a Democracia


por O.V.Pochê 

Ernesto Araújo está na revista bolsonarista ironicamente chamada de A Verdade. A publicação é ligada ao site Jornal da Cidade on line, condenado por publicação de notícias falsas. Na capa, o discípulo de Olavo de Carvalho, o guru aparece como um 007 a serviço da ultradireita e pronto para combater o globalismo, segundo ele uma ideologia anticristã. 

Virou a piada da web. E, segundo o UOL, também virou chacota nas internas dos diplomatas do  Itamaraty. 

A ideia pode reder. A Verdade pode ter dado início a uma série de capas. Talvez inspiradas nos vilões dos quadrinhos e do cinema. 

Atenção fotógrafo das capas da revista  A Verdade. O general Heleno pode ser o Duende Verde na próxima edição; Pazuello fica bem de Dr. Octopus; Ricardo Salles posa de Demolidor; Bolsonaro é o Loki ou o Rei do Crime; Bia Kicis vai bem bem de Maria Tifoide. 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Comissária de companhia aérea censura decote de modelo. Caso levanta discussão sobre código "talibã" de vestimenta em voos

Comissária não gostou do decote e da barriga de fora da modelo Isabelle Eleonore, disse que ela não podia viajar de "biquíni" e mandou que se cobrisse.



A modelo denunciou o caso nas redes sociais.

"Aposto que seu eu tivesse seios menores ela não teria dito nada", disse, referindo-se à comissária. A companhia aérea pediu desculpas e afirmou que a tripulante errou. 
As fotos são reproduções do Instagram.  

por Jean-Paul Lagarride 

A tripulação de um avião de passageiros tem prerrogativas legais para tomar providências sempre que considerar que um usuário poderá colocar em risco a segurança do voo. O comandante detém a palavra final nessas avaliações. Desde que esses poderes foram ampliados a partir do ataque de terroristas islâmicos às Torres Gêmeas, alguns incidentes têm ocorrido, geralmente por excesso de zelo ou preconceito. 

Ultimamente, alguns tripulantes, por questões de moralismo e talvez até de fundamentalismo religioso, passaram a se preocupar com as roupas das mulheres que sobem a bordo. Jovens de shorts, saias curtas ou decotes têm sido obrigadas a trocar de roupa e cobrir-se ou não embarcam. Já aconteceu nos Estados Unidos e, dessa vez, o código de vestimenta foi imposto na Austrália. A modelo Isabelle Eleanore contou estava usando um top curtinho com alças e decote quando a comissária da Jetstar, em voo de Gold Coast para Melbourne, no domingo passado, avisou que ela não poderia viajar usando um "biquíni".  Não adiantou argumentar que a peça era um top. A tripulante trouxe-lhe um colete e mandou que o vestisse. 

Eleanore denunciou o caso e o constrangimento nas redes sociais. O jornal The Sun publicou sua história. A companhia aérea pediu desculpas. Alegou que a comissária errou e que as normas da Jetstar vetam só roupas que exibam imagens que possam ser consideradas ofensivas. 

No Instagram, ela comentou: "Aposto que seu eu tivesse seios menores ela não teria dito nada". 

BBC Brasil: dossiê contra políticas do governo brasileiro chega à Casa Branca. Democracia, coronavírus, emprego, direitos indígenas, desmatamento e violência policial estão entre os temas abordados





 
Matéria exclusiva da BBC Brasil publicada ontem e reproduzida por alguns jornais brasileiros, hoje, aponta que "quatro meses depois de fazer críticas públicas contra o desmatamento no Brasil, o presidente Joe Biden e membros do alto escalão do novo governo dos EUA receberam nesta semana um longo dossiê que pede o congelamento de acordos, negociações e alianças políticas com o Brasil enquanto Jair Bolsonaro estiver na Presidência."

A BBC Brasil obteve acesso aos documentos assinados por mais de 100 pesquisadores e já de posse do núcleo do governo Joe Biden, que ainda não definiu suas políticas para a América do Sul. A matéria é do repórter Ricardo Senna, correspondente do site em Londres e certamente será um bom tema para análises de dezenas de comentaristas nos canais de TV, logo mais. 

