Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
Mostrando postagens com marcador Aconteceu na Manchete as histórias que ninguém contou. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Aconteceu na Manchete as histórias que ninguém contou. Mostrar todas as postagens
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Fotomemória da redação: "reunião de pauta" no Arab da Lagoa
Uma foto, um tempo, 15 anos atrás. A ideia de fazer um livro sobre a vivência de cada um no mundo indecifrável da Manchete surgiu em um bar, o do Hotel Novo Mundo. A coletânea "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" talvez tenha sido a única do gênero que ganhou corpo e alma em muitas "reuniões de pauta" quase festivas. Novo Mundo, Degrau, Barril 1500... A foto acima, de 2006, no Arab, da Lagoa, mostra alguns dos autores. Por incrível que pareça, o livro não ficou só em "conversa de bar". Saiu das mesas para a editora, a Desiderata, e foi lançado em 2008.
quarta-feira, 29 de julho de 2020
Agosto, 2000 - E a Manchete faliu - 20 anos depois, um relato de quem esteve no olho do furacão
por Jussara Razzé (*)
Às vésperas da falência da Bloch, o Departamento Jurídico era, por motivos óbvios, o centro nervoso da empresa. Tensão, decepção, preocupação quanto ao futuro de todos e de cada um eram as sensações que nos acompanhavam de dia e nos tiravam o sono à noite.
Em 1993, eu já vivera de perto uma prévia desse drama. Era, então, secretária de Adolpho Bloch durante o período de retomada da Rede Manchete após uma das vendas fracassadas. Naquela ocasião, o futuro da empresa parecia comprometido, mas nada se comparava com aqueles últimos meses de sobrevida, às vésperas de agosto de 2000. Era como se um trem, sem freio, descesse uma montanha para um descarrilamento anunciado. Cobranças se sucediam, rolavam centenas de ações na Justiça, dívidas que se acumulavam, processos trabalhistas, impostos e tributos em
atraso crônico.
Seria exagero dizer que oficiais de Justiça faziam fila na porta do Russell, mas que eram figurinhas fáceis, cotidianas e insistentes na recepção do prédio lá isso eram. Conhecíamos todos eles pelo nome, tal a freqüência das visitas. No centro do furacão, eu e meus colegas do departamento, que sabíamos da gravidade da situação muito mais do que a grande maioria dos funcionários, precisávamos de um jogo de cintura extra. Fora das salas do jurídico, todos, claro, tinham noção de que a vaca estava indo para o brejo. O que sequer imaginavam é que o brejo estava logo ali.
Quem trabalhava naquela “sala da crise”, tal como o cinema conta que existe na Casa Branca, vivia uma situação desagradável. Era natural que mantivéssemos sigilo em torno de uma rotina que envolvia procedimentos legais, mas ao mesmo tempo ficávamos embaraçados diante das perguntas dos colegas. No meu caso, se já estava aflita com a perspectiva próxima de perder o emprego e de já saber que teria que lutar anos na justiça para receber indenizações,salários atrasados, FGTS etc, a angústia aumentava ao ver nos olhos dos funcionários que pediam informações certo desejo de ouvir uma notícia boa em meio àquele caos. Algo que lhes desse um mínimo de esperança. No fundo, eu sabia que não era esperança o que almejavam, e sim um milagre.
Quando o desastre já parecia mais próximo, até o bate-papo depois do expediente no bar do seu Manoel, que anos antes ganhou o apelido de Color Bar - em alusão às barras cromáticas que orientam ajustes de cores no início das transmissões de TV- mesmo regado a chope, já não era tão animado quanto antes. Lá, normalmente, jogava-se conversa fora. Na reta final, cada um de nós, em função dos problemas dos últimos meses quando fora instituído o precário pagamento através de vales, já com aperto financeiro, começava a fazer planos e contatos para dar a partida na difícil tarefa de tentar procurar emprego em um mercado a cada dia mais restrito.
Nas últimas semanas, quando cruzava os corredores da Bloch ainda movimentados e com a agitação característica das revistas, como se fosse um Titanic onde a orquestra tocava a poucos metros do iceberg, eu não podia deixar de pensar que a qualquer momento luzes se apagariam, elevadores seriam desligados, mesas e corações esvaziados. Ao solicitar a autofalência, a empresa alegou textualmente em correspondência enviada à Justiça que as dificuldades surgiram no início dos anos 1990 “quando começaram a repercutir no meio empresarial brasileiro os graves problemas advindos de cinco planos econômicos, cinco moedas diferentes e de uma inflação que chegou a 89% mensais”. (...) “Com o alto custo das operações, o universo empresarial brasileiro precisou recorrer ao sistema bancário, uns mais outros menos, dentro da normalidade tradicional do mercado. Assim, em 1991, a Rede Manchete de Televisão Ltda. obtivera um empréstimo de 3 milhões de dólares no Banco do
Brasil. Por exigência da diretoria do banco, a transação teve Bloch Editores S.A. como avalista” (...). “Foi o início do perverso processo que levaria a empresa a enfrentar a situação em que agora se encontra. Não se tratava de uma dificuldade de Bloch Editores S.A., mas da TV Manchete Ltda., o que levou Adolpho Bloch a vendê-la no ano seguinte”, sugere o documento, que aponta, mais adiante, outras dificuldades extremas como conseqüência de uma das tentativas de venda da Rede Manchete, transação que acabou cancelada pela justiça levando a TV a ser devolvida à Bloch com novas dívidas e compromissos não cumpridos, e da explosão dos juros sobre os empréstimos e dívidas como mais um subproduto das mal-sucedidas operações de transferência dos ativos e passivos da TV. A tempestade que atingiu a TV finalmente arrastou a Bloch. A carta enviada à Justiça referia-se, ainda, às duas mil famílias vinculadas à editora. De resto, as grandes vítimas de todo esse imbróglio.
No último dia, caminhando em direção ao elevador, pela derradeira vez, em meio a colegas que se apressavam em retirar objetos pessoais antes que o lacre da lei nas portas tornasse a falência uma cruel realidade, pensei na vida que passei lá dentro. Foram dezesseis anos na editora, em vários setores. Meu primeiro contato com a Bloch Editores deu-se em 1983, quando trabalhava no Departamento Pessoal do Ilha Porchat Club, em São Vicente, São Paulo. O clube era um dos vários locais no país que, em parceria com uma das publicações da editora, a revista Carinho, promovia todo ano o Concurso Garota Carinho, destinado a escolher jovens aspirantes a modelo, interessadas em sair na capa da revista que já tinha lançado para a fama ninguém menos do que Xuxa.
Além desse evento, o clube realizava, entre outros, um baile pré-carnavalesco, chamado Uma Noite Nos Mares do Sul, que recebia das revistas Manchete e Fatos&Fotos uma ampla cobertura. Por conta dessa parceria tradicional o presidente do clube, Odárcio Ducci tinha ótima relação com alguns diretores da Bloch, entre os quais o jornalista José Rodolpho Câmara. Quando pedi demissão e informei que iria morar no Rio, Odárcio imediatamente me recomendou, por meio de uma caprichadíssima carta de referência, à diretora da revista Carinho, Marília Campos. Assim teve início, em maio de 1984, minha relação com a empresa onde trabalhei durante dezesseis anos: até o seu final, com a decretação da falência em agosto de 2000, e mais dois anos trabalhando para a massa falida, junto com um grupo de jornalistas que conseguiu, com autorização judicial, continuar editando algumas das revistas do grupo, como Manchete, Pais&Filhos, Ele&Ela e outras.
