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sábado, 3 de dezembro de 2022
A Copa de 2022 e a 2ª Guerra: coincidências históricas... e histéricas • Por Roberto Muggiati
No Qatar, puro acaso: os protagonistas do Eixo caíram no mesmo grupo e o Japão não deu mole, eliminando a Alemanha e deixando a Espanha em segundo (na época o regime de Franco jogava contra os Aliados). Já os Aliados, Inglaterra e Estados Unidos, no mesmo grupo (que incluía também País de Gales), se classificaram. Vale lembrar que Reino Unido e União Soviética invadiram o Irã para se servir do seu petróleo durante o conflito. A Rússia ficou fora, por causa da invasão da Ucrânia, mas dois cacos da antiga Iugoslávia, estão aí: a Croácia e a Sérvia. A Itália – terceiro integrante do Eixo – ficou fora desta Copa. A França, é bom lembrar, escolheu a maciota da República de Vichy, aderindo oficialmente ao Eixo. Apenas um punhado de verdadeiros patriotas, liderado por De Gaulle, lutou na resistência ao lado dos Aliados. Suas antigas colônias – Senegal e Tunísia se tornaram independentes respectivamente em 1960 e 1956; o Marrocos ganhou a independência da França e da Espanha em 1956. (Nas oitavas, a Espanha pega a sua ex-colônia marroquina.) Já Gana se tornou independente do Reino Unido em 1957. Camarões, que ganhou o nome dos primeiros descobridores portugueses, foi protetorado alemão de 1884 a 1916, sob o nome de Kamerun, e se tornou independente de França e Reino Unido em 1960 e 1961 respectivamente. O Brasil de Titebitate fez pouco do adversário e engoliu um Camarões indigesto.
Todo cuidado é pouco com a perigosa Coreia. Com seu elenco fabuloso, o Brasil é capaz de formar três times que dominam qualquer partida, mas não conseguem encontrar o caminho do gol. Realmente, acho que nunca vamos chegar a pronunciar corretamente a palavra “hexacampeonato”...
A Polônia – cuja invasão pela Alemanha deflagrou a 2ª Guerra em 1939 –se livrou por pouco em segundo e encara a perigosa França. A Coreia do Sul – cuja invasão pela Coreia do Norte provocou a Guerra da Coreia (1950-53) – participou a partir de 1954, na Suíça, de surpreendentes onze Copas, a metade dos eventos. Em 2002, sediou a Copa do Mundo com o Japão. Em 2018, eliminou a Alemanha, que tinha conquistado o tetra na Copa anterior, no Brasil. Na do Qatar, ao derrotar Portugal, eliminou o Uruguai, detentor de duas Copas, e candidatou-se a enfrentar o Brasil nas oitavas de final. Já a isolacionista Coreia do Norte, foi a grande zebra da Copa da Inglaterra, em 1966, eliminando a Itália. Em 2010, no grupo do Brasil, não passou a primeira fase.
A Suíça, muito na dela, despachou a Sérvia e encara Portugal. Minimalista, o país do sigilo bancário, focado no futebol de resultados, de repente pode até seguir em frente.
Querem mais guerra? Uma reedição da Guerra das Malvinas/Falklands, que acabou no dia seguinte ao início da Copa de 1982 na Espanha, só aconteceria se Argentina e Inglaterra chegassem à final da Copa do Qatar.
E o Qatar em tudo isso? Paraíso das pérolas, inicialmente colonizado pelos portugueses no século 16, bandeou-se para o Império Otomano, caiu sob o domínio britânico e se tornou independente do Reino Unido em 1971. Com território de um Sergipe, podre de rico, é um estado autocrático religioso que reprime a mulher e nega a seus súditos todos os prazeres baratos a que tem acesso até o mais pobre favelado brasileiro.
Escrevo com conhecimento de causa. Nascido em 1937, tenho um nome banal apenas na aparência. Roberto era o nome que Il Duce recomendava para os filhos de seus simpatizantes – e não eram poucos no Brasil da época. A razão: as três sílabas correspondiam à primeira sílaba das capitais do Eixo: ROma, BERlim, TÓquio. Quase ninguém sabia isso, não é?
[CONTINUA]
domingo, 14 de fevereiro de 2021
Como Trump foi derrotado e as lições que o Brasil pode tirar do autoritarismo miliciano que pôs em risco a democracia americana
Ler essa reportagem da Time deveria ser dever de casa da esquerda brasileira e de quem prefere viver em um país democrático.
Sob o título "A história secreta da campanha nas sombras que salvou as eleições de 2020", a revista escaneia o movimento social que deteve Trump. Não era segredo que, havia meses, as milícias de direita estavam se preparando para a batalha, enquanto Donald Trump desacreditava o processo eleitoral. Tudo era parte de uma conspiração que, após o fechamento das urnas, se intensificou. Entre 3 de novembro de 20 de janeiro, o candidato derrotado passou a abrir processos, fazer pressão sobre autoridades estaduais e, finalmente, a convocar suas gangues de apoiadores, muitos armados, para o comício que incentivou a invasão do Capitólio.
O golpe contra a democracia planejado por Trump, com apoio da direita radical do Partido Republicano e da massa de trumpistas e dos proud boys, entre os quais supremacistas brancos e neofascistas, foi vencido com uma união de forças difíceis de se juntarem, mas que se tornou necessária, formadas por empresários liberais (lembrando que, nos Estados Unidos, o liberalismo contemporâneo defende a justiça social, as liberdades civis, a igualdade e a economia mista. Não é a aglomeração de selvagens concentradores de renda que, no Brasil, a mídia comumente chama de "liberais") e trabalhadores. "O aperto de mão entre as empresas e os trabalhadores" - diz a Time - "foi apenas um componente de uma vasta campanha interpartidária para proteger a eleição - um extraordinário esforço paralelo dedicado não a ganhar o voto, mas a garantir que fosse livre e justo, confiável e não corrompido. Por mais de um ano, uma coalizão de militantes vagamente organizados lutou para apoiar as instituições dos Estados Unidos à medida que estas eram atacadas simultaneamente por uma pandemia implacável e um presidente com inclinação autocrática". Juntos, segundo a revista, buscaram financiamento público e privado, se defenderam de ações judiciais de supressão de eleitores, recrutaram exércitos de voluntários eleitorais, fizeram milhões de pessoas votarem pelo correio pela primeira vez e pressionaram com sucesso as empresas de mídia social a adotar uma postura mais dura contra a desinformação. Com um detalhe: muitos republicanos perceberam o risco que Trump representava para a democracia e participaram da campanha-cidadã.
A revista destaca um personagem especial e decisivo: Mike Podhorzer, um experiente conselheiro político da maior confederação sindical do país. Em fins de 2019, ele se convenceu de que as eleição sob Trump seria um desastre e decidiu protegê-la. Ao sair em campo, descobriu que não era o único a pensar nesses termos. Conversou com centenas de lideranças em vários setores. "O que ele queria saber" - escreve a Time - "não era como a democracia americana estava morrendo, mas como poderia ser mantida viva".
Se você perceber na longa reportagem da Time muitos pontos de contato entre o assalto ao poder planejado por Trump - um protótipo de ditador que conseguiu chegar à Casa Branca -, e as ações organizadas de Jair Bolsonaro à frente dos seus militares, milicianos, magistrados e políticos adquiridos no balcão do Congresso, não será mera coincidência.
Mas há uma diferença crucial: Bolsonaro chegará às eleições de 2022 com maior sustentação do que Trump teve para tentar impor um segundo mandato do seu regime autoritário.
Leia a reportagem da Time, AQUI