São mais de 31 páginas incisivas.  "O governo Biden-Harris não deve de forma nenhuma buscar um acordo de livre-comércio com o Brasil", frisa o dossiê, organizado em 10 grandes eixos: democracia e estado democrático de direito; direitos indígenas, mudanças climáticas e desmatamento; economia política; base de Alcântara e apoio militar dos EUA; direitos humanos; violência policial; saúde pública; coronavírus; liberdade religiosa e trabalho", recomenda o documento.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO SITE BBC BRASIL AQUI

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Cadê a garota da capa que estava aqui ? Sumiu...

 

Algumas capas de revistas estrangeiras em 2021.


No Brasil, algumas revistas sobreviventes.

por José Esmeraldo Gonçalves

O panorama de títulos de revistas no Brasil é devastador. Não é o que acontece em muitos países, onde milhares de veículos impressos sobrevivem. A propalada crise do modelo de negócios no que se refere a revistas impressas foi, no Bananão, como dizia Ivan Lessa, um tsunami. Como se as editoras fossem uma "Pompéia" soterrada de uma hora para outra e coberta de cinzas. 

O fim de muitas revistas levou embora opções de qualidade no campo das reportagens, do fotojornalismo, do comportamento, da economia, do serviço, entre outros segmentos. 

O que impressiona é que as revistas vaporizadas foram substituídas por... nada. O meio é a mensagem, lembram?, e o meio digital não tem o alcance gráfico das revistas. É outro patamar, que obviamente vai evoluir, quem sabe da 5G para a revista holográfica quando uma reportagem ilustrada será fielmente encenada na sua sala. 

Comunicólogos que estudem essa particularidade brasileira e tentem explicar porque o mercado editorial de revista foi aqui praticamente destruído, restando bravos e poucos sobreviventes. 

Nosso foco é mais embaixo, mais pop. 

Independentemente da conclusão dos futuros estudos, apontamos que a  grande vítima foi a garota da capa. Sumiu. Xuxa e Luíza Brunet serão imbatíveis para sempre. Cada uma fez mais de 100 capas, da Manchete à Playboy.  

Tudo bem, as garotas sem capa agora se viram em ensaios no Instagram, que elas mesmas produzem. Ok, atingem milhões, mas não recebem de volta o impacto estético de uma capa impressa, brilhante, que pode ser vista permanentemente, sem cliques, muito além da dimensão de uma tela de smartphone. É isso não é nostalgia, é uma abordagem técnica. Uma questão espacial, de forma, tamanho, posição. 

Tem a ver com a geometria, uma linha da matemática. Perguntem às garotas que foram capas. 

Ou, lá fora, às garotas que ainda são capas.

Ontem foi Yèyésday! • Por Roberto Muggiati

James Joyce – quem diria ? – é filho de Iemanjá. Celebrado anualmente pelo Bloomsday em 16 de junho (dia em que transcorre a ação do seu romance Ulisses), o escritor irlandês nasceu em 2 de fevereiro, dia da Rainha do Mar, que tem seu nome derivado de Yèyé, “mãe dos filhos peixes” em iorubá. Quem fez espertamente a associação, no jornal O Globo, foi Dirce Waltrick do Amarante. Autora de Para ler ‘Finnegans Wake de James Joyce’, ela vai adiante: “Ao dar protagonismo a Anna Livia Plurabelle no romance Finnegans Wake (1939), acabou homenageando também a divindade.” Na mitologia irlandesa, o nome Anna estaria relacionado ao da deusa Danu, da terra e da água, rios, mares. Livia é a latinização do rio Liffey, que corta a cidade de Dublin. Iemanjá se revela plural (Plurabelle) com natureza sempre cambiante. 

E Dirce arremata: “A Danu de Joyce, assim como Iemanjá, acolhe todos os filhos ‘nacionais e estrangeiros’ (...) o escritor sublinha que todos são bem-vindos em Finnegans Wake e esse acolhimento se estende às diferentes línguas vivas e mortas que convivem no livro.” Saravá, irmão Joyce!