Curiosamente, ao lado de colegas que trabalharam na extinta editora, ainda mantive um vínculo com a revista Manchete. Em 2002, o empresário Marcos Dvoskin arrematou em leilão vários títulos de revistas da Bloch, entre os quais o da Manchete. Dvoskin resolveu lançar uma edição especial com a cobertura do carnaval, apostando em um público que durante anos se acostumou a ver na revista uma excepcional cobertura da folia. Para isso, por meio do editor Lincoln Martins, arregimentou um grupo de ex-funcionários da Bloch, entre repórteres, fotógrafos e coordenadores acostumados àquele trabalho. Entre 2002 e 2006, botamos o bloco da Manchete na avenida, tal como nos velhos tempos. Uma das compensações pelo árduo trabalho foi descobrir que a revista permanecia na memória afetiva de muita gente. Não eram poucos os que nos cumprimentavam e incentivavam. E aquelas edições especiais eram as primeiras a chegar às bancas, sempre na Quarta-Feira de Cinzas.
Uma vez por ano, Manchete voltava a brilhar, como uma alegoria do passado, em um campo onde já fora imbatível: sob o ritmo e as luzes do Sambódromo carioca.
(*) Relato publicado no livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) lançado em 2008.
Vinte anos depois da falência, a maioria dos ex-funcionários da Bloch ainda luta junto à Massa Falida da Bloch Editores para receber a correção monetária devida nas suas indenizações, enquanto outros ainda aguardam a conclusão dos seus processos.
Às vésperas da falência da Bloch, o Departamento Jurídico era, por motivos óbvios, o centro nervoso da empresa. Tensão, decepção, preocupação quanto ao futuro de todos e de cada um eram as sensações que nos acompanhavam de dia e nos tiravam o sono à noite.
Em 1993, eu já vivera de perto uma prévia desse drama. Era, então, secretária de Adolpho Bloch durante o período de retomada da Rede Manchete após uma das vendas fracassadas. Naquela ocasião, o futuro da empresa parecia comprometido, mas nada se comparava com aqueles últimos meses de sobrevida, às vésperas de agosto de 2000. Era como se um trem, sem freio, descesse uma montanha para um descarrilamento anunciado. Cobranças se sucediam, rolavam centenas de ações na Justiça, dívidas que se acumulavam, processos trabalhistas, impostos e tributos em
atraso crônico.
Seria exagero dizer que oficiais de Justiça faziam fila na porta do Russell, mas que eram figurinhas fáceis, cotidianas e insistentes na recepção do prédio lá isso eram. Conhecíamos todos eles pelo nome, tal a freqüência das visitas. No centro do furacão, eu e meus colegas do departamento, que sabíamos da gravidade da situação muito mais do que a grande maioria dos funcionários, precisávamos de um jogo de cintura extra. Fora das salas do jurídico, todos, claro, tinham noção de que a vaca estava indo para o brejo. O que sequer imaginavam é que o brejo estava logo ali.
Quem trabalhava naquela “sala da crise”, tal como o cinema conta que existe na Casa Branca, vivia uma situação desagradável. Era natural que mantivéssemos sigilo em torno de uma rotina que envolvia procedimentos legais, mas ao mesmo tempo ficávamos embaraçados diante das perguntas dos colegas. No meu caso, se já estava aflita com a perspectiva próxima de perder o emprego e de já saber que teria que lutar anos na justiça para receber indenizações,salários atrasados, FGTS etc, a angústia aumentava ao ver nos olhos dos funcionários que pediam informações certo desejo de ouvir uma notícia boa em meio àquele caos. Algo que lhes desse um mínimo de esperança. No fundo, eu sabia que não era esperança o que almejavam, e sim um milagre.
Quando o desastre já parecia mais próximo, até o bate-papo depois do expediente no bar do seu Manoel, que anos antes ganhou o apelido de Color Bar - em alusão às barras cromáticas que orientam ajustes de cores no início das transmissões de TV- mesmo regado a chope, já não era tão animado quanto antes. Lá, normalmente, jogava-se conversa fora. Na reta final, cada um de nós, em função dos problemas dos últimos meses quando fora instituído o precário pagamento através de vales, já com aperto financeiro, começava a fazer planos e contatos para dar a partida na difícil tarefa de tentar procurar emprego em um mercado a cada dia mais restrito.
Nas últimas semanas, quando cruzava os corredores da Bloch ainda movimentados e com a agitação característica das revistas, como se fosse um Titanic onde a orquestra tocava a poucos metros do iceberg, eu não podia deixar de pensar que a qualquer momento luzes se apagariam, elevadores seriam desligados, mesas e corações esvaziados. Ao solicitar a autofalência, a empresa alegou textualmente em correspondência enviada à Justiça que as dificuldades surgiram no início dos anos 1990 “quando começaram a repercutir no meio empresarial brasileiro os graves problemas advindos de cinco planos econômicos, cinco moedas diferentes e de uma inflação que chegou a 89% mensais”. (...) “Com o alto custo das operações, o universo empresarial brasileiro precisou recorrer ao sistema bancário, uns mais outros menos, dentro da normalidade tradicional do mercado. Assim, em 1991, a Rede Manchete de Televisão Ltda. obtivera um empréstimo de 3 milhões de dólares no Banco do
Brasil. Por exigência da diretoria do banco, a transação teve Bloch Editores S.A. como avalista” (...). “Foi o início do perverso processo que levaria a empresa a enfrentar a situação em que agora se encontra. Não se tratava de uma dificuldade de Bloch Editores S.A., mas da TV Manchete Ltda., o que levou Adolpho Bloch a vendê-la no ano seguinte”, sugere o documento, que aponta, mais adiante, outras dificuldades extremas como conseqüência de uma das tentativas de venda da Rede Manchete, transação que acabou cancelada pela justiça levando a TV a ser devolvida à Bloch com novas dívidas e compromissos não cumpridos, e da explosão dos juros sobre os empréstimos e dívidas como mais um subproduto das mal-sucedidas operações de transferência dos ativos e passivos da TV. A tempestade que atingiu a TV finalmente arrastou a Bloch. A carta enviada à Justiça referia-se, ainda, às duas mil famílias vinculadas à editora. De resto, as grandes vítimas de todo esse imbróglio.
No Departamento Fotográfico, os sinais do naufrágio da Bloch. |
Além desse evento, o clube realizava, entre outros, um baile pré-carnavalesco, chamado Uma Noite Nos Mares do Sul, que recebia das revistas Manchete e Fatos&Fotos uma ampla cobertura. Por conta dessa parceria tradicional o presidente do clube, Odárcio Ducci tinha ótima relação com alguns diretores da Bloch, entre os quais o jornalista José Rodolpho Câmara. Quando pedi demissão e informei que iria morar no Rio, Odárcio imediatamente me recomendou, por meio de uma caprichadíssima carta de referência, à diretora da revista Carinho, Marília Campos. Assim teve início, em maio de 1984, minha relação com a empresa onde trabalhei durante dezesseis anos: até o seu final, com a decretação da falência em agosto de 2000, e mais dois anos trabalhando para a massa falida, junto com um grupo de jornalistas que conseguiu, com autorização judicial, continuar editando algumas das revistas do grupo, como Manchete, Pais&Filhos, Ele&Ela e outras.
