Morro do Pasmado. Fotos Gonça |
Favela do Pasmado, anos 50. Reprodução |
O morro, nos anos 60, pouco antes da remoção. Reprodução |
Ontem, o Morro do Pasmado recebeu centenas de cariocas e turistas. O jornal O Globo realizava no local o Projeto Mirante Rio, em comemoração aos 450 anos da cidade.Além de várias atividades, incluindo espetáculos para crianças, foi montada uma plataforma no alto do mirante, que oferecia vistas do Rio, um deslumbrante panorama em 360° que as pessoas não paravam de fotografar. Um domingo de verão perfeito, com direito a uma chuva no fim da tarde da qual não se pode reclamar nesses tempos de crise hídrica.
Talvez tenha passado pela cabeça apenas dos mais velhos e conhecedores da história da cidade que, naquele mesmo local, há 50 anos, no verão de 1965, restavam apenas ruínas incendiadas da Favela do Pasmado. Um ano antes, como parte da política de remoção de empreendida pelo governo Carlos Lacerda, os moradores haviam sido transferidos para a Vila Kennedy. Dias depois, um grande incêndio lavrou o morro. Na época, dizia-se que o fogo foi providenciado pelo governo para "higienizar" o local. A remoção de favelas era uma medida brutal. Do dia para a noite, centenas de famílias foram deslocadas para conjuntos habitacionais localizados em regiões distantes dos seus empregos, das escolas dos filhos, dos amigos. E nem todos os moradores das favelas removidas conseguiram habitação. A maioria perdeu empregos pelo simples fato de que a partir de regiões distantes e com a ineficiência dos transportes não conseguiam cumprir seus horários de trabalho. Aqueles que mantiveram os empregos passavam a levar cerca de seis horas no percurso casa-trabalho-casa. Atualmente, seria inimaginável uma política de remoção tão radical. Ao mesmo tempo, o Rio não soube ou não quis conter como deveria a expansão desordenada de novas favelas.
O caminho democrático é hoje a urbanização dos bairros populares. Em todo caso, a ameaça de ocupação imobiliária do Pasmado foi contida - mas estão lá, ao lado, espigões que mostram como foi real a pressão dos especuladores - e a área, com o passar dos anos, foi reflorestada. É um belo parque. Provavelmente, a iniciativa do Globo levou ao local muitos cariocas que, ao contrário do moradores de Botafogo, não conheciam o Pasmado.
* O Projeto Mirante O Globo funciona aos sábados e domingos, até o fim de março. Tem o patrocínio do Rio Sul, Itaú e Volkswagen, apoio da Drogaria Venâncio e Coppead UFRJ e parceria cultural do SESC. Vans fazem o transporte gratuito, entre 10h e 20h, até o alto do Pasmado, saindo do Rio Sul e da parte de baixo do morro.
2 comentários:
Antes das remoções impostas por Lacerda, D. Helder tentou a solução correta de abrigar os moradores nas imediações. Está aí, até hoje, a Cruzada São Sebastião que recebeu as família da Praia do Pinho. Uma bela e humana obra. Um homem ambicioso e conspirador e fascista com o Lacerda não teria humanidade para uma solução que respeitasse os humildes.
Mas não é melhor ter um parque?
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