A PALAVRA DA HORA H

 

S p u t n i k


A vacina Sputnik V, desenvolvida pelo instituto russo de pesquisa Gamaleya para a Covid-19, teve eficácia de 91,6% contra a doença, segundo resultados preliminares publicados em 2 de fevereiro na revista científica "The Lancet", uma das mais respeitadas do mundo. A eficácia contra casos moderados e graves da doença foi de 100%. 

A notícia trouxe de volta o nome do primeiro satélite artificial da Terra, o Sputnik 1, lançado em 1957 pela União Soviética. O programa Sputnik, em russo Спутник, Satélite ou Companheiro Viajante,  produziu a primeira série de satélites artificiais concebida para estudar as capacidades de lançamento de cargas úteis para o espaço e os efeitos da ausência de peso e da radiação sobre os organismos vivos. Serviu também para estudar as propriedades da superfície terrestre com vista à preparação do primeiro voo espacial tripulado. 

Sobrou pros beats • Um mês antes, foi lançado o romance-manifesto da geração beat, On the Road, de Jack Kerouac. Imediatamente os beats passaram a ser chamados de beatniks, numa implicação de que eram todos comunistas. Na verdade, o Sputnik não teve nada a ver com isso: nik é um sufixo do iídiche que significa “inho”, e servia para apequenar os beats – os judeus de Nova York odiavam os beats, embora um judeu, Allen Ginsberg, integrasse a Santíssima Trindade Beat, com William Burroughs e Kerouac.


Proustiana
• Dois dias depois do lançamento do Sputnik eu fiz vinte anos. Contraparafraseando Paul Nizan, “eu não deixaria ninguém dizer que [não] é a idade mais bela da vida.” Era jornalista, funcionário público, estudava engenharia, saxofone, japonês, completara a Cultura Inglesa (com diploma de Cambridge) e a Aliança Francesa (com uma futura bolsa em Paris) e vivia intensamente a noite curitibana, turbinada pelo dinheiro das exportações de café do Paraná. Meu gosto da época não era uma madeleine embebida em chá de tília, mas uma dose de Cuba-libre no La Vie En Rose, aconchegante boate da Alameda Cabral, ao som do fabuloso grupo do gaúcho Breno Sauer. Tocava acordeão, piano e vibrafone, gravou uma meia-dúzia de LPs no eixo Rio-São Paulo, depois foi fazer a América e ficou por lá até morrer em 2017 aos 77 anos em Chicago. O Cuba-libre, aquela mistura de rum e Coca-cola num copo alto com gelo e uma rodela de limão fazia sucesso na época. Vinha com um pratinho de amendoim torrado salgado e custava dezoito cruzeiros, o equivalente a um dólar na época.

Enquanto o Sputnik orbitava eu viajava no som sofisticado de Breno Sauer, ouçam sua versão de A Felicidade - Roberto Muggiati

https://www.youtube.com/watch?v=Qtoq0iqXNcs


O que a "selfie" do Globo tem a ver com o Sargento Pimenta

A "filarmônica" jornalística do Globo e...


... a banda do Sargento Pimenta

por O.V. Pochê

No futuro, essa primeira página do Globo vai virar cult. 

A "selfie" jornalística foi o acontecimento mais importante daquele dia, segundo o critério do editor. 

Não reúne corações solitários, mas em plena pandemia faz ilustre aglomeração de colunistas. Nunca um jornal teve tantos, daí a importância da "selfie'. 

Óbvio que uma simples edição do jornal em papel não é capaz de acomodar a todos. Não haveria o distanciamento necessário. Fiquem tranquilos, eles não precisarão pegar senha para ocupar espaço, farão um revezamento, segundo a matéria de apresentação. Como se fossem diaristas? É para não implicar em relação trabalhista, segundo uma das reformas defendidas pelo Globo? Não se sabe o motivo, se editorial ou funcional. O Globo demitiu muitos e experientes repórteres nos últimos anos. Eram os profissionais que corriam atrás da notícia. Aparentemente, a notícia agora são os colunistas. Virá em revezamento e em cascatas.  Mas o Globo é um jornal tradicional. Deve saber o que está fazendo. Apenas destacou em página nobre os profissionais que admira. Muito justo.