Curiosamente, ao lado de colegas que trabalharam na extinta editora, ainda mantive um vínculo com a revista Manchete. Em 2002, o empresário Marcos Dvoskin arrematou em leilão vários títulos de revistas da Bloch, entre os quais o da Manchete. Dvoskin resolveu lançar uma edição especial com a cobertura do carnaval, apostando em um público que durante anos se acostumou a ver na revista uma excepcional cobertura da folia. Para isso, por meio do editor Lincoln Martins, arregimentou um grupo de ex-funcionários da Bloch, entre repórteres, fotógrafos e coordenadores acostumados àquele trabalho. Entre 2002 e 2006, botamos o bloco da Manchete na avenida, tal como nos velhos tempos. Uma das compensações pelo árduo trabalho foi descobrir que a revista permanecia na memória afetiva de muita gente. Não eram poucos os que nos cumprimentavam e incentivavam. E aquelas edições especiais eram as primeiras a chegar às bancas, sempre na Quarta-Feira de Cinzas.
Uma vez por ano, Manchete voltava a brilhar, como uma alegoria do passado, em um campo onde já fora imbatível: sob o ritmo e as luzes do Sambódromo carioca.
(*) Relato publicado no livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) lançado em 2008.
Vinte anos depois da falência, a maioria dos ex-funcionários da Bloch ainda luta junto à Massa Falida da Bloch Editores para receber a correção monetária devida nas suas indenizações, enquanto outros ainda aguardam a conclusão dos seus processos.
sábado, 5 de dezembro de 2015
Memórias da redação: a dança dos "possidônios"
(do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou")
No começo, a Manchete tinha um repertório modesto de pseudônimos: Juliano Palha, José Bálsamo, Jean-Paul Lagarride, para as grandes coberturas internacionais, muitas vezes escritas ali mesmo na redação.
Em 1971, a seção Leitura Dinâmica, um "balaio" de pequenas notas, promoveu uma autêntica inflação de pseudônimos: Niko Bolontrim, Marina Francis, John Updown e o mais sucinto de todos, Ed Sá. Ruy Castro usava muito o de Acácio Varejão. Um dia, uma nova repórter, Marilda Varejão, quis saber a origem do pseudônimo. Ruy: "Inventei. Acaso existe algum Acácio Varejão?" Marilda: "Existe, sim. Meu pai".
Ney Bianchi viajava pelo sertão de Pernambuco com o fotógrafo Juvenil de Souza. Um prefeito local implicou com o fotógrafo: "Juvenil, mas que nome esquisito, rapaz!" Ney Bianchi perguntou o nome do alcaide: "Eu me chamo Onotônio". Daí surgiu o pseudônimo Onotônio Baldruegas.
Um dia, sopraram ao ouvido do Adolpho Bloch que pseudônimo não era jornalismo, era uma brincadeira. Havia na firma um funcionário encarregado dos orçamentos gráficos chamado Possidônio. Adolpho, que detestava palavras complicadas como pseudônimo, decretou: "A partir de hoje não quero mais "possidônios" na Manchete!"
No começo, a Manchete tinha um repertório modesto de pseudônimos: Juliano Palha, José Bálsamo, Jean-Paul Lagarride, para as grandes coberturas internacionais, muitas vezes escritas ali mesmo na redação.
Em 1971, a seção Leitura Dinâmica, um "balaio" de pequenas notas, promoveu uma autêntica inflação de pseudônimos: Niko Bolontrim, Marina Francis, John Updown e o mais sucinto de todos, Ed Sá. Ruy Castro usava muito o de Acácio Varejão. Um dia, uma nova repórter, Marilda Varejão, quis saber a origem do pseudônimo. Ruy: "Inventei. Acaso existe algum Acácio Varejão?" Marilda: "Existe, sim. Meu pai".
Ney Bianchi viajava pelo sertão de Pernambuco com o fotógrafo Juvenil de Souza. Um prefeito local implicou com o fotógrafo: "Juvenil, mas que nome esquisito, rapaz!" Ney Bianchi perguntou o nome do alcaide: "Eu me chamo Onotônio". Daí surgiu o pseudônimo Onotônio Baldruegas.
Um dia, sopraram ao ouvido do Adolpho Bloch que pseudônimo não era jornalismo, era uma brincadeira. Havia na firma um funcionário encarregado dos orçamentos gráficos chamado Possidônio. Adolpho, que detestava palavras complicadas como pseudônimo, decretou: "A partir de hoje não quero mais "possidônios" na Manchete!"
Marcadores:
Aconteceu na Manchete as histórias que ninguém contou,
Adolpho Bloch,
Juvenil de Souza,
Manchete,
Marilda Varejão,
Memórias da redação,
ney bianchi,
Ruy Castro
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
Não chega a quebrar as bancas, mas essa página, no ar desde junho de 2009, acaba de virar o "blog do milhão'"...
O tempo passa. O livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" foi lançado em novembro de 2008. Como parte do projeto, estava prevista uma versão em blog, que finalmente entrou no ar em junho de 2009. Uma simples página de variedades, atualidades, opiniões, mas também um espaço próprio para uma espécie de continuação permanente do "Aconteceu". O próprio livro trazia nas margens das páginas, com design criado por J.A.Barros, uma série de pequenas histórias paralelas as quais denominamos "Blog da Bloch". Era um prenúncio deste Panis Cum Ovum, batizado por Carlos Heitor Cony. Ultrapassar a barreira do milhão não é nenhuma Brastemp. Mas vale registrar o número redondo no contador da barra ao lado, que significa algo em torno de 12 mil mil visitantes por mês, em média. Poderia até ser mais, se tivesse uma redação com dedicação exclusiva, o que é impossível. Mas está de bom tamanho para o que se destina. Uma ponte entre épocas e pessoas. E, o principal, conta com poucos mas dedicados colaboradores. Pelo menos uma batalha foi perdida pelo blog quando tentou, em vão, sensibilizar instituições a adquirirem o arquivo de fotos da Manchete, um patrimônio histórico hoje desaparecido. Por aqui já passaram memórias, fotomemórias, bastidores das redações e do jornalismo, fatos, grandes eventos como Carnaval, Copa, Olimpíada, política, tragédias, entrevistas, alegrias, tristezas, viagens, críticas, variedades, cronistas, personalidades, enfim, partículas de um certo DNA da revista ilustrada inspiradora desta web magazine que já postou mais de dez mil fotos. E que, a propósito, segue em frente. Como dizia o locutor Fiori Giglioti, um lenda do rádio esportivo, o teeemmmpo passsaaaaaaa!. Ou, ainda, no bordão de outra lenda, Waldir Amaral, o relóoooogio maaaaaarca!
quinta-feira, 5 de março de 2015
Memórias da redação: o jeito foi baixar as calças
(Do livro Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" - Desiderata)
Supositório é item que jamais entra no rol do que se bota na mala em caso de viagem. Pois foi o que fez falta, no meio da feitura de importante matéria, a um fotógrafo da Manchete. Precisou usar de tal recurso médico cujos efeitos podem ser positivos e imediatos, mas a posição é absolutamente ridícula. O retratista estava na Polônia e, se já não era brilhante no idioma pátrio, imagina na língua deles. O jeito foi entrar na farmácia e tentar fazer a atendente compreender, por meio de gestos, o que ele queria. Em mímica, estava a léguas de Marcel Marceau, foi difícil e demorado explicar-se. No desespero, baixou as calças e, só de cuecas, virou-se de costas, mostrou o dedo médio e fez um movimento de ir-e-vir. Foi aí que a moça não teve mais dúvidas. "Ah, supositório"... Sotaque fora, em polonês, supositório soa como supositório mesmo. Não só a palavra, como o efeito. E a ridícula posição.
