sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Passaralho: Globo passa o rodo em dezenas de jornalistas...

Depois do passaralho na TV Globo e na Globo News, chegou a vez da Infoglobo, que edita o Globo, Extra e Expresso.

O grupo mandou embora ontem mais de 30 jornalistas. A alegação é a mesma de Abril, Estadão, Folha etc: "reestruturação do negócio", "novo modelo", "crise"...

Esse padrão de atuação dos patrões tem ditado que algumas vagas são extintas, outras preenchidas por um exército de trainees e mais outras ocupadas por jornalistas contratados a salários bem mais baixos do que aqueles demitidos.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro publicou uma nota de repúdio ao processo de enxugamento arbitrário, "em total desrespeito aos trabalhadores". A representação dos jornalistas declara " solidariedade aos profissionais dispensados" e informa que estará atenta "a qualquer tipo de ilegalidade que possa ocorrer no processo de demissão".
 
Prestar solidariedade e fiscalizar é, na prática, o que o sindicato poderá fazer. É pouco, mas é uma consequência das limitações legais e da fragilidade da categoria. Em muitos países capitalistas, uma empresa não pode, por exemplo, demitir profissionais para preencher vagas, em seguida, com salários mais baixos. Ou, ainda, precarizar o trabalho sobrecarregando, como geralmente acontece, as equipes mantidas. Em casos de crises ou de "reestruturação do negócio", empresários sentam-se à mesa com representantes do trabalhadores para equilibrar e racionalizar o processo e conter ao máximo os danos.

Aqui, é a selvageria que predomina nesses momentos. Uma espécie de fundamentalismo patronal que tudo pode.

No Brasil, o negócio de mídia, esse que passa por traumática "reetruturação", tem características "especiais". TVs e Rádio são concessões públicas; a mídia impressa recebe subsídios na aquisição de insumos, o papel, por exemplo. Recentemente, ainda no governo Dilma Rousseff, as corporações receberam uma milionária desoneração sobre a folha de pagamentos. Supostamente, o governo pensava em evitar demissões. Se pensava, foi miseravelmente enganado. De 2013 para cá cerca de 5 mil jornalistas foram demitidos em todo o Brasil. Com poder junto ao governo federal, as empresas de mídia conseguem benefícios públicos, como acesso ao dinheiro barato do BNDES, sem qualquer contrapartida trabalhista. Alguns governos estaduais concedem descontos em ICMS a grupos de comunicação. Em nenhum desses casos, os beneficiados foram levados a assumir compromissos como, por exemplo, preservação de empregos. E a nova onda de demissões na mídia chega em um momento em que Michel Temer aumenta as verbas publicitárias para as grandes corporações em proporções megassênicas.

As perspectivas não são boas para os jornalistas. Há tempos, o superintendente de uma revista paulista comentava abertamente que não precisava da equipe trabalhando de segunda a sexta. Segundo ele, bastavam dois dias para que a redação fechasse a revista. Tudo indica que não está longe esse dia. Entre outras propostas, a reforma da CLT que vem aí pretende permitir a modalidade de trabalho/hora, com o profissional ficando à disposição da empresa para convocação a qualquer momento mas com direito a remuneração só a partir do momento em que sentar a bunda na cadeira.

Houve uma época em que alguns veículos - alternativos, principalmente - fizeram várias reportagens investigativas sobre o mundo cão dos boias-frias explorados em canaviais.

Nesse ritmo, os jornalistas poderão em breve retomar essas pautas. Agora, na primeira pessoa.  

2 comentários:

J.A.Barros disse...

Tenho a impressão que essa classe de trabalhadores os "bóias frias " se acabou depois das lavouras de canas de açúcar – os canaviais propriamente ditos – serem mecanizadas

J.A.Barros disse...

Lamento muito, mas esses "Passaralhos " existem por falta de prestígio político dos Sindicatos de classes.