Quando produziram a capa do LP do Sargento Pimenta, os Beatles fizeram algo parecido. Juntaram seus ídolos. A ideia foi do Paul McCartney, que pediu aos parceiros que escrevessem em um papel os nomes das personalidades que admiravam. Não sei se o Globo fez o mesmo. De qualquer forma, deu nessas duas imagens célebres. 

A capa dos Beatles tem pelo menos um ponto em comum com a do Globo. Entre artistas, compositores e até boxeador, os Fabfour mostrava figuras que viviam de escrever. Estão lá, por exemplo, Edgar Allen Poe, Aldous Huxley, Dylan Thomas, William Burroughs, Karl Marx, H.G. Wells, Oscar Wilde... Vários desses colaboraram com jornais. Wilde escrevia para uma revista. Burroughs foi jornalista. H.G.Wells começou a carreira como jornalista. 

A foto do Sargento Pimente gerou, ao longo do tempo, lendas, teorias da conspiração, fantasias e fake news. 

Só o tempo dirá o que a inusitada primeira página do Globo vai deixar para a história.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A FRASE DO ANO 2020

 “Não consigo respirar!” (#ICantBreath!)

Por uma coincidência notável, os sintomas da doença que já matou 2.235.401 pessoas até as 21 horas de Brasília do dia 1º de fevereiro de 2021 – a Síndrome respiratória aguda grave (SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome)– coincidem com as últimas palavras de um negro morto estrangulado pela pressão do joelho de um policial em Minneapolis, nos Estados Unidos, “I can’t breath!” (“Não consigo respirar!”). 



Reproduções Twitter

A frase de George Floyd tornou-se o hashtag da nova escalada dos protestos antirracistas e é altamente simbólica do estado de espírito de uma importante minoria ainda fortemente discriminada e oprimida pela cor de sua pele. 

Na verdade, a frase (“Não consigo respirar!”) havia sido dita onze vezes em 2014 pelo negro Eric Garner, antes de morrer estrangulado por um policial de Nova York. E foi repetida na véspera do Dia da Consciência Negra por João Alberto Freitas, asfixiado por seguranças de um supermercado Carrefour em Porto Alegre. Em consonância com o racismo estrutural assassino, milhões vêm se debatendo nos últimos meses em hospitais pelo mundo afora gritando “Não consigo respirar” em suas múltiplas línguas. Roberto Muggiati 

O ano em que um povo foi marcado... Isso lembra alguma coisa?

1932: sob controle de Hitler, o Reichstag elege a mesa diretora.

por José Esmeraldo Gonçalves

Olhe em volta, ajuste o calendário para 1932, faça de conta que vive aqueles dias. Ligue o rádio. A Alemanha está agitada. Não se fala em outra coisa. O controle do Parlamento está em jogo.  

1932 foi o ano em que o povo alemão foi marcado. Naquelas eleições, os nazistas emplacaram 230 representantes e passaram a controlar o Reichstag. 

Um ano depois, um incêndio destruiu o prédio. Os nazis criaram a "narrativa", como se diz na palavra desgastada hoje, segundo a qual o ato representava o início de uma "revolução comunista". Foi a senha para o passo seguinte. Hitler se aliou ao "centrão", personificado pelo partido conservador DNVP, e obteve a maioria parlamentar. Com isso, o presidente Hindenburg foi pressionado a nomear o líder nazista como chanceler, em 30 de janeiro de 1933. Nessa condição, ele articulou um ato institucional que transferia para o executivo poderes legislativos. 

Em poucos meses, a oposição estava extinta no país. Hitler tornou-se führer. O "mito, mito, mito" para seus seguidores. E aí começou efetivamente o regime nazista com as reformas prioritárias, que os jornais aliados defendiam como a nova ordem tributária, administrativa, jurídica, política, orçamentária e, claro, as pautas ideológicas e de costumes efetivamente implantadas. E a Alemanha, já então acima de tudo, esmagou a liberdade.