Supositório é item que jamais entra no rol do que se bota na mala em caso de viagem. Pois foi o que fez falta, no meio da feitura de importante matéria, a um fotógrafo da Manchete. Precisou usar de tal recurso médico cujos efeitos podem ser positivos e imediatos, mas a posição é absolutamente ridícula. O retratista estava na Polônia e, se já não era brilhante no idioma pátrio, imagina na língua deles. O jeito foi entrar na farmácia e tentar fazer a atendente compreender, por meio de gestos, o que ele queria. Em mímica, estava a léguas de Marcel Marceau, foi difícil e demorado explicar-se. No desespero, baixou as calças e, só de cuecas, virou-se de costas, mostrou o dedo médio e fez um movimento de ir-e-vir. Foi aí que a moça não teve mais dúvidas. "Ah, supositório"... Sotaque fora, em polonês, supositório soa como supositório mesmo. Não só a palavra, como o efeito. E a ridícula posição.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
Enquanto o arquivo fotográfico permanece desaparecido, coleções de Manchete, Fatos&Fotos, Amiga e outras revistas da Bloch estão disponíveis para consulta na Hemeroteca do Estadão. Pelo menos essa parte é boa notícia.
Coleções das revistas da Bloch, incluindo Manchete, na Hemeroteca do Estadão. Reprodução Instagram |
Exemplar da Manchete na Hemeroteca do Estadão. Reprodução Instagram |
Como nada disso aconteceu, a Hemeroteca do Estadão é uma ótima notícia e sua abertura ao público uma demonstração de cidadania.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Segundo Ricardo Feltrin, colunista do UOL, Xuxa vai trabalhar para o "bispo" Macedo
Xuxa Meneghel, às vésperas de completar 52 anos, decidiu fechar contrato com a Record. É a informação que está na coluna de Ricardo Feltrin, no UOL. Desde o ano passado, a apresentadora estava afastada da Globo. O contrato com a emissora evangélica teria sido acertado na segunda-feira, dia 2, em Miami. Segundo o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), Xuxa foi descoberta por um funcionário do laboratório da Bloch, chamado Walter, que a viu em um trem e se impressionou com a beleza da menina. O fotógrafo Alexandre Cavalcanti, que trabalhou na Fatos & Fotos, levou uma foto de Xuxa à redação da Carinho, revista feminina dirigida a jovens. A então editora da publicação, a jornalista Daisy Prétola, teve a intuição de que a menina mostrava potencial para modelo e mandou chamá-la. Produzida, maquiada e dirigida, Xuxa, então com 16 anos, foi fotografada no estúdio da Bloch e da sua primeira sessão de fotos profissional saiu sua primeira capa, em 1979. Depois, vieram matérias de moda para a prestigiada Desfile, reportagens na Manchete, Fatos & Fotos, Amiga, Mulher de Hoje e ensaios para a EleEla. A carreira de apresentadora também começou na Rua do Russell. Coube ao diretor Maurício Sherman escalá-la para o programa Clube da Criança, onde estreou em 1983. Três anos depois, deixou a rede Manchete e estreou o Xou da Xuxa, na Globo, em junho de 1986. Ou seja: completaria 30 anos de plimplim só ano que vem. Confirmando-se a saída de Xuxa da Globo, ficam faltando informações sobre que tipo de programa fará na Record. Especula-se que deverá ser algo semelhante ao talk show da apresentadora Ellen DeGenneres.
Atualização
Segundo o colunista Lauro Jardim, no Radar da Veja on line, Xuxa fará na Record um programa diário no horário da tarde.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Estátua de Tom Jobim no Arpoador: homenagem ao compositor e uma bela lembrança da Manchete...
Foto Ricardo Cassiano/PMRJ |
Foto Ricardo Cassiano/PMRJ |
Tom e Vinicius em Brasília, 1958. Foto Carlos Kerr. Reprodução |
O Rio presta uma justa homenagem a Tom Jobim, 20 anos após sua partida, e de quebra lembra a Manchete. Christina Motta, autora da escultura, disse que se baseou em uma foto em que Tom estava com Vinicius de Moraes. Uma feliz inspiração. A foto aí está: foi publicada na Manchete e reproduzida no livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou". É de autoria de Carlos Kerr, mostra Tom e Vinícius em Brasília, em 1958, nas proximidades do Catetinho, como eram chamados a casa e o gabinete de JK na futura capital. Naquele mesmo ano, a dupla compôs a "Sinfonia de Brasília". Christina Motta é, entre outras obras, autora da escultura da atriz francesa Brigitte Bardot, em Búzios.
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Foto exclusiva de Paulo Scheuenstuhl/Manchete gera polêmica entre os leitores do Globo
A famosa foto exclusiva de Paulo Scheuenstuhl, feita para uma reportagem da revista Manchete, em 1967, continua dando o que falar. Agora com o devido crédito ao autor - o colega Paulo Xuxu, como era chamado nas redações da Rua do Russell - a imagem que registra um encontro dos grandes nomes da MPB da época, no terraço da casa de Vinícius de Moraes, levantou uma polêmica. A Manchete publicou a foto, depois reproduzida no livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), com um "mapa" de identificação dos personagens fotografados. Há, na verdade, três pessoas não identificadas na reportagem original. O colunista Ancelmo Góis, do Globo, chamou atenção para o "mistério", que alguns leitores tentam resolver. O "mapa" da Manchete numerou e identificou 24 pessoas. Na foto, há 27. A polêmica gira em torno do nome da mulher que segura um cachorro. O Globo já publicou duas notas com a repercussão do "mistério". Roberto Muggiati, ex-diretor da Manchete, garante que o nomes aventados até agora não conferem. O "mistério" continua.
Atualização, dia 8/11/2014, mais uma nota (abaixo) na coluna do Ancelmo Góis sobre o mistério da foto Paulo Scheuenstuhl/ Manchete.
Atualização, dia 8/11/2014, mais uma nota (abaixo) na coluna do Ancelmo Góis sobre o mistério da foto Paulo Scheuenstuhl/ Manchete.
domingo, 17 de agosto de 2014
A Rosa do Marechal
Severino, o chef de cuisine da Bloch, Adolpho e Marechal. Foto do Acervo de Lairton Cabral publicada no livro 'Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou". |
por Roberto Muggiati
Jovem repórter da
revista Manchete em 1967, a redação
de Frei Caneca ainda era para mim uma esfinge a ser decifrada. Entre os múltiplos
poderes e forças ocultas com que me defrontava, havia o Marechal, chefe dos
contínuos e “agente de inteligência” dos Bloch – na época chamávamos isso de
X-9. A redação ficava a léguas do pequeno prédio de dois andares da entrada,
onde Adolpho Bloch comandava a tesouraria. Lá nos
fundos, além de um pátio
cheio de máquinas desativadas – a gráfica se modernizara e mudara para Parada de Lucas – subia-se por um elevador de carga à redação, no segundo andar. Ao
sair do elevador, topávamos com um requinte que se destacava em meio àquele
ambiente escuro e sufocante sem janelas: uma máquina de café expresso, operada
pelo França e pelo Horácio. Como o café era de graça, e a cafeína energizava,
tomávamos uma xícara após a outra. A seguir, antes do acesso à redação, na
cabeça de um corredor, ficava a mesa do Marechal, instalado ali como uma
espécie de Cérbero guardando o portal de entrada do nosso inferno da cada dia.
Sobre a pequena mesa, havia uma dessas bolas de vidro com uma rosa artificial
dentro, exemplar típico da decoração kitsch
da época. É preciso lembrar aqui, que o Marechal era assim chamado por causa do
seu nome de batismo – Floriano Peixoto – e chegou a figurar numa lista dos Dez
Mais Elegantes do Ibrahim Sued. Alto, magro, negro retinto, foi estampado nas
páginas da revista de terno de linho branco e chapéu panamá.
