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segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Amazônia sobreviverá? Provavelmente apenas nas fotos da Manchete, Realidade, Veja, O Cruzeiro...

Amazônia: o desafio perdido. 
Durante 48 anos, Manchete e Amazônia mantiveram uma intensa relação jornalística.

O interesse e o tipo de cobertura que a revista realizou da maior floresta tropical do mundo passaram por várias fases de abordagem. Nos anos 1950, a Amazônia teve menos espaço na Manchete, talvez porque lançada em 1952 não ousasse  concorrer com O Cruzeiro que fazia matérias antológicas sobre a região, os índios, os desbravadores.

Na primeira década de existência Manchete via o "planeta verde" como "exótico". Mais ou menos a visão que os colonizadores ingleses projetavam sobre a  África.

Nos anos 1960 o tom ainda era de "aventura", com um enfoque nas riquezas e no potencial econômico da região.

Na década de 1970 a cobertura foi ufanística, na maioria das vezes, no embalo dos projetos desenvolvimentistas da ditadura. Manchete aderiu com entusiasmo ao "Brasil Grande", com reportagens muitas vezes mais vexatórias do que jornalísticas.

Na década de 1980 aparecem na revista sinais de consciência ecológica. As reportagens denunciam o drama nas aldeias indígenas e se tornam mais críticas. Agrava-se a destruição provocada pela invasão "desenvolvimentista" do regime militar e pelo avanço indiscriminado do agronegócio, queimadas que consomem imensas áreas da floresta chocam o mundo. Às vésperas da Eco-92, Manchete intensifica as denúncias embutidas em reportagens fotojornalísticas, a marca da revista. O ufanismo é contido pela dura realidade da agressão à floresta. Mesmo as edições especiais geralmente patrocinadas, que ainda tendiam a passar alguma visão otimista, já não escondiam os crimes ambientais.

Na década de 1990, a última da sua existência regular, Manchete abrigou com  ênfase a defesa do meio ambiente.

Nos anos 2000, após a falência da editora, foram publicadas algumas edições sob a responsabilidade de uma cooperativa de ex-funcionários que abordavam a nova e cada vez mais dramática situação da floresta.

Toda essa trajetória foi documentada em milhares de fotos que desapareceram junto com o arquivo que pertenceu à extinta Bloch Editores. Felizmente, essas imagens preciosas, pelo menos aquelas que foram publicadas, podem ser consultadas na coleção digitalizada da Manchete por obra da Seção de Periódicos da Biblioteca Nacional.

É verdade que desde a ditadura militar, a destruição é uma espécie de projeto diabólico de Brasil executado por todos os governos. Houve avanços na era Lula, mas é inegável que o PT também cedeu ao agronegócio e à construção de hidrelétricas sem projetos ambientais efetivos. Lula fazia piadas com a biodiversidade, caso, por exemplo, de um dos argumentos que usava ao ironizar sobre pererecas que interrompiam obras em nome da preservação da espécie. O novo Código Florestal aprovado durante o governo Dilma é desastroso. Mas nesse item de debochar das políticas ambientais, Bolsonaro é imbatível. Principalmente porque, ao contrário das ironias de Lula, suas falas se transformam em ações efetivas de governo atingindo instituições de pesquisa, cientistas, fiscais, áreas de preservação e reservas indígenas. Agora, a guerra do governo contra a Amazônia é total e o mundo começa a reagir com mais força, com corte de verbas internacionais, ameaças de boicotes comerciais à vista e até os primeiros pedidos de futuras sanções reivindicados por grupos ecológicos.

Manchete já não existe para documentar o atual estágio de extinção da Amazônia. No ritmo acelerado de extermínio da sua biodiversidade, a floresta, em um futuro não muito distante, sobreviverá apenas no trabalho de dezenas de fotojornalistas da Manchete, Realidade, O Cruzeiro, Jornal do Brasil, O Globo e Veja.