Aqui acaba sua viagem no tempo. 

Volte para 2021 e ouça Zé Ramalho 

AQUI...

 Vocês que fazem parte dessa massa/ Que passa nos projetos do futuro/ É duro tanto ter que caminhar/ E dar muito mais do que receber...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Jornalismo: como as pessoas entendiam as notícias sem que um comentarista explicasse o que estavam vendo?

O repórter vai sobreviver? 

A pergunta é valida. Milhares de jornalistas foram demitidos nos últimos anos. E na maioria dos dispensados estavam profissionais da base do jornalismo: a reportagem. 

Crise econômica, novos modelos de negócio, reestruturação, o impacto das mídias digitais, extinção de versões impressas foram alguns dos motivos apontados pelas empresas. Nesse quadro, investir em colunistas e comentaristas tornou-se uma prioridade visível. Claro que informação e análise devem andar juntas, mas interpretar mais as circunstâncias de um fato conhecido do que apurar os próprios fatos parece desequilibrar um conceito consagrado do bom jornalismo. É comum âncoras e comentaristas levaram horas conversando sobre uma notícia. É inusitado que, nessas conversas, o apresentador ou apresentadora invariavelmente encaixe uma pergunta ao comentarista: "Fulano, o que vai acontecer agora"? E o fulano incorpora o vidente e ousa detalhar o que vai rolar, as reações de um e outro etc.

As limitações impostas pela pandemia  ao longo de 2020 afetaram a mobilidade dos repórteres para apuração efetiva e, com isso, estes perderam ainda mais espaço para os colunistas e comentaristas. Aparentemente, isso afetou principalmente os veículos tradicionais. Alguns dos principais furos de reportagem no período, as indispensáveis exclusivas, vieram do The Intercept, Metrópoles, Antagonista, El Pais Brasil, BBC Brasil, entre outros, que continuaram com a reportagem de campo no radar. Vale dizer que a revista Época teve uma boa fase de exclusivas, mas mudanças na redação parecem ter domesticado a revista. A Veja, que foi tão combativa no período anterior ao golpe, hoje parece ligada a respiradores. A Istoé opera muito na "cozinha", a técnica de juntar fatos conhecidos e construir uma abordagem retrofitada. Já veículos como Globo News e CNN, por exemplo, preferem manter uma multidão de comentaristas dissecando - às vezes repetidamente - assuntos correntes e geralmente não exclusivos. Talvez por isso, no Grupo Globo, um programa como o Fantástico, que não mantêm analistas da notícia, é um que ainda não perdeu o foco nas exclusivas. E o homem mais procurado de 2020, o Queiroz das "rachadinhas", teve seu esconderijo exposto por uma "antibolsonarista', precisamente a filha do Olavo de Carvalho, o guru do anormal que nos governa. A mídia em geral o procurava, mas limitava-se a perguntar a advogados onde o procurado se homiziava, se iria se apresentar. Claro que nunca teve resposta. 

No último domingo,  a principal matéria do jornal O Globo, com título na área nobre da primeira página, foi o reforço da equipe de colunistas. Um fotomontagem mostra os 36 escribas fixos, sem contar os convidados eventuais. Do grupo, apenas uns três ou quatro garimpam efetivamente valiosas informações exclusivas. 

Nada contra, mas repórteres de fazem falta. 

A pandemia também levou a excessos o chamado "jornalismo declaratório", que é a produção de matérias com base apenas nas declarações de fontes oficiais, assessorias ou, no máximo, de fontes laterais com interesses quase  semelhantes. Qual a utilidade de ouvir, por exemplo, o Mourão? Ele fala o óbvio. A mídia desloca repórteres quase todo dia para "repercutir" uma fala qualquer do Bolsonaro e o Mourão cumpre sua função subserviente de "passar pano" na verborragia do chefe.  

Não é só a população que aguarda ansiosamente a vacinação, o público também espera que a mídia se imunize contra o excesso de "explicadores" e não desista dos repórteres. 

Fica a pergunta: como as pessoas entendiam as notícias antes da existência do batalhão de analistas que nos explicam o que estamos vendo?    