Naquela época, a
editora Abril havia lançado a revista Realidade,
investindo com força em reportagens de qualidade. O jornalismo da Manchete, calcado na malandragem
carioca, logo partiu para canibalizar as vantagens da adversária. Realidade era mensal, Manchete semanal. Podíamos, assim, nos
valendo de uma discreta espionagem industrial, “furar” a rival. Um exemplo: Paris-Match, nosso modelo de estilo,
publicou uma reportagem de capa fascinante sobre o primeiro ano de vida do
bebê. Tentamos comprar a matéria e soubemos que já fora vendida à Realidade. Fui designado então, pelo
editor Justino Martins, a “reconstituir” a reportagem - da Paris Match recorrendo aos conhecimentos do dr. Rinaldo De Lamare,
um dos maiores pediatras da praça e autor do best seller da Bloch, A Vida do Bebê. Furamos a Realidade e a edição foi um sucesso
retumbante, tendo na foto de capa um bebezinho de um ano nu de pé. Era o
Arnaldo Bloch, sobrinho-neto do Adolpho, hoje jornalista de O Globo. Na Bloch, imperava sempre a
solução doméstica.
Quando estourou uma
crise que ocupou as manchetes dos jornais do mundo inteiro no Haiti do ditador
Papa Doc Duvalier, a Realidade estava
lá com uma dupla dinâmica de repórter e fotógrafo. Graças a minha amizade com o
diplomata Orlando Soares Carbonar – meu colega na Gazeta do Povo de Curitiba nos anos 50 – então chefe de gabinete do
Ministro das Relações Exteriores, Magalhães Pinto, consegui uma entrevista
exclusiva, no Palácio do Itamaraty – vendo os cisnes pela janela – com o
embaixador do Brasil em Port-au-Prince, Geraldo Rainho, que abrigara na
embaixada políticos perseguidos por Papa Doc e fora chamada de volta ao Brasil.
O depoimento vivo de Raínho, mais algumas pinceladas do livro Os comediantes,
de Graham Greene, cuja versão cinematográfica acabara de estrear com
estardalhaço (imaginem: Liz Taylor e Richard Burton nos papeis principais...),
me ajudaram a escrever um texto vibrante que dava a impressão de que eu
estivera lá, vendo tudo, no ventre da besta.
Uma vez mais, furamos a
Realidade. O problema é que a mulher
do repórter, ao ver a matéria da Manchete,
sentiu que eu estava ameaçando a carreira do marido, e partiu para uma desforra
pessoal. Invadiu Frei Caneca com uma amiga e, ao chegar à mesa do Marechal, foi
evidentemente barrada. Felizmente, eu estava na rua a serviço e escapei do
barraco. Impossibilitada de entrar, a mulher do repórter da Realidade pegou a bola de cristal da
mesa do Marechal e a arremessou com furor ao chão. A bola estilhaçou-se
em mil pedaços e a pobre rosa de crepom caiu ao chão em meio a uma poça d’água
– descobrimos então que a rosa kitsch
– quase uma Rosa de Hiroxima então – era envolvida por água dentro da sua
bolha. Quem resolveu a parada, exorbitando de suas funções, foi o diretor
financeiro Nelson Alves: aos trompaços, ele arrastou as invasoras até a calçada
de Frei Caneca e as lançou no olho da rua.
Essas súbitas
lembranças foram desencadeadas pelo telefonema que recebi esta manhã do Lairton
Cabral, comunicando a morte do Marechal, na última terça-feira, 12 de agosto,
no seu tugúrio da Região dos Lagos, aos 97 anos. Que todas as rosas do mundo –
artificiais, é claro – o acompanhem, Marechal!
domingo, 9 de março de 2014
Gervásio Baptista, 90 anos: Folha de São Paulo traz hoje matéria com o grande fotógrafo - e boa praça - que fez história na Manchete. Ainda em atividade, Gervásio trabalha atualmente no STF
Gervásio Baptista cobriu a Guerra do Vietnã. A Manchete o enviou para o front acompanhado do jornalista Murilo Melo Filho. Foto: Acervo Gervásio Baptista |
Enterro de Vargas, 1954: Gervásio fez a capa da edição especial da Manchete. Foto: Acervo Gervásio Baptista |
Revolução cubana. Foto de Gervásio Baptista para a Fatos&Fotos. Reprodução do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) |
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Memórias de papel... no lixo
(da redação da JJcomunic)
A mensagem abaixo, de dezembro de 2013, está circulando no Facebook e foi repassada por email a muitos colegas que trabalharam na Rede Manchete e na Bloch Editores. Leia:
"Uma história triste!!! Outro dia, alguém me ligou querendo saber o que eu poderia
fazer em relação ao seguinte assunto: moradora do Flamengo, todo
dia de
manhã essa pessoa sai de casa para caminhar pelo Aterro. Ao passar em frente
ao Edifício Manchete deparou com três caçambas. Em uma delas, ou nas três,
viu algo que lhe chamou a atenção. Tratava-se de grande
quantidade
de documentos referentes às extintas Editora e Rede Manchete de Televisão.
Tinha de quase tudo ali: sinopses, laudas de artigos, scripts de
programas, horários de programação, memorandos...
Praticamente um pouco da história
daquelas duas instituições tão preciosas à memória de nossa cidade. Se
essa pessoa viu tudo isso num dia, imaginemos, então, o que está sendo
jogado fora nesses meses todos em que o prédio, projetado por Niemeyer,
está passando por uma reforma? Gente, que loucura. Eu frequentei aquele
prédio. Privava de relativa amizade com o Adolfo Bloch. Não dá pra imaginar a
indigência em que se transformou a memória daquele império !!! Passei à
pessoa que telefonou alguns e-mails e pedi para que entrasse em contato. Se
ela o fez, não tenho, por enquanto, como descobrir... (Luis Antonio)
Nota da Redação: A Bloch Editores e a Rede Manchete não deram muita sorte em matéria de preservação das suas respectivas memórias. O acervo fotográfico que pertenceu às revistas da Bloch Editores está virtualmente desaparecido e não se sabe se ainda existe. São milhões de imagens que registraram a vida brasileira, em todos os seus aspectos, durante quase meio século. Por sua vez o banco de imagens da extinta Rede Manchete também tomou destino incerto. Algumas novelas foram vendidas para outras redes, mas não há pistas das fitas com material jornalístico, documentários, shows, programas musicais, políticos, ecológicos, entrevistas, coberturas de Copas e Olímpíadas entre outros temas.
Muito da história da Editora e da TV está, pelo menos e menos mal, registrada em livros de autoria de ex-funcionários e colaboradores. Seguem alguns títulos: "'Aconteceu na Manchete, as Histórias que Ninguém Contou" - coletânea, vários autores, organizada por José Esmeraldo Gonçalves e J.A. Barros (Desiderata); "Memórias de um Sobrevivente, a Verdadeira História da Ascensão e Queda da Manchete, de Arnaldo Niskier (Nova Fronteira); "Os Irmãos Karamabloch, Ascensão e Queda de um Império Familiar", de Arnaldo Bloch (Companhia das Letras); "Seu Adolpho, uma Biografia em Fractais", de Felipe Pena (Vermelho Marinho/Usina de Letras); "O Pilão" - autobiografia de Adolpho Bloch (Editora Bloch); "Rede Manchete, Aconteceu Virou História", de Elmo Francfort (Imprensa Oficial, São Paulo).
