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quarta-feira, 21 de agosto de 2019
E Charles Bukowski virou personagem de sequestro no Rio de Janeiro...
As tragédias cariocas moram nos detalhes e sempre surpreendem.
Pouco antes de ser fuzilado por um atirador de elite, durante o sequestro de um ônibus lotado na Ponte Rio-Niterói, William Augusto da Silva jogou uma mochila na direção dos policias que cercavam o veículo.
Verificou-se que além de uma faca, um teaser, uma arma de brinquedo e a garrafa pet com gasolina com que ameaçou os passageiros, o sequestrador portava uma 'arma" literária de alto impacto: o livro "O capitão saiu para o almoço e os marinheiro tomaram conta do navio", de Charles Bukowski.
A obra é póstuma, foi lançada em 1998 e reúne anotações do diário do escritor. Em meio à narrativa de encontros com outsiders desesperançados, Bukowski reflete sobre a miséria humana e lamenta ter de conviver com "essa espécie insípida e tediosa". Ele mesmo provou dessa miséria, sofreu abusos do pai autoritário, foi expulso de casa, bebeu em excesso enquanto sobrevivia como faxineiro, carteiro, motorista de caminhão e o que mais o tirasse da fila de desempregados.
O último livro de Bukowski foi recebido pelos resenhadores como o seu "último canto desesperado". O escritor carregou seu drama por 79 anos. William se consumiu em apenas 20 anos. Não por acaso, se de fato foi lido, Bukowski pontuou o desespero final do sequestrador.
No decorrer das negociações com a polícia, William se expôs tanto ao aparecer fora do ônibus que parecia se oferecer como alvo. Despediu-se com um gesto obsceno e desafiador. O que remete a uma frase do escritor: "o horror é uma gentileza".
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