A origem exata do SARS-CoV-2? A OMS tenta responder à pergunta de 100 milhões de infectados

Com o planeta sequestrado por um vírus que já infectou mais de 100 milhões de pessoas e fez mais de 2 milhões de vítimas fatais, a OMS inicia a investigação sobre a origem da Covid-19. Cientistas da OMS visitaram ontem o mercado de Wuhan, o primeiro foco identificado, que teria sido o epicentro da pandemia. Mas dúvidas persistem. O processo de mutação leva um tempo até que um vírus se torne explosivamente contagiosos. Um artigo do jornal chinês Global Times diz que em dezembro de 2019, quando surgiram os primeiros casos da doença, o  SARS-CoV-2 já era capaz de se transmitir em progressão acelerada. Ao mesmo tempo, também não ainda dados que indiquem outra outra origem do vírus. Cabe à equipe da OMS - cujo roteiro de visitas a cidades, hospitais e outras instalações chinesas, não foi divulgado -  desvendar o mistério. 

domingo, 31 de janeiro de 2021

A PALAVRA DA HORA H

 S e x t o u! 

* O neoverbo “sextar”, que exalta a chegada da sexta-feira, além do seu hedonismo barato já nasceu obsoleto, como ficaram as expressões “cair a ficha” e “queimar o filme”. Surgiu num momento em que as relações temporais e espaciais de trabalho já estavam totalmente subvertidas, tendência reforçada pela pandemia. Fazia sentido celebrar a chegada da sexta feira quando ela era o último dia útil da semana de trabalho de 40 horas e quando a maioria das pessoas se concentrava nos opressivos escritórios de grandes firmas e o conceito de “home office” ainda era uma perspectiva quase utópica. 

Hoje, com a informalidade crescente da economia, o sujeito trabalha no dia que quer, à hora que quer, de preferência em casa. Um filme americano de 1978 definiu admiravelmente a questão, tirando seu título do grito de guerra dos empregados às sextas-feiras: T.G.I.F.! – Thank God It’s Friday/Graças a Deus é Sexta-feira.

No Brasil bozófilo a gíria, corrente na internet, viralizou a partir de uma música chamada Sextou, do grupo Forró da Pegação. Na verdade, sua popularização veio através da versão de Israel Novaes e Wesley Safadão. Eis uma visão do paraíso destes nossos “sextantes” de hoje:

“Hoje é sexta-feira, dia de torrar o salário/ Dá bicuda em rapariga e fumar cigarro ao contrário/ Vê se a ruiva é ruiva mesmo, mastigar abelha com mel/ Mandar foto pra ex, pelado com três no motel.

Etimologia • Na maioria das línguas latinas, sexta-feira é o Dia de Vênus: vendredi (francês), venerdi (italiano), viernes (espanhol);em inglês e alemão é respectivamente Friday e Freitag, dia livre. Em português, “a última flor do Lácio”, que nesse caso infelizmente resvalou para uma língua de quitandeiros, ficou sexta-feira... • Roberto Muggiati

PARA OUVIR "SEXTOU":AQUI

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Monica de Bolle, a analista que deixa "guedistas " de "saia justa", é a nova colunista do El Pais

 

Reprodução Twitter


Monica de Bolle está no El Pais. PHD em Economia, professora da Escola para Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e pesquisadora sênior do Instituto Peterson para Economia Internacional, ela tem presença ativa nas redes sociais e é frequentemente acionada pela mídia brasileira, especialmente no momento em que a Covid-19 faz com que a economia se entrelace com a saúde, mais do que nunca. 

Aparentemente, de Bolle já foi mais acionada pela Globo News e pela CBN. Seus comentários divergem da opinião majoritária das comentaristas dos dois veículos, que estão fechados com Paulo Guedes. Ela defendia, por exemplo, desde o começo do ano passado, que a gravidade da pandemia pedia a demolição do teto de gasto. Isso irrita profundamente os (as) guedistas. 