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Da Via Dutra ao Russell, verdades e mistérios em torno do trágico fim de JK
A Comissão da Verdade da Câmara de Vereadores de São Paulo acaba de divulgar relatório com depoimentos e indícios do assassinato de Juscelino Kubitschek. A apuração aponta como farsa montada pela ditadura a versão de que a causa da morte de JK teria sido um acidente. Segundo o relatório, Geraldo Ribeiro, motorista de JK, teria levado um tiro e perdido o controle do carro que atravessou a pista da Dutra, no dia 22 de agosto de 1976, e colidiu com uma carreta que vinha em sentido contrário. A suspeita do assassinato de JK foi levantada, já na época, quando os militares impediram a autópsia dos corpos do ex-presidente e do seu motorista. Algumas circunstâncias do velório, no hall do prédio da Manchete, no Russell, - como a imposição de caixões lacrados ainda no IML além de uma confusão proposital na movimentação dos esquifes e do cortejo que levou o ex-presidente até o Santos Dumont - foram anormais. Temendo que houvesse alguma manifestação, a polícia "acelerou" o cortejo, chegando a empurrar alguns funcionários da Manchete que ajudavam a levar, nos ombros, o caixão de JK. Em 2003, os jornalistas e escritores Carlos Heitor Cony e Anna Lee levantaram a questão no livro "O Beijo da Morte", que mistura ficção e reportagem.
por José Esmeraldo Gonçalves
(texto do autor extraído do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" publicado pela Desiderata, em 2008)
Morre Juscelino Kubitschek no famoso acidente de carro da Rodovia Dutra. Domingo, fim de tarde, João Luiz Albuquerque, chefe de Reportagem da Manchete, convoca todos os repórteres. A notícia acabara de chegar. Estavam previstas edições especiais da Manchete e da Fatos&Fotos. Cheguei à Redação, ouvi as instruções e logo fui às ruas conversar com políticos, gente que trabalhou com JK e alguns dos seus melhores amigos, como Oscar Niemeyer. Creio que já passava da meia-noite quando voltei ao Russell. Era
por José Esmeraldo Gonçalves
(texto do autor extraído do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" publicado pela Desiderata, em 2008)
Morre Juscelino Kubitschek no famoso acidente de carro da Rodovia Dutra. Domingo, fim de tarde, João Luiz Albuquerque, chefe de Reportagem da Manchete, convoca todos os repórteres. A notícia acabara de chegar. Estavam previstas edições especiais da Manchete e da Fatos&Fotos. Cheguei à Redação, ouvi as instruções e logo fui às ruas conversar com políticos, gente que trabalhou com JK e alguns dos seus melhores amigos, como Oscar Niemeyer. Creio que já passava da meia-noite quando voltei ao Russell. Era
madrugada
de 23 de agosto de 1976. Havia uma agitação no hall do
prédio. Tudo estava sendo preparado para o
velório de JK e de seu motorista, Geraldo Ribeiro, que também
morreu ao volante do Opala, mas logo ouvi que
tinha uma pedra no meio do caminho. Niomar Muniz Sodré
queria que o velório fosse no Museu de Arte
Moderna, instituição que presidia. Briga de foice na
madrugada pela honra de sediar as exéquias de JK. A Manchete
tinha um repórter que, em campo, era um trator. Era Tarlis
Batista, que tinha uma característica: era “entrão” e,
pelo seu temperamento, desempenhava as missões
mais difíceis. Se o acesso a determinado evento era
proibido, melhor escalar Tarlis. Ele dava um jeito de furar
esquemas e resistências. Era brigão também. Bom repórter.
Claro que o saudoso Tarlis foi enviado ao IML, onde o corpo de Juscelino era preparado. Àquela altura, a disputa
pelo velório já chegara às portas do Instituto Médico
Legal. Pressões políticas, uma palavrinha de amigos influentes, valia de tudo. Murilo Melo Filho, então um dos mais
importantes diretores da Bloch, contou recentemente
ao repórter Timóteo Lopes do antigo site No
Mínimo, que naquela madrugada teve até que subornar
funcionários para apressar a liberação do corpo de JK.
Adolpho Bloch, que no período em que JK era persona
non grata dos poderosos, o recebeu e o abrigou no
prédio do Russell, montando um gabinete onde o
ex-presidente pudesse se dedicar a escrever e receber
amigos, fazia questão de se despedir do velho amigo na
casa que foi sua referência derradeira. Tinha
razão. Se Murilo e Cony, que também foi ao IML, se
encarregavam do trabalho, digamos, diplomático, usando
luvas e persuasão para resolver o impasse, cabia a
Tarlis meter o pé na porta. E foi o que ele fez, atropelando
os procedimentos e convencendo uns e outros a
queimar etapas no ritual legal. Na madrugada, com o
Russell ainda com pouca gente, praticamente só os
funcionários da Bloch, uma Kombi estaciona na porta principal
do prédio. Sentado ao lado do motorista, Tarlis dava as
ordens. “Encosta mais e vai mais à frente, meu irmão,
assim fica melhor para desembarcar o caixão”, comandava. Esse era
Tarlis. Na Kombi, vinha o corpo de JK. Não sei se
havia um segundo veículo trazendo o caixão do Geraldo
ou se os dois vinham juntos. Sob as ordens de Tarlis, os
caixões de pinho envernizado, absolutamente iguais,
foram desembarcados e dispostos lado a lado. JK à esquerda,
seu motorista e fiel amigo à direita. O impacto atingira
bastante a parte superior dos corpos. Os dois
caixões estavam cobertos de cravos vermelhos que formavam
desenhos idênticos. A Fatos&Fotos publicou uma foto de
d. Sarah e de Márcia Kubitschek ao lado do caixão
fechado. As fotos, na época, não mostram os rostos, nem
de JK nem de Geraldo. A manta de flores que cobria os
caixões também tinha um detalhe semelhante: uma cruz de
cravos brancos. Aparentemente, não havia como
distingui-los. A dúvida era pertinente. Quem garantia que o
caixão da esquerda era mesmo o de JK e o da direita,
do Geraldo? Só o afoito e competente Tarlis, que comandara a ruidosa expedição de resgate desde o IML. Daí
nasceram a hipótese e a especulação jamais esclarecidas. O próprio
Cony já levantou essa bola em uma das suas
crônicas na Folha de S.Paulo sob o título Coisas que
Acontecem, publicada em 4 de junho de 2005. Estou levantando
outra. O posicionamento dos caixões semelhantes e
sem clara identificação foi aleatório? Apenas convencionou-se,
na pressa, ali no Russell ou à saída do IML, qual
era o ataúde que abrigava JK? Do prédio da Manchete, o
corpo de JK foi levado ao Aeroporto Santos Dumont, de
onde, com escala no Galeão para troca de avião,
foi transportado ao Campo da Esperança, em Brasília.
Anos depois, os restos mortais tidos como os de JK foram
exumados e levados para o Memorial, onde permanecem
em uma urna de mármore negro. Curiosamente, nenhum
membro da família Kubitschek, segundo apurou o
jornalista Timóteo Lopes, esteve presente à exumação.
Já o corpo de Geraldo foi enterrado no Cemitério São João
Batista, no Rio, e, depois, exumado e levado para Belo
Horizonte. Eis o mistério. Como diz Cony na sua
crônica, “quem quiser que acredite”. Quem cobriu
ou acompanhou o enterro de JK sabe que a
pressa e o afobamento marcaram a cerimônia. À
ditadura
não interessava que o enterro de um líder cuja influência
já parecia ter sido contida pelas fórmulas autoritárias, incluindo-se
aí o exílio, a cassação e as ameaças de morte,
se transformasse em manifestação política contra o
regime. De fato, policiais fardados e à paisana, infiltrados no meio da multidão no percurso entre o prédio da Manchete
e o Aeroporto Santos Dumont, apressavam ostensivamente
o cortejo. A ordem, assim parecia, era fazer o séquito
bater algum tipo de recorde de velocidade e chegar
logo ao aeroporto rumo a Brasília. Para os militares, o perigo
era o Rio, o tambor que repercutiria bem mais que
qualquer protesto político. Foi tamanha a pressa que não foi
permitido aos funcionários da Manchete estender sobre o
caixão a Bandeira Nacional. Acabei tendo uma
participação casual nesse episódio. O cortejo saiu, ou
disparou, e à altura do Hotel Glória um dos motoristas da Manchete
me pediu que entregasse ao sobrinho de Adolpho,
Pedro Jack Kapeller (conhecido como Jaquito), um envelope
pardo. Era a bandeira. Por várias vezes, tentei me
aproximar do caixão. Um cordão policial e a multidão compacta me
impediram. Além disso, era impossível naquelas
condições localizar Jaquito. Quando o cortejo já se
aproximava do Aterro do Flamengo, decidi furar o cordão de
policiais de qualquer jeito ou JK chegaria ao aeroporto desbandeirado.
Foi o que fiz. Rasguei o envelope, desdobrei a
auriverde e lancei-a sobre o caixão. O que era para ser um
simples favor ganhou pompa e circunstância. O cortejo
parou e a multidão cantou o Hino Nacional. A cena
virou notícia dos jornais O Globo e O Estado de S.Paulo.
Para quem tem uma biografia que cabe em poucas linhas,
como este que vos fala, o episódio já é alguma coisa. É
isso: se a História não me registra, nem deve, eu deixo
registrado aqui esse episódio. A morte e o
enterro de JK resultaram em uma edição especial da
Fatos&Fotos que nos custou pouco mais de vinte e
quatro horas de trabalho ininterrupto. Saímos cansados do
Russell, com a satisfação de colocar uma revista nas
ruas, e fomos parar no bar do Novo Mundo, point de
incontáveis happy hours.
Marcadores:
Aconteceu na Manchete as histórias que ninguém contou,
Anna Lee,
assassinato de jk,
Carlos Heitor Cony,
JK,
José Esmeraldo Gonçalves,
morte de jk
domingo, 16 de junho de 2013
Foto-Memória da redação: Manchete, um time que jogava uma bola redondinha...
O cenário é a sala do oitavo andar do prédio da Rua do Russell. Era a redação da revista Manchete, um "butantã' de cobras do jornalismo. O prédio hoje abriga pretroleiras, não adianta chorar o óleo derramado. Os tempos mudam, épocas passam, mas não a memória. Relembrem aqui. A foto foi reproduzida do livro "Aconteceu na Manchete, as história que ninguém contou" (Desiderata), esgotado mas ainda à venda em sebos digitais.
sábado, 28 de abril de 2012
Revista Manchete, 60 anos esta manhã
Capa da Manchete número 1: lançada por Adolpho Bloch, chegou às bancas na manhã de 28 de abril de 1952, há 60 anos |
A pagina 3, apresentação do conteúdo da nova revista |
Uma das reportagens do número 1: Meneghetti, o ladrão paulista que era uma lenda "romântica" da época |
Crônica de Carlos Drummond de Andrade no número 1: o poeta escreveu, emocionado, sobre seu neto |
A Câmara dos Deputados no número 1 |
Anúncio colorido, uma das modernidades oferecidas pela Manchete em 1952 |
Anúncio do Air-Wick |
Aparelho de barbear para subsituir as navalhas |
Marcadores:
Aconteceu na Manchete as histórias que ninguém contou,
jose esmeraldo gonçalves,
Manchete 60 anos,
primeiro número da manchete,
reynaldo giannechini,
último número da manchete
domingo, 8 de janeiro de 2012
Revista Manchete, 60 anos. E ainda nas bancas... de livros
por Jussara Razzé
Em abril de 2012, a revista Manchete completaria 60 anos. Foi lançada em 1952. Para conhecer sua trajetória, nada melhor do que ler o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), coletânea escrita por jornalistas que trabalharam na extinta Bloch. Só que o "Aconteceu" está esgotado em livrarias, embora ainda seja encontrado em sites e sebos. Ontem, na Praça Antero de Quental, no Leblon, estava exposto em uma das bancas. O preço, que não é de liquidação, ainda reflete a procura pelo livro. Foi lançado em 2008 a 59 reais. Na feirinha do Leblon pode ser adquirido a honrosos 30 reais.
Em abril de 2012, a revista Manchete completaria 60 anos. Foi lançada em 1952. Para conhecer sua trajetória, nada melhor do que ler o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), coletânea escrita por jornalistas que trabalharam na extinta Bloch. Só que o "Aconteceu" está esgotado em livrarias, embora ainda seja encontrado em sites e sebos. Ontem, na Praça Antero de Quental, no Leblon, estava exposto em uma das bancas. O preço, que não é de liquidação, ainda reflete a procura pelo livro. Foi lançado em 2008 a 59 reais. Na feirinha do Leblon pode ser adquirido a honrosos 30 reais.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Os inesquecíveis verões da Manchete
por Gonça
A reprodução acima é da coluna Gente Boa, de Joaquim Ferreira dos Santos, do Globo de hoje. O colunista fala sobre antigos verões. Época em que verão era verão e "frente fria" era o jato de ar condicionado que saia do Metro Copacabana. O Gente Boa reproduz uma capa da Manchete do início dos anos 70. Rose di Primo brilhava em cores. Era uma tradição da revista Manchete lançar fartas edições de verão anualmente. A revista flagrava as praias mais badaladas e garimpava tendências da moda e do comportamento. Eram espertas essas edições. Os repórteres e fotógrafos descobriam as musas autênticas da temporada. Helô Pinheiro, (a "Garota de Ipanema" que inspirou Tom e Vinicius e que foi localizada e identificada pela Fatos&Fotos) Leila Diniz, Vera Barreto Leite, Duda Cavalcanti... Anos depois, a Revista do Domingo, do JB, inspirada na Manchete, institucionalizaria novas gerações de musas. Mas as da Manchete não eram "eleitas", como a do JB, eram autênticas, flagradas nas praias pelo instinto dos fotógrafos e repórteres. Essa foto da Rose na capa foi, na verdade, produzida. A menina que se tornaria modelo conhecia então os primeiros dias de fama. A foto original que a tornou famosa foi publicada pela revista semanas antes. Era casual, mostrava suas curvas perfeitas, de costas, na garupa de uma moto Triumph nas imediações do Castelinho, no Arpoador. Justino Martins, então diretor da Manchete, logo viu que a beleza incomum e as curvas daquela menina de biquini que chamou atenção do fotógrafo não mereciam o anonimato. Mandou que os repórteres localizassem a moça. E deu-se a musa na capa da Manchete. Mais uma entre tantas que a revista lançou. Agora em 2012, a revista Manchete, se viva fosse, faria 60 anos. Foi lançada em abril de 1952. Nas próximas semanas, este blog começará a publicar algumas matérias comemorativas da data. Mas já vai uma dica: uma boa leitura para conhecer melhor a revista é a coletânea "Aconteceu na Manchete - as histórias que ninguém contou" (Desiderata). O livro, de quase 500 páginas e com mais de 200 ilustrações, tornou-se uma raridade bibliográfica: está esgotado em livrarias mas ainda pode ser encontrado em poucos sites e sebos e em algumas bibliotecas de escolas de comunicação.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Marcos Santarrita, breves lembranças da revista Fatos
Páginas da revista Fatos editadas por Marcos Santarrita |
por José Esmeraldo Gonçalves