Na semana passada, de Bolle, chamada a comentar as relações comerciais do Brasil com os Estados Unidos na era Biden, apontou as escolhas erradas do governo. Diante do retrato livre, sem retoques, traçado pela economista, foi visível a tensão, no estúdio em São Paulo, da comentarista de mercado Juliana Rosa, uma especialista em cavar boas notícias no terreiro de Paulo Guedes. Após a fala de Monica de Bolle, a comentarista Juliana Rosa foi buscar uma estatística do passado para justificar as pífias trocas comercias dos dois países.  O que não foi possível disfarçar foi o link Washington-São Paulo carregado de eletricidade. Para os comentaristas de mercado do Grupo Globo, Paulo Guedes é intocável.

Pizza de assédio al dente

 


por O.V. Pochê

Se esse caso de assédio explícito virar pizza, como parece, a Assembleia de São Paulo vai legalizar o ato de encoxar. Ninguém vai estar a salvo nos corredores da Casa. Vão liberar o uísque antes e o salve-se quem puder depois. "Tirar o sofá da sala" vai ser substituído "por tirar as câmeras do recinto". Um perímetro de 200 metros em torno do prédio vai virar área de risco. Meninas, não se aventurem.

Boquinhas acima de tudo, leite condensado e chiclete acima de todos

 


Fotomemória da Rua do Russell: o restaurante que fazia revistas

O staff posa na cozinha da Bloch: com  o chef Severino Dias, no alto, aparecem, entre outros, Zé Maria, Nunes, China, Geraldo e Dona Arminda. Foto: Acervo José Carlos Jesus

O prédio da Manchete, na Rua do Russell, tinha três restaurantes e uma cozinha industrial. No décimo andar ficava o espaço mais restrito, destinado aos diretores e convidados. No terceiro andar - que também era frequentado pela cúpula da empresa -  e no térreo ficavam as praças de alimentação dos funcionários. A comida era de qualidade e, durante anos, 0800. Lá pelo fim dos 70, foi instituído um ticket que era descontados dos salários. 

Nos tempos da boca-livre, quando o prédio ainda não abrigava a TV, o restaurante do terceiro andar tornou-se um point da cidade. Não um endereço aberto ao público, mas bastante apreciado por artistas, empresários, publicitários, amigos da casa, visitantes ocasionais. Alguns eram nem um pouco ocasionais. Havia um ator famoso como vilão no cinema que era quase um colega, de tanto descolava o rango da Bloch. Geralmente ia ao Russell a pretexto de falar com o Justino Martins e se deixava ficar, ora consultava o relógio, ora ia à janela apreciar a vista, até que a redação descia para almoçar e ele se incorporava ao grupo. O vilão não escapava da ironia de Oscar Bloch dirigida ao próprio Justino. "Ele agora trabalha aqui?", repetia a pergunta semanalmente, mensalmente, anualmente. O pessoal de teatro e cinema, menos abonado, era, digamos, mais rotineiro. Um humorista que vivera melhores dias e estava em baixa também era um apreciador dos pratos do chef Severino. Na pior, a fome para ele não era piada.

É dessa época a frase "Manchete é um restaurante que faz revistas". Muitas vezes as duas habilidades se realizavam ao mesmo tempo. Da cozinha saiam os sanduíches das madrugadas que serenavam estômagos durante as longas e exaustivas horas de fechamentos de edições especiais ou de revistas atropeladas por fatos relevantes e urgentes. Ou, ainda, no Carnaval, levando uma boia fast food para as redações de Manchete, Fatos & Fotos e Amiga virando noites. No menu, invariavelmente, o tradicional pão francês com ovo que inspirou o nome deste blog segundo a versão latina por Carlos Heitor Cony.

A Manchete também oferecia muitas recepções monumentais. A principal talvez fosse por ocasião da entrega do Prêmio Tendência. A cada ano a revista de economia da editora premiava ministros e empresários. O PIB ia jantar no Russell ao lado de presidentes, tecnocratas em geral,  economistas e os donos das maiores agências de publicidade do país. A foto acima, com todo o staff embecado e reunido na cozinha é, provavelmente, dos bastidores de uma dessas ocasiões.