Abri o email em um ônibus, a caminho da Capadócia. Por uns dias desligado do Brasil, de corpo e alma, li a mensagem de J.A.Barros, que foi diretor de arte da Manchete, e imediatamente fui levado pela memória ao prédio do Russell, no Rio, onde funcionava a redação da revista Fatos. Barros avisava do falecimento, no Rio, aos 70 anos, na quarta-feira, 5, do jornalista, escritor e tradutor Marcos Santarrita. Já escrevi aqui sobre a Fatos, essa publicação de vida tão intensa quanto curta. O livro “Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou” narra a trajetória da revista, uma tentativa – Carlos Heitor Cony à frente – de dotar a Bloch de uma publicação semanal de informação e análise. Por problemas políticos e boicote interno – ainda estávamos sob os efeitos da ditadura, com a rejeição da Emenda das Diretas e Sarney chegando ao poder nas ombreiras do esdrúxulo Colégio Eleitoral dos militares - a Fatos não obteve tempo suficiente para se firmar no mercado e foi fechada em julho de 1986, apenas um ano e quatro meses após sua estréia nas bancas. Marcos Santarrita foi passageiro daquele cometa jornalístico. Era o nosso editor internacional. Comandava uma das editorias mais agitadas. Naqueles meses, morria Constantin Chernenko e subia ao poder ninguém menos do que Mikhail Gorbachev. Santarrita foi fundo na sua análise, traçou um perfil do novo líder e prenunciou mudanças. Ressaltou que era o primeiro governante soviético formado após a Segunda Guerra, de educação superior e escola política pós-Stalin (tinha 22 anos quando o líder soviético morreu), fatores que lhe conferiam “uma visão moderna e pragmática, especialmente da economia”. O “apartheid” agonizava na África do Sul, o Brasil reatava relações com Cuba, estourava o escândalo dos Contras, o caso Greenpeace (uma desastrada operação do serviço secreto francês que resultou na morte de um ativista ecológico) abalava o governo socialista de François Mitterrand, Irã e Iraque contabilizavam um milhão de mortos em sangrento conflito, nada escapava à contundente interpretação de Santarrita. Sergipano, criado na Bahia, onde fundou um periódico literário, a Revista da Bahia, ele foi redator do Última Hora, Globo, Jornal do Brasil e da Fatos&Fotos. Um dos seus livros mais premiados é o “Mares do Sul”, sobre uma revolta de escravos em Ilhéus. Escreveu, entre outros, “Danação dos Justos”, “A Solidão dos Homens”, “Lady Luana Savage”, “A Ilha dos Trópicos” e “Os Pecados da Santa”. Deixa sua marca como escritor brilhante. Mas para a equipe que viveu a aventura da Fatos – com o J.A.Barros, seu diretor de arte – fica a imagem do jornalista apaixonado, que dissecava a notícia, e do bom colega, calmo e meticuloso, características que resistiam às longas e agitadas madrugadas de fechamento. Pensando bem, Santarrita só nos criava um problema: queria sempre mais páginas para sua editoria. E era difícil resistir à sua argumentação. Boa viagem, meu caro.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Roberto Muggiati: entrevista ao blog Radar Jornalístico
O blog Agência Radar Jornalístico publica entrevista com o jornalista, escritor (é um dos autores do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou"- Editora Desiderata) e músico Roberto Muggiati, que dirigiu a revista Manchete por mais de duas décadas.
ARJ: Sabemos que a censura não se deu somente no período compreendido entre 1964 e 1985, atualmente esse tipo de prática ainda ocorre só que por ‘debaixo dos panos’, qual a sua opinião sobre a falta de liberdade de expressão nos meios de comunicação?
Muggiati: O jornalista precisa sobreviver como assalariado de uma grande empresa capitalista; que por sua vez, precisa sobreviver obtendo lucros no mercado. A ameaça dos meios virtuais de comunicação só acirra o problema. Tudo isso explica a nuvem de conformismo que baixou na mídia em geral. O debate político autêntico escapou da grande imprensa e tenta preencher as frestas dos blogs e das ONGs. A web, de certa forma, veio preencher os espaços ocupados nos anos 60/70 pela imprensa alternativa e underground.
ARJ: Você se recorda de como foi o fechamento da revista Manchete? Se a revista ainda fosse publicada, como seria o seu segmento e as suas publicações?
Muggiati: Sim, fiquei lá até o último dia, quando a justiça lacrou as portas do prédio da Rua do Russell, aquele portento arquitetônico de Oscar Niemeyer, de mármore e vidros negros, que ficou plantado na praia do Flamengo como um Titanic ou como o enigmático monolito de Stanley Kubrick em 2001. A Manchete foi uma revista de qualidade que fez época no jornalismo brasileiro. Acabou falindo como avalista de uma dívida da TV Manchete. Quando a Bloch ganhou a concessão da Rede Manchete e a colocou no ar, em 1983, as revistas foram abandonadas e definharam. O fim das revistas da Bloch foi muito mais um naufrágio empresarial do que jornalístico.
ARJ: Você foi um dos escritores do livro “Aconteceu na Manchete”. Como foi escrever um livro sobre a revista?
Muggiati: Foi um trabalho solidário de equipe e uma empreitada feliz por nos permitir registrar num livro a riqueza jornalística e humana daqueles 48 anos de Manchete.
Leia mais no blog Agência Radar Jornalístico. Clique AQUI
ARJ: Sabemos que a censura não se deu somente no período compreendido entre 1964 e 1985, atualmente esse tipo de prática ainda ocorre só que por ‘debaixo dos panos’, qual a sua opinião sobre a falta de liberdade de expressão nos meios de comunicação?
Muggiati: O jornalista precisa sobreviver como assalariado de uma grande empresa capitalista; que por sua vez, precisa sobreviver obtendo lucros no mercado. A ameaça dos meios virtuais de comunicação só acirra o problema. Tudo isso explica a nuvem de conformismo que baixou na mídia em geral. O debate político autêntico escapou da grande imprensa e tenta preencher as frestas dos blogs e das ONGs. A web, de certa forma, veio preencher os espaços ocupados nos anos 60/70 pela imprensa alternativa e underground.
ARJ: Você se recorda de como foi o fechamento da revista Manchete? Se a revista ainda fosse publicada, como seria o seu segmento e as suas publicações?
Muggiati: Sim, fiquei lá até o último dia, quando a justiça lacrou as portas do prédio da Rua do Russell, aquele portento arquitetônico de Oscar Niemeyer, de mármore e vidros negros, que ficou plantado na praia do Flamengo como um Titanic ou como o enigmático monolito de Stanley Kubrick em 2001. A Manchete foi uma revista de qualidade que fez época no jornalismo brasileiro. Acabou falindo como avalista de uma dívida da TV Manchete. Quando a Bloch ganhou a concessão da Rede Manchete e a colocou no ar, em 1983, as revistas foram abandonadas e definharam. O fim das revistas da Bloch foi muito mais um naufrágio empresarial do que jornalístico.
ARJ: Você foi um dos escritores do livro “Aconteceu na Manchete”. Como foi escrever um livro sobre a revista?
Muggiati: Foi um trabalho solidário de equipe e uma empreitada feliz por nos permitir registrar num livro a riqueza jornalística e humana daqueles 48 anos de Manchete.
Leia mais no blog Agência Radar Jornalístico. Clique AQUI
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Continua acontecendo
Esgotado na editora mas ainda à venda em alguns sites e sebos, o livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) continua circulando por aí cumprindo o objetivo principal dos seus autores: revelar e difundir a história e os bastidores de uma das maiores editoras de revistas do país. O "Aconteceu" foi lançado em fins de 2008 mas como se trata de uma obra atemporal e que já está no acervo de várias bibliotecas universitárias é comum ver na internet críticas e comentários recentes tal qual o texto que pode ser lido no link abaixo.
Clique AQUI
Clique AQUI
Assinar:
Postagens (Atom)